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63 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 TOXICOLOGIA AMBIENTAL Unidade IV 7 METODOLOGIAS LABORATORIAIS E PROCESSOS BIOGEOQUÍMICOS Para modelar a distribuição ambiental de poluentes orgânicos em compartimentos de um sistema ambiental hipotético, é necessário utilizar indicadores ambientais, bem como distintas metodologias que visam facilitar a avaliação toxicológica da forma mais fidedigna possível. Assim, a seguir estão listadas algumas das que comumente são utilizadas no estudo de Toxicologia Ambiental. 7.1 Metodologias laboratoriais mais utilizadas na avaliação de toxicidade de substâncias químicas (testes in vitro e in vivo preconizados pelas agências reguladoras) Com o crescimento econômico e exposição a poluentes no Brasil e no mundo, a avaliação da toxicidade e ecotoxicidade de produtos químicos tem se tornado uma constante preocupação. Em muitos países, políticas de segurança e ações que regulem os métodos de avaliação são definidas pelas chamadas agências regulamentadoras. Como exemplo, o Reach (Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemicals) apresentou uma recente regulamentação que foi implementada pela União Europeia para companhias que produzem produtos químicos. Entretanto, é sabido que essas ações ou políticas são particulares de cada país. De fato, em 2009, a Agência de Químicos Europeia questionou resultados de alguns estudos relacionados a estimativas de custos e da quantidade de animais sacrificados, como consequência da implementação do Reach. Adicionalmente, devido ao longo tempo demandado, números de animais utilizados e altos custos, foi necessária uma busca de métodos alternativos de avaliação da toxicidade. Além de propostas de testes in vitro, novas estratégias para avaliação de toxicidade com fins regulatórios também foram propostos. Em 2005, a Usepa (United States Environmental Protection Agency) e o NTP (National Toxicology Program), com a necessidade de avaliar um grande número de novas substâncias e outras já existentes (sem prévia avaliação), de maneira custo efetiva, sugeriram uma nova visão que incorporava avanços em Biologia Molecular, Toxicologia Molecular, Ciências Computacionais (entre elas, Química Computacional) e Tecnologia da Informação, dando origem a uma nova área da Toxicologia denominada Toxicologia Computacional, que, desde então, é recomendada por diversas agências regulamentadoras. A Toxicologia Computacional é uma área da Toxicologia na qual se aplicam modelos computacionais e matemáticos para a predição de efeitos adversos e para o melhor entendimento dos mecanismos através dos quais uma determinada substância provoca o dano. 64 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 Unidade IV Figura 25 – A Toxicologia Computacional é fundamental no estudo de Toxicologia Nesta área, são utilizadas ferramentas computacionais de avaliação preditiva da toxicidade, a partir da integração de avanços em Informática e Bioinformática, Estatística, Química Computacional, Biologia e Toxicologia. Além da criação de softwares de avaliação da toxicidade propriamente ditos, surgem as bases de dados (informações toxicológicas pesquisadas através da entrada de estruturas químicas), também úteis à predição da toxicidade. Dessa maneira, o armazenamento e tratamento de dados de testes toxicológicos são informações de toxicidade importantíssimas, o que torna possível buscar dados de toxicidade de determinada entidade química a partir de dados de testes prévios, tendo como base a pesquisa segundo o grau de similaridade estrutural. Estes dados inter‑relacionados são capazes de auxiliar na evidência de que uma substância pode determinar tal efeito tóxico. Modelos matemáticos podem contribuir para prever o destino e a preferência ambiental de poluentes e podem sugerir quais poluentes, e em quais compartimentos, devem ser sistematicamente observados em programas de monitoramento. Saiba mais Para saber mais: BRAGA, C. F. et al. Análises sequenciais de agrupamentos aplicadas ao estudo de partículas atmosféricas. Revista Química Nova, v. 25, n. 6, p. 902‑908, 2002. 