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Antropologia e Cultura Brasileira
Profa. Alice Prado
Antropologia (do grego anthropos, "homem", e logos, "razão"/"pensamento"): é a ciência que tem como objeto o estudo sobre o ser humano e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões. 
A antropologia nasce, como Ciência, da grande revolução cultural iniciada com o Iluminismo
O iluminismo foi um movimento global, ou seja, filosófico, político, social, econômico e cultural, que defendia o uso da razão como o melhor caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação. O centro das ideias e pensadores Iluministas foi a cidade de Paris. 
Áreas da Antropologia
São três grandes áreas em que se divide a produção antropológica: Antropologia Biológica, Antropologia Social e Cultural e Arqueologia.
Antropologia biológica: estudo das variações dos caracteres biológicos do ser humano no espaço e no tempo (relações entre o patrimônio genético e o meio geográfico, ecológico, social; divide-se entre uma preocupação com o passado, que é o objeto do estudo da evolução humana, através do registro de fósseis e métodos de análise das variações genéticas entre as populações).
Arqueologia: estuda os vestígios materiais das culturas desaparecidas, tanto em suas técnicas e organizações sociais quanto em suas produções culturais e artísticas.
Áreas da Antropologia
Antropologia social e cultural: estuda a cultura de um grupo tanto na sua dimensão instrumental, chamada de cultura material (se refere às coisas que os seres humanos produzem e com as quais intervêm na natureza), quanto na sua dimensão cosmológica-cognitiva-organizacional, que abrange os sistemas de ideias e de valores, através dos quais se organiza a percepção do mundo (elementos que compõem a definição de cultura... a língua, a religião, o sistema de direito, etc). 
- Antropologia Social (organização social e política, parentesco, instituições sociais),
- Antropologia Cultural (sistemas simbólicos, religião, comportamento)
Refletindo...
DaMatta
Para Roberto DaMatta, 
	A matéria-prima da “ciência natural”, portanto, é todo o conjunto de fatos que se repetem e têm uma constância verdadeiramente sistêmica, já que podem ser vistos, isolados e, assim, reproduzidos dentro de condições de controle razoáveis, num laboratório. Por isso se diz repetidamente que o problema da ciência em geral não é o de desenvolver teorias, mas o de testá-las. E o teste que melhor se pode imaginar e realizar é aquele que pode ser repetido indefinidamente, até que todas as condições e exigências dos observadores estejam preenchidas satisfatoriamente. 
		Já as “ciências sociais” estudam fenômenos complexos, situados em planos de causalidade e determinação complicados. Nos eventos que constituem a matéria-prima do antropólogo, do sociólogo, do historiador, do cientista político, do economista e do psicólogo, não é fácil isolar causas e motivações exclusivas. Mesmo quando o “sujeito” está apenas desejando realizar uma ação aparentemente inocente e basicamente simples, como o ato de comer um bolo. Pois um bolo pode ser comido por se ter fome e pode ser comido “motivos sociais e psicológicos”...
Refletindo...
DaMatta
	...Os eventos que servem de foco ao “cientista social” são fatos que não estão mais ocorrendo entre nós ou que não podem ser reproduzidos em condições controladas. De fato, como poderemos nós reproduzir a festa do aniversário do Serginho? Ou o ritual do Carnaval que ocorreu em 1977 no Rio de Janeiro? Mesmo que possamos reunir os mesmos personagens, músicas, comidas, vestes e mobiliário do passado, ainda assim podemos dizer que está faltando alguma coisa: a atmosfera da época, o clima do momento. 
	...Os fatos que formam a matéria-prima das “ciências sociais” são, pois, fenômenos complexos, geralmente impossíveis de serem reproduzidos, embora possam ser observados. Podemos observar funerais, aniversários, rituais de iniciação, trocas comerciais, proclamações de leis e, com um pouco de sorte, heresias, perseguições, revoluções e incestos; mas, além de não poder reproduzir tais eventos, temos de enfrentar a nossa própria posição, histórica, biográfica, educação, interesses e preconceitos. 
Conceito
* Holístico ou holista é um adjetivo que classifica alguma coisa relacionada com o holismo, ou seja, que procura compreender os fenômenos na sua totalidade e globalidade.
Antropologia: forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, isto é, a busca de respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “outro”; uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais podemos alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, nos torna seres singulares, humanos.
