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Savannah Russe As Cronicas de Darkwing I BEYOND THE PALE

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Crônicas de Darkwing 
 
 
 
 
Livro 1 
 
 
 
Beyond the Pale 
de 
Savannah Russe 
 
Disponibilização em Espanhol: NovelVampire 
Envio: Safira 
TRADUÇÃO: Giselda / Safira 
REVISÃO INICIAL: Ady Miranda 
REVISÃO FINAL: Fabrícia 
FORMATAÇÃO: Ady Miranda 
 
 
 
 
 
Índice 
 
 
 
 
Argumento…………………………..004 
Capitulo 01…………………………..005 
Capitulo 02…………………………..018 
Capitulo 03…………………………..033 
Capitulo 04…………………………..049 
Capitulo 05…………………………..069 
Capitulo 06…………………………..087 
Capitulo 07…………………………..103 
Capitulo 08…………………………..111 
Capitulo 09…………………………..140 
Capitulo 10…………………………..156 
Capitulo 11…………………………..171 
Capitulo 12…………………………..189 
Capitulo 13…………………………..206 
Capitulo 14…………………………..217 
Capitulo 15…………………………..231 
Capitulo 16…………………………..250 
Capitulo 17…………………………..266 
Capitulo 18…………………………..272 
Prévia do próximo livro.....………..275 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Comentário da Revisora Fabrícia: A personagem principal de livro, apesar 
de ser uma vampira com mais de 500 anos, é uma mulher moderna, com 
todas as dúvidas e vícios dos nossos tempos,o mocinho, quando está com 
ela, é um cara meloso, romântico. Um livro com pouca ação uma vez que 
se trata de um livro de espiões... 
 
Argumento 
 
 
 
A vampira Daphne Urbano escapou da morte, fazendo seu papel 
perfeito, como espiã para a Equipe Darkwing. Sua primeira missão é 
aproximar-se de um comerciante de armas inescrupuloso. Mas quando 
Darius, um sexy assassino de vampiros, começa a perseguí-la, ambos se 
debatem entre o desejo e o dever. Original. Mas sua ágil jovem presa é 
também sua última tentação... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 1 
O Tio Sam quer me ver? 
 
Eu estava entre as relações, 180 e alguns anos entre as relações, 
para ser exata. Não longos beijos doces, não “Eu te amo”, sem gemidos 
de êxtase ou a liberação de arrepios desde a rebelião grega contra os 
otomanos Turcos. Havia sido um pouquinho mais de uma temporada de 
seca. Chamei-a “O Sahara” quando cheguei a ela com minhas amigas. 
Alguém pensaria que já estaria acostumada a uma existência solitária 
no momento. Depois de tudo, ser uma mulher vampiro tende a 
desalentar as relações a longo prazo porque, inclusive, uma aventura 
casual pode ter consequências graves. 
Por isso, minha última aventura quase me mata, literalmente. 
O que me pôs fora de tudo isso, de compromisso homem-mulher, 
foi em 1824, quando eu era uma beleza de cabelos escuros em 
Missolonghi. O assunto tinha todo o potencial para ser um grande amor, 
um para os livros de história. Logo, praticamente, da noite para o dia, 
terminou mal. Não, isso é um eufemismo. Para dizer a verdade, 
terminou tragicamente. 
Falando a verdade, deixe-me dizer-lhe, não acredite nem por um 
momento na história de que o grande poeta e revolucionário George 
 
 
Gordon, Lorde Byron1, morreu de uma febre. Não posso crer que o 
público o comprará, mas claro as pessoas acreditaram em Nixon quando 
disse: “Eu não sou um delinquente”. A verdadeira causa da morte de 
Byron foi uma mordida de amor que saiu mal, se infectou, para ser 
medicamente exata. Recordo o incidente como se fosse hoje... 
Nós dávamos um passeio de mãos dadas, perto da pousada onde 
ele havia estabelecido sua residência temporária. Entramos no jardim de 
rosas, arduamente criado pelo dono da pousada, nos arredores desta 
cidade cheia de mosquitos. Essa não foi a primeira vez que andávamos 
por ali, mas foi a última. Esse dia de Abril se havia desvanecido em uma 
bruma púrpura a ponto de converter-se em uma noite negra aveludada. 
Uma ligeira brisa agitou a folhagem; o ar estava pesado com o aroma 
das flores. 
- Fale-me mais a respeito de Londres, George. – Disse, abanando-
me febrilmente e não só pela cálida temperatura. – Sente falta? É difícil 
estar tão longe das festas? – Assegurei-me de que caminhava muito 
perto dele, minha respiração tal qual uma pétala de flor acariciava sua 
bochecha. 
 - As festas são uma distração agradável à solidão mais aterradora 
de um poeta. – Disse vagamente. Então olhou fixamente para o Golfo de 
Patras, deitado e imóvel no oeste. Um barco estava ancorado longe da 
costa. Eu facilmente podia distingui-lo entre as ondas dispersadas de 
prata que saltaram e agarraram a última luz. Não sei se Byron viu o 
barco, mas acredito que sim. Flutuava ali no ponto de partida de uma 
viagem longa, as sombras de seus mastros se estendiam para o leste no 
sol poente. 
- Então, por que você saiu de lá? – Perguntei-lhe. Sua cara ficou 
voltada para o golfo, quando respondeu. 
- Me cansei de escutar os músicos contratados, atrás de uma fileira 
de palmeiras artificiais, em lugar do instrumento único, as puras cordas 
do meu coração. Sabia que era hora de ir-me. 
 
1 Nota da Rev.:George Gordon Byron, 6º Barão Byron Ele é famoso pelas suas obras-primas, tais como 
Peregrinação de Childe Harold e Don Juan. A fama de Byron não se deve somente aos seus escritos, mas também a sua 
vida — amplamente considerada extravagante — que inclui numerosas amantes, dívidas, separações e alegações de 
incesto. 
 
 
Vendo-lhe de perfil, sua cara, inexplicavelmente triste, eu não 
podia manter meus olhos nele. Byron tinha uma ampla testa, lábios 
sensuais, pestanas longas e escuras sobre os olhos. Era tão finamente 
talhado como um deus grego, certamente ele tinha um aspecto melhor 
em seus retratos, que acredito lhe fazem parecer gay. Na vida real era 
um homem sem dúvidas, a testosterona transbordando, cheio de 
energia, ativado por assumir riscos. 
Admito o que eu via de perto, suas roupas sujas de poeira e sujeira 
enegrecida na parte interna de seu pescoço. Linhas profundas saiam de 
seus olhos, sua pele estava pálida e seca. E quando ele se fatigava, seu 
pé torcido doía, aumentava a sua claudicação. Ultimamente George se 
via especialmente cansado, dissoluto de haxixe demais e mulheres 
demais. Ainda assim, tão pouco na vida parece tão agradável nas luzes 
brilhantes e no frio escrutínio, como isto faz sob a luz das velas e os 
olhares quentes trocados sobre os vidros de vinho. 
Byron estava esta noite incrivelmente bonito. Eu estava encantada. 
Eu tremia por estar ao seu lado. Ele podia ter tantas mulheres, ele havia 
tido tantas mulheres, mas durante as últimas semanas, ele havia 
querido a mim, só a mim. No entanto, tinha horas que parecia muito 
distante em seus pensamentos, cruzando alguma geografia interior de 
sua mente. 
- Não vamos falar da Inglaterra. Falar me aborrece, - disse. – Estou 
muito mais interessado nisto. – Ele aproximou seu rosto do meu, beijou-
me com força e por muito tempo, sua boca tinha o sabor do vinho. 
Quando se deteve, ele olhou-me nos olhos. – Ela caminha na beleza, 
como a noite, - recitou, - dos climas sem nuvens e céus estrelados... – Eu 
quase desmaiei. 
Este homem, duro e faminto, tinha chegado a lutar pela 
independência Grega. Ele era um herói. Eu estava aniquilada. Estava 
quente. Eu era coquete. Ele tinha trinta e seis. Eu um pouco mais de 
274. 
- Daphy, - disse, - vamos, coisa doce, me dê um pouco. Você sabe 
que quer. OH, sim, eu queria! Eu ri e lhe permiti mover a longitude de 
seu corpo contra mim. Conhecia sua reputação e eu sabia o que ele 
procurava, mas não me importava. Ele gemeu e sussurrou com uma voz 
rouca e baixa. 
 
 
- Menina, você vai ser a minha morte. Já se passou muito tempo 
desde que eu desejei tanto a uma mulher. Há alguma coisa sobre você... 
algo... algo louco, mau e perigoso para conhecer. – Ele pegou a minha 
mão. À medida que se entrelaçavam nossos dedos, seu anel mordeu 
minha carne. A sensação me fez estremecer. Ele melevou a um banco, 
colocou um braço ao redor de minha cintura. Ainda recordo a sensação 
dos músculos duros de seu antebraço, através da fina seda de minha 
blusa. Eu não o detive. Sua boca era como seda ao baixar seus lábios 
em meu peito agitado. 
Meu sangue estava correndo, minha cabeça girava, e foi então que 
a lua iluminou a pele branca na parte posterior de seu pescoço. Não 
pude resistir. Eu queria, eu tentei, mas me deixei levar pelo 
entusiasmo... e eu o mordi. Perdi todo o controle, bebi demais, 
demasiado rápido. Ele me olhou com olhos aturdidos e logo caiu na 
inconsciência. Pobre George. E essa e a verdade sobre a sua morte, mas 
não esperes ouvir falar disso na Lit 1012. Ainda me dói falar dele. 
Depois de apenas escapar de Missolonghi, antes que os 
companheiros de Byron cravassem uma estaca em meu coração, decidi 
que o celibato era o curso mais sábio. Mas até eu, decidida como sou, 
tenho meus limites. Eu superei os lamentos. Uma menina tem suas 
necessidades e certamente eu tinha as minhas. 
Uma das necessidades que tinha, era conseguir uma nova 
identidade a cada vinte anos ou menos. Os vampiros não envelhecem. É 
o lado positivo, nunca vou precisar usar Botox. E o lado negativo: tenho 
que seguir mudando minha certidão de nascimento. E assim foi como 
me capturaram. 
A terra gira sobre seu lado escuro. Assim é o inverno. 
A gente pode conseguir quase tudo em Nova Iorque. Inclusive, um 
vampiro pode conseguir uma identificação falsa e, quando chega o 
momento, todos acodem ao Sid. Empreendi uma caminhada miserável 
até o apartamento na Rua 9 entre as avenidas B e C. O bairro me deu 
calafrios. E é obvio tinha que ir depois do anoitecer. Todos nos 
queixamos, mas Sid só disse: - E o que quer? A Park Avenue? - Sabia 
 