65 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 TOXICOLOGIA AMBIENTAL Os testes in vitro podem ser utilizados para detectar a toxicidade de substâncias que serão utilizadas em seres humanos e utilizam organismos como bactérias, fungos ou algas. Cabe ressaltar a importância da implantação do programa 3Rs (redução, refinamento, substituição) para avaliar a toxicidade das substâncias presentes ou adicionadas aos alimentos, por exemplo. Os modelos de estudos toxicológicos in vivo abordam ensaios de toxicidade aguda, subcrônica e crônica, que devem tratar da mutagenicidade, embriofetotoxicidade, alterações de fertilidade, carcinogenicidade e indução de dependência. O teste de toxicidade aguda deve ser feito em pelo menos três espécies de animais diferentes, sendo um não roedor. Este teste permite avaliar o início, a natureza e a duração da intoxicação, incluindo exames clínicos e patológicos nos animais. São utilizados grupos de animais com diferentes doses, chegando a 2.000 mg/Kg de peso corpóreo da substância testada. Posteriormente, é verificado se houve morte (ANVISA, 1996). Figura 26 – O coelho é uma espécie não roedora utilizada em experimentos na Toxicologia Nos testes de toxicidade subcrônica, o experimento dura, geralmente, entre 21 e 90 dias e permite identificar se o efeito é acumulativo ou não, além de auxiliar a detecção de órgãos afetados após serem submetidos a doses múltiplas. Nesses testes, utilizam‑se no mínimo duas espécies diferentes de animais, sendo uma não roedora, e pelo menos três doses distintas. Os animais devem ser observados ao menos uma vez ao dia quanto ao consumo de ração, peso, mudança de cor, textura do pelo, alteração motora e alteração de comportamento. Também devem ser realizados exames de sangue, urina e fezes no início, meio e no final do experimento. 66 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 Unidade IV Observação A dose utilizada não deve ultrapassar 2 g/Kg de peso corpóreo da substância testada. Após o experimento, os animais sobreviventes devem ser sacrificados e devem ser feitos exames de sangue e patológico (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA, 1996). Nos testes de toxicidade crônica, são avaliadas a exposição repetida e prolongada de uma substância. Com este teste, é possível avaliar o potencial carcinogênico e, para isso, o estudo dura mais de três meses, variando de seis meses a dois anos para roedores e um ano para não roedor. Normalmente, é feito com ratos e camundongos, utilizando 50 animais em cada grupo a fim de chegar com pelo menos 30 animais vivos no final do experimento. Para tal, é necessário examinar os animais duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA, 1996). Em relação aos testes in vitro utilizados para detectar a toxicidade de substâncias que serão utilizadas em seres humanos, considera‑se que são métodos alternativos que diminuem o uso de animais em laboratórios. Observação Esses testes também podem ser realizados com bactérias, fungos, algas e crustáceos, além de frações subcelulares presentes no sistema biológico como suspensões celulares, cultivo de tecidos, cultivos celulares, enzimas e proteínas. Os estudos com culturas de células ou citotoxicidade são realizados com células de vários tecidos, tanto de origem humana quanto animal, desde que a proliferação celular ocorra e que seja possível sua análise. É um teste rápido, reprodutívele sensível. Além disso, apresentam condições fisiológicas relativamente constantes, o que não ocorre com testes em animais. É extremamente relevante citar que nesses testes é reduzido abundantemente o número de animais. Moura et al. (2012) corroboram que, com o uso de testes in vivo, ocorre a morte de vários animais, o que acarreta em críticas em função do grande número de animais requerido e do sofrimento causado neles durante alguns tipos de experimentos. Assim, como teste alternativo, aplica‑se o teste in vitro com a finalidade de substituir os testes com animais e para detectar a toxicidade de substâncias que serão utilizadas em seres humanos. Entretanto, é inconcebível negar a importância dos testes in vivo quando comparados com os testes in vitro. Ensaios de toxicidade sempre devem ser realizados