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Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 1 PAULO MARCOS SCHMITT DIREITO & JUSTIÇA DESPORTIVA Volume 1 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 2 Direito & Justiça Desportiva [Volume 1] - Edição Eletrônica 2013 Copyright ©2013. Paulo Marcos Schmitt Email: paulomschmitt@gmail.com Todos os direitos reservados Capa: Natasha Sostag Meruvia Paulo Marcos Schmitt. “Direito & Justiça Desportiva.” iBooks. Publicado na iBookstore em 17.04.2013. Disponível em: https://itunes.apple.com/br/ book/direito-justica-desportiva/id634251949?mt=11 Ao eterno mestre e saudoso amigo Marcílio Cesar Ramos Krieger. Aos meus queridos irmãos e amigos que também se foram desta vida, Kelson Roberto Schmitt, e Ismar Lombardi. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 3 SOBRE O AUTOR PAULO MARCOS SCHMITT1 Membro Comissão Estudos Jurídicos – Ministério do Esporte – CNE Procurador-Geral STJD do Futebol Presidente STJD Judô Assessor Jurídico da Confederação Brasileira de Basketball Assessor Jurídico Confederação Brasileira de Ciclismo Assessor Jurídico da Confederação Brasileira de Ginástica Consultor da Confederação Brasileira de Handebol Sócio-administrador da Práxis Consultoria Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 4 1 PAULO MARCOS SCHMITT Autor do Ibook “Código Brasileiro de Justiça Desportiva. CBJD Notas e Legislação Complementar. Publicado em 01/04/2013. iBookstore: https://itunes.apple.com/br/book/codigo- brasileiro-justica/id628122074?mt=11; Autor da obra NOVO CÓDIGO BRASILEIRO DE JUSTIÇA DESPORTIVA – Legislação Complementar e Notas Remissivas, ed. Quartier Latin, São Paulo/Sp, 2010; Coordenador da obra LEGISLAÇÃO DE DIREITO DESPORTIVO (material de apoio ao I Fórum Brasileiro de Direito Desportivo), ed. Quartier Latin, São Paulo/ Sp, 2008; Autor da obra CURSO DE JUSTIÇA DESPORTIVA, ed. Quartier Latin, São Paulo/Sp, 2007; Co-autor da obra CURSO DE DIREITO DESPORTIVO SISTÊMICO, ed. Quartier Latin, São Paulo/Sp, 2007; Coordenador e autor da obra CÓDIGO BRASILEIRO DE JUSTIÇA DESPORTIVA COMENTADO, ed. Quartier Latin, São Paulo/Sp, 2006; Co-autor do CÓDIGO BRASILEIRO DE JUSTIÇA DESPORTIVA - COMENTÁRIOS E LEGISLAÇÃO, Ass. Comunicação Social do Ministério do Esporte, Brasília/DF, 2004; Co-autor do livro ENTENDENDO O PROJETO PELÉ - Londrina/Pr - ed.Lido, 1997; Co-autor do COJDD - GOVERNO DO PARANÁ (Curitiba, 1993-2006); Co-autor do CÓDIGO DE JUSTIÇA DESPORTIVA COMENTADO - Cascavel/Pr - 1996/1997 - ed.Unioeste; Co-autor de trabalhos e consultorias internacionais no 3º. Congresso Latino-americano Esporte, Educação e Saúde no Movimento Humano – Ichper-SD (publicado); Palestrante e autor de trabalhos publicados nos 19º, 21º, 23º e 25º Congresso Internacional de Educação Física - Fédération Internationale d’Éducation Physique – FIEP, Foz do Iguaçu/Pr, e nos 1º a 7º Fórum Internacional do Esporte. Autor do texto original do CNOJDD - Código Nacional de Organização da Justiça e Disciplina Desportiva (Brasília, 2002); Co-autor da proposta do CBJD - MINISTÉRIO DO ESPORTE - Resolução 01/2003 CNE; Co-autor da proposta de alterações do CBJD - Resolução 11/2006 CNE; Co-autor da proposta de alterações do CBJD - Resolução 29/2009 CNE; Autor de inúmeros artigos e textos publicados em periódicos e em meio eletrônico na área do Direito Desportivo; Ministrante de inúmeros cursos de extensão e pós-graduação em Direito Desportivo; Organizador dos seguintes eventos: I FÓRUM NACIONAL DE LEGISLAÇÃO DESPORTIVA (Curitiba, Dez/1996); II FÓRUM NACIONAL DE LEGISLAÇÃO DESPORTIVA (Curitiba, Dez/1997); I CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO E JUSTIÇA DESPORTIVA (Curitiba, Dez/2003); I CONGRESSO NACIONAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA (Curitiba, Nov/ 2005); II CONGRESSO NACIONAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA (Florianópolis, Abr/2006); I FÓRUM BRASILEIRO DE DIREITO DESPORTIVO (São Paulo, Set/2008); Autor dos softwares - Sistema JOGOS para organização de competições, PRÍMAX - Sistema de Gestão da Informação e Administração Desportiva e JUSTIÇA DESPORTIVA DIGITAL. ....................I. REGIME JURÍDICO DESPORTIVO! 10 ..............................................................Introdução! 10 ..............................Eficácia do Regime Desportivo! 11 .................................II. O DIREITO DESPORTIVO! 17 ........III. PRINCÍPIOS DO DIREITO DESPORTIVO! 26 ...........................................Conceito de princípios! 26 ..........................................A função dos princípios! 27 .............................................Conflito de princípios! 28 ......................................Princípios constitucionais! 31 ............................................Autonomia desportiva! 31 ...........Destinação prioritária de recursos públicos! 33 Tratamento diferenciado entre o desporto profissional e o não profissional! 35 Esgotamento das instâncias da Justiça Desportiva!38 Princípios infraconstitucionais - Lei nº 9.615/98 (Lei Geral Sobre Desporto - Lei .......................................................................Pelé)! 52 ..Princípios infraconstitucionais - Lei nº 10.672/03! 54 Princípios infraconstitucionais - Lei nº 10.671/03 (Estatuto do Torcedor), Decreto 7984/2013 (Regulamenta Lei Pelé) e CBJD - Justiça Desportiva! 56 .............................................................Legalidade! 56 ..........Moralidade e Espírito Desportivo (fair play)! 58 ............................................................Publicidade! 59 ......................................................Impessoalidade! 60 ............................................................Oficialidade! 61 Devido Processo Legal, Contraditório e Ampla Defesa! 61 .....Oralidade, Economia Processual e Celeridade! 63 ...............................................................Motivação! 64 .......................................................Independência! 65 .......................Razoabilidade e Proporcionalidade! 66 .............................................Tipicidade Desportiva! 67 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 5 Prevalência, Continuidade e Estabilidade das Competições (pro .........................................................competitione)! 68 ....................................IV. JUSTIÇA DESPORTIVA! 70 .............................Conceito de Justiça Desportiva! 70 ................Natureza jurídica dos órgãos judicantes! 70 ....A Justiça Desportiva e seu feixe de atribuições! 74 Autonomia e independência da Justiça Desportiva!78 V. ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA NA JUSTIÇA DESPORTIVA! 85 Códigos de Justiça Desportiva - aplicabilidade e abrangência! 85 ........................................A experiência do Paraná! 93 Jurisdição e territorialidade dos tribunais desportivos! 98 .........Estrutura dos Órgãos da Justiça Desportiva! 98 Instâncias da Justiça Desportiva - Estrutura dos órgãos judicantes que funcionam junto às Federações, Confederações e Ligas! 98 Estrutura das instâncias desportivas que funcionam junto ao Ministério do ................Esporte - CNOJDD (CBJDE proposta)! 102 Estrutura dos tribunais desportivos que funcionam junto à Secretaria de de .............Estado do Esporte - Governo do Paraná! 104 ...Composição dos órgãos da Justiça Desportiva! 105 Competência dos órgãos e membros da Justiça Desportiva! 109 .............Competência das instâncias desportivas! 109 ............................Funções na Justiça Desportiva! 112 Presidente e Vice-presidente dos órgãos judicantes!115 ..............................................................Auditores! 117 .....................Procuradoria da Justiça Desportiva! 118 ..........................................................Defensores! 137 .............................................................Secretaria!140 .............................Posse, mandato e antiguidade! 141 ...............................................................Vacância! 142 .................................................Incompatibilidade! 144 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 6 ....................................Suspeição e impedimento! 145 .........................................................Livre acesso! 149 VI. DECRETO 7.984/2013 - ORDEM E JUSTIÇA DESPORTIVA! 151 ANEXO I. CÓDIGOS DE JUSTIÇA DESPORTIVA!157 1. Código Brasileiro de Justiça Desportiva - CBJD! 157 2. Código Nacional de Organização da Justiça e Disciplina Desportiva - ...............................................................CNOJDD! 278 3. Código de Organização da Justiça e Disciplina Desportiva – COJDD/ ...........................................................................Pr! 327 4. Código Brasileiro de Justiça Desportiva para o Desporto Educacional (minuta de proposta que tramita na Comissão de Estudos Jurídicos do ........................................Ministério do Esporte) ! 393 CÓDIGO DISCIPLINAR DE COMPETIÇÕES DO DESPORTO ...................................................EDUCACIONAL! 405 ANEXO II. LEGISLAÇÃO BÁSICA COMPLEMENTAR! 435 .............................1. CONSTITUIÇÃO FEDERAL! 435 2. LEI No 9.615/98 (LEI GERAL SOBRE DESPORTO - LEI PELÉ) !446 3. LEI 10.671/2003 (ESTATUTO DO TORCEDOR)!508 4. DECRETO No 7.984/2013 (REGULAMENTA LEI PELÉ) ! 533 5. CBF RGC - REGULAMENTO GERAL DAS COMPETIÇÕES! 574 ........6. REGULAMENTO ANTIDOPING DA FIFA! 618 7. REGIMENTO INTERNO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ...............................DESPORTIVA DO FUTEBOL! 691 8. REGIMENTO INTERNO DA PROCURADORIA DO STJD DO ..............................................................FUTEBOL! 709 ...................................9. REGRAS DE FUTEBOL! 717 REFERÊNCIAS - NORMAS Nacionais e Internacionais! 818 .............................NORMAS INTERNACIONAIS ! 818 [TAS-CAS CÓDIGO] CÓDIGO E ESTATUTOS DO TRIBUNAL ARBITRAL DO ...........................................ESPORTE TAS-CAS! 818 [DOPING - CMA] CÓDIGO MUNDIAL ANTIDOPING.! 818 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 7 [DOPING - AMA] AGÊNCIA MUNDIAL ANTIDOPING - WADA. PROCEDIMENTOS E LISTA DE SUBSTÂNCIAS PROIBIDAS.! 818 [FUTEBOL] ESTATUTOS DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - FIFA.! 818 [FUTEBOL] CÓDIGO DISCIPLINAR DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - .....................................................................FIFA.! 818 [FUTEBOL] CÓDIGO DE ÉTICA DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - .....................................................................FIFA.! 818 [FUTEBOL] REGULAMENTO ANTIDOPING DA FEDERAÇÃO ....................................INTERNACIONAL - FIFA.! 818 [FUTEBOL] REGULAMENTO DISCIPLINAR DA CONFEDERAÇÃO ........................SULAMERICANA - CONMEBOL.! 818 [BASQUETEBOL] REGULAMENTO ANTIDOPING DA FEDERAÇÃO ....................................INTERNACIONAL - FIBA.! 819 [BASQUETEBOL] ESTATUTOS DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - ....................................................................FIBA.! 819 [CICLISMO] REGULAMENTO ANTIDOPING DA UNIÃO CICLÍSTICA .....................................INTERNACIONAL - UCI.! 819 [CICLISMO] CÓDIGO DE ÉTICA DA UNIÃO CICLÍSTICA INTERNACIONAL - ......................................................................UCI.! 819 [GINÁSTICA] REGRAS DE PRÁTICA DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - ......................................................................FIG.! 819 [GINÁSTICA] CÓDIGO ANTIDOPING E CÓDIGO DISCIPLINAR DA ...............FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - FIG.! 819 [HANDEBOL] ESTATUTOS E REGRAS DE PRÁTICA FEDERAÇÃO ......................................INTERNACIONAL - IHF.! 819 [HANDEBOL] REGULAMENTOS ANTIDOPING DA FEDERAÇÃO ......................................INTERNACIONAL - IHF.! 819 [JUDÔ] ESTATUTOS DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - IJF! 820 [JUDÔ] REGRAS DE PRÁTICA - FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - IJF! 820 [VOLEIBOL] REGRAS DE PRÁTICA - FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - .....................................................................FIVB! 820 [VOLEIBOL] REGULAMENTOS ANTIDOPING - FEDERAÇÃO ....................................INTERNACIONAL - FIVB ! 820 ........................................NORMAS NACIONAIS ! 820 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 8 [DOPING] DECRETO Nº 6.653/2008 - Promulga a Convenção Internacional contra o Doping nos Esportes, celebrada em Paris, em 19 de outubro de ....................................................................2005.! 820 [LEGISLAÇÃO GERAL] PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.! 820 [COB] ESTATUTOS DO COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO.!820 [MINISTÉRIO DO ESPORTE] LEGISLAÇÃO CNE.!820 [CBF] CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL. Estatutos, Regimentos STJD, CBJD, e Regulamento Geral de Competições.! 821 .......................................REGRAS DE PRÁTICA! 821 ................................................[BASQUETEBOL]! 821 .................................................[CICLISMO BMX]! 821 ....................[CICLISMO ESTRADA PISTA MTB]! 821 ..........................................................[FUTEBOL]! 821 ........................................................[GINÁSTICA]! 821 .......................................................[HANDEBOL]! 821 .................................................................[JUDÔ]! 821 ..........................................[VOLEI DE QUADRA]! 822 ...............................................[VOLEI DE PRAIA]! 822 ...............................ENTIDADES - LINKS ÚTEIS ! 822 ....................REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ! 824 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 9 I. REGIME JURÍDICO DESPORTIVO Introdução A existência de uma disciplina autônoma na área jurídica está condicionada a um conjunto sistematizado de princípios e normas, identificadoras e próprias de uma realidade, distintas de demais ramificações do Direito. O reconhecimento do Direito Desportivo passa, portanto, pela formação de uma unidade sistemática de princípios, conceitos e normas. Álvaro Melo Filho revela a indiscutível peculiaridade do direito aplicável ao desporto, ao asseverar que o “desporto é, sobretudo, e antes de tudo, uma criatura da lei. Na verdade, não há nenhuma atividade humana que congregue tanto o direito como o desporto: os códigos de justiça desportiva, as regras de jogo, regulamentos de competições, as leis de transferências de atletas, os estatutos e regimentos das entidades desportivas, as regulamentações do doping, as normas de prevenção e punição da violência associadas ao desporto, enfim, sem essa normatização o desporto seria caótico e desordenado, à falta de uma regulamentação e de regras para definir quem ganha e quem perde.”2 Geraldo Ataliba, citado por Celso Antônio Bandeira de Mello3, assevera que “o caráter orgânico das realidades componentes do mundo que nos cerca e o caráter lógico do pensamento humano conduzem o homem a abordar as realidades que pretende estudar, sob critérios unitários, de alta utilidade científica e conveniência pedagógica, em Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 10 2 Diretrizes para a nova legislação desportiva: Revista Brasileira de Direito Desportivo, IBDD e editora da OAB/Sp, segundo semestre/2002. 3 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. São Paulo, 20ª Ed, Malheiros, 2006, p.44. tentativa de reconhecimento coerente e harmônico da composição de diversos elementos em um todo unitário, integrado em uma realidade maior. A esta composição de elementos, sob perspectiva unitária, se denomina sistema”.4 Nesse panorama sistêmico, que ora emprestamos do Direito Administrativo, é que se pretende fundamentara existência do Direito Desportivo a partir de um determinado regime jurídico, o regime jurídico desportivo. A exata noção de sistema, no sentido pretendido (assim como no regime administrativo), é descrita por Kant como “reunião coordenada e lógica de princípios ou idéias relacionadas de modo que abranjam um campo do conhecimento”. A doutrina pouco tem considerado o estudo do Direito Desportivo, como disciplina formada a partir de um regime jurídico desportivo, concebendo o estudo dos seus diversos institutos e legislação, através de postulados isolados. Portanto, o Direito Desportivo é reconhecido insuficientemente pela existência de um apanhado de leis e normas aplicáveis ao esporte. Ademais, o Direito Desportivo consiste em uma disciplina normativa singular consagrada por um regime jurídico desportivo e delineada em função dos princípios basilares insculpidos no art. 217 da Carta Magna e outros contemplados nas normas infraconstitucionais. O importante é, justamente, a tradução desses princípios no referido sistema que informa o Direito Desportivo. Eficácia do Regime Desportivo Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 11 4 Geraldo Ataliba, Sistema Constitucional Tributário Brasileiro. São Paulo, Ed. RT, 1968, p.4. O Direito Desportivo deve ser concebido através de um regime jurídico composto de princípios e normas harmônicas, inter- relacionáveis, sobretudo no aspecto metodológico, técnico e científico. Na perspectiva do regime desportivo, o arcabouço de princípios informativo de normas que consideram as atividades desportivas em suas diversas prerrogativas e manifestações, estabelece meio eficaz de aglutinação dessas mesmas normas e princípios. Exclui-se, assim, um plano de normas e princípios estanques, restritos a determinado método de interpretação. Demais disso, admitir que o Direito Desportivo estabelece vínculo indissociável, por dependência, de qualquer área do Direito (Constitucional, Administrativo, Civil ou Penal, por exemplo) é retirar-lhe a autonomia. Embora haja o influxo de regras e princípios de outros ramos, os regimes que regulam o objeto de cada matéria, apesar de semelhantes, não são iguais. Alberto Puga Barbosa afirma que “conhecer a legislação do desporto, dominá-la, aplicá-la, é sem dúvida uma das formas edificantes do ‘sonhado’ Direito Desportivo, seja como área, seja como especialidade, seja como ramo do Direito! Foi-se o tempo, que se falar em Direito Desportivo era receber o rótulo, a chancela de Direito ‘Emergente’ ... A sociedade quer profissionais competentes e exercício profissional de qualidade ... e isto consolida e legitima o Direito Desportivo e seus profissionais.”5 No regime desportivo, todos os princípios e seus derivados, encerram conceitos cuja única e exclusiva premissa está centralizada no alcance, genérico ou operacional de uma determinada finalidade – Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 12 5 A atuação do advogado na área de Direito Desportivo. Legislação Desportiva. Texto integrante do material didático do I Congresso Nacional de Justiça Desportiva: Curitiba/Pr, 16 a 18/11 de 2005. privada, escoimada na autonomia constitucional conferida às entidades diretivas quanto a sua organização e funcionamento, ou pública, porquanto o desporto também se insere no binômio “prerrogativas da Administração” e “direitos dos administrados”. É essa cadeia de princípios que, linearmente composta no regime desportivo, visa assegurar a proteção dos direitos e garantias de todas as pessoas físicas e jurídicas direta ou indiretamente relacionadas com as atividades desportivas. Seja na execução direta dos fins almejados pela sociedade esportiva organizada, seja no tratamento dispensado pelas entidades desportivas de finalidade lucrativa ou não nos procedimentos para o atendimento das referidas finalidades. Em síntese, somente no regime desportivo, tido como sistema coeso e harmônico, os princípios conferem absoluta compreensão e inteligência das normas de Direito Desportivo, sem potencial limitação do processo interpretativo. É forçoso, portanto, reconhecer o princípio da legalidade como a viga mestra, o centro gravitacional, mandamento nuclear de qualquer regime jurídico. Dele resultam princípios próprios que visam orientar as ações das entidades públicas e privadas do desporto na solução ideal dos anseios sociais. O agente, investido na função desportiva, deve concentrar esforços em todas as suas atividades no contexto político, social, técnico, jurídico e administrativo, em estrita observância da ordem legal vigente. Mesmo em se tratando de uma perspectiva essencialmente positivista, ao jurista ou operador do direito não cabe questionar se a lei é justa ou não para fundamentar a sua mera não observância. O próprio Estado Democrático de Direito, pautado no sistema tripartite de poder, estaria ameaçado se o juízo de valor do indivíduo pudesse alterar a Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 13 ordem jurídica e social. É sempre bom lembrar que, na prática há uma grande distorção, pois tanto o particular quanto a própria Administração sobrepõe interesses pessoais ou secundários ao cumprimento da lei. E não é por falta de leis, nem por ausência de instrumentos para aplicá-las, que as necessidades e aspirações sociais não se tornam realidade. Na esteira desse raciocínio, conjuntamente com Alexandre Hellender de Quadros6, observamos que a conceituação do Estado Democrático de Direito depende de uma análise aprofundada do próprio conceito de democracia, além de necessitar de uma visão crítica acerca da posição política e histórica da evolução das relações entre a sociedade civil e o Estado. Optamos, portanto, por uma noção. O Estado de Direito só pode existir em base democrática. Contrapõe-se de um lado com o Estado totalitário, no qual o Estado centraliza todo o poder, aniquilando as forças das pessoas e da sociedade civil e, de outro lado, está o anarquismo, em que não há Estado, portanto não há também relações de direito entre indivíduos. O Estado Democrático de Direito se complementa e se correlaciona com a sociedade civil. Nesse sentido, constatou-se que, na atualidade, o Estado não pode ser incumbido apenas de cuidar da ordem interna e da segurança externa do país. Deve reconhecer a divisão de poderes, acatar a ordem jurídica, e respeitar os direitos e liberdades individuais. Vale dizer, deve ter por objetivo primordial a distribuição de justiça. E não apenas a justiça, que corresponde a criar e aplicar as leis, mas a justiça social. Assim, cumpre o Estado desenvolver o bem estar da sociedade, através do implemento de atividades para suprir suas necessidades. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 14 6 Silva, João Bosco e Schmitt, Paulo M. Entenda o Projeto Pelé: ed. Lido, Londrina/Pr, 1997, cit. p. 84. Mas quem define qual a prioridade do Estado no desenvolvimento do bem estar social? É a consciência, a educação, a cultura e a opinião do povo, exteriorizada teoricamente na legislação. E a Lei Maior de um País é a sua Constituição. No Estado de Direito a constituição estabelece e orienta a ação do Estado, cuja finalidade é manter uma sociedade livre e justa. No Brasil, o Constituinte de 1988 assegurou aos indivíduos diversos direitos que foram alcançar ao patamar legislativo máximo. Conclui-se, portanto, que o Estado Democrático de Direito não existem apenas direitos e deveres para os indivíduos, mas também direitos e deveres para o Estado, como a saúde, a educação, o trabalho, o esporte, o lazer, as artes, a cultura. No que se refereao esporte, a Constituição Federal estabelece textualmente que é dever do Estado fomentar práticas formais e não formais, como direito de cada um. Ademais, o "Estado deverá incentivar o lazer como forma de promoção social". Outrossim, o Estado de Direito, formal, que elabora, executa as leis e sanciona o seu cumprimento, não pode fazê-lo, na modernidade, sem que a devida representação social – democracia. Assim, o anseio social é quem determina e legitima o Estado. Não é correto, nos dias de hoje, como querem alguns doutrinadores, definir o Estado Democrático de Direito separando o Estado de Direito do Estado Democrático. Não são estanques. Interagem e se comunicam, na medida em que mera legalidade não é suficiente para alcançar os fins almejados pelo cidadão. É necessário que a lei reflita a necessidade popular, e é nesse ponto que predomina a moralidade. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 15 O grande desafio é aproximar a representatividade, seja pelo voto ou qualquer outro meio, da vontade da população. E ainda mais, determinar uma radical mudança de comportamento. No esporte isso se torna mais latente. É evidente que o clamor do povo volta-se para um esporte brasileiro moderno, competitivo, soberano, acessível, democrático, sem privilégios, assumindo o risco de sua atividade, próximo da sociedade, “espetacular” e sob uma gestão administrativa profissional. Nesse sentido, reconhecido pela constituição Federal como alicerce para o desenvolvimento social e exercício da cidadania, o ESPORTE sempre corre o risco de não refletir ou integrar o verdadeiro Estado Democrático de Direito, notadamente em face das inovações legislativas. Assim, o esporte e lazer são colocados à disposição de cada brasileiro, com amplas possibilidades de repercutir no processo de desenvolvimento humano e no pleno exercício da cidadania, criando condições para auxiliar na sustentação do Estado Democrático de Direito. Despojado de qualquer lampejo de romanticismos, as restrições ao cumprimento do princípio da legalidade não estão apenas em medidas excepcionais e urgentes previstas em lei. Estão, sim, disseminadas na inversão de valores e crise moral de nossas instituições. A constatação da existência de um Direito Desportivo, calcado em um regime sistêmico de elementos formadores de um todo, contribui de sobremaneira para ampliar as condições de gerir o interesse à cura das entidades desportivas. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 16 II. O DIREITO DESPORTIVO A teor do valor metodológico do regime jurídico desportivo (ou simplesmente regime desportivo), observamos a formação de um sistema, cujos elementos e princípios guardam uma unidade lógica. Tal premissa pretende enfocar a existência de uma disciplina autônoma de direito sob a perspectiva de um todo inserido em um regime composto de princípios peculiares às manifestações do desporto e toda a gama de produtos e serviços postos à disposição da sociedade consumidora. Embora os elementos-parte dessa organicidade encontrem-se, no mais das vezes, dispersos, o conjunto de princípios peculiares guarda identidade e finalidade comum, formando uma unidade - o regime desportivo. Destarte, o regime desportivo não está inserido isoladamente no ordenamento de determinados institutos do Direito Desportivo. No entanto, alguns de seus enunciados encontram-se disciplinados por um determinado regime, a exemplo dos processos desportivos disciplinares, relações advindas do desporto profissional, observância de normas nacionais e internacionais aplicáveis a diversas modalidades esportivas, recursos financeiros ao financiamento do desporto, relações de consumo, etc. Na tentativa de elucidar o tema, emprestamos o verbete “gênero” que significa “a classe cuja extensão se divide em outras classes, as quais, em relação à primeira, são chamadas espécies”. Assim, o regime desportivo é o gênero e os regimes adotados em cada instituto do Direito Desportivo são as espécies (sub-regimes). Obviamente que para delinear o regime é preciso que o gênero constitua princípios formadores das espécies, e estas guardem coesão e harmonia com aquele. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 17 Em que pese o nível de abstração e elevadas considerações teóricas, o regime jurídico desportivo ainda carece ser investigado minuciosamente. O desafio está em inter-relacionar alguns de seus elementos-parte, quais sejam: princípios gerais, princípios derivados ou sub-princípios, leis, normas e procedimentos. Essa inter-relação, formadora de um todo (o regime desportivo), propicia identificar o Direito Desportivo distinguindo-o dos demais ramos do direito. Importante frisar que um sistema, formado pela acepção de totalidade, encontra sustentação em outras áreas do conhecimento humano. As relações humanas regidas por normas jurídicas, formadoras do Direito, são enriquecidas pela interpretação do saber existente em diferentes campos de estudo como na Filosofia, Antropologia, Psicanálise, entre outros. Para a superação do dualismo cartesiano, Merleau-Ponty assinala que “O corpo não é mais um objeto. (...) sua unidade é sempre implícita e confusa”7. Com isso, nem mesmo o ser-humano, essência da expressão e do comportamento, pode ser objeto de um estudo fragmentado. De fato, um regime-sistema de elementos em um todo unitário, admite que leis esparsas, de difícil conhecimento, sejam interpretadas com a exatidão requerida pelos seus destinatários. Sempre através da visão panorâmica do direito a que pertencem – no caso o Direito Desportivo. Ainda, revela-se como contributo valioso à sistematização normativa, conceitual e principiológica do Direito Desportivo alguns elementos auxiliares de todo esse processo de transformação e reconhecimento científico dos seus institutos, quais sejam: Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 18 7 Merleau-Ponty, Fenomenologia da Percepção, 1971. (i) doutrina aplicada produzida por juristas consagrados e recorrentes na matéria, cujos ensinamentos impulsionam toda uma nova plêiade de estudiosos e futuros doutrinadores; (ii) reconhecimento legal da profissão de educação física, encerrando a criação de Conselho Federal e Conselhos Regionais de fiscalização da atividade; (iii) espaços organizados em grupos de Direito Desportivo e Justiça Desportiva em redes sociais; (iv) criação de entidades, sociedades, associações e institutos de direito desportivo, justiça desportiva e outras; (v) edição de periódicos sobre o tema, com destaque para a Revista Brasileira de Direito Desportivo do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo (IBDD); (vi) proliferação de congressos, seminários, fóruns, cursos de extensão, inclusão de disciplinas em cursos de graduação e cursos de pós-graduação na matéria; (vii) formação de uma base jurisprudencial sobre o assunto; (viii) organização e funcionamento de instâncias da Justiça Desportiva nas mais variadas modalidades; e, (ix) o avanço tecnológico com a inclusão digital através de técnicas de comunicação eletrônica, Internet e sítios especializados em desporto e direito desportivo. É preciso consignar novamente que a Justiça Desportiva constitui elemento essencial ao reconhecimento do Direito Desportivo como área ou mesmo disciplina autônoma. Aliás, é a própria codificação desportiva que conceitua o processo desportivo como o instrumento pelo qual os órgãos judicantes Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 19 aplicam o Direito Desportivo aos casos concretos. Nesse contexto, os Códigos de Justiça Desportivatanto contemplam a figura de um processo (desportivo) dissociado dos tradicionais (civil, penal, administrativo, dentre outros), como recepcionam expressamente a existência de um regime jurídico próprio ao desporto. E quanto ao ordenamento desportivo vigente, vale destacar as seguintes normas em rol não exaustivo: CF/88 - DESPORTO (Art. 217) LEGISLAÇÃO FEDERAL - LEIS ORDINÁRIAS • [TREINADOR DE FUTEBOL] LEI Nº 8.650/1993. Dispõe sobre as relações de trabalho do Treinador Profissional de Futebol. • [LEI GERAL SOBRE DESPORTO - LEI PELÉ] LEI Nº 9.615/1998 - Institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências. • [EDUCAÇÃO FÍSICA] LEI Nº 9.696/1998 - Dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física. • [ESTATUTO DO TORCEDOR] LEI Nº 10.671/2003 - Dispõe sobre o Estatuto de Defesa do Torcedor e dá outras providências. • [BOLSA-ATLETA] LEI Nº 10.891/2004 - Institui a Bolsa- Atleta. • [TIMEMANIA] LEI Nº 11.345/2006 - Dispõe sobre a instituição de concurso de prognóstico destinado ao desenvolvimento da prática desportiva. • [INCENTIVO FISCAL] LEI Nº 11.438/2006 - Dispõe sobre incentivos e benefícios para fomentar as atividades de caráter desportivo e dá outras providências. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 20 • [ATO OLÍMPICO] LEI Nº 12.035/2009. Institui o Ato Olímpico, no âmbito da administração pública federal, com a finalidade de assegurar garantias à candidatura da cidade do Rio de Janeiro a sede dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. • [DESONERAÇÃO TRIBUTÁRIA - EVENTOS FIFA] LEI Nº 12.350/2010. Dispõe sobre medidas tributárias referentes à realização, no Brasil, da Copa das Confederações Fifa 2013 e da Copa do Mundo Fifa 2014. • [AUTORIDADE PÚBLICA OLÍMPICA] . LEI Nº 12.396/2011. Ratifica o Protocolo de Intenções firmado entre a União, o Estado do Rio de Janeiro e o Município do Rio de Janeiro, com a finalidade de constituir consórcio público, denominado Autoridade Pública Olímpica – APO. • [LEI GERAL DA COPA] LEI Nº 12.663/2012 - Dispõe sobre as medidas relativas à Copa das Confederações FIFA 2013, à Copa do Mundo FIFA 2014 e à Jornada Mundial da Juventude - 2013, que serão realizadas no Brasil. LEGISLAÇÃO FEDERAL - DECRETOS-LEIS • [CBDU] DECRETO-LEI Nº 3.617/ 1941. Estabelece as bases de organização dos desportos universitários LEGISLAÇÃO FEDERAL - DECRETOS • [BOLSA-ATLETA - REGULAMENTO] DECRETO Nº 5.342/2005 - Regulamenta a Lei Nº 10.891, de 9 de julho de 2004, que institui a Bolsa-Atleta. • [INCENTIVO FISCAL - REGULAMENTO] DECRETO Nº 6.180/2007 - Regulamenta a Lei no 11.438 / 2006, que trata dos Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 21 incentivos e benefícios para fomentar as atividades de caráter desportivo. • [TIMEMANIA - REGULAMENTO] DECRETO Nº 6.187/2007 - Regulamenta a Lei no 11.345 / 2006, institui o concurso de prognóstico denominado Timemania. • [DOPING] DECRETO Nº 6.653/2008. Promulga a Convenção Internacional contra o Doping nos Esportes, celebrada em Paris, em 19 de outubro de 2005. • [LAUDOS - REGULAMENTO] DECRETO Nº 6.795/2009. Regulamenta o art. 23 do Estatuto do Torcedor, que dispõe sobre o controle das condições de segurança dos estádios desportivos. • [LEGADOS] DECRETO Nº 7.258/2010. Cria a Empresa Brasileira de Legado Esportivo S.A. - BRASIL 2016 • [AUTORIDADE PÚBLICA OLÍMPICA - PROCEDIMENTOS] DECRETO Nº 7.560/2011. Dispõe sobre os procedimentos a serem observados pelos órgãos da Administração Pública federal quanto às ações do Poder Executivo federal no âmbito da Autoridade Pública Olímpica - APO. • [LEI GERAL DA COPA - REGULAMENTO] DECRETO Nº 7.783/2012 - Regulamenta a Lei nº 12.663 / 2012, que dispõe sobre as medidas relativas à Copa das Confederações FIFA 2013, à Copa do Mundo FIFA 2014 e à Jornada Mundial da Juventude - 2013. • [LEI PELÉ - REGULAMENTO] DECRETO Nº 7.984/2013 - Regulamenta a Lei nº 9.615 / 1998, que institui normas gerais sobre desporto. NORMAS NACIONAIS COMPLEMENTARES Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 22 • [CÓDIGO BRASILEIRO DE JUSTIÇA DESPORTIVA - CBJD] Resolução CNE nº 01/2003 (Alterada pelas Resoluções CNE 06/2006 e 29/2009). • [EDUCAÇÃO FÍSICA - ESTATUTO] ESTATUTO DO CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA - CONFEF • [EDUCAÇÃO FÍSICA - CÓDIGO DE ÉTICA] RESOLUÇÃO CONFEF nº 056/2003 - Dispõe sobre o Código de Ética dos Profissionais de Educação Física registrados no Sistema CONFEF/ CREFs. • [RGC CBF] REGULAMENTO GERAL DAS COMPETIÇÕES DA CBF • [LAUDOS] PORTARIA No 238/2010 DO MINISTÉRIO DO ESPORTE. Consolida os requisitos mínimos a serem contemplados nos laudos técnicos previstos no Decreto no 6.795/2009. • [FIFA ANTIDOPING] REGULAMENTO ANTIDOPING DA FIFA REFERÊNCIAS - NORMAS Nacionais e Internacionais NORMAS INTERNACIONAIS • [TAS-CAS] ESTATUTOS E CÓDIGO - TRIBUNAL ARBITRAL DO ESPORTE • [DOPING - CMA] CÓDIGO MUNDIAL ANTIDOPING. • [DOPING - AMA] AGÊNCIA MUNDIAL ANTIDOPING - WADA. PROCEDIMENTOS E LISTA DE SUBSTÂNCIAS PROIBIDAS. • [ F U T E B O L ] E S T A T U T O S D A F E D E R A Ç Ã O INTERNACIONAL - FIFA. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 23 • [FUTEBOL] CÓDIGO DISCIPLINAR DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - FIFA. • [FUTEBOL] CÓDIGO DE ÉTICA DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - FIFA. • [FUTEBOL] REGULAMENTO ANTIDOPING DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - FIFA. • [FUTEBOL] REGULAMENTO DISCIPLINAR DA CONFEDERAÇÃO SULAMERICANA - CONMEBOL. • [BASQUETEBOL] REGULAMENTO ANTIDOPING DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - FIBA. • [BASQUETEBOL] ESTATUTOS DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - FIBA. • [CICLISMO] REGULAMENTO ANTIDOPING DA UNIÃO CICLÍSTICA INTERNACIONAL - UCI. • [CICLISMO] CÓDIGO DE ÉTICA DA UNIÃO CICLÍSTICA INTERNACIONAL - UCI. • [GINÁSTICA] REGRAS DE PRÁTICA DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - FIG. 833 • [GINÁSTICA] CÓDIGO ANTIDOPING E CÓDIGO DISCIPLINAR DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - FIG. • [HANDEBOL] ESTATUTOS E REGRAS DE PRÁTICA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - IHF. • [HANDEBOL] REGULAMENTOS ANTIDOPING DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - IHF. • [JUDÔ] ESTATUTOS DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - IJF Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 24 • [JUDÔ] REGRAS DE PRÁTICA - FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - IJF • [VOLEIBOL] REGRAS DE PRÁTICA - FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - FIVB • [VOLEIBOL] REGULAMENTOS ANTIDOPING - FEDERAÇÃO INTERNACIONAL - FIVB NORMAS NACIONAIS • [DOPING] DECRETO Nº 6.653/2008 - Promulga a Convenção Internacional contra o Doping nos Esportes, celebrada em Paris, em 19 de outubro de 2005. • [ C O B ] E S TAT U TO S D O C O M I T Ê O L Í M P I C O BRASILEIRO. • [MINISTÉRIO DO ESPORTE] LEGISLAÇÃO CNE. • [CBF] CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL. Estatutos, Regimentos STJD, CBJD, e Regulamento Geral de Competições. • REGRAS DE PRÁTICA Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 25 III. PRINCÍPIOS DO DIREITO DESPORTIVO Conceito de princípios O Direito Desportivo, como por vezes salientado, diferencia- se dos demais ramos do direito justamente porque está sob a égide de um determinado regime jurídico, composto de um conjunto sistematizado de princípios e normas, reunidos de forma coordenada e lógica, formadores de um todo unitário – o “regime jurídico desportivo”. Portanto, o conjunto de princípios peculiares desse regime constitui o seu elemento essencial. Princípios são proposições norteadoras de uma ciência. José Afonso da Silva observa que “princípios são ordenações que irradiam e imantam o sistema de normas”8. Na perspectiva de um sistema desportivo são os seus sustentáculos, alicerces,bases e fundamentos. Constituem a fonte ou causa de uma ação, resultante de um processo de pensamentos gerais e abstrações a partir do real vivido. É a própria essência de cada indivíduo constituindo, segundo Japiassu e Marcondes, "um preceito moral, norma de ação que determina a conduta humana e à qual um indivíduo deve obedecer quaisquer que sejam as circunstâncias. Duas condições são necessárias: uma, que sejam tão claros e evidentes que o espírito humano não pode duvidar de sua validade; a outra, que seja deles que dependa o conhecimento de outras coisas, de sorte que possam ser conhecidos sem elas, mas não reciprocamente elas sem eles".9 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 26 8 José Afonso da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo, Malheiros, 1999. 9 Citação de João Bosco da Silva e Paulo Marcos Schmitt in Entenda o Projeto Pelé. Londrina/ Pr, Ed. Lido, 1997, p.49. É forçoso reconhecer que doutrina, legislação e jurisprudência, contemplam um número cada vez maior de princípios aplicáveis ao desporto. Percebe-se que ao eleger um dado princípio minimiza-se o processo apropriado de tomada de decisão. Assim, um ato que esteja em desconformidade com um determinado princípio aplicável, pode constituir o seu fundamento revogatório ou anulatório. A função dos princípios A importância do estudo dos princípios que orientam o regime jurídico desportivo reside, além do reconhecimento de tratarem- se de preceitos de obrigatória observância, principalmente em aclarar o sentido das normas – o espírito das leis. Preconiza-se, todavia, aplicar métodos de interpretação dos textos das leis sem, contudo, distanciar-se do objetivo para as quais foram editadas. Para que se aplique uma lei, ou para que se compreenda com exatidão determinado diploma legal, é imprescindível que se evidencie qual o objetivo almejado na sua fase de elaboração (princípio da finalidade). Assim, para se implementar de forma correta determinada lei, é necessário que o ato de aplicação se encontre compatível com o escopo por ela almejado, de forma que, para o correto cumprimento do princípio da legalidade, é necessário a satisfação da finalidade legal. E os princípios têm a função de auxiliar no processo interpretativo das regras, permitindo o adequado preenchimento de suas lacunas. As leis, normas e regulamentos em geral reconhecem, para a solução de casos omissos, o uso da analogia, jurisprudência, costumes e princípios gerais de direito. Entretanto, embora não expresso Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 27 formalmente pelo notório reconhecimento doutrinário e jurisprudencial que possui, o uso dos princípios precede qualquer omissão contida na lei. Vai além, os princípios informam a correta interpretação de todo a aparelho legal. Não basta conhecer a lei, faz-se necessário o seu estudo conceitual e principiológico. Uma lei é editada com uma finalidade específica. Distanciar-se desse fim – o espírito da lei (mens legis)– significa incorrer em erro invencível de interpretação, qual seja, desprezar os seus princípios, explícitos ou implícitos. Nem sempre os princípios se acham transpostos literalmente no texto das leis (explícitos). Há aqueles consagrados no mandamento interno inseridos no sistema ou regime de determinada disciplina do Direito (implícitos). Os princípios implícitos não podem ser alçados como tal por mera conveniência doutrinária. Ao contrário, decorrem do raciocínio lógico compreendido pela órbita do sistema, no caso, do regime jurídico desportivo. Os princípios implícitos são tão importantes quanto os explícitos; constituem, como estes, verdadeiras normas jurídicas. Por isso, desconhecê-los é tão grave quanto desconsiderar quaisquer outros princípios10. Conflito de princípios Embora devam estar dispostos harmonicamente em um sistema coeso de normas nem todos os princípios são aplicáveis indistintamente de modo a informar, ao mesmo tempo, um conjunto de normas. Essa aparente incompatibilidade de observância de um princípio Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 28 10 Carlos Ari Sunfeld, Fundamentos de Direito Público, 1998. em detrimento de outro, pode ser dirimida através dos estudos de Robert Alexy, na Teoria de Los Derechos Fundamentales (Centro de Estudios Constitucionales, Madrid, 1993). O referido autor estabelece que os princípios diferenciam-se das regras, especialmente, quando estudados sob o prisma do conflito ou colisão. Regras conflitantes são normalmente solucionadas através de uma cláusula de exceção prevista em uma delas. Caso contrário, se inexistente uma condição de previsibilidade ou exceção, uma das regras deve ser invalidada e eliminada do ordenamento jurídico para que a outra possa ser aplicada. Assim, os critérios adotados de invalidação, podem se dar através da importância das regras em conflito, anterioridade da regra ou preponderância de regras especiais sobre regras gerais. No caso dos princípios a solução não é tão simples. Não se pode, por exemplo, invalidar um princípio em detrimento de outro, retirando-lhe do ordenamento jurídico. O que está em jogo não é a validade do princípio, como no caso das regras. Ao contrário, parte-se do pressuposto de que os princípios somente se acham em conflito se forem válidos ou consagrados no ordenamento sistêmico. Como já dissemos princípios são alicerces e anulá-los ou retirar-lhes a validade, significa enfraquecer ou desestruturar a base de um sistema. Em verdade, um conflito de princípios aplicáveis a um mesmo caso concreto, determina que um princípio deve ceder para que o outro seja aposto. Nesse sentido, Alexy formula o que denomina de ´ley de colisión’, para dirimir o conflito de princípios. A lei sob análise utiliza uma didática de equacionamento exemplificativo para aclarar a solução de princípios conflitantes. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 29 No entanto, o postulado principiológico pode ser compreendido a partir de premissas de precedência incondicionada ou de precedência condicionada. Na primeira hipótese, um princípio precede a outro por razões puramente abstratas, sem considerar as condições ou circunstâncias do caso concreto. Na segunda, um princípio antecede o outro, consideradas algumas condições dessa precedência. Para que se adote a preferência de um princípio sobre o outro, tais condições constituem um peso, quantificado segundo determinadas circunstâncias e suas conseqüências jurídicas. Quanto maior a complexidade e valores envolvidos no caso concreto, maior o plexo condicional. Nesses casos, o critério de preferência de um princípio é, em tese, mais objetivo e concreto. De qualquer forma, os princípios imantam um sistema de normas, de tal sorte que refletem valores sociais. Nesse sentido, a aplicação de um dado princípio precedente a outro, independentemente de condição, não pode preterir a finalidade para a qual determinada norma foi editada. Como dito anteriormente, encontramos inúmeros princípios relacionados para o Direito Desportivo. No momento, importa apenas elencá-los com a adequada fundamentação constitucional ou infraconstitucional, doutrinária e jurisprudencial, sem contraditá-los ou deferir-lhes uma disposição sistemática. Isto porque, à medida que nos apropriamos do conhecimento principiológico, depuramos o processo de interpretação das normas. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 30 Princípios constitucionais Autonomia desportiva A autonomia das entidades desportivas, prevista no art. 217 da CF/88, não pode ser interpretada comoindependência, muito menos como soberania. A constitucionalização não teve o condão de ampliar o seu alcance, nem afastá-las do controle administrativo ou jurisdicional competentes, pois autonomia é autodeterminação dentro da lei, e toda entidade privada dela usufrui.11 A autonomia desportiva, interpretada isoladamente pode ensejar o surgimento de preceitos perversos que preservem o interesse exclusivo e protecionista das entidades de prática e de administração do desporto (interesses secundários), em detrimento dos interesses técnicos, de performance, de consumo, comerciais, institucionais e de todo o corpo social (interesses primários). É bem verdade que alguns doutrinadores defendem que inexiste interesse público nas atividades desportivas. Contudo, a defesa indiscriminada da “autonomia desportiva” vem historicamente ocasionando graves distorções e inversão de valores, a saber: (i) a falta de credibilidade dos espetáculos desportivos; (ii) a (des)organização do desporto em seus diversos níveis e de representação nacional e internacional; (iii) a crise de moralidade e ética no desporto; Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 31 11 STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, MS - MANDADO DE SEGURANÇA – 3318, Processo: 1994.00.03012-6 UF: DF, Orgão Julgador: PRIMEIRA SEÇÃO, Data da Decisão: 31/05/1994, Documento: STJ000068650, Fonte DJ DATA:15/08/1994, PÁGINA:20271, LEXSTJ VOL.:00070, PÁGINA:42 RDA VOL.:00197 PÁGINA:236 RSTJ VOL.:00078 PÁGINA:39 Relator ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO (iv) o tratamento desigual àqueles que se encontram em uma mesma situação jurídica; (v) a falta de regulação e normatização adequadas em torno do que se denomina atualmente de "desporto de rendimento / desporto- espetáculo / desporto-trabalho...". Enfim, toda essa problematização decorre de uma balbúrdia interpretativa descontextualizada, viciada, assistêmica e inconstitucional do que se poderia denominar isoladamente de "autonomia desportiva". Entretanto, tal conclusão não permite que se efetive uma interpretação destoada de sentido técnico-jurídico que pretenda afastar o reconhecimento de que o desporto é uma manifestação econômica de interesse público e, como tal, exige a atuação estatal pela denominada “intervenção mínima”. Bem destaca a versão preliminar do voto do Dep. Gilmar Machado, relator do Projeto de Lei do Estatuto do Desporto: “A autonomia, que neste caso é uma garantia da preservação de um ambiente de liberdade de pensamento, não se exerce como se fosse soberania. O campus, não é um estado à parte, no qual se deixa de aplicar, por exemplo, a lei penal. E assim com as demais normas de ordem pública. A universidade é autônoma, mas submete-se ao controle de qualidade previsto pela lei estatal. O mesmo raciocínio aplica-se mutatis mutandi ao desporto. Isto é, afasta-se a idéia de qualquer intervenção do Estado, ou de regulação de normas esportivas no sentido estrito – mas não de regulação segundo normas de ordem pública que garantam a eficácia de princípios e regras constitucionais.” Portanto, confundir regulação estatal sobre uma atividade econômica de interesse público com intervenção antidemocrática é ir contra princípios arraigados e insculpidos pela própria Constituição Federal brasileira. Mais do que isso, o ferimento aos princípios constitucionais está na atribuição de ampla liberdade a entes que exploram esta atividade de interesse público. Não obstante tais considerações, não se pode deixar de registrar que as últimas modificações do ordenamento desportivo Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 32 avançaram o sinal, especialmente com a promulgação do Estatuto de Defesa do Torcedor (Lei nº 10671/03) e Lei de Moralização do Futebol (Lei nº 10672/03). Ao mesmo tempo em que havia pretensa regulação de atividade econômica, incorria-se em flagrante violação da sobredita autonomia constitucional, à medida que alguns preceptivos legais, como um “rolo compressor” aos poderes internos das entidades, estabeleceram regras de consumo contraditórias e insubsistentes com a finalidade de equiparar o espectador de um evento esportivo com o cidadão comum que adquire um eletrodoméstico qualquer. Nesse particular aspecto, o debate merece ser aprofundado para reforma ou regulamentação da legislação de regência, embora o STF já tenha declarado a constitucionalidade do referido estatuto, ampliando inclusive o seu alcance a todas as modalidades esportivas.12 É imperioso que a autonomia das entidades diretivas seja exercida precipuamente interna corporis, ou seja, para preservar a organização interna das entidades e suas normas, não se prestando a justificar o descumprimento das leis ou a invasão de competência em matérias reservadas à apreciação da Justiça Desportiva, por exemplo. Destinação prioritária de recursos públicos A receita pública é arrecadada basicamente via carga tributária que compreende impostos, taxas e contribuições. Portanto, é dinheiro do contribuinte colocado a disposição do Poder Público através do aparelho estatal para o seu adequado gerenciamento e de acordo com uma finalidade pública que alcance os anseios sociais. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 33 12STF ADI 2937 Dessa forma, o princípio da destinação prioritária de recursos ao desporto é uma opção político-legislativa que o constituinte preferiu colocar em ordem de precedência o desporto educacional e, apenas em casos específicos, a manifestação do desporto de rendimento. Saliente-se que a prática da atividade física no ambiente escolar, mediante a utilização de uma modalidade esportiva ou não, foi eleita como prioridade ao dispêndio de recursos financeiros. Sobre o tema, vale transcrever as recentes inovações trazidas com o regulamento da Lei Pelé (Decreto 7984/2013): Art. 3º O desporto pode ser reconhecido nas seguintes manifestações: I - desporto educacional ou esporte-educação, praticado na educação básica e superior e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a competitividade excessiva de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer; (...) § 1º O desporto educacional pode constituir-se em: I - esporte educacional, ou esporte formação, com atividades em estabelecimentos escolares e não escolares, referenciado em princípios socioeducativos como inclusão, participação, cooperação, promoção à saúde, co-educação e responsabilidade; e II - esporte escolar, praticado pelos estudantes com talento esportivo no ambiente escolar, visando à formação cidadã, referenciado nos princípios do desenvolvimento esportivo e do desenvolvimento do espírito esportivo, podendo contribuir para ampliar as potencialidades para a prática do esporte de rendimento e promoção da saúde. § 2º O esporte escolar pode ser praticado em competições, eventos, programas de formação, treinamento, complementação educacional, integração cívica e cidadã, realizados por: I - Confederação Brasileira de Desporto Escolar - CBDE, Confederação Brasileira de Desporto Universitário - CBDU, ou entidades vinculadas, e instituições públicas ou privadas que desenvolvem programas educacionais; e II - instituições de educação de qualquer nível. Por outro lado, a Carta Constitucional traçou uma linha específica de financiamento do desporto de rendimento o fazendo através de “casos específicos”, como a participação de selecionados nacionais em competições internacionais ou competições internas, e treinamentos Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 34 preparatórios, bem assim a sediação e organização de eventosinternacionais. A codinominada Lei Agnelo-Piva (art. 56 da Lei 9615/98) é um exemplo dessa destinação prioritária e específica ao desporto, assim como o contrato de desempenho previsto no art. 56-A da Lei 9615/98. E sua regulamentação pelo Decreto 7.984/2013 também revela uma preocupação com a observância de regras e obtenção de resultados e o cumprimento de metas de desempenho. Tratamento diferenciado entre o desporto profissional e o não profissional O princípio do tratamento diferenciado pretende separar o desporto profissional do não profissional com o intuito de conferir normas e procedimentos específicos a cada qual, porquanto distinta é a realidade que anima cada uma de suas manifestações. Vejamos alguns dispositivos constantes do recém publicado Decreto 7.984/2013 que regulamenta a Lei Pelé, acerca da prática desportiva profissional e não-profissional: Art. 4º O desporto de rendimento pode ser organizado e praticado: I - de modo profissional, caracterizado pela remuneração pactuada em contrato especial de trabalho desportivo entre o atleta e a entidade de prática desportiva empregadora; e II - de modo não profissional, identificado pela liberdade de prática e pela inexistência de contrato especial de trabalho desportivo, sendo permitido o recebimento de incentivos materiais e de patrocínio. Parágrafo único. Consideram-se incentivos materiais, na forma disposta no inciso II do caput, entre outros: I - benefícios ou auxílios financeiros concedidos a atletas na forma de bolsa de aprendizagem, prevista no § 4º do art. 29 da Lei nº 9.615, de 1998; II - Bolsa-Atleta, prevista na Lei nº 10.891, de 9 de julho de 2004; Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 35 III - bolsa paga a atleta por meio de recursos dos incentivos previstos na Lei nº 11.438, de 29 de dezembro de 2006, ressalvado o disposto em seu art. 2º, § 2º; e IV - benefícios ou auxílios financeiros similares previstos em normas editadas pelos demais entes federativos. CAPÍTULO IX DA PRÁTICA DESPORTIVA PROFISSIONAL Seção I Da Atividade Profissional Art. 42. É facultado às entidades desportivas profissionais, inclusive às de prática de futebol profissional, constituírem-se como sociedade empresária, segundo um dos tipos regulados pelos arts. 1.039 a 1.092 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. Seção II Da Competição Profissional Art. 43. Considera-se competição profissional aquela promovida para obter renda e disputada por atletas profissionais cuja remuneração decorra de contrato especial de trabalho desportivo. Parágrafo único. Entende-se como renda a receita auferida pelas entidades previstas no § 10 do art. 27 da Lei nº 9.615, de 1998, na organização e realização de competição desportiva com a venda de ingressos, patrocínio e negociação dos direitos audiovisuais do evento desportivo, entre outros. Seção III Do Atleta Profissional Art. 44. A atividade do atleta profissional é caracterizada por remuneração pactuada em contrato especial de trabalho desportivo, firmado com entidade de prática desportiva, na forma da Lei nº 9.615, de 1998, e, de forma complementar e no que for compatível, pelas das normas gerais da legislação trabalhista e da seguridade social. § 1º O contrato especial de trabalho desportivo fixará as condições e os valores para as hipóteses de aplicação da cláusula indenizatória desportiva ou da cláusula compensatória desportiva, previstas no art. 28 da Lei nº 9.615, de 1998. § 2º O vínculo desportivo do atleta com a entidade de prática desportiva previsto no § 5º do art. 28 da Lei nº 9.615, de 1998, não se confunde com o vínculo empregatício e não é condição para a caracterização da atividade de atleta profissional. O Código Brasileiro de Justiça Desportiva - CBJD, editado originariamente através da Resolução nº 01/2003 do Conselho Nacional do Esporte, atendendo ao prescritivo constitucional de observância ao Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 36 princípio da diferenciação previsto no art. 2º., VI da Lei 9615/98, expressamente prevê tal diferenciação logo no art. 1º, em seu § 2º13. E na aplicação de medidas disciplinares pelo CBJD foram recepcionadas as seguintes regras: (i) inaplicabilidade de penas pecuniárias a atletas não profissionais (art. 170, § 2º); e (ii) redução pela metade quando a infração for cometida por atleta não-profissional ou por entidade partícipe de competição que congregue exclusivamente atletas não-profissionais (art. 182): a. Se a diminuição da pena resultar em número fracionado, aplicar-se-á o número inteiro imediatamente inferior, mesmo se inferior à pena mínima prevista no dispositivo infringido; b. se o número fracionado for inferior a um, o infrator sofrerá a pena de uma partida, prova ou equivalente; c. a redução também se aplica a qualquer pessoa natural que cometer infração relativa a competição que congregue exclusivamente atletas não-profissionais, como, entre outras, membros de comissão técnica, dirigentes e árbitros; d. o infrator não terá direito à redução a que se refere este artigo quando reincidente e a infração for de extrema gravidade. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 37 13Art. 1º. ... § 2º Na aplicação do presente Código, será considerado o ao desporto de prática profissional e ao de prática não-profissional, previsto no . (AC). Vale lembrar que a prática desportiva profissional encerra uma realidade absolutamente distinta do desporto praticado de forma a não vincular seus praticantes à atividade laboral. E não é apenas esse aspecto que deve ser enfocado (praticante), mas toda uma gama de bens e serviços colocados à disposição da sociedade advindos do profissionalismo. Em verdade não é o desporto (ou modalidade desportiva) que pode ser considerado profissional ou não, mas o praticante (atleta). E como se viu, a teor da legislação de regência (arts. 3º., III e 26 da Lei 9615/98 regulamentados pelos arts. 4º., 42, 43 e 44 do Decreto 7984/2013 acima), atleta profissional é aquele que mantém contrato especial de trabalho desportivo com entidade de prática (clube) com a finalidade precípua de participar de competições profissionais que, dentre outros aspectos, visam a obtenção de renda. Esgotamento das instâncias da Justiça Desportiva A Carta Magna reconhece e qualifica a Justiça Desportiva como um conjunto de instâncias que possui atribuições de dirimir os conflitos de natureza desportiva e competência limitada ao processo e julgamento de infrações disciplinares (definidas em códigos desportivos). Ainda, a estrutura orgânica da Justiça Desportiva proposta pela Lei n.º 9.615, de 24 de março de 1998, foi destinada às entidades de administração do desporto de cada sistema, sendo deferido à Administração Pública reconhecer suas peculiaridades e estabelecer a organização, o funcionamento e as atribuições da Justiça Desportiva Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 38 incidente sobre suas competições, respeitados os princípios gerais insculpidos na legislação de regência.14 Em suma, o constituinte de 1988 definiu o amplo espectro de benefícios trazidos pela instituição da Justiça Desportiva, cujos limites de atuação encontram-se estabelecidos às ações relativas à disciplina e às competições desportivas. A Constituição Federal de 1988 foi ainda mais longe, reconhecendo um limite formal de conhecimento dos litígios desportivos perante o Poder Judiciário, vinculado ao esgotamento das instâncias da Justiça Desportiva. Desde uma abordagem imediata é possível alcançar a importância atribuída pela Constituição Federal à Justiça Desportiva, configurando-se em mais um movimento desolução alternativa de controvérsias, evitando os custos e a demora de um processo judicial. Na realidade, a Justiça Desportiva revela-se como meio ideal para solução de conflitos estabelecidos no âmbito desportivo, pois permite a solução rápida e devidamente fundamentada, a custos mínimos e de maneira eficiente, respeitados os princípios inerentes ao devido processo legal. O problema na aplicação indiscriminada do princípio insculpido no art. 217 da CF/88 reside que, em diversas oportunidades, as entidades desportivas quando acionadas judicialmente, apresentam como tese preliminar de defesa o que se denomina de incompetência do Poder Judiciário em apreciar a causa face ausência de esgotamento da instância desportiva. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 39 14 QUADROS, Alexandre H. e SCHMITT, Paulo M. Excertos do Código Nacional de Organização da Justiça e Disciplina Desportiva. Administração Pública Federal. Ministério do Esporte e Turismo: Brasília/DF, 2002, pp.5-7. No entanto, existem argumentos suficientes para justificar tanto a busca direta da tutela jurisdicional quanto a desnecessidade de esgotamento da Justiça Desportiva. Tudo depende do objeto da demanda em matéria desportiva. Exemplo disso é uma demanda judicial a respeito de alteração estatutária realizada em desconformidade com o ordenamento jurídico para as entidades de administração do desporto. Na realidade, em situações como tais, não se adapta ao sistema constitucional do Estado Democrático de Direito, a exigência de esgotamento de uma instância privada. É inconcebível a estipulação de requisito de admissibilidade que restrinja a ampla possibilidade de dedução de pedido junto ao Poder Judiciário, em benefício de uma entidade de cunho administrativo privado e em detrimento da segurança jurídica necessária para o exercício da cidadania no Estado Democrático de Direito. “Embora tenham sido alargadas as perspectivas do Judiciário, ao nível ‘social’ e ‘político’, é no exercício de sua função jurídica que se manifesta de forma mais aparente o seu Poder. Nela, consoante visto, encontra-se a legitimação democrática. A função jurídica do Judiciário coincide, fundamentalmente, com a função atual do juiz, porque este é, em última análise, o órgão encarregado de seu exercício. Por sua vez, a atividade jurisdicional desenvolve-se através do processo, em cumprimento do princípio constitucional da inafastabilidade do controle jurisdicional e da cláusula do ‘due process of law’ e da qual se irradiam outras, ‘disciplinando, com isso, o exercício do poder e oferecendo a todos a garantia de que cada procedimento a ser realizado em concreto terá conformidade com o modelo preestabelecido’ (Dinamarco).”15 Sobre o tema, assim decidiu o E. Superior Tribunal de Justiça: “CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES - TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA - NATUREZA JURÍDICA - INOCORRÊNCIA DE CONFLITO. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 40 15 CICHOSKI NETO, José. O papel do poder judiciário no moderno estado democrático. Ver. Jurisprudência brasileira – JB 161 – págs. 25/42. 1. Tribunal de JUSTIÇA DESPORTIVA não se constitui em autoridade administrativa e muito menos judiciária, não se enquadrando a hipótese em estudo no art. 105, I, g, da CF/88. 2. Conflito não conhecido.”16 O princípio do esgotamento das instâncias da Justiça Desportiva aparentemente sofreria de patente inconstitucionalidade, em face da previsão estabelecida no artigo 5º, XXXV, da Carta de 1988: “COMPETÊNCIA. ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL – Ação intentada por atleta profissional de futebol visando a compelir a associação desportiva empregadora ao pagamento de ‘luvas’ compulsórias (15%) pela cessão definitiva do atestado liberatório (passe). Inaplicabilidade do art. 29, da Lei 6354/76, no que condiciona o exaurimento da via administrativa para ingresso em juízo, o que somente se tornou admissível quanto “as ações relativas a disciplina e as competições desportivas” com o advento da CF/88 (art. 217, parágrafo 1º.). Prevalência do direito constitucional da ação (art. 5º, inciso XXXV). Competência da Justiça do Trabalho reconhecida sem o esgotamento de recursos administrativos na esfera da Justiça Desportiva.”17 Portanto, inafastável a apreciação do Poder Judiciário quando sua tutela é legitimamente provocada, a teor do princípio do direito de ação (due process of law). Todavia, para dirimir o conflito de princípios do devido processo legal, acesso à Justiça e esgotamento de instância administrativa ao desporto, a Constituição fixou plexo de competência em razão da matéria. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 41 16 STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Classe: CA - CONFLITO DE ATRIBUIÇÃO – 53 Processo: 1996.00.57234-8 UF: SP Orgão Julgador: SEGUNDA SEÇÃO Data da Decisão: 27/05/1998 Documento: STJ000220441 Fonte DJ DATA:03/08/1998 PÁGINA:66 Relator WALDEMAR ZVEITER. 17 TRT-PR-RO 8.366/91 – Ac. 1ª T 421/93 – Rel. Juiz Oreste Dalazen – DJPr. 15/01/93. (Base Juris). É importante ressaltar que o requisito de admissibilidade constitucional levado a efeito pelo §1º do art. 217, diz respeito ‘as ações relativas à disciplina e as competições desportivas’.18 Exemplifica-se: uma lide de natureza tributária ou criminal não merece análise da Justiça Desportiva como requisito para conhecimento do Poder Judiciário. Da mesma forma, a uma ação ajuizada sobre a legalidade de uma determinada alteração estatutária. Portanto, inaplicável a restrição de esgotamento da instância desportiva sob este fundamento, porque a organização, o funcionamento e as atribuições da Justiça Desportiva estão limitadas ao processo e ao julgamento das infrações disciplinares e às competições desportivas (art. 50 – Lei Federal 9615/98). A doutrina é assente em afirmar que o esgotamento da instância desportiva visa, de um lado, propiciar a análise de matéria desportiva - estritamente descumprimento de normas relativas à disciplina e às competições desportivas - por uma instância administrativa especializada e, de outro, desafogar o Judiciário. Excetuadas hipóteses de regras estatutárias específicas prevendo cláusula arbitral nesse sentido, não se pode pretender que o STJD ou TJD de qualquer entidade desportiva julgue-se competente para processar e julgar toda e qualquer contenda entre federações, confederações e seus filiados ou associados. Seria ampliar de tal modo a sua competência, inviabilizando a organização e funcionamento da Justiça Desportiva da entidade a qual se encontra vinculada, além de retirar a Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 42 18 “Constituição Federal de 1988 Art. 217 – É dever do estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados: ... §1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e a competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da Justiça Desportiva, regulada em lei.” competência dos tribunais das federações estaduais e o direito constitucional de ação das pessoas físicas e jurídicas quando a matéria não versasse sobre competições e disciplina. A real intenção da norma desportiva pretende tão somente assegurar a continuidade das atividades no ambiente desportivo, essencialmente em razão de que um litígio incidente em um torneio ou campeonato, por descumprimento de normas ou prática de infrações disciplinares, impetrado diretamente no Poder Judiciário, poderia paralisar as atividades de interesse da comunidade esportiva. Assim manifesta-se a jurisprudência: “A regra é a inafastabilidade do controle de lesões ou de ameaças de lesões a direitos pelo Poder Judiciário (art. 5º. XXXV, da ConstituiçãoFederal), regra que pode ser limitada ou condicionada, como ocorre com o artigo 217, §3º, da Constituição Federal, quanto ao prévio exaurimento da instância desportiva, mas não afastado. O artigo 52, §2º, da Lei Pelé, entretanto, foi além do preceito constitucional: simplesmente afastou o controle judicial de lesões ou ameaças de lesões a um direito. Ao estabelecer, para fins desportivos, que prevalece a decisão da justiça desportiva, a norma ordinária restringiu o interesse dos clubes ou equipes apenas ao lado econômico de um torneio ou campeonato, único aspecto que poderia ser questionado na justiça, colocando ao largo de discussões judiciais o desportivo em si, como se também a conquista do título não fosse digna de tutela.” Interessante destacar que o artigo 50 da Lei n.º 9.615, de 24 de março de 1998 (Lei Pelé), estabelece: “Art. 50. A organização, o funcionamento e as atribuições da Justiça Desportiva, limitadas ao processo e ao julgamento das infrações disciplinares e às competições desportivas, serão definidas em Códigos Desportivos...” Entretanto, a redação apresentada pelo Poder Legislativo, para sanção presidencial, era diferenciada: Art. 50. A organização, o funcionamento e as atribuições da Justiça Desportiva, serão definidas em Códigos de Justiça Desportiva de cumprimento obrigatório para as filiadas de cada entidade de administração do desporto, nos quais excetuar-se-ão as matérias de ordem trabalhista e de Direito Penal Comum. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 43 O veto ao referido dispositivo, pelo Presidente da República, após a manifestação do Ministério da Justiça, foi assim fundamentado, justamente para garantir o acesso ao Poder Judiciário: “RAZÕES DO VETO Além disso, a exceção das matérias de ordem trabalhista e de direito Penal Comum leva a falsa impressão de que outras não poderão ser objeto de exame da justiça comum, o que é equivocado. Basta ver que o texto constitucional deixa claro que a competência da Justiça Desportiva circunscreve-se a ações relativas à disciplina e às competições desportivas. Tudo o mais deverá ser apreciado por um juiz togado e mesmo as ações relativas à disciplina e às competições desportivas deverão submeter-se ao poder Judiciário após esgotarem-se as instâncias da Justiça Desportiva. Deve, portanto, o dispositivo ser vetado por contrariar o interesse público.” O veto do Presidente da República objetivou não criar qualquer obstáculo que impossibilitasse o acesso ao Judiciário. Este também é o argumento para demonstrar a ilegalidade de dilatação da competência de STJD, TJD ou outra instância desportiva efetivada através, por exemplo, da análise de verbas trabalhistas, alteração do estatuto de uma assembléia de entidade desportiva ou outra matéria que não verse sobre disciplina e competição. Sobre o tema também manifesta-se o Poder Judiciário: “ ... não é matéria condicionada ao prévio exame pela via administrativa, a teor do que dispõe o próprio artigo 217, I , da Constituição Federal vigente, aludido na defesa. Isto porque o artigo 217, dispõe que o poder judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da Justiça Desportiva reguladas em lei. (Grifos nossos). Deste modo, como a Constituição estabeleceu os assuntos que não podem ser admitidos pela Justiça Comum sem o exame prévio da Justiça Desportiva, como a matéria controversa não se confunde com tais temas a evidência e admissível o conhecimento da lide por este juízo. Oportuno adicionar acerca do tema que, se o diploma constitucional limitou o prévio esgotamento da via administrativa tão somente para os dois assuntos retro mencionados, entende este juízo que nem a legislação infra constitucional, muito menos o Regimento Interno do Tribunal de Justiça Desportiva da Confederação Brasileira de Hipismo podem ampliar o rol prévio da Justiça Desportiva, Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 44 pois isto fere o direito Constitucional de acesso ao judiciário, assentado no inciso XXXV do art. 5º, da Constituição Federal. ... “19 O assunto em exame é relativamente polêmico e parte do estudo acima foi publicado na Revista Brasileira de Direito Desportivo20, o qual apresenta a seguinte síntese conclusiva: (i) O conflito entre os princípios de esgotamento da instância desportiva e do acesso ao Judiciário é apenas aparente e tais comandos constitucionais podem conviver harmoniosamente pela aplicação do princípio estruturante da cedência recíproca, inexistindo negação interna ou qualquer obstáculo de compatibilidade de conteúdo; (ii) a precitada convivência harmoniosa dos artigos 5º, XXXV e 217, §§1º e 2º, CF/88 está diretamente relacionada com a observância da competência conferida pela Carta da República à justiça desportiva em matéria de competições e disciplina desportiva. Com efeito, a regra geral é o esgotamento da instância desportiva. Todavia, qualquer vício capaz de produzir lesão ou ameaça a lesão a direito configurará o não cumprimento do seu papel constitucional. Tais vícios decorrem comumente de inobservância dos prazos constitucionais, composição irregular das instâncias desportivas, supressão de instância desportiva ou mesmo de análise de matéria que refoge da área delimitada, como por exemplo lides de ordem trabalhista, societária, penal, dentre outras que não estão diretamente relacionadas a competições e disciplina. Mas, se de um lado, alguns litígios não podem sequer serem avaliados por tribunais desportivos, notadamente em razão da matéria, por outro, vale destacar que em matéria própria para tal análise Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 45 19 Autos n.º918/99 - 3ª Vara Cível da Comarca de Curitiba 20 Justiça Desportiva vs. Poder Judiciário: Um conflito constitucional aparente. Alexandre Hellender de Quadros e Paulo Marcos Schmitt. Revista Brasileira de Direito Desportivo nº 04, IBDD, Imprensa Oficial, segundo semestre/2003. (competição e disciplina), as decisões da Justiça Desportiva devem ser prestigiadas dada a importância a ela conferida pela nossa Carta Magna: “ A G R AV O D E I N S T R U M E N TO . D I R E I TO P R I VA D O N Ã O ESPECIFICADO. COMPETIÇÃO DESPORTIVA. AUTONOMIA DAS ENTIDADES DESPORTIVAS E O DIREITO À LIVRE ASSOCIAÇÃO E À NÃO INTERVENÇÃO ESTATAL. ALEGAÇÃO DE INFRINGÊNCIA AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. NULIDADE DOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS. AUSÊNCIA DE VEROSSIMILHANÇA A ENSEJAR A ANULAÇÃO EM SEDE DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA CONTUNDENTE ACERCA DAS ALEGADAS IRRGULARIDADES NOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS QUE TRAMITARAM NO STJD. PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE. A antecipação de tutela depende da força da prova, esta capaz de convencer o Magistrado da verossimilhança das alegações do autor. Não emerge, no estado em que o feito se encontra, a prova inequívoca da verossimilhança do direito almejado pela parte autora. A questão relativa a terem os direitos do atleta CLÁUDIO ROBERTO SIQUEIRA FERNANDES FILHO sido suprimidos no feito administrativo que determinou sua suspensão por um jogo implica a produção probatória, envolvendo o mérito. Isto também se aplica às demais alegações da inicial, particularmente, no que respeita à busca de informações atinentes às condições de jogo do atleta depois da realização da partida de 22 de julho de 2010 (fl. 160). Ademais, a Constituição Federal, no artigo 217, §1º, concede importância ímpar à Justiça Desportiva. Em liminar, desconstituir uma decisão do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) exige elementos que não se mostram presentes na situação atual do processo. Logo, inviável reconhecer a nulidade do procedimento administrativoda requerida, porquanto dependente de produção de prova inequívoca a embasar as alegações autorais. À unanimidade, preliminares rejeitadas. No mérito, agravo de instrumento desprovido, por maioria. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em rejeitar as preliminares, e, por maioria, vencido o Relator, em desprover o agravo de instrumento. Custas na forma da lei. Participou do julgamento, além dos signatários, a eminente Senhora Des.ª Ana Lúcia Carvalho Pinto Vieira Rebout. Porto Alegre, 14 de junho de 2012. DES. JOSÉ AQUINO FLÔRES DE CAMARGO, Presidente e Relator. DES. UMBERTO GUASPARI SUDBRACK, Redator. ... Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 46 A Constituição Federal, no artigo 217, §1º, concede importância ímpar à Justiça Desportiva. Em liminar, desconstituir uma decisão do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) exige elementos que não se mostram presentes na situação atual do processo. Com efeito, se a Carta Constitucional empresta tal relevância à Justiça Desportiva, há que se levar em conta esse dado. Por analogia, conceder a antecipação de tutela, antevendo presentes os requisitos pertinentes, seria o mesmo que, no Direito Administrativo, desconstituir o ato dessa natureza, o qual tem presunção de legitimidade. Só com prova forte seria viável tal pleito. (Agravo de Instrumento Nº 70048692768, Décima Segunda Câmara Cível, Comarca de Porto Alegre.) De outra parte, não obstante os princípios da inafastabilidade do controle jurisdicional e acesso ao Poder Judiciário, algumas normas internacionais aplicáveis a determinadas modalidades esportivas, de certa forma, vedam que conflitos de interesse sejam dirimidos em tribunais comuns. E nesse particular aspecto é inegável reconhecer que o sistema desportivo revela um modelo que possui uma estrutura hierarquizada de filiações e aceitabilidade de normas e regras nacionais e internacionais de prática desportiva. Observe-se que da base para o topo da pirâmide temos comumente: (1) o atleta é filiado, registrado ou inscrito por um clube (entidade de prática desportiva, p.ex. Esporte Clube Pinheiros/SP) que, por sua vez, (2) está vinculado a uma federação (entidade regional de administração, p.ex. Federação Paulista de Basketball) que, (3) está filiada a uma confederação (entidade nacional de administração da respectiva modalidade, p.ex. Confederação Brasileira de Basketball - CBB), e esta, a seu turno, (4) está filiada a uma entidade internacional na modalidade (p.ex. Federação Internacional de Basketball - FIBA), sem prejuízo por óbvio (5) de outras filiações ou vinculações no movimento olímpico (Comitês Olímpicos Brasileiro e Internacional - COB e COI). Vejamos a ilustração gráfica a seguir: Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 47 Nesse cenário, fica a pergunta: quando estamos diante do esgotamento das instâncias da Justiça Desportiva previsto no art. 217 da CF que, em tese, autorizaria que o Poder Judiciário admitisse o conhecimento de matéria relativa a competição e disciplina? E a resposta, depende de análise criteriosa de normas nacionais e internacionais aplicáveis, ao menos para o sistema privado / (con)federado, no caso a Lei no. 9.615/98 e Estatutos, Regulamentos e Regras da modalidade esportiva e instituições que a regulam. É sempre bom lembrar que o parágrafo 1o. do art. 217 da CF condiciona o esgotamento das instâncias da Justiça Desportiva regulada em lei para ingresso de demandas de natureza disciplinar junto ao Poder Judiciário. No entanto, a lei a que se refere o texto constitucional é a Lei no. 9.615/98 (Lei Geral Sobre Desporto) que, no seu art. 50 e ss. regula a temática em apreço, porém, em seus arts. 1o. e 3o. faz remissiva a normas internacionais, ao definir: (i) que a prática desportiva formal é Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 48 regulada por normas nacionais e internacionais e pelas regras de prática desportiva de cada modalidade, aceitas pelas respectivas entidades nacionais de administração do desporto e; (ii) desporto de rendimento, praticado segundo normas gerais desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de outras nações. Ilustrativamente, na prática desportiva formal da modalidade de futebol, que certamente possui a maior demanda de litígios, logicamente impulsionada pela paixão que desperta, aliada ao interesse econômico, a última instância da Justiça Desportiva, consoante normas internacionais, é o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS- CAS).21 Os fundamentos jurídicos estão devidamente consignados nos seguintes dispositivos do Regulamento Geral de Competições da CBF, Estatutos da FIFA e Estatutos e Código do TAS-CAS: RGC - CBF (2013) Art. 99 - Os clubes que tenham concordado em participar de quaisquer das competições, reconhecem a Justiça Desportiva como instância própria para resolver as questões relativas à disciplina nas competições desportivas, nos termos do artigo 64 do Estatuto da FIFA 22. [<http://imagens.cbf.com.br/201212/1644694637.pdf>] ESTATUTO DA FIFA (2012) 66 Tribunal Arbitral do Esporte - Corte de Arbitragem do Esporte (TAS/CAS) 1. A FIFA reconhece o direito de interpor recurso para o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS/CAS), um tribunal de arbitragem independente com sede em Lausanne, na Suíça, para resolver disputas entre FIFA, membros, confederações, ligas, clubes, jogadores, funcionários, agentes de partidas e agentes licenciados de jogadores. 2. O procedimento de arbitragem é regido pelas disposições do Código de Arbitragem em matéria desportiva do Tribunal Arbitral do Esporte - TAS. O TAS aplica em primeiro lugar os regulamentos da FIFA e, adicionalmente, a lei suíça. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 49 21 www.tas-cas.org 22 Na versão de 2011 do estatuto da FIFA, sendo hoje o art. 68 do estatuto vigente - edição de 2012. 67 Jurisdição do TAS/CAS 1. Todo recurso contra as decisões finais adotadas pela FIFA, especialmente pelos órgãos jurisdicionais, e contra as decisões adotadas pelas confederações, membros ou ligas deve ser apresentado ao TAS/ CAS no prazo de 21 dias após a notificação da decisão. 2. Somente pode ser apresentado um recurso ao TAS depois de esgotar todas as instâncias jurisdicionais internas. O TAS não admitirá recursos relacionados com: a) violação as regras do jogo; b) suspensão de até quatro jogos ou até três meses (com exceção de decisões relacionadas a doping); c) as decisões objeto de recurso para atender uma apelação perante tribunal arbitral independente devidamente constituído, e reconhecido sob as regras de uma associação ou confederação. 4. O recurso não tem efeito suspensivo. O órgão competente da FIFA, ou se for o caso, o TAS/CAS pode conceder efeito suspensivo ao recurso. 5. Em conformidade com os itens 1 e 2 do presente artigo, a FIFA pode apresentar um recurso no TAS/CAS contra as decisões internamente finais e vinculativas das confederações, membros ou ligas em casos de doping. 6. Em conformidade com os itens 1 e 2 do presente artigo, a Agência Mundial Anti-Doping (WADA) pode interpor recurso ao TAS/CAS contra as decisões internamente finais e vinculativas da FIFA, das confederações, membros ou ligas em casos de doping. 7. A autoridade competente deve notificar a FIFA e a WADA decisões internamente finais e vinculativas das confederações, membros ou ligas em casos de doping. O período disponível para a FIFA ou a WADA para recorrer começa a correr no momento em que a FIFA ou WADArecebe a notificação da decisão final em uma das línguas oficiais da FIFA. 68 Obrigações 1. As Confederações, os membros e Ligas devem reconhecer o TAS/CAS como uma autoridade judicial independente e comprometem-se a adotar todas as medidas necessárias para os seus membros, jogadores e funcionários acatem a arbitragem e decisões do TAS. Esta obrigação aplica-se igualmente aos agentes de partida e os agentes dos jogadores. 2. São proibidos recursos aos tribunais comuns, a menos que especificado no regulamento da FIFA. Além disso, são excluídos os recursos na forma ordinária, no caso de medidas preventivas de todos os tipos. 3. As associações são obrigadas a incorporar em seus estatutos ou regulamentos uma cláusula, em caso de disputa da associação interna ou disputas sobre a liga, um membro da liga, um clube, um membro de um clube, um jogador, funcionário ou qualquer outra pessoa ligada à associação, proibindo tribunais comuns de direito, a menos que os regulamentos da FIFA ou de disposições vinculativas de lei expressamente exigir recurso aos tribunais comuns. Em vez de os tribunais comuns devem prever jurisdição arbitral. Tais litígios serão submetidos a um tribunal arbitral independente devidamente constituído e reconhecido de acordo com as regras da associação ou confederação, ou TAS. Da mesma forma, as associações comprometem-se a garantir que Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 50 esta condição é implementada dentro da associação, se necessário, impondo a obrigação de seus membros. Em caso de violação desta obrigação, as Associações devem impor sanções adequadas precavendo qualquer recurso contra essas penalidades e que serão estritamente submetido igualmente à jurisdição arbitral e não aos tribunais comuns. [Grifos nossos. Tradução livre: <http://www.fifa.com/mm/document/ affederation/generic/01/66/54/21/fifastatutes2012s.pdf>] ESTATUTOS E CÓDIGO TAS-CAS A Disposições comuns S1 Com a finalidade de resolver disputas relacionadas ao esporte por meio de arbitragem e mediação, dois órgãos ficam criados: • o Conselho Internacional de Arbitragem do Esporte (ICAS) • o Tribunal Arbitral do Esporte (CAS). Os litígios e disputas em que uma federação, associação ou um organismo de esportes relacionado for parte, são uma questão de arbitragem, nos termos deste Código, na medida em que os estatutos ou regulamentos de órgãos ou um acordo específico assim proporcionar. A sede do ICAS e do CAS é Lausanne, na Suíça. S2 O objetivo da ICAS é facilitar a resolução de disputas relacionadas ao esporte por meio de arbitragem ou de mediação, e para salvaguardar a independência do CAS e os direitos das partes. Ele também é responsável pela administração e financiamento do CAS. S3 O CAS mantém uma lista de árbitros e prevê a resolução arbitral de controvérsias relacionadas ao esporte por meio de arbitragem conduzida por painéis compostos por um ou três árbitros. O CAS é composto por uma Divisão de Arbitragem Ordinária e uma Divisão de Arbitragem de Apelação. O CAS mantém uma lista de mediadores e prevê a resolução de conflitos relacionados com o desporto através da mediação. O procedimento de mediação é regido pelas Regras de Mediação CAS. ... C Tribunal Arbitral do Esporte (CAS) 1 Missão S12 O CAS constitui painéis que têm a responsabilidade de resolver os litígios que surjam no âmbito do esporte por meio de arbitragem e / ou mediação de acordo com as regras processuais (artigos R27 e segs.). Para tanto, o CAS fornece a infraestrutura necessária, os efeitos da constituição de painéis e supervisiona a condução eficiente do processo. As responsabilidades dos painéis, entre outras, são: a. para resolver as disputas que se refere a eles por meio de arbitragem ordinária; b. para resolver as disputas através dos apelos a procedimento de arbitragem, ou a respeito das decisões de federações, associações ou outras entidades relacionadas com o desporto, na medida em que os estatutos ou regulamentos de órgãos ou um acordo específico assim proporcionar. c. para resolver as disputas através da mediação. [Grifos nossos. Tradução livre: <http://www.tas-cas.org/d2wfiles/document/ 4962/5048/0/Code20201320corrections20finales20(en).pdf>] Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 51 Como se denota, por força de norma internacional, cogente e referenciada pelo regulamento de competições da CBF, a última instância da Justiça Desportiva, ao menos para o mundo do futebol profissional, é o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS-CAS). Não há que se falar, portanto, ao menos “prima facie”, em esgotamento de TODAS as instâncias da Justiça Desportiva quando a decisão objeto de impugnação na Justiça Comum for proferida pelo STJD do Futebol, porquanto este se revela a mais alta Corte Desportiva no Brasil, cabendo recurso ao TAS/CAS. Princípios infraconstitucionais - Lei nº 9.615/98 (Lei Geral Sobre Desporto - Lei Pelé) A Lei nº 9.615/98, em seu art. 2º, arrola doze princípios dispondo sobre suas principais características e conceitos, sendo desnecessário maiores comentários acerca de tais proposições diretoras da citada lei. No entanto, é imperioso trazer à colação as anotações de Marcílio Krieger quando aduz que tais “princípios fundamentais dão viabilidade prática tanto à garantia constitucional do desporto como direito fundamental, quanto ao da autonomia das entidades práticas e dirigentes – autonomia que pressupõe o respeito às normas constitucionais quanto às normas e regras internacionais e nacionais da respectiva modalidade”. 23 Vejamos cada qual, na forma como se encontram transpostos no ordenamento jurídico pátrio: Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 52 23 Lei Pelé e Legislação Desportiva Brasileira Anotadas: ed. Forense, Rio de Janeiro, 1999, p. 34. • Soberania, caracterizado pela supremacia nacional na organização da prática desportiva; • Autonomia, definido pela faculdade e liberdade de pessoas físicas e jurídicas organizarem-se para a prática desportiva; • Democratização, garantido em condições de acesso às atividades desportivas sem quaisquer distinções ou formas de discriminação; • Liberdade, expresso pela livre prática do desporto, de acordo com a capacidade e interesse de cada um, associando-se ou não a entidade do setor; • Direito social, caracterizado pelo dever do Estado em fomentar as práticas desportivas formais e não-formais; • Diferenciação, consubstanciado no tratamento específico dado ao desporto profissional e não-profissional; • Identidade nacional, refletido na proteção e incentivo às manifestações desportivas de criação nacional; • Educação, voltado para o desenvolvimento integral do homem como ser autônomo e participante, e fomentado por meio da prioridade dos recursos públicos ao desporto educacional; • Qualidade, assegurado pela valorização dos resultados desportivos, educativos e dos relacionados à cidadania e ao desenvolvimento físico e moral; • Descentralização, consubstanciado na organização e funcionamento harmônicos de sistemas desportivos diferenciados e autônomos para os níveis federal, estadual, distrital e municipal; Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 53 • Segurança, propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva, quanto a sua integridade física, mental ou sensorial; • Eficiência, obtido por meio do estímulo à competência desportiva e administrativa. Princípios infraconstitucionais - Lei nº 10.672/03 A legislação desportiva, com a publicação da Lei nº 10.672/03, enuncia os seguintes princípios: • Transparência financeira e administrativa; • Moralidade na gestão desportiva; • Responsabilidade social de seus dirigentes; • Tratamento diferenciado emrelação ao desporto não profissional; • Participação na organização desportiva do País. Após uma análise detalhada dos princípios acima referenciados, podemos nominá-la de uma "medida de boas intenções", assim rotulado em razão de todos os princípios eleitos terem sido emprestados do conceito de Responsabilidade Fiscal inseridos explícita ou implicitamente na própria LRF. Vejamos alguns princípios da LRF citados por Edson Ronaldo do Nascimento e Ilvo Debus24 e que comparamos com a sobredita lei: Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 54 24 Gestão Fiscal Responsável: JM editora, Brasília/Df, 2001. • Equilíbrio e planejamento - não gastar mais do que se arrecada e planejar, antes de executar (LRF) = moralidade na gestão desportiva (Lei nº 10.672/03) • Transparência - prestar contas e informar à sociedade (LRF) = Transparência financeira e administrativa (Lei nº 10.672/03) • Participação - governar com o cidadão e não contra o cidadão (LRF) = Participação na organização desportiva do país (Lei nº 10.672/03) Álvaro Melo Filho (Novo Regime Jurídico do Desporto, p. 14) afirma que a Lei Pelé é um clone jurídico em 53% da Lei Zico. Então, malcomparando constatamos que os princípios encartados na Lei nº 10.672/03 pode ser considerado um clone conceitual ou principiológico da LRF. É indene de dúvidas que a LRF contribuiu e vem contribuindo para um maior controle do gasto público e moralização da atividade administrativa, requerendo uma nova atitude dos administradores públicos em matéria de finanças e orçamento. Todos esses valores aplicados às atividades desportivas revelam, no mínimo, que a legislação em comento se reveste, como antes afirmado, de “boas intenções", à medida que não passarão de bons propósitos caso o debate não seja aprofundado. Até porque as exigências de administração responsável com sanções aos dirigentes desidiosos ou negligentes, no contexto da pretensa lei, não trazem, em uma análise perfunctória, condições materiais de aplicabilidade ou conformidade constitucional com a autonomia associativa e desportiva. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 55 Princípios infraconstitucionais - Lei nº 10.671/03 (Estatuto do Torcedor), Decreto 7984/2013 (Regulamenta Lei Pelé) e CBJD - Justiça Desportiva25 A nova codificação desportiva (art. 2º do CBJD), em um feito inédito perante os códigos até então vigentes, conjuntamente com o Estatuto de Defesa do Torcedor (Lei nº 10.671/03) e do Decreto 7984/2013 regulamentador da Lei 9615/98 (Lei Pelé), tratou de elencar um rol de princípios orientadores da Justiça Desportiva (e não apenas restrito ao processo disciplinar). Por questões metodológicas passamos a estudá-los na forma que segue. Legalidade A legalidade é o princípio do Estado de Direito, pressuposto de uma sociedade estável e politicamente organizada. Cármen Lúcia Antunes Rocha prefere chamar o princípio da legalidade de “juridicidade”: “A preferência que se confere à expressão deste princípio da juridicidade, e não apenas ao da legalidade como antes era afirmado, é que, ainda que se entenda esta em sua generalidade (e não na especificidade da lei formal), não se tem a inteireza do Direito e a grandeza da Democracia em seu conteúdo, como se pode e se tem naquele. Se a legalidade continua a participar da juridicidade a que se vincula a Administração Pública — é certo que assim é —, esta vai muito além da legalidade, pois afirma-se em sua autoridade pela legitimidade do seu comportamento, que não se contém apenas na formalidade das normas jurídicas, ainda que consideradas na integralidade do ordenamento de Direito.”26 O princípio da legalidade é um verdadeiro alicerce do Estado de Direito, pois ao mesmo tempo em que confere uma garantia essencial Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 56 25 Código Brasileiro de Justiça Desportiva: comentários e legislação. Ministério do Esporte, Brasília, Ass. Comunicação Social, 2004, pp. 25 a 31. 26 (ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Princípios constitucionais da administração pública. Belo Horizonte: Del Rey, 1994. p. 69-70. aos administrados é, também, um dever de primeira ordem para a Administração.27 Conforme García de Enterría: “A legalidade atribui potestades à Administração precisamente. A legalidade outorga faculdades de atuação, definindo cuidadosamente seus limites, habilita a Administração para sua ação, conferindo-lhe, com efeito, poderes jurídicos. Toda ação administrativa se nos apresenta, assim, como exercício de um poder atribuído previamente pela lei e por ela delimitado e constituído. Sem uma atribuição legal prévia de potestade, a Administração não pode atuar, simplesmente”.28 Ressalta-se, também, que o princípio da legalidade não privilegia a submissão da atividade administrativa tão-somente à Lei em sentido formal, sujeita ao devido processo legislativo. Não é essa a inteligência do princípio em alusão. Como afirma Odete Medauar, “buscou-se assentar o princípio da legalidade em bases valorativas, sujeitando as atividades da Administração não somente à lei votada pelo Legislativo, mas também aos preceitos fundamentais que norteiam todo o ordenamento”.29 Para o regime jurídico desportivo, a legalidade é quem configura e rege a harmonia no sistema coeso de princípios e normas. Constitui o contraveneno do poder soberano consagrado pelo Estado totalitário. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 57 27 Celso Antônio Bandeira de Mello assinala que “Em suma, a lei, ou, mais precisamente o sistema legal, é o fundamento jurídico de toda e qualquer ação administrativa. A expressão ‘legalidade’ deve, pois, ser entendida como ‘conformidade ao Direito’, adquirindo então um significado mais extenso”. (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 1999 p. 36.). 28 García de Enterría, apud FIGUEIREDO, Lucia Valle. Curso de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1995, p. 112. 29 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 138. Moralidade e Espírito Desportivo (fair play) Falar em moral é falar em juízo, comportamento, hierarquia de valores e código de conduta. Parece-nos mais apropriado analisar a moral pelo seu caráter pessoal. Para Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins “o aumento do grau de consciência e liberdade, e portanto de responsabilidade pessoal no comportamento moral, introduz um elemento contraditório que irá, o tempo todo, angustiar o homem: a moral, ao mesmo tempo em que é o conjunto de regras que determina como deve ser o comportamento dos indivíduos de um grupo, é também a livre e consciente aceitação das normas”30. Assim sendo, a conduta moral é aquela praticada com lealdade, boa-fé, sinceridade e lhaneza que asseguram a liberdade e consciência necessária à aceitação das normas. É fácil, portanto, perceber porque a moralidade é princípio de diversos ramos do Direito, inclusive o Direito Desportivo. Um regime jurídico desportivo pautado no comportamento humano astucioso não é típico de um Estado compromissado com a sociedade. Não há hipótese de que um ato seja legal se for imoral. A imoralidade, quando praticada, contamina todo o sistema desportivo, viciando todo e qualquer ato, sujeitando-o ao controle da Justiça Desportiva. No esteira do espectro da moralidade desportiva está o espírito esportivo, muitas vezes denominado de “fair play”. Esse demandado e indispensável “espírito desportivo”, ou “jogo justo” requer prestígio permanente de valores basilares da prática desportiva como o congraçamento, a competitividade,a socialização do desporto, o respeito entre os competidores e às leis e regras da competição. É o contraveneno Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 58 30 Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins, Introdução à Filosofia, 1987. do “jeitinho”, o antídoto da fraude, do “se dar bem” às custas do adversário, enfim de qualquer forma de violência ou expediente que contrarie regras e condutas em prol de um resultado que despreze a melhor performance de atletas e equipes. Publicidade No âmbito da Justiça Desportiva, publicidade tem o sentido de tornar público e transparente determinado ato ou comportamento. A regra geral é a publicidade dos atos, oposto à exceção que é o sigilo, admitido apenas em situações excepcionais previstas em lei. Em síntese, as instâncias desportivas têm o dever de divulgar os seus atos para dar- lhes conhecimento geral, assegurando o direito à informação da sociedade desportiva ou para esclarecimentos de interesse individual. Denota-se que a publicidade dos atos vinculados à Justiça Desportiva é um dos componentes do mecanismo de controle da legitimidade. Assim, ressalvadas as hipóteses de sigilo e circunstâncias de ordem interna, as decisões e procedimentos exarados em atos da Justiça Desportiva devem ser disponibilizados à sociedade por meio de regular publicação, notadamente citações, intimações, denúncia, decisões, entre outros. A forma mais comum de publicação se dá através de editais sendo recepcionado também os meios eletrônicos. Já o processo disciplinar que envolver menores deve observar as exigências estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, tanto em relação aos atos processuais de comunicação, quanto as audiências. Com efeito, é direito da sociedade ou do indivíduo afetado por uma decisão da Justiça Desportiva, a partir da publicação de determinado ato, insurgir-se na mesma esfera ou no âmbito judicial, conforme o caso. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 59 A inobservância na divulgação de alguns atos obstaculiza uma série de providências e procedimentos por parte do legitimamente interessado, restringindo a sua oposição tempestiva diante de determinada conduta. Impessoalidade Para as instâncias desportivas pouco importa se o denunciado é dirigente, organizador, coordenador, árbitro, atleta ou até mesmo membro da própria Justiça Desportiva. Se foi denunciado pela prática de infração disciplinar, deve ser processado e julgado sem distinção de qualquer natureza, inclusive de posição social ou desportiva, admitindo-se, no entanto, que algumas pessoas em razão do foro, sejam julgadas diretamente pelos órgãos colegiados de instâncias superiores. Celso Antônio Bandeira de Mello, na seara administrativa e sobre o princípio da impessoalidade, explica que “nele se traduz a idéia de que a administração tem que tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas ou detrimentos. nem favoritismo nem perseguições são toleráveis. simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não podem interferir na atuação administrativa e muito menos interesses sectários, de facções ou grupos de qualquer espécie. o princípio em causa não é senão o princípio da igualdade ou isonomia. está consagrado no art. 37, caput, da constituição. além disso, assim como ‘todos são iguais perante a lei’(art. 5º, caput), a fortiori teriam de sê-lo perante a administração”.31 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 60 31 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 1999 p. 70. A impessoalidade decorre, portanto, do tratamento isonômico que a Justiça Desportiva deve dispensar a todos os participantes dos eventos esportivos e destinatários das normas sob sua jurisdição. Oficialidade Este princípio permite que a Justiça Desportiva promova a responsabilidade daqueles que transgrediram determinada norma disciplinar por impulso oficial (de ofício), ou seja, sem a necessidade da manifestação antecipada das partes envolvidas. Atualmente, não é comum que as instâncias desportivas, em casos isolados, atuem de ofício. Faz-se necessário que a parte interessada formule queixa, encaminhando-a à Procuradoria para manifestação. Nos casos notórios e mais complexos, que ponham em risco a paz e moralidade desportiva, a atuação da Justiça Desportiva é obrigatória. Isto ocorre em razão da evolução e profissionalização das competições desportiva onde, nem sempre, os vencidos reconhecem suas derrotas. Como existem muitos interesses envolvidos, é de praxe que surjam reclamações infundadas e, se fosse obrigatória a atuação jurisdicional, os casos mais relevantes ou devidamente provados e instruídos ficariam sem julgamento. Devido Processo Legal, Contraditório e Ampla Defesa Expresso no art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal, a ampla defesa e o contraditório devem ser respeitados em todos os processos desportivos Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 61 Vejamos os ensinamentos de Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco sobre o direito à ampla defesa: “O juiz, por força de seu dever de imparcialidade, coloca-se entre as partes, mas eqüidistante delas: ouvindo uma, não pode deixar de ouvir a outra; somente assim dará a ambas a possibilidade de expor suas razões, de apresentar suas provas, de influir sobre o convencimento do juiz. Somente pela soma das parcialidades das partes (uma representando a tese e a outra a antítese) o juiz pode corporificar a síntese, em um processo dialético. É por isso que foi dito que as partes em relação ao juiz, não tem um papel de antagonistas, mas de ‘colaboradores necessários’: cada um dos contendores age no processo tendo em vista o próprio interesse, mas a ação combinada dos dois serve à justiça na eliminação do conflito ou controvérsia que os envolve.”32 A efetivação do devido processo legal também demanda a aplicação do princípio do contraditório, significando a possibilidade da parte interessada contradizer a posição contrária a seus interesses ou que serviram de supedâneo à acusação. Odete Medauar, explica o princípio do contraditório com singular propriedade: “Em essência, o contraditório significa a faculdade de manifestar o próprio ponto de vista ou argumentos próprios, ante fatos documentos ou pontos de vista apresentados por outrem. Fundamentalmente o contraditório quer dizer “informação necessária e reação possível” (Cândido Dinamarco, Fundamentos do processo civil moderno, 2. ed.., 1987, p. 93). Elemento ínsito à caracterização da processualidade, o contraditório propicia ao sujeito a ciência de dados, fatos, argumentos, documentos, a cujo teor ou interpretação pode reagir, apresentando, por seu lado, outros dados, fatos, argumentos, documentos. À garantia do contraditório para si próprio corresponde o ônus do contraditório, pois o sujeito deve aceitar a atuação no processo de outros sujeitos interessados, com idênticos direitos.”33 O contraditório decorre, como se observa, da relação bilateral do processo, significando que as partes em contradição devem ser ouvidas igualmente. Quando uma das partes alega algo deve-se ouvir Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 62 32 Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, Teoria Geral do Processo, 1994, p. 55. 33 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2005. pp. 194/195. também a outra parte, isto é, toda acusação deve ser seguida da possibilidade de uma defesa. Mesmo caracterizado regra geral pelo procedimento(e não julgamento) sumário, não se afasta do devido processo legal, devendo propiciar que o denunciado pela prática de determinada infração, em regra, constitua advogado ou habilite pessoa maior e capaz para a sua defesa, devendo ser concedido vista do processo, de indicar e produzir provas, de servir-se de defesa técnica, de contestar ou impugnar atos que forem contrários ao seu interesse, bem como na possibilidade de acompanhá-los na fase de instrução e valer-se dos recursos cabíveis. E ainda que obrigado a proferir decisões rápidas, portanto com a celeridade processual inerente às competições, a instância desportiva deve permitir que o acusado tenha todas as condições de defesa. Assim, as decisões devem estar fundadas na certeza dos fatos, não podendo subsistir qualquer decisão condenatória fundamentada na dúvida. Oralidade, Economia Processual e Celeridade Devido à rapidez com que as decisões da Justiça Desportiva devem ser proferidas alguns atos processuais são produzidos oralmente (forma não escrita). Isto se dá, como já dito, pelas peculiaridades das competições desportivas e está diretamente relacionado com o princípio da celeridade. Diferentemente da justiça comum em que os atos em sua maioria são escritos, a oralidade agiliza e acelera o julgamento de processos disciplinares. Todavia alguns atos dependem da forma escrita como os termos de citação, intimação, denúncia, etc. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 63 O princípio da Economia Processual visa evitar que atos processuais desnecessários sejam praticados. Do contrário, a “máquina” judicial desportiva será dotada do gravame da morosidade, desviando-a plenamente de sua finalidade. Tal princípio é corolário do princípio implícito da instrumentalidade das formas. Em resumo, alguns atos se não praticados segundo uma forma pré-determinada não geram qualquer efeito, devendo ser repetidos ou até mesmo causando a nulidade de todo o processo. Entretanto, como se disse, o rigor com o formalismo não essencial pode comprometer a agilidade no alcance do fim do processo. Já a celeridade se deve às peculiaridades e dinamismo do desporto, à medida que decisões tardias ou infrações não apreciadas em tempo acarretam prejuízos irreparáveis ao sistema desportivo e, particularmente, às competições em frontal desobediência ao ordenamento jurídico. Além disso, é preciso lembrar que o constituinte elegeu o prazo de sessenta dias para a solução definitiva do litígio desportivo. Nesse contexto, será fácil verificar que a imensa maioria dos prazos processuais na esfera desportiva são incomparáveis à Justiça Comum, justamente pela observância do princípio ora sob exame. Motivação Motivação significa a exposição das razões de fato e de direito que serviram a providência adotada, qual seja a decisão. Tal determinação legal impõe que os votos dos auditores sejam adequadamente fundamentados, sendo ideal a expedição de ementas ou do resultado dos julgamentos e respectivo dispositivo legal fundamentador da decisão. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 64 Compete ainda ao auditor designado como relator, quando requerido pela parte, a expedição de acórdãos, preferencialmente no ato contínuo à respectiva sessão, revelando de maneira formal as razões que permearam a correspondente decisão. Esta tarefa constitui, na realidade, um desdobramento do princípio do devido processo legal, pois o denunciado necessita acessar, conhecer e compreender as razões da procedência ou não procedência de uma denúncia contra si formulada, possibilitando, assim o exercício do amplo direito de recurso, contrapondo-se aos fundamentos expedidos pelo colegiado a quo. Isso só é possível se a instrução processual e os fundamentos da decisão colegiada estiverem, de algum modo, consignados. A motivação dos atos decisórios de qualquer processo, inclusive o de natureza desportiva, é uma exigência para a manutenção da transparência do próprio Estado Democrático de Direito e privilegia os princípios da legalidade e da moralidade. A decisão sem a devida motivação carece de pressuposto de validade. Independência A Justiça Desportiva deve atuar com independência e autonomia das entidades de administração do desporto, sendo patente a existência de vinculação apenas de ordem econômica, porquanto a mantença da estrutura de tais instâncias compete as aludidas entidades. Com efeito, a dependência econômica dos tribunais desportivos junto a às respectivas entidades diretivas jamais deve prejudicar ou obstar a liberdade na análise de provas no processo desportivo, e o conseqüente o poder decisório. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 65 De outra parte, o princípio da independência também pode ser compreendido a partir de pressupostos de definitividade das decisões dos tribunais desportivos em razão de eventual julgamento do mesmo fato em outras instâncias. Razoabilidade e Proporcionalidade Além da previsão no rol de princípios do CBJD, o art. 39. do Decreto 7984/2013 que regulamenta a Lei Pelé, estabelece que “na aplicação das penalidades por violação da ordem desportiva, previstas no art. 48 da Lei nº 9.615, de 1998, além da garantia do contraditório e ampla defesa, devem ser observados os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade”. Eleger a razoabilidade como um princípio pode parecer impróprio, vez que se trata de uma “qualidade de razoável”. Para a Justiça Desportiva a razoabilidade é um predicado exigível dos membros das instâncias desportiva. Significa atuar com ponderação, bom senso e prudência ante a diversidade de situações deferidas ao encargo do julgador. Assim, condutas desarrazoadas, extravagantes ou eivadas pelo sentimento pessoal, não atingem a finalidade pretendida em lei sendo, portanto, ilegais. Como bem define Hely Lopes Meirelles a razoabilidade “... pode ser chamado de princípio da proibição de excesso que, em última análise, objetiva aferir a compatibilidade entre os meios e os fins, de modo a evitar restrições desnecessárias ou abusivas por parte da Administração, com lesão aos direitos fundamentais”.34 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 66 34 Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, 1999. A linha que divide a razoabilidade da proporcionalidade é, por demais, tênue. A margem de liberdade discricionária na apreciação das provas e convencimento, muitas vezes, conferida ao auditor não o autoriza a agir com excesso. Se assim o fizer, estará atuando em desconformidade com o pretendido em lei, caracterizando excesso de competência, desvio de finalidade e abuso no exercício do poder. Portanto, o manejo do poder decisório requer, daquele que está investido na função jurídico-desportiva, a exteriorização de atos coerentes e sensatos. Destarte, “o plus, o excesso acaso existente, não milita em benefício de ninguém. Representa, portanto, apenas um agravo inútil aos direitos de cada qual”.35 Tipicidade Desportiva As infrações disciplinares, que comumente encartam a parte material da codificação desportiva, devem ser avaliadas em rol exaustivo para efeitos de denúncias e julgamentos nas esferas desportiva. Em suma não há espaço para a definição de novas infrações ou desvalor de conduta que já não estejam adequadamente previstos nos respectivos códigos. Portanto, vi de regra, parte-se da premissa de que as condutas não previstas na parte material da codificação desportiva não são proibidas, não merecendo qualquer reprimenda no campo disciplinar. Outros ramos do Direito (Direito Penal, p.ex.) e outras normas são imprestáveispara fins de identificação e qualificação de infração disciplinar, e a responsabilização de agentes. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 67 35 Celso Antonio Bandeira de Mello, Curso de Direito Administrativo, 1999. Prevalência, Continuidade e Estabilidade das Competições (pro competitione) Alguns procedimentos especiais (v.g. impugnação de partida), bem assim o julgamento de determinadas infrações através do procedimento sumário, como a participação irregular de atletas (art. 214 do CBJD), acarretam profundo impacto na classificação de equipes e continuidade das competições. Nesse cenário, o auditor/julgador deverá ter sempre em mente que o trâmite processual, e muitas vezes a demora do autor em provocar a Corte Desportiva, poderá não produzir o resultado pretendidos pelo interessado. A perda de pontos, ou a designação de novas partidas, dentre outras sanções e providências, dependendo da fase da competição ao momento do julgamento na esfera desportiva, poderá não beneficiar diretamente o postulante. Isso não significa que o processo não deva ser julgado, ou haja a completa perda e comprometimento de seu objeto. Ao contrário, os vícios e infrações merecem rigorosa apuração, mas mesmo uma eventual desclassificação de equipes e outras conseqüências, poderá frustrar algumas expectativas. Desse modo, a agilidade em provocar a resposta dos tribunais desportivos é fundamental, ao mesmo tempo que auxilia para preservar os eventos de descontinuidades e desnecessárias paralizações. De outra parte, o auditor deve avaliar com critério os princípios em "jogo", não havendo que se falar no "pro competitione" para minimizar determinadas condutas infracionais. Ou seja, inexiste a possibilidade de relativizar a aplicação de sanção a um determinado atleta, que em tese deveria ser punido com suspensão por partida, mas Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 68 acaba sofrendo mera advertência ou penalidade de multa, ou convertida em pecúnia, por exemplo, ao desprovido fundamento de que é importante “ator” para o espetáculo desportivo. Muito ao contrário, além de desprestigiar a competição, mediante violação dos princípios de isonomia, legalidade e moralidade, estará aderindo a um verdadeiro modelo de “vale-tudo” contra a ética no desporto, colocando preço na indisciplina. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 69 IV. JUSTIÇA DESPORTIVA Conceito de Justiça Desportiva Justiça Desportiva é o conjunto de instâncias desportivas autônomas e independentes, considerados órgãos judicantes, que funcionam junto a entidades dotadas de personalidade jurídica de direito público36 ou privado37, com atribuições de dirimir os conflitos de natureza desportiva e de competência limitada ao processo e julgamento de infrações disciplinares em rito sumário ou procedimentos especiais definidos em códigos desportivos. Natureza jurídica dos órgãos judicantes No Brasil, os órgãos judicantes “desportivos” constituem elementos despersonalizados incumbidos da realização das atividades previstas na Constituição Federal, legislação desportiva, codificação desportiva e regimentos internos. Assim, quem possui capacidade postulatória é a respectiva entidade de administração ou, na hipótese de sistema desportivo público como adiante se verá, o órgão da Administração Pública promotora de eventos esportivos, o que afasta a suposta vinculação ou interesse do órgão judicante ou de seus membros em eventual “debate” no âmbito do Poder Judiciário. Esta situação pode ser comparada ao Poder Executivo e à Câmara municipais, que caracterizam plexos de competência, os quais, no caso, emanam da própria Constituição da República e, a par de, na Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 70 36 Órgãos da Administração Pública Federal, Estadual e Municipal, como Ministério do Esporte, Secretarias de Esporte, Autarquias, Fundações ou mesmo departamentos responsáveis pela atividade desportiva. 37 Comumente Confederações, Federações ou Ligas das diversas modalidades desportivas. estrutura constitucional, tratarem-se de Poderes instituídos, são denominados órgãos independentes, conforme lição de Hely Lopes Meirelles38: “Nessa categoria encontram-se as Corporações Legislativas (Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, Senado Federal, Assembléias Legislativas, Câmara de Vereadores), as Chefias de Executivo (Presidência da República, Governadorias dos Estados e do Distrito Federal, Prefeituras Municipais), os Tribunais Judiciários e os Juízes singulares (Supremo Tribunal Federal, Tribunais Superiores Federais, Tribunais Regionais Federais, Tribunais de Justiça e de Alçada dos Estados-membros, Tribunais do Júri e Varas das Justiças Comum e Especial). De se incluir, ainda, nesta classe o Ministério Público federal e estadual e os Tribunais de Contas da União, dos Estados e Municípios, os quais são órgãos funcionalmente independentes e seus membros integram a categoria dos agentes políticos, inconfundíveis com os servidores das respectivas instituições". Torna-se mesmo despiciendo ressaltar que, a despeito de gozar de autonomia para assuntos internos e de independência decisória, por força legal, os tribunais desportivos só podem ser reconhecidos como órgãos integrantes das respectivas entidades diretivas. Assim se constata quando (i) o artigo 23, I, da Lei n.º 9.615/98 estabelece que os estatutos da entidades de administração do desporto deverão obrigatoriamente regulamentar a instituição dos tribunais de justiça desportiva; (ii) o artigo 51 da Lei n.º 9.615/98 define que os órgãos da justiça desportiva são autônomos e independentes das entidades de administração do desporto; e, (iii) o artigo 3º do Código Brasileiro de Justiça Desportiva identifica a jurisdição de cada órgão da justiça desportiva à respectiva atribuição territorial da correspondente entidade de administração do desporto. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol, por exemplo, não é detentor de personalidade jurídica própria e, portanto, não se inclui na regra geral de legitimidade para ocupar o pólo ativo ou passivo de ações judiciais, incumbindo tal representação à entidade de Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 71 38 “Órgãos independentes são os originários da Constituição e representativos dos Poderes de Estado - Legislativo, Executivo e Judiciário (...)". (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 20. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1995, p. 66.). administração do desporto à qual encontra-se vinculado, qual seja a Confederação Brasileira de Futebol – CBF. Para além destas considerações, é preciso ordenar o argumento de que – apesar de não deter personalidade jurídica – o STJD poderia ser reconhecido como um órgão despersonalizado com capacidade de compor o pólo de uma lide, como ocorreria com o espólio ou o condomínio. É esclarecedora, neste sentido, decisão expedida pelo Superior Tribunal de Justiça, que reconhece: “(...). A ciência processual, em face dos fenômenos contemporâneos que a cercam, tem evoluído a fim de considerar como legitimados para estar em juízo, portanto, com capacidade de ser parte, entes sem personalidade jurídica, quer dizer, possuidores, apenas, de personalidade judiciária. 8. No rol de tais entidades estão, além do condomínio de apartamentos, da massa falida, do espólio, da herança jacente ou vacante e das sociedades sem personalidade própria e legal, todos por disposição de lei, hão de ser incluídos a massa insolvente, o grupo, classe ou categoria de pessoas titulares de direitos coletivos, o PROCON ou órgão oficial do consumidor, o consórcio de automóveis,as Câmaras Municipais, as Assembléias Legislativas, a Câmara dos Deputados, o Poder Judiciário, quando defenderem, exclusivamente, os direitos relativos ao seu funcionamento e prerrogativas. 9. Precedentes jurisprudenciais.”39 Os tribunais de justiça desportiva não estão incluídos no rol acima mencionado, especialmente porque a lei não lhe atribui a capacidade de ser parte. Não obstante, mesmo que se entenda que o rol elencado pelo Superior Tribunal de Justiça seja exemplificativo, é certo e irrefutável que a atribuição de legitimidade para compor o pólo de um litígio judicial para uma entidade despersonalizada está condicionado a que estas entidades estejam defendendo exclusivamente, os direitos relativos ao seu funcionamento e prerrogativas. Por isso, no precedente Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 72 39 Acordão Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Classe: ROMS – RECURSO ORDINARIO EM MANDADO DE SEGURANÇA – 8967. Processo: 199700675475 UF: SP Órgão Julgador: PRIMEIRA TURMA. Data da decisão: 19/11/1998 Documento: STJ000253086. Fonte DJ DATA:22/03/1999 PÁGINA:54 LEXSTJ VOL.:00120 PÁGINA:74. Relator(a) HUMBERTO GOMES DE BARROS. Decisão Por maioria, vencido o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. mencionado, a ementa menciona expressamente a ‘defesa de interesses institucionais próprios e vinculados a sua independência e funcionamento’40. Em regra, não há qualquer interesse próprio das instâncias desportivas, a não ser que em um dado caso concreto sejam debatidas questões inerentes à independência ou às prerrogativas do órgão judicante desportivo. Por outro lado, ainda que fosse possível atribuir aos órgãos judicantes a natureza de ente associativo, o que não se admite, remanesceriam dúvidas elementares, sobretudo aquelas ligadas a desvendar quem são os seus membros e quais foram as finalidades mútuas que justificaram a sua personalização. Levar a frente a Justiça Desportiva, conduzindo os procedimentos a ela inerentes, nem de longe se assemelha com qualquer finalidade legítima que, proveniente do arbítrio de qualquer sujeito, fosse capaz de justificar a reunião sob o manto associativo. Em termos mais fáceis de serem digeridos, a associação não dispensa a existência de uma finalidade mútua a ser perseguida pela reunião de forças, o que, ressalvada eventual ausência de senso elementar, não se mostra presente no caso dos tribunais desportivos. Ademais, parece ser preciso insistir: qual a tarefa desempenhada por um colegiado incumbido das mais valiosas funções de controlar a atividade esportiva por excelência do nosso País, que poderia se inserir no bojo dos "fins não lucrativos ou não econômicos", reclamados pela legislação civil? A resposta é uma só: nenhuma, pois Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 73 40 CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. AÇÃO POPULAR. ATO DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. PERSONALIDADE JURÍDICA. CAPACIDADE PROCESSUAL EM JUÍZO. DEFESA DE INTERESSES INSTITUCIONAIS PRÓPRIOS E VINCULADOS À SUA INDEPENDÊNCIA E FUNCIONAMENTO. ATUAÇÃO COMO SUBSTITUTO PROCESSUAL. PRECEDENTES. finalidade capaz de justificar uma associação é aquela palpável e perseguida pelo cidadão comum. A Justiça Desportiva e seu feixe de atribuições Alexandre Hellender de Quadros41 lembra que a Constituição de 1988 utiliza o termo ‘justiça’ sob dois sentidos. O primeiro sentido atribuído ao termo relaciona-se ao ideal, à justiça como um dos ‘valores supremos de uma sociedade fraterna’ (preâmbulo), um objetivo fundamental da República (art. 3º), um balizador da atividade econômica (art. 170). O segundo sentido tem caráter institucional, referindo-se aos órgãos do Poder Judiciário (arts. 93 e ss.), às funções essenciais do Ministério Público, da Advocacia Pública, da Advocacia e da Defensoria Pública (arts. 127 e ss.), à justiça de paz (art. 98, II) e à justiça desportiva (art. 217, §§1º e 2º). Sob o aspecto institucional, a justiça desportiva é composta por tribunais desportivos, cuja competência também se encontra imposta pelos parágrafos do art. 217, CF/88. Esses tribunais que compõem a justiça desportiva, ou simplesmente ‘tribunais de justiça desportiva’, não estão elencados como órgãos do Poder Judiciário (arts. 93 e ss., CF/88). A justiça desportiva constitui, portanto, um meio alternativo de solução de conflitos de interesse. Alternativo porque não vinculado ao Poder Judiciário que, para Ângelo Luiz de Souza Vargas “ao assumir fazer justiça com suas próprias leis, o desporto toma as rédeas de seu próprio Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 74 41 SCHMITT, Paulo Marcos (coord). Código Brasileiro de Justiça Desportiva Comentado. Ed. Quartier Latin, São Paulo, 2006; Justiça Desportiva vs. Poder Judiciário: Um conflito constitucional aparente. Alexandre Hellender de Quadros e Paulo Marcos Schmitt. Revista Brasileira de Direito Desportivo nº 04, IBDD, Imprensa Oficial, segundo semestre/2003. destino, inaugura sua autonomia e ratifica sua independência e sua especificidade diante dos outros Direitos”.42 A justiça desportiva não pertence ao Poder Judiciário, nem tampouco recebe o mesmo tratamento da arbitragem contratual. Os órgãos do Poder Judiciário gozam de prerrogativas e envergam atribuições específicas e delimitadas pela Constituição, notadamente quando a Carta Constitucional tutela o processo judicial. Apesar da referência doutrinária, por vezes mencionar que a Justiça Desportiva constituiria uma instância administrativa, é certo que o faz exclusivamente para diferenciá-la da instância jurisdicional. Em verdade, a justiça desportiva exerce sua atividade em âmbito estritamente privado sem qualquer influência de Direito Administrativo, salvo em hipóteses de tribunais desportivos que atuam perante órgãos públicos43. A arbitragem e a justiça desportiva são meios alternativos de solução de conflitos de interesse. De um lado, a arbitragem, que é opcional para as partes, que poderão (i) abdicar do Judiciário e definir a solução de seus conflitos por árbitros privados ou (ii) submeter-se à atividade jurisdicional do Estado. De outro, a justiça desportiva que, em regra, é pressuposto a ser esgotado antes que a parte mova o Poder Judiciário, composta de forma paritária pelos entes participantes da atividade desportiva. Resguardadas as distinções, arbitragem e justiça desportiva não tem poder para executar diretamente suas decisões, porque a força executiva, o monopólio do exercício da força, permanece inerente ao Estado. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 75 42 VARGAS, Ângelo Luiz de Souza. Desporto, Fenômeno Social. Rio de Janeiro: Ed. Sprint, 1995. p. 52. 43 Ver jurisprudência do Capítulo II, item 3.3.4. Os tribunais de justiça desportiva poderão apresentar natureza jurídica de direito público ou privado (pública ou particular). Terão natureza particular quando vinculados a entidades de administração do desporto (confederações, federações e ligas) e natureza pública quando vinculados a competições promovidas pelo Poder Público (União, Estados e Municípios). As entidades de administração do desporto, segundo definição da Lei n.º9.615/98, são pessoas jurídicas de direito privado (art. 16), enquanto os tribunais de justiça desportiva constituem unidades autônomas vinculadas a essas entidades de administração (art. 52). A justiça desportiva vinculada às entidades de administração do desporto, portanto, tem natureza privada e deve seguir a estrutura imposta pelos artigos 52 e seguintes da Lei n.º9.615/98. De outro lado,as pessoas jurídicas de direito público interno (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) podem instituir seus próprios sistemas desportivos e compor seus respectivos tribunais de justiça desportiva. Neste caso, considerando a vinculação com o Poder Executivo, estes órgãos da justiça desportiva serão regidos pelo regime de direito público. A Administração Pública de modo geral e o Ministério do Esporte em particular, integrantes do sistema brasileiro do desporto, não estão inseridos no sistema nacional como entidades de administração do desporto, pelo que é possível reconhecer-lhes completo descolamento da estrutura organizacional da Justiça Desportiva prevista pela Lei n.º9.615/98. Por certo, esta afirmação não leva à conclusão de que esteja deferido à Administração Pública, seja do nível federal, estadual ou municipal, ampla liberdade para instituir dispositivos de caráter normativo destinados a afastá-la das imposições da Constituição Federal e das Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 76 normas gerais sobre Justiça Desportiva impostas pela Lei n.º9.615/98. Na prática, a Constituição Federal e a lei geral sobre desportos não apenas alicerçam a atividade da Administração Pública na organização de eventos desportivos, como também concedem fundamento de validade para a elaboração de suas próprias codificações desportivas. Entretanto, União, Estados e Municípios que desenvolvem a prática do desporto no seu espectro de atuação (competições promovidas por entes públicos), não estão obrigados a reproduzir a estrutura organizacional dos órgãos da Justiça Desportiva tal qual previsto na Lei n.º9.615/98. Como aquela estrutura foi prevista para as entidades de administração do desporto e o regime jurídico administrativo prevê o poder regulamentar, é plausível que a Administração Pública estabeleça sua própria organicidade, de acordo com as peculiaridades de seus respectivos eventos, desde que respeitados os princípios gerais estabelecidos pela legislação de regência. Esta construção estabelece o apoio jurídico necessário ao reconhecimento de que à Administração Pública é deferido constituir seus próprios órgãos judicantes desportivos, cuja organização, funcionamento e atribuições também estarão definidos em códigos desportivos editados pela própria Administração Pública. Contudo, independente da natureza jurídica pública ou privada, a justiça desportiva tem sua competência delimitada na disciplina e nas competições desportivas. A Lei n.º9.615/98 aborda esta delimitação de funções, relacionando a competência da justiça desportiva às infrações disciplinares e às competições desportivas, previstas nos Códigos Desportivos. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 77 Autonomia e independência da Justiça Desportiva O artigo 52 da Lei nº 9.615/98 prevê uma estrutura orgânica de caráter hierárquico para os denominados órgãos integrantes da Justiça Desportiva, reconhecendo-os como entes “autônomos e independentes das entidades de administração do desporto de cada sistema”.44 A autonomia consiste na relação equilibrada com os demais poderes da entidade de administração do desporto (assembléia e diretoria), de forma similar ao que ocorre no sistema de freios e contrapesos entre os poderes estatais. Impõe-se o respeito às prerrogativas de cada órgão interno e o trato respeitoso recíproco. Esta autonomia dos órgãos integrantes da Justiça Desportiva se reflete, por exemplo, na aparente dependência físico-financeira destes em relação às entidades de administração do desporto (art 3º CBJD – custeio do funcionamento promovido na forma da lei). A dependência é adjetivada de aparente, visto que a diretoria da entidade de administração do desporto está obrigada a suprir as necessidades materiais dos órgãos da Justiça Desportiva, por força do § 4º do art. 50 da Lei 9615/98. Como se vê, a independência da Justiça Desportiva está relacionada à estruturação dos órgãos judicantes desportivos e, ainda, à absoluta independência decisória blindando os tribunais de toda e qualquer intervenção ou influência que se pretenda perpetrar através de atos emanados das entidades diretivas públicas ou privadas. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 78 44 Art. 52. Os órgãos integrantes da Justiça Desportiva são autônomos e independentes das entidades de administração do desporto de cada sistema, compondo-se do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, funcionando junto às entidades nacionais de administração do desporto; dos Tribunais de Justiça Desportiva, funcionando junto às entidades regionais da administração do desporto, e das Comissões Disciplinares, com competência para processar e julgar as questões previstas nos Códigos de Justiça Desportiva, sempre assegurados a ampla defesa e o contraditório. (Redação dada pela Lei nº 9.981, de 14.7.2000) A impossibilidade de qualquer interferência das entidades de administração do desporto (Confederações) na organização da Justiça Desportiva, é amplamente reconhecida pela própria jurisprudência do STJD do Futebol : “EMENTA: AUDITORES. MANDATO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DESPORTIVA. Compete a Justiça Desportiva apreciar matéria relativa a sua organização e funcionamento a teor do previsto no Art. 217 da Constituição Federal de 1988; Art. 50 da Lei n° 9.615/98 com as modificações que lhe foram introduzidas pela Lei n° 9.981/00 e Lei n° 10.672/2003 e Resolução n° 01/03 do CNE – Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD”.45 Destaca-se que o mesmo raciocínio (autonomia das instâncias desportivas) consta de decisões no âmbito do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Senão vejamos: “DECISÃO (...) A conclusão imediata que se retira dessa leitura é que, face à ausência de excepcional autorização legal, são vedadas as ingerências no STJD. Por isso, não pode a CBF pretender conduzir o processo de composição do Tribunal e declarar instalado o mesmo, desempenhando função de repercussão direta na administração do STJD. (...) Como se depreende dos artigos citados, cabe ao STJD declarar a vacância do cargo de auditor (como no caso de falecimento, p. ex.), atribuindo-se, então, ao presidente do Tribunal dar ciência da referida vacância à entidade indicante. Mais do que razoável ultrapassar a leitura restritiva desses dispositivos para entender como “caso de vacância” o término do mandato dos auditores, cabendo, assim, ao presidente do Tribunal convocar as entidades enumeradas nos incisos do art. 55 da Lei nº 9615/98, receber as respectivas indicações e instalar o Tribunal. Afinal, é também atribuição do presidente do Tribunal dar posse aos auditores. Por conseguinte, no atual ordenamento normativo, à entidade de administração do desporto é facultado tão-somente apresentar os seus indicados ao STJD, como previsto no inciso I do art. 55 da Lei nº 9615/1998. O que for além desses limites é excesso de competência”.46 “DECISÃO (...) Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 79 45 STJD. MG 20/04. Rel. Paulo Marcos Schmitt. J.01/04/2004 46 Processo n° 2004.209.005843-0, Medida Cautelar, Juízo de Direito da 4ª Vara Cível da Comarca do Estado do Rio de Janeiro. 8. De acordo com o Código Brasileiro de Justiça Desportiva, artigo 9º, o presidente do STJD, dentre suas atribuições, deve zelar pelo perfeito funcionamento da Justiça Desportiva. 9. E mais. Como não há Regimento Interno regularizador da eleição do presidente e do vice-presidente daquele Tribunal, conforme prescreve o artigo 8º, do Código de Justiça Desportiva, em importância se avulta a responsabilidade do presidente em exercício na garantia da transição de seus membros. 10. Inegável, portanto,se reconheça, na hipótese dos autos, que, para o perfeito funcionamento da Justiça Desportiva, deve o presidente do STJD promover as medidas cabíveis para a composição do referido órgão judicante. (...) 14. Portanto, não cabe à Confederação Brasileira de Futebol – CBF considerar instalado e composto o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, conforme fizera em Portaria PRE nº 11/2004, vez que não é sua atribuição legal, não havendo qualquer permissivo que a permita tal ingerência, muito ao contrário. Desta forma, irregular e ilegal os atos por ela praticados para o fim de promover, manu militare, a transição do órgão Judicante Maior.”47 Sobre a autonomia e independência dos órgãos da Justiça Desportiva, confira-se Álvaro Melo Filho, in “Novo Regime Jurídico do Desporto”, Brasília Jurídica, Brasília, 2001: “Com a autonomia (face interna) e a independência (face externa) realçadas, pretende-se colocar os órgãos da Justiça Desportiva protegidos de subordinação ou sujeição aos demais poderes da entidade de administração de desporto, seja estadual, seja nacional”. (p. 197) O eminente mestre vai além e, na obra “Direito Desportivo. Aspectos Teóricos e Práticos”, destaca o princípio da proteção da Justiça Desportiva, inclusive sugerindo propostas para alteração da legislação atual que reduzam a sua dependência econômica: “f) Princípio da proteção da justiça desportiva – retratada em ditames da Constituição Federal e na legislação vigorante que albergam órgãos judicantes dotados de efetiva independência e autonomia, de procedimentos que garantam e imediatidade, celeridade e transparência nas decisões e de um conjunto de apenações especialmente incidentes sobre a disciplina e competições desportivas, impondo-se, ainda, o prévio exaurimento ou cogente esgotamento das instâncias da Justiça Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 80 47 Processo n° 2004.001.006333-3, Ação Declaratória, Comarca da Capital, 5ª Vara Cível Regional da Barra da Tijuca. Desportiva para que as demandas desportivas possam ser admitidas na Justiça Comum. 48 ... 19) A Justiça Desportiva é contemplada no art. 217, §§ 1º e 2º do Texto Constitucional, porquanto desempenha relevante função educacional- disciplinadora no contexto desportivo, sobretudo em face de dois aspectos: a) a especificidade da codificação desportiva e as peculiaridades das normas e regras promanadas dos entes desportivos, aliadas à impreparação e insensibilidade dos tribunais comuns para sua adequada compreensão; b) as exigências de celeridade decisória no âmbito das competições desportivas e o receio da inexistência de pronta e tempestiva resposta dos órgãos da Justiça Comum. A Justiça Desportiva insculpida na Lei nº 9.615/98, tem um concepção dilargada e ajustada à instável e complexa realidade jusdesportiva, estando a exigir, apenas, pequenos ajustes. Por exemplo, a previsão recursos financeiros oriundos de um fundo a ser constituído destinados à manutenção e funcionamento da Justiça Desportiva é uma regra salutar e de amplo espectro, posto que, além da autonomia, asseguraria, de fato, total independência financeira, administrativa e técnica dos órgãos judicantes desportivos.”49 Nessa esteira, não se pode admitir que os órgãos da Justiça Desportiva sejam ignorados ou desrespeitados e, ainda que desfrute da autonomia atribuída pela Constituição Federal às entidades de administração do desporto, reitera-se, seria inadmissível reconhecer que entidades dirigentes públicas ou privadas gozassem de prerrogativa capaz de superar a normatização expedida pelo Poder Público. Com efeito, a autonomia consiste apenas em – e não mais do que – a discricionariedade autorizada dentro dos limites estipulados pela norma aplicável. Neste ponto, não apenas o princípio da hierarquia fundamentaria a superioridade da norma editada pelo Poder Público (Códigos de Justiça Desportiva). Trata-se, retornando ao aspecto da Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 81 48 FILHO, Álvaro Melo. Direito Desportivo. Aspectos Teóricos e Práticos. Thomson / IOB, São Paulo-SP, 2006, p 91. 