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Crônicas de Darkwing Livro 1 Beyond the Pale de Savannah Russe Disponibilização em Espanhol: NovelVampire Envio: Safira TRADUÇÃO: Giselda / Safira REVISÃO INICIAL: Ady Miranda REVISÃO FINAL: Fabrícia FORMATAÇÃO: Ady Miranda Índice Argumento…………………………..004 Capitulo 01…………………………..005 Capitulo 02…………………………..018 Capitulo 03…………………………..033 Capitulo 04…………………………..049 Capitulo 05…………………………..069 Capitulo 06…………………………..087 Capitulo 07…………………………..103 Capitulo 08…………………………..111 Capitulo 09…………………………..140 Capitulo 10…………………………..156 Capitulo 11…………………………..171 Capitulo 12…………………………..189 Capitulo 13…………………………..206 Capitulo 14…………………………..217 Capitulo 15…………………………..231 Capitulo 16…………………………..250 Capitulo 17…………………………..266 Capitulo 18…………………………..272 Prévia do próximo livro.....………..275 Comentário da Revisora Fabrícia: A personagem principal de livro, apesar de ser uma vampira com mais de 500 anos, é uma mulher moderna, com todas as dúvidas e vícios dos nossos tempos,o mocinho, quando está com ela, é um cara meloso, romântico. Um livro com pouca ação uma vez que se trata de um livro de espiões... Argumento A vampira Daphne Urbano escapou da morte, fazendo seu papel perfeito, como espiã para a Equipe Darkwing. Sua primeira missão é aproximar-se de um comerciante de armas inescrupuloso. Mas quando Darius, um sexy assassino de vampiros, começa a perseguí-la, ambos se debatem entre o desejo e o dever. Original. Mas sua ágil jovem presa é também sua última tentação... Capítulo 1 O Tio Sam quer me ver? Eu estava entre as relações, 180 e alguns anos entre as relações, para ser exata. Não longos beijos doces, não “Eu te amo”, sem gemidos de êxtase ou a liberação de arrepios desde a rebelião grega contra os otomanos Turcos. Havia sido um pouquinho mais de uma temporada de seca. Chamei-a “O Sahara” quando cheguei a ela com minhas amigas. Alguém pensaria que já estaria acostumada a uma existência solitária no momento. Depois de tudo, ser uma mulher vampiro tende a desalentar as relações a longo prazo porque, inclusive, uma aventura casual pode ter consequências graves. Por isso, minha última aventura quase me mata, literalmente. O que me pôs fora de tudo isso, de compromisso homem-mulher, foi em 1824, quando eu era uma beleza de cabelos escuros em Missolonghi. O assunto tinha todo o potencial para ser um grande amor, um para os livros de história. Logo, praticamente, da noite para o dia, terminou mal. Não, isso é um eufemismo. Para dizer a verdade, terminou tragicamente. Falando a verdade, deixe-me dizer-lhe, não acredite nem por um momento na história de que o grande poeta e revolucionário George Gordon, Lorde Byron1, morreu de uma febre. Não posso crer que o público o comprará, mas claro as pessoas acreditaram em Nixon quando disse: “Eu não sou um delinquente”. A verdadeira causa da morte de Byron foi uma mordida de amor que saiu mal, se infectou, para ser medicamente exata. Recordo o incidente como se fosse hoje... Nós dávamos um passeio de mãos dadas, perto da pousada onde ele havia estabelecido sua residência temporária. Entramos no jardim de rosas, arduamente criado pelo dono da pousada, nos arredores desta cidade cheia de mosquitos. Essa não foi a primeira vez que andávamos por ali, mas foi a última. Esse dia de Abril se havia desvanecido em uma bruma púrpura a ponto de converter-se em uma noite negra aveludada. Uma ligeira brisa agitou a folhagem; o ar estava pesado com o aroma das flores. - Fale-me mais a respeito de Londres, George. – Disse, abanando- me febrilmente e não só pela cálida temperatura. – Sente falta? É difícil estar tão longe das festas? – Assegurei-me de que caminhava muito perto dele, minha respiração tal qual uma pétala de flor acariciava sua bochecha. - As festas são uma distração agradável à solidão mais aterradora de um poeta. – Disse vagamente. Então olhou fixamente para o Golfo de Patras, deitado e imóvel no oeste. Um barco estava ancorado longe da costa. Eu facilmente podia distingui-lo entre as ondas dispersadas de prata que saltaram e agarraram a última luz. Não sei se Byron viu o barco, mas acredito que sim. Flutuava ali no ponto de partida de uma viagem longa, as sombras de seus mastros se estendiam para o leste no sol poente. - Então, por que você saiu de lá? – Perguntei-lhe. Sua cara ficou voltada para o golfo, quando respondeu. - Me cansei de escutar os músicos contratados, atrás de uma fileira de palmeiras artificiais, em lugar do instrumento único, as puras cordas do meu coração. Sabia que era hora de ir-me. 1 Nota da Rev.:George Gordon Byron, 6º Barão Byron Ele é famoso pelas suas obras-primas, tais como Peregrinação de Childe Harold e Don Juan. A fama de Byron não se deve somente aos seus escritos, mas também a sua vida — amplamente considerada extravagante — que inclui numerosas amantes, dívidas, separações e alegações de incesto. Vendo-lhe de perfil, sua cara, inexplicavelmente triste, eu não podia manter meus olhos nele. Byron tinha uma ampla testa, lábios sensuais, pestanas longas e escuras sobre os olhos. Era tão finamente talhado como um deus grego, certamente ele tinha um aspecto melhor em seus retratos, que acredito lhe fazem parecer gay. Na vida real era um homem sem dúvidas, a testosterona transbordando, cheio de energia, ativado por assumir riscos. Admito o que eu via de perto, suas roupas sujas de poeira e sujeira enegrecida na parte interna de seu pescoço. Linhas profundas saiam de seus olhos, sua pele estava pálida e seca. E quando ele se fatigava, seu pé torcido doía, aumentava a sua claudicação. Ultimamente George se via especialmente cansado, dissoluto de haxixe demais e mulheres demais. Ainda assim, tão pouco na vida parece tão agradável nas luzes brilhantes e no frio escrutínio, como isto faz sob a luz das velas e os olhares quentes trocados sobre os vidros de vinho. Byron estava esta noite incrivelmente bonito. Eu estava encantada. Eu tremia por estar ao seu lado. Ele podia ter tantas mulheres, ele havia tido tantas mulheres, mas durante as últimas semanas, ele havia querido a mim, só a mim. No entanto, tinha horas que parecia muito distante em seus pensamentos, cruzando alguma geografia interior de sua mente. - Não vamos falar da Inglaterra. Falar me aborrece, - disse. – Estou muito mais interessado nisto. – Ele aproximou seu rosto do meu, beijou- me com força e por muito tempo, sua boca tinha o sabor do vinho. Quando se deteve, ele olhou-me nos olhos. – Ela caminha na beleza, como a noite, - recitou, - dos climas sem nuvens e céus estrelados... – Eu quase desmaiei. Este homem, duro e faminto, tinha chegado a lutar pela independência Grega. Ele era um herói. Eu estava aniquilada. Estava quente. Eu era coquete. Ele tinha trinta e seis. Eu um pouco mais de 274. - Daphy, - disse, - vamos, coisa doce, me dê um pouco. Você sabe que quer. OH, sim, eu queria! Eu ri e lhe permiti mover a longitude de seu corpo contra mim. Conhecia sua reputação e eu sabia o que ele procurava, mas não me importava. Ele gemeu e sussurrou com uma voz rouca e baixa. - Menina, você vai ser a minha morte. Já se passou muito tempo desde que eu desejei tanto a uma mulher. Há alguma coisa sobre você... algo... algo louco, mau e perigoso para conhecer. – Ele pegou a minha mão. À medida que se entrelaçavam nossos dedos, seu anel mordeu minha carne. A sensação me fez estremecer. Ele melevou a um banco, colocou um braço ao redor de minha cintura. Ainda recordo a sensação dos músculos duros de seu antebraço, através da fina seda de minha blusa. Eu não o detive. Sua boca era como seda ao baixar seus lábios em meu peito agitado. Meu sangue estava correndo, minha cabeça girava, e foi então que a lua iluminou a pele branca na parte posterior de seu pescoço. Não pude resistir. Eu queria, eu tentei, mas me deixei levar pelo entusiasmo... e eu o mordi. Perdi todo o controle, bebi demais, demasiado rápido. Ele me olhou com olhos aturdidos e logo caiu na inconsciência. Pobre George. E essa e a verdade sobre a sua morte, mas não esperes ouvir falar disso na Lit 1012. Ainda me dói falar dele. Depois de apenas escapar de Missolonghi, antes que os companheiros de Byron