de acordo com normas técnicas que têm reconhecimento nacional ou internacional. No Brasil, seguem‑se as normas padronizadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e as internacionais, como da International Organization for Standardization (ISO), da Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) e da United 67 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 TOXICOLOGIA AMBIENTAL States Enviroment Protection Agency (Usepa). Normalmente, um laboratório adota uma metodologia já padronizada e só em alguns casos pode desenvolver metodologia própria, entretanto, para isso, é necessário validar tal método. Neste contexto, apenas em 1988 foi publicada a primeira norma brasileira que foi padronizada em escala nacional. Esta norma foi publicada no manual de testes para avaliação de Ecotoxicidade de agentes químicos pela antiga Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema). Em 1990, este manual teve uma breve atualização e foi publicado pela ABNT, que contou com a colaboração da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), e foram criadas normas para os organismos Daphnia spp., Ceriodaphnia spp., peixes e algas. Todas essas normas são atualizadas constantemente através da Comissão de Estudo Especial de Análises Ecotoxicológicas desde 2002. 7.2 Processos biogeoquímicos de poluentes inorgânicos e orgânicos no sistema ambiental Processos biogeoquímicos são fenômenos naturais que, por meio de distintas reações químicas, reciclam elementos químicos do ambiente para organismos e vice‑versa. Normalmente, as substâncias são continuamente transformadas devido a reações de decomposição, principalmente, e isso se deve pelo movimento constante de elementos químicos na atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera. A existência de ciclos biogeoquímicos da água e do solo, entre outros, evidencia o equilíbrio que a natureza vive no sentido da reciclagem contínua de elementos no planeta. Entretanto, é evidente que o planeta não está mais equilibrado devido à presença de poluentes oriundos da manipulação do homem. Os ciclos biogeoquímicos são de extrema importância, já que o conhecimento deles torna capaz o adequado estudo do impacto ambiental no que se refere à presença e persistência de poluentes. Nesse sentido, os poluentes podem ser classificados em quantitativos e qualitativos. Os poluentes quantitativos são aqueles que já existem na natureza, mas que são liberados pelo homem em quantidades maiores que aquelas que seriam liberadas naturalmente. Já os poluentes qualitativos são aqueles que não existem normalmente na natureza, ou seja, são sintéticos. Além disso, podem ser classificados como orgânicos ou inorgânicos. Os orgânicos são aqueles que apresentam essencialmente cadeia carbônica na sua estrutura química, tais como hidrocarbonetos, aldeídos e cetonas, já que os poluentes inorgânicos são compostos de outros elementos químicos, além de carbono e hidrogênio, como metais, alguns ácidos, bases e sais. Contudo, todos estes poluentes, sejam eles orgânicos, inorgânicos, quantitativos ou qualitativos, podem ser tóxicos e causar danos ao meio ambiente. O ciclo da água é um dos mais importantes, de tal forma que, se for afetado, todos os outros ciclos também são. Por exemplo, se ocorre uma alteração ou desequilíbrio no ciclo da água, diretamente o ciclo do fósforo também é afetado, já que uma parte do fósforo oriundo de rochas sofre a ação da água para ser levado para vales, onde é absorvido por plantas e então incorporado em organismos superiores. 68 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 Unidade IV Figura 27 – A importância da água nos ciclos biogeoquímicos No mesmo sentido, a emissão contínua de gases tóxicos na atmosfera altera diretamente o ciclo do carbono, o que é capaz de provocar o efeito estufa, assim como a liberação de dióxido de enxofre causa as chuvas ácidas. Os ciclos biogeoquímicos são fundamentais para manutenção da vida no planeta e, para tal, é necessário criar uma conscientização ambiental que envolva os conhecimentos desses ciclos no planeta. 