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O processo visionário no empreendedorismo Cátia Regina Raulino Introdução O processo visionário é um importante tema no empreendedorismo. Ele nos mostrará como uma ideia será transformada em um produto ou serviço. Será por meio dessa teoria criada por Filion que o empreendedor compreenderá como sua visão será desenvolvida para gerar um negócio de sucesso. O processo visionário será dividido em três visões, que poderão ocorrer não apenas na fase inicial do negócio e que serão capazes de trazer ao empreendedor os resultados desejados. Objetivos de aprendizagem Ao finalizar o tema, você será capaz de: • conhecer o processo visionário para o desenvolvimento do empreendedorismo. 1 A teoria visionária de Filion Segundo Filion (2004, p. 109), um “[...] empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões”. A partir desta definição iniciamos nosso estudo sobre a teoria visionária do autor. Por meio dela você poderá compreender de que forma a ideia de um produto ou serviço resultará em um negócio. É importante ressaltar que Filion é um dos maiores autores do empreendedorismo e sua teo- ria tem sido amplamente utilizada para que os negócios se tornem realidade pelos empreendedores. Em sua teoria, Filion (2004) identifica três tipos de visões empreendedoras, ou seja, três dife- rentes parâmetros que devem ser levados em consideração pelo empreendedor, sendo eles: emer- gentes, central e complementares. Estas visões têm uma certa hierarquia de ocorrência e enorme impacto umas nas outras. Figura 1 – As visões de Filion Visões emergentes Visões complementares Visões complementares Visões emergentes Exterior Interior Visão Central Fonte: elaborada pela autora, adaptada de FILION, 2004. Segundo Filion (2004, p. 110) para “[...] evoluir de uma categoria para outra, o empreende- dor precisa de um alto nível de articulação pessoal, coerência e tenacidade, todos eles importan- tes fatores para o sucesso ou o fracasso de sua estratégia.” Neste caso o autor afirma que para que consiga evoluir entre as visões o empreendedor terá que possuir algumas características que serão essenciais ao resultado final. A seguir, vamos conhecer todas as categorias ou tipos de visões. • Visões emergentes: de acordo com Filion (2004), são aquelas criadas em torno das ideias de produtos e serviços. Nas visões emergentes o empreendedor terá várias ideias e vai separar apenas aquelas que acredita serem oportunidades de negócios. Em cima dessa ideia inicial se criará uma estrutura ou esqueleto. A partir desse esqueleto o empre- endedor terá novas visões emergentes, e cada visão poderá ser agregada à visão central ou poderá dar origem futuramente a outra visão central. Segundo Filion (1999, p. 53): A visão emergente é a ideia dos produtos ou de serviços que se desejam lançar; é formada em torno de ideias e conceitos de produtos e/ou serviços imaginados pelo empreendedor que, frequentemente, antes de lançar em um empreendimento, pondera várias alternativas de produtos ou serviços. FIQUE ATENTO! A visão emergente nada mais é do que a ideia do produto ou serviço propriamente dito que se quer gerar. A visão emergente será, portanto, aquela que surgirá e que poderá ou não crescer e se tor- nar um negócio, sendo necessárias outras visões para que essa mera ideia saia do papel. • Visão central: após uma ou mais visões emergentes, surgirá a chamada visão central. A visão central terá uma subdivisão própria e se dividirá em visão central interna e visão central externa. Na externa, o empreendedor projetará sua visão para o tempo futuro e irá imaginar como o produto ou serviço se localizará e como se comportará dentro do mercado, por exemplo: será um produto de sucesso? Sua venda será grande? Atingirá determinado público? Por outro lado, a visão interna demonstrará como internamente a organização precisa funcionar para que esse resultado seja alcançado. Por exemplo: o número de emprega- dos na produção é suficiente? Preciso mapear processos internos? Que setores minha empresa terá? FIQUE ATENTO! Apesar de serem duas divisões distintas dentro da visão central, as duas são igual- mente necessárias, pois o empreendedor que não pensa em sua empresa a longo prazo ou que não possui conhecimento de tudo que precisará para que esta empre- sa exista, jamais conseguirá sair da visão emergente. De acordo com Filion (1999 p. 36), “[...] quanto mais o componente interior da visão permite a uma organização tomar uma forma que incorpore as inovações do componente exterior, tanto mais bem-sucedido o empreendedor será”. Na prática, significa que quanto maior o grau de ade- rência interno da organização ao produto, maior será a capacidade de a visão externa ser bem-su- cedida. O autor comenta ainda que “[...] ao longo de sua vida, um empreendedor deve continuar a avaliar, selecionar e integrar novas visões emergentes à sua visão central” (FILION, 1999, p. 53). FIQUE ATENTO! Sempre que falamos nas visões, elas precisam ser claras e reais, caso contrário nenhum negócio terá sucesso. Figura 2 – Visões interna e externa Fonte: Nomad Soul/Shutterstock.com. • Visões complementares: são todas as atividades realizadas para ajudar no desenvol- vimento da visão central. As visões complementares são as que tratam da gerência da empresa, da organização e controle das diversas atividades administrativas, financei- ras, de pessoal etc. Por meio da visão complementar é que vai ser criada a estrutura para que o produto seja vendido aos clientes, da forma mais eficaz possível, gerando