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SOCIEDADE DE ENSINO SUPERIOR DE SERRA TALHADA – SESST 
FACULDADE DE INTEGRAÇÃO DO SERTÃO – FIS 
BACHARELADO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
 
ORTÊNCIA EMANOELA ONOFRE TAVARES 
 
 
 
 
 
 
A (IN) EFICÁCIA DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA FRENTE AO PROBLEMA 
DA SUPERLOTAÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Serra Talhada 
2017 
 
 
 
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ORTÊNCIA EMANOELA ONOFRE TAVARES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A (IN) EFICÁCIA DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA FRENTE AO PROBLEMA 
DA SUPERLOTAÇÃO DO CARCERÁRIO BRASILEIRO. 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada à disciplina de TCC 
do curso de Bacharelado em Direito da 
Faculdade de Integração do Sertão – FIS, 
como requisito parcial para o título de 
Bacharel em direito, sob a orientação do 
Prof. Esp. Manoel Arnóbio de Sousa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Serra Talhada 
2017 
 
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 ORTÊNCIA EMANOELA ONOFRE TAVARES 
 
 
 
A (IN) EFICÁCIA DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA FRENTE AO PROBLEMA 
DA SUPERLOTAÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO. 
 
 
Monografia apresentada à disciplina de TCC 
do curso de Bacharelado em Direito da 
Faculdade de Integração do Sertão – FIS, 
como requisito parcial para o título de 
Bacharel em direito, sob a orientação da 
Prof. Esp. Manoel Arnóbio de Sousa. 
 
Monografia ____________________ pela banca examinadora, _______ ressalvas 
 (Aprovada/Reprovada) (com/sem) 
 
com nota ________ (_______________) 
 
 em ____ de _________________ de _________ 
 
Banca Examinadora: 
 
______________________________________________ 
Examinador: Prof. Me. Stênio Max Lacerda 
Faculdade de Integração do Sertão – FIS 
 
______________________________________________ 
Examinador: Prof. Esp. José Olegário de Lima Filho 
Faculdade de Integração do Sertão – FIS 
 
____________________________________________ 
Orientador: Prof. Esp. Manoel Arnóbio de Sousa 
Faculdade de Integração do Sertão – FIS 
 
 
 
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Dedico esta Monografia: 
 
A Deus por sempre me abençoar, aos meus 
pais Manoel Tavares e Elda Gomes, ao meu 
irmão, às minhas avós, ao meu namorado, 
enfim, a toda minha família por se unir a 
mim na realização desse sonho. 
 
5 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
A Deus por me amar tanto e sempre demonstrar que está me guardando. 
 
Aos meus pais pela luta diária para que eu pudesse me formar. Ao meu pai Manoel 
Pereira Tavares pela dedicação a realizar esse sonho junto comigo e à minha mãe Elda 
Simone Onofre Gomes por ser minha companheira fiel de todas as horas. 
 
Ao meu orientador Manoel Arnóbio de Sousa pelo insubstituível auxílio durante a 
elaboração desse trabalho. 
 
Ao meu irmão pelo companheirismo desde a infância. 
 
Ao meu namorado pelo companheirismo e apoio durante a elaboração. 
 
Às minhas avós Lindaura (in memoriam) e Socorro por todos os ensinamentos. 
 
A todos que compõem a Vara Criminal da Comarca de Serra Talhada pela preocupação 
com meu aprendizado e pelo tratamento carinhoso que tiveram comigo desde o começo 
do estágio, em especial a Marcos César Diniz por todos os ensinamentos. 
 
A todos que compõem a Única Vara do Trabalho de Serra Talhada por todos os 
ensinamentos durante o estágio e pela amizade, especialmente à minha prima Edleny 
Tavares por ter sido uma das primeiras pessoas a acreditar em mim e por ser espelho de 
pessoa e profissional. 
 
Aos meus tios e tias pelo auxílio que deram a mim e a meus pais durante esses 5 anos. 
 
A todos meus professores por todos os conhecimentos passados. 
 
Enfim, a todos que colaboraram mesmo que indiretamente para a consolidação deste 
trabalho monográfico. 
 
 
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RESUMO 
 
O presente trabalho versa sobre o instituto da audiência de custódia no Brasil. 
Ao longo da pesquisa, será analisado se, de uma forma geral, a audiência de custódia 
está cumprindo com seus objetivos de resguardar os direitos humanos e verificar se 
estes estão sendo respeitados no momento da prisão, bem como se tal instituto “ajuda” 
ou não na diminuição da superlotação dos cárceres brasileiros. Destarte, surgem 
diversos questionamentos acerca da problemática, tais como: será que a audiência de 
custódia está sendo eficaz no cumprimento dos objetivos a que se propôs? O judiciário 
brasileiro bem como as demais instituições envolvidas na realização da audiência de 
custódia têm uma estrutura adequada para realizá-la? Para que fosse possível responder 
tais indagações, se fez necessário abordar de forma aprofundada a origem, o conceito e 
a evolução dos Direitos Humanos e sua (in) aplicabilidade no sistema carcerário 
brasileiro; analisar a forma como se deu sua observação, obrigatória, pelos juízes e 
tribunais do país através da ADPF 347; bem como mostrar aplicação da audiência de 
custódia no Brasil, seu conceito, mostrar seus objetivos e propósitos, sua 
fundamentação jurídica, como também a vivência do nosso Estado na realização da 
audiência de custódia, isto é, de como e quando o Estado de Pernambuco e o Tribunal 
de Justiça de Pernambuco a aderiram. Por fim, far-se-á uma explanação dos pontos 
positivos e negativos da audiência de custódia, os problemas que podem impactar sua 
eficácia e analisar se após a implantação do referido instituto a superlotação dos 
cárceres brasileiros diminuiu. 
 
 
 
Palavras-chave: Direitos. Audiência. Custódia. Superlotação. Prisões. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
ABSTRACT 
 
The present work deals with the institute of the custody hearing in Brazil. 
Throughout the research, will be analyzed if, in a general way, the custody hearing is 
complying with its objectives of safeguarding human rights and verifying that they are 
being respected at the time of arrest, as well as whether such an institute "helps" or not 
in reducing the overcrowding of Brazilian prisons. In this way, several questions arise 
about the problematic, such as: Will the custody hearing be effective in achieving the 
goals it has set itself? Does the Brazilian judiciary as well as the other institutions 
involved in conducting the custody hearing have an adequate structure to carry it out? In 
order to answer such questions, it was necessary to address in depth the origin, the 
concept and evolution of human rights and its (in) applicability in the Brazilian prison 
system, analyze how the observation was made, required, by the judges and courts of 
the country through ADPF 347, as well as show application of the custody hearing in 
Brazil, your concept, show your goals and purposes, its legal basis, as well as the 
experience of our State in holding the custody hearing, this is, how and when the State 
of Pernambuco and the Court of Pernambuco they adhered. Lastly, will do an 
explanation of the positive and negative points of the custody hearing, the problems that 
may impact its efficacy and to analyze if after the implantation of said institute the 
overcrowding of Brazilian prisons has diminished. 
 
Keywords: Rights. Court hearing. Custody. Overcrowded. Prisons. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO.............................................................................................................10 
1. OS DIREITOS HUMANOS E O DESAFIONA BUSCA DE SUA 
EFETIVAÇÃO...............................................................................................................13 
1.1. Analise conceitual.....................................................................................................13 
1.2. Visão Constitucional pátria......................................................................................18 
1.3. O problema carcerário e a sua afronta aos direitos humanos...................................23 
 
2. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA NO BRASIL...........................................................29 
2.1 Audiência de custódia e a ADPF 347........................................................................30 
2.2 Conceito, Propósitos e Procedimento........................................................................34 
2.3 Fundamentos jurídicos, projeto e adesão pelo Estado de Pernambuco e pelo 
TJPE.................................................................................................................................38 
 
3. ANÁLISE ACERCA DOS ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DA 
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E SEUS EFEITOS NA POPULAÇÃO 
CARCERÁRIA .............................................................................................................44 
3.1 Pontos positivos e negativos da Audiência de Custódia para o Sistema Penal 
brasileiro..........................................................................................................................44 
3.2 Problemas que impactam a eficácia da audiência de custódia..................................48 
3.3 Efeitos da audiência de custódia na população carcerária.........................................55 
 
 
CONCLUSÃO .............................................................................................................. 59 
 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 61 
 
ANEXO A – Termo De Adesão Do Governo Do Estado De Pernambuco Ao Termo 
De Cooperação Técnica N. 007/2015, Celebrado Entre O Conselho Nacional De 
Justiça, O Ministério Da Justiça E O Instituto De Defesa Do Direito De Defesa. 
(Processo 03003/2015)....................................................................................................66 
ANEXO B – Termo de Adesão do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco 
ao Termo de Cooperação Técnica N. 007/2015, Celebrado Entre o Conselho 
9 
 