49 Op. Cit., pp. 103-104 competência, do reconhecimento de que a norma superior identifica o órgão competente para editar a normatização inferior. A autonomia não se revela em instrumento capaz de distorcer a hierarquia das normas e/ou desvirtuar a atribuição de competência estabelecida pelo ordenamento jurídico. Repisamos: a autonomia deferida pela Carta Constitucional às entidades de administração do desporto não significa independência do ordenamento jurídico. Mesmo autônomas, ou melhor, exatamente porque autônomas, suas regulamentações internas dependem de limites impostos pela legislação. E essa autonomia conferida às entidades diretivas é que possibilita o exercício de um poder decisório ex-officio e interna corporis. No entanto, como repisado, a sobredita autonomia encontra limites na lei, não podendo o dirigente desportivo ou a diretoria de entidade de administração invadir a competência dos órgãos judicantes, por exemplo. Uma prática absolutamente distorcida e abusiva em competições de algumas modalidades desportivas tem se revelado nos seus regulamentos, através das chamadas “medidas disciplinares automáticas”, fixando penalidades sem que haja processo e julgamento por instâncias desportivas. Nesse sentido, é perfeita a observação de Alexandre Hellender de Quadros: “Outro problema enfrentado pelos tribunais de justiça desportiva consiste na cons tan te t en ta t i va de i n te r fe rênc ia na compe tênc ia constitucionalmente atribuída àqueles órgãos. A previsão regulamentar de aplicação de penalidades disciplinares automáticas – impostas diretamente pela entidades de administração do desporto, sem o respeito ao devido processo legal – é recorrente e preocupante. Em verdade, de acordo com o disposto no art. 48, da Lei n° 9.615/98, as entidades de administração desportiva somente podem aplicar as sanções de advertência, censura escrita, multa, suspensão, desfiliação ou Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 82 desvinculação para manter a ordem desportiva com relação ao respeito aos atos emanados de seus poderes internos, não existindo previsão legal para aplicação de sanção ao cometimento de infrações disciplinares, prerrogativa exclusiva da justiça desportiva. Trata-se de preservar a prerrogativa constitucional, como um meio de permitir que a solução de conflitos de interesse seja realizada de forma justa e juridicamente adequada, evitando-se o arbítrio e a lesão a direitos dos desportistas.”50 As medidas automáticas em referência são, portanto, flagrantemente inconstitucionais, porquanto é consabido que a matéria disciplinar ou de competição é de exclusiva e reservada competência da Justiça Desportiva. Inácio Nunes ao comentar o tema da ordem desportiva destaca “que a lei andou bem, sendo a atual cópia da anterior, por não me parecer justo que se cumpra uma pena conseqüente de uma condenação antes de se esgotarem todos os meios e modos, principalmente os recursos judiciais, de que se possa valer o indiciado para provar não merecer tal apenação. Portanto, quando a pena imposta por uma entidade de administração do desporto ou por uma entidade de prática desportiva for de suspensão (inciso IV) ou desfiliação ou desvinculação (inciso V), essa pena só poderá ser aplicada após o trânsito em julgado da sentença definitiva proferida pela Justiça Desportiva.” 51 Como se denota, as demais ações que visem restabelecer o respeito aos poderes internos das entidades, ou mesmo quanto a aspectos incidentes sobre cumprimento de regras e regulamentos, podem ser objeto de algumas providências ou aplicação desanções nos termos dos arts. 48 e 49 da Lei 9.615/98 que, mesmo nas de maior gravidade, Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 83 50 Texto apresentando na XIX CONFERÊNCIA NACIONAL DOS ADVOGADOS. República, poder e cidadania. Painel Direito Desportivo. Justiça Desportiva: Princípios e problemas. Alexandre Hellender de Quadros e Paulo Marcos Schmitt. 51 NUNES, Inácio. Lei Pelé – Comentada e Comparada Lei Pelé x Lei Zico. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 1998. pp. 60. devem ser definitivamente julgadas pelos respectivos órgãos da Justiça Desportiva mediante procedimento especial previsto pelo CBJD. E foi justamente nessa linha de raciocínio que a regulamentação da Lei, através do Decreto 7984/2013, em seu art. 38 prevê que a aplicação de qualquer penalidade prevista nos incisos IV ou V do “caput” do art. 48 da Lei nº 9.615, de 1998, exige decisão definitiva da Justiça Desportiva, limitada às questões que envolvam infrações disciplinares e competições desportivas, em observância ao disposto no § 1º do art. 217 da Constituição. E mais, o referido diploma normativo não se limitou a fixar regras restritivas sobre a aplicação de sanções pelas entidades diretivas. Foi muito além! Estabeleceu no seu art. 32 que, para a celebração do contrato de desempenho, dentre outras exigências, será preciso que as entidades de administração interessadas na obtenção de recursos públicos, sejam regidas por estatutos que disponham expressamente sobre o funcionamento autônomo e regular dos órgãos de Justiça Desportiva referentes à respectiva modalidade, inclusive quanto a não existência de aplicação de sanções disciplinares através de mecanismos estranhos a esses órgãos. É uma resposta clara e objetiva aos desmandos e soluções de “penada” que muitas entidades diretivas encontram para punir sem julgamento, em matéria de disciplina e competição. Seja qual for a sanção, revela prática da centralização de poder em matéria absolutamente estranha e diversa da prevista às suas atribuições estatutárias e normativas. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 84 V. ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA NA JUSTIÇA DESPORTIVA Códigos de Justiça Desportiva - aplicabilidade e abrangência Existem vários instrumentos displinares, mais conhecidos por Códigos de Justiça Desportiva, que regulam a atividade desportiva com vistas à aplicação de sanções de natureza disciplinar. A diferenciação entre um ou outro codex fica por conta da sua aplicabilidade e abrangência conforme o respectivo sistema desportivo - público ou privado. E a codificação é editada conforme previsão legal, normalmente remetendo ou delegando competência a ato administrativo ou resolução de órgão colegiado consultivo, normativo, deliberativo e de assessoramento de órgãos do Poder Executivo da União, Estados e Municípios, como os diversos Conselhos de Esporte. Alguns constitucionalistas “de plantão” que não economizam em criticar a forma pela qual os Códigos de Justiça Desportiva são editados (via de regra, mediante Resolução de órgãos colegiados, como conselhos de esporte) esquecem que a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 217, § 1º, define que ao Poder Judiciário é facultado o exame de matéria relativa à disciplina e competições após o esgotamento das instâncias da Justiça Desportiva, quando até então toda matéria a ela restringia-se. Com o intuito de normatizar a previsão Constitucional, editou-se a Lei nº 9.615 de 24 de março de 1998 onde em seu artigo 50 delimitou sua atuação jurisdicional limitando-a, neste aspecto, às matérias relativas ao processo e julgamento das infrações disciplinares e às competições, definindo que sua forma de organização e funcionamento seriam aquelas previstas em Códigos Desportivos que Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 85 deveriam observar critérios fixados na própria lei, como a forma de composição de seus quadros. Já o artigo 52 da referida lei dotou a Justiça Desportiva de autonomia e independência das entidades de administração do desporto ficando, elas, única e exclusivamente com a responsabilidade de prover o custeio das despesas para o funcionamento dos Órgãos Judicantes, regra esta inserta no § 4º do artigo 50. Denota-se, pois, que a Constituição Federal colocou como pré-requisito para o acesso ao Poder Judiciário o esgotamento da Justiça Desportiva em matéria disciplinar e de competições, enquanto a Lei nº 9.615/98, com as modificações introduzidas pela Lei nº 9.981/2000 e Lei nº 10.672/2003, definiu e separou a atuação da Justiça Desportiva em atuação administrativa, que seriam aquelas previstas no Código quanto a sua organização e funcionamento e, atuação jurisdicional, que limitar-se- ia ao processo e julgamento das infrações disciplinares e às competições. Dentro de tais normas é que o Conselho Nacional de Esportes – CNE - pelo o poder que lhe foi conferido pelo artigo 11 da citada Lei nº 9.615/1998, com os acréscimos daquelas que a sucederam, editou o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). Então, foi a própria Lei que inseriu no espectro de competência do CNE, no âmbito daqueles que compõem o Sistema Nacional do Desporto, a edição, atualização e reformulação da codificação desportiva. O legislador optou, portanto, em prestigiar um órgão representativo do segmento desportivo e da sociedade civil – in casu CNE em matéria de Código de Justiça Desportiva – ou invés de submeter o assunto ao regular processo legislativo, que poderia redundar em discussões infindáveis no Congresso Nacional em torno de um tema Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 86 que a própria Constituição reconheceu a necessidade de uma Justiça especializada, a Justiça Desportiva. Ademais, como consabido, os atos de sanção ou veto, no processo legislativo, são formas de intervenção do Executivo no procedimento de elaboração da lei52. Sobre o tema, João Jampaulo Júnior53 lembra que “a sanção e a promulgação são atos terminativos, finais, do processo legislativo, que resultarão na formação da nova lei. (...) O veto somente poderá ser aposto pelo Chefe do Executivo quando este considerar o projeto inconstitucional, ilegal ou contrário ao interesse público, em mensagem fundamentada.” O ato de sanção ou veto no processo legislativo é um ato eminentemente político, consubstanciado na concordância ou recusa, total ou parcial, na aprovação de um projeto de lei. Nessa linha de raciocínio, é imperioso dizer que esse ato político, quando a matéria em lume é o desporto, costuma revestir-se de muita polêmica, notadamente diante da manifestação do desporto profissional - futebol. Não é de hoje que o Executivo Federal tenta modificar a legislação existente nesse campo “minado” ou “movediço” da paixão nacional, eivado de interesses contrapostos e dotados de muita obscuridade. Em suma, não há que se falar em inconstitucionalidade deste ou daquele Código apenas porque não decorreu de projeto de lei aprovado pelas Casas Legislativas, mesmo porque, conforme dispõe a própria Carta Magna, o controle de constitucionalidade é feito pelo Poder Judiciário (no critério difuso, pelos juízes de primeiro grau e no critério Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 87 52 Cléve, Clémerson Merlin. Atividade Legislativa do Poder Executivo. 2ª ed., Editora RT, São Paulo, 2000, p.110. 53 Júnior, João Jampaulo. O Processo Legislativo Municipal. Editora LED, São Paulo. p.114 a 117. concentrado pelo Supremo Tribunal Federal), não havendo previsão de existência desse controle pelo Poder Executivo. Acrescentamos a esse argumento, a constatação de que não há, noordenamento jurídico, autorização para que o administrador deixe de aplicar a lei que entenda confrontar a Constituição da República. Mas sim, muito pelo contrário, a determinação constitucional é no sentido de que todas as leis vigentes devem ser aplicadas, pois são consideradas constitucionais até o momento em que sejam formalmente declaradas inconstitucionais pelo órgão competente. E não se tem notícia de que o art. 11 da Lei nº 9.615/1998 que fixa a competência do Conselho Nacional de Esporte para aprovação dos Códigos de Justiça Desportiva e suas alterações tenha sequer sido objeto de ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade). Aliás, as atribuições do CNE exigem a presença plural dos segmentos que constituem o Sistema Brasileiro do Desporto e o Sistema Nacional do Desporto, servindo para auxiliar o Executivo no cumprimento de suas finalidades precípuas, ou seja, na orientação e implementação de uma Política Nacional do Esporte, dentre outras atribuições conferidas por lei, o que legitima sobremaneira os Códigos de Justiça Desportiva por ele aprovados. Superada a questão da constitucionalidade da codificação desportiva pátria, os Códigos que elegemos como referência para o nosso estudo são: • CBJD - Código Brasileiro de Justiça Desportiva (Resolução nº 01/2003 alterada pelas Resoluções nº 11/2006 e 29/2009 do Conselho Nacional do Esporte – CNE); • CNOJDD – Código Nacional de Organização da Justiça e Disciplina Desportiva - Ministério do Esporte; Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 88 • COJDD – Código de Organização da Justiça e Disciplina Desportiva – Governo do Paraná – Resolução nº 03/2006 do Conselho Estadual do Esporte e Lazer; • CBJDE - Código Brasileiro de Justiça Desportiva para o Desporto Educacional (projeto ainda em tramitação para aprovação em 180 dias pelo CNE - exigência do art. 60 do Decreto 7984 de 08 de abril de 2013). Além dos Códigos acima, é preciso registrar que a existência de Códigos de Justiça Desportiva em órgãos governamentais de Estados e Municípios encontra respaldo no art. 25 da Lei 9.615/9854, e também da proposta que tramita na Comissão de Estudos Jurídicos do Ministério do Esporte, qual seja o Código Brasileiro de Justiça Desportiva para o Desporto Educacional - CBJDE, que nos termos do art. 60 do Decreto 7984/2013, se revela uma exigência para fins de aprovação em 180 dias pelo CNE, ouvidas as Confederações Brasileiras de Desporto Universitário (CBDU), e Desporto Escolar (CBDE). O art. 8o. do Decreto 7.984/2013 reforça a autonomia dos entes federados e municipalidades à criação de seus próprios sistemas desportivos, o que inclui a estrutura orgânica e codificação para as instâncias desportivas municipais e estaduais vinculadas ao Poder Público: Art. 8o. A relação entre o Sistema Brasileiro do Desporto e os sistemas de desporto dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios observará o princípio da descentralização, com organização e funcionamento harmônicos de sistemas desportivos diferenciados e autônomos de cada ente federativo. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 89 54 Art. 25. Os Estados e o Distrito Federal constituirão seus próprios sistemas, respeitadas as normas estabelecidas nesta Lei e a observância do processo eleitoral. Parágrafo único. Aos Municípios é facultado constituir sistemas próprios, observadas as disposições desta Lei e as contidas na legislação do respectivo Estado. Nesse sentido, Giovani Rodrigues Mariot e Alexandre Beck Monguilhott explicam que “em vista de tal permissivo é que existe o Sistema Catarinense, fomentado e sustentado pelo Estado de Santa Catarina e regulado pela Lei Estadual nº 9.808, de 26 de dezembro de 1994. Vale dizer que em Santa Catarina as competições promovidas e desenvolvidas pela FESPORTE – Fundação Catarinense de Desporto – que é parte integrante do Sistema Catarinense – estão sujeitas à jurisdição do TJDSC e têm como regramento disciplinar aplicável um código próprio. Não por mero capricho, mas, visando atender as peculiaridades dos eventos promovidos no Sistema Catarinense, é que o Legislador Barriga Verde optou por criar regramento disciplinar próprio, não se sujeitando ao CBJD, o que não gera nenhuma ilegalidade ou contradição, mas uma necessidade. Vale ressaltar, aliás, que este sistema, a exemplo do Sistema Nacional sujeito ao CBJD, também contempla, além dos princípios constitucionais da ampla defesa, do contraditório e do duplo grau de jurisdição, dentre outros princípios codificados como a oralidade, razoabilidade, publicidade, etc.”55 Os Códigos de Justiça Desportiva indicam, logo nos seus primeiros dispositivos, quais são os seus destinatários, sendo certo que abrangem especificamente o desporto de prática formal, conceituado pela legislação infraconstitucional (art. 1º, parágrafo 1º da Lei 9.615/98) como aquele regulado por normas nacionais e internacionais e pelas regras de prática desportiva de cada modalidade, aceitas pelas respectivas entidades nacionais de administração do desporto (mais conhecidas por Confederações). O Código Brasileiro de Justiça Desportiva - CBJD delimitava a sua aplicabilidade basicamente às pessoas físicas ou jurídicas filiadas ou Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 90 55 MARIOT, Giovani Rodrigues (Organizador). OAB em Movimento. Florianópolis: Ed. OAB/ SC, 2006. p. 271. vinculadas às entidades que compõe o Sistema Nacional do Desporto, assim delineado no parágrafo único do art. 13 da Lei 9.615/98: “Art. 13 (...) ... Parágrafo único. O Sistema Nacional do Desporto congrega as pessoas físicas e jurídicas de direito privado, com ou sem fins lucrativos, encarregadas da coordenação, administração, normalização, apoio e prática do desporto, bem como as incumbidas da Justiça Desportiva e, especialmente: I - o Comitê Olímpico Brasileiro-COB; II - o Comitê Paralímpico Brasileiro; III - as entidades nacionais de administração do desporto; IV - as entidades regionais de administração do desporto; V - as ligas regionais e nacionais; VI - as entidades de prática desportiva filiadas ou não àquelas referidas nos incisos anteriores.” Com a reforma do texto do CBJD, através da Resolução CNE 29/2009, ocorreu um verdadeiro detalhamento dessa abrangência, senão vejamos: Art. 1º. (...) § 1º Submetem-se a este Código, em todo o território nacional: (AC). I - as entidades nacionais e regionais de administração do desporto; (AC). II - as ligas nacionais e regionais; (AC). III - as entidades de prática desportiva, filiadas ou não às entidades de administração mencionadas nos incisos anteriores; (AC). IV - os atletas, profissionais e não-profissionais; (AC). V - os árbitros, assistentes e demais membros de equipe de arbitragem; (AC). VI - as pessoas naturais que exerçam quaisquer empregos, cargos ou funções, diretivos ou não, diretamente relacionados a alguma modalidade esportiva, em entidades mencionadas neste parágrafo, como, entre outros, dirigentes, administradores, treinadores, médicos ou membros de comissão técnica; (AC). VII - todas as demais entidades compreendidas pelo Sistema Nacional do Desporto que não tenham sido mencionadas nos incisos anteriores, bem como as pessoas naturais e jurídicas que lhes forem direta ou indiretamente vinculadas, filiadas, controladas ou coligadas. (AC). Resta claro portanto que a estrutura orgânica proposta pela legislação de regência ao CBJD vincula-se exclusivamente às competições organizadas pelas chamadas entidades de administração do desporto (Confederações e Federações) e eventuais ligas, porquanto a própria lei Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 91 exclui, emseu art. 51, a incidência de tais regras de Justiça Desportiva aos Comitês Olímpico e Paralímpico. Já Códigos como CNOJDD (que acabará sendo sucedido pelo CBJDE), COJDD/Pr e outros, criados e vinculados diretamente a entidades de personalidade jurídica de direito público, aplicam-se, “via de regra”, tão-somente a pessoas físicas e jurídicas participantes, direta ou indiretamente, de competições promovidas pelos próprios órgãos da Administração Pública de qualquer esfera ou poder da União, Distrito Federal, Estados e Municípios, conforme o caso. Diz-se via de regra porque o Comitê Olímpico Brasileiro - COB, mesmo sendo uma entidade privada mas que, como dito, não se submete às normas da Lei 9.615/98 previstas para a Justiça Desportiva, adota o CNOJDD às Olimpíadas Colegiais56. No mesmo sentido, é perfeitamente possível que entes públicos de Estados e Municípios optem por não criar uma codificação específica, mas elejam formalmente determinado Código como o instrumento que regulará suas competições. O que não poderá ocorrer no desporto de rendimento é uma entidade privada que integra o Sistema Nacional do Esporte aplicar um código que não o CBJD, porquanto não há permissivo legal para tanto. O mesmo ocorrerá com o desporto educacional, que deverá observar o CBJDE (Código Brasileiro de Justiça Desportiva para o Desporto Educacional) ainda a ser aprovado pelo CNE por força do parágrafo 2º. do art. 11 do Decreto No 7.984/2013 (vide legislação complementar no anexo). Em outras palavras, a liberdade de criação ou utilização de um instrumento disciplinar (Código de Justiça Desportiva) existente se restringe a manifestação do desporto de participação e aos órgãos como Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 92 56 Fonte: www.cob.org.br Governo da União, Estados, Distrito Federal, Municípios e, eventualmente e conforme o caso, ao Comitê Olímpico e Paralímpico Brasileiro que, na hipótese de organizarem eventos classificados como desporto educacional, poderão ser obrigados à observância do CBJDE. De todo modo, a Justiça Desportiva, repita-se, é composta por um conjunto de instâncias desportivas atreladas à jurisdição e territorialidade das entidades organizadores ou promotoras das competições, com atribuições de dirimir os conflitos de natureza desportiva e de competência limitada ao processo e julgamento de infrações disciplinares definidas em códigos desportivos. A experiência do Paraná Aliado ao presente estudo, utilizaremos para fins didáticos e metodológicos como paradigma de sistema estadual do desporto (art. 25 da Lei 9.615/98), o Código de Organização da Justiça e Disciplina Desportiva – COJDD do Governo do Paraná que serviu, tanto de modelo para a criação do CNOJDD às competições do Governo Federal, como para auxiliar nas propostas de unificação e alteração do CBJD (Confederações, Federações, Clubes, Ligas etc - entidades privadas). A idéia é trazer à colação uma codificação para servir de espelho para Estados e Municípios que ainda não tenham, sob o panorama disciplinar, criado seus sistemas desportivos. A Justiça Desportiva da Administração Pública do Paraná é também resultante do incansável trabalho de Renato Geraldo Mendes e a escolha da referida codificação (COJDD), cujo texto original é de sua autoria, pautou-se pela experiência prática regional, demonstrada ao longo de mais de quinze anos de sua evolução. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 93 O Prof. Dr. Alberto Puga Barbosa faz o retrospecto histórico da contribuição do Paraná no cenário da Justiça Desportiva, lembrando a origem do Código Nacional de Organização da Justiça e Disciplina Desportiva (CNOJDD): “A experiência do Estado do Paraná nas competições de natureza pública, a exemplo da obra de Schmitt, Quadros, Binhara e Silva (1996), ganha cenário nacional nos VI Jogos da Juventude, Goiânia, julho de 2002, quando é aplicado pela primeira vez o Código Nacional de Organização da Justiça e Disciplina Desportiva (CNOJDD) num trabalho proposto por Schmitt e Quadros (2002), para as competições organizadas pelo Poder Público Federal, em especial, o atual Ministério do Esporte e sua divulgação junto às delegações do estados brasileiros, partícipes daquelas competições.” 57 Atualmente, é inconteste que o Poder Público é o promotor de eventos esportivos com o maior número de participantes. Exemplo disso, independente da nomenclatura, são os Jogos Abertos, Jogos da Juventude e Jogos Escolares, competições poliesportivas que ocorrem na maioria dos Estados e Municípios do Brasil. Somente no Paraná, em competições promovidas apenas pelo Estado, são mais de 40.000 pessoas envolvidas nas mais variadas fases regionais e finais. Tais competições assumem características muito próprias, mais precisamente pelas suas condições de participação, número de modalidades, formas de disputa e o seu período ininterrupto de realização. O regulamento desse tipo de competição é um contrato entre os participantes e os respectivos promotores, entes públicos e, como todo contrato, faz lei entre as partes. Com isso, é forçoso que seja adotada uma estrutura própria para que sejam dirimidos os casos disciplinares decorrentes desse tipo de competição, onde há um envolvimento direto da Administração Pública. No caso do Paraná, a Justiça Desportiva desse tipo de competições já está totalmente consolidada. Em atividade desde Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 94 57 Texto integrante do material didático do I Congresso Nacional de Justiça Desportiva: Curitiba/Pr, 16 a 18/11 de 2005. 1988, possui organização e funcionamento comprometidos com a mais adequada administração da justiça, orientando, fiscalizando, processando e julgando as questões de natureza disciplinar.58 A experiência paranaense aliou, há mais de uma década, acadêmicos e profissionais de Direito e Educação Física em um movimento de estruturação que ampliou os horizontes da gestão esportiva, pois alcançou de forma legítima a regulação das atividades desportivas, reduzindo drasticamente a violência e disponibilizando aos participantes dos seus eventos a segurança jurídica necessária, através da interpretação dos dispositivos disciplinares e regulamentares. Ana Paula Myszczuk ressalta a importância da composição dos tribunais desportivo do sistema desportivo do Estado do Paraná por profissionais da Educação Física: “Há que se destacar, também, a importante participação dos profissionais de Educação Física nos tribunais do poder público no Estado do Paraná. Isto permite ao profissional de Direito um diálogo interdisciplinar, travando contato com outro tipo de conhecimento desportivo, o técnico-científico. Desta maneira, é oportunizada a oxigenação das bases fundamentais do profissional da área jurídica, com elementos externos à sua a própria ciência, podendo remodelar sua atuação com o objetivo de atender às respostas da sociedade em favor de uma ordem social e jurídica mais justa.”59 Atualmente, a estruturação aplicada pelo modelo paranaense permite que a indisciplina e a violência sejam punidas de forma célere, sem prejudicar a organização do evento e sempre respeitados os princípios de contraditório e ampla defesa. A experiência demonstra que o órgão julgador pode abranger todas as modalidades desportivas desenvolvidas durante o evento. Daí um dos elementos que Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 95 58 SILVA, João Bosco e SCHMITT, Paulo Marcos. Entenda o Projeto Pelé. LIDO: Londrina/Pr, 1997, p. 93. 59 O papel dos Tribunais de Justiça Desportiva do Governo do Estado do Paraná na formação dos profissionais queatuam na área do Direito Desportivo. Texto integrante do material didático do I Congresso Nacional de Justiça Desportiva: Curitiba/Pr, 16 a 18/11 de 2005. impossibilitam a adoção da estrutura e composição de tribunais desportivos propostas pelos arts. 50 e seguintes da Lei 9.615/98. Da mesma forma, as questões de interpretação do próprio Código e do Regulamento da competição, em casos concretos e no âmbito do Poder Público, são deferidas ao órgão julgador, transmitindo segurança jurídica às pessoas físicas e jurídicas participantes. Assim, a codificação que ora emprestamos à análise e que encontra respaldo na organização e funcionamento da Justiça Desportiva do Paraná, é exemplo de seriedade, serenidade, celeridade e reconhecimento no âmbito do desporto organizado, coordenado ou supervisionado pelo Poder Público Estatal, tendo julgado mais de três mil processos disciplinares desde o seu nascedouro e culminando com a queda vertiginosa em mais de 60% das punições a pessoas físicas entre 1.988 e 2.005, conforme demonstra o gráfico a seguir. 0 75 150 225 300 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 Quadro de Puniçoes - Pessoas Físicas QUADRO DE PUNIÇÕES - PESSOAS FÍSICASQUADRO DE PUNIÇÕES - PESSOAS FÍSICASQUADRO DE PUNIÇÕES - PESSOAS FÍSICASQUADRO DE PUNIÇÕES - PESSOAS FÍSICASQUADRO DE PUNIÇÕES - PESSOAS FÍSICASQUADRO DE PUNIÇÕES - PESSOAS FÍSICASQUADRO DE PUNIÇÕES - PESSOAS FÍSICASQUADRO DE PUNIÇÕES - PESSOAS FÍSICASQUADRO DE PUNIÇÕES - PESSOAS FÍSICASQUADRO DE PUNIÇÕES - PESSOAS FÍSICAS Ano 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 Punidos 287 277 176 193 172 75 74 98 77 Ano 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Punidos 80 65 70 72 68 70 75 90 89 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 96 A avaliação da Justiça Desportiva do Governo do Paraná consta de trabalho de conclusão de curso de Mauro Myskiw, publicado em parte na forma de artigo na versão impressa do CNOJDD60 e aponta as seguintes conclusões e resultados: “Resumo: Este estudo teve como objetivo analisar a percepção da Comunidade Esportiva Paranaense sobre o trabalho dos Tribunais de Justiça Desportiva nos Jogos Oficiais do Paraná. Para tanto, foram abordadas 603 pessoas, dentre eles atletas (292), comissão técnica (99), dirigentes (52), árbitros (114) e organizadores (40), sendo 420 do sexo masculino e 183 do sexo feminino. Para obtenção dos dados utilizou-se um questionário com perguntas objetivas. Face aos resultados obtidos observou-se o reconhecimento de credibilidade no desempenho dos Tribunais Desportivos ao atender a comunidade desportiva paranaense de maneira qualificada, no exercício de sua função. ... 5. Considerações finais Face as características dos resultados apresentados e discutidos podemos inferir um reconhecimento de credibilidade no desempenho dos Tribunais de Justiça Desportiva atuantes nos Jogos Oficiais do Paraná, consubstanciado pela sua configuração administrativa sempre atenta aos princípios legais do direito penal, administrativo e desportivo vigentes, sobretudo, atendendo a comunidade desportiva paranaense de maneira qualificada. A preparação preliminar certamente esta relacionada a percepção positiva. Na medida em que se aglomeram interesses no resultado de partidas e/ou eventos, cresce a importância presencial dos Tribunais Desportivos. Jogos ou provas ganham em motivação, emoção e responsabilidade. Qualquer ato ilícito ou conflito de interesses necessita ser dissolvido no sentido de valorizar a prática desportiva e o trabalho dos dirigentes e promotores do evento, o que parece estar ocorrendo, tendo em vista os resultados desta pesquisa.” 0 12,50 25,00 37,50 50,00 Regular Boa Excelente Valores percentuais gerais sobre a atuação da Justiça Desportiva da Paraná Esporte Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 97 60 Mauro Myskiw e Paulo Marcos Schmitt. A percepção da comunidade esportiva sobre a atuação dos tribunais nos Jogos Oficiais do Paraná. Brasília/DF: Ministério de Esporte e Turismo, 2002, pp.137/142. Jurisdição e territorialidade dos tribunais desportivos Em linhas gerais, os elementos que diferenciam os diversos órgãos judicantes estão centrados na jurisdição, competência e territorialidade. Jurisdição, em sede de Justiça Desportiva, deve ser compreendida como poder de deliberação regularmente conferida aos órgãos judicantes para o conhecimento de certos litígios desportivos. Isto se dá em razão da suposta inadequação da expressão para atividades extrajudiciais, pois é tradicionalmente conceituada como designativo de atribuições especiais aos magistrados, encarregados da administração da justiça, o que inocorre em uma Justiça (Desportiva) que não integra o Poder Judiciário. Não obstante, a terminologia está coadunada à compreensão contemporânea de que há meios alternativos de solução de conflitos de interesse. E, neste cenário, a Justiça Desportiva ganha maior significação, por seu reconhecimento constitucional, coadunando-se ao conceito atual e abrangente de jurisdição. Da mesma forma, constata-se que a competência territorial quer significar o estabelecimento de limitação de espaço territorial em que o presidente do órgão judicante possui jurisdição61. Estrutura dos Órgãos da Justiça Desportiva Instâncias da Justiça Desportiva - Estrutura dos órgãos judicantes que funcionam junto às Federações, Confederações e Ligas Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 98 61 Compilação e adaptação de expressões do Vocabulário Jurídico – De Plácido e Silva, 7ª edição, 1982. INSTÂNCIAS E ÓRGÃOS DA JUSTIÇA DESPORTIVA De início, convém consignar que “instância” na Justiça Desportiva tem o mesmo significado que na Justiça Comum. Ou seja, se nos tribunais comuns quer dizer o grau de hierarquia do Poder Judiciário, em sede de Justiça Desportiva quer significar a estrutura hierárquica dos tribunais desportivos. Comissões Disciplinares Nacionais ou Regionais, ressalvadas as hipóteses de competência originária do STJD e TJD, são órgãos que processam e julgam em primeira instância as pessoas físicas e jurídicas submetidas ao CBJD. O STJD e os TJDs de cada modalidade são órgãos judicantes que via de regra (novamente fazendo a ressalva da competência originária) atuam em grau de recurso (2ª instância -, ou até mesmo como 3ª instância nas situações de esgotamento da matéria no TJD e cabimento de recurso ainda ao STJD). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 99 O Tribunal Arbitral do Esporte (TAS/CAS), conforme previsão em norma internacional da respectiva modalidade esportiva (como no caso do futebol), é a última instância da Justiça Desportiva. É importante destacar que a competência originária do STJD ou TJD para processo e julgamento, via de regra, ocorre em razão da pessoa (foro privilegiado) ou em face da matéria a ser submetida a análise e julgamento. Sob o aspecto da territorialidade, os órgãos judicantes brasileiros estão diretamente relacionados com os limites de atuação das entidades de administração do desporto (regionais ou nacionais). Os Tribunais de Justiça Desportiva e Comissão Disciplinar Regional que funcione junto a si, por exemplo, estão afetos, por modalidade esportiva, às entidades regionais de administração do desporto (Federações - abrangência estadual). Já o Superior Tribunal de Justiça Desportiva e sua respectiva Comissão Disciplinar Nacional possuem a mesma abrangência das entidades nacionais de administração do desporto, também por modalidade esportiva (Confederações – todo o territórionacional). Outro ponto importante, diz respeito a possibilidade dos Tribunais de Justiça Desportiva apreciarem, em grau de recurso, processos oriundos de Comissões Disciplinares Regionais constituídas por Ligas Municipais, desde que a referida liga esteja vinculada a entidade regional de administração do desporto. Muito embora a Lei n° 9.615/98 não trate de maneira direta das Ligas Municipais, é inegável que as mesmas fazem parte do Sistema Nacional do Desporto, uma vez que integram o sub-sistema relacionado às entidades regionais de administração do desporto (Federações). E exatamente por estarem atreladas às entidades regionais, as Ligas Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 100 Municipais estão submetidas ao sistema organizacional das respectivas Federações, tanto no aspecto técnico/administrativo, quanto na questão relacionada à Justiça Desportiva. Vale destacar que os Tribunais de Justiça Desportiva devem criar Comissões Disciplinares Regionais vinculadas à sua estrutura, e podem instituir que funcionem junto às ligas existentes, conforme se observa no art. 27, IV, do CBJD. Já o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS / CAS - Corte Arbitral do Esporte <www.tas-cas.org>) é um órgão judicante internacional que tem sede em Lausane (Suíça) e, a exemplo dos nossos órgãos judicantes no Brasil, goza de total independência de qualquer organização esportiva. A sua competência está diretamente ligada a facilitar a resolução de litígios relacionados com o desporto por meio de arbitragem ou de mediação, através de normas processuais, adaptados às necessidades específicas do mundo dos esportes. O TAS/CAS, como é mais conhecido, foi criado em 1984 e é colocado sob a autoridade administrativa e financeira do Conselho Internacional de Arbitragem do Esporte (ICAS), e tem cerca de 300 árbitros de 87 países, escolhidos por seus conhecimentos de especialista de arbitragem e direito desportivo. Como se disse, o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS-CAS) tem a tarefa de resolver disputas legais no domínio do desporto por meio de arbitragem. E faz isso por meio de sentenças arbitrais que têm a mesma força executiva que sentenças dos tribunais comuns. Além disso, pode emitir pareceres consultivos sobre questões jurídicas relacionadas com o desporto. Ainda, o TAS fixa e estabelece tribunais não permanentes, quando da realização de Jogos Olímpicos ou outros grandes eventos Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 101 semelhantes. Para levar em conta as circunstâncias de tais eventos, as regras processuais especiais são estabelecidos em cada ocasião. Quaisquer disputas, direta ou indiretamente ligadas ao esporte podem ser enviadas para o TAS-CAS, desde litígios de natureza comercial (por exemplo, um contrato de patrocínio), como de natureza disciplinar na sequência de uma decisão de uma organização desportiva (por exemplo, um caso de doping ou outra infração disciplinar julgada no tribunal desportivo brasileiro). Estrutura das instâncias desportivas que funcionam junto ao Ministério do Esporte - CNOJDD (CBJDE proposta) JUSTIÇA DESPORTIVA - CNOJDD / CBJDE (proposta) As Comissões Disciplinares Especiais são chamados órgãos judicantes de 1ª instância, competentes para julgar originariamente os processos disciplinares. Já a Comissão Permanente, como adiante veremos, possui competência híbrida, pois, além de atuar em 1ª instância, reanalisa os casos julgados pelas Comissões Especiais em situações excepcionalíssimas nos casos de recursos de revisão. As atribuições e competências das Comissões Disciplinares Especiais estão intimamente relacionadas ao período em que se realiza determinada competição. Como dito, é órgão que processa e julga Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 102 originariamente (1ª instância) tanto pessoas físicas como pessoas jurídicas que, de qualquer modo, infringirem as disposições do Código, Regulamento ou regras das modalidades em um evento esportivo específico. Como o que determina a competência das Comissões Especiais é o seu caráter de transitoriedade, isto é, a atribuição de julgamento dos processos durante a realização de eventos esportivos, qualquer caso não disposto no Código, Regulamento, regras e demais normas (casos omissos) também devem ser resolvidos por estas Comissões. Semelhante às Comissões Especiais, a Comissão Permanente também julga em 1ª instância, entretanto o que a torna diferente é o julgamento de processos antes ou após o encerramento dos trabalhos realizados pelas Comissões em determinado evento. Quando surgirem dúvidas veementes a respeito de qual Comissão deve apreciar determinado processo, a Comissão Permanente é o órgão indicado para resolver o “conflito de competência”. Também compete à Comissão Permanente apreciar (i) os recursos de revisão e (ii) os embargos de declaração interpostos contra suas próprias decisões. A regra é que as Comissões Especiais possam processar e julgar tudo que ocorrer durante uma competição, mas nem sempre isto é possível. É comum que os fatos ocorridos no último dia dos jogos devam ser apreciados pela Comissão Permanente. Vários motivos podem determinar a remessa de determinado caso, seja pela complexidade da causa, porque os denunciados não puderam ser encontrados, porque as testemunhas mais importantes já se retiraram da competição, dentre outros fatores. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 103 O importante é que existam possibilidades de defesa e da busca da verdade. Do contrário, caso a situação fática não permita, torna-se desaconselhado que o feito seja apreciado pela respectiva Comissão Especial, devendo ser remetido à Permanente. Como nas demais Comissões, a Comissão Disciplinar Permanente julga os impedimentos de seus membros em determinado processo disciplinar, os mandados de garantia e os casos omissos quando já encerrado o evento. Estrutura dos tribunais desportivos que funcionam junto à Secretaria de de Estado do Esporte - Governo do Paraná JUSTIÇA DESPORTIVA - COJDD O que diferencia basicamente o Tribunal Permanente do Tribunal Especial é a sua localização e o período de funcionamento. Enquanto que o funcionamento do Permanente é ininterrupto na capital do Estado, o Tribunal Especial atua transitoriamente e especificamente na sede do evento, durante a sua realização. O Tribunal de Recursos também tem sua sede na capital do Estado e como o Tribunal Permanente funciona o ano todo sediado na Paraná Esporte, que é o Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 104 órgão mantenedor dos tribunais desportivos. Apesar disso, a atuação da Justiça Desportiva no Estado é autônoma e independente, sendo que suas decisões não podem ser afetadas por atos emanados dos órgãos da Administração Pública, sob pena de tornarem-se sem efeito ou finalidade. Os Tribunais Permanente e Especial são os chamados tribunais de 1ª instância, que julgam os processos disciplinares pela primeira vez em uma primeira análise. Já o Tribunal de Recursos, reanalisa os casos julgados ou pelo Tribunal Especial ou pelo Tribunal Permanente. Composição dos órgãos da Justiça Desportiva Os tribunais desportivos que funcionam junto às Confederações, Federações e Ligas – Sistema Nacional do Desporto (privado) STJD e TJDs, devem ser compostos de forma quase que paritária, por nove membros indicados por segmentos desportivos e pela Ordem dos Advogados do Brasil, consoante o previsto em lei (art. 55 da Lei nº 9615/98) e o disposto nos arts. 4º e 5º do CBJD. Tal representatividade, porém, não significa que a entidade ou órgão indicantepossa, a qualquer tempo, requerer a substituição do indicado (em geral seria motivada pela atuação do auditor em desconformidade aos interesses da entidade, como se dela representante fosse). Em outras palavras o mandato não pertence às referenciadas entidades ou órgãos, mas apenas a indicação. Enfim, o mandato deve ser cumprido integralmente, a não ser em casos excepcionais como de vacância, licenças e outros, como veremos adiante. A regra para a composição do STJD ou TJD do sistema federado é a seguinte: Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 105 • 2 (dois) indicados pela entidade nacional de administração do desporto (STJD ou pela entidade regional de administração de desporto (TJD); • 2 (dois) indicados pelas entidades de prática desportiva que participem da principal competição da entidade Nacional de administração do Desporto (STJD) ou pelas entidades de prática desportiva que participem da principal competição da entidade regional de administração do desporto (TJD); • 2 (dois) advogados indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (STJD) ou pela Ordem dos Advogados do Brasil, por intermédio da seção correspondente à territorialidade (TJD); • 1 (um) representante dos árbitros, indicado por sua entidade representativa (entidade de classe, conf. Lei 12.395/2011); e • 2 (dois) representantes dos atletas, indicados por sua entidade representativa (entidades sindicais, conf. Lei 12.395/2011). As Comissões Disciplinares devem ser compostas por cinco membros, mediante indicação dos respectivos STJD ou TJD, desde que não pertençam aos referidos órgãos judicantes. Podem ser criadas tantas Comissões Disciplinares quantas se fizerem necessárias (arts. 4º.-A e 5º-A do CBJD). A crítica fica por conta da indicação do segmento dos atletas. De acordo com a legislação vigente (art. 55, V, da Lei 9.615/98, com redação dada pela Lei 12.395/2011), dentre os nove auditores de cada STJD, dois devem ser indicados pelos atletas. Na vigência do Decreto 2.574/98, a norma era regulamentada por intermédio da determinação de que a representatividade de atletas se dava por “entidades de classe” (artigo 57, §5º do Decreto n° 2.574/98). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 106 Diante da t ransparente incompat ib i l idade entre representatividade desportiva e representatividade classista ou sindical, o dispositivo foi revogado pelo Decreto n° 5.000/04. A alteração da Lei Pelé, através da Lei 12.395/2011, acabou por repisar o erro anterior, retomando a determinação de que os representantes dos atletas, e também dos árbitros, devam ser indicados por suas respectivas entidades sindicais e classistas, repristinando a confusão entre representação sindical e representação desportiva. A representação sindical diz respeito exclusivamente a questões relacionadas no artigo 8º. da Constituição Federal e nos artigos 511 e seguintes da CLT. Não tem qualquer relação com a representação desportiva. O impacto da alteração legislativa é desastroso, pois: (i) entidades sindicais representam atletas sob a perspectiva trabalhista e empregatícia; vale dizer, são órgãos de classe da categoria dos atletas profissionais; de outro lado, (ii) a única modalidade que, atualmente, alberga atletas profissionais como regra, é o futebol. Assim, os STJDs das demais modalidades ficariam carentes da representação de atletas, pois os mesmos não são sindicalizados pelo simples fato de não serem, via de regra, profissionais. Como se vê, o legislador parece ter considerado que existe apenas um STJD (o do futebol), quando – na verdade – cada modalidade desportiva no Brasil tem seu próprio STJD e demais órgãos judicantes desportivos. E mais, confronta a própria realidade ao desconsiderar que os atletas das demais modalidades não são profissionais e, de conseqüência, não são sindicalizados; portanto, não podem ser representados por entidades de classe. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 107 E mesmo em relação à modalidade de futebol, o STJD não julga apenas atletas profissionais, mas também atletas em formação (não profissionais, na denominação legal vigente). Em síntese, o STJD do Futebol não julga apenas atletas profissionais, mas também os não profissionais e os em formação, além de todos aqueles ligados direta ou indiretamente às competições. O mesmo ocorre nas demais modalidades esportivas aonde, regra geral, as entidades diretivas não se organizam de modo profissional. Assim, mesmo no futebol, a representação por entidades de classe não abrange todos os atletas, mas apenas sua minoria. De outra parte, para os órgãos judicante que integram o sistema público (competições promovidas pela Administração Pública da União, Estados e Municípios) ou Comitê Olímpico Brasileiro, comumente as áreas de envolvimento na atuação da Justiça Desportiva são advindas das cadeiras de Educação Física e de Direito, sendo, portanto interessante que a composição dos tribunais desportivos recaia sobre profissionais e/ou acadêmicos dessas duas áreas do conhecimento. É imperioso que sejam realizados, anualmente, cursos de Justiça Desportiva, preferencialmente nas Instituições de Ensino Superior, destinados à formação e preparação de acadêmicos para o exercício das atividades das instâncias desportivas, como bem destaca Alessandro Kioshi Kishino ao referir-se à estrutura dos tribunais desportivos que funcionam junto à Paraná Esporte: “E exatamente pelo fato dos membros dos órgãos judicantes se submeterem a cursos de capacitação e serem previamente avaliados, a Justiça Desportiva do Governo do Estado do Paraná é qualificada e eficiente, sendo constantemente apontada como um celeiro de inovações e de conquistas para o Direito Desportivo.”62 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 108 62 Justiça Desportiva do Governo do Estado do Paraná: algumas considerações. Texto integrante do material didático do I Congresso Nacional de Justiça Desportiva: Curitiba/Pr, 16 a 18/11 de 2005. A criação de um Quadro Geral de Justiça Desportiva também é uma alternativa extremamente interessante, a exemplo do que ocorre no Estado do Paraná (COJDD). A criação do Quadro Geral, aliada ao enquadramento do pessoal em categorias, viabiliza a estipulação e a observância de parâmetros objetivos destinados à composição das respectivas comissões disciplinares ou tribunais desportivos, conforme o caso. Ilustrativamente, no âmbito do Governo do Paraná, foi criado efetivamente em 2005 o Conselho Estadual de Esporte e Lazer que reconheceu e recriou na sua esfera uma comissão temática, qual seja a Comissão Especial de Justiça Desportiva que, dentre suas atribuições, encontra-se a de elaborar a composição dos tribunais desportivos mediante atos administrativos próprios. E o número de membros de cada tribunal ou comissão disciplinar depende da realidade e necessidade em face das características das competições que encontram-se sob sua jurisdição, desde que expressamente previsto no Código (CNOJDD, COJDD etc). Competência dos órgãos e membros da Justiça Desportiva Competência das instâncias desportivas Inicialmente é preciso salientar que a competência consiste na aptidão e no poder de desenvolver determinadas atribuições, seja por determinado órgão ou entidade, seja por parte de um dado agente. Em nosso sistema desportivo, para ser válida, deve derivar e ser delimitada por lei e ou codificação desportiva. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 109 A doutrina que melhor se aproxima das nuances do Direito Desportivo é a já consagrada pelo Direito Administrativo.Vejamos alguns posicionamentos sobre o tema, preliminarmente sob a definição de Hely Lopes Meirelles63: "Entende-se por competência administrativa o poder atribuído ao agente da Administração para o desempenho específico de suas funções. A competência resulta da lei e por ela é delimitada. Todo ato emanado de agente incompetente, ou realizado além do limite de que dispõe a autoridade incumbida de sua prática, é inválido, por lhe faltar um elemento básico de perfeição, qual seja, o poder jurídico para manifestar a vontade da Administração. Daí a oportuna advertência de Caio Tácito de que 'não é competente quem quer, mas quem pode, segundo a norma de Direito''"64. Para Lucia Valle Figueiredo, competência “é o plexo de atribuições outorgadas pela lei ao agente administrativo para consecução do interesse público”.65 Bem salienta a autora que esse plexo de atribuições conferidas ao agente administrativo é determinado pela lei, ou seja, a competência não é ilimitada, pelo contrário. A própria lógica do regime jurídico – no caso o regime desportivo – elege o princípio da legalidade, definindo a competência em matéria de Justiça Desportiva quando prescreve que o Conselho Nacional do Esporte deverá aprovar os Códigos de Justiça Desportiva e suas alterações. O mesmo raciocínio vale para as competições promovidas pelo Poder Público, ou seja, deve existir previsão no ordenamento jurídico para a edições de códigos de Justiça Desportiva. No mesmo sentido e em capítulo próprio, a Lei 9615/98 define a competência das instâncias desportivas, ressaltando a necessidade de previsão de infrações disciplinares em códigos. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 110 63 Direito Administrativo Brasileiro, 20a edição, Malheiros, São Paulo, 1999, p. 134. 64 Caio tácito, O abuso de Poder Administrativo no Brasil, Rio, 1959, p. 27. 65 FIGUEIREDO, Lucia Valle. Curso de direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1995, p. 111. Sob esse aspecto, haverá vício de competência na realização de um ato perante a Justiça Desportiva quando este for praticado com abuso de competência, ou seja, além dos lindes permitidos pela codificação ou, ao contrário, por simples ausência de competência, quando o código não a confere ao órgão judicante ou ao membro que, ilegalmente, praticou o ato. Ainda, configurará o desvio de função ou de competência, quando restar caracterizada a irregular investidura na função. É importante destacar que a competência originária de instâncias desportivas para processo e julgamento, em geral, ocorre em razão da pessoa (foro privilegiado) ou em face da matéria a ser submetida a análise e julgamento. Desta forma, são os Códigos de Justiça Desportiva que fixam a competência de cada órgão judicante. No caso das instâncias que funcionam nos limites de territorialidade de Confederações, Federações e Ligas, confira-se o disposto nos arts. 25 a 28 do CBJD. Já para as competições organizadas pelo Poder Público, exemplificativamente a Justiça Desportiva que atua perante o Ministério do Esporte (União) e Paraná Esporte (Estado do Paraná), interessa a análise do art. 19 do CNOJDD e dos arts. 21 a 23 do COJDD, respectivamente. Para finalizar este tópico, interessante destacar que a Justiça Desportiva não possui natureza consultiva, não podendo se manifestar sobre aspectos técnicos relacionados à classificação de equipes, cadastro, ou estruturação de entidades, entre outros assuntos. Pelo sistema adotado pela legislação vigente, os órgãos judicantes têm atribuições de “processar e julgar”, não lhes competindo exercer função meramente consultiva, até mesmo porque, em cenário diverso, os mesmos estariam substituindo a função que originariamente é Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 111 administrativa e está sob atribuição das próprias entidades de administração. Por óbvio, estes atos administrativos estão – sem exceção – sujeitos à observância das normas e regras, sujeitando-se a possível revisão pelos órgãos judicantes desportivos, em sede, v.g., de mandado de garantia. Funções na Justiça Desportiva O membro de tribunal desportivo exerce função considerada de relevante interesse público (“munus” público) e, na hipótese de ocupar cargo público, deverá ter abonadas suas faltas ao comparecimento de sessões de instrução e ou julgamento, computando- se como de efetivo exercício tal participação (art. 54 da Lei nº. 9615/98). A esse respeito torna necessário trazermos à colação definições da doutrina acerca do conceito de cargo e de função pública. Cargo é a mais simples e indivisível unidade de competência a ser preenchida por um agente público, com denominação e atribuições próprias, com vencimento certo pago pelos cofres públicos, criados por lei, a exceção dos cargos auxiliares do Poder Legislativo, os quais são criados por resolução da respectiva Casa. Os ocupantes dos cargos estão sujeitos ao regime próprio, estatutário ou institucional - não contratual, para preenchimento em caráter efetivo ou em comissão66. Assim conceitua Hely Lopes Meirelles: “Cargo público é o lugar instituído na organização do serviço público, com denominação própria, atribuições e responsabilidades específicas e Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 112 66 Nesse sentido: Celso Antônio Bandeira de Mello, Curso de Direito Administrativo. 17 ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 233 estipêndio correspondente, para ser promovido e exercido por um titular, na forma estabelecida em lei.”67 Já funções públ icas são as atr ibuições a serem desempenhadas por servidores ocupantes de cargos efetivos, que correspondem à chefia, direção e assessoramento. Nesse sentido vejamos o conceito apresentado por Celso Antônio Bandeira da Mello: “Funções Públicas são plexos de atribuições criados por lei, correspondentes e encargos de direção, chefia ou assessoramento, a serem exercidos por titular de cargo efetivo, da confiança da autoridade que as preenche (art. 37, V, da Constituição, com a redação dada pelo ‘Emendão’). Assemelha-se, quanto à natureza das atribuições e quanto à confiança que caracteriza seu preenchimento, aos cargos em comissão.”68 Trata-se, portanto, de função de relevante interesse público e não de cargo ou função pública na acepção técnica dos referidos termos. A maior parte da doutrina pátria afirma que, não havendo acúmulo de remunerações, não será considerado acúmulo nos termos do artigo 37, XVI e XVII, da Constituição da República. E a atividades daqueles que integram os tribunais desportivos que funcionam perante Confederações, Federações e Ligas é totalmente diletante. Segundo Ivan Barbosa Rigolin, “não haverá qualquer impedimento numa eventual acumulação não remunerada de cargos, se isso fosse possível até mesmo por razão horária”69. Odete Medauar ensina que “inexiste impedimento legal à acumulação de cargos, funções ou empregos, se não houver duas remunerações”.70 Adilson Abreu Dallari71 conclui que: Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 113 67 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 21 ed. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 364. 68 Ob. Cit., p. 234. 69 RIGOLIN, Ivan Barbosa. Comentários ao regime único dos servidores públicos civis, 4ª edição. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 216. 70 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno, 4ª edição. São Paulo: RT, 2000, p. 331. 71 DALLARI, Adilson Abreu. Regime constitucional dos servidores públicos, 2ª edição. São Paulo: 1990, p. 71. “parece ter ficado definitivamente sepultada a controvérsia existente a respeito da possibilidade de exercício de um outro cargo ou função por funcionáriolicenciado (sem remuneração) para tratar de assuntos particulares. Com efeito, ainda que se conclua que o funcionário licenciado, sem remuneração, mesmo assim continua titular de seu cargo, isto não seria motivo legalmente impeditivo do exercício de outro cargo ou função, até mesmo porque, nessa situação, não ocorre nem acumulação de remuneração, nem acumulação de autoridade”.72 Como se disse, a teor do disposto no art. 54 da Lei nº. 9615/98, que os membros dos tribunais desportivos exercem função considerada de relevante interesse público. E nesse aspecto, reiteramos: o que existe é exercício de função de relevante interesse público e não a ocupação ou investidura em cargo ou função pública remunerada (ver item 6.2. deste Capítulo). E ainda que seja admitida a percepção de valores a título de pró-labore, diárias ou quaisquer outras formas de pagamento por serviços prestados na esfera desportiva, tais verbas jamais integrariam o sistema remuneratório de qualquer trabalhador, o que se dirá dos agentes públicos. Cármen Lúcia Antunes Rocha é clara quando aduz que “a lei – e apenas a lei – é fonte formal a fundamentar o dispêndio legítimo de recursos públicos, inclusive o pagamento de pessoal”, que “não se haveria sequer de cogitar de feitura de gastos públicos, a dizer, comprometimento do patrimônio público, sem o prévio consentimento Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 114 72 No mesmo sentido, Diógenes Gasparini explana que: “E o licenciado para tratar de assunto particular? Este pode acumular? A resposta é afirmativa se se cuidar de entidades diferentes. Com efeito, esse servidor público, na situação de licenciado para tratar de assunto de interesse particular, ainda que se pudesse assegurar que acumula cargo, não acumula, certamente, remunerações. Será negativa, se o servidor licenciado vier a ocupar cargo na entidade da qual se licenciou. Não, evidentemente, por que acumula remunerações, mas porque tal situação afronta o princípio da moralidade administrativa.” (GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo, 5ª edição. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 165 e 166); E Hely Lopes Meirelles aduz: “A proibição de acumular, sendo uma restrição de direito, não pode ser interpretada ampliativamente. Assim, como veda a acumulação remunerada, inexistem óbices constitucionais à acumulação de cargos, funções ou empregos do serviço público desde que o servidor seja remunerado apenas pelo exercício de uma das atividades acumuladas. Trata-se, todavia, de uma exceção, e não de uma regra, que as Administrações devem usar com cautela, pois, como observa Castro Aguiar, cujo pensamento, neste ponto, coincide com o nosso, ‘em geral, as acumulações são nocivas, inclusive porque cargos acumulados são cargos mal desempenhados.’” (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, 25ª edição. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 404). livre do povo” e que “a legalidade formal impõe condição translúcida para o cuidado com as despesas públicas voltadas ao conjunto de agentes públicos”.73 Em face ao princípio constitucional da legalidade, de observância obrigatória para a Administração Pública, todo e qualquer gasto a ser efetivado com os agentes públicos, sejam eles servidores ou agentes políticos, deverá ser precedido de autorização legal. De outra parte, também não seria em tese possível se falar em cargo de entidade privada (Confederação Brasileira ou Federação de Futebol, Basketball, Ciclismo, Ginástica, Handebol, Judô, dentre outras por exemplo), mesmo porque a teor do § 3º. do art. 55 da Lei nº. 9615/98, com redação dada pela Lei nº 9.981, de 14.7.2000, “é vedado aos dirigentes desportivos das entidades de administração e das entidades de prática o exercício de cargo ou função na Justiça Desportiva, exceção feita aos membros dos conselhos deliberativos das entidades de prática desportiva”. As principais funções nas instâncias desportivas são: (i) Presidente; (ii) Vice-Presidente; (iii) Auditor; (iv) Procurador; (v) Defensor e; (vi) Secretário. A seguir, passamos a analisar as atribuições de cada qual e algumas circunstâncias que afetam diretamente a atividade e o seu desempenho. Presidente e Vice-presidente dos órgãos judicantes Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 115 73 ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Princípio constitucionais dos servidores públicos. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 286 e 287. Os presidentes dos tribunais desportivos são os responsáveis pelo perfeito e célere funcionamento da Justiça Desportiva e do andamento dos processos desportivos, recaindo tal cargo sobre profissionais altamente capacitados para a função, com larga experiência na direção dos trabalhos. Em geral o Presidente deve orientar a preparação da pauta de julgamento dos processos, marcando dia e hora das sessões; ter elevada capacidade de condução das atividades para apuração dos fatos, argumentos, depoimentos e alegações articulados durante a sessão. Mais do que dirigir os trabalhos, o Presidente nomeará um auditor que relatará o processo, votando por último e - conforme o caso e quando houver empate -, via de regra, seu voto prevalecerá sobre os votos dos demais auditores. São as seguintes atribuições elencadas nos principais Códigos de Justiça Desportiva (art. 9º. do CBJD), sem prejuízo daquelas conferidas por Lei, Código e Regimento Interno ou delegadas: • Zelar pelo perfeito funcionamento do Tribunal e fazer cumprir suas decisões; • ordenar a restauração de autos; • dar imediata ciência, por escrito, das vagas verificadas no Tribunal ao Presidente da entidade indicante; • determinar sindicâncias e aplicar sanções aos funcionários do Tribunal, conforme disposto no regimento interno; • sortear ou designar os relatores dos processos de competência do Tribunal Pleno; • dar publicidade às decisões prolatadas; Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 116 • representar o Tribunal nas solenidades e atos oficiais, podendo delegar essa função a qualquer dos auditores; • designar dia e hora para as sessões ordinárias e extraordinárias e dirigir os trabalhos; • dar posse aos auditores do Tribunal Pleno e dós órgãos de primeira instância (Comissões Disciplinares), bem como aos secretários; • exigir da entidade de administração o ressarcimento das despesas correntes e dos custos de funcionamento do Tribunal e prestar-lhe contas; • receber, processar e examinar os requisitos de admissibilidade dos recursos provenientes da instância imediatamente inferior; • conceder licença do exercício de suas funções aos auditores, secretários e demais auxiliares; • determinar períodos de recesso do Tribunal; • criar comissões especiais e designar auditores para o cumprimento de funções específicas de interesse do Tribunal. Já o Vice-Presidente deve substituir o Presidente nos impedimentos eventuais e definitivamente quando da vacância, representar o órgão judicante a que pertença nas solenidades e atos oficiais (apenas nas hipóteses de delegação) e exercer as funções de Corregedor, na forma que dispuser o regimento interno. Auditores Os Auditores são responsáveis pelo julgamento das questões disciplinares, devendo conhecer em profundidade o conjunto de normas Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 117 aplicadas nos trabalhos das instâncias desportivas (minimamente Código, Regulamento e regras). Mais que isso, como veremos adiante, devem estar totalmente isentos de qualquer influência das partes envolvidas (imparcialidade e independência), das pressões exercidas pelos interessados (serenidade) e empenhar-se nos trabalhos com a seriedade que a Justiça Desportiva merece, competindo-lhes:• Comparecimento obrigatório às sessões e audiências com a antecedência mínima conforme previsão no Código, quando regularmente convocado; • empenho no sentido da estrita observância das leis, do contido na codificação desportiva e zelo pelo prestígio das instituições desportivas; • manifestação rigorosa dentro dos prazos processuais; • representação contra qualquer irregularidade, infração disciplinar ou sobre fatos ocorridos nas competições dos quais tenha tido conhecimento; • livre apreciação da prova dos autos, tendo em vista, sobretudo, o interesse do desporto, fundamentando, obrigatoriamente, a sua decisão; • devolução à Secretaria, no prazo legal antes da sessão de julgamento, qualquer processo que tenha em seu poder e que esteja incluído em pauta. Procuradoria da Justiça Desportiva A análise atenta das disposições dos códigos em geral permite reconhecer que o rol de atribuições da Procuradoria de Justiça Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 118 Desportiva corresponde ao desempenho de um papel de máxima relevância dentro do Processo Desportivo e demais atividades inerentes à Justiça Desportiva. Ao procurador é atribuída a função de promover a responsabilidade das pessoas físicas ou jurídicas submetidas ao respectivo instrumento disciplinar (Código) que violarem as disposições contidas, conforme o caso, no próprio Código, Regras ou Regulamentos, cabendo ainda fiscalizar o cumprimento e a execução das leis esportivas (fiscal da lei), zelando pela manutenção da paz no desporto. Trata-se, em verdade, do verdadeiro titular da ação desportiva. A Procuradoria junto aos órgãos judicantes pertencentes à Justiça Desportiva guarda inegável similitude com o Ministério Público, função essencial à Justiça; e, exerce um munus similar ao exercido pelo Ministério Público na defesa da ordem jurídica. Esta quase identidade de atribuições entre Ministério Público e procuradoria dos tribunais desportivos é explorada pelo saudoso amigo Marcílio Krieger (in Comentários ao CBDF, p. 14): "A Procuradoria, na Justiça Desportiva, é quem toma a iniciativa para que o processo se concretize – e o faz através da denúncia. É o órgão a quem incumbe intentar a ação penal/disciplinar correspondente à infração praticada, promovendo os termos acusatórios necessários. Compete-lhes, igualmente, promover a fiscalização da execução das disposições legais e infralegais aplicáveis ao futebol." É imperioso lembrar que, nos termos do § 2º do art. 4º da Lei nº 9.615/98 “A organização desportiva do País, fundada na liberdade de associação, integra o patrimônio cultural brasileiro e é considerada de elevado interesse social, inclusive para os fins do disposto nos incisos I e III do art. 5º da Lei Complementar no 75, de 20 de maio de 1993. (Redação dada pela Lei nº 10.672, de 2003)”. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 119 Assim, compete aos procuradores, em geral, oferecer denúncia nos casos previstos em lei ou Código, dar parecer nos processos de competência do órgão judicante ao qual esteja vinculado, formalizar as providências legais e acompanhá-las em seus trâmites, requerer vistas dos autos, interpor recursos nos casos previstos em lei ou neste código ou propor medidas que visem à preservação dos princípios que regem a Justiça Desportiva; requerer a instauração de inquérito, exercer outras atribuições que lhes forem conferidas por lei, Código ou regimento interno. O CBJD prevê a necessidade de nomeação pelo respectivo órgão judicante (apenas STJD ou TJD), com mandato idêntico ao dos auditores de, no mínimo, dois procuradores à estrutura judicante de cada modalidade desportiva, mesmo porque é preciso lembrar que, também minimamente, devem existir duas instâncias, seja em sede de TJD74 como STJD, mediante a criação de inúmeras Comissões Disciplinares, tendo em mira a necessidade e demanda de litígios disciplinares. Vale lembrar que todo o sistema de formação dos órgãos da Justiça Desportiva brasileira para os cargos e funções de auditor é paritário, congregando de modo equilibrado os partícipes das respectivas competições e, ainda, a Ordem dos Advogados do Brasil. Como já destacado, dentre os nove membros de cada STJD, os clubes indicam dois auditores e os atletas indicam outros dois. Na mesma linha, a entidade de administração do desporto (confederação ou federação) indica dois auditores e a OAB indica outros dois. Os árbitros completam as entidades representativas, indicando um auditor. Contudo, no bojo da alteração da Lei 9615/98, o projeto que culminou com a Lei 12.395/2011, atropelava essa paridade e atribuía Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 120 74 Salvo matérias que podem subir em grau recursal ainda ao STJD – três instâncias. competência desequilibrada em favor das entidades de administração do desporto (confederações e federações), ao lhes conceder a indicação dos procuradores que atuam junto aos STJDs e TJDs (então proposta de nova redação ao artigo 55, §5º). Isso é, pela redação originariamente proposta, além da indicação de dois auditores – dentre nove – para o respectivo STJD, a Confederação indicaria também todos os procuradores. Obviamente, haveria enorme disparidade em relação às demais entidades representativas, tais como os atletas, árbitros, clubes e a própria OAB. O impacto desta proposta não era apenas desequilibrar as relações de estruturação dos tribunais desportivos, mas criar verdadeiro salvo-conduto para que as confederações e federações fiquem suscetíveis a nomear apenas procuradores a si vinculadas, prejudicando sobremaneira a imparcialidade da função acusatória e a efetiva fiscalização da lei desportiva. Ora, a própria Lei em seu art. 52 determina que os órgãos integrantes da Justiça Desportiva sejam autônomos e independentes em relação às entidades de administração do desporto de cada sistema. Com efeito, a concentração de indicação de toda a composição do órgão acusador, titular da ação desportiva, por um determinado segmento desportivo como as Confederações e federações, certamente fereria de morte a idéia mais comezinha de independência e autonomia. A proposta, portanto, se não fosse ingênua, seria de profundo desconhecimento da área, desprezando as pressões a que estão sujeitos os dirigentes de entidades de administração quando se defrontam com julgamentos que impactam diretamente nos seus filiados, notadamente nos tribunais das paixões. Algo que pode parecer em um primeiro momento interessante aos administradores de Federações e Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 121 Confederações poderia se transformar em uma avalanche de solicitação de interferências na atuação dos Procuradores por eles indicados. E os Procuradores sempre estariam na berlinda, se fizessem ou não o que lhes competia, gerando permanente desconfiança em face da vinculação com entidades diretivas. Um cartório desnecessário e pernicioso ao sistema jusdesportivo vigente. E justamente por tais motivos, dentre outros aspectos, a proposta recebeu VETO da Presidência da República. O texto da modificação criava o parágrafo 5º. do art. 55 nos seguintes termos: “Os procuradores do Superior Tribunal de Justiça Desportiva e dos Tribunais de Justiça Desportiva serão indicados pelas respectivas entidades de administração do desporto”. [VETADO - Lei 12.395_2011] - Razão do veto: “O procedimento hoje adotado pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva para a escolha dos procuradores configura menor risco à independência de sua atuação do que a presente proposta de indicação direta pelas entidades a serem por eles fiscalizadas”.Como se denota, foi prestigiada a regra prevista na atual codificação desportiva nacional, qual seja a de que os Procuradores serão nomeados pelo respectivo tribunal (STJD ou TJD). O único desequilíbrio, se é que assim pode ser considerado, fica por conta da indicação do Procurador-Geral, que depende de escolha do nome pelo tribunal, mas desde que conste de uma lista tríplice enviada pela Federação (TJDs) ou Confederação (STJD), conforme o caso. Eis a normatização do tema pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva - CBJD: Art. 21. A Procuradoria da Justiça Desportiva destina-se a promover a responsabilidade das pessoas naturais ou jurídicas que violarem as disposições deste Código, exercida por procuradores nomeados pelo respectivo Tribunal (STJD ou TJD), aos quais compete: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - oferecer denúncia, nos casos previstos em lei ou neste Código; (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) II - dar parecer nos processos de competência do órgão judicante aos quais estejam vinculados, conforme atribuição funcional definida em regimento interno; (NR). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 122 III - formalizar as providências legais e processuais e acompanhá-las em seus trâmites; -(NR). IV - requerer vistas dos autos; (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) V - interpor recursos nos casos previstos em lei ou neste Código ou propor medidas que visem à preservação dos princípios que regem a Justiça Desportiva; (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) VI - requerer a instauração de inquérito; (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) VII - exercer outras atribuições que lhe forem conferidas por lei, por este Código ou regimento interno. (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) § 1º A Procuradoria será dirigida por um Procurador-Geral, escolhido por votação da maioria absoluta do Tribunal Pleno dentre três nomes de livre indicação da respectiva entidade de administração do desporto. (AC). § 2º O mandato do Procurador-Geral será idêntico ao estabelecido para o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD). (AC). § 3º O Procurador-Geral poderá ser destituído de suas funções pelo voto da maioria absoluta do Tribunal Pleno, a partir de manifestação fundamentada e subscrita por pelo menos quatro auditores do Tribunal Pleno. (AC). Do mesmo modo que para os auditores, é assegurado aos procuradores o livre acesso às praças desportivas, sendo-lhes aplicáveis as hipóteses cabíveis de incompatibilidades e impedimentos. Diz-se “cabíveis” porque algumas circunstâncias, pela natureza da função de auditor, são absolutamente inaplicáveis ao procuradores, como por exemplo a vedação em manifestar sobre casos que serão levados a julgamento. Ora, o Procurador não julga, e portanto não está obrigado a não revelar as providências que adotará, o que entende previamente, acerca de determinado caso concreto. Vejamos como decidiu o Plenos do STJD do Futebol sobre o tema em sede de preliminar no julgamento do Recurso Voluntário 016/2009, que examinava o caso que ficou conhecido por "super-mando" no futebol do Paraná, e que o objeto da demanda estava centrado em dispositivo do regulamento do certame estadual que fixava vantagem Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 123 excessiva através de mando de campo a equipes melhores classificadas na primeira fase da competição: “Recurso Voluntário 016/2009 RECORRENTE: Clube Atlético Paranaense RECORRIDO: Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná ARGUIÇÃO DE IMPEDIMENTO: Chega aos autos Argüição de Impedimento aforada pela Federação Paranaense de Futebol contra o Procurador Geral do STJD, Dr. Paulo Schmitt. Por se tratar de questão cuja decisão pode, em tese, importar na impossibilidade do douto procurador de participar do julgamento da questão, coloco-a em julgamento antes mesmo da leitura do relatório. Em suas razões, a arguinte suscita que o Dr. Paulo Schmitt teria se manifestado previamente sobre fato concreto objeto de causa em julgamento, ofendendo assim o disposto no art. 18, II, cumulado com o art. 22 do CBJD. Para comprovar suas alegações, junta prova de vídeo, em que o douto Procurador participa de programa televisivo no qual concede entrevista; além de juntar recortes de jornais“que transcrevem algumas citações que teriam sido de sua autoria. É o breve relatório. Voto: Rechaço integralmente a argüição de impedimento em mãos. As regras do CBJD, como todas as normas de direito, devem ser interpretadas de forma sistêmica, analisadas em cotejo com os princípios do direito e com as demais normas. A interpretação literal, justamente por ser a mais fácil de ser feita, é a mais sujeita a equívocos de todos os matizes. Os dispositivos em análise dispõem ser proibido, sob pena de impedimento, a manifestação prévia sobre fato concreto objeto de causa em julgamento, estendendo essa proibição tanto aos auditores como aos Procuradores. A sua interpretação deve ser realizada com temperamento, levando-se em consideração as circunstâncias do caso, e, muito embora, a norma não faça distinção expressa, é óbvio que a regra se aplica de forma diferente aos auditores e aos procuradores. É que os auditores possuem função decisória, ao passo que aos procuradores cabe ora a função opinativa, ora a função impulsionadora do processo desportivo (quando atuam como verdadeira parte titular da ação disciplinar). Portanto, pela simples diferença de funções, percebe-se que a vedação ao auditor de manifestar-se sobre causa em julgamento possui “uma importância muito maior. O auditor só apresenta manifestação sobre o mérito ao final do processo. Se revelar opinião prévia pode revelar o futuro da causa. Essa distinção entre as funções do auditor e do Procurador, bem como o conhecimento amplo das peculiaridades da justiça desportiva, permite aferir que o impedimento de manifestação do procurador relaciona-se essencialmente as questões sobre as quais ele desconhece ou não tem ainda analisado com profundidade. De outra forma, a vedação de manifestação seria incompatível com diversas obrigações naturais do Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 124 Procurador, especialmente a apresentação de parecer, interposição de recurso, oferecimento de denúncia (pois todas são, em tese, manifestações prévias do Procurador sobre fato concreto objeto de causa em julgamento). Assim, quem milita na justiça desportiva sabe que o dispositivo que proíbe a manifestação prévia do Procurador restringe-se a fatos sobre os quais ele ainda não teve o conhecimento pleno, nem analisou com profundidade. A proibição de manifestação prévia justifica-se para evitar que o procurador, depois de analisar com mais cuidado a questão, fique refém, por ter tornado pública, de uma posição anterior que, só depois, verificou equivocada. Existe portanto como forma de assegurar o livre convencimento. Todavia, uma vez possuindo o conhecimento pleno da questão, o Procurador fica livre para manifestar-se previamente, pois assim lhe é exigido em diversas ocasiões, como as citadas acima. O que se busca impedir é a manifestação irresponsável, leviana, feita sem conhecimento de causa mas capaz de, no futuro, impedir que o procurador tenha posição diferente da original. O que se busca, volto a dizer, é assegurar o seu livre convencimento. Já disse em outras ocasiões que a Procuradoria da Justiça desportiva é, ao lado da presidência, o órgão de maior importância desse tribunal. Isso porque, por ser o titular da ação disciplinar, a Procuradoria detém inegável e importante posição de representação política da justiça desportiva. Essa representaçãose dá através da pessoa do Procurador Geral, que através de orientações, esclarecimentos, apontamento de diretrizes, confere maior transparência, independência e legitimidade aos atos da justiça desportiva. No caso concreto, todas as manifestações do douto Procurador foram feitas com amplo conhecimento do caso, demonstram estudo aprofundado, de forma que não se contempla a hipótese retroaludida de irresponsabilidade ou leviandade. Pelo contrário, suas manifestações encontram-se no rol das atividades de representação política de que a Procuradoria é incumbida. Ressalte-se ainda que o litígio versa sobre questão de direito, o que dispensaria a espera da análise do processo para que se pudesse opinar sobre o caso. Não vejo, tampouco, nas afirmações do procurador, nenhum desrespeito ou desmoralização à Federação Paranaense. Por tudo isso, rejeito a argüição de impedimento do Procurador. (...) É como voto. Rio de Janeiro/RJ, 25 de março de 2009. CAIO CESAR VIEIRA ROCHA Auditor – STJD Passamos agora a análise da estrutura, composição e procedimentos da Procuradoria na esfera do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol. Recomendamos também sobre o assunto a leitura Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 125 do Regimento Interno da Procuradoria (vide legislação complementar no anexo). Nesse aspecto vale o destaque a algumas normas internas são imprescindíveis ao regular funcionamento do órgão, em especial para dotá-lo de preceitos básicos de coerência, harmonia e isonomia. Confira-se: • Fica a critério exclusivo do Procurador-Geral, ouvido o respectivo Subprocurador-Geral, efetuar modificações na escala, a qualquer tempo, conforme complexidade da causa/matéria ou eventual impossibilidade do Procurador previamente escalado na elaboração da denúncia e/ou Parecer. • Visando conferir maior agilidade, o Subprocurador-Geral deverá elaborar pré-escala com os membros de sua equipe, sendo responsável também pela análise das denúncias, conferência do enquadramento legal, controle de prazo e encaminhamento para a Secretaria do STJD. Os Procuradores deverão acompanhar as datas de realização das partidas, referências, grupos, rodadas etc., e a publicação das súmulas diretamente no site da CBF (www.cbf.com.br). • As denúncias deverão ser encaminhadas para a Secretaria no prazo máximo de 02 (dois) dias da data de publicação na súmula na Internet. • Os procuradores deverão enviar as denúncias já com a assinatura eletrônica para o e-mail do Subprocurador-Geral de seu grupo. Em casos que necessitem urgência, os Subprocuradores irão avocar a função de elaborar as denúncias. Na falha dos procuradores quanto ao tempo de encaminhamento, o Subprocurador-Geral será responsável por elaborar a peça, advertindo o procurador que não Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 126 realizou seu trabalho em tempo hábil e informando tal fato ao Procurador-Geral para que ele adote as medidas que entender cabíveis. • Pelo menos um Procurador deverá comparecer ao Tribunal todo dia para fiscalização dos trabalhos de elaboração das denúncias que lá já deverão estar impressas e prontas para autuação. • O Procurador responsável pela sessão chegará mais cedo para exercer tal função e no dia em que não houver julgamento, mesmo assim, comparecerá na sede do Tribunal. • Os Procuradores têm autonomia e independência no exercício de suas atribuições, entretanto, para manter um mínimo de uniformidade de entendimento e procedimentos, a transação desportiva, solicitação de imagens dos jogos, interposição de recursos, oferecimento de pareceres, manifestações ou esclarecimentos, deverão ser submetidos à análise do Procurador-Geral. Abaixo a composição das equipes da Procuradoria do STJD do Futebol, bem assim as escalas as mais variadas competições organizadas pela CBF, e que estão sob sua jurisdição. STJD - ESCALA DE PROCURADORES - 2013 Escala de distribuição de súmulas e presença por Comissões Disciplinares e Tribunal Pleno Copa do Nordeste, Copa Brasil, Copa Brasil de Futebol Feminino, Campeonatos Brasileiros Séries A, B, C e D - 2013 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 127 Equipe/ Comissão Dia da Semana Procuradores 1/ 1ª CD Segunda- feira Caio Pompeu Medauar de Souza (SP) - Subprocurador-Geral Sergio da Silva Santos (RJ) Henrique Domenici (RJ) Gustavo Normanton Delbin (SP) Carlos José Eduardo Senger (SP) 2 / 2ª CD Terça-feira Wi l l iam Figue iredo de Ol ive ira (RJ) - Subprocurador-Geral Aldo Abrahão Massih Jr (SC) Gustavo Gomes Silveira (RJ) Mislaine Scarelli da Silva (SP) Giseli Amantino (PR) Marcus Vinícius Campos (RJ) 3 / 3ª CD Quarta-feira Rafae l F ioravante Alves Vanzin (RJ) - Subprocurador-Geral Maran Carneiro da Silva (PR) Marcelo Aparecido Tavares (SP) Celso Xavier (SP) Victor Gustavo Lobo Cortez Amado (GO) 4 / 4ªCD Sexta-feira Renata Quadros (PR) – Subprocuradora-Geral Rodrigo José Teixeira de Oliveira (MG) Rodrigo Moraes Mendonça Raposo (RJ) Diego Gomes (RJ) Marcelo Lopes Salomão (PR) 5 / 5a CD Quinta-feira (5ª CD) Alessandro Kioshi Kishino (PR) – Subprocurador- Geral Marcio Fernando Andraus Nogueira (SP) Márcio de Almeida Azevedo (RJ) Fernando Francisco da Silva Junior (DF) Milton Jordão (BA) PLENO Quinta-feira Paulo Marcos Schmitt (PR) - Procurador-Geral Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 128 COPA DO NORDESTE - 2013 Equipe Responsável Grupos 1ª FASE1ª FASE 1 A 2 B 3 C 4 D 2ª FASE2ª FASE 5 E 1 F 2 G 3 H 3ª FASE3ª FASE 4 I 5 J 4ª FASE4ª FASE 1 K COPA DO BRASIL DE FUTEBOL FEMININO - 2013 Equipe Responsável Grupos 1ª FASE1ª FASE 5 1 – 5 – 9 –13 4 2 – 6 – 10 – 14 3 3 – 7 – 11 – 15 2 4 – 8 – 12 – 16 2ª FASE2ª FASE 1 17 – 21 5 18 – 22 4 19 – 23 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 129 3 20 – 24 3ª FASE3ª FASE 2 25 1 26 5 27 4 28 4ª FASE4ª FASE 3 29 2 30 5ª FASE5ª FASE 1 31 5 32 COPA DO BRASIL 2013 Equipe Responsável Grupos 1ª FASE1ª FASE 1 1 – 6 – 11 – 16 – 21 – 26 – 31 – 35 2 2 – 7 – 12 – 17– 22 – 27 – 32 – 37 3 3 – 8 – 13 – 18 – 23 – 28 – 33 – 38 4 4 – 9 – 14 – 19 – 24 – 29 – 34 – 39 5 5 – 10 – 15- 20 – 25 – 30 – 35 – 40 2ª FASE2ª FASE 1 41 – 46 – 51 – 56 2 42 – 47 - 52 – 57 3 43 – 48 – 53 – 58 4 44 – 49 – 54 – 59 5 45 – 50 - 55 – 60 3ª FASE3ª FASE 1 61 – 66 2 62 – 67 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 130 3 63 – 68 4 64 – 69 5 65 – 70 4ª FASE4ª FASE 1 71 – 75 2 72 – 76 3 73 – 77 4 74 – 78 5ª FASE5ª FASE 5 79 1 80 2 81 3 82 6ª FASE6ª FASE 4 83 5 84 7ª FASE7ª FASE 1 85 CAMPEONATO BRASILEIRO Série A – 2013 Equipe Responsável Rodada Referência – Nº Jogo 1 1ª 1 a 10 2 2ª 11 a 20 3 3ª 21 a 30 4 4ª 31 a 40 5 5ª 41 a 50 1 6ª 51 a 60 2 7ª 61 a 70 3 8ª 71 a 80 4 9ª 81 a 90 5 10ª 91 a 100 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 131 1 11ª 101 a 110 2 12ª 111 a 120 3 13ª 121 a 130 4 14ª 131 a 140 5 15ª 141 a 150 1 16ª 151 a 160 2 17ª 161 a 170 3 18ª 171 a 180 4 19ª 181 a 190 5 20ª 191 a 200 1 21ª 201 a 210 2 22ª 211 a 220 3 23ª 221 a 230 4 24ª 231 a 240 5 25ª 241 a 250 1 26ª 251 a 260 2 27ª 261 a 270 3 28ª 271 a 280 4 29ª 281 a 290 5 30ª 291 a 300 1 31ª 301 a 310 2 32ª 311 a 320 3 33ª 321 a 330 4 34ª 331 a 340 5 35ª 341 a 350 1 36ª 351 a 360 2 37ª 361 a 370 3 38ª 371 a 380 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 132 CAMPEONATO BRASILEIRO Série B – 2013 Equipe Responsável Rodada Referência – Nº Jogo 5 1ª 1 a 10 4 2ª 11 a 20 3 3ª 21 a 30 2 4ª 31 a 40 1 5ª 41 a 50 5 6ª 51 a 60 4 7ª 61 a 70 3 8ª 71 a 80 2 9ª 81 a 90 1 10ª 91 a 100 5 11ª101 a 110 4 12ª 111 a 120 3 13ª 121 a 130 2 14ª 131 a 140 1 15ª 141 a 150 5 16ª 151 a 160 4 17ª 161 a 170 3 18ª 171 a 180 2 19ª 181 a 190 1 20ª 191 a 200 5 21ª 201 a 210 4 22ª 211 a 220 3 23ª 221 a 230 2 24ª 231 a 240 1 25ª 241 a 250 5 26ª 251 a 260 4 27ª 261 a 270 3 28ª 271 a 280 2 29ª 281 a 290 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 133 1 30ª 291 a 300 5 31ª 301 a 310 4 32ª 311 a 320 3 33ª 321 a 330 2 34ª 331 a 340 1 35ª 341 a 350 5 36ª 351 a 360 4 37ª 361 a 370 3 38ª 371 a 380 CAMPEONATO BRASILEIRO Série C – 2013 Equipe Responsável Grupo/Jogos 1ª FASE – turno 1ª FASE – turno 1 A (1 a 5) 2 B (1 a 5) 3 A (6 a 10) 4 B (6 a 10) 5 A (11 a 15) 1 B (11 a 15) 2 A (16 a 20) 3 B (16 a 20) 4 A (21 a 25) 5 B (21 a 25) 1 A (26 a 30) 2 B (26 a 30) 3 A (31 a 35) 4 B (31 a 35) 5 A (36 a 40) 1 B (36 a 40) 2 A (41 a 45) Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 134 3 B (41 a 45) 1ª FASE – returno 1ª FASE – returno 4 A (46 a 50) 5 B (46 a 50) 1 A (51 a 55) 2 B (51 a 55) 3 A (56 a 60) 4 B (56 a 60) 5 A (61 a 65) 1 B (61 a 65) 2 A (66 a 70) 3 B (66 a 70) 4 A (71 a 75) 5 B (71 a 75) 1 A (76 a 80) 2 B (76 a 80) 3 A (81 a 85) 4 B (81 a 85) 5 A (86 a 90) 1 B (86 a 90) 2a. FASE2a. FASE 2 C (jogos de ida e volta) 3 D (jogos de ida e volta) 4 E (jogos de ida e volta) 5 F (jogos de ida e volta) 3ª FASE3ª FASE 1 G (jogos de ida e volta) 2 H (jogos de ida e volta) 4ª FASE4ª FASE 3 I (jogos de ida e volta) CAMPEONATO BRASILEIRO Série D – 2013 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 135 Equipe Responsável Grupos 1ª FASE1ª FASE 5 A1 4 A2 3 A3 2 A4 1 A5 5 A6 4 A7 3 A8 2ª FASE2ª FASE 2 B1 1 B2 5 B3 4 B4 3 B5 2 B6 1 B7 5 B8 3ª FASE3ª FASE 4 C1 3 C2 2 C3 1 C4 4ª FASE4ª FASE 5 D1 4 D2 5ª FASE5ª FASE 3 E (jogo de IDA) 2 E (jogo de VOLTA) Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 136 COPA DO BRASIL SUB 20 2013 Equipe Responsável Grupos 1ª FASE1ª FASE 1 1 – 5 – 9 –13 2 2 – 6 – 10 – 14 3 3 – 7 – 11 – 15 4 4 – 8 – 12 – 16 2ª FASE2ª FASE 5 17 – 21 1 18 – 22 2 19 – 23 3 20 – 24 3ª FASE3ª FASE 4 25 5 26 1 27 2 28 4ª FASE4ª FASE 3 29 4 30 5ª FASE5ª FASE 5 31 Defensores Inicialmente, o CBJD mantinha a mesma redação dos códigos anteriores (CBJDD e CBDF) para o exercício da função de defensor perante órgãos judicantes a quem compete promover o assessoramento e a defesa dos direitos das pessoas físicas ou jurídicas, apenas Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 137 suprimindo a regra dos 21 anos e acrescendo a capacidade civil como pressuposto para atuação. Seguia-se a linha de dispensabilidade de advogado em instâncias não judiciais, reconhecida pela maioria da doutrina como não absoluta75, inclusive admitindo-se a autodefesa como corolário do princípio do direito de defesa. O STF já decidiu que o princípio constitucional insculpido no art. 133 admite exceções, como na capacidade postulatória para impetração de habeas corpus, bem como nas ações de revisão criminal76. Exemplificativamente, em procedimentos administrativos como licitações (Lei nº 8666/93) e processo administrativo disciplinar77 adota-se a mesma tese de desnecessidade da presença de advogado para manifestações e postulações. Confira-se o que diz Léo Da Silva Alves: “No processo penal, o réu pode cuidar da sua própria defesa, desde que seja habilitado. No processo disciplinar, pelas regras normalmente consagradas nos estatutos, essa exigência não existe. Qualquer servidor pode fazer a autodefesa”.78 No processo desportivo, a exigência de advogado para as atividades de defensoria poderia criar um obstáculo ao direito de defesa, dada a peculiaridade do procedimento no meio jurídico-desportivo, diametralmente oposto ao processo judicial. De outro lado, há parte da doutrina jurídico-desportiva que ressalta a aplicação do devido processo legal como suporte principiológico definitivo para exigir a participação obrigatória de Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 138 75 Ver Constituição Federal Anotada – Uadi Lammêgo Bulos, Saraiva, 4ª edição, p. 1036 e Constituição do Brasil Interpretada – Alexandre de Moraes, Atlas, p. 1594. 76 Ob. Cit. 21, pp. 1035/1036. 77 Para defender o indiciado revel, a autoridade instauradora do processo, após solicitação do presidente da comissão, designará um servidor como defensor dativo, ocupante de cargo de nível igual ou superior ao do indiciado (Lei nº 8.112/90, art. 164, § 2º). 78 Léo Da Silva Alves, Questões relevantes da Sindicância e do Processo Disciplinar, Ed. Brasília Jurídica, Brasília,1999, p.82. advogados no exercício da função de defensor no âmbito da Justiça Desportiva. A Constituição Federal reconhece a advocacia como função essencial à Justiça e, mais adiante, reconhece a Justiça Desportiva como meio de solução de conflitos em competições e disciplina esportiva. Portanto, não há como reconhecer a defesa – especialmente em matéria sancionatória – patrocinada por indivíduo que não envergue o grau de advogado. E a Conferência Nacional da Advocacia realizada no mês de setembro de 2005, em Florianópolis, no painel de Direito Desportivo, foram aprovadas deliberações no sentido de indicar a necessidade da presença de advogado para atuação como defensor na Justiça Desportiva, bem assim a criação de defensorias públicas junto aos órgãos judicantes. Registre-se que a Justiça Desportiva do Governo do Paraná, no COJDD (art. 25), já contempla a figura do defensor público integrante de órgão auxiliar denominado Defensoria Pública, cujas funções são ser exercidas, via de regra, por Advogado regularmente inscrito na OAB, inclusive fazendo constar em ata o seu número da carteira de registro profissional, tendo a sua efetiva participação assegurada em qualquer julgamento. A sugestão da Conferência acabou sendo acolhida na proposta das sucessivas modificações do CBJD. Atualmente, a regra do art. 29 do CBJD, com redação conferida pela Resolução CNE nº 29 de 2009, prevê que qualquer pessoa maior e capaz é livre para postular em causa própria ou fazer-se representar por advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, observados os impedimentos legais. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 139 Demais disso, o estagiário de advocacia regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil também poderá sustentar oralmente, desde que instruído por advogado regularmente inscrito na OAB, mediante declaração por escrito do advogado, que assumirá a responsabilidade pela sustentação oral do estagiário. A representação em referência habilita o defensor a intervir no processo, até o final e em qualquer grau de jurisdição, podendo as entidades de administração do desporto e de prática desportiva credenciar defensores para atuar em seu favor, de seus dirigentes, atletas e outras pessoas que lhes forem subordinadas, salvo quando colidentes os interesses, sendo lícito a quaisquer dessas pessoas a nomeação de outro defensor. E o que antes era uma faculdade, hoje vige a regra de que os tribunais desportivos, tanto os STJDs, como TJDs locais, por meio das suas Presidências, deverão nomear defensores dativos para exercer a defesa técnica de qualquer pessoa natural ou jurídica que assim o requeira expressamente, bem como de qualquer atleta menor de dezoito anos de idade, independentemente de requerimento. Secretaria As atribuições mais comuns de Secretaria recaem sobre a execução cartorial dos atos e termos processuais. São a t i v idades essenc ia i s ao regu la r e cé le re desenvolvimento da JustiçaDesportiva e conseqüente prestação jurisdicional, tais como: • Receber, registrar, protocolar e autuar os termos da denúncia e outros documentos enviados aos órgãos judicantes, e Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 140 encaminhá-los, imediatamente, ao Presidente do Tribunal, para determinação procedimental; • convocar os auditores para as sessões designadas, bem como cumprir os atos de citações e intimações das partes, testemunhas e outros, quando determinados; • atender a todos os expedientes dos órgãos judicantes; • prestar às partes interessadas as informações relativas ao andamento dos processos; • ter em boa guarda todo o arquivo da Secretaria constante de livros, papéis e processos; • expedir certidões por determinação dos Presidentes dos órgãos judicantes; • receber, protocolar e registrar os recursos interpostos. Posse, mandato e antiguidade A posse dos membros das instâncias desportivas deve ocorrer através de ato formal do Presidente do Tribunal, via de regra, e consoante o que determinar o Código ou, se houver, regimento interno de cada órgão. Já o mandato, que significa o tempo de duração no exercício da respectiva função depende de previsão legal ou regulamentar -, atualmente no máximo de quatro anos permitida uma recondução (art. 55, parágrafo 2º da Lei 9615/98) para aqueles que compõem a estrutura da Justiça Desportiva que funciona junto a Confederações, Federações e Ligas. A regra de antigüidade dos auditores merece destaque diante da ordem de votação nas sessões ou nas hipóteses de vacância Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 141 simultânea das funções de Presidente e Vice-Presidente do órgão judicante, sendo regra geral assim definida: • Data da posse; • posse na mesma data - maior número de mandatos; • persistindo o empate - auditor mais idoso. Vacância Os serviços das instâncias desportivas não se interrompem, entretanto factível é a ocorrência de vacância, isto é, determinado cargo/ função ficar vago, sem auditor. Tais casos são bem específicos e ocorrem quando um membro da Justiça Desportiva vem a falecer, renuncia ao exercício de suas atribuições ou quando condenado pela própria Justiça Desportiva ou pela Justiça Comum por infração que importe em incapacidade moral do punido. Não poderia ficar de fora a questão da assiduidade, isto é, do comparecimento nas sessões marcadas. Ainda, a vacância pode vir a ocorrer por declaração de incompatibilidade, decidida pelo colegiado. A regra de preenchimento nas hipóteses de vacância depende de previsão em Lei, Código ou Regimento Interno. O CBJD determina que a vacância deve ser comunicada pelo órgão judicante à entidade indicante para o regular preenchimento. Decorridos 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, caso o órgão indicante competente não houver preenchido a vaga, o respectivo órgão judicante (STJD ou TJD) designará substituto para ocupar, interinamente, o cargo, até a efetiva indicação (art. 15). O mesmo procedimento deverá ser adotado pela respectiva entidade de administração do desporto e vale Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 142 exclusivamente para as hipóteses de inexistência de órgão judicante ou, em existindo, por qualquer razão, deixar de funcionar (art. 281). Vejamos algumas regras específicas sobre o tema no CBJD: Art. 15. Ocorrendo a vacância do cargo de auditor no Tribunal Pleno, o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), no prazo de cinco dias, comunicará a ocorrência ao órgão indicante competente para preenchê-la. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Decorridos trinta dias do recebimento da comunicação, se o órgão indicante competente não houver preenchido a vaga, o respectivo Tribunal (STJD ou TJD) designará substituto para ocupar, interinamente, o cargo até a efetiva indicação. (AC). § 2º A comunicação a que se refere este artigo far-se-á pela mesma forma das citações e intimações. (AC). § 3º O descumprimento deste artigo pelo Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) ensejará a aplicação da penalidade prevista no art. 239. (AC). Art. 15-A. Ocorrendo a vacância do cargo de auditor em Comissão Disciplinar, o Presidente da respectiva Comissão Disciplinar comunicará, no prazo de cinco dias, a ocorrência ao Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), e o Tribunal Pleno procederá na forma dos arts. 4º-A e 5º-A, conforme o caso, na primeira sessão subsequente à vacância. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. O descumprimento deste artigo pelo Presidente da Comissão Disciplinar ensejará a aplicação da penalidade prevista no art. 239. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 15-B. Os auditores poderão afastar-se temporariamente de suas funções, pelo tempo que se fizer necessário, conforme licença a ser concedida pelo Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), o que não interrompe nem suspende o transcurso do prazo de exercício do mandato. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Durante a licença dos auditores de Comissões Disciplinares, os respectivos órgãos judicantes deverão indicar auditor substituto para a composição temporária do colegiado, conforme o procedimento previsto nos arts. 4º-A e 5º-A, conforme o caso. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º Durante a licença de auditor de Tribunal Pleno, o auditor substituto será indicado pela mesma entidade elencada nos arts. 4º e 5º, conforme o caso, que tiver indicado o auditor licenciado. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 143 Incompatibilidade O CBJD impõe vedação ao exercício de qualquer função na Justiça Desportiva aos membros do Conselho Nacional do Esporte e aos dirigentes das entidades de administração e de prática do desporto. É uma regra genérica de incompatibilidade entre as atribuições conferidas aos membros do CNE e dirigentes desportivos em correspondência às atividades precípuas de independência e imparcialidade dos membros da Justiça Desportiva que devem estar totalmente desvinculados das referidas entidades (art. 16). No mesmo sentido, ocorre a incompatibilidade a partir da condenação criminal, passada em julgado na Justiça Comum, ou disciplinar, passada em julgado na Justiça Desportiva, quando, a critério do Tribunal (STJD ou TJD), conforme decidido por dois terços dos membros de seu Tribunal Pleno, e o resultado comprometer a probidade necessária ao desempenho do mandato; (Art. 14, Parágrafo Único, I). Valed Perry, explica que “a Justiça Desportiva exercida por homens de notória experiência, desligados da direção das entidades e das associações, trouxe para os desportos, no seu aspecto disciplinar, fora de qualquer dúvida, maior tranqüilidade e possibilidade, infinitamente maiores, de melhor aplicação dos dispositivos penais, sabido que os dirigentes das entidades, quando lhes era atribuída competência para julgar e apenar, viam-se pressionados pelos dirigentes das associações interessadas no resultado do julgamento, dos quais, afinal, dependiam para continuação em seus cargos, daí resultando atritos ou a injustiça, o que é muito pior.”79 Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 144 79 PERRY, Valed. Comentários à Legislação Desportiva Brasileira. 1965, p. 71. Importante destacar que não existe incompatibilidade entre o cargo de auditor e o exercício de função meramente executiva em órgão da administração do esporte ou a presença em comissão consultiva também em entidades de administração do desporto, visto que tais atribuições não conduzem necessariamente ao raciocínio deflagrante exercício em cargo/função diretiva, este sim vedado pela legislação desportiva em órgãos judicantes; mesmo porque, se a lei abre exceção a membros de conselhos deliberativos de entidades de prática, nos termos do art. 55, § 3º da Lei nº 9.615/98, não poderia ser diferente em relação a membros de comissões temporárias de estudo ou de determinada área desportiva. Do mesmo modo, por óbvio, não há que se falar em incompatibilidade quando o auditor (ou procurador) exerce cargo diretivo, ou função em tribunal desportivo, em modalidade diversa da qual integra o órgão judicante. Nesse aspecto, vale lembrar que toda a estrutura prevista às instâncias desportivas encontra-se vinculada a cada modalidade. O que não pode ocorrer, por certo e lógico, é o auditor e ou procurador, vir exercer cargo ou função, em tribunal desportivo na mesma modalidade. Em outras palavras, quem é auditor e ou procurador no TJD do Futebo l de Go iás , jamais , ao mesmo tempo (simultaneamente), poderá ocupar a função de auditor e ou procurador no STJD do Futebol, ou vice-versa. Suspeição e impedimento Suspeições e impedimentos são circunstâncias de ordem individual, íntima, de parentesco (consangüíneo ou afim), que, envolvendo, regra geral, a pessoa do denunciado com os membros da Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 145 Justiça Desportiva, testemunhas, peritos e autoridade julgadora, impossibilitam estes de exercerem qualquer função no respectivo procedimento disciplinar80. Da mesma maneira que ocorre em processos judiciais, o procedimento disciplinar desportivo é pautado em consolidados princípios e garantias, possibilitando que as partes envolvidas tenham absoluta certeza de que o resultado será correto e justo. Destarte, princípios constitucionais – como contraditório e a ampla defesa – são antídotos a qualquer juízo ou tribunal de exceção. Desta feita, o processo disciplinar desportivo também necessita, para que sua decisão possua eficácia e seja respeitada, que os componentes dos órgãos judicantes tenham considerável conhecimento técnico-jurídico e que estejam totalmente desvinculados do litígio em referência. Certamente não há situação mais nefasta do que um determinado procedimento disciplinar vir a ser apreciado por pessoa com interesse no resultado. Egon Bockmann Moreira81, ao comentar o art. 47 da Lei nº 9784/99 (legislação federal do processo administrativo), assevera que: "A única peculiaridade do processo administrativo reside na possibilidade de o órgão que participa da instrução não ser aquele que proferirá a decisão (art. 47). Medida de todo saudável, vez que muitas vezes a Administração é parte no processo. Ao transferir a competência decisória para outro órgão a Lei 9.784, de 1999, prestigia a imparcialidade e moralidade do processo administrativo." Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 146 80 Definição adaptada do Manual de Processo Administrativo Disciplinar – Apostila 6 – fonte www.planalto.gov.br 81 MOREIRA, Egon Bockmann. Processo Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2000, p.236. Interessante, ainda, transcrever as palavras de Sérgio Ferraz e Adilson Abreu Dallari82 sobre o princípio da imparcialidade no processo administrativo: "Seria total e absurdamente inútil o processo administrativo se inexistisse para os litigantes a garantia de imparcialidade na tomada de decisão. Do administrador-julgador há, pois, de se exigir, como condição de capacidade subjetiva, a inexistência de condições que, direta ou indiretamente, sejam suscetíveis de prejudicar a total isenção que há de marcar sua atuação em face dos direitos e interesses contrapostos (ainda quando entre tais direitos e interesses figurem aqueles que titular da própria Administração). Incumbe sublinhar: a) sequer é necessário que tais condições afetem, efetivamente, o conteúdo da decisão; basta que sejam em tese suscetíveis de fazê-lo; b) tão indeclinável é o dever de imparcialidade que a simples suposição, em tese, de que, mesmo indiretamente, possa ser ela comprometida há de conduzir o administrador-juiz a afastar-se dessa atuação." Ao que se vê, o vício de parcialidade nasce do justo receio decorrente de circunstância determinante da condição de influenciar o auditor a tomar atitude diversa do seu dever motivado subjetivamente por aspectos alheios aos dados constantes do processo. Em síntese, os impedimentos de atuação no julgamento de processos disciplinares se originam quando o poder de discernimento e convencimento do auditor não consegue se expressar livremente. N o s t e r m o s d o C B J D , n ã o p o d e m i n t e g r a r concomitantemente o Tribunal Pleno, ou uma mesma Comissão Disciplinar, auditores que tenham parentesco na linha ascendente ou descendente, nem auditor que seja cônjuge, companheiro, irmão, tio, sobrinho, sogro, padrasto, enteado ou cunhado, durante o cunhadio, de outro auditor (art. 17). São circunstâncias configuradoras de impedimento quando o auditor for credor, devedor, avalista, fiador, sócio, patrão ou empregado, direta ou indiretamente, de qualquer das partes. E, ainda como visto Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 147 82 FERRAZ, Sérgio e DALLARI, Adilson Abreu. Processo Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2000, pp.106/107. anteriormente, quando se houver manifestado, previamente, sobre fato concreto do objeto da causa em julgamento. Esta última circunstância, especificamente, deve ser analisada com ressalva, notadamente em face de pressões dos meios de comunicação para que os membros de órgãos judicantes pronunciem-se previamente. Tais manifestações não conduzem necessariamente à uma condição de prevenção no processo desportivo. Para tanto, é preciso que da sua manifestação prévia não reste dúvida quanto à sua convicção em julgamento futuro. E, do mesmo modo, nem sempre nas situações que um auditor preside ou apresenta conclusões em sede de inquérito disciplinar pode-se argüir tal condição como de impedimento. Isto em razão do CBJD não recepcionar expressamente vedação nesse sentido. Já no processo administrativo pode ocorrer justamente o oposto, à medida que das conclusões de uma sindicância, por exemplo, pode até resultar a aplicação de penalidade. Na Justiça Desportiva, em sentido diverso, o inquérito ou sindicância possui natureza eminentemente investigativa e o auditor que opina pela instauração do processo desportivo poderá, conforme a produção de provas e argumentações de defesa, votar pela absolvição. Os impedimentos devem ser declarados pelo próprio auditor tão logo tome conhecimento do processo, sob pena das partes ou a Procuradoria argüi-los na primeira oportunidade em que se manifestarem no processo, decidindo o respectivo órgão judicante em caráter irrecorrível. Nelson Nery Jr., Arruda Alvim e Celso Barbi destacam que “Os motivos indicadores do impedimento do juiz são de natureza objetiva, caracterizando presunção iuris et de iure, absoluta, de parcialidade do magistrado (Arruda Alvim, CPCC, VI, 26; Barbi, Coment., n. 717, p. 413). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 148 Provada a causa de impedimento, o juiz deve ser inexoravelmente afastado do processo, passando nele a funcionar seu substituto automático, de acordo com a lei de organização judiciária respectiva. O impedimento é pressuposto processual negativo.”83 Livre acesso Para que os membros dos tribunais desportivos possam desempenhar plenamente suas funções, não pode ser impedido o acesso a nenhum local, público ou particular, destinado ao evento esportivo da modalidade em questão, devendo ser-lhes reservado assento em setordesignado para as autoridades desportivas. Muitos dos atos de comunicação são imprescindíveis de serem realizados, às vezes, durante uma partida, prova ou equivalente. Exemplo disso é a citação ou intimação de alguém para o julgamento imediato de um processo disciplinar. Outra finalidade importante é a presença dos membros dos tribunais desportivos, à medida que tanto facilita o convencimento do que se visualiza como se verifica, neste sentido, uma drástica redução da prática de infrações disciplinares, sendo a atuação da Justiça Desportiva, nestes casos, classificada como preventiva. Assim, conforme expressamente previsto, é dever de todas as entidades de prática desportiva garantir e disponibilizar o livre acesso dos membros dos tribunais aos locais onde são realizadas as disputas, sejam estes locais públicos ou privados e, ainda, reservar assento em setor designado para autoridades. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 149 83 CPC Comentado. 8ª ed. p. 603, citado por Alexandre Hellender de Quadros, STJD do Futebol, Parecer em Recurso Voluntário, processo sob nº 012/2005. No entanto, o referido acesso, para os eventos promovidos por federações, nos limites de suas territorialidade aos TJDs, e em qualquer eventos aos membros de STJDs, somente será garantido se informado pelo respectivo órgão judicante à entidade mandante da partida, prova ou equivalente, com antecedência mínima de quarenta e oito horas. O descumprimento de tais normas acarreta a imediata comunicação ao Presidente do órgão judicante, que poderá interditar, liminarmente, o local para a prática de qualquer atividade relativa à respectiva modalidade, intimando a entidade organizadora do evento para que adote as medidas necessárias ao cumprimento da decisão, sob pena de suspensão até que o faça. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 150 VI. DECRETO 7.984/2013 - ORDEM E JUSTIÇA DESPORTIVA O Decreto que regulamentou a Lei 9615/98, ao que tudo indica, procurou preservar os ditames legais já consolidados pela legislação vigente e eficaz quanto ao tema, trazendo inovações e alterações para o seu constante aperfeiçoamento. Vale conferir algumas modificações e implementações necessárias ao modelo já incorporado pelo sistema vigente para a “Ordem Desportiva” e os limites ao poder sancionador das entidades diretivas, bem assim à temática da “Justiça Desportiva”: Art. 11. Compete ao CNE: ... VI - aprovar os Códigos de Justiça Desportiva e suas alterações, com as peculiaridades de cada modalidade; ... § 2º Para o atendimento ao disposto no inciso VII do caput, o CNE aprovará o Código Brasileiro de Justiça Desportiva para o Desporto de Rendimento - CBJD e o Código Brasileiro de Justiça Desportiva para o Desporto Educacional - CBJDE. ... Art. 32. Para a celebração do contrato de desempenho será exigido das entidades que sejam regidas por estatutos que disponham expressamente sobre: ... IV - funcionamento autônomo e regular dos órgãos de Justiça Desportiva referentes à respectiva modalidade, inclusive quanto a não existência de aplicação de sanções disciplinares através de mecanismos estranhos a esses órgãos, ressalvado o disposto no art. 51 da Lei nº 9.615, de 1998; CAPÍTULO VII DA ORDEM DESPORTIVA Art. 38. A aplicação de qualquer penalidade prevista nos incisos IV ou V do caput do art. 48 da Lei nº 9.615, de 1998, exige decisão definitiva da Justiça Desportiva, limitada às questões que envolvam infrações disciplinares e competições desportivas, em observância ao disposto no § 1º do art. 217 da Constituição. Art. 39. Na aplicação das penalidades por violação da ordem desportiva, previstas no art. 48 da Lei nº 9.615, de 1998, além da garantia do Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 151 contraditório e ampla defesa, devem ser observados os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. CAPÍTULO VIII DA JUSTIÇA DESPORTIVA Art. 40. A Justiça Desportiva regula-se pela Lei nº 9.615, de 1998, por este Decreto e pelo disposto no CBJD ou CBJDE, respectivamente observados os seguintes princípios: I - ampla defesa; II - celeridade; III - contraditório; IV - economia processual; V - impessoalidade; VI - independência; VII - legalidade; VIII - moralidade; IX - motivação; X - oficialidade; XI - oralidade; XII - proporcionalidade; XIII - publicidade; XIV - razoabilidade; XV - devido processo legal; XVI - tipicidade desportiva; XVII - prevalência, continuidade e estabilidade das competições; e XVIII - espírito desportivo Art. 41. Os órgãos integrantes da Justiça Desportiva, autônomos e independentes das entidades de administração do desporto de cada sistema, são os Superiores Tribunais de Justiça Desportiva - STJD, perante as entidades nacionais de administração do desporto; os Tribunais de Justiça Desportiva - TJD, perante as entidades regionais da administração do desporto, e as Comissões Disciplinares, com competência para processar e julgar questões previstas nos Códigos de Justiça Desportiva, assegurados a ampla defesa e o contraditório. § 1º Os tribunais plenos dos STJD e dos TJD serão compostos por nove membros: I - dois indicados pela entidade de administração do desporto; II - dois indicados pelas entidades de prática desportiva que participem de competições oficiais da divisão principal, por decisão em reunião convocada pela entidade de administração do desporto para esse fim; III - dois advogados com notório saber jurídico desportivo, indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil; IV - um representante dos árbitros, indicado pela entidade de classe; V - dois representantes dos atletas, indicados pelas entidades sindicais. § 2º Para os fins dispostos nos incisos IV e V do § 1º na hipótese de inexistência de entidade regional, caberá à entidade nacional a indicação. ... Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 152 Art. 60. No prazo de cento e oitenta dias da data da entrada em vigor deste Decreto, o Conselho Nacional do Esporte - CNE aprovará o Código Brasileiro de Justiça Desportiva para o Desporto Educacional - CBJDE, ouvidas a CBDE e a CBDU. ... Art. 64. Ao COB e ao CPB aplicam-se as disposições constantes do inciso I do caput do art. 23 da Lei nº 9.615, de 1998, acerca da instituição do Tribunal de Justiça Desportiva, quando estiverem atuando na administração de modalidade desportiva em substituição a entidade nacional de administração do desporto. O art. 217, I, da Constituição Federal consagra a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento. E essa autonomia conferida às entidades diretivas é que possibilita o exercício de um poder decisório ex-officio e interna corporis. No entanto, a sobredita autonomia encontra limites na lei, não podendo o dirigente desportivo invadir a competência dos órgãos judicantes, por exemplo. Uma prática absolutamente distorcida e abusiva em competições de algumas modalidades desportivas tem se revelado nos regulamentos, através das chamadas “medidas disciplinares automáticas”, fixando penalidades que dependem de processo e julgamento por instâncias desportivas. Nessa esteira, a regulamentação visou coibir expressamente essa ilegalidade através da impossibilidade de aplicação de recursos públicos em entidades que não asseguram o regular e funcionamento dos tribunais desportivos, preservando as competências de tais órgãos judicantes e respeitando as suas decisões. Ora, é consabido que matéria disciplinar ou de competição é de exclusiva e reservada competência da Justiça Desportiva. As demais ações que visem restabelecer o respeito aos poderes internos das entidades, ou mesmo quanto a aspectosincidentes sobre cumprimento de regras e regulamentos, podem ser objeto de aplicação de algumas providências ou aplicação de sanções Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 153 que, mesmo nas de maior gravidade, devem ser definitivamente julgadas pelos respectivos órgãos da Justiça Desportiva. O modelo disciplinar vigente consolidado na prática, mas carente de algumas novas proposições, em parte contemplou no bojo do texto algumas disposições que eliminam controvérsias, dúbias interpretações sobre uma mesma situação concreta e, especialmente, contribui para a construção de uma Justiça Desportiva séria e célere ao mesmo tempo, sem interferências e pressões externas muito comuns em atividades recheadas do ingrediente da paixão, como no desporto. Passamos ao destaque das principais modificações e inovações dessa proposta para a Justiça Desportiva: • Delimitação da Justiça Desportiva prevista na proposta, assim como já estava implícito na legislação vigente, aos componentes do Sistema Nacional do Desporto, deixando que os órgãos do Poder Público que organizam competições tenham seus próprios sistemas desportivos, porém ao desporto educacional a imperiosa aplicabilidade do ainda a ser editado Código Brasileiro de Justiça Desportiva para o Desporto Educacional, em tese em substituição ao CNOJDD que hoje é utilizado praticamente apenas pelo COB ao organizar Olimpíadas Escolares; • enumeração de dezoito princípios que orientam a Justiça Desportiva do país, conforme já previsto no CBJD; • reconhecimento do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (e também do CBJDE) a partir da definição de matérias como organização e funcionamento da Justiça Desportiva e sua aplicação subsidiária na falta de disposições específicas; • manutenção da estrutura hierarquizada STJDs, TJDs e CDs; Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 154 • manutenção da forma de composição dos tribunais desportivos, entretanto, com a possibilidade de indicação de entidades nacionais de classe ou sindicatos na hipótese de inexistência de representatividade regional de atletas ou árbitros para tal indicação; • previsão de necessidade de instituir tribunais desportivos também ao COB e CPB quando porventura atuarem em substituição de entidades nacionais de administração do desporto. Da análise da regulamentação em referência, e de tantas propostas que encaminhamos e debatemos na Comissão de Estudos Jurídicos do Ministério do Esporte, sendo a grande maioria contemplada na sua edição, faltou a previsão expressa da possibilidade de formalização de acordo, convênios, etc para propiciar que mais de uma entidade de administração de modalidade desportiva possa compor sua estrutura judicante, um reclame de inúmeras modalidades cuja realidade não permite o regular funcionamento de sua Justiça Desportiva. Mas isso não inviabiliza que tal venha a ocorrer, bastando que as representações das diversas modalidade e segmentos indiquem os mesmo nomes para a composição dos Tribunais Plenos. Finalmente, merece destacar, ainda, a natureza da previsão constitucional que impõe prazo de sessenta dias para a justiça desportiva proferir decisão final (art. 217, §2º, CF/88), não podendo ser reconhecido caráter decadencial ou prescricional à referida norma constitucional, até porque, por prescrição entende-se a perda da pretensão punitiva ou executória do Estado, no caso Justiça Desportiva, pelo decurso do tempo sem o seu exercício. Porém, trata-se, na realidade, de um complemento ao parágrafo anterior do mesmo artigo, pois o constituinte inicialmente previu o esgotamento da instância desportiva como precedente necessário à dedução da pretensão dos interessados junto ao Poder Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 155 Judiciário. Contudo, para impedir que a instância desportiva durasse eternamente e, assim, ficasse esvaziada a possibilidade de acesso ao Judiciário, a Constituição impõe o prazo de sessenta dias para o esgotamento da instância desportiva. A proposta aprovada infelizmente deixou de reforçar esse entendimento, mas é indene de dúvida que há plena garantia que decurso do referido prazo não retira da justiça desportiva a possibilidade de proceder ao andamento do processo disciplinar desportivo, ou seja, não lhe retira o direito material, nem tampouco impede o seu exercício. Apenas autoriza o interessado, independente do esgotamento da instância desportiva, a buscar a tutela jurisdicional do Poder Judiciário, mas desde que não se proceda a análise de mérito. De suma relevância que fique estabelecido que o acesso ao Poder Judiciário só deveria ser permitido àqueles que não só estejam sob o crivo jurisdicional da Justiça Desportiva, mas que tenham obrigatoriamente dela antes se utilizado com o fim de buscar o direito a ser perseguido quando então obterão a necessária legitimidade postulatória. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 156 ANEXO I. CÓDIGOS DE JUSTIÇA DESPORTIVA 1. Código Brasileiro de Justiça Desportiva - CBJD RESOLUÇÃO CNE Nº 01/2003 (ALTERADO PELAS RESOLUÇÕES CNE 06/2006 e 29/2009). CÓDIGO BRASILEIRO DE JUSTIÇA DESPORTIVA (Texto Consolidado) LIVRO I DA JUSTIÇA DESPORTIVA TÍTULO I DA ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO PROCESSO DESPORTIVO Capítulo I DA ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DESPORTIVA Art. 1º A organização, o funcionamento, as atribuições da Justiça Desportiva brasileira e o processo desportivo, bem como a previsão das infrações disciplinares desportivas e de suas respectivas sanções, no que se referem ao desporto de prática formal, regulam-se por lei e por este Código. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo Único (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Submetem-se a este Código, em todo o território nacional: (AC). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 157 I - as entidades nacionais e regionais de administração do desporto; (AC). II - as ligas nacionais e regionais; (AC). III - as entidades de prática desportiva, filiadas ou não às entidades de administração mencionadas nos incisos anteriores; (AC). IV - os atletas, profissionais e não-profissionais; (AC). V - os árbitros, assistentes e demais membros de equipe de arbitragem; (AC). VI - as pessoas naturais que exerçam quaisquer empregos, cargos ou funções, diretivos ou não, diretamente relacionados a alguma modalidade esportiva, em entidades mencionadas neste parágrafo, como, entre outros, dirigentes, administradores, treinadores, médicos ou membros de comissão técnica; (AC). VII - todas as demais entidades compreendidas pelo Sistema Nacional do Desporto que não tenham sido mencionadas nos incisos anteriores, bem como as pessoas naturais e jurídicas que lhes forem direta ou indiretamente vinculadas, filiadas, controladas ou coligadas. (AC). § 2º Na aplicação do presente Código, será considerado o tratamento diferenciado ao desporto de prática profissional e ao de prática não-profissional, previsto no inciso III do art. 217 da Constituição Federal. (AC). Art. 2º A interpretação e aplicação deste Código observará os seguintes princípios, sem prejuízo de outros: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - ampla defesa; II - celeridade; Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 158 III - contraditório; IV - economia processual; V - impessoalidade; VI - independência; VII - legalidade; VIII - moralidade; IX - motivação; X - oficialidade; XI - oralidade; XII - proporcionalidade; XIII - publicidade; XIV - razoabilidade; XV - devido processo legal; (AC).XVI - tipicidade desportiva; (AC). XVII – prevalência, continuidade e estabilidade das competições (pro competitione); (AC). XVIII – espírito desportivo (fair play). (AC). Art. 3º São órgãos da Justiça Desportiva, autônomos e independentes das entidades de administração do desporto, com o custeio de seu funcionamento promovido na forma da lei: I - o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), com jurisdição desportiva correspondente à abrangência territorial da entidade nacional de administração do desporto; (NR). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 159 II - os Tribunais de Justiça Desportiva (TJD), com jurisdição desportiva correspondente à abrangência territorial da entidade regional de administração do desporto; (NR). III - as Comissões Disciplinares constituídas perante os órgãos judicantes mencionados nos incisos I e II deste artigo. (NR). Art. 3º-A. São órgãos do STJD o Tribunal Pleno e as Comissões Disciplinares. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 4º O Tribunal Pleno do STJD compõe-se de nove membros, denominados auditores, de reconhecido saber jurídico desportivo e de reputação ilibada, sendo: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - dois indicados pela entidade nacional de administração do desporto; II - dois indicados pelas entidades de prática desportiva que participem da principal competição da entidade nacional de administração do desporto; III - dois advogados indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; IV – um representante dos árbitros, indicado por entidade representativa; e (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) V – dois representantes dos atletas, indicados por entidade representativa. (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) Art. 4º-A. Para apreciação de matérias relativas a competições interestaduais ou nacionais, funcionarão perante o STJD, como primeiro grau de jurisdição, tantas Comissões Disciplinares Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 160 Nacionais quantas se fizerem necessárias, compostas, cada uma, por cinco auditores, de reconhecido saber jurídico desportivo e de reputação ilibada, que não pertençam ao Tribunal Pleno do STJD. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Os auditores das Comissões Disciplinares serão indicados pela maioria dos membros do Tribunal Pleno do STJD, a partir de sugestões de nomes apresentadas por qualquer auditor do Tribunal Pleno do STJD, devendo o Presidente do Tribunal Pleno do STJD preparar lista com todos os nomes sugeridos, em ordem alfabética. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º Cada auditor do Tribunal Pleno do STJD deverá, a partir da lista mencionada no § 1º, escolher um nome por vaga a ser preenchida, e os indicados para compor a Comissão Disciplinar serão aqueles que obtiverem o maior número de votos, prevalecendo o mais idoso, em caso de empate. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 3º Caso haja mais de uma vaga a ser preenchida em uma ou mais Comissões Disciplinares, a votação será única e a distribuição dos auditores nas diferentes vagas e Comissões Disciplinares far-se-á de modo sucessivo, preenchendo-se primeiro as vagas da primeira Comissão Disciplinar, e posteriormente as vagas das Comissões Disciplinares de numeração subsequente, caso existentes, conforme a ordem decrescente dos indicados mais votados. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 4º-B. São órgãos de cada TJD o Tribunal Pleno e as Comissões Disciplinares. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 5º Cada TJD compõe-se de nove membros, denominados auditores, de reconhecido saber jurídico desportivo e de Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 161 reputação ilibada, sendo: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - dois indicados pela entidade regional de administração de desporto; II - dois indicados pelas entidades de prática desportiva que participem da principal competição da entidade regional de administração do desporto; III - dois advogados indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil, por intermédio da seção correspondente à territorialidade; IV - um representante dos árbitros, indicado por entidade representativa; e (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) V - dois representantes dos atletas, indicados por entidade representativa. (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) Art. 5º-A. Para apreciação de matérias relativas a competições regionais e municipais, funcionarão perante cada TJD, como primeiro grau de jurisdição, tantas Comissões Disciplinares Regionais quantas se fizerem necessárias, conforme disposto no regimento interno do TJD, compostas, cada uma, por cinco auditores, de reconhecido saber jurídico desportivo e de reputação ilibada, que não pertençam ao Tribunal Pleno do respectivo TJD. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Os auditores das Comissões Disciplinares serão indicados pela maioria dos membros do Tribunal Pleno do TJD, a partir de sugestões de nomes apresentados por qualquer auditor do Tribunal Pleno do TJD, devendo o Presidente do Tribunal Pleno do TJD preparar lista, Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 162 com todos os nomes sugeridos, em ordem alfabética. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º Cada auditor do Tribunal Pleno do TJD deverá, a partir da lista mencionada no § 1º, escolher um nome por vaga a ser preenchida, e os indicados para compor a Comissão Disciplinar serão aqueles que obtiverem o maior número de votos, prevalecendo o mais idoso, em caso de empate. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 3º Caso haja mais de uma vaga a ser preenchida em uma ou mais Comissões Disciplinares, a distribuição dos auditores nas diferentes vagas e Comissões Disciplinares far-se-á de modo sucessivo, preenchendo-se primeiro as vagas da primeira Comissão Disciplinar, e posteriormente as vagas das Comissões Disciplinares de numeração subsequente, caso existentes. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 6º (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 7º Os órgãos judicantes só poderão deliberar e julgar com a presença da maioria de seus auditores, excetuadas as hipóteses de julgamento monocrático admitidas por este Código. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 8º Os órgãos enumerados no art. 3º serão dirigidos por um Presidente e um Vice-Presidente, eleitos pela maioria de seus membros. (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) Parágrafo único. A Presidência e a Vice-Presidência do STJD e do TJD serão exercidas pelos respectivos Presidentes e Vice-Presidentes de seus Tribunais Plenos. (NR). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 163 Art. 8º-A. Em caso de vacância na Presidência do órgão judicante, o Vice-Presidente assumirá imediatamente o cargo vago, que será exercido até o término do mandato a que se encontrava vinculado o Presidente substituído. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. Ao assumir a Presidência do órgão judicante, o Vice-Presidente terá a incumbência de convocar sessão, a ser realizada no prazo máximo de trinta dias, com o fim de preencher a Vice- Presidência, que será exercida até o término do mandato a que se encontrava vinculado o até então Vice-Presidente. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 8º-B. No caso de vacância concomitante na Presidência e na Vice-Presidência do órgão judicante, a Presidênciaserá temporariamente exercida pelo auditor mais antigo, e a Vice-Presidência, pelo segundo auditor mais antigo. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º O auditor que assumir temporariamente a Presidência terá a incumbência de convocar sessão, a ser realizada no prazo máximo de trinta dias, com o fim de preencher os cargos vagos. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º Os auditores eleitos ocuparão os cargos a que se refere o caput até o término dos mandatos a que se encontravam vinculados os auditores substituídos. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Capítulo II DO PRESIDENTE E DO VICE-PRESIDENTE DO STJD, DOS TRIBUNAIS E DAS COMISSÕES DISCIPLINARES Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 164 Art. 9º São atribuições do Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), além das que lhe forem conferidas pela lei, por este Código ou regimento interno: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - zelar pelo perfeito funcionamento do Tribunal e fazer cumprir suas decisões; II - ordenar a restauração de autos; III - dar imediata ciência, por escrito, das vagas verificadas no Tribunal ao Presidente da entidade indicante; IV - determinar sindicâncias e aplicar sanções aos funcionários do Tribunal, conforme disposto no regimento interno; (NR). V - sortear os relatores dos processos de competência do Tribunal Pleno; (NR). VI - dar publicidade às decisões prolatadas; VII - representar o Tribunal nas solenidades e atos oficiais, podendo delegar essa função a qualquer dos auditores; (NR). VIII - designar dia e hora para as sessões ordinárias e extraordinárias e dirigir os trabalhos; IX - dar posse aos auditores do Tribunal Pleno e das Comissões Disciplinares, bem como aos secretários; (NR). X - exigir da entidade de administração o ressarcimento das despesas correntes e dos custos de funcionamento do Tribunal e prestar- lhe contas; XI - receber, processar e examinar os requisitos de admissibilidade dos recursos provenientes da instância imediatamente inferior; (NR). XII (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 165 XIII - conceder licença do exercício de suas funções aos auditores, inclusive aos das Comissões Disciplinares, secretários e demais auxiliares; (NR). XIV - exercer outras atribuições quando delegadas pelo Tribunal; (NR). § 1º (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 3º (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). XV - determinar períodos de recesso do Tribunal; (AC). XVI - criar comissões especiais e designar auditores para o cumprimento de funções específicas de interesse do Tribunal. (AC). Art. 10. Compete ao Vice-Presidente: I - substituir o Presidente nas ausências ou impedimentos eventuais e definitivamente quando da vacância da Presidência; (NR). II - exercer as funções de Corregedor, na forma do regimento interno. (NR). III (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 10-A. No caso de ausência ou impedimento eventuais concomitantes do Presidente e do Vice-Presidente do órgão judicante, a Presidência será temporariamente exercida pelo auditor mais antigo, ao passo que a Vice-Presidência será temporariamente ocupada pelo segundo auditor mais antigo, salvo disposição diversa do regimento interno do Tribunal (STJD ou TJD). (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 10-B. No caso de impetração de mandado de garantia em que o Presidente do STJD figure como autoridade coatora, competirá Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 166 ao Vice-Presidente do STJD praticar todos os atos processuais de atribuição do Presidente do STJD. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. Quando o Vice-Presidente do STJD estiver afastado, impedido ou der-se por suspeito para a prática dos atos a que se refere este artigo, o auditor mais antigo do Tribunal Pleno do STJD cumprirá as atribuições ali mencionadas. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 10-C. Os Presidentes das Comissões Disciplinares terão, no que for compatível, as mesmas atribuições dos art. 9º, I, V, VI, VII, VIII e XIV, e os Vice-Presidentes, a mesma atribuição do art. 10, I. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 10-D. Salvo disposição diversa do regimento interno do Tribunal (STJD ou TJD), os mandatos dos Presidentes e Vice-Presidentes do Tribunal Pleno e das Comissões Disciplinares serão de dois anos, autorizadas reeleições. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Capítulo III DOS AUDITORES Art. 11. O Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) dará posse aos auditores do Tribunal Pleno e das Comissões Disciplinares. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º A posse dos auditores do Tribunal Pleno dar-se-á na primeira sessão subsequente ao recebimento, pelo Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), da indicação pela entidade a quem competir o preenchimento do cargo. (AC). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 167 § 2º A posse dos auditores das Comissões Disciplinares dar- se-á na primeira sessão subsequente à aceitação, pelo contemplado, da indicação feita pelo Tribunal Pleno do Tribunal (STJD ou TJD). (AC). § 3º No caso de o auditor indicado, ao Tribunal Pleno ou a Comissão Disciplinar, mesmo que não empossado, deixar de comparecer ao número de sessões necessário à declaração de vacância do cargo, haverá nova indicação pela mesma entidade, salvo justo motivo para as ausências, assim considerado pelo Tribunal Pleno (STJD ou TJD). (AC). Art. 12. O mandato dos auditores terá a duração máxima permitida pela legislação brasileira, assim como poderá haver tantas reconduções quantas forem legalmente admitidas. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 13. A antiguidade dos auditores conta-se da data da posse. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. Quando a posse houver ocorrido na mesma data, considerar-se-á mais antigo o auditor que tiver maior número de mandatos; se persistir o empate, considerar-se-á mais antigo o auditor mais idoso. (AC). Art. 14. Ocorre vacância do cargo de auditor: I - pela morte ou renúncia; II - pelo não-comparecimento a cinco sessões consecutivas, salvo se devidamente justificado; (NR). III - pela incompatibilidade. (NR). IV (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. Ocorre incompatibilidade para o exercício do cargo de auditor: (AC). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 168 I - a partir da condenação criminal, passada em julgado na Justiça Comum, ou disciplinar, passada em julgado na Justiça Desportiva, quando, a critério do Tribunal (STJD ou TJD), conforme decidido por dois terços dos membros de seu Tribunal Pleno, o resultado comprometer a probidade necessária ao desempenho do mandato; (AC). II - quando o auditor, durante o mandato, incorrer nas hipóteses do art. 16. (AC). Art. 15. Ocorrendo a vacância do cargo de auditor no Tribunal Pleno, o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), no prazo de cinco dias, comunicará a ocorrência ao órgão indicante competente para preenchê-la. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Decorridos trinta dias do recebimento da comunicação, se o órgão indicante competente não houver preenchido a vaga, o respectivo Tribunal (STJD ou TJD) designará substituto para ocupar, interinamente, o cargo até a efetiva indicação. (AC). § 2º A comunicação a que se refere este artigo far-se-á pela mesma forma das citaçõese intimações. (AC). § 3º O descumprimento deste artigo pelo Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) ensejará a aplicação da penalidade prevista no art. 239. (AC). Art. 15-A. Ocorrendo a vacância do cargo de auditor em Comissão Disciplinar, o Presidente da respectiva Comissão Disciplinar comunicará, no prazo de cinco dias, a ocorrência ao Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), e o Tribunal Pleno procederá na forma dos arts. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 169 4º-A e 5º-A, conforme o caso, na primeira sessão subsequente à vacância. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. O descumprimento deste artigo pelo Presidente da Comissão Disciplinar ensejará a aplicação da penalidade prevista no art. 239. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 15-B. Os auditores poderão afastar-se temporariamente de suas funções, pelo tempo que se fizer necessário, conforme licença a ser concedida pelo Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), o que não interrompe nem suspende o transcurso do prazo de exercício do mandato. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Durante a licença dos auditores de Comissões Disciplinares, os respectivos órgãos judicantes deverão indicar auditor substituto para a composição temporária do colegiado, conforme o procedimento previsto nos arts. 4º-A e 5º-A, conforme o caso. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º Durante a licença de auditor de Tribunal Pleno, o auditor substituto será indicado pela mesma entidade elencada nos arts. 4º e 5º, conforme o caso, que tiver indicado o auditor licenciado. