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Resumo – Evolução Do Capitalismo – Maurice Dobb Vitor Bernard de Souza Santos Resumo – Evolução do Capitalismo – Maurice Dobb Vitor Bernard de Souza Santos1 Capítulo II Inicialmente, é instaurado um debate acerca do sentido da palavra feudalismo, tal como havia sido feito no capítulo anterior com a palavra capitalismo. Tal debate tem por objetivo situar o contexto e o que expressa a palavra feudalismo. Tal como feito anteriormente, o feudalismo terá sua expressão em relação ao modo de produção, ou seja, a relação entre o produtor e seu superior. Entende-se também o feudalismo como um sistema de servidão, de modo que, por uma força coercitiva superior (procedimento jurídico, lei, costumes, militar) trás obrigações ao produtor, obrigações estas que se tornam exigências, que por sua vez se camuflam como serviços a prestar, taxas e quaisquer outra forma que impusesse. É observado que no Feudalismo, diferentemente do capitalismo, o produtor se encontrava na posse dos meios de produção condições materiais necessárias para realização do seu trabalho e, portanto, produzir para sua subsistência, além disso, o feudalismo possuía uma descentralização política forte, isto é, apesar de possuir terras, o senhor as arrendavas para outrem, de modo que, ao utiliza-las, pagá-lo-iam taxas e demais obrigações pelo uso da terra. Por volta de 1100 o comércio europeu tem seu renascimento, com isso, surge alguns fatos que poderiam determinar o futuro da sociedade feudal, seja eles a emersão de uma classe comerciante, o início do produto excedente e outros. Toda via, não se pode afirmar que o feudalismo decaiu exclusivamente devido a um fator, tal como: a) Pagamento em dinheiro: Segundo Dobb, não há evidencias que sustente tal fato, pois, a prestação de serviços entre as taxas feudais variavam bastante, dado o tipo de cultivo e dimensão da propriedade arável. b) Declínio servidão: Verificou-se que em muitos lugares, a servidão foi intensificada como forma de sustento ao crescimento do comércio e exportações. Dobb argumenta que o declínio do sistema feudal é internamente, isto é, o trabalho excedente imposto ao produtor, que passou a viver em níveis abaixo da subsistência, 1 Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal da Bahia – vitorbernard@bol.com.br Resumo – Evolução Do Capitalismo – Maurice Dobb Vitor Bernard de Souza Santos tornou-se insuportável, chegando ao ponto em que a produtividade do trabalho já alcançava o limite marginal e não mais poderia ser incrementado e o trabalho excedente aumentado, portanto, o início do comércio e a possibilidade de produzir excedente para o mercado, reforçou a pressão senhorial sobre o campo. Esta pressão sob o campo fez com que muitos produtores desertassem, seja para outras terras sob comando de outro senhor feudal ou para as cidades em desenvolvimento, o que levou a muitos senhores feudais a celebrar acordos de ajuda mútua para captura e devolução dos fugitivos, todavia, a escassez de mão-de-obra fez com que senhores feudais passassem a instigar e atrair o fugitivos para suas terras. A partir de 1300, observou-se um fenômeno populacional na Europa: a redução populacional, de certo modo, acentuada. Os efeitos imediatos foram a retração da renda e, o que Dobb denomina, crise da economia feudal. Usualmente, o declínio populacional e de renda no século XIV é atribuído às guerras e pela peste negra, porém, há de se ressaltar que o fato do declínio econômico se apresentar décadas antes da peste negra, evidencia que a crise feudal tem raízes econômicas. Dada a opressão dos senhores feudais, a retração da renda e escassez de mão-de- obra, as cidades em desenvolvimento, os burgos, agiam como imã para os produtores desertores, aliada a resistência do campesinato em executar prestações de serviços, atraiam cada vez mais pessoas para suas localidades. Posto isso, a reação da nobreza diante deste situação foi bastante distinta na Europa. Em alguns lugares foram feitas concessões e até substituição da relação obrigatória para uma relação contratual, todavia, outras localidades atuaram no sentido de reforçar ainda mais a repressão, punindo e ‘pesadas’ imposições servis. Observa-se que fatores políticos e sociais foram cruciais para o rumo dos acontecimentos, sendo este favorável hora as senhores e por outros momentos aos produtores e, pode-se dizer, que os reis, juntamente com o senhor feudal, atuaram com firmeza para frear a deserção e o despovoamento. Dobb expõe que o feudalismo na França foi seriamente debilitado em decorrência da guerra dos cem anos, porém, em partes deste país, os senhores feudais ainda possuíam alto poder político e militar, como na Espanha, lugar no qual parecia que os senhores feudais eram intocáveis. Dobb, por vias tortas, ainda ressalta que a Santa Igreja manteve sua força e coesão durante este período. A baixa produtividade dos produtores e a reorganização