cravassem uma estaca em meu coração, decidi que o celibato era o curso mais sábio. Mas até eu, decidida como sou, tenho meus limites. Eu superei os lamentos. Uma menina tem suas necessidades e certamente eu tinha as minhas. Uma das necessidades que tinha, era conseguir uma nova identidade a cada vinte anos ou menos. Os vampiros não envelhecem. É o lado positivo, nunca vou precisar usar Botox. E o lado negativo: tenho que seguir mudando minha certidão de nascimento. E assim foi como me capturaram. A terra gira sobre seu lado escuro. Assim é o inverno. A gente pode conseguir quase tudo em Nova Iorque. Inclusive, um vampiro pode conseguir uma identificação falsa e, quando chega o momento, todos acodem ao Sid. Empreendi uma caminhada miserável até o apartamento na Rua 9 entre as avenidas B e C. O bairro me deu calafrios. E é obvio tinha que ir depois do anoitecer. Todos nos queixamos, mas Sid só disse: - E o que quer? A Park Avenue? - Sabia 2 Nota da Rev. Curso básico de literatura que podia ser assaltada. Apenas nunca esperei o que estava prestes a acontecer... O dia tinha sido tempestuoso, a chuva e a nevasca tomavam turnos para apedrejar as ruas e essa noite a temperatura caía direto. Enquanto caminhava penosamente subindo as escadas do metrô sobre a rua St. Marks Place, me perguntava se a primavera voltaria algum dia. Meti minhas mãos nos bolsos. O vento parecia cortar através de mim. Meu sangue tem pouca densidade. Tenho frio facilmente. E essa noite tinha um pressentimento... um muito mau pressentimento que se balançou como um verme em meu estômago. Algo não estava bem. Algo era perigoso ali fora nessa noite. Aprendi a ouvir meus instintos, assim eu vigiava as pessoas ao meu redor, enquanto me dirigia para leste pela rua 9. Não era tarde, apenas cerca de sete horas, embora os edifícios já estivessem no escuro. As calçadas brilhavam com as luzes das primeiras chuvas. - Maldito seja! – disse em voz alta. – Maldito seja o inferno, que puta frio! – tremi, o frio úmido se filtrava pelas solas finas de minhas botas Nine West. Caminhei duas quadras, quando ouvi passos atrás de mim. Alguns adolescentes negros passaram rápidos e me ultrapassaram, dando-se cotoveladas uns nos outros e girando ao redor, rindo e falando em sua gíria meio dançando, a metade correu para a outra quadra. Mas isso não foi o que ouvi. Meu ouvido é extraordinariamente discriminatório. Atrás de mim um tipo diferente de passos mantinha uma distância, um ritmo constante. O medo caiu sobre mim como uma tela negra que baixava. Passei pelas janelas de uma adivinha. Uma mulher cigana se apoiou no batente da porta, fumando um cigarro na porta aberta. - Strega!3 - gritou-me e se encolheu para trás, apertando o crucifixo pendurado no pescoço. - Puta! – Respondi-lhe, mostrando os dentes. Dei-lhe um bom susto, pareceu-me. Eu não gosto de ciganos. São todos uns ladrões. 3 Bruxa Não diminui o passo. Queria chegar ao Sid tão rápido como fosse possível. Cruzei a avenida A, tive que fazer todo o uso de meu autocontrole, para não sair correndo. Cheguei à Avenida B. Outra meia quadra e cheguei à escada da frente do edifício do Sid. Subi as escadas de dois degraus, detive-me acima e olhei para atrás à quadra. Um homem jovem estava no lado distante de uma quadra de basquete cercada me olhando. Eu sabia, sem dúvida nenhuma, que eram seus os passos atrás de mim. Afastou-se rapidamente. Eu não vi sua cara, mas um rabo-de-cavalo de cabelo loiro apareceu por debaixo de uma boina de cor negra. Não duvidei mais. Coloquei-me dentro de vestíbulo do Sid e toquei a campainha da porta de seu apartamento. Ninguém respondeu. O medo se desabou sobre mim nesse momento. Segui pressionando o botão. Maldito seja! Sid, onde te encontras? Finalmente a porta fez um ruído e se abriu. Voei por ela. Esta se fechou atrás de mim. Tomei algumas respirações profundas e tranquilizadoras. Disse-me mentalmente que me acalmasse que não era nada. O homem não era ninguém. Não tinha nada a ver comigo. Sempre me ponho ansiosa quando tenho que ver o Sid. A necessidade de conseguir uma certidão de nascimento atualizada resolvia muitos de meus assuntos. Significava que outros vinte anos tinham passado, mas seguia sendo a mesma. As pessoas que uma vez me preocupavam se foram. Eu ainda estava aqui. Um profundo abismo de solidão se abriu dentro de mim. Sempre sou forasteira. Um monstro. Um monstro. Incapaz de ter as balizas que marcam as vidas de outras mulheres, eu joguei um manto de piedade sobre mim mesma. Entretanto, para ser honesta, não sou sozinha. Muitos de nós vemos o Sid. Muitos mais do que alguma vez você poderia suspeitar. Aliviada de estar dentro. Comecei a subir a escada, desabotoando o casaco enquanto subia. O corredor cheirava a repolho e à urina. Nunca respiro profundamente na subida desta escada. Maldito Sid por trabalhar em tal esgoto. A iluminação era débil. Era melhor assim. “O escritório” do Sid estava em um apartamento de vizinhança no quarto andar, o tipo que tem uma banheira na cozinha, coberta com um tabuleiro para fazer uma mesa. Ele não vivia ali. Eu nunca soube onde ele vivia, se em um refúgio para indigentes, ou Scarsdale, ou vagando por aí, nunca soube, nunca disse nada. Quando cheguei ao topo da escada, pude ver que tinha deixado a porta de seu apartamento aberta. Abri e entrei. - Sid? É Daphne Urbano, sua entrevista das sete e quinze. – disse enquanto caminhava por seu apartamento. A luz não estava acesa. Senti um pânico repentino quando alguém me agarrou. Jogaram-me contra uma parede e permaneci ali com uma mão entre meus ombros. Meus braços foram puxados para trás de minhas costas e o frio do aço duro de umas algemas cravou-se em minhas mãos. - Olá, senhorita Urbano, - disse uma voz sedosa enquanto me empurrava pela sala de estar e me derrubava sobre uma cadeira de madeira dura. - Quem é você? O que você quer? – Comecei a tremer dos pés a cabeça. De dentro de meu abrigo vinha um som como o ruído de asas esvoaçantes. Comecei a levantar-me. Um homem em um terno pôs a mão em meu ombro para manter-me quieta. Polícia, estava escrito sobre ele todo. Em frente a mim havia outro homem. Era de meia idade, bem vestido com um terno cinza, claramente Savile Row4, e recém-passado. Tinha as pernas cruzadas, pelo que pude ver, calçava sapatos Gucci, já que um sapato estava a somente cerca de dois pés de meu joelho. O homem se sentou em um dos sofás verdes do Sid, o tipo tinha braços largos e era mais baixo, tinha um perfil de bloco, muito anos 50. Seu rosto estava iluminado por um remanso de luz amarela de uma luminária de mesa. Seu cabelo grisalho era longo, mas ordenado dando- lhe um aspecto artístico. Estava barbeado. Seus traços eram regulares, mas suaves, nada notável, nadapouco usual. Tinha as unhas curtas. Ele usava um relógio de prata, suponho que era de marca. Ele todo era limpo, neutro e inodoro. A única coisa fora do comum era que a metade de seu dedo indicador havia desaparecido. No geral parecia relaxado sentado imóvel, estudando-me. 4 Nota da Rev.: rua tradicional de Londres onde se encontram os mais famosos alfaiates. - Senhorita Urbano, - disse, fazendo contato visual comigo e não piscava em absoluto, como um lagarto ou uma serpente. – Na verdade, estivemos observando-lhe. Estávamos esperando para nos pormos em contato com você em um lugar onde tivéssemos... digamos, privacidade e anonimato, sem ser observado. Por quê? Para colocá-lo de forma simples, o governo dos Estados Unidos a quer. E tenho uma oferta que você não pode recusar. – ele apresentou um meio sorriso quando disse isso. Mas não estava sendo divertido. – Isso não é exato - completou. – Você pode recusar nossa oferta. Com certeza, pode. Assim sendo, sua negativa significaria que está cansada de viver. - Não entendo – disse. O homem se sentou muito perto, para que pudesse sentir seu perfume. Acredito que usava Versace. Eu gosto das coisas boas. Prestei atenção a ele. Ocorreu-me que o homem queria silenciar certa pomposidade determinada sob seu aspecto normal. Nada sutil ou conservador, ele usava Versace. Ele não era o que parecia ser. Também me dei conta de que o policial junto a mim, com sua mão em meu