8 BIORREMEDIAÇÃO E DESTOXIFICAÇÃO: PROCESSOS FUNDAMENTAIS NA ÁREA DE TOXICOLOGIA Nos últimos anos, os problemas ambientais têm sido apresentados de forma crescente e cada vez mais se tornam ainda mais críticos, muitas vezes estando diretamente relacionados ao crescimento populacional e ao aumento da atividade industrial. Com a constante poluição do ar, água e solo, outro ponto tem se tornado alvo de estudo: a forma de avaliação e eliminação desses poluentes. De fato, a eliminação deles é o que recebe maior atenção e que tem instigado muitos pesquisadores a elaborar novos modelos e ferramentas toxicológicas que propiciem a remoção desses compostos do ambiente. 8.1 Métodos de destoxificação e processos de liberação de poluentes em diferentes compartimentos ambientais e ocupacionais É inquestionável a necessidade urgente de aplicação de termos sustentáveis no cotidiano da população mundial com a finalidade de salvar o planeta. Nesse contexto, Schenberg (2010) afirmou que, 69 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 TOXICOLOGIA AMBIENTAL para atingir as metas de desenvolvimento sustentável, é crucial o manejo racional dos recursos naturais, o que exige o emprego de novas tecnologias e, entre elas, a Biotecnologia, especialmente nos campos da produção de alimentos, geração de energia, prevenção da poluição ambiental e biorremediação. Saiba mais Leia sobre a aplicação de recursos sustentáveis no artigo a seguir: SCHENBERG, A. C. G. Biotecnologia e desenvolvimento sustentável. Estudos Avançados, v. 24, n. 70, 2010. Inicialmente, para que ocorra a biorremediação, ou ainda a destoxificação ambiental, é necessário conhecer detalhadamente o compartimento e o poluente envolvido. Uma alternativa plausível em relação ao lixo urbano e industrial é a substituição de plásticos de origem petroquímica pelos produzidos por microrganismos, uma vez que tais biopolímeros são materiais biocompatíveis e totalmente biodegradáveis. A estimativa é de que os rejeitos plásticos lançados em aterros aumentam em 404% o peso total do lixo, e o problema é agravado pelo fato de que os materiais plásticos atualmente produzidos são de difícil decomposição, permanecendo no meio ambiente por várias centenas de anos. Figura 28 – Muitos materiais são de difícil decomposição Outro ponto importante é a destoxificação de poluentes. O termo pode ser aplicado na Toxicologia, de forma geral, em relação à biotransformação fase 2, e, no contexto ambiental, também pode estar 70 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 Unidade IV relacionado com o termo biorremediação, cujo processo envolve necessariamente organismos vivos, enquanto,na destoxificação ocorrem processos biotecnológicos com a participação de substâncias químicas com a finalidade de neutralizar ou transformar tal poluente. Na biorremediação, ocorre a participação de seres vivos para descontaminar ou reduzir o teor de poluentes em um determinado compartimento ambiental. De fato, a ação de microrganismos sobre metais tem um potencial de aplicação, tanto para a destoxificação quanto para a recuperação de metais nas atividades da indústria de mineração (biolixiviação). Alguns microrganismos excretam substâncias que ocasionam precipitação dos metais sob uma forma insolúvel (biomineralização); outros são capazes de internalizarem os íons metálicos por meio de processos de transporte ativo (bioacumulação); outros adsorvem passivamente os íons metálicos sobre a superfície celular (biossorção). É sabido que todos esses processos são válidos para a descontaminação de águas poluídas por metais pesados, entretanto, a biossorção constitue a abordagem mais largamente utilizada, já que é particularmente eficaz para o tratamento de efluentes, sendo mais limitado o seu uso para a biorremediação de solos. Dessa maneira, é possível afirmar que bactérias, fungos e leveduras, que são interpretados como rejeitos de fermentações industriais, são capazes de servir como um material de baixo custo para a biorremediação de águas contaminadas por metais. Outro fenômeno que vale a pena evidenciar nesse livro é o da fitorremediação, que parece também ser uma alternativa interessante para a limpeza de águas contaminadas por metais e radionuclídeos. A técnica de fitorremediação foi empregada para