Nacional de Justiça, o Ministério da Justiça e o Instituto de Defesa do Direito de 
Defesa. (Processo 03003/2015)......................................................................................69 
ANEXO C – Resolução Nº 380, de 10 de Agosto de 2015..........................................72 
ANEXO D – Gráficos Quantitativos das Audiências de Custódia em Todos os 
Estados Brasileiros........................................................................................................77 
ANEXO E – Diagnóstico de Pessoas Presas no Brasil no Ano de 2014....................81 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
A presente pesquisa encontra sua justificativa a partir da análise que será feita 
acerca do instituto jurídico da audiência de custódia, enquanto possível solução ou 
amenização para o problema da superlotação do sistema carcerário no Brasil. O tema é 
relativamente novo no direito penal brasileiro e merece uma especial atenção quanto a 
análise de seus objetivos, procedimentos, finalidades etc. 
Como mencionado, a realização da audiência de custódia ainda é algo novo para 
o nosso direito, por isso, é de suma relevância que se estude o tema, a fim de se 
conhecer a forma como foi estabelecida sua implantação em nosso sistema penal, seu 
conceito, para que serve, sua relevância jurídica, com qual intuito ela foi criada etc. 
Importante saber também se durante esse período em que está sendo realizada, a 
audiência está cumprindo ou não seus objetivos, objetivos estes que serão expostos ao 
longo do presente trabalho monográfico. Nossa pesquisa pretende analisar todos estes 
pontos acerca do referido instituto. 
Como se vê, o tema que será aqui tratado é de suma relevância acadêmica e 
científica, uma vez que deve ser estudado cautelosamente pelos atuais e futuros 
operários do direito, a fim de se conhecer e até melhorar o instituto que está sendo 
implantado agora no nosso sistema processual penal. O debate acadêmico sobre o 
presente tema contribuirá bastante na formação dos futuros agentes jurídicos, para que 
estes, na sua prática forense, possam contribuir para a melhoria do nosso sistema penal e 
para a justiça como um todo. 
Cumpre-nos dizer que a escolha da temática se deu pela própria vivência 
forense. Enquanto estagiária da Única Vara Criminal de Serra Talhada – PE, pude 
vivenciar a aplicação da audiência de custódia com todas as suas dificuldades e 
benefícios. 
A presente pesquisa seguirá no sentido de discutir acerca do instituto da 
audiência de custódia e se, de uma forma geral, ela está cumprindo com seu objetivo de 
“ajudar” na diminuição da superlotação dos cárceres brasileiros, tendo em vista que se 
for constatado na audiência de custódia que o cerceamento da liberdade é algo evitável, 
a pessoa presa poderá ficar liberto cumprindo medidas cautelares e, consequentemente, 
não contribuindo para superlotar mais ainda o sistema prisional. 
É com base nestas informações que prosseguiremos com a pesquisa, porém, será 
que a audiência de custódia está sendo eficaz no cumprimento dos objetivos a que se 
11 
 
propôs? Isto é, será que os resultados até agora obtidos com a audiência de custódia são 
os que ela pretendia quando da sua implantação? O judiciário brasileiro bem como as 
demais instituições envolvidas na realização da audiência de custódia têm uma estrutura 
adequada para realizá-la? São essas e outras indagações que buscaremos responder ao 
longo da nossa pesquisa monográfica. 
 Temos como objetivos da presente monografia, a análise da audiência de 
custódia como possível solução ou sistema amenizador da superlotação do sistema 
carcerário brasileiro. Analisaremos também a efetiva aplicação, sobretudo nos presídios, 
dos Direitos Humanos, bem como se as medidas que muitas vezes são impostas pela 
audiência de custódia têm uma devida fiscalização e controle. 
Para o correto desenvolvimento do trabalho em tela, será utilizado como método 
de pesquisa primário o denominado método dedutivo. Tal método, sem sombra de 
dúvidas, é o que melhor se adequa a presente pesquisa, uma vez que o mesmo será 
percebido no desenvolver do trabalho, onde se buscará uma conclusão lógica através da 
averiguação de premissas verdadeiras que partiram do pensamento e obra de autores 
sobre os temas ora tratados. 
Outrossim, serão utilizadas técnicas de pesquisa, cujo procedimento nos permita 
chegar ao resultado almejado. Desta forma, os procedimentos técnicos que aqui serão 
utilizados: é a bibliografia, para que o presente trabalho seja bem fundamentado e para 
que se apresente uma pesquisa com bases consistentes. Sendo assim, a pesquisa será 
bibliográfica, pois serão utilizados livros, artigos, dissertações, teses, monografias, 
dentre outros instrumentos. 
Como veremos, nosso primeiro capítulo tratará acerca dos Direitos Humanos e a 
dificuldade que encontramos hoje em efetivá-los. Aqui discutiremos acerca do que são 
os Direitos Humanos e neste ponto utilizaremos a teoria do filósofo italiano Norberto 
Bobbio, em sua obra “A era dos direitos”. Trataremos, também, acerca da visão 
constitucional brasileira dada aos Direitos Humanos, bem como falaremos brevemente 
acerca do nosso sistema carcerário, de como se encontraatualmente e seus maiores 
problemas. 
No segundo capítulo falaremos de como fora implantada a audiência de custódia 
em nosso sistema processual criminal, definindo-a e mostrando seus objetivos e 
propósitos, sua fundamentação jurídica etc. Falaremos, também, da vivência do nosso 
estado na realização da audiência de custódia, isto é, de como e quando o estado de 
Pernambuco e o Tribunal de Justiça de Pernambuco a aderiram. 
12 
 
Ao final, no terceiro e último capítulo serão expostos alguns pontos tidos como 
positivos e negativos acerca da audiência de custódia, bem como apontaremos alguns 
problemas que podem impactar a sua eficácia, como por exemplo, a falta de estrutura do 
poder judiciário e a falta de controle acerca das medidas cautelares que possam vir a ser 
estipuladas na audiência de custódia quando ali se tem o entendimento de que a prisão 
não se faz necessária e a necessidade de fortalecimento das defensorias públicas do 
nosso país. Por fim, buscaremos relacionar diretamente o instituto da audiência de 
custódia com o problema da superlotação do sistema carcerário do Brasil, isto é, 
analisaremos se depois da implantação da audiência de custódia a quantidade de pessoas 
presas diminuiu ou não. 
Só a partir destas análises é que obteremos uma conclusão acerca da eficácia da 
audiência de custódia quanto ao cumprimento de seus objetivos, sobretudo, o de 
amenizar a superlotação dos cárceres brasileiros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
1. OS DIREITOS HUMANOS E O DESAFIO NA BUSCA DE SUA 
EFETIVAÇÃO 
 
O presente capítulo traz como objetivos uma explanação sobre o que são os 
direitos humanos na visão do filósofo italiano Norberto Bobbio (1992), para isso, traz-
se aqui os conceitos utilizados pelo autor em sua obra “A Era dos Direitos”, considerada 
referência quando o assunto trata-se dos direitos dos homens. 
Ademais, ao longo do capítulo tentar-se-á demonstrar que os direitos dos 
homens são amplamente assegurados pelas diversas normas de direito internacional de 
direitos humanos e também pelas constituições dos países que tomaram para si a tarefa 
de também protegê-los. No entanto, como ainda não são plenamente efetivados, os 
inúmeros casos de desrespeito aos direitos humanos são cada vez mais frequentes, 
principalmente dentro do sistema penal brasileiro e é exatamente tal ponto que 
queremos discutir no presente capítulo. 
Ainda se falando da apresentação deste capítulo, o mesmo será dividido em três 
seções, nas quais a primeira tratará acerca da análise conceitual do que venha a ser os 
direitos humanos e como já falado acima, tal conceito será apresentado da forma 
pensada e externada por Bobbio (1992). 
Na segunda seção, far-se-á uma breve análise de como algumas das 
Constituições passadas dispunham sobre os direitos do homem, além de tratar sobre a 
visão que a Constituição Federal do Brasil de 1988 tem acerca do que são os Direitos 
Humanos, como ela os dispõe em seu texto, bem como quais destes direitos nossa Carta 
Magna assegura. 
Na terceira e última seção do capítulo será tratada a questão do sistema 
carcerário brasileiro e suas afrontas aos direitos humanos positivados e assegurados pela 
nossa Constituição e totalmente desrespeitados dentro do âmbito do sistema prisional do 
nosso país. 
 