ombro, tinha um aroma ácido como o medo. Conhecia esse aroma e sabia que ele tinha medo de mim. Mas a ideia só ondeava por minha mente como uma asa de morcego, centrada no controle de meu próprio medo. O medo é sempre o inimigo. Uma vez que floresce no pânico, a razão se perde. O cérebro primitivo assume o controle e isto é o voo ou a luta. Quais? Havia ao menos três homens nesta sala. Dois deles tinham me agarrado, e um devia estar de pé atrás de mim na penumbra da sala. Sustentava uma arma? Um revólver? Uma estaca? Algo. Para fugir teria que chegar à porta ou à janela. Eles tentariam deter-me. Eu escolheria lutar. Ainda que presa por algemas podia lutar. Mas deveria combater? Deveria converter-me no monstro que vivia dentro de mim? Concentrei-me em minha respiração para acalmar-me e o homem sentado esperava por minha resposta. - Senhorita Urbano, - ele disse outra vez, cravando seus olhos em mim. – Se você está pensando em escapar, não o faça. Escute-me. Sabemos quem você é, o que é. Não somos caçadores de vampiros. Não a capturamos com o fim de matar-lhe. Necessitamos de você e pensamos que você necessita de nós. Queremos oferecer-lhe uma nova vida. Uma vida melhor, nós cremos. Uma com um propósito, com um significado. Nada do que dizia tinha sentido. Eu sempre temi o dia em que ia ser capturada. Algo como isto. Mãos cruéis agarrando-me, logo uma estaca de madeira causando-me uma dor insuportável, atravessando minha pele, rasgando minha pele, rompendo minhas costelas, e perfurando meu coração. Depois, a escuridão, a poeira, o esquecimento. Mas, o que era isto? Quem eram estes homens? - Não entendo. O que vocês querem de mim? – Disse quando meu corpo começou a tremer. Lutei contra o impulso de transformar-me. O pânico se acercou um pouco mais. Um pouco mais e não seria capaz de detê-lo. Converteria-me em outra coisa, a coisa com presas e garras e instintos animais. A mão gorda em meu ombro se fez mais pesada, aumentando seu controle. - Senhorita Urbano. – A voz do homem sentado, tinha uma borda de autoridade. – Quero ser o mais direto possível. Trabalho para uma agência de inteligência do governo dos EEUU. Eu sou o que eles chamam: um recrutador. Você é um vampiro. As pessoas a temem. Algumas pessoas a perseguem. Mas você é também uma mulher bonita com talentos extraordinários. Este país, esta nação está em guerra. Nossa forma de vida, nossa existência mesmo, está ameaçada por pequenos grupos de terroristas, tanto dentro de nossas fronteiras como fora delas. Eles chamam a este país de o Grande Satanás. Estes fanáticos tomam pessoas inocentes na busca de seus objetivos. Atacaram em 11 de setembro. Eles atacarão de novo e, se conseguirem, o que vão fazer vai ser pior, muito pior do que o que aconteceu em 11 de setembro. Nosso trabalho é nos assegurarmos de que não tenham êxito. Necessitamos que você nos ajude a detê-los. “Você fala, nós acreditamos, treze idiomas e viveu em muitos países. Seu coeficiente intelectual é tão alto que é classificada dentro de um por cento das pessoas neste planeta. É forte e tem a astúcia suficiente para ter escapado à detecção e captura durante quase quinhentos anos. Srta. Urbano, você é admirável. Mais importante ainda, sua família, sua mãe para ser exato, teve uma longa participação na diplomacia internacional... - Deixe a minha mãe fora disto, disse-lhe - meu medo retrocedeu em uma explosão de cólera repentina. – Tudo o que fez, aconteceu faz séculos. O homem sacudiu a mão de uma maneira desdenhosa. - Como você quiser. Meu ponto é que você está familiarizada com a intriga, tomou-a com o leite de sua mãe, por assim dizer. Você viu a traição e a mentira toda a sua vida. Você foi traída e alternadamente traiu a outros. As profundidades da depravação humana e do mal obscureceram sua alma e espírito, ainda assim, tem sobrevivido e, mais que isso, prosperou. Seus sentidos são sobrenaturais. E, oh sim, pode voar. O que queremos de você, Srta. Urbano, é que seja uma espiã. Para nós. Para a justiça. Para a bondade. - Uma espiã? – Fiquei muda. – Uma espiã? Para os Estados Unidos? Estás de brincadeira? - Senhorita Urbano, nunca falei mais sério. Nós a escolhemos. Podemos e o faremos terminar aqui mesmo, agora mesmo, se for necessário. Essa é sua opção de Hobson5. Você pode tomar o que estamos oferecendo ou nada em absoluto. Por nada, me refiro ao final de sua existência. Morte. Extinção. - Quer dizer... – Disse, começando a sentir o frio, a derrota. Como o gelo em pleno inverno, me sentia frágil, sem vida e em silêncio. – Ou trabalho para você ou morro. - Isso é parcialmente correto. – disse o homem, inclinando-se para mim. – Se você decidir trabalhar conosco... necessitamos que você queira trabalhar para nós. Acredite no que está fazendo. E isso de não morrer não é suficiente. Necessita ter um compromisso total. Eu ri, não era um som bonito. - Compromisso, com você? Você está me obrigando a fazer isso. Você me disse que, ou trabalho para você ou você vai me matar. Agora me diz que devo sentir que é meu golpe de sorte, uma nova carreira, a oportunidade de lutar pela verdade, a justiça e o estilo americano. – Eu ri de novo, e me pareceu quase como um soluço, minha voz, como vidros quebrados. – Quer que acredite que posso ser uma super heroína para os EUA e não mais uma vilã. Sério. Não posso mover uma alavanca dentro de mim e de repente trocar quem sou. 5 Expressão que implica que só há uma opção possível. O homem frente a mim parecia aumentar de tamanho, emanava energia, até quase ser incandescente. Ele me mantinha com o puro poder de suas palavras, as palavras de um verdadeiro crente. - Senhorita Urbano. Você é feliz? Alguma vez foi feliz? Encontra-se satisfeita? Sua vida tem sentido? Vou responder por você. Não. Para cada pergunta. Não. Não. Não. Não. Por quê? Porque você viveu uma vida frívola. Uma vida desperdiçada. Você não tem feito nada importante em quase quinhentos anos. Você vive para seu seguinte horário com a manicure, para ir às compras, para os sonhos românticos de amor, ou pelo prazer momentâneo do bom sexo. Se você não pode ter isso, conforma-se com o último filme noCineplex ou vendo um episodio dos Sopranos na HBO. Você tem muito para dar. E não dá nada. Você faz – você tem feito...nenhuma diferença neste mundo. Você não está desperdiçando uma vida, está desperdiçando dez vidas ao mesmo tempo. Não pude respirar. Senti como se tivessem me esbofeteado. Eu sabia que tudo o que ele disse era certo. Sempre soube disso. Era o que me acossava na noite. Cada vez que me permitia refletir sobre a minha existência, me sentia assustada. Sentia-me vazia. Eu não tinha nem amor, nem trabalho. Acreditava em alguns vagos ideais, mas não tinha paixão por nenhum. Não senti orgulho de quem eu era, do que havia feito. Eu estava envergonhada, desgostosa com minhas necessidades e com os atos que havia cometido. E, exceto pelo horror que havia inspirado e a dor que havia causado, não havia feito nada de importante. Minha vida não tinha sentido. Havia pensado em dar um fim nisso? Sim. Havia pensado alguma vez acerca do compromisso? Por um curto tempo, uma vez, fazia muito tempo, tratei de ter um compromisso com um homem. Havia fracassado tão estrepitosamente que havia endurecido a couraça ao redor de meu coração. No entanto, um compromisso total com algo maior que o indivíduo, com algo maior que um eu mesmo insignificante? Para uma causa? Para um governo? Uau! Teria problemas em identificar-me com um governo. Havia visto muitos governos irem e virem. - Srta. Urbano. – O homem começou a falar de novo. – Acredito que é capaz de dar muito mais do que dá. Eu e vários dos meus colegas acreditamos que tem o potencial de grandeza. Nem todos os meus colegas estão de acordo. Alguns deles sentem que você é um risco. Um risco imoral e perigoso. Eu não acredito nisso. Acredito que, dada a oportunidade, pode se sobressair. Não só pode salvar sua própria alma, mas também a esta nação, uma democracia e a milhões de pessoas da dor e da morte. Não lhe estou pedindo que se comprometa com o governo, Srta. Urbano, se você pensar isso. Eu lhe estou pedindo que se entregue a um bem maior. Aos ideais sobre os que