2 Nota da Rev. Curso básico de literatura 
 
 
que podia ser assaltada. Apenas nunca esperei o que estava prestes a 
acontecer... 
O dia tinha sido tempestuoso, a chuva e a nevasca tomavam 
turnos para apedrejar as ruas e essa noite a temperatura caía direto. 
Enquanto caminhava penosamente subindo as escadas do metrô sobre 
a rua St. Marks Place, me perguntava se a primavera voltaria algum dia. 
Meti minhas mãos nos bolsos. O vento parecia cortar através de mim. 
Meu sangue tem pouca densidade. Tenho frio facilmente. E essa noite 
tinha um pressentimento... um muito mau pressentimento que se 
balançou como um verme em meu estômago. Algo não estava bem. Algo 
era perigoso ali fora nessa noite. 
Aprendi a ouvir meus instintos, assim eu vigiava as pessoas ao 
meu redor, enquanto me dirigia para leste pela rua 9. Não era tarde, 
apenas cerca de sete horas, embora os edifícios já estivessem no escuro. 
As calçadas brilhavam com as luzes das primeiras chuvas. 
 - Maldito seja! – disse em voz alta. – Maldito seja o inferno, que 
puta frio! – tremi, o frio úmido se filtrava pelas solas finas de minhas 
botas Nine West. 
Caminhei duas quadras, quando ouvi passos atrás de mim. Alguns 
adolescentes negros passaram rápidos e me ultrapassaram, dando-se 
cotoveladas uns nos outros e girando ao redor, rindo e falando em sua 
gíria meio dançando, a metade correu para a outra quadra. Mas isso 
não foi o que ouvi. Meu ouvido é extraordinariamente discriminatório. 
Atrás de mim um tipo diferente de passos mantinha uma distância, 
um ritmo constante. O medo caiu sobre mim como uma tela negra que 
baixava. Passei pelas janelas de uma adivinha. Uma mulher cigana se 
apoiou no batente da porta, fumando um cigarro na porta aberta. 
- Strega!3 - gritou-me e se encolheu para trás, apertando o crucifixo 
pendurado no pescoço. 
- Puta! – Respondi-lhe, mostrando os dentes. Dei-lhe um bom 
susto, pareceu-me. Eu não gosto de ciganos. São todos uns ladrões. 
 
3 Bruxa 
 
 
Não diminui o passo. Queria chegar ao Sid tão rápido como fosse 
possível. Cruzei a avenida A, tive que fazer todo o uso de meu 
autocontrole, para não sair correndo. Cheguei à Avenida B. Outra meia 
quadra e cheguei à escada da frente do edifício do Sid. Subi as escadas 
de dois degraus, detive-me acima e olhei para atrás à quadra. 
Um homem jovem estava no lado distante de uma quadra de 
basquete cercada me olhando. Eu sabia, sem dúvida nenhuma, que 
eram seus os passos atrás de mim. Afastou-se rapidamente. Eu não vi 
sua cara, mas um rabo-de-cavalo de cabelo loiro apareceu por debaixo 
de uma boina de cor negra. Não duvidei mais. Coloquei-me dentro de 
vestíbulo do Sid e toquei a campainha da porta de seu apartamento. 
Ninguém respondeu. O medo se desabou sobre mim nesse momento. 
Segui pressionando o botão. 
 Maldito seja! Sid, onde te encontras? 
Finalmente a porta fez um ruído e se abriu. Voei por ela. Esta se 
fechou atrás de mim. Tomei algumas respirações profundas e 
tranquilizadoras. Disse-me mentalmente que me acalmasse que não era 
nada. O homem não era ninguém. Não tinha nada a ver comigo. Sempre 
me ponho ansiosa quando tenho que ver o Sid. A necessidade de 
conseguir uma certidão de nascimento atualizada resolvia muitos de 
meus assuntos. Significava que outros vinte anos tinham passado, mas 
seguia sendo a mesma. As pessoas que uma vez me preocupavam se 
foram. 
Eu ainda estava aqui. Um profundo abismo de solidão se abriu 
dentro de mim. Sempre sou forasteira. Um monstro. Um monstro. 
Incapaz de ter as balizas que marcam as vidas de outras mulheres, eu 
joguei um manto de piedade sobre mim mesma. Entretanto, para ser 
honesta, não sou sozinha. Muitos de nós vemos o Sid. Muitos mais do 
que alguma vez você poderia suspeitar. 
Aliviada de estar dentro. Comecei a subir a escada, desabotoando o 
casaco enquanto subia. O corredor cheirava a repolho e à urina. Nunca 
respiro profundamente na subida desta escada. Maldito Sid por 
trabalhar em tal esgoto. 
A iluminação era débil. Era melhor assim. “O escritório” do Sid 
estava em um apartamento de vizinhança no quarto andar, o tipo que 
 
 
tem uma banheira na cozinha, coberta com um tabuleiro para fazer 
uma mesa. Ele não vivia ali. Eu nunca soube onde ele vivia, se em um 
refúgio para indigentes, ou Scarsdale, ou vagando por aí, nunca soube, 
nunca disse nada. 
Quando cheguei ao topo da escada, pude ver que tinha deixado a 
porta de seu apartamento aberta. Abri e entrei. 
 - Sid? É Daphne Urbano, sua entrevista das sete e quinze. – disse 
enquanto caminhava por seu apartamento. A luz não estava acesa. 
Senti um pânico repentino quando alguém me agarrou. Jogaram-me 
contra uma parede e permaneci ali com uma mão entre meus ombros. 
Meus braços foram puxados para trás de minhas costas e o frio do aço 
duro de umas algemas cravou-se em minhas mãos. 
- Olá, senhorita Urbano, - disse uma voz sedosa enquanto me 
empurrava pela sala de estar e me derrubava sobre uma cadeira de 
madeira dura. 
- Quem é você? O que você quer? – Comecei a tremer dos pés a 
cabeça. De dentro de meu abrigo vinha um som como o ruído de asas 
esvoaçantes. Comecei a levantar-me. Um homem em um terno pôs a 
mão em meu ombro para manter-me quieta. Polícia, estava escrito sobre 
ele todo. 
Em frente a mim havia outro homem. Era de meia idade, bem 
vestido com um terno cinza, claramente Savile Row4, e recém-passado. 
Tinha as pernas cruzadas, pelo que pude ver, calçava sapatos Gucci, já 
que um sapato estava a somente cerca de dois pés de meu joelho. O 
homem se sentou em um dos sofás verdes do Sid, o tipo tinha braços 
largos e era mais baixo, tinha um perfil de bloco, muito anos 50. Seu 
rosto estava iluminado por um remanso de luz amarela de uma 
luminária de mesa. Seu cabelo grisalho era longo, mas ordenado dando-
lhe um aspecto artístico. Estava barbeado. Seus traços eram regulares, 
mas suaves, nada notável, nadapouco usual. Tinha as unhas curtas. 
Ele usava um relógio de prata, suponho que era de marca. Ele todo era 
limpo, neutro e inodoro. A única coisa fora do comum era que a metade 
de seu dedo indicador havia desaparecido. No geral parecia relaxado 
sentado imóvel, estudando-me. 
 
4 Nota da Rev.: rua tradicional de Londres onde se encontram os mais famosos alfaiates. 
 
 
- Senhorita Urbano, - disse, fazendo contato visual comigo e não 
piscava em absoluto, como um lagarto ou uma serpente. – Na verdade, 
estivemos observando-lhe. Estávamos esperando para nos pormos em 
contato com você em um lugar onde tivéssemos... digamos, privacidade 
e anonimato, sem ser observado. Por quê? Para colocá-lo de forma 
simples, o governo dos Estados Unidos a quer. E tenho uma oferta que 
você não pode recusar. – ele apresentou um meio sorriso quando disse 
isso. Mas não estava sendo divertido. – Isso não é exato - completou. – 
Você pode recusar nossa oferta. Com certeza, pode. Assim sendo, sua 
negativa significaria que está cansada de viver. 
- Não entendo – disse. O homem se sentou muito perto, para que 
pudesse sentir seu perfume. Acredito que usava Versace. Eu gosto das 
coisas boas. Prestei atenção a ele. Ocorreu-me que o homem queria 
silenciar certa pomposidade determinada sob seu aspecto normal. Nada 
sutil ou conservador, ele usava Versace. Ele não era o que parecia ser. 
Também me dei conta de que o policial junto a mim, com sua mão em 
meu ombro, tinha um aroma ácido como o medo. Conhecia esse aroma 
e sabia que ele tinha medo de mim. Mas a ideia só ondeava por minha 
mente como uma asa de morcego, centrada no controle de meu próprio 
medo. O medo é sempre o inimigo. Uma vez que floresce no pânico, a 
razão se perde. O cérebro primitivo assume o controle e isto é o voo ou a 
luta. Quais? Havia ao menos três homens nesta sala. Dois deles tinham 
me agarrado, e um devia estar de pé atrás de mim na penumbra da 
sala. Sustentava uma arma? Um revólver? Uma estaca? Algo. 
Para fugir teria que chegar à porta ou à janela. Eles tentariam 
deter-me. Eu escolheria lutar. Ainda que presa por algemas podia lutar. 
Mas deveria combater? Deveria converter-me no monstro que vivia 
dentro de mim? Concentrei-me em minha respiração para acalmar-me e 
o homem sentado esperava por minha resposta. 
- Senhorita Urbano, - ele disse outra vez, cravando seus olhos em 
mim. – Se você está pensando em escapar, não o faça. Escute-me. 
Sabemos quem você é, o que é. Não somos caçadores de vampiros. Não 
a capturamos com o fim de matar-lhe. Necessitamos de você e 
pensamos que você necessita de nós. Queremos oferecer-lhe uma nova 
vida. Uma vida melhor, nós cremos. Uma com um propósito, com um 
significado. 
 
