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AULA 8
	
 Habilidades e competências no ensino da língua portuguesa
Ler em voz alta, ler em silêncio, ser capaz de carregar na mente bibliotecas íntimas de palavras lembradas são aptidões espantosas que adquirimos por meios incertos. Todavia, antes que essas aptidões possam ser adquiridas, o leitor precisa aprender a capacidade básica de reconhecer os signos comuns pelos quais uma sociedade escolheu comunicar-se: em outras palavras, o leitor precisa aprender a ler. 
(MANGUEL, 1997, p.85)
A citação de Manguel marca o início de nossa aula que pretende discutir as competências e habilidades em leitura. Manguel nos informa que antes do indivíduo decodificar as palavras, antes de aprender as estruturas mais complexas da leitura, ele deve, primeiramente, inserir-se no mundo, na sua comunidade, no seu grupo de modo pleno efetivo, a fim de reconhecer as práticas de leitura como um caminho de compreensão e construção do olhar a partir da leitura de mundo que Freire falava e tratamos em nossas aulas.
No Dicionário Aurélio escolar da Língua portuguesa (2005, p.540), leitor é “aquele que lê ou que tem o hábito da ler, ledor”.
Por esta definição, notamos o quanto a prática da leitura deve tornar-se efetivamente uma presença constante na vida de todo e qualquer indivíduo, pois a leitura não é um processo apenas escolar, até mesmo porque, muitas das vezes, aprendemos a ler e começamos a ter contato com livros, revistas e outros meios de leitura antes mesmo de adentrarmos a escola.
Logo, dentro do espaço escolar, a figura do professor será de fundamental relevância na construção de práticas de leitura, pois não se pode imaginar que os procedimentos de leitura sejam apenas uma mera didatização e alfabetização de palavras e textos sem conexão com os espaços sociais que o aluno está inserido.
Nesta aula, pretendemos ter como base de nossa discussão os indicativos do MEC e do INEP no que se refere aos objetivos do ensino de língua portuguesa e as suas diretrizes com relação ao ensino das práticas de leitura.
Seguindo este princípio, o Ministério da Educação indica que o ensino de Língua Portuguesa deve voltar-se para a função social da língua como requisito básico para que o individuo ingresse no mundo letrado e possa construir seu processo de cidadania e integrar-se à sociedade como ser participante e atuante.
De acordo com os PCNs de língua portuguesa:
 Parâmetros curriculares Nacionais
“O trabalho com leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes e, consequentemente, a formação de escritores (Não se trata, evidentemente, de formar escritores no sentido de profissionais da escrita e sim de pessoas capazes de escrever com eficácia.), pois a possibilidade de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura, espaço de construção da intertextualidade e fonte de referências modelizadoras. A leitura, por um lado, nos fornece a matéria-prima para a escrita: o que escrever. Por outro, contribui para a constituição de modelos: como escrever.
Um leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz de selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar estratégias de leitura adequada para abordá-los de forma a atender a essa necessidade.
Formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos implícitos; que estabeleça relações entre o texto que lê e outros textos já lidos; que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto; que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da localização de elementos discursivos.
Um leitor competente só pode constituir-se mediante uma prática constante de leitura de textos de fato, a partir de um trabalho que deve se organizar em torno da diversidade de textos que circulam socialmente. Esse trabalho pode envolver todos os alunos, inclusive aqueles que ainda não sabem ler convencionalmente.” (págs. 35-36)
- Ler é um processo de emancipação. A experiência e o conhecimento adquiridos pelo indivíduo nas suas relações com o mundo são instrumentos necessários à compreensão do material escrito. O ato de ler é parte integrante e fundamental do ser humano. Quanto mais conhecimento textual o leitor tiver e quanto maior sua exposição a todo tipo de texto, mais fácil será a sua compreensão. Desse modo, a leitura é de suma importância, pois o indivíduo torna-se capaz de: compreender a mensagem; compreender-se na mensagem e compreender-se pela mensagem. Faz-se necessário que o ser humano se situe no mundo, que saiba diagnosticar a leitura como sendo um bem primordial à sua existência, pois apenas assim saberá se posicionar diante dos fatos.