fundaram este país. À verdade que têm como evidência. Ao direito a ser livre, à bondade, Srta. Urbano. Pela vida. Oferecemos-lhe a oportunidade de deixar para trás a escuridão, os desejos escuros, o sangue que a leva a atormentar- se. Sabemos que você luta contra eles. Sabemos que não matou nas últimas décadas. Por isso é que estamos sentados aqui e já não está sem vida, como um pedaço de lixo no chão com uma estaca em seu coração. Sabemos que dentro de você, Srta. Urbano, há algo puro e bom. Você pode ser um diamante impecável, não uma coisa coberta pelas sombras. Pode ser uma heroína mais verdadeira que seu Byron nunca poderia ter sido se houvesse vivido... - Como você sabe disso? Como sabe tudo isso sobre mim? Você sabe sobre meu passado. Parece que, inclusive, conhece meus pensamentos, - disse em voz baixa. Sentia-me estranha. Meu coração batia e meu alento estava estrangulado em minha garganta. Era como a sensação que sentia no último segundo antes de transformar-me: uma misteriosa dúvida, uma grande pausa entre duas existências, uma expectativa silvestre, a continuação, um país livre de ruptura. - Sabemos tudo sobre você, senhorita Urbano - o recrutador respondeu com suficiência. – A verdade sobre o passado nunca poderá chegar aos livros de história, mas quase sempre se registra até o mais mínimo detalhe. E quanto a como sabemos sobre você e sua vida... sua carência de dedução lógica me decepciona, Srta. Urbano. Você pensa que os seguidores de Byron não falariam disso entre eles? Eles sabiam o que você era. Eles a perseguiram. Eles tentaram matá-la, não? Você escapou por pouco. E não é provável que alguém que estava ali, com problemas em sua alma, caiu de joelhos na igreja e com temor e tremor contou sua história a seu sacerdote? E logo, Srta. Urbano, o sacerdote disse o quê? Escreveu ao bispo? E o bispo fez o quê? Você tem ideia. - Assim que, sim, Srta. Urbano, a informação sobre você, e sobre muitos outros, sempre é escrita por alguém. Se pode pôr em um arquivo. O arquivo pode estar oculto nas catacumbas de Roma, ou encerrado em uma abóboda do Vaticano, mas está aí para aqueles que tem o poder para obtê-los. E nós temos nossas formas de encontrar os arquivos, Srta. Urbano. Somos muito bons no que fazemos. Sabemos quem e o que realmente são. E nós a escolhemos. Surpreenderam-me suas palavras. Eu estava cega para não me dar conta do quão visível meu caminho tinha sido. - E uma coisa mais, Srta. Urbano, - disse o recrutador em uma voz mais forte. -Sim? – disse, ainda aturdida pela revelação de meu passado. A escuridão da sala me encheu, brilhos de pânico perseguiam através de minha mente, como sombras, e eu, em uma das poucas vezes em minha vida, tive realmente medo. - Nem pense em não aceitar nossa oferta e logo escapar - disse ele, suas palavras foram como uma queda de pedras, cada uma dita com um estalo seco cheio de faíscas. – Estivemos lhe observando 24 horas, os sete dias da semana com o fim de lhe recrutar. Continuaremos fiscalizando seus movimentos 24 horas e os sete dias da semana com o fim de lhe aniquilar se você declinar da oferta e fugir. Você tem sido visível para nós durante muito tempo. Por favor, entenda – e escute com cuidado – não há nenhum lugar para onde ir, em nenhum lugar você poderá se ocultar, não pode escapar de nós. Ouviu-me? Eu gaguejei. - Tenho que pensar. Necessito de algum tempo. Você está pedindo mais do que qualquer outra pessoa já me pediu antes. - Desafortunadamente, Srta. Urbano, a única coisa que não posso dar-lhe é tempo para pensar. Está parada em uma encruzilhada e a fera está atrás de você. É necessário dar um salto de fé e fazê-lo agora. E nesse momento, eu sabia. Tive que saltar desde a borda e em queda livre em algo de que eu não sabia nada. Eu havia estado em Nova York em 11 de setembro. Nesse dia e nos dias que se seguiram a destruição do World Trade Center, me sentia impotente e afetada pela dor. Agora eles estavam me dando a oportunidade de fazer algo que eu não podia fazer antes. Poderia parar outro ataque. Podia ser importante de uma forma magnífica, positiva. Uma nova porta se abria para mim. Um novo caminho existia para mim, assim, eu o tomei. - Bem – disse. – Sim, vou ser uma espiã. E me levantei, no caminho havia uma vida diferente. Capítulo 2 O salto no abismo Recebi instruções para comparecer às seis da tarde do dia seguinte no número 175 da Quinta Avenida, também conhecido como Prancha de Ferro de Manhattan e eu devia ir ao escritório dos meios de comunicações ABC S.A. Ali eu encontraria o meu controlador, conseguiria minha atribuição e começaria a orientação. Disseram-me que meu controlador se chamava J. Então os homens me deixaram ir. Simplesmente, me permitiram sair do apartamento de Sid. Com certeza estavam me seguindo. Por certo que estavam me observando. Agora sabia que nunca me deixariam em liberdade. Mas, o quê? Nunca tinha sido livre, sempre sendo refém, do medo ou da ansiedade e das rígidas “regras” de minha existência. Uma vez dentro do meu apartamento no lado Oeste, não fui direto para a cama, inclusive quando já era tarde. Depois do pôr do sol, os vampiros não dormem. Rodamos pela noite. Eu fiquei em casa esta noite, sem sossego, através da madrugada eu andava feito um tigre no zoológico, pensando demais sobre o meu passado. Estava profundamente preocupada de que existisse um arquivo sobre mim e que havia existido durante séculos. Finalmente me dei conta de que não tinha meios para eliminá-lo e tinha que aceitar o que não podia mudar. Liguei num canal de filmes antigos e vi velhos filmes de Hitchcock6. As horasavançavam lentamente. Minha mente vagava, ainda que meu corpo permanecesse imóvel. O sono não vinha, inclusive depois de que os dedos rosados da aurora começaram a tingir o céu da noite com raios de cor vermelha. Fechei bem as persianas e, durante as horas do dia, - quando em geral descanso - esfreguei o piso do banheiro, limpei a fundo a geladeira e reorganizei os móveis da sala de estar. As mulheres, cheias de energia nervosa e diante da espera, não ficam ao redor das janelas ou olhando fixamente ao espaço, igual aos homens. Temos que estar em movimento. Inclusive enquanto estamos esperando diante do forno de micro-ondas para esquentar uma xícara de café, lavar os pratos, limpar o mostrador, pôr a roupa na máquina de lavar. Sabemos o muito que se pode obter em dois minutos. Todo o dia, enquanto esfreguei e limpei, pensei no trabalho. E quanto mais pensava mais, excitada me sentia. Logo as borbulhas de antecipação me sustentaram em cima, levantando meu espírito. Dei-me conta de que queria fazer isto, eu realmente o queria. Não necessitava do salário, é obvio. Minha mãe tinha herdado uma parte de sua considerável fortuna fazia séculos. Minha conta bancária na Suíça era grande, meu seguro de propriedades, minhas prósperas ações. Entretanto, durante o ano, o aborrecimento ou a necessidade de adaptar-me e aparecer como um humano normal, haviam-me levado a manter muitos postos de trabalho. Alguns haviam sido medianamente interessantes para mim. Este apesar das circunstâncias da contratação, encheu-me de confiança e esperança. Nesta tarde passei horas preparando-me para a reunião. Fui olhar meu armário. Os jeans eram demasiado casuais. Um terno, demasiado sério. Finalmente, decidi ir toda de negro era a roupa adequada para uma espiã. Calças de gabardine negra, uma blusa de caxemira negra e botas de Donald Pliner com salto de oito centímetros. Contrariamente a crença popular, eu e todos os vampiros que conheço pessoalmente, 6 Nota da Rev. : Alfred Joseph Hitchcock cineasta anglo-americano considerado o mestre dos filmes de suspense. raramente nos vestimos de preto. Nossa pele é demasiado pálida. Acredito que o preto me faz parecer um cadáver e isso não é bom. E mais, eu não gosto dessa onda de góticos. Não tenho piercings. O ressentimento, a loucura diante do mundo, a aparência morta, não é a imagem que espero apresentar. Eu tinha trabalhado muito duro para mesclar-me e parecer normal. E eu nem sequer tinha uma capa, ou ao menos não a tenho nos últimos cem anos. Os vampiros não são como os Amish7, ou os Hasidim8 ou o Conde Drácula. Não