 
Nada do que dizia tinha sentido. Eu sempre temi o dia em que ia 
ser capturada. Algo como isto. Mãos cruéis agarrando-me, logo uma 
estaca de madeira causando-me uma dor insuportável, atravessando 
minha pele, rasgando minha pele, rompendo minhas costelas, e 
perfurando meu coração. Depois, a escuridão, a poeira, o esquecimento. 
Mas, o que era isto? Quem eram estes homens? 
- Não entendo. O que vocês querem de mim? – Disse quando meu 
corpo começou a tremer. Lutei contra o impulso de transformar-me. O 
pânico se acercou um pouco mais. Um pouco mais e não seria capaz de 
detê-lo. Converteria-me em outra coisa, a coisa com presas e garras e 
instintos animais. A mão gorda em meu ombro se fez mais pesada, 
aumentando seu controle. 
- Senhorita Urbano. – A voz do homem sentado, tinha uma borda 
de autoridade. – Quero ser o mais direto possível. Trabalho para uma 
agência de inteligência do governo dos EEUU. Eu sou o que eles 
chamam: um recrutador. Você é um vampiro. As pessoas a temem. 
Algumas pessoas a perseguem. Mas você é também uma mulher bonita 
com talentos extraordinários. Este país, esta nação está em guerra. 
Nossa forma de vida, nossa existência mesmo, está ameaçada por 
pequenos grupos de terroristas, tanto dentro de nossas fronteiras como 
fora delas. Eles chamam a este país de o Grande Satanás. Estes 
fanáticos tomam pessoas inocentes na busca de seus objetivos. 
Atacaram em 11 de setembro. Eles atacarão de novo e, se conseguirem, 
o que vão fazer vai ser pior, muito pior do que o que aconteceu em 11 de 
setembro. Nosso trabalho é nos assegurarmos de que não tenham êxito. 
Necessitamos que você nos ajude a detê-los. 
“Você fala, nós acreditamos, treze idiomas e viveu em muitos 
países. Seu coeficiente intelectual é tão alto que é classificada dentro de 
um por cento das pessoas neste planeta. É forte e tem a astúcia 
suficiente para ter escapado à detecção e captura durante quase 
quinhentos anos. Srta. Urbano, você é admirável. Mais importante 
ainda, sua família, sua mãe para ser exato, teve uma longa participação 
na diplomacia internacional... 
- Deixe a minha mãe fora disto, disse-lhe - meu medo retrocedeu 
em uma explosão de cólera repentina. – Tudo o que fez, aconteceu faz 
séculos. 
 
 
O homem sacudiu a mão de uma maneira desdenhosa. 
- Como você quiser. Meu ponto é que você está familiarizada com a 
intriga, tomou-a com o leite de sua mãe, por assim dizer. Você viu a 
traição e a mentira toda a sua vida. Você foi traída e alternadamente 
traiu a outros. As profundidades da depravação humana e do mal 
obscureceram sua alma e espírito, ainda assim, tem sobrevivido e, mais 
que isso, prosperou. Seus sentidos são sobrenaturais. E, oh sim, pode 
voar. O que queremos de você, Srta. Urbano, é que seja uma espiã. Para 
nós. Para a justiça. Para a bondade. 
- Uma espiã? – Fiquei muda. – Uma espiã? Para os Estados 
Unidos? Estás de brincadeira? 
- Senhorita Urbano, nunca falei mais sério. Nós a escolhemos. 
Podemos e o faremos terminar aqui mesmo, agora mesmo, se for 
necessário. Essa é sua opção de Hobson5. 
Você pode tomar o que estamos oferecendo ou nada em absoluto. 
Por nada, me refiro ao final de sua existência. Morte. Extinção. 
- Quer dizer... – Disse, começando a sentir o frio, a derrota. Como o 
gelo em pleno inverno, me sentia frágil, sem vida e em silêncio. – Ou 
trabalho para você ou morro. 
- Isso é parcialmente correto. – disse o homem, inclinando-se para 
mim. – Se você decidir trabalhar conosco... necessitamos que você 
queira trabalhar para nós. Acredite no que está fazendo. E isso de não 
morrer não é suficiente. Necessita ter um compromisso total. 
Eu ri, não era um som bonito. 
- Compromisso, com você? Você está me obrigando a fazer isso. 
Você me disse que, ou trabalho para você ou você vai me matar. Agora 
me diz que devo sentir que é meu golpe de sorte, uma nova carreira, a 
oportunidade de lutar pela verdade, a justiça e o estilo americano. – Eu 
ri de novo, e me pareceu quase como um soluço, minha voz, como 
vidros quebrados. – Quer que acredite que posso ser uma super heroína 
para os EUA e não mais uma vilã. Sério. Não posso mover uma alavanca 
dentro de mim e de repente trocar quem sou. 
 
5 Expressão que implica que só há uma opção possível. 
 
 
 O homem frente a mim parecia aumentar de tamanho, emanava 
energia, até quase ser incandescente. Ele me mantinha com o puro 
poder de suas palavras, as palavras de um verdadeiro crente. 
- Senhorita Urbano. Você é feliz? Alguma vez foi feliz? Encontra-se 
satisfeita? Sua vida tem sentido? Vou responder por você. Não. Para 
cada pergunta. Não. Não. Não. Não. Por quê? Porque você viveu uma 
vida frívola. Uma vida desperdiçada. Você não tem feito nada importante 
em quase quinhentos anos. Você vive para seu seguinte horário com a 
manicure, para ir às compras, para os sonhos românticos de amor, ou 
pelo prazer momentâneo do bom sexo. Se você não pode ter isso, 
conforma-se com o último filme noCineplex ou vendo um episodio dos 
Sopranos na HBO. Você tem muito para dar. E não dá nada. Você faz 
– você tem feito...nenhuma diferença neste mundo. Você não está 
desperdiçando uma vida, está desperdiçando dez vidas ao mesmo 
tempo. 
Não pude respirar. Senti como se tivessem me esbofeteado. Eu 
sabia que tudo o que ele disse era certo. Sempre soube disso. Era o que 
me acossava na noite. Cada vez que me permitia refletir sobre a minha 
existência, me sentia assustada. Sentia-me vazia. Eu não tinha nem 
amor, nem trabalho. Acreditava em alguns vagos ideais, mas não tinha 
paixão por nenhum. Não senti orgulho de quem eu era, do que havia 
feito. Eu estava envergonhada, desgostosa com minhas necessidades e 
com os atos que havia cometido. E, exceto pelo horror que havia 
inspirado e a dor que havia causado, não havia feito nada de 
importante. 
Minha vida não tinha sentido. Havia pensado em dar um fim 
nisso? Sim. Havia pensado alguma vez acerca do compromisso? Por um 
curto tempo, uma vez, fazia muito tempo, tratei de ter um compromisso 
com um homem. Havia fracassado tão estrepitosamente que havia 
endurecido a couraça ao redor de meu coração. No entanto, um 
compromisso total com algo maior que o indivíduo, com algo maior que 
um eu mesmo insignificante? Para uma causa? Para um governo? Uau! 
Teria problemas em identificar-me com um governo. Havia visto 
muitos governos irem e virem. 
- Srta. Urbano. – O homem começou a falar de novo. – Acredito que 
é capaz de dar muito mais do que dá. Eu e vários dos meus colegas 
 
 
acreditamos que tem o potencial de grandeza. Nem todos os meus 
colegas estão de acordo. Alguns deles sentem que você é um risco. Um 
risco imoral e perigoso. Eu não acredito nisso. Acredito que, dada a 
oportunidade, pode se sobressair. Não só pode salvar sua própria alma, 
mas também a esta nação, uma democracia e a milhões de pessoas da 
dor e da morte. Não lhe estou pedindo que se comprometa com o 
governo, Srta. Urbano, se você pensar isso. Eu lhe estou pedindo que se 
entregue a um bem maior. Aos ideais sobre os que fundaram este país. 
À verdade que têm como evidência. Ao direito a ser livre, à bondade, 
Srta. Urbano. Pela vida. Oferecemos-lhe a oportunidade de deixar para 
trás a escuridão, os desejos escuros, o sangue que a leva a atormentar-
se. Sabemos que você luta contra eles. Sabemos que não matou nas 
últimas décadas. Por isso é que estamos sentados aqui e já não está 
sem vida, como um pedaço de lixo no chão com uma estaca em seu 
coração. Sabemos que dentro de você, Srta. Urbano, há algo puro e 
bom. Você pode ser um diamante impecável, não uma coisa coberta 
pelas sombras. Pode ser uma heroína mais verdadeira que seu Byron 
nunca poderia ter sido se houvesse vivido... 
- Como você sabe disso? Como sabe tudo isso sobre mim? Você 
sabe sobre meu passado. Parece que, inclusive, conhece meus 
pensamentos, - disse em voz baixa. Sentia-me estranha. Meu coração 
batia e meu alento estava estrangulado em minha garganta. Era como a 
sensação que sentia no último segundo antes de transformar-me: uma 
misteriosa dúvida, uma grande pausa entre duas existências, uma 
expectativa silvestre, a continuação, um país livre de ruptura. 
- Sabemos tudo sobre você, senhorita Urbano - o recrutador 
respondeu com suficiência. – A verdade sobre o passado nunca poderá 
chegar aos livros de história, mas quase sempre se registra até o mais 
mínimo detalhe. E quanto a como sabemos sobre você e sua vida... sua 
carência de dedução lógica me decepciona, Srta. Urbano. Você pensa 
que os seguidores de Byron não falariam disso entre eles? Eles sabiam o 
que você era. Eles a perseguiram. Eles tentaram matá-la, não? Você 
escapou por pouco. E não é provável que alguém que estava ali, com 
problemas em sua alma, caiu de joelhos na igreja e com temor e tremor 
contou sua história a seu sacerdote? E logo, Srta. Urbano, o sacerdote 
disse o quê? Escreveu ao bispo? E o bispo fez o quê? Você tem ideia. 
 
 
- Assim que, sim, Srta. Urbano, a informação sobre você, e sobre 
muitos outros, sempre é escrita por alguém. Se pode pôr em um 
arquivo. O arquivo pode estar oculto nas catacumbas de Roma, ou 
encerrado em uma abóboda do Vaticano, mas está aí para aqueles que 
tem o poder para obtê-los. E nós temos nossas formas de encontrar os 
arquivos, Srta. Urbano. Somos muito bons no que fazemos. Sabemos 
quem e o que realmente são. E nós a escolhemos. 
Surpreenderam-me suas palavras. Eu estava cega para não me dar 
conta do quão visível meu caminho tinha sido. 
- E uma coisa mais, Srta. Urbano, - disse o recrutador em uma voz 
mais forte. 
-Sim? – disse, ainda aturdida pela revelação de meu passado. A 
escuridão da sala me encheu, brilhos de pânico perseguiam através de 
minha mente, como sombras, e eu, em uma das poucas vezes em minha 
vida, tive realmente medo. 
- Nem pense em não aceitar nossa oferta e logo escapar - disse ele, 
suas palavras foram como uma queda de pedras, cada uma dita com 
um estalo seco cheio de faíscas. – Estivemos lhe observando 24 horas, 
os sete dias da semana com o fim de lhe recrutar. Continuaremos 
fiscalizando seus movimentos 24 horas e os sete dias da semana com o 
fim de lhe aniquilar se você declinar da oferta e fugir. Você tem sido 
visível para nós durante muito tempo. Por favor, entenda – e escute com 
cuidado – não há nenhum lugar para onde ir, em nenhum lugar você 
poderá se ocultar, não pode escapar de nós. Ouviu-me? 
Eu gaguejei. 
- Tenho que pensar. Necessito de algum tempo. Você está pedindo 
mais do que qualquer outra pessoa já me pediu antes. 
- Desafortunadamente, Srta. Urbano, a única coisa que não posso 
dar-lhe é tempo para pensar. Está parada em uma encruzilhada e a fera 
está atrás de você. É necessário dar um salto de fé e fazê-lo agora. 
E nesse momento, eu sabia. Tive que saltar desde a borda e em 
queda livre em algo de que eu não sabia nada. Eu havia estado em Nova 
York em 11 de setembro. Nesse dia e nos dias que se seguiram a 
destruição do World Trade Center, me sentia impotente e afetada pela 
 
 
dor. Agora eles estavam me dando a oportunidade de fazer algo que eu 
não podia fazer antes. Poderia parar outro ataque. Podia ser importante 
de uma forma magnífica, positiva. Uma nova porta se abria para mim. 
Um novo caminho existia para mim, assim, eu o tomei. 
- Bem – disse. – Sim, vou ser uma espiã. 
E me levantei, no caminho havia uma vida diferente. 
 