descontaminar a água de Chernobyl, na Rússia, após o acidente nuclear. As plantas hiperacumuladoras apresentam crescimento lento e o controle genético dos mecanismos de acumulação ainda não está suficientemente esclarecido. Em relação à descontaminação de solos, é sabido que, em alguns países desenvolvidos, tais como Estados Unidos, Canadá e alguns países da Europa, técnicas de biorremediação de solos já são amplamente utilizadas, particularmente em solos contaminados por hidrocarbonetos de petróleo. Contudo, no Brasil, a biorremediação de solos contaminados ainda é muito distante, embora haja a necessidade e uma possibilidade de expansão no futuro. A contaminação ambiental, em particular do solo por derramamentos de petróleo e seus derivados, é constantemente detectada no Brasil, o que motiva o desenvolvimento de novas técnicas na busca da descontaminação e, assim, muitas técnicas, físicas, químicas e biológicas, têm sido desenvolvidas para a remoção ou a degradação in situ ou ex situ de petróleo derramado e para a redução de seus efeitos sobre o ecossistema, especialmente os tóxicos. 71 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 TOXICOLOGIA AMBIENTAL A biorremediação é um procedimento que envolve a degradação bioquímica de contaminantes por meio da atividade de microrganismos presentes ou adicionados no local de contaminação. Neste caso, os tratamentos podem ser do tipo ex situ (ou off‑site), realizados fora do local onde ocorreu a contaminação e, por isso, é um tratamento que requer a escavação e a remoção do solo contaminado para outro local. Ou ainda, pode ser do tipo in situ (ou on‑site), em que o tratamento é feito no próprio local da contaminação. Normalmente, essa opção de biorremediação torna o processo mais atrativo e economicamente viável, quando comparado ao tratamento citado anteriormente. Além disso, o tratamento in situ, normalmente, acarreta em menores impactos ambientais advindos da remediação da área contaminada. Basicamente, existem três técnicas de remediação do solo: química (oxidação química in situ), biológica (atenuação natural e biorremediação) e física (extração de vapores no solo). Cada técnica de tratamento depende de alguns fatores, tais como condições físicas, químicas e biológicas do local contaminado, concentração do contaminante e tempo requerido para a degradação ou a remoção do composto alvo, conforme a técnica empregada. Outro processo comumente relatado é o de atenuação natural. O procedimento tem sido empregado para descrever a remediação passiva de solo. Nesse caso, alguns processos podem ocorrer naturalmente, como a biodegradação, a volatilização, a dispersão, a diluição e a adsorção. Apenas por biodegradação, facilitada por microrganismos, ocorre a destruição física dos contaminantes. No caso dos demais processos, ocorre a transferência dos contaminantes de um local para outro ou a retenção do contaminante. Em relação à remediação ex situ, é importante ressaltar a técnica do tratamento por biopilhas, cujo processo ocorre em condições de anaerobiose. Essa técnica de biorremediação envolve basicamente a disposição do material contaminado em montes denominados de biopilhas e, para a aplicação de tal técnica, o solo é escavado e, em seguida, preparado e colocado em biopilhas, ocorrendo estimulação da atividade microbiana por aeração, adição de nutrientes e aumento da umidade do solo, com a finalidade de promover a biodegradação do contaminante em questão. Em relação à contaminação de sedimento, é inquestionável a forte relação com atividades petrolíferas e ocorrência com acidentes e derrames ambientais. Nestes casos, também é importante a implementação de medidas de biorremediação que se relacionam com sistemas microemulsionados, que são capazes de recuperar e limpar alguns ambientes impactados. 