- O ato de ler se faz presente em todos os meios educacionais das sociedades letradas. É um ato imprescindível para a formação de um cidadão crítico, participativo e consciente de seu papel na sociedade. Apesar da leitura ser tão requisitada e estar presente em todas as propostas de enriquecimento na aquisição de experiências, ela ainda é pouco praticada e 
é grande fonte de inquietação no processo educacional brasileiro, tal como afirma o autor Ezequiel Theodoro, em seu livro Fundamentos Psicológicos para uma nova Pedagogia da Leitura.
- O acesso à cultura se relaciona diretamente com o acesso ao livro, uma vez que o patrimônio cultural, histórico e científico da humanidade, encontra-se registrado por meio de escritos, e estes registros, como fonte de conhecimento, dão a possibilidade de promover discussões e reflexões, de mudança de hábitos e de vivenciarmos novas experiências, interagindo com o mundo à nossa volta.
Segundo Júlio Bueno, presidente da BR Distribuidora: “Cada vez mais o executivo tem que ter uma visão diversificada do mundo. Em muitos casos, as habilidades técnicas podem ser superadas pelas habilidades culturais e os livros são o motor deste conhecimento. A leitura de uma vasta bibliografia é tão importante quanto um grande conselheiro no processo decisório de qualquer executivo.” (em Notícias do Salão, edição especial         
- nº 2 – novembro de 2001).
Por isso, a leitura tornar-se de fato uma atividade indispensável a qualquer área do conhecimento da vida de um ser humano. O ato de não ler acarreta a todos os indivíduos um processo de alienação da herança cultural do seu país. Tornando-o um ser fora do contexto social, logo, limitado aos progressos oferecidos pela evolução política, econômica, social e cultural.
- Devemos reconhecer que o leitor está sujeito às transformações, críticas, reflexões e manifestações de conhecimentos quando se propõe a ler.
- É necessário, desse modo, resgatar a importância e a necessidade da leitura, reconhecendo-a como essencial ao conhecimento, ao sucesso acadêmico e profissional, à interação, alargando experiências de vida de cada indivíduo.
- A leitura é, sem dúvida, o alicerce fundamental da humanidade.
A formação do leitor, ampliando seu acesso aos diversos tipos de textos presentes em nossa indústria cultural deve ser o  processo norteador das práticas escolares. É fundamental destacar a importância de trabalhar com a perspectiva de construção do sentido de cidadania com as crianças, jovens e adultos, por meio de atividades de reflexão crítica da realidade.
Ao trabalhar a leitura como construção da inventividade e criticidade do indivíduo, permitimos que cada um possa construir a sua história de leitura através de outras leituras, pois acreditamos que ler é abrir janelas que ampliam as possibilidades de se conhecer mais e melhor a si mesmo e ao mundo.
O objetivo das práticas de leitura no espaço escolar é de buscar caminhos, de fazer a criança e o jovem experimentarem um contato diferente com a leitura, que proporcione prazer, alegria, reflexão, surpresa, emoção e tudo mais que os bons textos nos provocam.
Em algumas pesquisas e projetos de leitura desenvolvidosem encontros com as crianças, jovens e adultos, percebemos que após o convívio com as variadas formas de expressão e motivados pela leitura, têm revelado sonhos, histórias de vida, drama e percepções. Como nos diz, Magda Soares (2003): “Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que você pode ser”.
A leitura literária, por exemplo, tem um importante papel na formação dos valores, conceitos e da afetividade do indivíduo, pois a cada obra ou texto lido e assimilado, vai se construindo algo de significativo. O universo do livro possibilita abrir estradas, desvendar mistérios, construir e realizar sonhos.