 
 
Capítulo 2 
 
O salto no abismo 
 
 
Recebi instruções para comparecer às seis da tarde do dia seguinte 
no número 175 da Quinta Avenida, também conhecido como Prancha de 
Ferro de Manhattan e eu devia ir ao escritório dos meios de 
comunicações ABC S.A. Ali eu encontraria o meu controlador, 
conseguiria minha atribuição e começaria a orientação. Disseram-me 
que meu controlador se chamava J. Então os homens me deixaram ir. 
Simplesmente, me permitiram sair do apartamento de Sid. 
Com certeza estavam me seguindo. Por certo que estavam me 
observando. Agora sabia que nunca me deixariam em liberdade. Mas, o 
quê? Nunca tinha sido livre, sempre sendo refém, do medo ou da 
ansiedade e das rígidas “regras” de minha existência. 
Uma vez dentro do meu apartamento no lado Oeste, não fui direto 
para a cama, inclusive quando já era tarde. Depois do pôr do sol, os 
vampiros não dormem. Rodamos pela noite. Eu fiquei em casa esta 
noite, sem sossego, através da madrugada eu andava feito um tigre no 
zoológico, pensando demais sobre o meu passado. 
 
 
Estava profundamente preocupada de que existisse um arquivo 
sobre mim e que havia existido durante séculos. Finalmente me dei 
conta de que não tinha meios para eliminá-lo e tinha que aceitar o que 
não podia mudar. Liguei num canal de filmes antigos e vi velhos filmes 
de Hitchcock6. As horasavançavam lentamente. Minha mente vagava, 
ainda que meu corpo permanecesse imóvel. O sono não vinha, inclusive 
depois de que os dedos rosados da aurora começaram a tingir o céu da 
noite com raios de cor vermelha. 
Fechei bem as persianas e, durante as horas do dia, - quando em 
geral descanso - esfreguei o piso do banheiro, limpei a fundo a geladeira 
e reorganizei os móveis da sala de estar. As mulheres, cheias de energia 
nervosa e diante da espera, não ficam ao redor das janelas ou olhando 
fixamente ao espaço, igual aos homens. Temos que estar em 
movimento. Inclusive enquanto estamos esperando diante do forno de 
micro-ondas para esquentar uma xícara de café, lavar os pratos, limpar 
o mostrador, pôr a roupa na máquina de lavar. Sabemos o muito que se 
pode obter em dois minutos. 
Todo o dia, enquanto esfreguei e limpei, pensei no trabalho. E 
quanto mais pensava mais, excitada me sentia. Logo as borbulhas de 
antecipação me sustentaram em cima, levantando meu espírito. 
 Dei-me conta de que queria fazer isto, eu realmente o queria. Não 
necessitava do salário, é obvio. Minha mãe tinha herdado uma parte de 
sua considerável fortuna fazia séculos. Minha conta bancária na Suíça 
era grande, meu seguro de propriedades, minhas prósperas ações. 
Entretanto, durante o ano, o aborrecimento ou a necessidade de 
adaptar-me e aparecer como um humano normal, haviam-me levado a 
manter muitos postos de trabalho. Alguns haviam sido medianamente 
interessantes para mim. Este apesar das circunstâncias da contratação, 
encheu-me de confiança e esperança. 
Nesta tarde passei horas preparando-me para a reunião. Fui olhar 
meu armário. Os jeans eram demasiado casuais. Um terno, demasiado 
sério. Finalmente, decidi ir toda de negro era a roupa adequada para 
uma espiã. Calças de gabardine negra, uma blusa de caxemira negra e 
botas de Donald Pliner com salto de oito centímetros. Contrariamente a 
crença popular, eu e todos os vampiros que conheço pessoalmente, 
 
6 Nota da Rev. : Alfred Joseph Hitchcock cineasta anglo-americano considerado o mestre dos filmes de suspense. 
 
 
raramente nos vestimos de preto. Nossa pele é demasiado pálida. 
Acredito que o preto me faz parecer um cadáver e isso não é bom. E 
mais, eu não gosto dessa onda de góticos. Não tenho piercings. O 
ressentimento, a loucura diante do mundo, a aparência morta, não é a 
imagem que espero apresentar. 
Eu tinha trabalhado muito duro para mesclar-me e parecer 
normal. E eu nem sequer tinha uma capa, ou ao menos não a tenho nos 
últimos cem anos. Os vampiros não são como os Amish7, ou os 
Hasidim8 ou o Conde Drácula. Não estamos obrigados a nos vestir no 
estilo de nossos antepassados. Posso comprar na Bloomingdale’s em 
Nova York e aproveitar o catálogo de Neiman Marcus, quando não posso 
ir fisicamente a Galeria de Houston, Texas, que prefiro mais que as lojas 
de Dallas. A Galeria de Houston é meu centro comercial favorito, em 
absoluto. Posso obter uma cesta de alta costura, só pensar em Dolce & 
Gabana, Gucci, Kenneth Cole, Nine West, Chocolates Teuscher da 
Suíça, todos juntos, todos em um centro comercial. Quem projetou a 
Galeria, merece o prêmio Nobel das compras. Mas estou divagando. 
Para minha reunião com J, coloquei um lenço italiano, de cor 
dourada e escarlate no pescoço para suavizar a dureza do preto. O 
vermelho é uma de minhas cores favoritas. Considero que é uma cor de 
poder, mas não descarto que, subconscientemente, seja uma forma de 
apelar à minha libido ou apetite. Também acrescentei um amplo cinto 
enfeitado de uma cor vermelha mogno. Sou de estrutura magra, não 
tenho muito busto, mas tenho uma cintura pequena. Se você a tiver, 
acentue. Mantive uma maquiagem sutil, embora soubesse que me via 
como um milhão de dólares. Como toque final, coloquei meu anel 
favorito, feito durante o Renascimento em Florência. São duas cabeças 
de pantera criadas a partir de diamantes, uma cabeça de pantera está 
fixada em ouro branco frente a um conjunto em ouro amarelo e cada 
um tem os olhos verdes esmeralda. Não é um anel sutil, mas então 
nunca pus muita fé na sutileza. Como roupa exterior, escolhi um casaco 
de três quartos de couro preto. Senti confiança, segura de mim mesma e 
com muita vontade de ir. Até que conheci meu chefe. 
 
7 Nota da Rev.: grupo religioso cristão anabatista baseado nos EUA e Canadá, conhecidos por seus costumes 
conservadores como o restrito uso de equipamentos eletrônicos. 
8 Nota da Rev.: corrente mística do judaísmo 
 
 
Às 5:45 da tarde, saí vinte metros antes da Terceira com a Quinta 
Avenida. Ao sair do túnel escuro a tênue luz do dia, que havia me 
acordado, me inundou plenamente. A ansiedade umedeceu um pouco 
de meu entusiasmo, esfriando-me realmente, como as temperaturas 
previstas para cair à noite. Empurrei as portas de vidro do Edifício 
Flatiron e abri caminho através da multidão de trabalhadores que iam 
saindo e entrei no elevador vazio. Ele subiu rangendo e sacudindo. Uma 
editora de Nova York ocupava os andares mais altos do numero 175 da 
Quinta Avenida. A ABC Media era uma companhia falsa em uma planta 
muito baixa. Encontrei o escritório, toquei a campainha, a porta se 
abriu e entrei em uma sala de conferências longa e estreita. Não havia 
nada ali. 
Três portas fechadas se alinhavam na parede esquerda. Uma mesa 
de madeira quadrada ocupava o centro da sala de conferência, onde 
parei olhando para todos os lados, deixando que meu instinto me 
alertasse e reagiria a qualquer perigo em potencial. De trás de uma das 
portas fechadas ouvi uma rádio tocar algo do Fantasma da Ópera. Senti 
que havia seres vivos por perto, mas não senti maldade neles. Tudo que 
senti foi o ar viciado e o odor mofado de caixas de papelão. 
Uma cafeteira vazia, um pote de leite em pó Cravo sem lactose, e 
uma xícara de plástico cheia de sobras de açúcar sobre a mesinha perto 
das janelas que eram quase opacas pela sujeira. As janelas ocupavam 
quase toda a parede direita, que se inclinava para dentro, da parte 
dianteira do edifício, fazendo com que a sala tivesse uma forma 
trapezoide. Uma porta com um cartaz de “Diretor” estava entreaberta no 
final da sala de conferências. 
O edifício Flatiron tem a forma de uma cunha de grande 
quantidade de queijo. Considerado como o arranha-céu mais antigo, 
existente em Nova Iorque, o edifício chega a seu ápice na parte dianteira 
na esquina da Broadway, onde percorre a Quinta Avenida. Nesse lugar 
triangular, como o capitão Ahab9 na proa de seu navio baleeiro, o 
Pequod, o homem que assumi que era J, ficou quieto como uma estátua, 
olhando pela janela, de costas para mim. Não se moveu quando me 
aproximei dele. Chamei à ombreira da porta junto a sua porta aberta. 
Sem voltar-se para me saudar, o homem disse: 
 
9 Personagem de Mobi Dick 
 
 
- Entre - e o fiz. 
Fiquei aí por todo um comprido minuto. Finalmente, olhou por 
cima do ombro para mim. Seus olhos eram azuis, frios como uma 
geleira e duros como pedra, estavam cheios de ódio puro. 
- Sente-se, - ordenou. Obedeci. 
Meu rosto se manteve inexpressivo. Se este era o jogo, tinha a 
intenção de ganhar. Mas quando o homem voltou a olhar para as 
janelas, mantendo as costas bruscamente para mim, levantei as 
sobrancelhas, como dizendo, Que diabos é o seu problema? Estava me 
alterando rapidamente, mas mantive minha voz baixa e neutra quando 
lhe disse: 
- Sou Daphne Urbano. Disseram-me que me apresentasse para 
você. 
 