72 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 Unidade IV Figura 29 – Relação lamentável entre as atividades petrolíferas e o derrame ambiental Microemulsões são oriundas da solubilização de dois líquidos imiscíveis na presença de um tensoativo e, se necessário, um cotensoativo. Esses sistemas aplicam‑se no setor industrial e ambiental, já que são eficazes na remediação de solos contaminados por derivados de petróleo, tais como o diesel. Estes procedimentos podem ser utilizados por processos mecânicos (barreiras e skimmers), físicos (queima in situ), químico (uso de surfactantes e dispersantes) e biológicos (fitorremediação, bioaumentação, bioestímulo). É importante ressaltar que três tipos de rochas sedimentares são especialmente importantes ao gerar e facilitar o acúmulo de petróleo: a rocha geradora (folhelho), a rocha armazenadora ou reservatório (arenitos e calcários porosos) e a rocha selante ou capeadora (principalmente folhelhos e calcários impermeáveis). No que diz respeito à contaminação ocupacional, é crucial comentar sobre a qualidade do ar de interiores, que tem despertado, inclusive, o interesse de saúde pública. Tal interesse cresceu concomitante às evidências de que ocorrem poucas trocas de ar nesses ambientes, o que acarreta em aumento da concentração de poluentes químicos e biológicos no ar. Assim sendo, é muito válido avaliar as concentrações de poluentes em ambientes climatizados artificialmente, e o conhecimento de engenharia de ar condicionado é sempre muito útil nestes casos. De uma maneira geral, em um sistema de ar condicionado central, várias salas são servidas por uma mesma máquina e, na maioria das vezes, não têm o mesmo tipo de atividade. Outro fator complicador é o rearranjo de ambientes com divisórias, sem levar em consideração os diferentes pontos de captação do retorno de ar para cada aparelho. É possível dividir os poluentes em alguns tipos, como materiais particulados, aerossóis, vapores e gases. Eles podem ser classificados em orgânicos, inorgânicos e biológicos. 73 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 TOXICOLOGIA AMBIENTAL Também são fontes típicas de poluição do arnesses ambientes internos os materiais de construção, de acabamento e de escritórios, além de carpetes, móveis, roupas e tapetes, que não somente liberam fibras, formaldeído e outras substâncias químicas como também fornecem ambiente propício para a proliferação de agentes biológicos, tais como bactérias, fungos e ácaros. Figura 30 – Varrer é fonte de poluição em ambientes internos Alguns processos de limpeza, como varrer, aspirar e espanar a poeira, normalmente, removem as partículas grandes, porém aumentam, por ressuspensão, a concentração de partículas pequenas no ar. 8.2 A caracterização de fontes antropogênicas e a dinâmica e destino dos poluentes no sistema ambiental Inicialmente, é necessário definir que fontes antropogênicas estão relacionadas com atividades humanas, como as queimadas, as usinas termelétricas, a queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão, gás natural). 74 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 Unidade IV Figura 31 – Queimadas contribuem para a contaminação ambiental Infelizmente, todos estes elementos oriundos dessas atividades tornam‑se poluentes ambientais. Eles se movimentam no sistema ambiental e, inclusive, se dispersam na atmosfera. É sabido sobre a existência de alguns modelos de dispersão atmosféricos aplicados para o cálculo da dispersão de um poluente, que elucidam os problemas mais complexos dos processos relacionados à difusão turbulenta e dos transportes turbulentos que acontecem na atmosfera, ou seja, de onde vem o poluente e para onde vai. Tais modelos são baseados em equações matemáticas e permitem conhecer como os termos dessas equações agem na dispersão dos contaminantes para a atmosfera. Entretanto, além da matemática, é necessário conhecer também a física da atmosfera onde ocorre tal dispersão. Determinado modelo denominado pluma gaussiana é normalmente aplicado nestes casos ao estimar as distribuições de concentrações a partir de determinada emissão industrial, estabelecendo‑se condições de contorno para a movimentação do ar em torno dessa emissão. O modelo de pluma gaussinana é a solução da equação de difusão – advecção, que descreve matematicamente os processos de transporte e difusão turbulenta que ocorrem na atmosfera. Para tal, considera‑se que a dispersão de uma pluma lançada na atmosfera se dá de tal modo que a concentração dos poluentes na pluma, em relação à posição fixa da fonte, exibe um comportamento gaussiano. É importante ressaltar que rios representam a principal via de transporte de materiais originados por fontes do continente para o oceano. É sabido que estuários são muitas vezes a conexão mais importante na transferência de materiais para o oceano. Infelizmente, são escassos os estudos sobre a composição e comportamento de materiais além das transformações por processos físico‑químicos, biogeoquímicos e biológicos. 