Segundo Phillip Kottak (2013) A antropologia é o estudo *holístico, biocultural e comparativo da humanidade. É a exploração sistemática da diversidade biológica e cultural humana no tempo e no espaço. Examinando as origens e as alterações da biologia e da cultura humanas, a antropologia apresenta explicações para semelhanças e diferenças entre seres humanos e suas sociedades. 
Século XIX
Antropologia Evolucionista: utiliza a teoria da evolução da cultura (o ser humano passaria por estágios de evolução cultural).
Realizada em “gabinetes”, sem pesquisa de campo através de estudos etnocêntricos 
* Etnocentrismo é um conceito antropológico, que ocorre quando um determinado individuo ou grupo de pessoas, que têm os mesmos hábitos e caráter social, discrimina outro, julgando-se melhor, seja pela sua condição social, pelos diferentes hábitos ou manias, ou até mesmo por uma diferente forma de se vestir.). 
Cultura europeia representa o apogeu de um processo evolucionário, em que as sociedades aborígines eram tidas como exemplares "mais primitivos“ (visão usa o conceito de "civilização" para classificar, julgar e, posteriormente, justificar o domínio de outros povos). 
Escolas Antropológicas
Para DaMatta -> “Evolucionismo: corrente antropológica do século XIX que pressupunha a existência de uma ordem imanente na história da humanidade, concebendo-a como estágios sucessivos de desenvolvimento social. Os povos ditos primitivos estariam nas etapas atrasadas, enquanto as sociedades europeias no ápice da evolução humana”. 
 
Evolucionismo
Principais representantes: Edward B. Tylor (1832-1917), Lewis H. Morgan (1818-1881) e James Frazer (1854-1941).
Por volta de 1830 alguns postulados e comentários sobre o evolucionismo antropológico: surgiram na Europa. Eram algumas teorias, desvinculadas de condicionamentos míticos ou religiosos, que tentavam explicar semelhanças e diferenças entre fenômenos socioculturais. O fio condutor foi o conceito de evolução cuja ideia central era de que seria possível ordenar em série as formas de vida natural de tal modo que se infere intuitivamente ou passar de uma forma de vida a outra. Podemos dizer que foi a partir deste ponto que a antropologia científica deu seus passos iniciais, começando com o evolucionismo, portanto, a primeira das escolas antropológicas.
Escolas Antropológicas
Evolucionismo
Para Morgan, a cultura humana é o produto de uma evolução natural, sujeita à leis que regem as faculdades mentais do animal humano em seu estado social. De esta forma, a evolução da cultura poderia ser objeto de estudo científico e tal foi seu objetivo. A metodologia de trabalho na classificação e comparação de achados antropológicos. Com efeito, foi um pioneiro na realização de trabalhos quantitativos de campo na etnologia.
Morgan centrou seu interesse na evolução social da família, desde os casais circunstanciais até a monogamia, considerada própria da civilização. Morgan estabelecia três etapas sucessivas e graduais:
1. Selvagismo: que por sua vez se dividia em inferior-médio (identificado pela pesca e o domínio do fogo) e superior (com domíniode armas como o arco e a flecha).
2. Barbárie: no nível inferior somente com o domínio da cerâmica e a domesticação; no nível médio com a conquista da agricultura e o ferro no nível superior.
3. Civilização: etapa correspondente aos povos que desenvolveram o alfabeto fonético e que possuíam registros literários.
Taylor defendia que existiam diferentes tipos de famílias que evoluíam até chegar à família patriarcal em suas formas poligâmica e monogâmica.
Escolas Antropológicas
Culturalismo
Culturalismo
Representantes: Franz Boas (1858 -1942), Margareth Mead (1901-1978), Ruth Benedict (1887-1948), Linton, R. (1893 - 1953), Kardiner, A. (1891-1981)
Franz Boas marcou linhas básicas de orientação que anteciparam o funcionalismo. A ideia central era considerar a cultura como uma totalidade, um conjunto de elementos integrados. A metodologia buscava provas concretas do contato cultural e a comparação de traços que existem contextualmente. Por outro lado, enfatizava evitar a limitação de apenas semelhanças para buscar também as diferenças.
Boas “emprestou” de Wissler, a noção de área cultural, conceito que descreve um núcleo de influência, isto é uma zona ampla de onde se observa como um traço cultural deixa seu rastro em diferentes culturas, incorporando assim elementos psicológicos universais da cultura.
 Nos EUA, Franz Boas desenvolve a ideia de que cada cultura tem uma história particular e considerava que a difusão de traços culturais acontecia em toda parte. Nasce o relativismo cultural, e a antropologia estende a investigação ao trabalho de campo. 