 
- Sei exatamente quem você é e por que está aqui. – Respondeu 
com uma voz de aço e ferro. Pouco a pouco se separou das janelas 
voltando-se para mim, mas manteve a mesa entre nós dois. Ele se 
levantou,eu estava sentada. E como tinha seus bons 6,3 pés de altura, 
se encurvou sobre mim. Foi uma jogada clássica de poder. 
Ele continuou falando e me soou como um sargento. 
- Agora eu gostaria de deixar uma coisa bem clara desde o 
princípio. Eu não a queria, ou a qualquer um de seu tipo, trabalhando 
nisso. Eu acredito que são maus. Mas também sei que há um mal neste 
mundo muito maior que você. E trabalharia até com o Diabo, se isso 
fosse necessário, para derrotá-lo. Mas entenda, meu trabalho não é 
estender-lhe a mão ou ser seu amigo. Agora que já faz parte oficialmente 
desta operação, tenho um trabalho... um único trabalho para assegurar-
me de que tenha êxito. Vidas estão em jogo aqui, Srta. Urbano, 
potencialmente milhões de vidas inocentes e o estilo de vida Americano 
mesmo. Assim, eu deixo de lado qualquer sentimento pessoal. Espero 
que faça o mesmo. Não gosto de você, mas eu a protegerei. Farei tudo o 
que for necessário para mantê-la viva. Não me importa se você gosta de 
como eu sou, mas tem que escutar-me e confiar em mim. Temos que ser 
 
 
uma equipe. Eu vou ser duro, mas justo. Não espero que você dê cem 
por cento nesta operação, mas cento e dez por cento, ou cento e vinte 
por cento, o que for necessário para acabar com os bastardos que 
estamos procurando. 
Seus olhos sustentaram os meus durante todo o tempo. E isso foi 
um grande engano. Suas palavras me incomodaram em certa altura, 
mas já tinha sido insultada antes por bastardos mais arrogantes que 
este J. E não me intimido facilmente. Já escutei os gritos de meu pai e 
sustentei por esta razão que este pequeno discurso não me assustou, 
nem sequer me impressionou muito. O verdadeiro problema era que à 
medida que seus olhos se pousavam sobre os meus, comecei a me 
conectar com ele. Sentia-me como se estivesse caindo em um frio lugar 
azul em seu interior e fazia tanto frio que não sei como não se queimou. 
O gelo de sua alma estava em chamas, e pude vê-lo. Minha pele 
estremecia como se a eletricidade se tivesse posto a correr através dela. 
O ar carregou-se, como acontece antes de um raio. Esta foi uma 
química que não havia experimentado nas últimas décadas, uma 
dinâmica sexual que podia complicar a vida mais que a imaginação. 
Acredito que se deu conta do que estava acontecendo, porque se deteve 
bruscamente e desviou o olhar. Pôs-se a trabalhar em sua mesa como se 
estivesse buscando uns papéis, mas não antes que me desse conta do 
rubor que subia de seu pescoço. 
 O que posso dizer? Os pescoços são uma zona erógena para mim. 
E o seu era musculoso, grosso e tentador. Tentei afastar os 
pensamentos que se infiltravam através das sombras de minha mente. 
- Permita-me apresentar-lhe aos demais - disse, sem me olhar. – 
Então vamos começar. 
- Os outros? – eu disse. – Que outros? 
Agora ele me olhou e seu olhar era condescendente, quase 
compassivo. 
- Acredita, de verdade, que é a única a quem recrutaram? Sim, 
Srta. Urbano, há outros. 
- Mas eu pensava... – comecei a dizer. 
 
 
- Você pensou que era especial - disse ele, cortando-me. – Você 
pensou que era a eleita. É o que eles dizem a cada vampiro que 
recrutam. Mas se isto a faz sentir-se melhor, não recrutaram muitos 
como você. A maior parte de vocês, simplesmente, eles os aniquilam. 
Então, considere-se afortunada. Você subiu de categoria, ou como 
dizemos, fez o corte final. Você ainda está viva. 
Logo, saiu detrás da mesa, passou junto a mim e entrou em uma 
sala de conferências. Eu o segui. Abriu a primeira porta à direita. 
- Seu escritório - disse. Passei a cabeça pela porta. 
Não vi nada, exceto uma velha mesa de metal com um computador 
portátil nela, uma cadeira de madeira e um triturador de documentos. 
Uma luz fluorescente zumbia. Isso foi tudo. Um palácio real. 
- Você parece surpresa, Srta. Urbano. Sim, você necessitará de um 
escritório. Terá trabalho administrativo para fazer de vez em quando e 
terá material classificado para repassar. E o que acontece aqui, fica 
aqui. – Deixou a porta aberta e me disse que tomasse assento junto à 
mesa de conferências. Assim que me sentei, ele bateu na porta em 
frente ao meu escritório. – Srta. Polycarp, nós estamos preparados para 
começar - disse ele. 
A porta foi aberta e uma mulher incrivelmente bela e loira 
apareceu. Ela tinha lábios deliciosamente vermelhos, um bronzeado 
profundo e um sorriso que cegava. Havia algo nela bastante brilhante, 
estava tão radiante. 
- OK, chefe, estou a caminho, - disse irreverentemente para J, que 
já estava batendo na porta fechada atrás dela. 
- Sr. O’Reilly? Por favor, venha e una-se a nós - disse. 
O’Reilly? Pensei. Eu conheci um vampiro chamado Cormac 
O’Reilly. Havia estado no coro de uma dúzia de espetáculos da 
Broadway, mas nunca pareceu capaz de dar seu “grande salto”. Era 
autoindulgente, absorto em si mesmo e totalmente superficial. 
Surpreendeu-me que tivesse sido contratado. A loira se aproximou e 
deslizou em uma cadeira junto a minha. 
 
 
- Oi!, amiga. – Ela se dirigiu com a voz com acentuado sotaque do 
sul. – Meu nome é Benny Polycarp, abreviatura de Benjamina. – Qual é 
o seu? – Ela olhou na direção de J, então me deu uma piscada de olhos, 
dizendo em voz baixa – Então, o que pensas de nosso intrépido líder? 
- Daphne Urbano. Meus amigos me chamam de Daphy - falei. Eu 
não podia deixar de sorrir de novo para ela, enquanto em voz baixa lhe 
disse – Creio que foi feito para as regras, é homem de livros e creio que 
deve ter irritado alguém grande, já que está aqui conosco. E isto é um 
pouco do tema, mas, te importa que te pergunte algo pessoal? 
- Não - ela sussurrou. – Dispara. 
- Como diabos você conseguiu esse bronzeado? 
- Oh, doce! De um pote. Vou a um SPA de dia e me dão um 
tratamento chamado Pula V Glo, uma massagem... e a aplicação de um 
autobronzeador em uma sessão deliciosa - disse, e riu. – Como loira, me 
via como uma albina, com esta pele de ventre de pescado que todos nós 
temos. Não é que não seja bem para ti, - esclareceu rapidamente. – Você 
está grandiosa de preto, com esse look Irlandês, se não se importa que 
lhe diga isso. 
- Obrigado pelo elogio - disse-lhe - mas acredito que esses 
bronzeadores, me fariam ficar com a cor amarelada, cítrica, você sabe. 
Nunca vi ninguém que ficasse tão bem. Eu me acovardei para tentá-lo. 
Pensei que me veria como se tivesse um problema de fígado. Entretanto, 
sem exagerar, ninguém adivinharia nunca que essa cor saiu de uma 
garrafa. 
 J começou a caminhar para nós e rapidamente sussurrou-me o 
nome de seu salão. Enquanto isso, um homem jovem, sigilosamente 
sentou-se no final da mesa. Era Cormac, mas antes que pudesse dizer 
alguma coisa, J se sentou à cabeceira da mesa, olhando para Benny e 
para mim. Evidentemente o bate-papo era proibido. 
- O Senhor O’Reilly e a senhorita Polycarp já se apresentaram - 
disse. E pelo que se vê, a Srta. Urbano, já conhece Sr. O’Reilly. 
Olhei para Cormac e disse: 
 
 
- Nós nos conhecemos há bastante tempo. Então voltei a cabeça 
para J e disse baixinho para Cormac: 
- O que você está fazendo aqui? – Ele se limitou a me olhar de mau 
humor e não respondeu. J pegou uma caixa de papelão do chão e 
colocou sobre a mesa diante dele. Dela tirou três pacotes grandes. 
- Posso ter a sua atenção? O nome da equipe é Darkwing. O pacote 
que estou passando a cada um de vocês lhe falará sobre a sua 
designação. Contém um CD, com um dossiê completo do destino 
individual e/ou da organização com que estarão envolvidos. Depois de 
terem a oportunidade de revisar a informação, me reunirei com vocês 
individualmente para responder as suas perguntas e dar-lhes 
instruções. Srta. Urbano, tenho que reunir-me com você amanhã à 
noite, aqui, lá pelas 5 da tarde ou assim que possa. Sei que você tem 
que esperar o pôrdo sol. Você tem que estar preparada para começar. 
Espero que revise o dossiê e venha preparada com perguntas. Sua 
operação é de particular urgência. 
Eu não havia podido abrir meu pacote, mas Benny e Cormac já 
haviam aberto um caderno preto cada um. 
- O que é isto? – Cormac disse enquanto abria à primeira página do 
seu. – Não pode estar falando sério. Supõe-se que devo ser um espião, 
arriscando minha vida para salvar a humanidade. Não posso estar lendo 
isto. 
- Se pensava que você ia ser como James Bond, Sr. O’Reilly, 
lamentavelmente, isso não é o que tínhamos em mente para você. 
- Diabos, sim! Quero ser um agente secreto que salta para a ação. 
Lutando com os tipos maus. Mas o que tenho aqui? Você me quer – e 
tem que estar brincando, porque tenho esta coisa sobre crucifixos - quer 
que eu me infiltre em uma ordem católica, uma dessas ordens que usam 
o cilício10 ao redor da coxa, e que têm uma corda no pescoço para 
golpear-se? Tenho lido a respeito destes meninos no Código Da Vinci11. 
 
10 Cilício – instrumento de autoflagelação. Trata-se de uma pequena corrente de metal leve, com pontas, que se 
coloca ao redor da coxa. O cilício é incômodo – sim, porque do contrário não teria razão de ser –, mas de modo nenhum 
atrapalha as atividades normais de uma pessoa, e muito menos causa sangramentos. 
11 Nota da Rev.: Livro de Dan Brown 
 
 
Mas não é exatamente minha preferência para um bom momento. – 
Olhando repugnado, Cormac fechou de repente sua pasta e a separou. 
- Este trabalho não se trata de agradar a você, Senhor O’Reilly. 
Trata-se de fazer o que se deve ser feito. Sua área de operações é de fato 
o Opus Dei12, seu quartel geral novo, aqui em Manhattan. Quando ler 
no material, verá o que queremos fazer, mas Senhor O’Reilly siga com o 
verdadeiro material do dossiê e esqueça o Código Da Vinci. Dado que 
sua missão tem um tempo mais generoso que o da Srta. Urbano ou da 
Srta. Polycarp, não é necessário satisfazer suas demandas 
imediatamente. Eu gostaria de vê-lo dentro de uma semana a partir de 
hoje, aqui nesta sala, às seis horas da tarde. E Sr. O’Reilly, sou 
consciente de que tem preocupações especiais. Vamos trabalhar ao 
redor delas. Veja que você terá um pouco de tempo, por favor, use a 
semana que vem, para desembaraçar-se de suas obrigações e enredos 
pessoais. 
- Oh, isso é muito lindo - não podia deixar de dizê-lo em voz alta. – 
Cormac, em uma ordem católica. O mesmo homem que não foi capaz de 
manter suas calças fechadas por mais de vinte e quatro horas nos 
últimos trezentos anos. 
 