Partindo desse princípio, o professor tem um importante papel no processo de mediação da leitura como prazer, inventividade e formação do pensamento crítico. Segundo Marc Soriano (citado por Pires, 1976),
“A leitura não é apenas uma técnica de informação e educação, é também um prazer – um dos raros que a humanidade inventou – um processo regulador que por uma série de identificações e compensações, nos permite uma adaptação mais rápida à sociedade, permanecendo nós mesmos. É uma conquista decisiva e insubstituível para a humanidade, como o fogo é e o erguer-se sobre os pés, que nos compete manter a todo o custo. Um homem que não lê, que não se cultiva, que não utiliza plenamente seus dons, constitui um intolerável desperdício, é a mais preciosa energia que não foi empregada e ameaça ser perdida num mundo que tem tanta necessidade de se tornar melhor.” (p.137)
PIRES, Nice. Crianças, jovens e a literatura. Fundação Getúlio Vargas, 1976.
O que se discute é a formação do leitor que busca a leitura pelo prazer, pelo conhecimento e autoconhecimento, para a reflexão sobre o status quo, que busca novos horizontes, que forma e transforma uma consciência crítica do mundo, que através da leitura realiza viagens fantásticas no mundo imaginário, trazendo para o mundo exterior e concreto seus sonhos, anseios, medos. Um leitor capaz de escolher e decidir que obra deseja ler, quando começar e quando parar. Um leitor que tem a visão ampla do mundo e que tem um gosto variado e consciente do que há para ler.
Como afirma Lajolo (1997):
“Cada leitor, na individualidade de sua vida, vai entrelaçando o significado pessoal de suas leituras com os vários significados que, ao longo da história de um texto, este foi acumulando. Cada leitor tem a história de suas leituras, 
cada texto, a história das suas. Leitor maduro é aquele que, em contato com o texto novo, faz convergir para o significado deste o significado de todos os textos que leu. E, conhecedor das interpretações que um texto já recebeu, é livre para aceitá-las ou recusá-las, e capaz de sobrepor a elas a interpretação que nasce de seu diálogo com o texto.” (p.106) LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 3. ed. São Paulo: Ática, 1997.
As diretrizes que norteiam as provas de Língua Portuguesa do SAEB² e da Prova Brasil³ estão baseadas na questão da leitura, que requer a competência de apreender o texto como construção de conhecimento em diferentes níveis de compreensão, análise e interpretação. A proposta requer que o aluno tenha competência no uso da língua, de modo que saiba interagir, por meio de textos, em qualquer situação de comunicação.
As diretrizes que norteiam as provas de Língua Portuguesa do SAEB² e da Prova Brasil³ estão baseadas na questão da leitura, que requer a competência de apreender o texto como construção de conhecimento em diferentes níveis de compreensão, análise e interpretação. A proposta requer que o aluno tenha competência no uso da língua, de modo que saiba interagir, por meio de textos, em qualquer situação de comunicação.
SEAB e Prova do Brasil - Os testes do SAEB e da Prova Brasil apresentam o texto como a unidade significativa que indica, efetivamente, as competências e habilidades linguísticas relacionadas às situações cotidianas.
PCNs - Entretanto, de acordo com os PCNs, tem-se criticado muito os critérios adotados nas escolas com relação ao ensino de língua portuguesa no que concerne às questões de leitura e escrita.
Entretanto, de acordo com os PCNs, tem-se criticado muito os critérios adotados nas escolas com relação ao ensino de língua portuguesa no que concerne às questões de leitura e escrita. Entre as críticas mais frequentes destacam-se:
- A desconsideração da realidade e dos interesses dos alunos.
- A apresentação de uma teoria gramatical inconsistente - uma espécie de gramática tradicional mitigada e facilitada.
- O ensino descontextualizado da metalinguagem, normalmente associado a exercícios mecânicos de identificação de fragmentos linguísticos em frases soltas.
 PARÃMETROS CURRICULARES NACIONAIS
- A  excessiva escolarização das atividades de leitura e de produção de texto.
- O uso do texto como expediente para ensinar valores morais e como pretexto para o tratamento de aspectos gramaticais.
- A excessiva valorização da gramática normativa e a insistência nas regras de exceção, com o consequente preconceito contra as formas de oralidade e as variedades não padrão.
