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Síntese : A Visão dos ‘Clássicos’ e o Início da Institucionalização das Ciências Sociais no Brasil Nome: Caio Canhassi Palermo Nos últimos anos começou haver o questionamento sobre como se deu a formação do pensamento social brasileiro.Maria Tereza Sadek em seu texto “Análises sobre o Pensamento Social e Político Brasileiro”, relaciona essa formação dada pela construção de um conteúdo científico.Essa cientificidade é dada através de um paradigma da institucionalização da atividade científica que pauta suas formulações através de produções intelectuais no ambiente acadêmico. Sendo assim descartando uma diversidade de pensamentos que também cumprem papel social além de não enxergar uma única verdade.“Esta visão abriga em si uma luta entre o “certo” e o “errado”. Do verdadeiro contra o falso, ou ainda da Ciência contra a banalidade expressa pela ideologia” (Sadek, 1982: 7). Autores como Oliveira Viana até possuíam importância para a interpretação dessa formação, porém ao analisar a história brasileira, descreve o processo de miscigenação de raças em que irá ser a causa de um “retardo” na formação biológica de um povo especificamente brasileiro, acreditando numa futura eugenia, sendo assim perdendo uma credibilidade após a criação das universidades. Em contrapartida, há um foco em autores que contribuíram para a formação dessa paradigma do cientificismo, como Gilberto Freyre e a formulação da obra “Casa Grande e Senzala”, Sérgio Buarque de holanda em “Raízes do Brasil” e Caio Prado Júnior com “Formação do Brasil Contemporâneo”. Ao tratarmos sobre a obra “Casa Grande e Senzala”, Freyre interpreta como a América foi colonizada, colocando em discussão a formação social, étnica e econômica do povo brasileiro com a união dos povos brancos,indígenas e africanos, a partir de relatos históricos, registros dos senhores de engenho e de confissões feitas a igreja.Sendo assim, mostra o processo de construção racialista e patriarcal com base no cotidiano vivido na época.Ao abordar esses aspectos, descreve como a ocorrência de uma miscigenação fosse tão comum até de um ponto de vista religioso. Isso se dá devido ao fato de haver poucas mulheres brancas disponíveis na colônia e diante desse cenário de escassez uma busca pelo casamento com indígenas e evitando com os povos negros. Além disso,o autor mostra uma investigação de uma origem sobre a exacerbação da sexualidade atribuída de modo equivocado aos indígenas e escravos e um processo de “intoxicação sexual” dada pelas diversas relações que aconteciam.Em sua obra, Freyre quebra um paradigma de uma existencia de uma hierarquização social A formação de um autoritarismo com base no processo de colonização, estabeleceu uma sociedade principalmente rural em que mostra a extração e a produção de diversos produtos naquela terra. As famílias que se assentaram no Brasil, fundaram espaços públicos e consolidaram seu poder, criando diversas relações de influência e fazendo com que o Estado tenha um papel coadjuvante por trás destas famílias .Dentro dessas famílias estabeleciam diversas relações sociais que envolviam tanto a casa grande como na senzala, destacando a importância da miscigenação e da construção cultural oriunda de uma relação escravista entre africanos e portugueses. Ao escrever Raízes do Brasil ,Sérgio Buarque de Holanda tenta entender um atraso social existente na sociedade brasileira da época, a partir da caracterização do homem ibérico, fronteiriço entre África e Europa e miscigenado desde esse princípio e sendo diferente do restante da europa.O homem ibérico teve papel fundamental ao implantar uma cultura europeia ao processo de construção da sociedade brasileira. Assim também critica essa cultura ibérica, visto que a influência de sua personalidade individual cria um obstáculo na associação de interesses de um grupo,sendo um entrave para o desenvolvimento de um país e sua democracia. O autor também aborda a relação de oposição entre o trabalhador e o aventureiro sendo que ele descreve a partir de ideias éticas: “o indivíduo do tipo trabalhador só atribui valor moral positivo às ações que sente ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro — audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem”(HOLANDA,1936: 44). Apesar disso, o espírito aventureiro lusitano é considerado por Holanda como positivo, devido a grande adaptabilidade, enquanto os holandeses demonstram um trabalho metódico e coordenado prejudicando-os pela falta de plasticidade. Além disso mostra uma relação dicotômica entre rural e urbano, em que o ambiente da fazenda domina em relação a cidade que é pouco utilizada nas atividades diárias,econômicas e políticas como no ambiente rural. A família rural era baseada num sistema patriarcal tradicionalista em que havia a submissão ao chefe, sendo que sua importância era maior que para as preocupações da sociedade. A partir disso, Holanda através de uma análise sociológica, descreve o “homem cordial”, que seria o brasileiro resultado de uma herança rural e ibérica, moldado pela estrutura familiar.Ao descreve-lo diz que :”A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade,virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam,com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal”.(Holanda,1936: 146-147) Ao escrever “Formação do Brasil Contemporâneo”, Caio Prado Júnior procura entrelaçar o colonial com o contemporâneo, estabelecendo como objeto de estudo a colônia em suas dimensões geográficas, econômicas, sociais e políticas sendo separado para identificar um dos propulsores de sua instauração, o mercado.O autor retrata a obra por uma visão de um materialismo histórico marxista para entender os processos de colonização, em que aplicado ao contexto latino-americano, tenta compreender o caráter econômico da colônia e sua exploração. Ao analisar a formação da colônia, Caio Prado Júnior comenta o surgimento de uma zona tropical com características próprias, sendo que sua distribuição demográfica desigual fez com que inicialmente tivesse menos desenvolvimento no interior em relação ao litoral.Ao discorrer posteriormente sobre o povoamento do interior, diz ser marcada pelas culturas agrícolas destacando em especial a pecuária e apontando como fator relevante na integração do território. A questão da “Vida material” é abordada de forma que há uma profunda análise econômica,de forma que a atenção do mercado externo em que é mais significante, criando enorme mão de obra de massas produtivas enquanto que no mercado interno, não há tanta relevância. Parao autor, a “Grande Lavoura” assumia papel importante para a movimentação da economia civilizatória , além da formação e setores como o de manufaturas têxteis e metalúrgicas levando existência de um mercado interno relativamente importante. . Referências Bibliográficas: SOUZA, Maria Tereza Sadek de. Análises sobre o Pensamento Social e Político brasileiro. BIB, n.12, p. 7-21, 1982. VIANNA, Oliveira. “Prefácio à 2ª. Edição”. In: VIANNA, Oliveira. Evolução do povo brasileiro. São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre: Cia Editora Nacional, 1938[1922] FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1981 [1933]. HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2016 [1936]. PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994 [1942].