 
- Cala-te, Daphy. - Cormac disse. – Todavia estás irritada porque te 
ganhei aquele doce garoto, digamos, embaixo do teu nariz em Veneza? 
- Temos uma agenda aqui, - J interrompeu: - Se vocês têm um 
problema pessoal, resolvam isso depois. – Ele deu um olhar severo para 
ambos. – Srta. Polycarp, - J continuou, - Eu vou me reunir com você em 
quarenta e oito horas, aqui, também lá pelas 5 PM, ou como você possa 
manejar. Sua tarefa, bem como a da Srta. Urbano, tem que fazer-se tão 
rápido como seja possível. 
- Sim, senhor. – Benny disse, enquanto lhe dedicava um sorriso 
deslumbrante e uma saudação fingida. 
- No seu pacote tem um CFR, Código de Regulamentos Federais, 
tem também um Guia de Emergências para Empregados e várias outras 
 
12 Nota da Rev.: é uma instituição da Igreja Católica polemizada pelos meios de comunicação. 
 
 
publicações da OPM, Escritório de Administração de Pessoal, que contém 
informações detalhadas sobre seu status de empregada do governo dos 
EE.UU. Se lhe foi outorgado um uniforme do governo em qualquer 
momento, por favor, recorde que não pode utilizar sua posição e seu 
uniforme para benefício pessoal ou com fins lucrativos. Você também 
encontrará alguns formulários que necessita preencher e devolver para 
mim. 
- Srta. Urbano, você não tem que terminá-los para amanhã, mas 
sim, o quanto antes. Como lhe disse, vou falar de cada atribuição em 
detalhe, com cada um de vocês, um por um. Mas no geral, há uma regra 
inquebrável. O que se faz em uma operação é segredo. Vocês não podem 
dizer nada, e quero dizer nada, sobre seu trabalho para mais ninguém. 
Vocês terão um tema de capa para dizer a seus parentes e 
companheiros. Atenham-se só a isso. Não se desviem disso. Não confiem 
em ninguém. Se você vai a um psiquiatra Senhor O’Reilly, acredito que 
você precisa parar. Cancele sua próxima entrevista e não retorne. A 
agência lhe oferecerá um apoio terapêutico em caso de necessidade. 
 - O quê? – Cormac quase gritou. – Tenho um ataque de ansiedade 
quando meu psiquiatra vai a Hampton por um fim de semana. Acredito 
que vou hiperventilar. 
J ignorou o dramatismo de Cormac. 
- Vocês são agentes que operam no que se chama cobertura 
profunda... Cada um de vocês está em uma operação escura. Isso 
significa que inclusive, outras agências do governo não sabem, nem 
tampouco os órgãos de controle no Congresso. Oficialmente sua 
operação não existe. Vocês não existem, como um espião. Sob a 
máscara, vocês são assessores técnicos em um projeto de restauração 
histórica para o Parque Nacional. 
- Que gracioso, - disse Cormac. – Podemos trabalhar, quem sabe, 
na restauração de sua mãe, Daphy. Quantos anos ela tem, oitocentos 
anos agora? 
- Cala-te Cormac! Se há um corpo que necessita de restauração, é 
o seu. Porque não falamos dessa extremidade caída... 
 
 
O rosto de Cormac estava contraído pela fúria, quando abriu a 
boca para responder. 
- Srta. Urbano, Sr. O’Reilly, - J falou com sua voz de sargento. – Eu 
não vou pedir-lhes que se calem novamente. Não temos muito tempo, 
Tenho que completar esta orientação dentro dos próximos quinze 
minutos. 
- Espere um minuto, espere em minuto, - disse Benny, saltando de 
seu assento – Espere um minuto! Esta é a orientação? Quando vamos 
aprender a usar explosivos e executar através de um labirinto, de 
memorizar os objetos e contra-senhas para lembrar, como nesse 
programa de televisão, mestre dos espiões? Eu quero aprender coisas 
legais de espião. 
- Sim - eu apartei. – Pensei que você nos enviaria ao campo de 
treinamento ou algo assim. 
- Queres dizer que não vamos ter um treinamento básico? – falou 
Cormac. – Não vou avaliar a todos esses deliciosos jovens apertados em 
suas calças de ginástica? 
E nesse momento a cara de J havia mudado para uma cor 
vermelho cereja. Pensei que ia golpeá-lo na nossa frente. Ele fechou de 
repente seu punho sobre a mesa. 
- Srta. Polycarp, por favor, sente-se. Todos vocês, façam silêncio e 
me escutem. Agora! Vocês não vão ser Seals da Marinha, não vão estar 
nas Forças Especiais e isto não é um programa de televisão! Todos vocês 
têm memória fotográfica e não acredito que seja sequer uma questão de 
se podem ou não recordar uma contra-senha. Vocês já são peritos em 
vários tipos de artes marciais. Senhor O`Reilly, ganhou torneios de 
kickboxing. Srta. Polycarp, você deu aulas de Tae kwon Do. E Srta. 
Urbano, foi uma ninja no Japão feudal, em um ponto em... em... Como 
diabo se chama o que fez na sua carreira? 
J fazia espuma virtualmente, estava muito irado. Começou a falar 
mais alto à medida que continuava. 
- E além de sua destreza nas artes marciais, uma vez que 
trocaram, tem presas e garras e três vezes a força humana. Cada um 
tem mais histórias de matar, que qualquer soldado que eu conheço. E, 
 
 
francamente, eu não posso imaginar como vão ter necessidade de porem 
em prática seu treinamento, quando você, Srta. Polycarp, estará 
trabalhando como uma especialista em diamantes, você Sr. O’Reilly, 
estará em uma ordem religiosa, e você Srta. Urbano, será uma 
negociante de arte aborígene. 
- Tudomais que necessitam saber para sua orientação, está em 
suas pastas. Srta. Urbano, nos veremos em 24 horas. Pode se retirar. – 
ele grunhiu. Com isso, J se levantou, recolheu sua pasta e saiu de seu 
escritório, dando uma pancada na porta atrás de si. 
- Ohhh, alguém simplesmente teve um ataque de histeria. – disse 
Cormac. 
- Creio que ele não gosta de nós, - disse Benny. – Que lástima! Ele 
é um tipo tão lindo. Não o meu tipo, mas lindo. 
Não seguiria com esse comentário. Era melhor mudar o tema. 
- Antes de irmos, Cormac, conte-me, como você se meteu nisso? 
Nunca lhe vi como um espião. 
- Daphy, querida, meti-me da mesma forma que você. Eles me 
armaram uma armadilha. Arranjaram-me um falso encontro com este 
delicioso fisiculturista do clube atlético. Então slam, bam, obrigado. Eu 
estava algemado antes de tentar dar um passo. Pensei que fosse me 
afogar antes que o suplício tivesse terminado. Presumo que te 
ofereceram as mesmas opções. A princípio, eu ia lutar, mas você me 
conhece, tenho estado incrivelmente entediado ultimamente. Minha 
carreira está estagnada e se eu for a uma audição em que o diretor me 
diga que eu sou muito baixo, eu vou perder o controle. Pelo menos esta 
gente reconhece meu talento para a espionagem. Por isso me 
escolheram. – Balançou o cabelo comprido de novo dramaticamente. – 
Não posso imaginar por que lhe escolheram, Daphy. 
- OH, claro, Cormac, - disse com sarcasmo. Foi eleito por seu 
talento para a espionagem. Todo mundo sabe que não dançaste 
profissionalmente em anos e sua última aparição na Broadway teve 
lugar atrás do conjunto dos gatos. Foi parte da equipe de produção do 
diretor. E ainda assim não conseguiu um papel, assim acredito que uma 
vez mais, foi considerado muito pequeno... 
 
 
- Puta! – Cormac chiou, de pé e caminhando ao redor da mesa de 
conferências para me atacar, quando Benny gritou: 
- Hei vocês dois! Já basta! 
Cormac se deteve em seco e olhou. Benny continuou falando. 
- Assim está melhor. Todos nós temos que lembrar que estamos 
nisto juntos. Temos que ajudar-nos uns aos outros. Creio que vocês dois 
tem uma história, mas seja lá o que for, esqueçam. Eu sou a menina 
nova do quarteirão. Eles trouxeram-me de Branson, Missouri. A um 
vampiro em Branson não é que só importa um apito. Para ser honesta, 
tenho medo. Se me enganar, não só incontáveis pessoas morrerão, como 
eu também serei aniquilada. E eu gosto de viver. Assim, vamos tratar de 
trabalhar juntos. 
- Amém, irmã. – disse Cormac. – Você tem razão. 
- Concordo. – disse. – Trégua? – Eu disse para Cormac. 
- Trégua. Venha, me dê um abraço, Daphy. – disse, enquanto se 
aproximava de mim. 
- Não se aproxime, Cormac, - disse, mas deixei que ele e Benny se 
aproximassem de mim para um abraço em grupo. Então tomamos 
nossos papéis e saímos do edifício, juntos. 
Depois de tudo, me sentia malditamente bem. Meu primeiro dia 
como espiã, tinha algo arriscado com meu chefe, não estava aborrecida 
e não sentia pena de mim mesma. Estava desejando chegar ao meu 
apartamento e colocar o CD em meu computador. 
Os passageiros de Nova York, sabem que há duas entradas para o 
metrô na rua 23. A bela entrada do centro no Edifício Flatiron, no lado 
oeste, ao lado da Quinta Avenida. Para chegar à linha alta da cidade, o 
passageiro tem que cruzar a Broadway no lado oriental do edifício, com 
seis pistas cheias de carros, taxis e ônibus de três ruas diferentes. Esta 
noite estava relativamente vazio desolado. Caminhei rapidamente 
através da Broadway e desci as escadas do metrô. Ao descer, me 
pareceu ouvir que o trem chegava à estação, assim peguei o Cartão do 
Metrô de meu bolso e passei pela roleta como uma louca. Quando entrei 
na plataforma pude ver a cidade no centro das pistas de limpeza através 
 