 Para Boas, cada cultura estaria associada à sua própria história. Para compreender a cultura é preciso reconstruir a sua própria história. Surgia o culturalismo, também conhecido como particularismo histórico. 
 Cada cultura tem uma história particular
 Dá primazia à investigação de campo
 Cada cultura deve ser definida pela sua própria história particular
Escolas Antropológicas
Culturalismo
 Há uma relação entre e cultura e a personalidade -> uma personalidade de base (modale): um conjunto de traços típicos que constituem o carácter étnico ou nacional. O individuo está inteiramente modelado (Paterned) pela cultura na qual ele pertence e seria de certa maneira a criação. (Ruth BENEDICT)
O denominador comum é a influencia da cultura ou de uma cultura sobre a personalidade dos membros de uma determinada sociedade. “Todos os membros partilham na infância as mesmas experiências que determinam a formação de uma personalidade de base”. ( LINTON e KARDINER)
Estes estudos foram desenvolvidos na segunda guerra mundial com objetivo de compreender a característica do inimigo.
Exemplos:
 Na guerra entre os americanos e japoneses -> os japoneses eram inteiramente devotos ao seu imperador, mas quando eram capturados aceitavam imediatamente a colaboração com o seu inimigo.
Os Alemães se submeteram “com certa tranquilidade” ao regime autoritário do Hitler. 
Escolas Antropológicas
Culturalismo
Escolas Antropológicas 
Difusionismo
Século XIX
Difusionismo: Privilegiava o entendimento da natureza da cultura, em termos de origem e extensão, de uma sociedade a outra. 
Segundo os difusionistas, o empréstimo cultural seria um mecanismo fundamental de evolução cultural. O difusionismo acreditava que as diferenças e semelhanças culturais eram consequência da tendência humana para imitar e a absorver traços culturais.
Enquanto o evolucionismo tentava explicar as variações culturais pelos diferentes estágios que supostamente a humanidade passaria (mas sem esclarecer como passava de um estágio a outro), o difusionismo pressupunha uma falta de inventividade. As grandes invenções teriam local de origem certa e se propagariam por difusão, migração, apropriação, aculturação ou assimilação, depois adquirindo conotações locais.
Escolas Antropológicas 
Difusionismo
Difusionismo:
Principais representantes: Graebner (1877-1942), Smith (1864-1922), Rivers (1864-1922).
O difusionismo é conceitualmente uma reação às ideias evolucionistas de unilateralidade, isto é, ao evolucionismo universal de acordo as leis determinadas. Assim, os estudos desta escola se concentraram nas semelhanças de objetos pertencentes a diferentes culturas, bem como especulações sobre a difusão destes objetos entre culturas. Assim, um objeto foi inventado uma só vez em uma sociedade em particular e a partir dali se expandia através de diferentes povos.
Ao contrário do evolucionismo que postula um desenvolvimento paralelo entre civilizações, o difusionismo enfatiza o contato cultural e o intercâmbio, de tal maneira que o progresso cultural mesmo é compreendido como uma consequência do intercâmbio. Desta forma, ao se produzir um contato entre duas culturas, se estabelece um intercâmbio de traços associados que foram tomados na qualidade de “empréstimo”, mas que passam a formar parte da cultura.
Escolas Antropológicas 
Escola Francesa
Escola Francesa
 Principais representantes da escola francesa: Émile Durkheim (1858-1917), Marcel Mauss (1852-1950), Levy-Brhul (1857-1939), Ch. A. van Gennep (1873-1957).
 Com Émile Durkheim começam os fenômenos sociais a serem definidos como objetos de investigação sócio-antropológica e, a partir da análise da publicação de Regras do "Método Sociológico“. Em 1895, começa-se a pensar que os fatos sociais seriam muito mais complexos do que se pretendia até então. 
Durkheim, fundador da escola sociológica francesa, assinalou de forma precisa a interdependência de todos os fenômenos sociais, qualquer fato seria estudado tendo em conta os demais através de uma visão totalizante. 
Marcel Mauss por sua vez, defendeu que nenhuma disciplina humana poderia construir conceitos ou classificações para interpreta-los isoladamente, a consequência direta desta ideia seria a rejeição ao método comparativo.
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Escolas Antropológicas
 
Funcionalismo
Funcionalismo
 Principais representantes: Bronislaw Malinowski (1884-1943), Radcliffe-Brown (1881-1955).