estamos obrigados a nos vestir no estilo de nossos antepassados. Posso comprar na Bloomingdale’s em Nova York e aproveitar o catálogo de Neiman Marcus, quando não posso ir fisicamente a Galeria de Houston, Texas, que prefiro mais que as lojas de Dallas. A Galeria de Houston é meu centro comercial favorito, em absoluto. Posso obter uma cesta de alta costura, só pensar em Dolce & Gabana, Gucci, Kenneth Cole, Nine West, Chocolates Teuscher da Suíça, todos juntos, todos em um centro comercial. Quem projetou a Galeria, merece o prêmio Nobel das compras. Mas estou divagando. Para minha reunião com J, coloquei um lenço italiano, de cor dourada e escarlate no pescoço para suavizar a dureza do preto. O vermelho é uma de minhas cores favoritas. Considero que é uma cor de poder, mas não descarto que, subconscientemente, seja uma forma de apelar à minha libido ou apetite. Também acrescentei um amplo cinto enfeitado de uma cor vermelha mogno. Sou de estrutura magra, não tenho muito busto, mas tenho uma cintura pequena. Se você a tiver, acentue. Mantive uma maquiagem sutil, embora soubesse que me via como um milhão de dólares. Como toque final, coloquei meu anel favorito, feito durante o Renascimento em Florência. São duas cabeças de pantera criadas a partir de diamantes, uma cabeça de pantera está fixada em ouro branco frente a um conjunto em ouro amarelo e cada um tem os olhos verdes esmeralda. Não é um anel sutil, mas então nunca pus muita fé na sutileza. Como roupa exterior, escolhi um casaco de três quartos de couro preto. Senti confiança, segura de mim mesma e com muita vontade de ir. Até que conheci meu chefe. 7 Nota da Rev.: grupo religioso cristão anabatista baseado nos EUA e Canadá, conhecidos por seus costumes conservadores como o restrito uso de equipamentos eletrônicos. 8 Nota da Rev.: corrente mística do judaísmo Às 5:45 da tarde, saí vinte metros antes da Terceira com a Quinta Avenida. Ao sair do túnel escuro a tênue luz do dia, que havia me acordado, me inundou plenamente. A ansiedade umedeceu um pouco de meu entusiasmo, esfriando-me realmente, como as temperaturas previstas para cair à noite. Empurrei as portas de vidro do Edifício Flatiron e abri caminho através da multidão de trabalhadores que iam saindo e entrei no elevador vazio. Ele subiu rangendo e sacudindo. Uma editora de Nova York ocupava os andares mais altos do numero 175 da Quinta Avenida. A ABC Media era uma companhia falsa em uma planta muito baixa. Encontrei o escritório, toquei a campainha, a porta se abriu e entrei em uma sala de conferências longa e estreita. Não havia nada ali. Três portas fechadas se alinhavam na parede esquerda. Uma mesa de madeira quadrada ocupava o centro da sala de conferência, onde parei olhando para todos os lados, deixando que meu instinto me alertasse e reagiria a qualquer perigo em potencial. De trás de uma das portas fechadas ouvi uma rádio tocar algo do Fantasma da Ópera. Senti que havia seres vivos por perto, mas não senti maldade neles. Tudo que senti foi o ar viciado e o odor mofado de caixas de papelão. Uma cafeteira vazia, um pote de leite em pó Cravo sem lactose, e uma xícara de plástico cheia de sobras de açúcar sobre a mesinha perto das janelas que eram quase opacas pela sujeira. As janelas ocupavam quase toda a parede direita, que se inclinava para dentro, da parte dianteira do edifício, fazendo com que a sala tivesse uma forma trapezoide. Uma porta com um cartaz de “Diretor” estava entreaberta no final da sala de conferências. O edifício Flatiron tem a forma de uma cunha de grande quantidade de queijo. Considerado como o arranha-céu mais antigo, existente em Nova Iorque, o edifício chega a seu ápice na parte dianteira na esquina da Broadway, onde percorre a Quinta Avenida. Nesse lugar triangular, como o capitão Ahab9 na proa de seu navio baleeiro, o Pequod, o homem que assumi que era J, ficou quieto como uma estátua, olhando pela janela, de costas para mim. Não se moveu quando me aproximei dele. Chamei à ombreira da porta junto a sua porta aberta. Sem voltar-se para me saudar, o homem disse: 9 Personagem de Mobi Dick - Entre - e o fiz. Fiquei aí por todo um comprido minuto. Finalmente, olhou por cima do ombro para mim. Seus olhos eram azuis, frios como uma geleira e duros como pedra, estavam cheios de ódio puro. - Sente-se, - ordenou. Obedeci. Meu rosto se manteve inexpressivo. Se este era o jogo, tinha a intenção de ganhar. Mas quando o homem voltou a olhar para as janelas, mantendo as costas bruscamente para mim, levantei as sobrancelhas, como dizendo, Que diabos é o seu problema? Estava me alterando rapidamente, mas mantive minha voz baixa e neutra quando lhe disse: - Sou Daphne Urbano. Disseram-me que me apresentasse para você. - Sei exatamente quem você é e por que está aqui. – Respondeu com uma voz de aço e ferro. Pouco a pouco se separou das janelas voltando-se para mim, mas manteve a mesa entre nós dois. Ele se levantou,eu estava sentada. E como tinha seus bons 6,3 pés de altura, se encurvou sobre mim. Foi uma jogada clássica de poder. Ele continuou falando e me soou como um sargento. - Agora eu gostaria de deixar uma coisa bem clara desde o princípio. Eu não a queria, ou a qualquer um de seu tipo, trabalhando nisso. Eu acredito que são maus. Mas também sei que há um mal neste mundo muito maior que você. E trabalharia até com o Diabo, se isso fosse necessário, para derrotá-lo. Mas entenda, meu trabalho não é estender-lhe a mão ou ser seu amigo. Agora que já faz parte oficialmente desta operação, tenho um trabalho... um único trabalho para assegurar- me de que tenha êxito. Vidas estão em jogo aqui, Srta. Urbano, potencialmente milhões de vidas inocentes e o estilo de vida Americano mesmo. Assim, eu deixo de lado qualquer sentimento pessoal. Espero que faça o mesmo. Não gosto de você, mas eu a protegerei. Farei tudo o que for necessário para mantê-la viva. Não me importa se você gosta de como eu sou, mas tem que escutar-me e confiar em mim. Temos que ser uma equipe. Eu vou ser duro, mas justo. Não espero que você dê cem por cento nesta operação, mas cento e dez por cento, ou cento e vinte por cento, o que for necessário para acabar com os bastardos que estamos procurando. Seus olhos sustentaram os meus durante todo o tempo. E isso foi um grande engano. Suas palavras me incomodaram em certa altura, mas já tinha sido insultada antes por bastardos mais arrogantes que este J. E não me intimido facilmente. Já escutei os gritos de meu pai e sustentei por esta razão que este pequeno discurso não me assustou, nem sequer me impressionou muito. O verdadeiro problema era que à medida que seus olhos se pousavam sobre os meus, comecei a me conectar com ele. Sentia-me como se estivesse caindo em um frio lugar azul em seu interior e fazia tanto frio que não sei como não se queimou. O gelo de sua alma estava em chamas, e pude vê-lo. Minha pele estremecia como se a eletricidade se tivesse posto a correr através dela. O ar carregou-se, como acontece antes de um raio. Esta foi uma química que não havia experimentado nas últimas décadas, uma dinâmica sexual que podia complicar a vida mais que a imaginação. Acredito que se deu conta do que estava acontecendo, porque se deteve bruscamente e desviou o olhar. Pôs-se a trabalhar em sua mesa como se estivesse buscando uns papéis, mas não antes que me desse conta do rubor que subia de seu pescoço. O que posso dizer? Os pescoços são uma zona erógena para mim. E o seu era musculoso, grosso e tentador. Tentei afastar os pensamentos que se infiltravam através das sombras de minha mente. - Permita-me apresentar-lhe aos demais - disse, sem me olhar. – Então vamos começar. - Os outros? – eu disse. – Que outros? Agora ele me olhou e seu olhar era condescendente, quase compassivo. - Acredita, de verdade, que é a única a quem recrutaram? Sim, Srta. Urbano, há outros. - Mas eu pensava... – comecei a dizer. - Você pensou que era especial - disse ele, cortando-me. – Você pensou que era a eleita. É o que eles dizem a cada vampiro que recrutam. Mas se isto a faz sentir-se melhor, não recrutaram muitos como você. A maior parte de vocês, simplesmente, eles os aniquilam. Então, considere-se