75 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 TOXICOLOGIA AMBIENTAL Como já relatado anteriormente, organismos são também um importante fator que influencia na dinâmica dos íons metálicos em ambientes aquáticos naturais, principalmente microrganismos aquáticos. Devido à significância da fase coloidal no ambiente aquático, o isolamento e medições do coloide também são fundamentais nestes estudos, e uma das técnicas mais comuns de isolamento de coloides das águas naturais é o da ultrafiltração. O método de ultrafiltração é uma ferramenta interessante em estudos ambientais de Ecotoxicologia, já que se relaciona diretamente com o transporte e ciclagem de substâncias em ambientes aquáticos. Em relação aos ambientes aquáticos, é sabido que os principais responsáveis de tais contaminações são os lançamentos de efluentes líquidos domésticos e industriais de estações de tratamento de esgoto (ETE) ou o esgoto in natura sem o devido tratamento. É necessário avaliar o impacto ambiental desses poluentes na vida aquática e, para tal, também devem ser aplicados ensaios biológicos utilizando‑se bioindicadores. Além disso, não menos importante, é a análise química de efluentes que, muitas vezes, apesar de apresentar alto custo, não é capaz de garantir que todos os compostos tóxicos relevantes sejam detectados. Obviamente, o uso de métodos de biomonitoramento somado à análise de dados das variáveis abióticas do sistema levam a um adequado diagnóstico da qualidade ambiental do ecossistema. Ao realizar a análise de qualidade da água, aplicam‑se comumente métodos biológicos, fisiológicos (por exposição dos organismos a uma amostra de água ou sedimento) e ecológicos (investigação das comunidades presentes no corpo d’água). Por fim, esse conteúdo demonstrou inúmeras formas de análise ambientais com a intenção de promoção de melhorias na saúde humana e de animais para a busca de um meio ambiente equilibrado, porém, seria inevitável relembrar que a melhor forma de se obter um meio ambiente mais equilibrado é o da consciência de uma vida mais sustentável com a redução do desgaste que parece inevitável na atualidade, que provoca tal desequilíbrio com a emissão de uma enormidade de poluentes no meio ambiente. Resumo O crescimento econômico favorece a exposição a poluentes no Brasil e no mundo e, por isso, a avaliação da toxicidade e ecotoxicidade de produtos químicos tornou‑se uma preocupação constante. Neste sentido, muitos países já estabeleceram políticas de segurança e ações que regulem os métodos de avaliação. 76 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 Unidade IV Todos os poluentes podem ser continuamente transformados devido a reações de decomposição. Atribui‑se a esse fato o movimento constante de elementos químicos na atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera. Assim sendo, cada vez mais se torna notório que o planeta não está mais equilibrado devido à presença de poluentes oriundos da manipulação do homem, cuja eliminação é o assunto que recebe maior atenção e o que tem instigado muitos pesquisadores a elaborar novos modelos e ferramentas toxicológicas que propiciem a remoção desses compostos do ambiente. É sabido que bactérias, fungos e leveduras são capazes de servir como um material de baixo custo para a biorremediação de águas contaminadas por metais. Além disso, inúmeras formas de análise ambientais com a intenção de promoção de melhorias na saúde humana e de animais para a busca de um meio ambiente equilibrado são relevantes. Exercícios Questão 1. (UFOP 2010, adaptado) O impacto ambiental é o desequilíbrio provocado pelo resultado da intervenção humana sobre o meio ambiente. Dessa forma, o impacto ambiental pode ser positivo