1.1. Análise conceitual 
 
Falar acerca dos direitos humanos requer que se adentre num campo muito 
amplo e abstrato, além do que se faz necessária uma análise da sua relação com o seu 
destinatário, o próprio homem. Tendo em vista toda esta abstração acima mencionada, o 
14 
 
presente trabalho adotará as definições do filósofo político italiano, Norberto Bobbio 
(1992) acerca dos direitos humanos. 
Como dito, conceituar direitos humanos não é uma tarefa fácil e não se sabe 
sequer se é possível. Quanto às suas tentativas de definição, pode-se constatar que estas 
vêm sendo feitas de forma vaga e um tanto insatisfatórias. O próprio Bobbio (1992) 
define os direitos humanos sob diversas óticas, as quais devem ser consideradas: 
1. tautológicas – estabelecem que direitos do homem são os que cabem ao 
homem enquanto homem. Não indicam qualquer elemento que os caracterize; 
2. formais – desprovidas de conteúdo e meramente portadoras do estatuto 
proposto para esses direitos. Assim, direitos do homem são aqueles que 
pertencem, ou deveriam pertencer, a todos os homens, ou dos quais nenhum 
homem pode ser despojado; 3. teleológicas – embora tragam alguma menção 
ao conteúdo, pecam pela introdução de termos avaliativos, ao sabor da 
ideologia do intérprete, como “direitos do homem são aqueles cujo 
reconhecimento é condição necessária para o aperfeiçoamento da pessoa 
humana, ou para o desenvolvimento da civilização etc.” (BOBBIO, 1992, p. 
17). 
Assim, Bobbio (1992) tenta trazer definições acerca dos direitos humanos sob 
óticas diversas. A primeira tem uma visão tautológica e estabelece que os direitos do 
homem são aqueles que cabem ao homem enquanto homem, sem que se tenha nenhum 
elemento que os caracterize. A segunda, a visão formal, estabelece que os direitos 
humanos são aqueles que pertencem a todos os homens, bastando apenas a condição 
humana para se fazer uso e gozo de tais direitos, além disso, nenhum homem pode ser 
privado destes. A terceira visão é a teleológica, por ela entende-se que os direitos 
humanos são aqueles que sem eles não se pode haver um aperfeiçoamento da pessoa 
humana, eles são condições necessárias para que o ser humano se aprimore e 
consequentemente haja uma progressão da própria civilização. 
Apresentadas todas as visões que buscam dar uma definição do que são os 
direitos do homem, pode-se verificar que a definição que melhor se apresenta, para o 
autor e, portanto, para o presente trabalho, é a de que “direitos do homem são aqueles 
cujo reconhecimento é condição necessária para o aperfeiçoamento da pessoa humana, 
ou para o desenvolvimento da civilização etc., etc.” (BOBBIO, 1992, p. 17). 
Fazendo-se uma análise histórica mundial, o que se pode afirmar é que os 
direitos humanos resultam de uma série de acontecimentos ao longo da história. Moraes 
(2000) entende que, talvez o código de Hamurabi, em 1690 antes de Cristo, tenha sido o 
primeiro código a dispor acerca dos direitos dos homens, tendo em vista nele conter 
normas atinentes à proteção da vida, honra, dignidade etc. Porém, só foi na Idade Média 
que diversos documentos de cunho jurídico reconheceram a existência dos direitos do 
15 
 
homem. As Declarações de Direitos Humanos Fundamentais se desenvolveram 
fortemente entre os séculos XVII e XX. 
Segundo Moraes (2000), a Inglaterra é pioneira quanto à positivação dos direitos 
humanos, tendo como históricos importantes a Magna Carta Libertatum, de 1215, a 
Petition of Right, de 1689, e o Act of Seattlemente de 1701. Posteriormente, com a 
Revolução dos Estados Unidos da América, passam a ter destaque a Declaração de 
Direito da Virgínia e a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, 
ambas em 1776. 
Há de se observar a importância da Declaração de Independência dos Estados 
Unidos. Siqueira e Piccirillo (2011) destacam o singular valor histórico desta 
Declaração que teve como principal fator o limite ao poder estatal, destacando ainda a 
igualdade entre os homens perante Deus e que este lhes teria conferido direitos que 
nenhum poder político pudesse lhes retirar, direitos como a vida, liberdade e a busca da 
felicidade, dentre outros. A Declaração trazia também relatos de diversos abusos 
cometidos pelo Rei da Inglaterra, como sendo um dos motivos pelos quais houve a 
separação política.Posteriormente, veio a Constituição dos Estados Unidos de 1787, cuja pretensão 
era a limitação dos poderes estatais e a proteção dos Direitos Humanos Fundamentais. 
Ulteriormente, na França, exatamente em 26 de agosto de 1789, foi promulgada a 
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, a partir daí, passou-se por um período 
de maior efetivação dos direitos fundamentais. 
Outro marco histórico que ajudou no aperfeiçoamento dos direitos humanos foi 
o acontecimento da Segunda Guerra Mundial, isto porque foi a partir daí que surge o 
Direito Internacional dos Direitos Humanos. Borges (2006) afirma que a 
internacionalização dos direitos humanos é algo extremamente recente, surgindo apenas 
a partir do pós-guerra respondendo às atrocidades do nazismo acontecidas nesta. A 
autora deixa claro que a Segunda Guerra mundial significou um grande rompimento 
com os direitos do homem até então já reconhecidos, no entanto, o pós-guerra veio 
significar a sua reorganização. 
Assim afirma Borges: 
Ao emergir da segunda guerra mundial, após três lustros de massacres e 
atrocidades, iniciado com o fortalecimento do totalitarismo estatal dos anos 
30, a humanidade compreendeu, mais do que em qualquer outra época da 
História, o valor supremo da dignidade humana. O sofrimento como matriz 
da compreensão do mundo e dos homens, segundo a lição luminosa da 
16 
 
sabedoria grega, veio aprofundar a afirmação histórica dos direitos humanos 
(BORGES, 2006, online). 
 
No pós-guerra, devido a todos os massacres sofridos, a humanidade passa a 
entender o valor da dignidade humana, que ela deve ser preservada e para isso o respeito 
e a proteção aos direitos humanos devem ser preservados acima de qualquer outro 
interesse. O ser humano e sua dignidade é mais importante do que qualquer outro 
interesse que possa vir a entrar em conflito. 
Contudo, o fim da Segunda Guerra Mundial não foi suficiente para o 
fortalecimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos, este passou realmente a 
ser significativo com a Carta das Nações Unidas de 1945 e destaque na esfera 
internacional. 
Importante ressaltar que na concepção de Bobbio (1992), os direitos humanos 
são conquistas históricas, isto é, têm natureza histórica e se afirmaram em quatro 
gerações. Assim afirma Franca: 
Os direitos pertencentes à primeira geração referem-se aos direitos 
fundamentais do homem, afirmados nas lutas contra os governos absolutos e 
arbitrários, tendo por escopo limitar a atuação estatal em vista da preservação 
de direitos como a vida, a liberdade e a igualdade. Os ditos de segunda 
geração por sua vez decorrem das lutas de classes, das conquistas da classe 
operaria no século XIX, em vista da afirmação de que o Estado deve não 
apenas se omitir em praticar atos lesivos a esfera de direitos humanos, mas 
também promover e salvaguardar situações de direitos humanos relacionadas 
a vida digna: trabalho, educação, saúde, moradia, dentre outros. Assim, 
enquanto os direitos de primeira geração se apresentam como direitos 
negativos (posto que são limites ao Estado), os direitos de segunda geração 
são positivos, na medida em que exigem ações concretas para a promoção da 
dignidade humana. A partir do século XX, segundo Bobbio, surge uma 
terceira geração de direitos, que abrange a preservação do meio ambiente e 
do consumidor, numa clara preocupação com a manutenção da vida na Terra. 
Por fim, Bobbio nos fala de uma quarta geração, que compreenderia direitos 
ligados à vida como elemento político: a proteção do patrimônio genético, a 
preocupação com a bioética, dentre outros (FRANCA, 2009, online). 
Na primeira geração estão presentes os direitos ditos individuais. Tais direitos 
consideram os sujeitos abstratamente, além de impor uma igualdade formal perante a lei 
entre todos os homens. No intuito de limitar o poder estatal, estes direitos advieram de 
lutas travadas contra governos absolutistas e por maioria arbitrários e visam à 
preservação da vida, liberdade e igualdade. São direitos de cunho negativo, tendo em 
vista que impõem limites ao Estado, exigindo deste apenas o respeito aos direitos do 
homem. 
17 
 