 
da estação sem deter-me. Não era meu trem. Mas em minha pressa, 
tinha esquecido minhas próprias medidas de segurança, a regra número 
um; olhar ao redor antes de entrar em qualquer zona concreta. É uma 
coisa de Nova Iorque tanto como uma tática de sobrevivência de 
vampiro. 
Agora estava ali, na penumbra, nesse meio metro misterioso que 
parecia uma cova e emoções antigas que quis esquecer, ignorar e 
sufocavam por nascer dentro de mim. Olhei para cima e imaginei a 
roupagem parecida com um morcego em um teto de rocha com o gorjeio 
todo ao redor de mim, aguardava o voo que viria com o pôr do sol e 
aquela antecipação que acordava minha fome e desejos de sangue. 
Sacudi minha cabeça e tratei de afugentar aqueles pensamentos, me 
concentrando em alguns anúncios vistosos na parede para uma série do 
HBO. Tratei de passar por cima do forte aroma fétido da água de chuva 
que se estendia entre os charcos das pistas, o odor de urina do lugar 
onde os bêbados haviam urinado fora da plataforma, às faixas, os gritos 
dos ratos nos túneis que ficavam na parte alta da estação. Mas meus 
sentidos foram atraídos pelo lado escuro e as andanças noturnas que 
rondavam minha alma. 
Resisti a esse empurrão parcialmente, por que fiquei na área mais 
iluminada, dentro da vista dos trabalhadores do trânsito na cabine do 
outro lado das catracas. Tive – especialmente – fortes sentimentos que 
se agitam através de mim na noite. Olhei com impaciência para o 
relógio. Caminhei pela borda da plataforma para olhar a escuridão do 
túnel, com a esperança de ver o farol de um trem amarelo que vinha. Foi 
então que me dei conta de um homem, a mais ou menos uns trinta 
metros mais abaixo na plataforma, esperando o trem. Jurei para mim 
mesma que ele não estava ali ainda há pouco. 
Estava com uma jaqueta de aspecto caro, de aviador marrom de 
couro e calças jeans. Ele se colocou de pé com uma arrogância 
preguiçosa, com as mãos nos bolsos, com os pés ligeiramente 
separados. Mas o que me surpreendeu foi seu gorro preto e o rabo de 
cavalo loiro. Meu primeiro pensamento foi que este era o tipo que me 
havia seguido até o apartamento de Sid. Meu segundo pensamento foi 
que não estava segura. Como se ele soubesse que eu o estava olhando, 
lentamente se voltou para mim. Olhou-me, com atenção deliberada, com 
os olhos ardendo com intensidade. 
 
 
Meu corpo ficou tenso. Meu coração começou a bater em meu 
peito. Os sentimentos estavam rompendo sobre mim como ondas. Meus 
instintos me advertiram que deveria ter cuidado, estava pronta para 
correr. Minha mente racional tomou o aviso que, ele era arrumado, 
quase um modelo, exceto por uma cicatriz franzida ao longo de sua 
maçã do rosto. Quase no mesmo momento me dava conta de que estava 
provocando o alarme no estômago. Tinha os punhos fechados e seu 
rosto se via – eu não estava segura do por que, zangado, talvez 
predador. Fosse o que fosse, não me sentia no ambiente. O cabelo da 
minha nuca arrepiou e, de improviso, senti um impulso fugaz de me 
transformar. 
A razão pôde mais que esse reflexo e pensei em voltar a subir à rua 
muito transitada e parar um táxi. Mas, enquanto estava tomando essa 
decisão, o homem se moveu. Dei um passo para trás, para as catracas. 
Pensei que vinha em minha direção, mas fez uma coisa mais estranha. 
Olhou ao seu redor até que viu os barrotes de ferro giratórios da 
plataforma e abriu o ferrolho que havia neles. Em um instante golpeou 
com a mão e passou através deles, saindo pelo outro lado e correu para 
a escada, seu rabo-de-cavalo fez um último brilho antes que se fosse. 
Fiquei imóvel como uma pedra. Soltei um suspiro que havia estado 
inconscientemente prendendo. Era o mesmo homem que me seguiu 
antes? Deve ser. Ele poderia ser um perseguidor, mas pensei que fosse 
da agência, mantendo um olho em mim. Poderia falar amanhã com J. 
Houve um rugido quando o trem R chegou na estação. Eu apenas 
esperei que se abrissem as portas, antes de entrar e me deixei cair no 
assento. De repente, me senti cansada até os ossos. E nãopude 
conseguir tirar o homem da plataforma de minha mente. 
 
Capítulo 3 
 Comerciante da morte 
 
 
 
 
Meu objetivo tinha um nome curto, algo assim como Cher. Seu 
codinome era Boaventura. Um resumo de seu dossiê estava no CD: 
Boaventura, de trinta e três anos, nasceu em Moscou e entrou na 
Força Aérea da Rússia. Segundo a Interpol possui cinco passaportes 
internacionais com os nomes de Johnny Danza, Juan Duarte, Juan 
Bono, John Best, Juan Bueno. Seu apelido era “O cachorro raivoso”. Um 
estudo recente da ONU o chama, o comerciante líder no mundo da 
morte, sendo o principal fornecedor de aviões e sistemas de armas da 
Europa do Leste, sub-administrador dos insurgentes da África e dos 
grupos terroristas como o Hamás, Hezbolá e Al Qaeda. 
Nos últimos sessenta dias, Boaventura havia comprado em 
excesso, 16 milhões de dólares em armas antiaéreas propulsadas por 
canhões de 122 mm, foguetes antitanque, mísseis antiaéreos e bombas 
de morteiros procedentes da Bulgária. As vendas se registraram em 
certificados de usuário final realizados no Estado africano do Togo. O 
informe da ONU também identifica Boaventura como a aranha que tece 
a rede de traficantes de armas à sombra, os corretores de diamantes e 
outros operativos. É dono de uma rede de empresas, de uma companhia 
de reparos de aviões nos Emirados Árabes Unidos e de uma companhia 
de voos charter em Miami, Flórida. Como um dos proprietários da Feira 
Aérea da Libéria (registrada na Guiné Equatorial, com sede em Sharjah, 
Emirados Árabes Unidos), tem uma das maiores frotas de aviões 
privados do mundo. Leva a cabo sua atividade, principalmente no 
estado do Golfo de Sharjah, que faz parte dos Emirados Árabes Unidos. 
Boaventura se encontra atualmente nos Estados Unidos, 
supostamente para comprar peças para sua coleção de arte tribal da 
Nova Guiné. Boaventura disse manter uma residência principal nos 
Bálcãs com sua esposa, Alicia e seu pai. Segundo o informe da ONU, em 
algum momento ocupou um alto cargo na KGB, inclusive, tão alto como 
um vice-presidente. Persistem os rumores de que ele está se separando 
de sua esposa e que solicitou o divórcio, mas não pode chegar a um 
acordo sobre as propriedades. Isso não foi confirmado. Sua fortuna 
pessoal se estima em milhares de milhões de dólares. Ademais, em seu 
complexo em Sharjah, Emirados Árabes Unidos, Boaventura mantém 
um escritório em um pequeno aeroporto no mesmo país. Também tem 
uma cobertura em Manhattan em Upper East Side. Além de sua paixão 
pela arte aborígine, - que se aproxima de uma obsessão (veja-se a nota 
 
 
ao pé da página trinta e três, por um agente do FBI, explicando a esta 
unidade a vontade fanática a recolher máscaras desenhadas para 
proteger ao proprietário da magia negra e estátuas de homens com pênis 
enormes), ele é um devoto do sushi japonês. 
Imprimi uma cópia do arquivo, de duzentas páginas, que incluía o 
relatório da ONU sobre Boaventura, um artigo do Washington Post em 
função da investigação e um informe do MI6 Britânico sobre as suas 
atividades com os talibãs no Afeganistão. Junto com o arquivo, o CD 
incluía uma imagem que parecia ter sido obtida com uma teleobjetiva. 
Mostrava um homem corpulento, de meia estatura, em pé junto a um 
motor de um avião a hélice da Air Damal. Boaventura estava vestido 
com uma calça caqui e seu rosto estava oculto por um chapéu 
camuflado, uma barba escura e óculos de sol espelhados de aviador. 
Que grande maldita ajuda, se tivesse que encontrá-lo em uma 
multidão. Pensei que se parecia com um sapo malévolo, que havia 
beijado uma centena de mulheres bonitas, que não puderam convertê-lo 
em um príncipe. O arquivo não dizia nada sobre o porquê de 
Boaventura ser meu objetivo ou o que devia fazer. Supus que seria 
informada na noite seguinte por J. Tinha o suficiente para enfrentar no 
momento... minha mãe. 
Eu estava estudando o material quando Marozia Urbano, 
conhecida pelos seus amigos como Mar-Mar se apresentou no meu 
apartamento e isso às 2 da madrugada. Não estou segura sobre a 
imagem que a maioria das pessoas tinha de uma mulher que havia sido 
amante de um Papa e mãe de outro (meu meio irmão, o Papa João XI, 
que se foi deste mundo há muito tempo). Alguns livros de história da 
igreja acusam a minha mãe de sedução e intriga. Eu posso imaginar 
seus sonhos de organizar planos, mas essa imagem de mulher fatal era 
pura ficção. Na vida real, minha mãe era uma bola de mil megawatts de 
energia de uns 5 pés de altura, morava em Birken, e com uma camisa 
tingida. Parecia ter uns dezoito anos de idade. Um signo da paz ao 
redor de seu pescoço dava testemunho desse fato incrível de que Mar-
Mar tinha amado a década de 1960, abraçando o “Faça amor e não a 
guerra” como uma vingança e decidiu que tinha encontrado uma 
declaração da maneira que queria seguir fazendo. Concentre-se, preste 
atenção para não abandonar os estudos. 
 