ou negativo. No primeiro caso, o homem interage com o meio ambiente visando adequá‑lo e adaptar as suas necessidades, sem com que cause algum dano, em alguns casos pode haver até mesmo uma melhoria do meio ambiente, devendo assim ser estimulados. Já no segundo caso, o homem atua de tal forma que provoca um dano ao meio ambiente, conforme previsão da Resolução nº 1/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama. Figura 32 77 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 TOXICOLOGIA AMBIENTAL Considerando o enunciado e observando as fotos apresentadas, assinale a alternativa que apresenta uma atitude incorreta do ponto de vista da sustentabilidade. A) Aplicar medidas mitigadoras dos impactos gerados pela atividade. B) Recuperar a paisagem e recompor o solo de áreas mineradas. C) Impedir a mineração em áreas de conservação como florestas. D) Lançar os rejeitos líquidos e sólidos na rede hidrográfica regional. E) Impedir a poluiçãode rios e solos nas áreas próximas ou não à mineradora. Resposta correta: alternativa D. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: é necessário aplicar medidas responsáveis para evitar os impactos que essas atividades podem provocar. B) Alternativa correta. Justificativa: é importante um trabalho de recuperação e recomposição do solo das áreas de mineração para prevenir danos maiores ao ambiente e consequentemente à cadeia alimentar. C) Alternativa correta. Justificativa: a mineração não pode atingir áreas de preservação, pois coloca em risco toda a vida existente nessas áreas, e isso causaria danos ambientais mais graves. D) Alternativa incorreta. Justificativa: os rejeitos devem ser tratados e armazenados em local seguro, pois, se em contato com rios e solos, podem matá‑los, como exemplo a ocorrência da lama derramada sobre o Rio Doce em virtude do crime ecológico ocorrido pela Mineradora Samarco, em Minas Gerais. E) Alternativa incorreta. Justificativa: a poluição sempre deve ser evitada ou impedida, por medidas e leis de fiscalização regulamentadas e severamente aplicadas. 78 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 Unidade IV Questão 2. (ETEs 2007). Estudos realizados em 1995 indicam que 12% dos peixes, de amostra proveniente da região do Rio Tapajós, apresentam concentrações de mercúrio superiores ao valor limite estabelecido pela Organização Mundial de Saúde. Em comunidades ribeirinhas do Tapajós, pesquisas constataram a presença de mercúrio em níveis elevados, a partir de amostras de cabelo dos habitantes que consomem peixe. Em Minamata, no Japão, onde também ocorreu esse tipo de contaminação, os estudiosos levantaram cinco estágios desse processo: I – Contaminação ambiental pelo vapor de mercúrio. II – Contaminação do solo. III – Origem de mercúrio orgânico – mercúrio que se incorpora às cadeias carbônicas formando compostos que se concentram na cadeia alimentar aquática. IV – Acúmulo do mercúrio no organismo humano devido à ingestão de peixes. V – Aparecimento de sinais e sintomas da doença. A partir dessas informações, é possível concluir que, na região do Rio Tapajós, a contaminação máxima já pode ser verificada por aspectos citados no(s) estágio(s): A) I. B) II. C) III. D) IV. E) V. Resolução desta questão na plataforma. 79 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 11 /1 2/ 20 15 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 OPENPHOTONET_4_PICT0015.JPG. Disponível em: <http://openphoto.net/search/index.html?search_ text=environmentaL+pollution&post =1>. Acesso em: 5 out. 2015. Figura 2 1414589262XSYM1.JPG. Disponível em: <http://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/n/ Natureworks/10/l/1414589262xsym1.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2015. Figura 3 1412505874AF1ZN.JPG. Disponível em: <http://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/s/ samadhi/10/l/1412505874af1zn.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2015. Figura 4 1417282060A9DGG.JPG. Disponível em: <http://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/k/ Koan/11/l/1417282060a9dgg.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2015. 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