afortunada. Você subiu de categoria, ou como dizemos, fez o corte final. Você ainda está viva. Logo, saiu detrás da mesa, passou junto a mim e entrou em uma sala de conferências. Eu o segui. Abriu a primeira porta à direita. - Seu escritório - disse. Passei a cabeça pela porta. Não vi nada, exceto uma velha mesa de metal com um computador portátil nela, uma cadeira de madeira e um triturador de documentos. Uma luz fluorescente zumbia. Isso foi tudo. Um palácio real. - Você parece surpresa, Srta. Urbano. Sim, você necessitará de um escritório. Terá trabalho administrativo para fazer de vez em quando e terá material classificado para repassar. E o que acontece aqui, fica aqui. – Deixou a porta aberta e me disse que tomasse assento junto à mesa de conferências. Assim que me sentei, ele bateu na porta em frente ao meu escritório. – Srta. Polycarp, nós estamos preparados para começar - disse ele. A porta foi aberta e uma mulher incrivelmente bela e loira apareceu. Ela tinha lábios deliciosamente vermelhos, um bronzeado profundo e um sorriso que cegava. Havia algo nela bastante brilhante, estava tão radiante. - OK, chefe, estou a caminho, - disse irreverentemente para J, que já estava batendo na porta fechada atrás dela. - Sr. O’Reilly? Por favor, venha e una-se a nós - disse. O’Reilly? Pensei. Eu conheci um vampiro chamado Cormac O’Reilly. Havia estado no coro de uma dúzia de espetáculos da Broadway, mas nunca pareceu capaz de dar seu “grande salto”. Era autoindulgente, absorto em si mesmo e totalmente superficial. Surpreendeu-me que tivesse sido contratado. A loira se aproximou e deslizou em uma cadeira junto a minha. - Oi!, amiga. – Ela se dirigiu com a voz com acentuado sotaque do sul. – Meu nome é Benny Polycarp, abreviatura de Benjamina. – Qual é o seu? – Ela olhou na direção de J, então me deu uma piscada de olhos, dizendo em voz baixa – Então, o que pensas de nosso intrépido líder? - Daphne Urbano. Meus amigos me chamam de Daphy - falei. Eu não podia deixar de sorrir de novo para ela, enquanto em voz baixa lhe disse – Creio que foi feito para as regras, é homem de livros e creio que deve ter irritado alguém grande, já que está aqui conosco. E isto é um pouco do tema, mas, te importa que te pergunte algo pessoal? - Não - ela sussurrou. – Dispara. - Como diabos você conseguiu esse bronzeado? - Oh, doce! De um pote. Vou a um SPA de dia e me dão um tratamento chamado Pula V Glo, uma massagem... e a aplicação de um autobronzeador em uma sessão deliciosa - disse, e riu. – Como loira, me via como uma albina, com esta pele de ventre de pescado que todos nós temos. Não é que não seja bem para ti, - esclareceu rapidamente. – Você está grandiosa de preto, com esse look Irlandês, se não se importa que lhe diga isso. - Obrigado pelo elogio - disse-lhe - mas acredito que esses bronzeadores, me fariam ficar com a cor amarelada, cítrica, você sabe. Nunca vi ninguém que ficasse tão bem. Eu me acovardei para tentá-lo. Pensei que me veria como se tivesse um problema de fígado. Entretanto, sem exagerar, ninguém adivinharia nunca que essa cor saiu de uma garrafa. J começou a caminhar para nós e rapidamente sussurrou-me o nome de seu salão. Enquanto isso, um homem jovem, sigilosamente sentou-se no final da mesa. Era Cormac, mas antes que pudesse dizer alguma coisa, J se sentou à cabeceira da mesa, olhando para Benny e para mim. Evidentemente o bate-papo era proibido. - O Senhor O’Reilly e a senhorita Polycarp já se apresentaram - disse. E pelo que se vê, a Srta. Urbano, já conhece Sr. O’Reilly. Olhei para Cormac e disse: - Nós nos conhecemos há bastante tempo. Então voltei a cabeça para J e disse baixinho para Cormac: - O que você está fazendo aqui? – Ele se limitou a me olhar de mau humor e não respondeu. J pegou uma caixa de papelão do chão e colocou sobre a mesa diante dele. Dela tirou três pacotes grandes. - Posso ter a sua atenção? O nome da equipe é Darkwing. O pacote que estou passando a cada um de vocês lhe falará sobre a sua designação. Contém um CD, com um dossiê completo do destino individual e/ou da organização com que estarão envolvidos. Depois de terem a oportunidade de revisar a informação, me reunirei com vocês individualmente para responder as suas perguntas e dar-lhes instruções. Srta. Urbano, tenho que reunir-me com você amanhã à noite, aqui, lá pelas 5 da tarde ou assim que possa. Sei que você tem que esperar o pôrdo sol. Você tem que estar preparada para começar. Espero que revise o dossiê e venha preparada com perguntas. Sua operação é de particular urgência. Eu não havia podido abrir meu pacote, mas Benny e Cormac já haviam aberto um caderno preto cada um. - O que é isto? – Cormac disse enquanto abria à primeira página do seu. – Não pode estar falando sério. Supõe-se que devo ser um espião, arriscando minha vida para salvar a humanidade. Não posso estar lendo isto. - Se pensava que você ia ser como James Bond, Sr. O’Reilly, lamentavelmente, isso não é o que tínhamos em mente para você. - Diabos, sim! Quero ser um agente secreto que salta para a ação. Lutando com os tipos maus. Mas o que tenho aqui? Você me quer – e tem que estar brincando, porque tenho esta coisa sobre crucifixos - quer que eu me infiltre em uma ordem católica, uma dessas ordens que usam o cilício10 ao redor da coxa, e que têm uma corda no pescoço para golpear-se? Tenho lido a respeito destes meninos no Código Da Vinci11. 10 Cilício – instrumento de autoflagelação. Trata-se de uma pequena corrente de metal leve, com pontas, que se coloca ao redor da coxa. O cilício é incômodo – sim, porque do contrário não teria razão de ser –, mas de modo nenhum atrapalha as atividades normais de uma pessoa, e muito menos causa sangramentos. 11 Nota da Rev.: Livro de Dan Brown Mas não é exatamente minha preferência para um bom momento. – Olhando repugnado, Cormac fechou de repente sua pasta e a separou. - Este trabalho não se trata de agradar a você, Senhor O’Reilly. Trata-se de fazer o que se deve ser feito. Sua área de operações é de fato o Opus Dei12, seu quartel geral novo, aqui em Manhattan. Quando ler no material, verá o que queremos fazer, mas Senhor O’Reilly siga com o verdadeiro material do dossiê e esqueça o Código Da Vinci. Dado que sua missão tem um tempo mais generoso que o da Srta. Urbano ou da Srta. Polycarp, não é necessário satisfazer suas demandas imediatamente. Eu gostaria de vê-lo dentro de uma semana a partir de hoje, aqui nesta sala, às seis horas da tarde. E Sr. O’Reilly, sou consciente de que tem preocupações especiais. Vamos trabalhar ao redor delas. Veja que você terá um pouco de tempo, por favor, use a semana que vem, para desembaraçar-se de suas obrigações e enredos pessoais. - Oh, isso é muito lindo - não podia deixar de dizê-lo em voz alta. – Cormac, em uma ordem católica. O mesmo homem que não foi capaz de manter suas calças fechadas por mais de vinte e quatro horas nos últimos trezentos anos. - Cala-te, Daphy. - Cormac disse. – Todavia estás irritada porque te ganhei aquele doce garoto, digamos, embaixo do teu nariz em Veneza? - Temos uma agenda aqui, - J interrompeu: - Se vocês têm um problema pessoal, resolvam isso depois. – Ele deu um olhar severo para ambos. – Srta. Polycarp, - J continuou, - Eu vou me reunir com você em quarenta e oito horas, aqui, também lá pelas 5 PM, ou como você possa manejar. Sua tarefa, bem como a da Srta. Urbano, tem que fazer-se tão rápido como seja possível. - Sim, senhor. – Benny disse, enquanto lhe dedicava um sorriso deslumbrante e uma saudação fingida. - No seu pacote tem um CFR, Código de Regulamentos Federais, tem também um Guia de Emergências para Empregados e várias outras 12 Nota da Rev.: é uma instituição da Igreja Católica polemizada pelos meios de comunicação. publicações da OPM, Escritório de Administração de Pessoal, que contém informações detalhadas sobre seu status de empregada do governo dos EE.UU. Se lhe foi outorgado um uniforme do governo em qualquer momento, por favor, recorde que não pode utilizar sua posição e seu uniforme para benefício pessoal ou com fins lucrativos. Você também encontrará alguns formulários que necessita preencher e devolver para