Nota-se, assim, que o aprendizado da língua deve nortear a representação do mundo no qual cada um de nós está inserido, como também, envolver através de todas as áreas do conhecimento as práticas de leitura com objetivo de formar leitores competentes.
A escola deve apresentar a leitura como foco central, propondo atividades diárias que seduzam o aluno e desenvolva gradativamente sujeitos críticos, capazes de investigar, articular e descobrir os caminhos do mundo.
O convívio com práticas sociais de leitura permitirá ao aluno ampliar seu conhecimento de mundo através da diversidade de textos que propiciará um universo de referências e familiaridade crescente com expressões culturais e científicas cada vez mais complexas.
Atenção: 
Nota-se, assim, que o aprendizado da língua deve nortear a representação do mundo no qual cada um de nós está inserido, como também, envolver através de todas as áreas do conhecimento as práticas de leitura com objetivo de formar leitores competentes.
Segundo Kleiman (2000), é importante sim desenvolver estratégias de leitura na escola. Pois estas são formas de abordar o texto a partir da compreensão que o leitor faz do texto. As respostas que o aluno constrói, os resumos, as resenhas, as paráfrases, além de destacar e sublinhar palavras ou expressões são formas de desenvolver as habilidade linguísticas.
Entretanto, Kleiman(2000) afirma que o desenvolvimento de estratégias cognitivas e metacognitivas são importantes para o desenvolvimento das competências e habilidades em leitura. Tais estratégias destacam-se do seguinte modo:
Metacognitivas - As metacognitivas seriam o desenvolvimento consciente da leitura, através da qual o aluno saberá informar o quanto entendeu ou não o texto ou qual a importância da leitura daquele texto para o momento.
Cognitivas - Já as cognitivas seriam o desenvolvimento inconsciente a partir de uma leitura que busca atingir um objetivo do texto, tenta depreender de modo implícito o que o texto subentende. As inferências sobre o texto são parte deste processo.
Nesse sentido, percebe-se que alguns alunos apresentam melhor desempenho em uma situação de leitura do que em outra, o que justifica a inclusão de diversos tipos de textos nas estratégias de leitura.
Segundo Kleiman(2000), para formar leitores devemos ter paixão pela leitura. A autora apresenta a ideia que o autor francês Bellenger faz sobre a leitura:
“Em que se baseia a leitura? No desejo. Esta resposta é uma opção. É tanto o resultado de uma observação como de uma intuição vivida. Ler é identificar-se com o apaixonado ou com o místico. É ser um pouco clandestino, é abolir o mundo exterior, deportar-se para uma ficção, abrir o parêntese do imaginário. Ler é muitas vezes trancar-se (no sentido próprio e figurado). É manter uma ligação através do tato, do olhar, atémesmo do ouvido (as palavras ressoam). As pessoas leem com seus corpos. Ler é também sair transformado de uma experiência de vida, um apelo, uma ocasião de amar sem a certeza de que se vai amar. Pouco a pouco o desejo desaparece sob o prazer.” (BELLENGER, Lionel. Os métodos de leitura. p.17)
Por isso, o professor deve propiciar este ambiente de paixão, de desejo pela leitura. O professor deve ser o mediador de uma leitura que pressupõe a construção de sentido da diversidade de gêneros textuais que circulam na sociedade.
Conforme os PCNs de língua portuguesa (1998):
 Parâmetros curriculares nacionais
“Procurando desenvolver no aluno a capacidade de compreender textos orais e escritos e de assumir a palavra, produzindo textos em situações de participação social, o que se propõe ao ensinar os diferentes usos da linguagem é o desenvolvimento da capacidade construtiva e transformadora. O exercício do diálogo na explicitação, contraposição e argumentação de ideias é fundamental na aprendizagem da cooperação e no desenvolvimento de atitudes de confiança, de capacidade para interagir e de respeito ao outro. A aprendizagem desses aspectos precisa, necessariamente, estar inserida em situações reais de intervenção, começando no âmbito da própria escola.”