Malinowski defendia que as instituições desempenham funções específicas e, assim, contribuem para sustentar a ordem social.
O funcionalismo enfatizava a interconexão orgânica de todas as partes de uma cultura pondo em primeiro plano a ideia de totalidade. Desta maneira, postulava uma universidade funcional que se opõe ao difusionismo. O conceito de função, de acordo com Malinowski se refere ao papel que joga um aspecto em relação ao resto da cultura e em última instância, orientado sempre a satisfação das necessidades humanas, isto é, a sobrevivência.
Será um passo adiante na linha de trabalho de Radcliffe-Brown, que encampou o conceito de estrutura social. Com efeito, para este autor não há função sem estrutura. 
Sabe-se que existem requisitos prévios a uma série de condições necessárias para a sobrevivência de uma sociedade ou a manutenção de uma estrutura. Assim, de acordo com a teoria funcionalista, certas formas culturais ou sociais são indispensáveis para que algumas funções possam desempenhar-se.
Funcionalismo
O funcionalismo enfatiza o trabalho de campo (observação participante). Para sistematizar o conhecimento acerca de uma cultura é preciso apreendê-la na sua totalidade. Para elaborar esta produção intelectual surge a etnografia*. 
Contrapõe-se às teorias da época e propõe a compreensão (e estudo) da cultura a partir de um ciclo de valores que estão interligados.
Todos os aspectos que definem uma sociedade (língua, atividades de subsistência, etc) fazem parte de um todo e pode ser entendido como cultura. Para sistematizar o conhecimento acerca de uma cultura é preciso apreendê-la na sua totalidade. 
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Escolas Antropológicas
 
Funcionalismo
* Etnografia -> estudo descritivo das diversas etnias, de suas características antropológicas, sociais etc. Registro descritivo da cultura material de um determinado povo.
Funcionalismo
Ocorre a distinção entre Etnografia e Etnologia, ambasciências auxiliares da Antropologia:
Etnografia: o estudo descrito de um povo. É a ciência que estuda e descreve os agregados populacionais. E sendo assim , a etnografia descreve e estuda o povo de um dado país, de uma dada província, de uma dada região, de uma dada comunidade, etc.
Etnologia: Ramo das ciências humanas que tem por objeto o conhecimento do conjunto dos caracteres de cada etnia, a fim de estabelecer as linhas gerais da estrutura e da evolução das sociedades. Estuda o homem como produtor e transportador de cultura e ainda a maneira de viver de cada raça ou grupo ético. 
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Antropologia Estrutural (1940)
Lévi-Strauss: seu grande teórico
Defende que existem regras estruturantes das culturas na mente humana
Usa, no campo da linguística, o Estruturalismo
Dá grande impulso à linguística de forma geral ao defender que é necessário compreender o padrão mental, de pensamento e comunicação de um povo, a fim de compreender sua cultura
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Funcionalismo Estrutural
(Radcliffe-Brown & Evans-Pritchard)
A estrutura social é o ponto central em uma sociedade e todas as atividades e fatos sociais (valores, religião, organização familiar, etc) são desenvolvidos com a finalidade de manter a estrutura social estável.
O desequilíbrio desta estrutura social faz com que a sociedade desenvolva outros mecanismos, valores ou atividades que venham a reequilibrá-la.
Antropologia Interpretativa
(Clifford Geertz)
A Antropologia Interpretativa analisa a cultura como hierarquia de significados, pretendendo que a etnografia seja uma "descrição densa", de interpretação escrita e cuja análise é possível por meio de uma inspiração hermenêutica. 
* É crucial a leitura da leitura que os "nativos" fazem de sua própria cultura.
Também conhecida como Antropologia Hermenêutica
Cultura como hierarquia de significados
Busca da “descrição densa”
 
Debates Pós-Modernos
Na década de 1980, o debate teórico na Antropologia ganhou novas dimensões
Muitas críticas a todas as escolas surgiram, questionando o método e as concepções antropológicas. Este debate privilegiou algumas ideias: 
 A primeira delas é que a realidade é sempre interpretada, ou seja, vista sob uma perspectiva subjetiva do autor, portanto a antropologia seria uma interpretação de interpretações. 
 Da crítica das retóricas de autoridade clássicas, fortemente influenciada pelos estudos de Foucault, surgem metaetnografias, ou seja, a análise antropológica da própria produção etnográfica. Contribuiu muito para esta discussão a formação de antropólogos nos países que então eram analisados apenas pelos grandes centros antropológicos.

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