mim. - Srta. Urbano, você não tem que terminá-los para amanhã, mas sim, o quanto antes. Como lhe disse, vou falar de cada atribuição em detalhe, com cada um de vocês, um por um. Mas no geral, há uma regra inquebrável. O que se faz em uma operação é segredo. Vocês não podem dizer nada, e quero dizer nada, sobre seu trabalho para mais ninguém. Vocês terão um tema de capa para dizer a seus parentes e companheiros. Atenham-se só a isso. Não se desviem disso. Não confiem em ninguém. Se você vai a um psiquiatra Senhor O’Reilly, acredito que você precisa parar. Cancele sua próxima entrevista e não retorne. A agência lhe oferecerá um apoio terapêutico em caso de necessidade. - O quê? – Cormac quase gritou. – Tenho um ataque de ansiedade quando meu psiquiatra vai a Hampton por um fim de semana. Acredito que vou hiperventilar. J ignorou o dramatismo de Cormac. - Vocês são agentes que operam no que se chama cobertura profunda... Cada um de vocês está em uma operação escura. Isso significa que inclusive, outras agências do governo não sabem, nem tampouco os órgãos de controle no Congresso. Oficialmente sua operação não existe. Vocês não existem, como um espião. Sob a máscara, vocês são assessores técnicos em um projeto de restauração histórica para o Parque Nacional. - Que gracioso, - disse Cormac. – Podemos trabalhar, quem sabe, na restauração de sua mãe, Daphy. Quantos anos ela tem, oitocentos anos agora? - Cala-te Cormac! Se há um corpo que necessita de restauração, é o seu. Porque não falamos dessa extremidade caída... O rosto de Cormac estava contraído pela fúria, quando abriu a boca para responder. - Srta. Urbano, Sr. O’Reilly, - J falou com sua voz de sargento. – Eu não vou pedir-lhes que se calem novamente. Não temos muito tempo, Tenho que completar esta orientação dentro dos próximos quinze minutos. - Espere um minuto, espere em minuto, - disse Benny, saltando de seu assento – Espere um minuto! Esta é a orientação? Quando vamos aprender a usar explosivos e executar através de um labirinto, de memorizar os objetos e contra-senhas para lembrar, como nesse programa de televisão, mestre dos espiões? Eu quero aprender coisas legais de espião. - Sim - eu apartei. – Pensei que você nos enviaria ao campo de treinamento ou algo assim. - Queres dizer que não vamos ter um treinamento básico? – falou Cormac. – Não vou avaliar a todos esses deliciosos jovens apertados em suas calças de ginástica? E nesse momento a cara de J havia mudado para uma cor vermelho cereja. Pensei que ia golpeá-lo na nossa frente. Ele fechou de repente seu punho sobre a mesa. - Srta. Polycarp, por favor, sente-se. Todos vocês, façam silêncio e me escutem. Agora! Vocês não vão ser Seals da Marinha, não vão estar nas Forças Especiais e isto não é um programa de televisão! Todos vocês têm memória fotográfica e não acredito que seja sequer uma questão de se podem ou não recordar uma contra-senha. Vocês já são peritos em vários tipos de artes marciais. Senhor O`Reilly, ganhou torneios de kickboxing. Srta. Polycarp, você deu aulas de Tae kwon Do. E Srta. Urbano, foi uma ninja no Japão feudal, em um ponto em... em... Como diabo se chama o que fez na sua carreira? J fazia espuma virtualmente, estava muito irado. Começou a falar mais alto à medida que continuava. - E além de sua destreza nas artes marciais, uma vez que trocaram, tem presas e garras e três vezes a força humana. Cada um tem mais histórias de matar, que qualquer soldado que eu conheço. E, francamente, eu não posso imaginar como vão ter necessidade de porem em prática seu treinamento, quando você, Srta. Polycarp, estará trabalhando como uma especialista em diamantes, você Sr. O’Reilly, estará em uma ordem religiosa, e você Srta. Urbano, será uma negociante de arte aborígene. - Tudomais que necessitam saber para sua orientação, está em suas pastas. Srta. Urbano, nos veremos em 24 horas. Pode se retirar. – ele grunhiu. Com isso, J se levantou, recolheu sua pasta e saiu de seu escritório, dando uma pancada na porta atrás de si. - Ohhh, alguém simplesmente teve um ataque de histeria. – disse Cormac. - Creio que ele não gosta de nós, - disse Benny. – Que lástima! Ele é um tipo tão lindo. Não o meu tipo, mas lindo. Não seguiria com esse comentário. Era melhor mudar o tema. - Antes de irmos, Cormac, conte-me, como você se meteu nisso? Nunca lhe vi como um espião. - Daphy, querida, meti-me da mesma forma que você. Eles me armaram uma armadilha. Arranjaram-me um falso encontro com este delicioso fisiculturista do clube atlético. Então slam, bam, obrigado. Eu estava algemado antes de tentar dar um passo. Pensei que fosse me afogar antes que o suplício tivesse terminado. Presumo que te ofereceram as mesmas opções. A princípio, eu ia lutar, mas você me conhece, tenho estado incrivelmente entediado ultimamente. Minha carreira está estagnada e se eu for a uma audição em que o diretor me diga que eu sou muito baixo, eu vou perder o controle. Pelo menos esta gente reconhece meu talento para a espionagem. Por isso me escolheram. – Balançou o cabelo comprido de novo dramaticamente. – Não posso imaginar por que lhe escolheram, Daphy. - OH, claro, Cormac, - disse com sarcasmo. Foi eleito por seu talento para a espionagem. Todo mundo sabe que não dançaste profissionalmente em anos e sua última aparição na Broadway teve lugar atrás do conjunto dos gatos. Foi parte da equipe de produção do diretor. E ainda assim não conseguiu um papel, assim acredito que uma vez mais, foi considerado muito pequeno... - Puta! – Cormac chiou, de pé e caminhando ao redor da mesa de conferências para me atacar, quando Benny gritou: - Hei vocês dois! Já basta! Cormac se deteve em seco e olhou. Benny continuou falando. - Assim está melhor. Todos nós temos que lembrar que estamos nisto juntos. Temos que ajudar-nos uns aos outros. Creio que vocês dois tem uma história, mas seja lá o que for, esqueçam. Eu sou a menina nova do quarteirão. Eles trouxeram-me de Branson, Missouri. A um vampiro em Branson não é que só importa um apito. Para ser honesta, tenho medo. Se me enganar, não só incontáveis pessoas morrerão, como eu também serei aniquilada. E eu gosto de viver. Assim, vamos tratar de trabalhar juntos. - Amém, irmã. – disse Cormac. – Você tem razão. - Concordo. – disse. – Trégua? – Eu disse para Cormac. - Trégua. Venha, me dê um abraço, Daphy. – disse, enquanto se aproximava de mim. - Não se aproxime, Cormac, - disse, mas deixei que ele e Benny se aproximassem de mim para um abraço em grupo. Então tomamos nossos papéis e saímos do edifício, juntos. Depois de tudo, me sentia malditamente bem. Meu primeiro dia como espiã, tinha algo arriscado com meu chefe, não estava aborrecida e não sentia pena de mim mesma. Estava desejando chegar ao meu apartamento e colocar o CD em meu computador. Os passageiros de Nova York, sabem que há duas entradas para o metrô na rua 23. A bela entrada do centro no Edifício Flatiron, no lado oeste, ao lado da Quinta Avenida. Para chegar à linha alta da cidade, o passageiro tem que cruzar a Broadway no lado oriental do edifício, com seis pistas cheias de carros, taxis e ônibus de três ruas diferentes. Esta noite estava relativamente vazio desolado. Caminhei rapidamente através da Broadway e desci as escadas do metrô. Ao descer, me pareceu ouvir que o trem chegava à estação, assim peguei o Cartão do Metrô de meu bolso e passei pela roleta como uma louca. Quando entrei na plataforma pude ver a cidade no centro das pistas de limpeza através da estação sem deter-me. Não era meu trem. Mas em minha pressa, tinha esquecido minhas próprias medidas de segurança, a regra número um; olhar ao redor antes de entrar em qualquer zona concreta. É uma coisa de Nova Iorque tanto como uma tática de sobrevivência de vampiro. Agora estava ali, na penumbra, nesse meio metro misterioso que parecia uma cova e emoções antigas que quis esquecer, ignorar e sufocavam por nascer dentro de mim. Olhei para cima e imaginei a roupagem parecida com um morcego em um teto de rocha com o gorjeio todo ao redor de mim, aguardava o voo que viria com o pôr do sol e aquela antecipação que acordava minha fome e desejos de sangue. Sacudi minha cabeça e tratei de afugentar