Na segunda geração de direitos, estão presentes os chamados direitos coletivos. 
Estes, por sua vez, decorrem da luta entre classes e, sobretudo, são conquistas da classe 
operária no século XIX. Aqui, o Estado além de, por obrigação, ter que respeitar os 
direitos humanos de primeira geração, ainda deve promover a dignidade da vida de 
todos os homens, para isso deve fornecer trabalho digno, educação, saúde etc. São 
direitos positivos que exigem do Estado medidas que promovam a dignidade humana. 
Os de terceira geração são dos direitos dos povos ou os direitos de solidariedade. 
Surgidos no século XX, tais direitos são chamados de transindividuais ou coletivos e 
difusos, neles verifica-se uma constante preocupação com a manutenção da vida na 
terra, tendo em vista que trazem a questão ecológica, visando proteger o meio ambiente. 
É nesta geração, também, que se busca a proteção dos consumidores. Tal direito 
é categorial, pois protege uma categoria social que é o consumidor, este, por sua vez, é a 
parte mais fraca na relação de consumo, estando no outro polo desta relação o 
fornecedor, produtor, comerciante etc. O direito do consumidor é considerado difuso, 
uma vez que protege uma categoria social tão ampla que chega a ser praticamente toda a 
sociedade. 
Finalmente, na quarta geração de direitos humanos, Bobbio apresenta uma 
geração que compreende direitos relacionados à vida como elemento político, são os 
chamados direitos de manipulação genética. São direitos ligados à biotecnologia e 
bioengenharia, a proteção do patrimônio genético, além de tratar da bioética, ou seja, 
traz discussões acerca da vida e da morte que requerem um debate ético prévio. 
Se faz mister mencionar que Bobbio (1992) ainda traz como requisito essencial e 
indispensável para o respeito aos Direitos Humanos o regime democrático. Sim, para o 
filósofo italiano só se é possível o respeito aos direitos do homem nos países 
democráticos, sendo por tanto, direitos humanos e democracia intimamente ligados. 
Após todas estas definições, o autor inicia uma teoria acerca da historicidade dos 
direitos humanos, afirmando que todas as gerações se somam ao longo da história e 
trazem para o homem novas necessidades e também novos desafios. As gerações de 
direitos são, então, retratos dos avanços sociais no campo da moral e da tecnologia que 
se expandem constantemente. 
Por tais razões é que Bobbio (1992) tem nas Revoluções da história os principais 
marcos dos direitos do homem, já que são nas revoluções que acontecem as principais 
mudanças, rupturas, se apresentam novos elementos para se fazer a composição do que 
entendemos por dignidade humana, por isso que surgiram outras gerações de direitos, 
18 
 
não mais para salvaguardar a vida, igualdade e liberdade, mas para salvaguardar 
também a dignidade humana em suas diversas dimensões. 
Contudo, Bobbio(1992) afirma que o principal desafio em face dos direitos 
humanos não é mais afirma-los ou protege-los, mas, sobretudo, torna-los efetivos. 
Efetivar os direitos humanos é fazer com que eles sejam cumpridos tal qual estão 
dispostos, é torná-los eficazes. Pois, somente a afirmação não é suficiente para que tais 
direitos sejam colocados em prática. É uma questão política, em que não cumpre apenas 
ao Estado, mas a toda esfera social e ainda a todo o direito internacional. 
É dever de todo cidadão engajar-se politicamente, com vistas a afirmar e praticar 
ações para a realização daquilo que se entende indispensável à condição humana. Isto é, 
tornar os direitos humanosmais que um discurso, torna-los ações. E a discussão do 
presente trabalho também englobará essa questão, a audiência de custódia é um 
mecanismo suficiente para a efetivação dos direitos humanos no que tange a questão 
prisional no Brasil? 
Além de ser titular de tais direitos, o homem passa agora a ser responsável 
também por sua realização, a partir dos direitos do homem não se admite mais 
legalidades que acobertem crimes, nenhum Poder pode estar acima da justiça e da 
dignidade da pessoa humana. 
 
 
1.2. Visão Constitucional Pátria 
 
Inicialmente serão analisadas algumas das Constituições brasileiras anteriores a 
de 1988 para se verificar o que estas Constituições dispunham acerca dos direitos do 
homem. Todas as informações constitucionais serão aqui expostas segundo o respeitável 
doutrinador Alexandre de Moraes. 
A começar pela Constituição Imperial de 1824, a qual foi a primeira 
Constituição brasileira e foi outorgada pelo imperador Dom Pedro II. Segundo Moraes 
(2000), tal Carta Magna instituiu uma unidade nacional com províncias autônomas e 
dispôs acerca da garantia dos Direitos Fundamentais, a fim de se adequar à Declaração 
dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. 
Ainda de acordo com Moraes (2000), a segunda Constituição brasileira, 
promulgada em 1891, transformou o Estado, até então unitário, em um Estado 
federativo, mantendo também a garantia aos direitos fundamentais e individuais, no 
19 
 
entanto sem nenhuma política de efetivação destes direitos, isto é, os direitos humanos 
estavam previstos apenas no papel, sem que houvesse políticas para que fossem postos 
em prática. 
A terceira Constituição foi a de 1934, já sob o governo de Getúlio Vargas. Tal 
Carta Magna consignou e instituiu diversos direitos como o direito ao voto das mulheres 
e, sobretudo, a criação de diversos direitos na seara trabalhista que mais tarde seriam 
compilados em um único documento, qual seja: A Consolidação das Leis do Trabalho, 
vigente até os dias atuais. Assim, a referida Constituição trouxe importantes avanços no 
que tange aos direitos humanos. 
A Constituição de 1937, por sua vez, também foi instituída sob o comando de 
Getúlio Vargas, outorgada pelo mesmo, trouxe diversas mudanças para o cenário 
brasileiro já que representava um golpe de Estado e a instituição de uma ditadura. 
Dentre as diversas mudanças, esta Magna-Carta modificou a forma de Estado, voltando 
o país a ser um Estado unitário, além de suprimir o federalismo, a relação dos poderes, 
dissolveu o Congresso Nacional e extinguiu os partidos políticos. A democracia 
desapareceu e alguns dos principais direitos e garantias fundamentais também, como a 
liberdade de imprensa e o direito a livre associação. Como se pode ver, um retrocesso às 
conquistas dos direitos humanos. 
Após a ditadura imposta por Getúlio Vargas, o país passa por um processo de 
retomada a democracia e respeito aos Direitos Humanos, isso acontece com a 
Constituição de 1946. Porém, em 1954 o país passa por outro período de ditadura, desta 
vez uma ditadura militar. Novamente os direitos e garantias individuais são suprimidos. 
Em 1967 é instituída uma nova Constituição, nos moldes da Magna-carta de 
1937. Ampliou-se os poderes da União e do Presidente da República e novamente os 
direitos e garantias individuais são suprimidos. Importante mencionar ainda a Emenda 
de 1969, que verdadeiramente surgiu com uma nova Constituição já que alterou 
substancialmente a de 1967, tal emenda suprimiu ainda mais os direitos humanos e a 
partir dela a ditadura militar fica ainda pior, com maiores abusos ao ser humano. 
Contudo, com a promulgação da Constituição de 1988, no dia 05 de outubro do 
mesmo ano, os direitos e garantias fundamentais voltam a ser protegidos e de forma 
ampliada. A Constituição cidadã, como é conhecida a atual Lei Maior do nosso país, 
ampliou consideravelmente o rol de direitos e garantias individuais, além de elevá-los a 
cláusula pétrea, isto é, a lei brasileira passou a respeitar, de forma nunca vista 
anteriormente, aos Direitos Humanos. 
20 
 
Como mencionado anteriormente, A Constituição Federal de 1988 veio 
institucionalizar a inauguração de um regime político democrático no nosso país, bem 
como proporcionar um avanço legislativo no que diz respeito aos direitos e garantias 
fundamentais. A atual Carta Magna é bastante avançada no que tange aos direitos 
sociais e civis, além de proteger, conscientemente, os direitos políticos democráticos 
frente a qualquer interferência autoritária. 
Com a atual Constituição, os Direitos Humanos funcionam também como um 
limite aos representantes escolhidos pelo povo. Assim afirma Alexandre de Moraes: “o 
poder delegado pelo povo a seus representantes não é absoluto, conhecendo várias 
limitações, inclusive com a previsão de direitos e garantias individuais e coletivas do 
cidadão relativamente aos demais cidadãos e ao próprio Estado” (MORAES, 2000, 
p.25). 
Ainda pode-se mencionar que, dentre os fundamentos que alicerçam do Estado 
democrático de direito brasileiro, destacam-se o direito da dignidade da pessoa humana 
e a cidadania. Ao considerar e compreender a Constituição como unidade sistemática 
que seleciona determinados valores sociais, pode-se dizer que a Constituição Federal de 
1988 elegeu o princípio da dignidade da pessoa humana como sendo um valor essencial 
para nossa nação. 
Também mencionado anteriormente, a Magna-Carta de 1988 elevou os direitos e 
garantias fundamentais ao status de cláusula pétrea1, demonstrando a sua vontade de 
priorizar os direitos humanos. As Constituições anteriores tratavam primeiramente do 
Estado e só depois dos direitos, outra diferença é que tinham o status de cláusula pétrea 
somente as questões afetas ao Estado e não aos direitos, assim demonstrava-se uma 
legislação inspirada totalmente pela ótica do Estado. Já com a Constituição de 1988 essa 
visão passa a ser a da cidadania, radicada nos direitos humanos do cidadão. 
Ao romper com a sistemática das Cartas anteriores, a Constituição de 1988, 
ineditamente, consagra o primado do respeito aos direitos humanos, como 
paradigma propugnado para a ordem internacional. Esse princípio invoca a 
abertura da ordem jurídica interna ao sistema internacional de proteção dos 
direitos humanos. A partir do momento em que o Brasil se propõe a 
fundamentar suas relações internacionais com base na prevalência dos 
direitos humanos, está ao mesmo tempo reconhecendo a existência de limites 
e condicionamentos à noção de soberania estatal, do modo pelo qual tem sido 
 
1 Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: (...) § 4º Não será objeto de 
deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, 
secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. 
 