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 16. Respeitadas as exceções da lei, é vedado o exercício de função na Justiça Desportiva: a) (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). b) (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). c) (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - aos dirigentes das entidades de administração do desporto; (AC). II - aos dirigentes das entidades de prática desportiva. (AC). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 170 Art. 17. Não podem integrar concomitantemente o Tribunal Pleno, ou uma mesma Comissão Disciplinar, auditores que tenham parentesco na linha ascendente ou descendente, nem auditor que seja cônjuge, companheiro, irmão, tio, sobrinho, sogro, padrasto, enteado ou cunhado, durante o cunhadio, de outro auditor. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 18. O auditor fica impedido de atuar no processo: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - quando for credor, devedor, avalista, fiador, patrono, sócio, acionista, empregador ou empregado, direta ou indiretamente, de qualquer das partes; (NR). II - quando se manifestar, específica e publicamente, sobre objeto de causa a ser processada ou ainda não julgada pelo órgão judicante; (NR). III - quando for parte. (AC). § 1º Os impedimentos a que se refere este artigo devem ser declarados pelo próprio auditor tão logo tome conhecimento do processo; se não o fizer, podem as partes ou a Procuradoria argui-los na primeira oportunidade em que se manifestarem no processo. § 2º Arguido o impedimento, decidirá o respectivo órgão judicante, por maioria. (NR). § 3º Caso, em decorrência da declaração de impedimento, não se verifique maioria dos auditores do órgão judicante apta a julgar o processo, este terá seu julgamento adiado para a sessão subsequente do órgão judicante. (NR). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 171 § 4º Uma vez declarado o impedimento, o auditor impedido não poderá a partir de então praticar qualquer outro ato no processo em referência. (AC). § 5º O impedimento a que se refere este artigo não se aplica na hipótese de o auditor ser associado ou conselheiro de entidade de prática desportiva. (AC). Art. 19. Compete ao auditor, além das atribuições conferidas por este Código e pelo respectivo regimento interno: I - comparecer, obrigatoriamente, às sessões e audiências com a antecedência mínima de vinte minutos, quando regularmente convocado; II - empenhar-se no sentido da estrita observância das leis, do contido neste Código e zelar pelo prestígio das instituições desportivas; III - manifestar-se rigorosamente dentro dos prazos processuais; IV - representar contra qualquer irregularidade, infração disciplinar ou sobre fatos ocorridos nas competições dos quais tenha tido conhecimento; V - apreciar, livremente, a prova dos autos, tendo em vista, sobretudo, o interesse do desporto, fundamentando, obrigatoriamente, a sua decisão. VI – (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 20. O auditor, sempre que entender necessário para o exercício de suas funções, terá acesso a todas as dependências do local, seja público ou particular, onde estiver sendo realizada qualquer competição da modalidade do órgão judicante a que pertença, à exceção Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 172 do local efetivo da disputa da partida, prova ou equivalente, devendo ser- lhe reservado assento em setor designado para as autoridades desportivas ou não. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. O acesso a que se refere este artigo somente será garantido se informado pelo respectivo órgão judicante à entidade mandante da partida, prova ou equivalente, com antecedência mínima de quarenta e oito horas. (NR). Capítulo IV DA PROCURADORIA DA JUSTIÇA DESPORTIVA Art. 21. A Procuradoria da Justiça Desportiva destina-se a promover a responsabilidade das pessoas naturais ou jurídicas que violarem as disposições deste Código, exercida por procuradores nomeados pelo respectivo Tribunal (STJD ou TJD), aos quais compete: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - oferecer denúncia, nos casos previstos em lei ou neste Código; (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) II - dar parecer nos processos de competência do órgão judicante aos quais estejam vinculados, conforme atribuição funcional definida em regimento interno; (NR). III - formalizar as providências legais e processuais e acompanhá-las em seus trâmites; -(NR). IV - requerer vistas dos autos; (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) V - interpor recursos nos casos previstos em lei ou neste Código ou propor medidas que visem à preservação dos princípios que Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 173 regem a Justiça Desportiva; (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) VI - requerer a instauração de inquérito; (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) VII - exercer outras atribuições que lhe forem conferidas por lei, por este Código ou regimento interno. (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) § 1º A Procuradoria será dirigida por um Procurador-Geral, escolhido por votação da maioria absoluta do Tribunal Pleno dentre três nomes de livre indicação da respectiva entidade de administração do desporto. (AC). § 2º O mandato do Procurador-Geral será idêntico ao estabelecido para o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD). (AC). § 3º O Procurador-Geral poderá ser destituído de suas funções pelo voto da maioria absoluta do Tribunal Pleno, a partir de manifestação fundamentada e subscrita por pelo menos quatro auditores do Tribunal Pleno. (AC). Art. 22. Aplica-se aos procuradores o disposto nos artigos 14, 16, 18 e 20. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Capítulo V DA SECRETARIA Art. 23. São atribuições da Secretaria, além das estabelecidasneste Código e no regimento interno do respectivo Tribunal (STJD ou TJD): (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - receber, registrar, protocolar e autuar os termos da denúncia e outros documentos enviados aos órgãos judicantes, e Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 174 encaminhá-los, imediatamente, ao Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), para determinação procedimental; (NR). II - convocar os auditores para as sessões designadas, bem como cumprir os atos de citações e intimações das partes, testemunhas e outros, quando determinados; (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) III - atender a todos os expedientes dos órgãos judicantes; (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) IV - prestar às partes interessadas as informações relativas ao andamento dos processos; (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) V - ter em boa guarda todo o arquivo da Secretaria constante de livros, papéis e processos; (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) VI - expedir certidões por determinação dos Presidentes dos órgãos judicantes; (NR). VII - receber, protocolar e registrar os recursos interpostos. (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) TÍTULO II DA JURISDIÇÃO E DA COMPETÊNCIA Capítulo I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 24. Os órgãos da Justiça Desportiva, nos limites da jurisdição territorial de cada entidade de administração do desporto e da Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 175 respectiva modalidade, têm competência para processar e julgar matérias referentes às competições desportivas disputadas e às infrações disciplinares cometidas pelas pessoas naturais ou jurídicas mencionadas no art. 1º, § 1º. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Capítulo II DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA Art. 25. Compete ao Tribunal Pleno do STJD: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - processar e julgar, originariamente: a) seus auditores, os das Comissões Disciplinares do STJD e os procuradores que atuam perante o STJD; (NR). b) os litígios entre entidades regionais de administração do desporto; c) os membros de poderes e órgãos da entidade nacional de administração do desporto; d) os mandados de garantia contra atos ou omissões de dirigentes ou administradores das entidades nacionais de administração do desporto, de Presidente de TJD e de outras autoridades desportivas; (NR). e) a revisão de suas próprias decisões e as de suas Comissões Disciplinares; f) os pedidos de reabilitação; g) os conflitos de competência entre Tribunais de Justiça Desportiva; Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 176 h) os pedidos de impugnação de partida, prova ou equivalente referentes a competições que estejam sob sua jurisdição; (NR). i) as medidas inominadas previstas no art. 119, quando a matéria for de competência do STJD; (AC). j) as ocorrências em partidas ou competições internacionais amistosas disputadas pelas seleções representantes da entidade nacional de administração do desporto, exceto se procedimento diverso for previsto em norma internacional aceita pela respectiva modalidade; (AC). II - julgar, em grau de recurso: a) as decisões de suas Comissões Disciplinares e dos Tribunais de Justiça Desportiva; b) os atos e despachos do Presidente do STJD; (NR). c) as penalidades aplicadas pela entidade nacional de administração do desporto, ou pelas entidades de prática desportiva que lhe sejam filiadas, que imponham sanção administrativa de suspensão, desfiliação ou desvinculação; (NR). III - declarar os impedimentos e incompatibilidades de seus auditores e dos procuradores que atuam perante o STJD; (NR). IV - criar Comissões Disciplinares, indicar seus auditores, destituí-los e declarar sua incompatibilidade; (NR). V - instaurar inquéritos; VI - uniformizar a interpretação deste Código e da legislação desportiva a ele correlata, mediante o estabelecimento de súmulas de jurisprudência predominante, vinculantes ou não, editadas na forma do art. 119-A; (NR). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 177 VII - requisitar ou solicitar informações para esclarecimento de matéria submetida à sua apreciação; VIII - expedir instruções às Comissões Disciplinares do STJD e aos Tribunais de Justiça Desportiva; (NR). IX - elaborar e aprovar o seu regimento interno; X - declarar a vacância do cargo de seus auditores e procuradores; XI - deliberar sobre casos omissos; XII - avocar, processar e julgar, de ofício ou a requerimento da Procuradoria, em situações excepcionais de morosidade injustificada, quaisquer medidas que tramitem nas instâncias da Justiça Desportiva, para evitar negativa ou descontinuidade de prestação jurisdicional desportiva. (AC). Parágrafo único – (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Capítulo III DAS COMISSÕES DISCIPLINARES DO STJD Art. 26. Compete às Comissões Disciplinares do STJD: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - processar e julgar as ocorrências em competições interestaduais e nacionais promovidas, organizadas ou autorizadas por entidade nacional de administração do desporto, e em partidas ou competições internacionais amistosas disputadas por entidades de prática desportiva; (NR). II - processar e julgar o descumprimento de resoluções, decisões ou deliberações do STJD ou infrações praticadas contra seus Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 178 membros, por parte de pessoas naturais ou jurídicas mencionadas no art. 1º, § 1º, deste Código; (NR). III - declarar os impedimentos de seus auditores. (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) Capítulo IV DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA DESPORTIVA Art. 27. Compete ao Tribunal Pleno de cada TJD: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - processar e julgar, originariamente: a) os seus auditores, os das Comissões Disciplinares do TJD e os procuradores que atuam perante o TJD; (NR). b) os mandados de garantia contra atos ou omissões de dirigentes ou administradores dos poderes das entidades regionais de administração do desporto; (NR). c) os dirigentes da entidade regional de administração do desporto; (NR). d) a revisão de suas próprias decisões e as de suas Comissões Disciplinares; e) os pedidos de reabilitação; f) os pedidos de impugnação de partida, prova ou equivalente referentes a competições que estejam sob sua jurisdição; (NR). g) as medidas inominadas previstas no art. 119, quando a matéria for de competência do TJD; (AC). II – julgar, em grau de recurso: a) as decisões de suas Comissões Disciplinares; Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 179 b) os atos e despachos do Presidente do TJD; (NR). c) as penalidades aplicadas pela entidade regional de administração do desporto, ou pelas entidades de prática desportiva que lhe sejam filiadas, que imponham sanção administrativa de suspensão, desfiliação ou desvinculação; (NR). III - declarar os impedimentos e incompatibilidades de seus auditores e dos procuradores que atuam perante o TJD; (NR). IV - criar Comissões Disciplinares e indicar os auditores, podendo instituí-las para que funcionem junto às ligas constituídas na forma da legislação em vigor; (NR). V - destituir e declarar a incompatibilidade dos auditores das Comissões Disciplinares; (NR). VI - instaurar inquéritos; VII - requisitar ou solicitar informações para esclarecimento dematéria submetida a sua apreciação; VIII - elaborar e aprovar o seu Regimento Interno; IX – declarar vacância do cargo de seus auditores e procuradores; (NR). X - deliberar sobre casos omissos. (AC). Art. 28. Compete às Comissões Disciplinares de cada TJD: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - processar e julgar as infrações disciplinares e demais ocorrências havidas em competições promovidas, organizadas ou autorizadas pela respectiva entidade regional de administração do desporto; (AC). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 180 II - processar e julgar o descumprimento de resoluções, decisões ou deliberações do TJD ou infrações praticadas contra seus membros, por parte de pessoas naturais ou jurídicas mencionadas no art. 1º, § 1º, deste Código. (AC). III - declarar os impedimentos de seus auditores. (AC). Capítulo V DOS DEFENSORES Art. 29. Qualquer pessoa maior e capaz é livre para postular em causa própria ou fazer-se representar por advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, observados os impedimentos legais. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º O estagiário de advocacia regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil poderá sustentar oralmente, desde que instruído por advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. (AC). § 2º A instrução a que se refere o § 1º deverá ser comprovada mediante declaração por escrito do advogado, que assumirá a responsabilidade pela sustentação oral do estagiário. (AC). Art. 30. A representação de que trata o art. 29 caput habilita o defensor a intervir no processo, até o final e em qualquer grau de jurisdição, podendo as entidades de administração do desporto e de prática desportiva credenciar defensores para atuar em seu favor, de seus dirigentes, atletas e outras pessoas que lhes forem subordinadas, salvo quando colidentes os interesses. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 181 Parágrafo único. Ainda que não colidentes os interesses, é lícita a qualquer das pessoas mencionadas neste artigo a nomeação de outro defensor. Art. 31. O STJD e o TJD, por meio das suas Presidências, deverão nomear defensores dativos para exercer a defesa técnica de qualquer pessoa natural ou jurídica que assim o requeira expressamente, bem como de qualquer atleta menor de dezoito anos de idade, independentemente de requerimento. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 32.(Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). TÍTULO III DO PROCESSO DESPORTIVO Capítulo I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 33. O processo desportivo, instrumento pelo qual os órgãos judicantes aplicam o direito desportivo aos casos concretos, será iniciado na forma prevista neste Código e será desenvolvido por impulso oficial. Parágrafo único. O órgão judicante poderá declarar extinto o processo, de ofício ou a requerimento de qualquer interessado, quando exaurida sua finalidade ou quando houver a perda do objeto. (NR). Art. 34. O processo desportivo observará os procedimentos sumário ou especial, regendo-se ambos pelas disposições que lhes são próprias e aplicando-se-lhes, obrigatoriamente, os princípios gerais de direito. § 1º O procedimento sumário aplica-se aos processos disciplinares. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 182 § 2º O procedimento especial aplica-se: (NR). I - ao inquérito; II - à impugnação de partida, prova ou equivalente; (NR). III - ao mandado de garantia; IV - à reabilitação; V - à dopagem, caso inexista legislação procedimental aplicável à modalidade; (NR). VI (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). VII - à suspensão, desfiliação ou desvinculação imposta pelas entidades de administração ou de prática desportiva; VIII - à revisão; IX - às medidas inominadas do art. 119; (NR). X - à transação disciplinar desportiva. (Inclusão dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Capítulo II DA SUSPENSÃO PREVENTIVA Art. 35. Poderá haver suspensão preventiva quando a gravidade do ato ou fato infracional a justifique, ou em hipóteses de excepcional e fundada necessidade, desde que requerida pela Procuradoria, mediante despacho fundamentado do Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), ou quando expressamente determinado por lei ou por este Código. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º O prazo da suspensão preventiva, limitado a trinta dias, deverá ser compensado no caso de punição. (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 183 § 2º A suspensão preventiva não poderá ser restabelecida em grau de recurso. (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) Capítulo III DOS ATOS PROCESSUAIS Art. 36. Os atos do processo desportivo não dependem de forma determinada senão quando este Código expressamente o exigir, reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, atendam à sua finalidade essencial. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. Os órgãos judicantes poderão utilizar meios eletrônicos e procedimentos de tecnologia de informação para dar cumprimento ao princípio da celeridade, respeitados os prazos legais. (AC). Art. 37. Não correm em segredo os processos em curso perante a Justiça Desportiva, salvo as exceções previstas em lei. Art. 38. Todas as decisões deverão ser fundamentadas, mesmo que sucintamente. Art. 39. O acórdão será redigido quando requerido pela parte ou pela Procuradoria, e deverá conter, resumidamente, relatório, fundamentação, parte dispositiva e, quando houver, a divergência. - (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. O auditor incumbido de redigir o acórdão terá o prazo de dois dias para fazê-lo, devolvendo os autos à Secretaria. (NR). Art. 40. As decisões proferidas pelos órgãos da Justiça Desportiva devem ser publicadas na forma da legislação desportiva, podendo, em face do princípio da celeridade, utilizar-se de edital ou Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 184 qualquer meio eletrônico, especialmente a Internet. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 41. A Secretaria do órgão judicante numerará e rubricará todas as folhas dos autos, e fará constar, em notas datadas e rubricadas, os termos de juntada, vista, conclusão e outros. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Capítulo IV DOS PRAZOS Art. 42. Os atos relacionados ao processo desportivo serão realizados nos prazos previstos por este Código. § 1º Quando houver omissão, o Presidente do órgão judicante fixará o prazo, tendo em conta a complexidade da causa e do ato a ser praticado, que não poderá exceder a três dias. § 2º Não havendo preceito normativo nem fixação de prazo pelo Presidente do órgão judicante, será de três dias o prazo para a prática de ato processual a cargo da parte. § 3º Nas hipóteses de competições que se realizem ininterruptamente e findem em prazo não superior a vinte dias, o Presidente do órgão judicante fixará o prazo, tendo em conta a complexidade da causa e do ato a ser praticado, que não poderá exceder a três dias. (AC). Art. 43. Os prazos correrão da intimação ou citação e serão contados excluindo-se o dia do começo e incluindo-se o dia do vencimento, salvo disposição em contrário. (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) § 1º Os prazos são contínuos, não se interrompendo ou suspendendo no sábado, domingo e feriado. Direito & Justiça DesportivaVol.1 [Paulo M. Schmitt] 185 § 2º Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil se o início ou vencimento cair em sábado, domingo, feriado ou em dia em que não houver expediente normal na sede do órgão judicante. Art. 44. Decorrido o prazo, extingue-se para a parte e para a Procuradoria, exceto em caso de oferecimento de denúncia, o direito de praticar o ato. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Capítulo V DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS Art. 45. Citação é o ato processual pelo qual a pessoa natural ou jurídica é convocada para, perante os órgãos judicantes desportivos, comparecer e defender-se das acusações que lhe são imputadas. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 46. Intimação é o ato processual pelo qual se dá ciência à pessoa natural ou jurídica dos atos e termos do processo, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 47. A citação e a intimação far-se-ão por edital instalado em local de fácil acesso localizado na sede do órgão judicante e no sítio eletrônico da respectiva entidade de administração do desporto. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Além da publicação do edital, a citação e a intimação deverão ser realizada por telegrama, fac-símile ou ofício, dirigido à entidade a que o destinatário estiver vinculado. (AC). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 186 § 2º Poderão ser utilizados outros meios eletrônicos para efeito do previsto no § 1º, desde que possível a comprovação de entrega. (AC). Art. 48. O instrumento de citação indicará o nome do citado a entidade a que estiver vinculado, o dia, a hora e o local de comparecimento e a finalidade de sua convocação. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 49. O instrumento de intimação indicará o nome do intimado, a entidade a que estiver vinculado, o prazo para realização do ato e finalidade de sua intimação. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 50. Feita a citação, por qualquer das formas estabelecidas, o processo terá seguimento, independentemente do comparecimento do citado. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º O comparecimento espontâneo da parte supre a falta ou a irregularidade da citação(AC). § 2º Comparecendo a parte apenas para arguir a falta ou a irregularidade da citação e sendo acolhida, considerar-se-á feita a citação na data do comparecimento, adiando-se o julgamento para a sessão subsequente. (AC). Art. 51. O intimado que deixar de cumprir a ordem expedida pelo órgão judicante fica sujeito às cominações previstas por este Código. Art. 51-A. Se a pessoa a ser citada ou intimada não mais estiver vinculada à entidade a que o destinatário estiver vinculado, esta Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 187 deverá tomar as providências cabíveis para que a citação ou intimação seja tempestivamente recebida por aquela. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. Sujeitam-se às penas do art. 220-A, III, a entidade que deixar de tomar as providências mencionadas no caput, salvo se demonstrada a impossibilidade de encontrar a pessoa a ser citada ou intimada. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Capítulo VI DAS NULIDADES Art. 52. Quando prescrita determinada forma, sem cominação de nulidade, o órgão judicante considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 53. A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte manifestar-se nos autos e só será declarada se ficar comprovada a inobservância ou violação dos princípios que orientam o processo desportivo. Parágrafo único. O órgão judicante, ao declarar a nulidade, definirá os atos atingidos, ordenando as providências necessárias, a fim de que sejam repetidos ou retificados. Art. 54. A nulidade não será declarada: I - quando se tratar de mera inobservância de formalidade não essencial; II - quando o processo, no mérito, puder ser resolvido a favor da parte a quem a declaração de nulidade aproveitaria; III - em favor de quem lhe houver dado causa. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 188 Capítulo VII DA INTERVENÇÃO DE TERCEIRO Art. 55. A intervenção de terceiro poderá ser admitida quando houver legítimo interesse e vinculação direta com a questão discutida no processo, devendo o pedido ser acompanhado da prova de legitimidade, desde que requerido até o dia anterior à sessão de julgamento. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. As entidades de administração do desporto têm a prerrogativa de intervir no processo no estado em que se encontrar. (NR). Capítulo VIII DAS PROVAS Seção I Das Disposições Gerais Art. 56. Todos os meios legais, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos alegados no processo desportivo. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 57. A prova dos fatos alegados no processo desportivo incumbirá à parte que a requerer, arcando esta com os eventuais custos de sua produção. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. Independem de prova os fatos: I - notórios; II - alegados por uma parte e confessados pela parte contrária; III - que gozarem da presunção de veracidade. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 189 Art. 58. A súmula, o relatório e as demais informações prestadas pelos membros da equipe de arbitragem, bem como as informações prestadas pelos representantes da entidade desportiva, ou por quem lhes faça as vezes, gozarão da presunção relativa de veracidade. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º A presunção de veracidade contida no caput deste artigo servirá de base para a formulação da denúncia pela Procuradoria ou como meio de prova, não constituindo verdade absoluta. § 2º Quando houver indício de infração praticada pelas pessoas referidas no caput, não se aplica o disposto neste artigo. § 3º Se houver discrepância entre as informações prestadas pelos membros da equipe de arbitragem e pelos representantes da entidade desportiva, ausentes demais meios de convencimento, a presunção de veracidade recairá sobre as informações do árbitro, com relação ao local da disputa de partida, prova ou equivalente, ou sobre as informações dos representantes da entidade desportiva, nas demais hipóteses. (Inclusão dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 58-A. Nos processos disciplinares, o ônus da prova da infração incumbe à Procuradoria. (Inclusão dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 58-B. As decisões disciplinares tomadas pela equipe de arbitragem durante a disputa de partidas, provas ou equivalentes são definitivas, não sendo passíveis de modificação pelos órgãos judicantes da Justiça Desportiva. (Inclusão dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo Único. Em caso de infrações graves que tenham escapado à atenção da equipe de arbitragem, ou em caso de notório equívoco na aplicação das decisões disciplinares, os órgãos judicantes Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 190 poderão, excepcionalmente, apenar infrações ocorridas na disputa de partidas, provas ou equivalentes. (Inclusão dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 59. A matéria de prova relativa à dopagem será regulada pela legislação específica. (Redação dada pela ResoluçãoCNE nº 29 de 2009). Seção II Do Depoimento Pessoal Art. 60. O Presidente do órgão judicante pode, a requerimento da Procuradoria, da parte ou de terceiro interveniente, determinar o comparecimento pessoal da parte a fim de ser interrogada sobre os fatos da causa. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º O depoimento pessoal deve ser, preferencialmente, tomado no início da sessão de instrução e julgamento. § 2º A parte será interrogada na forma determinada para inquirição de testemunhas. Seção III Da Prova Documental Art. 61. Compete à parte interessada produzir a prova documental que entenda necessária. Seção IV Da Exibição de Documento ou Coisa Art. 62. O Presidente do órgão judicante poderá ordenar, a requerimento motivado da parte, de terceiro interveniente ou da Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 191 Procuradoria, a exibição de documento ou coisa necessária à apuração dos fatos. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. A desobediência da determinação a que se refere o caput implicará as penas previstas no art. 220-A, I, deste Código. (Inclusão dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Seção V Da Prova Testemunhal Art. 63. Toda pessoa pode servir como testemunha, exceto o incapaz, o impedido ou o suspeito, assim definidos na lei. § 1º A testemunha assumirá o compromisso de bem servir ao desporto, de dizer a verdade sobre o que souber e lhe for perguntado, devendo qualificar-se e declarar se tem parentesco ou amizade com as partes. § 2º Quando o interesse do desporto o exigir, o órgão judicante ouvirá testemunha incapaz, impedida ou suspeita, mas não lhe deferirá compromisso e dará ao seu depoimento o valor que possa merecer. Art. 64. Incumbe à parte, até o início da sessão de instrução e julgamento, apresentar suas testemunhas. § 1º É permitido a cada parte apresentar, no máximo, três testemunhas. § 2º Nos processos com mais de três interessados, o número de testemunhas não poderá exceder a nove. § 3 º A s t e s t e m u n h a s d e v e r ã o c o m p a r e c e r independentemente de intimação, salvo nos casos previstos nos procedimentos especiais. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 192 § 4º É vedado à testemunha trazer o depoimento por escrito, ou fazer apreciações pessoais sobre os fatos testemunhados, salvo quando inseparáveis da respectiva narração. § 5º Os auditores, diretamente, a Procuradoria e as partes, por intermédio do Presidente do órgão judicante, poderão reinquirir as testemunhas. § 6º O relator ouvirá as testemunhas separada e sucessivamente, primeiro, as da Procuradoria e, em seguida, as das partes, providenciando para que uma não ouça os depoimentos das demais. Seção VI Dos Meios Audiovisuais Art . 65. As p rovas fo tográ f i cas , fonográ f i cas , cinematográficas, de vídeo tape e as imagens fixadas por qualquer meio ou processo eletrônico serão apreciadas com a devida cautela, incumbindo à parte que as quiser produzir o pagamento das despesas com as providências que o órgão judicante determinar. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 66. A produção das provas previstas no art. 65 deverá ser requerida pela parte até o início da sessão de instrução e julgamento. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 67. As provas referidas no art. 65, quando não houver motivo que justifique a sua conservação no processo, poderão ser restituídas, mediante requerimento da parte, depois de ouvida a Procuradoria, desde que devidamente certificado nos autos. Seção VII Da Prova Pericial Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 193 Art. 68. A prova pericial consiste em exame e vistoria. Parágrafo único. O Presidente do órgão judicante indeferirá a produção de prova pericial quando: I - o fato não depender do conhecimento especial de técnico; II - for desnecessária em vista de outras provas produzidas ou passíveis de produção; III - for impraticável; IV - for requerida com fins meramente protelatórios. Art. 69. Deferida a prova pericial, o Presidente do órgão judicante nomeará perito, formulará quesitos e fixará prazo para apresentação do laudo. § 1º É facultado às partes indicar assistente técnico e formular quesitos, no prazo de vinte e quatro horas. § 2º A nomeação de perito deverá recair sobre pessoa com qualificação técnica comprovada. (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) § 3º O prazo para conclusão do laudo será de quarenta e oito horas, podendo o Presidente do órgão judicante prorrogá-lo a pedido do perito, em casos excepcionais. Seção VIII Da Inspeção Art. 70. O relator, de ofício, a requerimento da Procuradoria ou da parte interessada, poderá promover a realização de inspeção, a fim de buscar esclarecimento sobre fato que interesse à decisão da causa, sendo-lhe facultado requerer auxílio de outros auditores. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 194 Art. 71. Concluída a inspeção, o relator mandará lavrar auto circunstanciado, mencionando nele tudo quanto for útil ao julgamento da causa. Capítulo IX DO REGISTRO E DA DISTRIBUIÇÃO Art. 72. O registro e a distribuição dos processos submetidos à Justiça Desportiva serão regulados no regimento interno do respectivo Tribunal (STJD ou TJD). (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). TÍTULO IV DAS ESPÉCIES DO PROCESSO DESPORTIVO Capítulo I DO PROCEDIMENTO SUMÁRIO Art. 73. O procedimento sumário será in ic iado privativamente mediante denúncia da Procuradoria e destina-se à aplicação de medidas disciplinares. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 74. Qualquer pessoa natural ou jurídica poderá apresentar por escrito notícia de infração disciplinar desportiva à Procuradoria, desde que haja legítimo interesse, acompanhada da prova de legitimidade. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Incumbirá exclusivamente à Procuradoria avaliar a conveniência de promover denúncia a partir da notícia de infração a que Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 195 se refere este artigo, não se aplicando à hipótese o procedimento do art. 78. (AC). § 2º Caso o procurador designado para avaliar a notícia de infração opine por seu arquivamento, poderá o interessado requerer manifestação do Procurador-Geral, no prazo de três dias, para reexame da matéria. (AC). § 3º Mantida pelo Procurador-Geral a manifestação contrária à denúncia, a notícia de infração será arquivada. (AC). Art. 75. A súmula e o relatório da competição serão elaborados e entregues pelo árbitro e seus auxiliares dentro do prazo estipulado em lei ou, em sendo omissa, no regulamento. § 1º A inobservância do prazo previsto no caput não impedirá o início do processo pela Procuradoria, sem prejuízo de eventual punição dos responsáveis pelo atraso. § 2º A entidade responsável pela organização da competição dará publicidade aos documentos previstos no caput, na forma da lei. Art. 76. A entidade de administração do desporto, quando verificar existência de qualquer irregularidade anotada nos documentos mencionados no art. 75, os remeterá ao respectivo Tribunal (STJD ou TJD), no prazo de três dias, contado do seu recebimento. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 77. Recebida e despachada a documentação pelo Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), a Secretaria procederá ao registro, encaminhando-a à Procuradoria para manifestaçãono prazo de dois dias. (NR) (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 78. Se a Procuradoria requerer o arquivamento, o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), considerando procedentes as Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 196 razões invocadas, determinará o arquivamento do processo, em decisão fundamentada. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Se o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa dos autos a outro procurador, para reexame da matéria. (NR). § 2º Mantida a manifestação contrária à denúncia, os autos serão arquivados. § 3º (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). II (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). III -(Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). IV (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 4º (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 78-A. Recebida a denúncia, os autos serão conclusos ao Presidente do respectivo Tribunal (STJD ou TJD) que, no prazo de dois dias a contar de seu recebimento: (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - sorteará relator; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). II - analisará a incidência da suspensão preventiva, caso já não tenha sido determinada; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). III - designará dia e hora da sessão de instrução e julgamento; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 197 IV - determinará o cumprimento dos atos de comunicação processual e demais providências cabíveis. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. Sendo de competência da Comissão Disciplinar o processamento da denúncia, será a ela encaminhada, procedendo o Presidente da Comissão Disciplinar na forma dos incisos I, III e IV deste artigo. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 78-B. O regimento interno dos Tribunais (TJD ou STJD) poderá atribuir aos Presidentes de Comissões Disciplinares os trâmites processuais estabelecidos pelos arts. 77, 78 e 78-A. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 79. A denúncia deverá conter: I - descrição detalhada dos fatos; (NR). II - qualificação do infrator; III - dispositivo supostamente infringido. (NR). Parágrafo único. A indicação de dispositivo inaplicável aos fatos não inquina a denúncia e deverá ser corrigida pelo procurador presente à sessão de julgamento, podendo a parte interessada requerer o adiamento do julgamento para a sessão subsequente. (AC). Capítulo II DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Seção I Das Disposições Gerais Art. 80. Nos procedimentos especiais, o pedido inicial deverá ser, obrigatoriamente, acompanhado do comprovante do pagamento do Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 198 preparo, quando incidente, no valor e forma estabelecidos pelo regimento de emolumentos a ser editado pelo STJD de cada modalidade, sob pena de indeferimento. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. A Procuradoria e as entidades de administração do desporto são isentas do recolhimento de emolumentos. (AC). Seção I-A (Incluída pela Resolução CNE nº 29 de 2009). DA TRANSAÇÃO DISCIPLINAR DESPORTIVA (Incluída pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 80-A. A Procuradoria poderá sugerir a aplicação imediata de quaisquer das penas previstas nos incisos II a IV do art. 170, conforme especificado em proposta de transação disciplinar desportiva apresentada ao autor da infração. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º A transação disciplinar desportiva somente poderá ser admitida nos seguintes casos: - (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - de infração prevista no art. 206, excetuada a hipótese de seu § 1º; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). II - de infrações previstas nos arts. 250 a 258-C; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). III - de infrações previstas nos arts. 259 a 273. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º Não se admitirá a proposta de tramitação disciplinar desportiva quando: (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 199 I - o infrator tiver sido beneficiado, no prazo de trezentos e sessenta dias anteriores à infração, pela transação disciplinar desportiva prevista neste artigo; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). II - o infrator não possuir antecedentes e conduta desportiva justificadores da adoção da medida; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). III - os motivos e as circunstâncias da infração indicarem não ser suficiente a adoção da medida. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 3º A transação disciplinar desportiva deverá conter ao menos uma das penas previstas nos incisos II a IV do art. 170, que poderão ser cumuladas com medidas de interesse social. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 4º Aceita a proposta de transação disciplinar desportiva pelo autor da infração, será submetida à apreciação de relator sorteado, que deverá ser membro do Tribunal Pleno do TJD ou STJD competente para julgar a infração. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 5º Acolhendo a proposta de transação disciplinar desportiva, o relator aplicará a pena, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente a concessão do mesmo benefício ao infrator no prazo de trezentos e sessenta dias. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 6º Da decisão do relator que negar a transação disciplinar desportiva acordada entre Procuradoria e infrator caberá recurso ao Tribunal Pleno. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 7º A transação disciplinar desportiva a que se refere este artigo poderá ser firmada entre Procuradoria e infrator antes ou após o Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 200 oferecimento de denúncia, em qualquer fase processual, devendo sempre ser submetida à apreciação de relator sorteado, membro do Tribunal Pleno do TJD ou STJD competente para julgar a infração, suspendendo- se condicionalmente o processo até o efetivo cumprimento da transação. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 8º Quando a denúncia ou o recurso já houver sido distribuído, o relator sorteado, membro do Tribunal Pleno do TJD ou STJD competente para julgar a infração, será o competente para apreciar a transação disciplinar desportiva. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Seção II Do Inquérito Art. 81. O inquérito tem por fim apurar a existência de infração disciplinar e determinar a sua autoria, para subsequente instauração da ação cabível, podendo ser determinado de ofício pelo Presidente do Tribunal competente (STJD ou TJD), ou a requerimento da Procuradoria ou da parte interessada. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º O requerimento deve conter a indicação de elementos que evidenciem suposta prática de infração disciplinar, das provas que pretenda produzir, e das testemunhas a serem ouvidas, se houver, sendo facultado ao Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) a determinação de atos complementares. (NR). § 2º Sendo o inquérito requerido pela parte interessada, ouvir-se-á obrigatoriamente a Procuradoria, que poderá: (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 201 I - opinar pela rejeição, caso a parte interessada não apresente qualquer elemento prévio de convicção; (Incluído pela Resolução CNE nº11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) II - acompanhar o feito até a conclusão. (NR). Art. 82. Deferido o pedido, o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) sorteará auditor processante, que terá o prazo de quinze dias para sua conclusão, prorrogável por igual período. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Para a realização das diligências e oitiva de testemunhas, facultar-se-á ao auditor processante requerer auxílio de outros auditores ou solicitar que depoimentos sejam prestados por escrito, caso o deslocamento de depoentes ao órgão judicante se demonstre de difícil consecução. (NR). § 2º Realizadas as diligências e ouvidas as testemunhas, não havendo atos investigatórios remanescentes, o inquérito, com o relatório, será concluído por termo nos autos. (NR). § 3º Caracterizada, pelo auditor processante, a existência de infração e determinada sua autoria, os autos de inquérito serão remetidos à Procuradoria, para as providências cabíveis. (NR). § 4º Não restando caracterizada infração ou não determinada a autoria, os autos de inquérito serão arquivados, por decisão fundamentada do auditor processante. (AC). Art. 83. O requerimento de instauração de inquérito será indeferido pelo Presidente quando verificar a inexistência dos elementos indispensáveis ao procedimento. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Seção III Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 202 Da Impugnação de Partida, Prova ou Equivalente Art. 84. O pedido de impugnação deverá ser dirigido ao Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), em duas vias devidamente assinadas pelo impugnante ou por procurador com poderes especiais, acompanhado dos documentos que comprovem os fatos alegados e da prova do pagamento dos emolumentos, limitado às seguintes hipóteses: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - modificação de resultado; (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) II - anulação de partida, prova ou equivalente. (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) § 1º São partes legítimas para promover a impugnação as pessoas naturais ou jurídicas que tenham disputado a partida, prova ou equivalente em cada modalidade, ou as que tenham imediato e comprovado interesse no seu resultado, desde que participante da mesma competição. (NR). § 2º A petição inicial será liminarmente indeferida pelo Presidente do Tribunal competente quando: (NR). I - manifestamente inepta; II - manifesta a ilegitimidade da parte; III - faltar condição exigida pelo Código para a iniciativa da impugnação; IV - não comprovado o pagamento dos emolumentos. § 3º O Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), ao receber a impugnação, dará imediato conhecimento da instauração do processo ao Presidente da respectiva entidade de administração do desporto, para Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 203 que não homologue o resultado da partida, prova ou equivalente até a decisão final da impugnação. (NR). § 4º Não caberá pedido de impugnação no caso de inclusão de atleta sem condição legal de participar de partida, prova ou equivalente. (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) Art. 85. A impugnação deverá ser protocolada no Tribunal (STJD ou TJD) competente, em até dois dias depois da entrada da súmula na entidade de administração do desporto. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 86. Recebida a impugnação, dar-se-á vista à parte contrária, pelo prazo de dois dias, para pronunciar-se, indo o processo, em seguida, à Procuradoria, por igual prazo, para manifestação. Art. 87. Decorrido o prazo da Procuradoria, o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) sorteará relator, incluindo o feito em pauta para julgamento. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Seção IV Do Mandado de Garantia Art. 88. Conceder-se-á mandado de garantia sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, alguém sofrer violação em seu direito líquido e certo, ou tenha justo receio de sofrê-la por parte de qualquer autoridade desportiva. Parágrafo único. O prazo para interposição do mandado de garantia extingue-se decorridos vinte dias contados da prática do ato, omissão ou decisão. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 204 Art. 89. Não se concederá mandado de garantia contra ato, omissão ou decisão de que caiba recurso próprio e tenha sido concedido o efeito suspensivo. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 90. A petição inicial, dirigida ao Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) e acompanhada do comprovante do pagamento dos emolumentos, será apresentada em duas vias, devendo os documentos que instruírem a primeira via serem reproduzidos na outra. Parágrafo único. Após a apresentação da petição inicial não poderão ser juntados novos documentos nem aduzidas novas razões. Art. 91. Ao despachar a inicial, o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) ordenará que se notifique a autoridade coatora, à qual será enviada uma via da inicial, com a cópia dos documentos, para que, no prazo de três dias, preste informações. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 92. Em caso de urgência, será permitido, observados os requisitos desta Seção, inclusive a comprovação do pagamento dos emolumentos, impetrar mandado de garantia por telegrama, fac-símile ou meio eletrônico que possibilite comprovação de recebimento, desde que comprovada a remessa do original no prazo do parágrafo único do artigo 88, sob pena de extinção do processo, podendo o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), pela mesma forma, determinar a notificação da autoridade coatora. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 93. Quando relevante o fundamento do pedido e a demora possa tornar ineficaz a medida, o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), ao despachar a inicial, poderá conceder medida liminar. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 205 Art. 94. A inicial será, desde logo, indeferida quando não for caso de mandado de garantia ou quando lhe faltar algum dos requisitos previstos neste Código. Parágrafo único. Do despacho de indeferimento caberá recurso para o Tribunal Pleno do respectivo Tribunal (STJD ou TJD). (NR). Art. 95. Findo o prazo para as informações, com ou sem elas, o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), depois de sortear o relator, mandará dar vista do processo à Procuradoria, que terá dois dias para manifestação. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. Restituídos os autos pela Procuradoria, será designada data para julgamento. Art. 96. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 97. Os processos de mandado de garantia têm prioridade sobre os demais. Art. 98. O pedido de mandado de garantia poderá ser renovado se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito. Seção V Da Reabilitação Art. 99. A pessoa natural que houver sofrido eliminação poderá pedir reabilitação ao órgão judicante que lhe impôs a pena definitiva, se decorridos mais de dois anos do trânsito em julgado da decisão, instruindo o pedido com a documentação que julgar conveniente e, obrigatoriamente, com a prova do pagamento dos emolumentos, com a prova do exercício de profissão ou de atividade escolar e com a declaração de, no mínimo, três pessoas vinculadas ao desporto, de notória idoneidade, que atestem plenamente as condições de reabilitação. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 206 Parágrafo único.No caso de infrações por dopagem, observar-se-á o disposto no art. 244-A. (AC). Art. 100. Recebido o pedido, será dada vista à Procuradoria, pelo prazo de três dias, para emitir parecer, sendo o processo encaminhado ao Presidente do órgão judicante, que, sorteando relator, incluirá em pauta de julgamento. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Seção VI Da Dopagem Art. 100-A. Aplicar-se-ão as regras desta Seção caso a legislação da respectiva modalidade não estabeleça regras procedimentais específicas para as infrações por dopagem. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 101. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 102. Configurado o resultado anormal na análise anti- dopagem, o Presidente da entidade de administração do desporto ou quem o represente, em vinte e quatro horas, remeterá o laudo correspondente, acompanhado do laudo da contraprova, ao Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), que decretará, também em vinte e quatro horas, o afastamento preventivo do atleta, pelo prazo máximo de trinta dias. § 1º No mesmo despacho, assinará ao atleta, à entidade de prática ou entidade de administração do desporto a que pertencer e aos demais responsáveis, quando houver, o prazo comum de cinco dias, para oferecer defesa escrita e as provas que tiver. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 207 § 2º Não havendo se manifestado o atleta no prazo legal, será designado defensor dativo para apresentação de defesa escrita, no prazo de dois dias. (NR). § 3º Esgotado o prazo a que se refere o § 2º, com defesa ou sem ela, o Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) competente, nas vinte e quatro horas seguintes, remeterá o processo à Procuradoria para oferecer denúncia no prazo de dois dias. (AC). Art. 103. Oferecida a denúncia, o Presidente do órgão judicante, nas vinte e quatro horas seguintes, sorteará o auditor relator e marcará, desde logo, data para a sessão de julgamento, que se realizará dentro de dez dias. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 104. Na sessão de julgamento, as partes terão o prazo de quinze minutos para sustentação oral. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 105. Proclamada eventual decisão condenatória, haverá detração nos casos de cumprimento do afastamento preventivo. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 106. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Seção VII Das Infrações Punidas Com Eliminação Art. 107. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 108. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 109. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 110. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 208 Seção VIII Da Suspensão, Desfiliação ou Desvinculação Impostas pelas Entidades de Administração ou de Prática Desportiva Art. 111. A imposição das sanções de suspensão, desfiliação ou desvinculação, pelas entidades desportivas, com o objetivo de manter a ordem desportiva, somente serão aplicadas após decisão definitiva da Justiça Desportiva. Parágrafo único (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). §1º A decisão administrativa expedida para aplicação de suspensão, desfiliação ou desvinculação imposta pelas entidades de administração ou de prática desportiva será homologada pelo respectivo Tribunal (STJD ou TJD), mediante remessa de ofício. (AC). §2º Caso identificada nulidade, esta será declarada pelo Tribunal competente (STJD ou TJD) e os autos serão devolvidos à entidade de administração ou de prática desportiva. (AC). Seção IX Da Revisão Art. 112. A revisão dos processos findos será admitida: I - quando a decisão houver resultado de manifesto erro de fato ou de falsa prova; II - quando a decisão tiver sido proferida contra literal disposição de lei ou contra a evidência da prova; III - quando, após a decisão, se descobrirem provas da inocência do punido ou de atenuantes relevantes. (NR). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 209 Art. 113. A revisão é admissível até três anos após o trânsito em julgado da decisão condenatória, mas não admite reiteração ou renovação, salvo se fundada em novas provas. Art. 114. Não cabe revisão da decisão que importe em exclusão de competição, perda de pontos, de renda ou de mando de campo. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 115. A revisão só pode ser pedida pelo prejudicado, que deverá formulá-la em petição escrita, desde logo instruída com as provas que a justifiquem, nos termos do art. 112. Art. 116. O órgão judicante, se julgar procedente o pedido de revisão, poderá alterar a classificação da infração, absolver o requerente, modificar a pena ou anular o processo, especificando o alcance da decisão. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 117. Em nenhum caso poderá ser agravada a pena imposta na decisão revista. Art. 118. É obrigatória, nos pedidos de revisão, a intervenção da Procuradoria. Seção X Das Medidas Inominadas Art. 119. O Presidente do Tribunal (STJD ou do TJD), perante seu órgão judicante e dentro da respectiva competência, em casos excepcionais e no interesse do desporto, em ato fundamentado, poderá permitir o ajuizamento de qualquer medida não prevista neste Código, desde que requerida no prazo de três dias contados da decisão, do ato, do despacho ou da inequívoca ciência do fato, podendo conceder efeito suspensivo ou liminar quando houver fundado receio de dano Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 210 irreparável, desde que se convença da verossimilhança da alegação. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Recebida pelo Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) a medida a que se refere este artigo, proceder-se-á na forma do art. 78-A. (AC). § 2º Os réus, a Procuradoria e as partes interessadas terão o prazo comum de dois dias para apresentar contra-razões, contado a partir do despacho que lhes abrir vista dos autos. (AC). § 3º Caberá recurso voluntário da decisão do Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) que deixar de receber a medida a que se refere este artigo. (AC). Seção XI Do Enunciado de Súmula Art. 119-A. O Tribunal Pleno do STJD poderá, após reiteradas decisões sobre matéria de sua competência, editar enunciado de súmula que, a partir de sua publicação na forma do art. 40, poderá ter efeito vinculante em relação a todos os órgãos judicantes da respectiva modalidade, nas esferas nacional e regional, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º A edição, a revisão e o cancelamento de enunciado de súmula dependerão de decisão tomada por dois terços dos membros do Tribunal Pleno do STJD. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º O enunciado da súmula terá por objeto a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia que acarrete insegurança jurídica e multiplicação de processos sobre questão idêntica. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 211 § 3º A revisão ou cancelamento de enunciado de súmula poderão ser propostos: (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - por qualquer auditor do Tribunal Pleno do STJD; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). II - pelo Procurador-Geral do STJD; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). III - pela entidade nacional de administração do desporto; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). IV - pelas entidadesde prática desportiva que participem da principal competição da entidade nacional de administração do desporto; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). V - pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). VI - por entidade representativa dos árbitros; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). VII - por entidade representativa dos atletas; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). VIII - pelos Tribunais de Justiça Desportiva. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 4º O Procurador-Geral do STJD, nas propostas que não houver formulado, manifestar-se-á previamente à edição, revisão ou cancelamento de enunciado de súmula. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 5º A súmula terá eficácia imediata, mas o Tribunal Pleno do STJD, por decisão de dois terços dos seus membros, poderá excluir ou restringir os efeitos vinculantes, bem como decidir que só tenha eficácia a partir de outro momento, tendo em vista razões de segurança jurídica ou Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 212 de excepcional interesse do desporto. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 6º Revogada ou modificada a norma em que se fundou a edição de enunciado de súmula, o Tribunal Pleno do STJD, de ofício ou por provocação, procederá à sua revisão ou cancelamento, conforme o caso. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 7º A proposta de edição, revisão ou cancelamento de enunciado de súmula não autoriza a suspensão dos processos em que se discuta a mesma questão. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Capítulo III DA SESSÃO DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO Art. 120. Nas sessões de instrução e julgamento será observada a pauta previamente elaborada pela Secretaria, de acordo com a ordem numérica dos processos. § 1º Terão preferência os procedimentos especiais e os pedidos de preferência das partes que estiverem presentes, com prioridade para as que residirem fora da sede do órgão judicante. § 2º As sessões de instrução e julgamento serão públicas, podendo o Presidente do órgão judicante, por motivo de ordem ou segurança, determinar que a sessão seja secreta, garantida, porém, a presença da Procuradoria, das partes e seus representantes. § 3º Na impossibilidade de comparecimento do relator anteriormente sorteado, o processo poderá ser redistribuído e julgado na mesma sessão. (NR). Art. 121. No dia e hora designados, havendo quorum, o Presidente do órgão judicante declarará aberta a sessão de instrução e julgamento. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 213 Art. 122. Deverá ser lavrada ata da sessão de instrução e julgamento em que conste o essencial. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 123. Em cada processo, antes de dar a palavra ao relator, o Presidente indagará das partes se têm provas a produzir. Parágrafo único. Compete ao relator deferir ou não a produção das provas. (AC). Art. 124. Durante a sessão de instrução e julgamento, após a apresentação do relatório, as provas deferidas serão produzidas na seguinte ordem: I - documental; II - cinematográfica; III - fonográfica; IV - depoimento pessoal; V - testemunhal; VI - outras pertinentes. Art. 125. Concluída a fase instrutória, com a produção das provas, será dado o prazo de dez minutos, sucessivamente, à Procuradoria e cada uma das partes, para sustentação oral. § 1º Quando duas ou mais partes forem representadas pelo mesmo defensor, o prazo para sustentação oral será de quinze minutos. § 2º Quando houver apenas um defensor a fazer uso da palavra na tribuna, este poderá optar entre sustentar oralmente antes ou após o voto do relator. (NR). § 3º Em casos especiais, poderão ser prorrogados os prazos previstos neste artigo, a critério do Presidente do órgão judicante. (AC). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 214 § 4º Quando houver terceiros intervenientes, o Presidente do órgão judicante fixará prazo para sustentação oral, que ocorrerá após a sustentação oral das partes. (AC). Art. 126. Encerrados os debates, o Presidente indagará dos auditores se pretendem algum esclarecimento ou diligência e, não havendo, prosseguirá com o julgamento. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Se algum dos auditores pretender esclarecimento, este lhe será dado pelo relator. § 2º As diligências propostas por qualquer auditor e deferidas pelo órgão judicante, quando não puderem ser cumpridas desde logo, adiarão o julgamento para a sessão seguinte. Art. 127. Após os votos do relator e do Vice-Presidente, votarão os demais auditores, por ordem de antiguidade e, por último, o Presidente. Art. 128. O auditor, na oportunidade de proferir o seu voto, poderá pedir vista do processo e, quando mais de um o fizer, a vista será comum. § 1º O pedido de vista não impedirá que o processo seja julgado na mesma sessão, após o tempo concedido pelo Presidente para a vista. § 2º Quando a complexidade da causa assim o justificar, o auditor poderá pedir vista pelo prazo de uma sessão, prorrogável, no máximo, por mais uma sessão. (NR). § 3º Reiniciado o julgamento, prosseguir-se-á na apuração dos votos, podendo-se rever os já proferidos; quando o reinício do Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 215 julgamento se der em outra sessão, as partes e a Procuradoria poderão proferir nova sustentação oral. (NR). § 4º Nenhum julgamento será reiniciado sem a presença do relator. (AC). Art. 129. O auditor pode usar da palavra duas vezes sobre a matéria em julgamento. Art. 130. Só poderá votar o auditor que tenha assistido ao relatório. Art. 131. Nos casos de empate na votação, ao Presidente é atribuído o voto de desempate, salvo quando se tratar de imposição de qualquer das penas disciplinares relacionadas no art. 170. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 132. Nas hipóteses de imposição de quaisquer das penas disciplinares relacionadas no art. 170, prevalecerão, nos casos de empate na votação, os votos mais favoráveis ao denunciado, não havendo atribuição de voto de desempate ao Presidente. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Quando os votos pela condenação do denunciado não forem unânimes a respeito da qualificação jurídica da conduta, serão computados separadamente os votos pela absolvição e os votos atribuídos a cada diferente tipo infracional; somente haverá condenação se o número de votos atribuídos a um específico tipo infracional for superior ao número de votos absolutórios. (AC). § 2º Na hipótese condenatória do § 1º, apenas os votos atribuídos ao tipo infracional prevalecente serão computados para quantificação da pena. (AC). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 216 § 3º Havendo empate na votação para quantificação da pena, em virtude da diversidade de votos computáveis, prevalecerão, entre os votos empatados, os mais favoráveis ao denunciado. (AC). § 4º Quando o tipo infracional prevalecente permitir a aplicação simultânea de mais de uma penalidade, far-se-á separadamente o cômputo dos votos para aplicação, e, se for o caso, quantificação de cada pena específica, aplicando-se o § 3º em caso de empate. (AC). § 5º Na aplicação deste artigo, considerar-se-á a pena de multa mais branda do que a de suspensão. (AC). Art. 133. Proclamado o resultado do julgamento, a decisão produzirá efeitos imediatamente, independentemente de publicação ou da presença das partes ou de seus procuradores, desde que regularmente intimados para a sessão de julgamento, salvo na hipótese dedecisão condenatória, cujos efeitos produzir-se-ão a partir do dia seguinte à proclamação. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. Nenhum ato administrativo poderá afetar as decisões proferidas pelos órgãos da Justiça Desportiva. (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) Art. 133-A. As decisões que contemplem condenações definitivas relativas às penas dos arts. 234 a 238 e 243-A, bem como nos casos de dopagem, serão encaminhadas pelo Presidente do órgão judicante ao Presidente da entidade nacional de administração do desporto, a fim de que sejam comunicadas à entidade internacional da respectiva modalidade. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 134. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 217 Art. 135. Se até sessenta minutos após a hora marcada para o início da sessão não houver auditores em número legal, o julgamento do processo será obrigatoriamente adiado para a sessão seguinte, desde que requerido pela parte, independentemente de nova intimação. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). TÍTULO V DOS RECURSOS Capítulo I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 136. Das decisões dos órgãos judicantes caberá recurso nas hipóteses previstas neste Código. § 1º As decisões do Tribunal Pleno do STJD são irrecorríveis, salvo disposição diversa neste Código ou na regulamentação internacional específica da respectiva modalidade. (NR). § 2º São igualmente irrecorríveis as decisões dos Tribunais de Justiça Desportiva que exclusivamente impuserem multa de até R$ 1.000,00 (mil reais). (NR). Art. 137. Os recursos poderão ser interpostos pelo autor, pelo réu, por terceiro interveniente, pela Procuradoria e pela entidade de administração do desporto. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. A Procuradoria não poderá desistir do recurso por ela interposto. Art. 138. O recurso voluntário será protocolado perante o órgão judicante que expediu a decisão recorrida, incumbindo ao recorrente: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 218 I - oferecer razões no prazo de três dias, contados da proclamação do resultado do julgamento; (AC). II - indicar o órgão judicante competente para o julgamento do recurso; (AC). III - juntar, no momento do protocolo, a prova do pagamento dos emolumentos devidos, sob pena de deserção. (AC). § 1º (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 3º (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 4º (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. Se constar da ata de julgamento a necessidade de elaboração posterior do acórdão, o prazo estipulado no inciso I deste artigo terá sua contagem iniciada no dia posterior ao da intimação da parte recorrente para ciência da juntada do acórdão aos autos. (AC). Art. 138-A. Protocolado o recurso, o Presidente do órgão judicante que expediu a decisão recorrida encaminhará os autos no prazo de três dias à instância superior, sob as penas do art. 223, para o devido processamento. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 138-B. Recebidos os autos pela instância superior, onde o recurso passará a ter toda a sua tramitação, o Presidente do órgão judicante competente para julgá-lo fará análise prévia dos requisitos recursais. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 138-C. Se o Presidente do órgão judicante considerar presentes os requisitos recursais, sorteará relator, designará sessão de julgamento, determinará a intimação e abrirá vista dos autos para as Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 219 partes contrárias e interessados impugnarem o recurso no prazo comum de três dias. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Em caso de pedido de efeito suspensivo, os autos serão encaminhados ao relator para apreciação; em hipóteses excepcionais, dada a urgência, cópia dos autos poderá ser remetida ao relator por fac- símile, via postal ou correio eletrônico, e o relator poderá apresentar seu despacho utilizando os mesmos meios. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º A Procuradoria será intimada e terá três dias para emitir parecer. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 3º Decorrido o prazo previsto no § 2º, mesmo que a Procuradoria não tenha se manifestado, os autos retornarão ao relator. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 139. Em caso de urgência o recurso poderá ser interposto por telegrama, fac-símile, via postal ou correio eletrônico, com as cautelas devidas, devendo ser comprovada a remessa do original no prazo de três dias, sob pena de não ser conhecido. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 140. No recurso voluntário, salvo se interposto pela Procuradoria, a penalidade não poderá ser agravada. Art. 140 - A. A penalidade poderá ser reformada em benefício do réu, total ou parcialmente, ainda que o recurso tenha sido exclusivamente interposto pela Procuradoria, por outro réu ou por terceiro interveniente. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 141. Passada em julgado a decisão do recurso voluntário, a Secretaria, no prazo de dois dias, devolverá o processo ao juízo de origem. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 220 Art. 142. O recurso devolve à instância superior o conhecimento de toda a matéria discutida no processo, salvo quando só tiver por objeto parte da decisão. Parágrafo único. Qualquer instância superior poderá conhecer de parte da decisão que não tenha sido objeto do recurso caso seja possível reduzir a penalidade imposta ao infrator, total ou parcialmente. (AC). Capítulo II (Revogado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006). DO RECURSO NECESSÁRIO (Revogado pelas Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006). Art. 143. (Revogado pelas Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006). I (Revogado pelas Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006). II (Revogado pelas Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006). III (Revogado pelas Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006). Art. 144. (Revogado pelas Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006). Art. 145. (Revogado pelas Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006). Capítulo III Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 221 DO RECURSO VOLUNTÁRIO Art. 146. Ressalvados os casos previstos neste Código, cabe recurso voluntário de qualquer decisão dos órgãos da Justiça Desportiva, salvo decisões do Tribunal Pleno do STJD, as quais são irrecorríveis, na forma do art. 136, § 1º. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Capítulo IV (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 147. O recurso voluntário será recebido em seu efeito devolutivo. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 147-A. Poderá o relator conceder efeito suspensivo ao recurso voluntário, em decisão fundamentada, desde que se convença da verossimilhança das alegações do recorrente, quando a simples devolução da matéria puder causar prejuízo irreparável ou de difícil reparação. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Não se concederá o efeito suspensivo a que se refere este artigo quando de sua concessão decorrer grave perigo de irreversibilidade. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º A decisão que conceder ou deixarde conceder o efeito suspensivo a que se refere este artigo será irrecorrível, mas poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, pelo relator, em decisão fundamentada. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 147-B. O recurso voluntário será recebido no efeito suspensivo nos seguintes casos: (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 222 I - quando a penalidade imposta pela decisão recorrida exceder o número de partidas ou o prazo definidos em lei, e desde que requerido pelo punido; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). II - quando houver cominação de pena de multa. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º O efeito suspensivo a que se refere o inciso I apenas suspende a eficácia da penalidade naquilo que exceder o número de partidas ou o prazo mencionados no inciso I. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º O efeito suspensivo a que se refere o inciso II apenas suspende a exigibilidade da multa, até o trânsito em julgado da decisão condenatória. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 3º O efeito suspensivo a que se refere este artigo aplica-se a qualquer recurso voluntário interposto perante qualquer órgão judicante da Justiça Desportiva, independentemente da origem da decisão recorrida. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 148. Os recursos serão julgados pela instância superior, de acordo com a competência fixada neste Código. Art. 149. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 150. Em instância recursal não será admitida a produção de novas provas. (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) Parágrafo único. Excepcionalmente, a critério do relator, será admitida durante a sessão de julgamento a re-exibição de provas, especialmente a cinematográfica, bem como a retomada de depoimentos, caso este não tenha sido reduzido a termo. (AC). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 223 Art. 151. A Secretaria dará ciência aos interessados ou a seus defensores e à Procuradoria, com a antecedência mínima de dois dias, da inclusão do processo na pauta do julgamento. Art. 152. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Capítulo IV DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO Art. 152-A. Cabem embargos de declaração quando: (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). I - houver, na decisão, obscuridade ou contradição; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o órgão judicante. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Os embargos serão opostos, no prazo de dois dias, em petição dirigida ao relator, com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso, não estando sujeitos a preparo; aplica-se aos embargos de declaração o disposto no art. 138, parágrafo único. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º O relator julgará monocraticamente os embargos de declaração, no prazo de dois dias. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 3º Em casos excepcionais, o relator poderá remeter os embargos a julgamento colegiado, apresentando-os em mesa na sessão subsequente à oposição, quando considerar relevantes as alegações do embargante. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 4º Quando o relator entender que os embargos de declaração mereçam ser providos com efeitos infringentes, deverá Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 224 remetê-los a julgamento colegiado, na forma do § 3º. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 5º Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de outros recursos, por qualquer das partes ou interessados. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 6º Sendo considerados manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o relator poderá aplicar multa pecuniária ao embargante, que não poderá ser inferior ao valor da menor pena pecuniária constante deste Código. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). LIVRO II DAS MEDIDAS DISCIPLINARES TÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 153. É punível toda infração disciplinar tipificada no presente Código. Art. 154. Ninguém será punido por fato que lei posterior deixe de considerar infração disciplinar, cessando, em virtude dela, a execução e os efeitos da punição. Parágrafo único. A lei posterior que de outro modo favoreça o infrator aplica-se ao fato não definitivamente julgado. Art. 155. Considera-se praticada a infração no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. TÍTULO II DA INFRAÇÃO Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 225 Art. 156. Infração disciplinar, para os efeitos deste Código, é toda ação ou omissão antidesportiva, típica e culpável. Parágrafo único – (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º A omissão é juridicamente relevante quando o omitente deveria e poderia agir para evitar o resultado. (AC). § 2º O dever de agir incumbe precipuamente a quem: (AC). I - tenha, por ofício, a obrigação de velar pela disciplina ou coibir a prática de violência ou animosidade; (NR). II - com seu comportamento anterior, tenha criado o risco da ocorrência do resultado. Art. 157. Diz-se a infração: I - consumada, quando nela se reúnem todos os elementos de sua definição; II – tentada, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. III - dolosa, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; IV - culposa, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. § 1º Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente à infração consumada, reduzida da metade. § 2º Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se a infração. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 226 § 3º O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se a infração não chega, pelo menos, a ser tentada. (AC). Art. 158. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. Art. 159. O erro quanto à pessoa contra a qual a infração é praticada não isenta o agente de pena. Art. 160. Se a infração é cometida em obediência à ordem de superior hierárquico, não manifestamente ilegal, ou sob coação comprovadamente irresistível, só é punível o autor da ordem ou da coação. Art. 161. Não há infração quando as circunstâncias que incidem sobre o fato são de tal ordem que impeçam que do agente se possa exigir conduta diversa. Art. 161-A. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas naturais, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único. A pessoa natural responsável pela infração cometida por pessoa jurídica será considerada co-autora. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). TÍTULO III D A R E S P O N S A B I L I Z A Ç Ã O P E L A A T I T U D E ANTIDESPORTIVA PRATICADA POR MENORES DE QUATORZE ANOS Art. 162. Os menores de quatorze anos são considerados desportivamente inimputáveis, ficando sujeitos à orientação de caráter Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 227 pedagógico. (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) Parágrafo único. Nos casos de reincidência da prática de infrações disciplinares previstas neste Código por menores de quatorze anos, responderáo seu técnico ou representante legal na respectiva competição, caso não tenham sido adotadas as medidas cabíveis para orientar e inibir novas infrações. (NR). TÍTULO IV DO CONCURSO DE PESSOAS Art. 163. Quem, de qualquer modo, concorre para a infração incide nas penas a esta cominadas, na medida de sua participação. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. (AC). § 2º Se algum dos concorrentes quis participar de infração menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena desta. (AC). § 3º A pena a que se refere o § 2º será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (AC). TÍTULO V DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE Art. 164. Extingue-se a punibilidade: I - pela morte da pessoa natural infratora; (NR). II - pela extinção da pessoa jurídica infratora; (NR). III - pela retroatividade da norma que não mais considera o fato como infração; (NR). IV - pela prescrição. (NR). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 228 V – pela reabilitação. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 165. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 165-A. Prescreve: § 1º Em trinta dias, a pretensão punitiva disciplinar da Procuradoria relativa às infrações previstas nos arts. 250 a 258-D. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º Em sessenta dias, a pretensão punitiva disciplinar da Procuradoria, quando este Código não lhe haja fixado outro prazo. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 3º Em dois anos, a pretensão ao cumprimento das sanções, contados do trânsito em julgado da decisão condenatória. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 4º Em oito anos, a pretensão punitiva disciplinar relativa a infrações por dopagem, salvo disposição diversa na legislação internacional sobre a matéria. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 5º Em vinte anos, a pretensão punitiva disciplinar relativa às infrações dos arts. 237 e 238. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 6º A pretensão punitiva disciplinar conta-se: (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). a) do dia em que a infração se consumou; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). b) do dia em que cessou a atividade infracional, no caso de tentativa; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 229 c) do dia em que cessou a permanência ou continuidade, nos casos de infrações permanentes ou continuadas; (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). d) do dia em que o fato se tornou conhecido pela Procuradoria, nos casos em que a infração, por sua natureza, só puder ser conhecida em momento posterior àqueles mencionados nas alíneas anteriores, como nos casos de falsidade. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 165-B. Não haverá, em nenhuma hipótese, prescrição intercorrente. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 166. (Revogado pelas Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006.) Art. 167. (Revogado pelas Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006.) Art. 168. Interrompe-se a prescrição: I - pela instauração de inquérito; (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) II - pelo recebimento da denúncia; (NR). III (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). IV (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). V (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 169. A prescrição interrompida recomeça a correr do último ato do processo que a interrompeu. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 169-A. Os prazos de prescrição ou decadência previstos neste Código ficarão suspensos durante período de recesso do órgão Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 230 judicante; suspensa a prescrição, o prazo remanescente será contado a partir do término do período de suspensão. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 169-B. Os direitos relacionados às provas, torneios e campeonatos, salvo os vinculados a infrações disciplinares e aqueles que tenham prazo diverso estipulado por este Código, estão sujeitos à decadência caso não sejam exercidos durante a respectiva fase da competição. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). TÍTULO VI DAS PENALIDADES Capítulo I DAS ESPÉCIES DE PENALIDADES Art. 170. Às infrações disciplinares previstas neste Código correspondem as seguintes penas: I - advertência; II - multa; III - suspensão por partida; IV - suspensão por prazo; V - perda de pontos; VI - interdição de praça de desportos; VII - perda de mando de campo; VIII - indenização; IX - eliminação; X - perda de renda; XI - exclusão de campeonato ou torneio. Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 231 § 1º As penas disciplinares não serão aplicadas a menores de quatorze anos. § 2º As penas pecuniárias não serão aplicadas a atletas de prática não-profissional. § 3º Atleta não-profissional é aquele definido nos termos da lei. § 4º As penas de eliminação não serão aplicadas a pessoas jurídicas. (AC). § 5º A pena de advertência somente poderá ser aplicada uma vez a cada seis meses ao mesmo infrator, quando prevista no respectivo tipo infracional. (AC). Art. 171. A suspensão por partida, prova ou equivalente será cumprida na mesma competição, torneio ou campeonato em que se verificou a infração. § 1º Quando a suspensão não puder ser cumprida na mesma competição, campeonato ou torneio em que se verificou a infração, deverá ser cumprida na partida, prova ou equivalente subsequente de competição, campeonato ou torneio realizado pela mesma entidade de administração ou, desde que requerido pelo punido e a critério do Presidente do órgão judicante, na forma de medida de interesse social. (NR). § 2º Quando resultante de infração praticada em partida amistosa, a suspensão será cumprida em partida da mesma natureza ou executada na forma de medida de interesse social. § 3º A suspensão a que se refere este artigo não excederá a vinte e quatro partidas, provas ou equivalentes, exceto nas hipóteses relativas a infrações por dopagem. (AC). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 232 § 4º O cômputo das partidas, provas ou equivalentes ficará suspenso a partir do momento em que o infrator punido transferir-se para o exterior, voltando a computar-se a partir do seu retorno, desde que não tenha se consolidado a prescrição do art. 165-A, § 2º. (AC). Art. 172. A suspensão por prazo priva o punido de participar de quaisquer competições promovidas pelas entidades de administração na respectiva modalidade desportiva, de ter acesso a recintos reservados de praças de desportos durante a realização das partidas, provas ou equivalentes, de praticar atos oficiais referentes à respectiva modalidade desportiva e de exercer qualquer cargo ou função em poderes de entidades de administração do desporto da modalidade e na Justiça Desportiva. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º A critério e na forma estabelecida pelo Presidente do órgão judicante, e desde que requerido pelo punido após o trânsito em julgado da decisão condenatória, até metade da pena de suspensão por prazo poderá ser cumprida mediante a execução de atividades de interesse público, nos campos da assistência social, desporto, cultura, educação, saúde, voluntariado, além da defesa, preservação e conservação do meio ambiente. (AC). § 2º A suspensão a que se refere este artigo não excederáa setecentos e vinte dias, exceto nas hipóteses relativas a infrações por dopagem. (AC). § 3º O cômputo do prazo ficará suspenso a partir do momento em que o infrator punido transferir-se para o exterior, voltando a computar-se a partir do seu retorno, desde que não tenha se consolidado a prescrição do art. 165-A, § 2º. (AC). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 233 § 4º O cômputo do período de execução da suspensão por prazo poderá ser suspenso pelo Presidente do órgão judicante nos períodos em que não se celebram competições. (AC). Art. 173. (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Parágrafo único (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 174. A interdição de praça de desportos impede que nela se realize qualquer partida da respectiva modalidade, até que sejam cumpridas as exigências impostas na decisão, a critério do órgão judicante. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 175. A entidade de prática punida com a perda de mando de campo fica obrigada a disputar suas partidas, provas ou equivalentes, na mesma competição em que ocorreu a infração. § 1º Quando a perda de mando de campo não puder ser cumprida na mesma competição, deverá ser cumprida em competição subsequente da mesma natureza, independentemente da forma de disputa. (NR). § 2º A forma de cumprimento da pena de perda de mando de campo, imposta pela Justiça Desportiva, é de competência e responsabilidade exclusivas da entidade organizadora da competição, torneio ou equivalente, devendo constar, prévia e obrigatoriamente, no respectivo regulamento. (Incluído pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução CNE nº 13 de 2006) Art. 176 (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 234 Art. 176-A. Os prazos e condições para cumprimento da pena de multa serão definidos pelo Presidente do Tribunal (STJD ou TJD). (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 1º O recolhimento das penas pecuniárias deverá ser efetuado à Tesouraria da entidade de administração do desporto que tenha a abrangência territorial correspondente à jurisdição desportiva do Tribunal (STJD ou TJD), devendo a parte comprová-lo nos autos. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 2º A critério e na forma estabelecida pelo Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) e desde que requerido pelo punido, até metade da pena pecuniária imposta poderá ser cumprida por meio de medida de interesse social, que, entre outros meios legítimos, poderá consistir na prestação de serviços comunitários. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 3º Faculta-se ao Presidente do órgão judicante (STJD ou TJD), de ofício ou a requerimento do punido, a concessão de parcelamento das penas pecuniárias. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 4º As entidades de prática desportiva são solidariamente responsáveis pelas penas pecuniárias impostas àquelas pessoas naturais que, no momento da infração, sejam seus atletas, dirigentes, administradores, treinadores, empregados, médicos, membros de comissão técnica ou quaisquer outras pessoas naturais que lhes sejam direta ou indiretamente vinculadas. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). § 5º A solidariedade estabelecida pelo § 4º não se afasta no caso de o infrator desligar-se da entidade de prática desportiva, e não se Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 235 transmite à nova entidade de prática desportiva à qual o infrator venha a se vincular. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 177. A pena de eliminação priva o punido de qualquer atividade desportiva na respectiva modalidade, em todo o território nacional. Capítulo II DA APLICAÇÃO DA PENALIDADE Art. 178. O órgão judicante, na fixação das penalidades entre limites mínimos e máximos, levará em conta a gravidade da infração, a sua maior ou menor extensão, os meios empregados, os motivos determinantes, os antecedentes desportivos do infrator e as circunstâncias agravantes e atenuantes. Art. 179. São circunstâncias que agravam a penalidade a ser aplicada, quando não constituem ou qualificam a infração: I - ter sido praticada com o concurso de outrem; II - ter sido praticada com o uso de instrumento ou objeto lesivo; III - ter o infrator, de qualquer modo, concorrido para a prática de infração mais grave; IV - ter causado prejuízo patrimonial ou financeiro; V - ser o infrator membro ou auxiliar da justiça desportiva, membro ou representante da entidade de prática desportiva; (NR). VI - ser o infrator reincidente. § 1º Verifica-se a reincidência quando o infrator comete nova infração depois de transitar em julgado a decisão que o haja punido anteriormente, ainda que as infrações tenham natureza diversa. (NR). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 236 § 2º Para efeito de reincidência, não prevalece a condenação anterior se, entre a data do cumprimento ou execução da pena e a infração posterior, tiver decorrido período de tempo superior a um ano. (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) Art. 180. São circunstâncias que atenuam a penalidade: I - ser o infrator menor de dezoito anos, na data da infração; II (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). III (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). IV - não ter o infrator sofrido qualquer punição nos doze meses imediatamente anteriores à data do julgamento; (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) V - ter sido a infração cometida em desafronta a grave ofensa moral; VI - ter o infrator confessado infração atribuída a outrem. Art. 181. No caso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, observados os critérios fixados no art. 178. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 182. As penas previstas neste Código serão reduzidas pela metade quando a infração for cometida por atleta não-profissional ou por entidade partícipe de competição que congregue exclusivamente atletas não-profissionais. (Alterado pela Resolução CNE nº 11 de 2006 e Resolução nº 13 de 2006) Parágrafo único (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Direito & Justiça Desportiva Vol.1 [Paulo M. Schmitt] 237 § 1º Se a diminuição da pena resultar em número fracionado, aplicar-se-á o número inteiro imediatamente inferior, mesmo se inferior à pena mínima prevista no dispositivo infringido; se o número fracionado for inferior a um, o infrator sofrerá a pena de uma partida, prova ou equivalente. (AC). § 2º A redução a que se refere este artigo também se aplica a qualquer pessoa natural que cometer infração relativa a competição que congregue exclusivamente atletas não-profissionais, como, entre outras, membros de comissão técnica, dirigentes e árbitros(AC). § 3º O infrator não terá direito à redução a que se refere este artigo quando reincidente e a infração for de extrema gravidade. (AC). Art. 182-A. Além dos elementos de dosimetria previstos neste Capítulo, a fixação das penas pecuniárias levará obrigatoriamente em consideração a capacidade econômico-financeira do infrator ou da entidade de prática desportiva. (Incluído pela Resolução CNE nº 29 de 2009). Art. 183. Quando o agente, mediante uma única ação, pratica duas ou mais infrações, a de pena maior absorve a de pena menor. Art. 184. Quando o agente mediante mais de uma ação ou omissão, pratica duas ou mais infrações, aplicam-se cumulativamente as penas.