PCNs de Língua Portuguesa – Terceiro e Quarto ciclos do Ensino Fundamental.
Síntese da aula :
- Compreendeu a relevância no  desenvolvimento das competências e habilidades a desenvolver na formação do leitor. 
- Aprendeu também a importância das práticas de leitura na sociedade atual. 
- Assimilou as diretrizes com relação ao ensino da leitura em língua portuguesa conforme INEP. 
- Percebeu o papel do professor na mediação das práticas de leitura.
Aula 9
	
Nesta aula, vamos chamar a atenção para a prática de produção textual em sala de aula, destacando estratégias para o desenvolvimento da habilidade da escrita. Vamos ressaltar a questão do conhecimento do assunto, preparação das ideias e sua elaboração. Em seguida, analisar o papel do professor na construção do texto pelo aluno e a importância da autocorreção das ideias para a sua reescrita.
Iniciaremos nossa aula assistindo ao vídeo no qual a formadora do Instituto Avisa Lá, Beatriz Gouveia, apresenta os conteúdos que a formação continuada deve oferecer ao professor que busca desenvolver suas próprias práticas de leitor e escritor, visando melhorar suas aulas de produção de texto. Assista-o e reflita.
Quando pensamos na produção textual, muitas vezes, nós professores, temos dúvidas de quais seriam as melhores técnicas de ensino, além de atividades que efetivamente promovam a prática da escrita dentro do espaço escolar.
Tal reflexão se percebe no passado quando a produção textual em sala de aula era dissociada das práticas discursivas e sociais nas quais o indivíduo estava inserido. A escrita que buscávamos ensinar baseava-se nas palavras, frases ou até mesmo em ideias soltas e sem sentido da contextualização social e cultural dos alunos.
Quando destacamos a realidade do aluno, consideramos que qualquer criança ou jovem que vivem, de algum modo, as experiências sociais, culturais e históricas de um determinado momento, têm o conhecimento necessário, mesmo que para a escola não seja o melhor. Para isso, devemos iniciar as práticas de produção textual de modo reflexivo, crítico, produtivo e coerente com as suas percepções. Afinal, ninguém escreve sem um olhar a partir da perspectiva do mundo no qual está inserido, sem viver as experiências que surgem ao seu redor.
Mas antes mesmo de iniciarmos a experiência de escrever textos simples ou mais complexos, é necessário que o professor apresente ao aluno o que faz 
parte do cotidiano dele, aquilo que circula mais intensamente na vida em sociedade conforme afirma Almeida (2007), “nos ambientes educativos ou alfabetizadores, tudo se constitui em aprendizagem para a leitura e a escrita. Nesses ambientes a escrita tem de estar a serviço da comunidade ali envolvida. Escreve-se e lê-se com determinadas finalidades. Uma placa, um bilhete, um cartaz avisando para não pisar na grama, uma placa que anuncia um show, tudo isso faz com que exista um ambiente alfabetizador, pois a criança vai percebendo aos poucos que nesses objetos há informações e que elas podem acessá-las quando passarem a possuir as chaves, que são a leitura e a escrita.” (p.29)
O professor deve apresentar ao aluno a prática da produção escrita da língua como algo que se tornará constante em sua vida em razão de nós, seres humanos, termos a necessidade de nos comunicar também pela escrita. O registro da língua através da escrita se faz necessário pois expande, demarca e constrói uma identidade social, cultural e porque não dizer política de uma determinada sociedade.
Nossa relação com os textos escritos tem sido cada vez mais constante e intensa na vida em sociedade. Pois, mesmo com o surgimento das novas tecnologias, com a Internet e seus afins (blogs, comunidades sociais, sites de cultura e informação, entre outras), o formato texto segue um padrão próprio e específico, que determina sua função, estilo, composição e formato do material a ser lido.