21 
 
tradicionalmente concebida. Isto é, a soberania do Estado brasileiro fica 
submetida a regras jurídicas, tendo como parâmetro obrigatório a prevalência 
dos direitos humanos. Surge, pois, a necessidade de interpretar os antigos 
conceitos de soberania nacional e não-intervenção à luz de princípios 
inovadores da ordem constitucional; dentre eles, destaque-se o princípio da 
prevalência dos direitos humanos. Esses são os novos valores incorporados 
pelo Texto de 1988 e que compõe a tônica do constitucionalismo 
contemporâneo (PIOVESAN, 2010, p. 342). 
Sendo assim, constata-se que foi uma inovação da atual Constituição elevar o 
respeito aos direitos humanos, isto porque a partir de então, toda a ordem interna do país 
passa a formar-se de acordo com osregramentos internacionais de direitos humanos e 
de certa forma estes passam a constituir um limite para a soberania estatal. As relações 
de direito internacional também são fundamentadas a partir das regras de direitos 
humanos, enfim, com a Lei Maior de 1988, o respeito aos direitos do homem se 
consagra como o fundamento de toda a legislação nacional e internacional de que o 
Brasil participe. 
Outra inovação trazida pela atual Constituição foi o aumento na dimensão dos 
direitos e garantias, pois além de assegurar os direitos políticos e civis, passa-se a 
assegurar também os direitos sociais. É a primeira vez que se insere no texto de uma 
Constituição brasileira os direitos sociais, uma vez que nas outras Constituições estes 
direitos se espalhavam no âmbito da ordem econômica e social. Além disso, é a 
primeira vez também que, sobre qualquer lei nacional, prevalecem os direitos humanos2. 
Da mesma forma, a nossa atual Carta Magna prevê direitos pertencentes a 
praticamente todas aquelas gerações elencadas por Bobbio (1992), uma vez que 
assegura além dos direitos individuais, os coletivos e os difusos. Importante destacar 
que os direitos coletivos são aqueles que pertencem à determinada categoria ou classe 
social enquanto que os difusos são os direitos pertencentes a todos e a cada um 
enquanto individuo. Assim dispõe Flávia Piovesan: 
A Carta de 1988, ao mesmo tempo que consolida a extensão de titularidade 
de direitos, acenando para a existência de novos sujeitos de direitos, também 
consolida o aumento da quantidade de bens merecedores de tutela, por meio 
da ampliação de direitos sociais, econômicos e culturais” (PIOVESAN, 2010, 
p. 34). 
 
 
2 Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes 
princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos 
povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica 
dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso 
da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil 
buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à 
formação de uma comunidade latino-americana de nações. (CONSTITUIÇÃO, 1988, online) 
22 
 
Desta forma, além de conferir um aumento na titularidade de direitos, refletindo 
novos sujeitos de direito, a nossa Carta Magna também expande a quantidade de bens 
merecedores de tutela, por meio dos direitos sociais, econômicos e culturais. Além 
disso, pode-se dizer que os direitos e garantias fundamentais, com a atual Constituição, 
passam a ter uma força expansiva, tendo em vista que se projeta por toda a seara 
constitucional e serve de parâmetro de interpretação para todo o ordenamento jurídico 
brasileiro. 
Vale lembrar que doutrinariamente existe uma diferença na conceituação entre 
direitos e garantias fundamentais. Para Alexandre de Moraes (2000) a diferença entre 
estes dois institutos pode ser definida remontando a Rui Barbosa, que separou as 
disposições meramente declaratórias das disposições assecuratórias. As primeiras 
atribuem existência legal aos direitos reconhecidos, são as que instituem os direitos, já 
as segundas são as que, na defesa dos direitos, quando desrespeitados, procuram sanar 
tal desrespeito de forma a limitar o poder. 
Importante ressaltar que no Brasil há uma discussão entre os juristas acerca do 
valor constitucional que possuem as normas de direito internacional de direitos 
humanos. A discussão gira em torno da hierarquia que essas normas possuem no 
ordenamento jurídico nacional. 
Para a Constituição Federal, os tratados internacionais possuem força 
hierárquica infraconstitucional, de acordo com seu artigo 102, III, b. No entanto, os 
tratados internacionais de direitos humanos têm força e natureza constitucional, isso 
porque a Emenda Constitucional nº 45, de 2004, atribui essa prerrogativa aos tratados 
internacionais atinentes aos direitos do homem. 
Nas palavras de Ricardo Castilho: 
Para o Brasil os tratados internacionais de direitos humanos são equiparados 
às normas constitucionais apenas se obtiverem votação de três quintos dos 
deputados e senadores para incorporação ao direito interno. Em geral, os 
tratados valem mais do que as leis ordinárias e menos que as normas 
constitucionais (CASTILHO, 2011, p. 77). 
E conclui: 
Os tratados de direitos humanos podem ser incorporados no direito interno de 
três maneiras: I) no nível de Emenda Constitucional, conforme o § 3º do 
artigo 5º da Constituição Federal, acrescentado pela Emenda Constitucional 
nº 45 de 2004; II) no nível de norma constitucional, autorizada pelo voto do 
ministro Celso de Mello no Recurso Extraordinário 466.343; III) no nível 
supralegal, abaixo da Constituição Federal, mas acima das leis, conforme o 
voto do ministro Gilmar Mendes no mesmo processo (CASTILHO, 2011, p. 
82-83). 
23 
 
Já está mais que demonstrado que a nossa atual Constituição possui suas bases 
nos princípios assegurados pelos direitos humanos e todo seu sistema jurídico 
internacional. Entretanto, é de suma importância que o presente trabalho se atente de 
forma especial para um dos princípios mais fundamentais de todos seres humanos, que é 
o princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Nada mais justo que encerrarmos a 
presente seção falando acerca da dignidade da pessoa humana. 
Definir o que seria a dignidade da pessoa humana ainda não se mostra uma 
tarefa fácil, principalmente por ser algo muito abstrato. Porém, é importante deixar claro 
o significado do que vem a ser dignidade da pessoa humana. 
Para Alexandre de Moraes (2000, p. 60), 
A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à 
pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e 
responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por 
parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que 
todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que apenas excepcionalmente 
possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas 
sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas 
enquanto seres humanos. 
Como se pode observar no pensamento de Alexandre de Moraes, a dignidade da 
pessoa humana é valor inerente a cada pessoa, que deve ser um mínimo que toda norma 
deve não só respeitar, mas firmá-la e assegurá-la. Toda pessoa, pelo simples fato de ser 
humana, deve ser sempre tratada com respeito, seja em qualquer situação econômica, 
social, cultural, religiosa etc. 
 
 
1.3. O problema carcerário e a sua afronta aos direitos humanos 
 
No Brasil, muito comum é a veiculação de notícias acerca da precariedade do 
sistema carcerário. Problemas como a superlotação dos presídios é uma realidade 
brasileira, no entanto, tal problema já perdura por mais tempo do que se pode imaginar. 
Desde sua gênese o sistema prisional, sobretudo o brasileiro, enfrenta diversos 
problemas que afrontam diretamente os direitos do ser humano, mesmo quando tais 
direitos ainda nem eram assegurados. 
Em breve análise histórica acerca do sistema carcerário brasileiro, constatou-se 
que até o século XVIII, o direito penal tinha como marca a utilização de penas cruéis e 
24 
 
desumanas onde sequer existia a possibilidade da privação de liberdade ser uma forma 
de punição. 
Ao invés da privação de liberdade ser a pena fim, era considerada uma forma de 
custódia, ou seja, uma forma de garantir que o acusado não iria fugir. Assim,o acusado 
aguardava seu julgamento em cárcere, mas este não seria considerado sua punição final. 
Apenas em meados do século XVIII é que a privação de liberdade foi considerada uma 
forma de punição para o direito penal da época. 
No Brasil, até o ano de 1830, não se tinha código penal próprio, pois ainda era 
colônia de Portugal. As penas aplicadas eram a de morte, penas corporais, confisco de 
bens, humilhações públicas etc. Como dito, não havia a previsão da privação de 
liberdade, uma vez que o Brasil adotava as Ordenações Filipinas do século XVII como 
ordenamento jurídico penal e os movimentos reformistas penitenciários só vieram 
acontecer no final do século XVIII. 
Apenas em 1824, com sua própria Constituição é que o Brasil começa a 
reformar o ordenamento punitivo, não sendo mais utilizáveis as penas de açoite, tortura 
e outras penas cruéis, determinando que as cadeias devessem ser seguras, limpas e 
arejadas. Como visto anteriormente, passou-se a respeitar mais os direitos do homem, 
mas não em sua plenitude, uma vez que os escravos ainda estavam sujeitos às penas 
cruéis. 
Após análise histórica, importante mencionar qual o sentido da pena, isto é, com 
que finalidade a pena é aplicada àqueles que infringem o sistema de normas. 
Hodiernamente, no sistema punitivo brasileiro, a pena possui uma natureza mista que é 
a retributiva e a preventiva, mas tudo respeitando os direitos humanos trazidos pelos 
tratados de direitos internacionais e os direitos e garantias fundamentais dispostos pela 
Constituição Federal de 1988. 
Pela finalidade retributiva, a pena vem a significar uma punição ao infrator pelo 
descumprimento de uma norma penal. Já a finalidade preventiva visa a coibir a prática 
de novas infrações penais. Podem-se identificar tais finalidades no artigo 593 do Código 
Penal brasileiro, que trata acerca da fixação da pena privativa de liberdade. 
Vejamos o que assevera Capez (2011, p. 385): 
 