 
Durante esses dias quando o ar cheirava a maconha e a rua se 
enchia de gritos de “Diabos, não, não vamos,” Mar-Mar, com todas suas 
“excentricidades” da inesquecível noite, dormindo em um caixão e 
evitando todos os alimentos com o alho, tinha sido aceita, sem dúvida, 
pela primeira vez em sua vida. Como resultado disso, em sua mente e 
em seu estilo de vida, hospedava-se nesse momento, justo aí. A 
vergonha que me fez passar durante a década de 80... todavia recordo 
de me fazer ruborizar, inesgotável, indomável e decidida a meter-se em 
minha vida, no amor (ou na falta dele), ela é minha cruz... 
A campainha tocou lá embaixo e Mar-Mar gritou através do inter-
comunicador: 
- Teletransporte-me, Scotty13! – Tive tempo apenas de esconder o 
arquivo, antes que ela estivesse em minha porta. Abri e ela entrou na 
sala. – Olá Docinho, como vai? – ela riu. Ela deixou cair um cesto 
grande cheio de vegetais orgânicos em uma cadeira e me deu um abraço 
de quebrar os ossos. 
A parte superior da cabeça se aproximou de meu rosto. Encolhi-me 
e suavemente me coloquei fora de seu alcance. 
- Estou bem, mamãe, - disse-lhe – Como estás? 
- Tudo excelente. Não se importa se eu fumar? – disse. Irritava-me, 
mas só lhe entreguei um cinzeiro. Ela procurou em sua BIC e acendeu 
um cigarro que havia tirado de uma carteira de Camel de aspecto 
inocente. – Oh, mamãe, não vai fumar isso, - eu lhe disse com 
consternação. 
Ela riu e em meio à profundidade arrastada do odor penetrante da 
maconha, ela começou a cantar, “Eu não brilhava o sol quando já não 
estás”. Ela nunca se havia resignado a deixar-me em meu próprio lugar 
e já fazia assim por uns duzentos anos. Ela ainda tenta controlar a 
minha vida cada vez que pode. E nesse momento vi como ela olhou a 
correspondência que deixei na mesa de jantar. Ela casualmente passou 
pelo meu lado para ter uma posição mais perto da pilha de cartas para 
ler os nomes. Inclusive, passou a mão, por acidente, com certeza, 
através da pilha para dar uma olhada nos elementos da parte inferior. 
 
13 Frase do Star Trek 
 
 
Ela é incorrigível. Eu não disse nada sobre a sua bisbilhotice, mas não 
podia passar por alto a erva ruim que estava fumando. 
- Sabes que odeio ver-te doidona. – eu disse. 
- Sim, é francamente irritante, não? Escuta querida, me relaxa e é 
mais saudável que o álcool. Não é que oponho a isso tampouco. O doce é 
bom, mas o licor é mais rápido, - disse, e me sorriu. Era impossível. 
Dava-me por vencida e me preparei para o que vinha.- Assim, você 
conheceu a alguém ultimamente? 
- Não, mamãe. 
- Sabe, - ela disse - minha amiga Zoe tem um filho. É solteiro e... 
- E ele é um vampiro - terminei por ela. Lembrei-me de outras 
vezes que me tinha fixado com alguém e imaginei uma pálida criatura 
decadente,que ainda vivia com sua mãe. 
- Sim, é obvio que é um vampiro. Sabe como me sinto a respeito de 
sair com alguém fora da família. É uma receita para romper o coração. 
Quem mais pode não trair a sua confiança, à exceção de um dos teus? 
Quem pode saber quem e o que é e ainda te aceitar? A confiança é a 
base de qualquer relação vitoriosa. Vivendo uma vida dupla com um 
amante é o beijo da morte e não é nenhum jogo de palavras. 
- Assim, por que não segue o seu próprio conselho? – Respondi 
com sarcasmo em minha voz. Ainda amo a minha mãe, ela empurra os 
meus botões e eu quase sempre termino dizendo algo que lamento mais 
tarde. 
- Oh, querida, - disse com uma voz entrecortada e a tristeza se 
arrastou nela. – Houve outras considerações na hora de escolher a 
Giamo. Teu pai era um simples mortal, quando nos conhecemos, mas 
era um homem maravilhoso. Houve uma exceção com ele e, bem, ele 
necessitava de mim. Tinha planos, tinha sonhos. E nunca lhe menti. Ao 
menos depois da primeira vez que lhe mordi, nunca lhe menti. Ele me 
amava ainda mais depois que se aproximou de nós. Éramos uma equipe 
tão incrível, até que foi traído e... – Seus olhos começaram chorar. – Eu 
nunca vou deixar de ter saudades dele. Éramos almas gêmeas. E ele me 
deu você. As lágrimas começaram a rolar pelas suas faces. Eu nunca 
aprendo. Qualquer menção ao meu pai, Giambattista Castagna e é o 
 
 
início das obras hidráulicas. Nunca aprendi muito sobre ele com ela. Ela 
me criou sozinha e estivemos clandestinas grande parte desse tempo. Se 
me atrevesse a perguntar-lhe o aconteceu com meu pai e por que não 
estava conosco, ela simplesmente começava a chorar. Eu creio que suas 
lágrimas são genuínas, mas são uma maneira eficaz de por fim à 
conversa. Quando lhe perguntei sobre sua vida antes do meu 
nascimento, só disse algo como: “Devemos viver o presente. Concentra-te 
no agora, querida. O passado é passado”. Irrita-me muito que ela 
esconda muito de mim. Tudo o que realmente sabemos com certeza é 
que ela nasceu na Itália no século X. Nunca me mencionou a minha 
avó, ou qualquer de seus maridos, em primeiro lugar. Descobri que se 
havia casado muitas vezes (com muitos, aliás) antes que ela conhecesse 
o meu pai, por investigações que fiz em bibliotecas de todo o mundo. 
Tudo o que li só aprofundou o mistério ao seu redor. 
- Estou começando um novo trabalho amanhã. – disse, com a 
esperança de distraí-la antes que realmente começasse a berrar. Ela 
respirou fundo e as lágrimas se foram. 
- Ah, sim? Isso é maravilhoso, querida. Para quem você estará 
trabalhando? Que estará fazendo? – Eu sabia de memória minha 
identidade, mas a verdadeira prova seria se ela iria acreditar. 
- Estou trabalhando na catalogação e restauração de objetos do 
século XIX de teatro. Para o Serviço de Parques Nacionais. – Um olhar 
de... suspeita? Cruzou o rosto de minha mãe. 
- Como é isso? – Perguntou. 
- Um golpe de sorte, - disse, e fui para a cozinha para tomar algo. – 
Queres um copo de água mineral? – Ela assentiu. – Frizzante o 
naturale? – Lhe perguntei, em italiano. Se ela queria a água com gás ou 
não. 
- Frizzante, com uma rodela de limão se não for demasiado 
problema, - disse, atrás de mim. – Que tipo de golpe de sorte? 
- Te recordas de Cormac O’Reilly? – Abri a garrafa de Pellegrino, 
peguei uma rodela de limão em um copo de gelo e entreguei para Mar-
Mar. Ela pegou e me disse: 
 
 
- Te referes ao bailarino? Aquele que estava em Chorus Line há 
vinte anos atrás? Pensei que os dois não se falavam. 
- Bom, não, mas me encontrei com ele faz pouco tempo e nos 
reconciliamos. Ele está trabalhando neste projeto histórico de teatro e 
pensei que podia ser boa nisso também. É definitivamente uma janela 
quando já se viu os elementos realmente em uso. – Me sorriu. – O NPS 
continua me contratando, esta é só uma ocupação temporária, assim 
tomei o trabalho. Creio que é interessante. Tenho estado aborrecida 
ultimamente. 
- Mãos ociosas são os instrumentos do diabo, - Mar-Mar 
murmurou. – Sabes que sempre podes trabalhar para o Greenpeace. 
- Alguém mais vai ter que salvar as baleias, mamãe, - eu disse. – 
Este trabalho é suficiente para mim. Eu posso trabalhar à noite. 
- Desde que você esteja contente, - disse com um suspiro que 
significava que ela não estava e voltou ao assunto de sua vida. – Sabes, 
não seria nada demais você sair pelo menos uma vez com o filho de Zoe. 
Você poderia pelo menos tentar. Parece ser um bom garoto. 
- Eu não acredito mamãe. 
- A mim sim. Faça-o por mim. Olhe, não quero que tenha um 
encontro real. Venha à minha casa no próximo sábado. Vou convidar 
Zoe e Louis para tomar algo. 
- Louis? – eu disse. 
- É francês, da Louisiania. É um ramo da família, já sabes, mas é 
bastante agradável. 
Eu realmente não sabia nada desse ramo da família, exceto alguns 
rumores desagradáveis. Apesar de que não se preocupava com a 
linhagem de Louis, estava segura de que não seria como ele. Não me 
atraem a maioria dos homens vampiros. Em qualquer caso, eu sabia 
que minha mãe não se daria por vencida até que estivesse de acordo. 
 - Está certo mamãe. Beber vai estar bem – Uma risada iluminou o 
rosto de minha mãe. Sua missão estava cumprida, acabou rapidamente 
sua água mineral e anunciou que ia reunir-se com amigos em East 
Village. Depois de dar-me um rápido beijo nas duas bochechas, no estilo 
 
 
europeu, ela saiu. Devo admitir que minha casa ficou vazia quando ela 
saiu. 
Depois de algumas horas de meditação e de escutar as Variações 
Goldberg de Bach, caí em um sono profundo até ao amanhecer. Quando 
finalmente ouvi o alarme. Devo ter tocado o botão de repetição de cinco 
ou seis vezes sem recuperar a consciência plena, enquanto o crepúsculo 
caía. Tinha menos de uma hora para vestir-me e para andar por vinte 
ruas. Coloquei um suéter e um par de calças jeans. Não me importo de 
ser pressionada. 
Onde uma vez havia estado uma dor surda em meu coração, agora 
me sentia ligeira e mareada pela adrenalina do otimismo. Podia ser uma 
espiã muito boa eu sabia, Qualquer coisa que J quisesse que eu fizesse 
me sentia confiada de poder manejá-lo. Não passou muito tempo antes 
de dar-me conta de como estava enganando a mim mesma nesse 
momento. Mas a ignorância é uma felicidade e eu nunca me senti tão 
feliz como me sentia nesse dia. Nunca mais dormi tão profundamente e 
por tanto tempo. 
J estava me esperando na sala de conferências. Um sorriso em 
meu rosto, meus passos rápidos e me achei diante da porta. Ao ver seu 
rosto sombrio me senti como que golpeada contra um muro de tijolos. 
- Sente-se, senhorita Urbano, - disse categoricamente. Eu sentei-
me. – Temos muito material para repassar. Você encontrará seu objetivo 
amanhã, então não tem muito tempo para preparar-se. – Ele evitou os 
meus olhos. Busquei os seus, mas não pude fazer contato, então olhei a 
sua forte mandíbula, notei a sombra de uma barba que começava a 
surgir, olhei o movimento de sua boca. 
Comecei a imaginar como me sentiria com esses lábios traçando 
pelo centro de meus ombros desnudos. Uma sensação quente e 
arrepiante corria acima e abaixo de minha espinha dorsal, onde seus 
lábios me deixavam beijos... 
- Srta. Urbano, quando se comunicar conosco, - disse acabando 
com meus doces sonhos, - você deve utilizar seu nome de código, 
Hermes. 
- Ah! O deus grego. O mensageiro. E qual é o seu? 
 
 
- Anel mestre. 
- Assim é quem manda. 
– O que seja. Não escolho os nomes, senhorita Urbano, - disse ele. 
– Agora, continuando com isto. Você representa um colecionador 
privado de arte aborígine. O colecionador é real. A arte é real. 
Boaventura sabe da coleção e quer muitíssimo comprar artigos dela. O 
colecionador está resistindo em ter contato direto com ele. Boaventura 
tem tentado. Foi

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