Compreender a relação que a sociedade estabelece com a linguagem escrita e o papel que os textos ocupam nessa sociedade torna-se fundamental para a compreensão e o desenvolvimento de práticas de ensino e de aprendizagem da escrita em diferentes espaços sociais. Assim, quando a escola assume a importância de trabalhar práticas de leitura e escrita em sala de aula, devemos nos preocupar com o risco de padronização e com a rigidez de modelos estabelecidos na construção do texto pelo aluno. Devemos, inicialmente, compreender a escrita como ação social.
Segundo Marcuschi (2000),
“A escrita é usada em contextos sociais básicos da vida cotidiana, em paralelo direto com a oralidade. Estes contextos são, entre outros: o trabalho, a escola, o dia-a-dia, a família, a vida burocrática, a atividade intelectual. Em cada um desses contextos, as ênfases e os objetivos do uso da escrita são variados e diversos (...). Seria interessante que a escola soubesse algo mais sobre essa questão para enfrentar sua tarefa com maior preparo e maleabilidade, servindo até mesmo de orientação na seleção de textos e definição de níveis de linguagem a trabalhar.” (p.19)
EXPLICAÇÃO EXPANDIDA: 
Logo, apenas possibilitar a repetição de proposições padronizadas, de textos que seguem um ritual, acabam por provocar um esvaziamento da atividade de produção escrita. Escrevemos porque existe uma necessidade, um objetivo e se não construirmos isso em sala de aula, a produção dos textos torna-se uma mera atividade de exercícios formais da escrita. Não devemos executar a produção do texto como um processo regulado por normas regidas pela gramática da língua, desconsiderando o sujeito-escritor, a situação da escrita e o papel discursivo e social do texto.
Ao professor cabe estimular uma diversidade de textos que irão despertar no aluno a importância e o uso adequado da prática de produção textual. Quando pensamos na produção escrita em sala de aula, devemos estabelecer estratégias para o desenvolvimento da habilidade da escrita através de situações funcionais.
Escrevemos para o outro ler, para alguém se identificar com a mensagem, para que um grupo social ou a sociedade em geral tome conhecimento de um determinado assunto, uma ideia. Escrevemos simplesmente para sair da inércia, do silêncio das palavras, para externalizar sensações, sentimentos advindos do interior ou de nosso olhar diante do mundo.
Bartolomeu Campos de Queirós (2007) diz:
“Escrever é dar às palavras o mesmo tratamento com o qual o pintor seleciona suas cores, o pedreiro equilibra seus tijolos. Escrever é desenhar com cuidado as nuances que intrigam e instigam o espírito. Escrever é apaziguar o susto de viver em um mundo em permanente mudança que o cotidiano comprova. Escrever é fazer carinho emmim, abençoando o que ainda não me foi revelado, inclusive o tamanho das veredas. Escrever como única maneira de adaptar-se às mutações, sem arranhar o desconhecido absoluto.” (p.23-24)
A seguir, vamos assistir a um vídeo da pesquisadora argentina, Delia Lerner, que fala sobre a importância da escrita na aprendizagem da leitura, durante sua palestra na Semana de Educação Victor Civita 2007.
Débora Rana, professora e formadora do Instituto Avisa Lá, explica como um percurso de autoria pode ser construído a partir da reescrita de textos conhecidos pelos alunos.
Débora Rana destaca que, para mediar um trabalho de escrita, o professor precisa ensinar um tipo específico de comportamento: a busca de informações com o objetivo de produzir um novo texto.
EXPLICAÇÃO EXPANDIDA:
Nota-se a partir dos vídeos que devemos cuidar para que a atividade iniciada como prática de produção da escrita não se torne um processo de escolarização excessiva apenas apresentando um gênero. A atividade deve sempre permear o enquadramento do indivíduo numa situação social, ou seja, de produção escrita rotineira.
Com o advento da Internet, surgiram os e-mails, blogs e comunidades sociais para os quais, de algum modo, temos que escrever um tipo de texto. Mesmo que nesse espaço social, muitas vezes, a linguagem produzida seja informal, com supressões de palavras, expressões e surgimento de gírias cibernéticas, podemos tratar desse espaço como um meio de apresentar modos próprios de produção da escrita, além de definir os parâmetros com os quais cada texto eletrônico é construído. A partir daí, promovemos aos alunos a sua inserção nas formas de estruturação ou configuração dos textos digitais, nas suas relações com os comportamentos do leitor.