3 Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do 
agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, 
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I - as penas 
aplicáveis dentre as cominadas; II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III - o 
regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituição da pena privativa da 
liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. 
25 
 
1- teoria da retribuição ou absoluta: consiste em uma punição pelo 
desrespeito a um bem jurídico, devendo ser proporcional ao crime praticado. 
Está prevista no CP no art. 59, que faz referência a necessidade e suficiência. 
2- teoria da prevenção ou relativa: Tem por objetivo coibir ou evitar a prática 
de novos delitos. A pena é vista como um instrumento para prevenir as 
futuras infrações penais. Podendo ser especial objetivando a readaptação do 
criminoso, como forma de impedi-lo de voltar a delinquir. Sendo geral 
quando visa incutir no ambiente social uma intimidação para as pessoas não 
delinquirem por medo de receber uma punição. 3- teoria mista: A pena tem a 
dupla função de punir o criminoso e prevenir a prática de crimes. 
 
Assim, na visão de Fernando Capez existem três teorias que explicam a natureza 
e objetivo da pena. A primeira diz respeito à teoria da retribuição em que a pena 
consiste em uma sanção pelo desrespeito a uma norma jurídica e deve ser proporcional 
ao delito praticado. A segunda teoria diz respeito à finalidade de prevenção da pena. Por 
ela, a pena é tida como instrumento que possa coibir futuras infrações penais. A terceira 
e última teoria é a mista, por ela a pena possui as duas finalidades anteriormente 
apresentadas, isto é, possui a finalidade retributiva e preventiva. Esta última é a adotada 
pelo sistema punitivo brasileiro. 
Cumpre destacar, ainda, as funções do nosso sistema prisional. Pode-se afirmar 
que a principal função das unidades prisionais é justamente resgatar o criminoso e 
mantê-lo fora da sociedade por um tempo razoável, até que o mesmo se recupere e 
possa ser reinserido no meio social. Entretanto, na praticidade não é bem isso que 
acontece, uma vez que a teoria não está sendo concretizada na realidade vivida. 
Portanto, pode-se dizer que o sistema prisional brasileiro encontra-se defasado 
em todos os seus aspectos, desde o administrativo até o judicial, causado aparentemente 
por falta de compromisso do próprio Estado ou até mesmo dos outros órgãos, tendo em 
vista não haver disposição por parte destes na hora de cumprir as leis e superar os 
problemas existentes no sistema carcerário. 
Neste sentido, nota-se que alguns direitos básicos inerentes aos presos não estão 
sendo observados, a exemplo da alimentação adequada, da assistência social e médica, 
entre outros direitos que também estão sendo violados, torando-se quase que inviável a 
ressocialização dos detentos. 
Segundo Assis (2007), um dos principais fatores que degradam o sistema 
carcerário é justamente a superlotação, uma vez que os presos são submetidos a 
situações desumanas, degradantes, chegando a serem tratados como animais presos em 
jaulas, não havendo o que se falar em observância aos direitos e garantias fundamentais 
nem, tampouco, aos direitos humanos. 
26 
 
Assim, além da superlotação dos presídios, as condições a que os presos estão 
expostos podem acometê-los de enfermidade incuráveis, e aquelas doenças até então 
consideradas leves podem se agravar diante do não tratamento adequado. Senão 
vejamos nas palavras de Assis (2007, online): 
A superlotação das celas, sua precariedade e sua insalubridade tornam as 
prisões um ambiente favorável à propagação de epidemias e ao contágio de 
doenças. Todos esses fatores estruturais aliados ainda à má alimentação dos 
presos, seu sedentarismo, o uso de drogas, a falta de higiene e toda a 
lugubridade da prisão, fazem com que um preso que adentrou lá numa 
condição sadia, de lá não saia sem ser acometido de uma doença ou com sua 
resistência física e saúde fragilizadas. 
 Alguém que permanece por algum tempo nas condições expostas no fragmento 
acima certamente fica com sua saúde debilitada. Além das doenças supracitadas, tem-se 
uma junção de fatores que ao invés de reinserir o preso à sociedade, faz é afastar 
qualquer possibilidade de reinserção, como a falta de fiscalização por parte da polícia e 
dos agentes penitenciários, permitindo-se assim que os presos usem drogas dentro da 
unidade prisional, a falta de estrutura que possibilite a implantação de programas 
educativos cuja finalidade seja coloca-lo novamente na sociedade. 
Como visto anteriormente, diversos são os direitos e garantias que o homem 
possui, tanto no ordenamento jurídico internacional, com a proteção aos direitos 
humanos quanto na legislação nacional, com a concessão dos direitos e garantias 
fundamentais. Esses direitos são fruto de toda uma evolução histórica que vê nos 
direitos humanos uma condição necessária para a existência do homem e o 
aperfeiçoamento da civilização. 
A Constituição Federal dispõe cerca de 32 incisos em seu artigo 5º, sobre a 
proteção aos direitos e garantias do preso, além da Lei de Execução Penal que dispõe 
em seu artigo 414, incisos I a XV, acerca dos direitos infraconstitucionais assegurados 
 
4 Art. 41 - Constituem direitos do preso: I - alimentação suficiente e vestuário; II - atribuição de 
trabalho e sua remuneração; III - Previdência Social; IV - constituição de pecúlio; V - proporcionalidade 
na distribuiçãodo tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; VI - exercício das atividades 
profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da 
pena; VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII - proteção contra 
qualquer forma de sensacionalismo; IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; X - visita do 
cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI - chamamento nominal; XII - 
igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena; XIII - audiência especial 
com o diretor do estabelecimento; XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de 
direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros 
meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes. XVI – atestado de pena a 
cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária 
27 
 
ao sentenciado no decorrer da execução penal. No entanto, a realidade dos nossos 
presídios não permite que tais direitos sejam respeitados. 
 Isso vem a corroborar com o que já dizia Norberto Bobbio, de que os direitos 
humanos já estão assegurados nos ordenamentos jurídicos internacionais e nacionais 
nos casos de países democráticos, porém ainda não estão plenamente efetivados. Como 
destaca Balestreri (2004), que, na prática, é muito comum a inobservância das garantias 
legais dos presos no momento da execução da pena. 
Não é rara a incidência de abusos e agressões cometidas pelos próprios presos e 
a falta de punição, talvez, incite-os a essas práticas. Menos raro são os casos de 
agressões feitas pelo próprio Estado, nas pessoas de seus agentes penitenciários e 
policiais, no ato da prisão e também na ocorrência de rebeliões e tentativas de fuga. 
Exemplo histórico do que aqui estamos falando foi o episódio conhecido como o 
“Massacre do Carandiru”, ocorrido em São Paulo em 1992, onde 111 presos foram 
executados, conforme menciona Assis (2007). 
Fatos como este acontecem muitas vezes devido a falta de qualificação e preparo 
dos agentes de polícia, que por vezes agem mediante excesso de violência e abuso de 
autoridade. 
Há de se falar ainda que, mesmo passados séculos, o sistema carcerário 
brasileiro ainda possui problemas surgidos desde sua gênese, isto é, não houve grandes 
evoluções mesmo com a exigência do respeito aos direitos humanos. É o que nos dizem 
Bruno Morais di Santis e Werner ENGBRUCH: 
As penitenciárias do Brasil ainda eram precárias. Por isso, em 1828, a Lei 
Imperial determina que uma comissão visite prisões civis, militares e 
eclesiásticas para informar do seu estado e melhoramentos necessários. Esse 
trabalho resultou em relatórios de suma importância para a questão prisional 
do país, mostrando a realidade lastimável desses estabelecimentos. O 
primeiro relatório da cidade de São Paulo, datado em abril de 1829, já tratava 
de problemas que ainda hoje existem, como falta de espaço para os presos e a 
convivência entre condenados e aqueles que ainda aguardavam julgamento 
(...) Existia um grande abismo entre o que era previsto em lei com a realidade 
carcerária. No ano de 1906, por exemplo, foram condenados 976 presos no 
estado de São Paulo à prisão celular, mas existiam apenas 160 vagas, 
portanto 816 presos (90,3%) cumpriam pena em condições diversas àquela 
prevista no Código Penal vigente (SANTIS; ENGBRUCH, 2016, online). 
Por fim, pode-se notar que alguns dos problemas do sistema prisional brasileiro 
de hoje, data desde o seu início. Problemas estruturais como a falta de espaço para 
 
competente. Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou 
restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento. 
 