populacional dos feudos fez com que alguns senhores pensar a forma de arrendamento e cultivo de sua terra. Resumo – Evolução Do Capitalismo – Maurice Dobb Vitor Bernard de Souza Santos Houve, portanto, uma transição de um modelo de prestação de serviços do produtor para com o senhor para um modelo de trabalho assalariado com dois fatores essenciais, segundo Dobb: i) Reserva de mão-de-obra. ii) Produtividade de assalariados maior que seus salários nominais. Percebe-se que, para que o cultivo assalariado fosse preferido em relação às relações servis, o excedente produzido deveria ser amplo, de modo que, o proprietário da terra fossem persuadidos à usá-la. Propriedades que possuíam déficit no trabalho servil, aderiram à este modelo pelo simples fato do trabalho assalariado produzir uma margem mínima de excedente acima dos salários pagos, bastava possuir um excedente de mão-de- obra disponível. Observações acerca do emprego do trabalho assalariado e trabalho servil: 1) A transição para o trabalho assalariado ocorreria com maior efetividade em cultivos onde o produto liquido do trabalho fosse alto. 2) O trabalho servil seria preservado em cultivos onde o produto líquido do trabalho fosse menor. Diante da possibilidade da miséria do produtor e família e, por conseguinte, da migração deste para outras terras/feudos, o senhor estaria inclinado a fazer mais concessões, as quais reduziriam as obrigações servis e modificaria a prestações de serviços por arrendamentos. Em caso de escassez de mão-de-obra o senhor estaria inclinado a aumentar as obrigações feudais e insistir na prestação de serviços. Dobb argumenta que se a mão-de-obra fosse mais abundante que a terra, a rentabilidade desta seria elevada e, portanto, a inversa é válida, ou seja, quanto mais abundante a terra em relação a mão-de-obra, menor a rentabilidade. No século XIV foram impostas leis que garantiam a retenção da mão-de-obra à terra, dado que, em certos momentos, pequenos senhores eram constantemente dilapidados pelos mais ricos, seja com o sequestro dos servos e outras formas diversas que prejudicavam os senhores “mais pobres”. Ao fim do século XV para o XVI, o sistema feudal se desintegrara e tornar-se-ia debilitado sob os vários aspectos. O fantasma da migração camponesa em massa ainda assustava a antiga ordem, que se encontrava dividida e reduzidas. Uma classe de camponeses que se tornaram mais prósperos se viam como competidores nos mercados locais. Resumo – Evolução Do Capitalismo – Maurice Dobb Vitor Bernard de Souza Santos Vê-se portanto um processo de desintegração do Feudalismo, acentuado pelo crescimento do mercado, das cidades edos mercadores, os quais, passaram a ceder empréstimos aos pequenos proprietários, que eram mais suscetíveis a influências da classe mercadora. Os pequenos proprietários, agiam com instinto de sobrevivência, de colocar os filhos para ‘estagiar’ nos ofícios urbanos até casa-los com a filha (o) do mercador. Neste período, apesar do pagamento em dinheiro já ser difundido na cidade e ter contribuído de igual maneira para a derrocada do sistema feudal de relações, é um erro atribuir a este fenômeno, que esta a suplantar o feudalismo, o responsável direto pela queda do feudalismo, bem como, seria um erro tipifica-lo de capitalismo, isso por que, o modo de produção deste sistema que se instalava nas cidades em formação, era baseado no artesanato urbano, ou seja, diferencia-se apenas do artesanato feudal pelo simples fato de sua produção ser voltada ao mercado e não ao pagamento de obrigações servis. Seguindo, Dobb entra num debate sobre a origem das cidades. Expondo os diversos pontos de vista, entre os quais, uns defendem que as cidades que estão se desenvolvendo neste período são oriundas de cidades romanas que se reestruturaram e conseguiram um período de paz e prosperidade; outros defendem que as cidades desenvolvidas desse período tiveram origem puramente rural, desenvolvendo-se a partir de crescimentos demográficos, ou seja, densidade populacional. Há uma terceira visão para o surgimento das cidades, sendo ela concebida em sua origem como um grupo de vendedores itinerantes que iam de feudo em feudo e, para proteger-se mutuamente, montavam acampamentos em áreas de antigas cidades romanas e para proteção iam de guardas fronteiriços até a construção de muros, de modo que, criava-se um ambiente com identidade própria. Há muitas versões sobre o surgimento das cidades, toda via, a maioria converge para o fato de que com o surgimento delas, uma classe ascendeu sobre as demais, sendo ela a burguesia. Iniciou-se um processo de suplantação da elite feudal, a qual foi sendo enfraquecida gradualmente, seja pela semente embrionária do mercado, monetização da economia e uma nova classe ascendente: a burguesia. Tais cidades/comunidades urbanas passaram por um longo processo de autonomia, muita vezes violento e enfrentando a resistência do antigo sistema que ainda agonizava.