Mesmo considerando que os meios eletrônicos quase acabaram com o estilo de produção via papel e correios, não se pode negar que ainda continua a produção de cartas, um tipo de gênero que resiste em nosso país. Essa permanência se dá por três motivos:
- Por sermos um país de dimensões continentais, ainda temos lugares sem acesso à banda larga, sem a existência de qualquer lan-house para o envio de mensagens.
- Apenas 10% da população em nosso país dominam o meio eletrônico ou possui acesso à Internet, restando apenas a velha e boa produção escrita de cartas para se comunicar, sem considerar o uso do telefone.
- Por fim, os jornais e revistas impressos ou on-line possuem a “seção cartas dos leitores”, espaço no qual os leitores podem enviar por e-mail, pelo site ou simplesmente por cartas sugestões, reclamações, dicas, ideias, tudo sobre seu bairro, sua cidade, seu país a respeito de temas sociais, culturais, políticos ou históricos em geral.
A produção de cartas ainda se faz presente em nossa sociedade, por isso devemos não apenas apresentar, como também estimular a construção desse tipo de gênero pelo aluno. Mostrar os diversos tipos de cartas, seus fins e níveis de formalidade e informalidade conforme a quem se direciona o texto. Fazer com que os alunos produzam um texto a partir de uma matéria jornalística e escrever para um colega de outra sala ou até mesmo para outro membro da família são exemplos de situações contextualizadas, concretas, reais de produção da escrita.
Veja uma situação interessante de produção textual que pode ser desenvolvida com alunos em sala de aula:
 I
A apresentação de uma carta argumentativa de reclamação e um abaixo-assinado que fazem parte do cotidiano de qualquer pessoa, comunidade ou bairro. Quem nunca fez uma reclamação por escrito ao prefeito, ao governador ou aos representantes do poder público sobre buracos nas ruas, sinais de trânsito que não funcionam, lixo nas ruas, barulhos de casas de festas ou carro de som, ausência ou falta de luz no bairro, falta de água constante na rua?
VOCÊ SABIA ?
Em diversas situações públicas, o cidadão possui  direitos e poder de crítica para reclamar, divulgar e exigir, através de uma carta e uma lista de representantes, as mudanças necessárias em benefício da comunidade. Trabalhar esse tipo de produção textual com o aluno é levá-lo à percepção de que a escrita não apenas se faz presente em nossa sociedade, mas também acontece de maneira a registrar, ampliar e construir uma visão de mundo necessária ao exercício da cidadania. A produção do texto deve ser trabalhada em seu suporte real, e o que deve variar conforme a idade do aluno é o nível de complexidade dos textos.
Anúncios, slogans, cartazes, folhetos.
Os PCNs de Língua Portuguesa apresentam alguns gêneros adequados para o trabalho com a linguagem escrita:
Parlendas, canções, poemas, quadrinhas, adivinhas, trava-línguas, piadas, contos (de fadas, de assombração, etc.), mitos e lendas populares, folhetos de cordel, fábulas e textos teatrais. Relatos históricos, textos de enciclopédia, verbetes de dicionário, textos expositivos de diferentes fontes (fascículos, revistas, livros de consulta, didáticos, etc.), textos expositivos de outras áreas e textos normativos, tais como estatutos, declarações de direitos, etc.
A escolha de um determinado gênero discursivo depende em grande parte da situação de produção, ou seja, da finalidade do texto a ser produzido, de quem são o(s) locutor(es) e os intelocutor(es), do meio disponível para veicular o texto, etc.
Cartas (formais e informais), bilhetes, postais, cartões (de aniversário, de Natal, etc.), convites, diários (pessoais, da classe, de viagem, etc.); quadrinhos, textos de jornais, revistas e suplementos infantis: títulos, lides, notícias, resenhas, classificados, etc.