28 
 
muitos presos e a convivência entre os presos já julgados e os que ainda aguardam 
julgamento não surgiram só agora, mas já era algo preocupante há tempos atrás e que 
desrespeitam os direitos do homem que foram conquistados a muito custo, os direitos e 
garantias fundamentais os quais assegura a Constituição de 1988 e desrespeita, 
sobretudo, o princípio da dignidade humana, já que o tratamento para com o preso, na 
maioria das vezes, não é feito como nossas normas asseguram. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
2. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA NO BRASIL 
 
O presente capítulo tem por objetivo trazer discussões acerca da chamada 
Audiência de Custódia. Aqui traremos o seu conceito, seus propósitos, seu 
procedimento, como se deu a imposição de sua realização, bem como a fundamentação 
jurídica que dá base a este projeto que foi implantado há pouco tempo e, portanto, tem 
recente aplicação no processo penal brasileiro. 
Hoje, o Código de Processo Penal brasileiro, em seu artigo 306, prevê que 
quando uma pessoa for presa em flagrante, os documentos policiais referentes a esta 
prisão serão encaminhados, em até 24 (vinte e quatro) horas, a um juiz. Ocorre que com 
a audiência de Custódia, não só os documentos policiais serão encaminhados, mas a 
própria pessoa presa será apresentada ao juiz, no mesmo prazo, para os fins a que esta se 
destina, como veremos adiante. 
Art. 306 - A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão 
comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à 
família do preso ou à pessoa por ele indicada. § 1º Em até 24 (vinte e quatro) 
horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz competente o 
auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu 
advogado, cópia integral para a Defensoria Pública. § 2º No mesmo prazo, 
será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela 
autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das 
testemunhas (BRASIL, 1941). 
Segundo CANINEU (2014), alguns países da América Latina já apresentam o 
preso a uma autoridade judicial em prazos semelhantes ao aplicado na audiência de 
custódia do Brasil. O Código de Processo Penal do Chile, por exemplo, dispõe que, em 
casos de prisão em flagrante, o suspeito deve ser apresentado em até 12 (doze) horas a 
um promotor, caso este entenda pela soltura daquele, ele poderá fazer, no entanto, se 
entender pela necessidade da manutenção do flagrante, deve apresentar o suspeito a um 
juiz, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas da prisão. 
Já o Código de Processo Penal Federal da Argentina, dispõe que, nos casos de 
prisão sem uma ordem judicial, o suspeito deve ser apresentado a uma autoridade 
judicial competente, no prazo de 6 (seis) horas contadas do momento da prisão. No 
México, os flagranteados são entregues de imediato aos promotores e estes podem 
liberá-los, se assim entender possível ou apresenta-los prante um juiz, no prazo de 48 
(quarenta e oito) horas, isso na maioria dos tipos Penais. Na Colômbia é de 36 (trinta e 
seis) horas o prazo para o preso em flagrante ser levado a um Juiz. 
30 
 
A audiência de Custódia vem com o fito de introduzir uma oralidade ainda na 
fase preliminar, instalando uma lógica do contraditório e tornando o processo mais 
humano, pois, retira o caráter escrito e formal que aparece apenas nos papéis, além de 
efetivar a defesa real do imputado, já que aqui já existe um contato entre defesa e 
defendido, coisa que, pelo disposto no Código de Processo penal, não existia. 
A seguir, passa-se a analisar a forma como a audiência de custódia passou a ser 
uma determinação no sistema processual penalbrasileiro através de uma decisão 
judicial liminar na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 347. 
 
 
2.1 Audiência de Custódia e a ADPF 347 
 
Como visto anteriormente, o problema carcerário brasileiro e sua afronta aos 
Direitos Humanos não é recente, já perdura desde o seu início. A omissão do Estado na 
garantia e preservação do princípio da dignidade daqueles que se encontram em situação 
de encarceramento revela, na verdade, a existência de um estado que a doutrina e a 
jurisprudência denominam de “estado de coisas inconstitucional”. 
Como se sabe, ao privar alguém de sua liberdade, o Estado passa a ser o 
garantidor dos demais direitos fundamentais que não foram limitados pelo 
encarceramento. Nesse sentido, pode-se analisar a orientação da Suprema Corte norte-
americana no caso Brown vs. Plata: 
Ao encarcerar, a sociedade retira dos prisioneiros os meios necessários para 
que satisfaçam suas próprias necessidades. Prisioneiros são dependentes do 
Estado para comida, vestuário e o necessário cuidado médico. (...) Assim 
como um prisioneiro pode passar fome se não alimentado, ele pode morrer se 
não receber adequado tratamento médico. Uma prisão que priva os detentos 
do seu sustento básico, incluindo o adequado serviço médico, é incompatível 
como conceito de dignidade humana e não tem lugar numa sociedade 
civilizada. Se o Estado falha ao cumprir esta obrigação, as cortes têm a 
obrigação de remediar sua falha. 
De acordo com tal orientação, se ao detento a prisão importa em restrições a 
alguns de seus direitos, por outro lado, importa também em deveres para o Estado. Ou 
seja, o Estado deve garantir que a pessoa presa não seja submetida a tratamento 
desumano e degradante, deve fornecer comida, vestuário, medicamentos, serviços 
médicos etc. 
No entanto, o que temos visto no sistema prisional brasileiro não condiz com tal 
orientação, pelo contrário, o cenário é de total abandono. Por tais motivos, em 2015 o 
31 
 
Partido Socialismo e Liberdade – PSOL propôs a Arguição de Descumprimento de 
Preceito Fundamental 347, onde requereu que o Supremo Tribunal Federal analisasse as 
violações ocorridas no sistema carcerário e determinasse a todos os poderes Legislativo, 
Executivo e Judiciário, que tomassem uma série de medidas conjuntamente para que 
tais violações fossem cessadas. Tal ADPF adotou a tese central de que, na verdade, o 
que estaria acontecendo com o sistema carcerário brasileiro seria a existência de um 
estado de coisas inconstitucional, como já mencionado. 
O estado de coisas inconstitucional é uma tese que tem sua gênese no direito 
constitucional colombiano e através dela se reconhece uma série de violações aos 
direitos fundamentais de um número significativo de pessoas, ocorrendo, então, um 
“bloqueio institucional” na garantia dos direitos. Assim, para resolução de tais 
problemas, se faz imprescindível a adoção de medidas complexas e coordenadas, 
envolvendo diversos poderes e entidades, podendo o poder Judiciário, através da Corte 
Constitucional, impor ao Estado a adoção de medidas a serem tomadas e, 
posteriormente, o monitoramento do cumprimento efetivo das medidas tomadas. 
Para Carlos Alexandre de Azevedo Campos: 
O Estado de Coisas Inconstitucional se verifica quando há uma violação 
generalizada e sistemática de direito fundamentais, ocasionado pela omissão 
repetida das autoridades públicas em reverter esse quadro, gerando uma 
situação que somente através de um processo de transformação estrutural na 
atuação da Administração Pública pode corrigir essa condição 
inconstitucional (CAMPOS, 2015, online). 
Destarte, o estado de coisas inconstitucional se verifica quando as autoridades 
públicas se fazem omissas na resolução de um quadro de violação de direitos, ou seja, o 
Estado sabe que existe aquele estado de desrespeito à direitos fundamentais, no entanto 
permanece inerte sem nada fazer para mudar tal realidade. E para corrigir tal estado de 
inconstitucionalidade, a administração pública deve atuar na transformação da estrutura 
posta, tomando medidas que efetivamente sejam cumpridas. 
Não há na Constituição Federal nem em lei infraconstitucional brasileira 
qualquer tipo de previsão desse estado de coisas inconstitucional e, tendo em vista que 
confere à corte judiciária uma amplitude de poderes, só deve ser utilizada em casos 
excepcionais em que há uma geral afronta aos direitos humanos e que se faça necessária 
a intervenção da corte para solução do grave quadro enfrentado, fazendo com que esta 
assuma um papel atípico que envolva uma intervenção mais ampla nos demais poderes 
no que tange às políticas públicas, ou seja, a Suprema Corte Constitucional, em face da 
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inércia dos demais poderes que não agem para resolver o problema, age com uma 
postura de judicialização das políticas públicas. 
Ainda segundo Carlos Alexandre de Azevedo Campos, os pressupostos do 
estado de coisas inconstitucional são três: 
Em síntese, são três os pressupostos do Estado de Coisas Inconstitucional: 
 A constatação de um quadro não simplesmente de proteção deficiente, 
e sim de violação massiva, generalizada e sistemática de direitos 
fundamentais, que afeta a um número amplo de pessoas; 
 A falta de coordenação entre medidas legislativas, administrativas, 
orçamentárias e até judiciais, verdadeira “falha estatal estrutural”, que gera 
tanto a violação sistemática dos direitos, quanto a perpetuação e agravamento 
da situação; 
 A superação dessas violações de direitos exige a expedição de 
remédios e ordens dirigidas não apenas a um órgão, e sim a uma pluralidade 
destes — são necessárias mudanças estruturais, novas políticas públicas ou o 
ajuste das existentes, alocação de recursos etc. (CAMPOS, 2015, online). 
Desta forma, para que seja constatado um estado de coisas inconstitucional 
deve-se haver uma violação generalizada de direitos fundamentais, afetando um número 
extenso de pessoas; uma falha estatal estrutural que gera a violação do direito e a sua 
perpetuação ou agravamento e, por fim, que sejam tomadas uma série de medidas para 
que haja a superação de tal violação, desde mudanças estruturais, adoção de novas 
políticas públicas até a melhor alocação de recursos etc. 
Sabendo disso, a ADPF 347 enquadrou o sistema carcerário brasileiro como um 
estado de coisas inconstitucional havendo uma maciça violação dos direitos 
fundamentais dos presos, estes que formam uma população significativa, para não dizer 
alarmante e que, no entanto, o poder público se faz omisso quanto a tal problema. Por 
tais motivos, ainda segundo a inicial da ADPF citada, o Supremo Tribunal Federal 
deveria impor aos poderes do Estado que tomem medidas para a resolução do problema. 
Na inicial da citada ADPF, o proponente relata os problemas do sistema 
prisional brasileiro e aponta as reponsabilidades que cada Poder tem em relação a tais 
problemas, ou seja, o Estado estaria violando os direitos fundamentais dos presos 
através de todos os seus poderes. 
Em síntese, afirma que os recursos do Fundo Penitenciário (FUNPEN) vêm 
sendo contingenciados pela União Federal, isto é, o Poder Executivo não vem 
repassando valores relevantes do citando fundo aos Estados, o que, por certo, agrava a 
situação dos presídios já que não podem se utilizar de tais valores para obter melhorias 
para o sistema. 
33 
 