os resultados esperados: viabilidade, consolidação, crescimento, altos lucros. Segundo o autor da teoria, a visão complementar “[...] consiste num conjunto de atividades gerenciais, que precisam ser realizadas, caso se queira o progresso da visão central” (FI- LION, 1999, p. 55). EXEMPLO Para que fique ainda mais claro, imagine que as visões serão sempre como uma pi- râmide quando você pensar na hierarquia entre elas. E imagine que nesta pirâmide existirá uma pertinência em que cada uma das partes está contida na parte anterior, ou seja, as visões terão uma hierarquia mas necessitarão umas das outras para que possam existir e serem desenvolvidas. De forma simplificada, as visões serão retratadas assim. Figura 2 – As visões simplificadas Resumindo ... Três (3) categorias de visão: 1. Emergente – ideias de produtos e serviços que queremos lançar. 2. Central – resultado de uma ou mais visões emergentes que se divide em visão externa = lugar que se quer ocupado, e visão interna = o tipo de organização do qual se tem necessidade para alcançá-lo. 3. Complementares – atividades de gestão definidas para sustentar a realização da visão central. 1 + 2 + 3 = Produto ou Serviço Fonte: Elaborada pela autora, 2016. EXEMPLO Você teve várias ideias de produtos, a chamada visão emergente. Nela, você co- meça a pensar, por exemplo, que poderia vender roupas, roupas femininas, roupas femininas infantis, roupas femininas infantis de praia, enfim, há uma série de ideias. Depois, você escolhe uma delas e a estuda até decidir se irá desenvolvê-la. Vamos imaginar que você escolheu roupas infantis de praia. Agora, você já tem a base da sua visão central definida. Nela, buscará compreender se existe espaço no mer- cado para esse produto: que tipo de inovação o mercado espera na área, se exis- tem produtos novos nessa área, se sua empresa possui capacidade de produção para esse produto e, assim, desenvolve sua visão central. A partir daí, você passa a desenvolver sua visão complementar para que possa colocar a visão central em prática, realizando todas as ações necessárias para que ganhe corpo e possa ser desenvolvida na prática. Entenda, portanto, que de acordo com Filion (1999, p. 41): Quanto maior a habilidade de se comunicare o conhecimento no campo que pretende atu- ar, maior será a capacidade para definir as visões complementares que devem acontecer para o sucesso da visão central. Assim, o empreendedor se transforma numa espécie de ativador de visões complementares, que lhe permitem desenvolver os componentes da sua visão central. SAIBA MAIS! Para entender um pouco mais, leia este artigo sobre o processo visionário e as características empreendedoras, disponível em: <http://www.convibra.com.br/uplo- ad/paper/adm/adm_2818.pdf> De forma resumida e esquematizada, as visões ficarão como no quadro a seguir: Quadro 1 – As visões de Filion Categorias de visão Visão inicial Ideias de pradutos ou serviços futuros. Visão central Resultante de uma ou mais visões emergentes. Parte externa: a faixa de mercado a ser ocupada por um produto ou serviço. Parte interna: tipo de organização ne- cessária para realizar a parte externa. Visão complementar Atividades gerenciais necessárias para dar suporte à visão central. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de FILION (1999). SAIBA MAIS! Leia este artigo elaborado e apresentado no XXVIII Congresso Nacional de Enge- nharia de Produção sobre as teorias visionárias e sua aplicação na criação de micro e pequenas empresas. Acesse http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2007_ tr630470_9575.pdf. Fechamento Neste tema você conheceu a teoria visionária de Filion que é ainda largamente usada entre empreendedores. Esta teoria é composta por três diferentes visões empreendedoras que apoiarão diretamente os empreendedores para que suas ideias se tornem negócios reais. Nesta aula você teve a oportunidade de: • entender o alcance de cada uma das visões de Filion; • conhecer a hierarquia entre as visões; • compreender como desenvolver uma visão; Referências DOLABELA, F.; LIMA, M. Entrepreneurship Learning in Brazilian Institutions of Higler Education. Curitiba, AED, 2000. DOLABELA, Fernando. Empreendedorismo, uma forma de ser: saiba o que são empreendedores individuais e coletivos. Brasília: AED, 2003. DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. DOLABELA, F. (Colaboradores). Boa ideia! E agora? Plano de negócio, o caminho seguro para criar e gerenciar sua empresa. São Paulo: Cultura Editores Associados, 2003. FILION, Louis Jacques. Operators and visionaries: differences in the entrepreneurial and mana- gerial systems of two types of entrepreneurs. International Journal of Entrepreneurship and Small Business. São Paulo: Cultura Editores Associados, 2004. FILION, L. J. Operators and visionaries: differences in the entrepreneurial and managerial systems of two types of entrepreneurs. International Journal of Entrepreneurship and Small Business. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1999. FILION, Louis Jacques. Empreender: um sistema ecológico de vida. In: FILION, Louis Jacques. Boa ideia! E agora. São Paulo: Cultura Editores Associados, 2004. HAMPTON, D. R. Administração contemporânea. São Paulo: Makron Books, 1991. In: DORNELAS, J. C. Assis. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. CIMADON, José Eduardo; RUPPENTHAL, Janis Elisa; MANFRÓI, Armando S. Aplicação da teoria visionária de Filion no desenvolvimento de MPs criadas por necessidade. 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