Um aspecto muito importante, com relação ao desenvolvimento de habilidade da escrita, que não podemos deixar de discutir, diz respeito à apresentação de textos literários e a sua produção por parte dos alunos. Nesse caso, a leitura de obras literárias, através dos círculos de leitura, a leitura de poesias com os alunos e a interpretação de textos teatrais em sala de aula criam possibilidades de escrita pelos alunos de modo rico e criativo. O livro literário deve ser fonte de inspiração na produção de textos e não pode ser tratado como algo distante, dissociado da realidade social do aluno. Mesmo porque, se o livro literário, a poesia não fizerem parte do cotidiano do aluno, compete ao professor inserir esse gênero e promover a construção literária também do aluno.
Para Bartolomeu Campos de Queirós (20007), a escrita literária tem um importante significado: “(...) A escrita ordena emoções e torna a fantasia transparente. E a palavra escrita, pelo que ela guarda de franjas, confere ao leitor o poder de atribuir inumeráveis sentidos à oração. Ler é também escrever. Desconheço exatidão maior que a fantasia. Não se escreve sem lapidar o assunto. Lapidar é tomar cuidado com o que se tem a registrar. Escrever é um pensar muitas vezes. É costurar, com fio frágil, o real e o sonhado. Escrever é deixar vir à tona a resposta que me falta. A literatura, se construída de fantasia, é feita do que não temos. Só fantasiamos sobre o que sonhamos. Fantasiar é noticiar ao mundo que ainda tenho desejos. Fantasiar é festejar a vida.” (p. 25 e 28)
ATENÇÃO: 
Devemos sempre pensar na produção textual como um processo de formação da inventividade, da criticidade, da autoria e não apenas como uma mera formalização de avaliação da escrita do aluno.
O professor deve promover sempre no aluno a reescrita de seu texto, estimular a reavaliar seu texto de modo a ampliar a sua capacidade de coerência e coesão.  Analisar detalhadamente a forma como os alunos escrevem é a primeira providência para determinar os pontos que devem ser trabalhados em sala de aula.
Fazer com que o aluno perceba o quanto é importante, rever ideias, conceitos e organização do texto com o objetivo de tornar o aluno cada vez mais sujeito-autor, fazendo com que ele seja capaz de compreender cada vez mais e melhor como funciona a produção social da escrita.
 PARÂMETROSCURRICULARES NACIONAIS
Os PCNs defendem que o aluno deve ser considerado produtor de texto na sociedade. Nesse sentido, os gêneros discursivos são recursos para afirmar os significados sociais, a função social, os valores, o ponto de vista de cada indivíduo. A escola tem que ser o espaço de estímulo, de produção da linguagem, da escrita, estabelecendo as relações necessárias para a construção de um aluno que se posiciona de maneira crítica, responsável pelas situações sociais. Dessa forma, ele questiona, formula problemas, 
utiliza o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, selecionando procedimentos e verificando a adequação da sua produção textual.
ATENÇÃO:
Escrever é, simultaneamente, inserir-se não apenas num contexto de atuação social, mas também é demarcar um formar particular de escrita que liberta o ser humano da inércia do silêncio, da palavra sem vida, sem sentido. Escrever seria o meio pelo qual o ser humano registra a sua passagem na sociedade, marcando os seus pensamentos, seus desejos.
Bartolomeu Campos de Queirós (2007) diz que aprendeu a escrever para libertar-se, para encontrar o outro: “Eu aprendi a escrever para deixar gravado o tamanho do meu desejo, da minha dúvida, do meu medo. Escrever é jamais poder negar o pensado. Escrever é afirmar – que a incompletude nos aproxima por nos revelar que o homem é um ser de relações.” (p.51)
SÍNTESE DA AULA:
 
- Compreendeu a importância da prática de produção textual em sala de aula como prática discursiva e social.
- Assimilou como realizar estratégias para o desenvolvimento da habilidade da escrita. 
- Percebeu que o professor tem um importante papel na construção do texto pelo aluno, e na sua reescrita.