 De acordo com informações obtidas pelo DEPEN, o saldo contábil do Fundo 
Penitenciário gira em torno de 2,2 bilhões. No entanto, em 2013, por exemplo, menos 
de 20% do orçamento autorizado do citado fundo foi efetivamente gasto. 
O Poder judiciário, segundo o proponente da ADPF, também possui sua parcela 
de responsabilidade já que,até então, não se aplicava às normas internacionais que já 
previam a audiência de custódia, sendo este, um instituto que poderia reduzir a grande 
quantidade das prisões. Outrossim, criticou-se o Poder Judiciário pela falta de 
fundamentação das decisões que deixavam de aplicar medidas cautelares alternativas à 
prisão. 
Já o Poder Legislativo teria sua parcela de responsabilidade no problema da 
superlotação do sistema carcerário no que tange às políticas criminais, já que na 
tentativa de se amenizar o sentimento de impunidade da sociedade, ao determinar um 
número elevado de prisões estar-se-ia agravando a superlotação do sistema prisional e 
não gerando a devida segurança da sociedade. 
Na citada ADPF existem diversos requerimentos de concessão de liminares, 
dentre elas pode-se citar a que pede a determinação de que os magistrados e tribunais 
sejam obrigados a motivar expressamente as razões que o impossibilitam aplicar 
medidas cautelares alternativas à prisão; passem a considerar, fundamentadamente, o 
quadro fático em que o sistema penitenciário brasileiro se encontra, no momento em que 
for aplicar a pena, no momento em que conceda cautelares penais e durante o processo 
de execução penal; a liberação de recursos destinados ao Fundo Penitenciário Nacional 
(FUNPEN); bem como reconheça a aplicabilidade direta de normas internacionais que 
determinam a realização de audiências de custódia. 
No mérito da ação, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 
347 requer que o Supremo Tribunal Federal prolate uma determinação de que a União e, 
posteriormente, os estados da federação criem um plano que estabeleça medidas, 
preveja metas e prazos para sua implantação e reserve os recursos necessários para a 
implantação de tais medidas com vistas a resolver os problemas da superlotação do 
sistema prisional, a precariedade das suas instalações, a falta de treinamento dos agentes 
penitenciários, a falta de assistência, a falta de acesso à justiça, o número excessivo de 
prisões provisórias etc. 
Em setembro de 2015, em decisão monocrática, o Supremo Tribunal Federal, em 
julgamento de liminar, concedeu parcialmente dois dos pedidos feitos na ADPF 347, 
quais sejam: A liberação, sem qualquer tipo de contingenciamento, do saldo acumulado 
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do Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN) para ser utilizado nas suas finalidades e a 
implantação da realização de audiências de custódia. 
Assim, através da referida decisão, os juízes e tribunais estariam obrigados a 
realizarem audiências de custódia, com implantação no prazo de 90 dias, para que 
quando uma pessoa for presa em flagrante seja, em até 24 horas, levada à presença de 
um juiz para que este analise às condições em que se deu a prisão, se houve maus-tratos 
ou tortura, se há a necessidade de decretação de prisão preventiva ou se só a aplicação 
de medidas cautelas diversas da prisão são suficientes. 
As liminares concedidas pelo STF na ADPF 347 vão buscar tentar amenizar 
todos os problemas pelo quais passa nosso sistema penal, com essa concessão a 
Suprema Corte provoca os demais poderes a adotarem providências para cessar com 
tamanhas atrocidades que acontecem dentro dos nossos estabelecimentos prisionais, 
resta saber se tais medidas, sobretudo a implantação da audiência de custódia, estão 
sendo eficazes nesse sentido. 
 
 
2.2 Conceito, Propósitos e Procedimento 
 
A palavra Custódia significa o ato ou efeito de proteger, guardar alguém ou algo. 
Na prática criminal, a audiência de custódia consiste na apresentação do preso, no prazo 
de 24 (vinte e quatro) horas, a presença de um juiz ou autoridade judicial, onde fazem 
parte também o Ministério Público e a Defesa que estabelecem um contraditório, 
pugnando pela manutenção do encarceramento ou pela liberdade da pessoa presa. 
Diante deste contraditório, o juiz decidirá de imediato acerca da legalidade e a 
necessidade da manutenção da prisão, bem como se há indícios da prática da tortura ou 
dos maus tratos. De acordo com a página do Conselho Nacional de Justiça: 
O Projeto Audiência de Custódia consiste na criação de uma estrutura 
multidisciplinar nos Tribunais de Justiça que receberá presos em flagrante 
para uma primeira análise sobre o cabimento e a necessidade de manutenção 
dessa prisão ou a imposição de medidas alternativas ao cárcere, garantindo 
que presos em flagrante sejam apresentados a um Juiz de Direito, em 24 
horas, no máximo (CNJ, 2016). 
Como se vê, a audiência de custódia tem por escopo garantir a integridade física 
do preso, analisando se houve tortura ou maus tratos quando do momento da prisão 
deste. Analisa-se também a legalidade da prisão, bem como apreciando questões 
referentes à vida da pessoa do flagranteado e se há necessidade da manutenção da 
35 
 
prisão, tudo isso em uma análise feita pela autoridade judicial, em audiência diante do 
Ministério Público, da Defesa e do próprio preso. 
Como percebido no decorrer do texto, o conceito dado à audiência de custódia 
tem uma relação direta com os propósitos, objetivos ou finalidades a que ela se propõe. 
Esses propósitos podem ser resumidos em: ajustar o processo penal brasileiro aos 
Tratados Internacionais de direitos humanos aos quais o Brasil é signatário; Prevenir a 
tortura e os maus tratos policiais, salvaguardando os direitos humanos; evitar prisões 
ilegais, desnecessárias ou arbitrárias e, por fim, combater a superlotação do sistema 
prisional brasileiro. 
O instituto da audiência de custódia tem aplicação recente no processo penal 
brasileiro, no entanto já se encontrava previsto no ordenamento jurídico há muito 
tempo. Isso porque sua previsão normativa se encontra em Tratados Internacionais que 
o Brasil é signatário há anos, como a Convenção Americana de Direitos Humanos 
(CADH) e o Pacto de São José da Costa Rica, que dispões em seu artigo 7.5 que: 
Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à 
presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções 
judiciais e tem o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em 
liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser 
condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo 
(CADH, 1969). 
E está prevista também no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos 
(PIDCP) que prevê em seu artigo 9.3 que: 
Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá 
ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade 
habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em 
prazo razoável ou de ser posta em liberdade (...) (PIDCP, 1966). 
 Assim, o propósito de ajustar o processo penal brasileiro aos tratados 
internacionais, só foi observado com uma certa demora pelo ordenamento brasileiro, 
uma vez que, como já mencionado, a audiência de custódia tem sua previsão nos 
tratados internacionais CADH e PIDCP que o Brasil é signatário desde o ano de 1992. 
No entanto, tal instituto só veio a ser discutido e posto em prática apenas recentemente. 
Como já dito, os tratados de direitos humanos podem ser incorporados no direito 
nacional de diferentes formas: podem ser incorporados com status de Emenda 
Constitucional, desde que passe por todo o processo de aprovação no legislativo. É 
exemplo de tratado de direitos humanos incorporado ao direito interno com status de 
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Emenda Constitucional a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com 
Deficiência, que entrou em vigor no ano de 2009. 
Os tratados internacionais de direitos humanos podem, ainda, serem inseridos no 
ordenamento interno com caráter supralegal, isto é, podem ser inseridos no