aqueles pensamentos, me concentrando em alguns anúncios vistosos na parede para uma série do HBO. Tratei de passar por cima do forte aroma fétido da água de chuva que se estendia entre os charcos das pistas, o odor de urina do lugar onde os bêbados haviam urinado fora da plataforma, às faixas, os gritos dos ratos nos túneis que ficavam na parte alta da estação. Mas meus sentidos foram atraídos pelo lado escuro e as andanças noturnas que rondavam minha alma. Resisti a esse empurrão parcialmente, por que fiquei na área mais iluminada, dentro da vista dos trabalhadores do trânsito na cabine do outro lado das catracas. Tive – especialmente – fortes sentimentos que se agitam através de mim na noite. Olhei com impaciência para o relógio. Caminhei pela borda da plataforma para olhar a escuridão do túnel, com a esperança de ver o farol de um trem amarelo que vinha. Foi então que me dei conta de um homem, a mais ou menos uns trinta metros mais abaixo na plataforma, esperando o trem. Jurei para mim mesma que ele não estava ali ainda há pouco. Estava com uma jaqueta de aspecto caro, de aviador marrom de couro e calças jeans. Ele se colocou de pé com uma arrogância preguiçosa, com as mãos nos bolsos, com os pés ligeiramente separados. Mas o que me surpreendeu foi seu gorro preto e o rabo de cavalo loiro. Meu primeiro pensamento foi que este era o tipo que me havia seguido até o apartamento de Sid. Meu segundo pensamento foi que não estava segura. Como se ele soubesse que eu o estava olhando, lentamente se voltou para mim. Olhou-me, com atenção deliberada, com os olhos ardendo com intensidade. Meu corpo ficou tenso. Meu coração começou a bater em meu peito. Os sentimentos estavam rompendo sobre mim como ondas. Meus instintos me advertiram que deveria ter cuidado, estava pronta para correr. Minha mente racional tomou o aviso que, ele era arrumado, quase um modelo, exceto por uma cicatriz franzida ao longo de sua maçã do rosto. Quase no mesmo momento me dava conta de que estava provocando o alarme no estômago. Tinha os punhos fechados e seu rosto se via – eu não estava segura do por que, zangado, talvez predador. Fosse o que fosse, não me sentia no ambiente. O cabelo da minha nuca arrepiou e, de improviso, senti um impulso fugaz de me transformar. A razão pôde mais que esse reflexo e pensei em voltar a subir à rua muito transitada e parar um táxi. Mas, enquanto estava tomando essa decisão, o homem se moveu. Dei um passo para trás, para as catracas. Pensei que vinha em minha direção, mas fez uma coisa mais estranha. Olhou ao seu redor até que viu os barrotes de ferro giratórios da plataforma e abriu o ferrolho que havia neles. Em um instante golpeou com a mão e passou através deles, saindo pelo outro lado e correu para a escada, seu rabo-de-cavalo fez um último brilho antes que se fosse. Fiquei imóvel como uma pedra. Soltei um suspiro que havia estado inconscientemente prendendo. Era o mesmo homem que me seguiu antes? Deve ser. Ele poderia ser um perseguidor, mas pensei que fosse da agência, mantendo um olho em mim. Poderia falar amanhã com J. Houve um rugido quando o trem R chegou na estação. Eu apenas esperei que se abrissem as portas, antes de entrar e me deixei cair no assento. De repente, me senti cansada até os ossos. E nãopude conseguir tirar o homem da plataforma de minha mente. Capítulo 3 Comerciante da morte Meu objetivo tinha um nome curto, algo assim como Cher. Seu codinome era Boaventura. Um resumo de seu dossiê estava no CD: Boaventura, de trinta e três anos, nasceu em Moscou e entrou na Força Aérea da Rússia. Segundo a Interpol possui cinco passaportes internacionais com os nomes de Johnny Danza, Juan Duarte, Juan Bono, John Best, Juan Bueno. Seu apelido era “O cachorro raivoso”. Um estudo recente da ONU o chama, o comerciante líder no mundo da morte, sendo o principal fornecedor de aviões e sistemas de armas da Europa do Leste, sub-administrador dos insurgentes da África e dos grupos terroristas como o Hamás, Hezbolá e Al Qaeda. Nos últimos sessenta dias, Boaventura havia comprado em excesso, 16 milhões de dólares em armas antiaéreas propulsadas por canhões de 122 mm, foguetes antitanque, mísseis antiaéreos e bombas de morteiros procedentes da Bulgária. As vendas se registraram em certificados de usuário final realizados no Estado africano do Togo. O informe da ONU também identifica Boaventura como a aranha que tece a rede de traficantes de armas à sombra, os corretores de diamantes e outros operativos. É dono de uma rede de empresas, de uma companhia de reparos de aviões nos Emirados Árabes Unidos e de uma companhia de voos charter em Miami, Flórida. Como um dos proprietários da Feira Aérea da Libéria (registrada na Guiné Equatorial, com sede em Sharjah, Emirados Árabes Unidos), tem uma das maiores frotas de aviões privados do mundo. Leva a cabo sua atividade, principalmente no estado do Golfo de Sharjah, que faz parte dos Emirados Árabes Unidos. Boaventura se encontra atualmente nos Estados Unidos, supostamente para comprar peças para sua coleção de arte tribal da Nova Guiné. Boaventura disse manter uma residência principal nos Bálcãs com sua esposa, Alicia e seu pai. Segundo o informe da ONU, em algum momento ocupou um alto cargo na KGB, inclusive, tão alto como um vice-presidente. Persistem os rumores de que ele está se separando de sua esposa e que solicitou o divórcio, mas não pode chegar a um acordo sobre as propriedades. Isso não foi confirmado. Sua fortuna pessoal se estima em milhares de milhões de dólares. Ademais, em seu complexo em Sharjah, Emirados Árabes Unidos, Boaventura mantém um escritório em um pequeno aeroporto no mesmo país. Também tem uma cobertura em Manhattan em Upper East Side. Além de sua paixão pela arte aborígine, - que se aproxima de uma obsessão (veja-se a nota ao pé da página trinta e três, por um agente do FBI, explicando a esta unidade a vontade fanática a recolher máscaras desenhadas para proteger ao proprietário da magia negra e estátuas de homens com pênis enormes), ele é um devoto do sushi japonês. Imprimi uma cópia do arquivo, de duzentas páginas, que incluía o relatório da ONU sobre Boaventura, um artigo do Washington Post em função da investigação e um informe do MI6 Britânico sobre as suas atividades com os talibãs no Afeganistão. Junto com o arquivo, o CD incluía uma imagem que parecia ter sido obtida com uma teleobjetiva. Mostrava um homem corpulento, de meia estatura, em pé junto a um motor de um avião a hélice da Air Damal. Boaventura estava vestido com uma calça caqui e seu rosto estava oculto por um chapéu camuflado, uma barba escura e óculos de sol espelhados de aviador. Que grande maldita ajuda, se tivesse que encontrá-lo em uma multidão. Pensei que se parecia com um sapo malévolo, que havia beijado uma centena de mulheres bonitas, que não puderam convertê-lo em um príncipe. O arquivo não dizia nada sobre o porquê de Boaventura ser meu objetivo ou o que devia fazer. Supus que seria informada na noite seguinte por J. Tinha o suficiente para enfrentar no momento... minha mãe. Eu estava estudando o material quando Marozia Urbano, conhecida pelos seus amigos como Mar-Mar se apresentou no meu apartamento e isso às 2 da madrugada. Não estou segura sobre a imagem que a maioria das pessoas tinha de uma mulher que havia sido amante de um Papa e mãe de outro (meu meio irmão, o Papa João XI, que se foi deste mundo há muito tempo). Alguns livros de história da igreja acusam a minha mãe de sedução e intriga. Eu posso imaginar seus sonhos de organizar planos, mas essa imagem de mulher fatal era pura ficção. Na vida real, minha mãe era uma bola de mil megawatts de energia de uns 5 pés de altura, morava em Birken, e com uma camisa tingida. Parecia ter uns dezoito anos de idade. Um signo da paz ao redor de seu pescoço dava testemunho desse fato incrível de que Mar- Mar tinha amado a década de 1960, abraçando o “Faça amor e não a guerra” como uma vingança e decidiu que tinha encontrado uma declaração da maneira que queria seguir fazendo. Concentre-se, preste atenção para não abandonar os estudos. Durante esses dias quando o ar cheirava a maconha e a rua se enchia de gritos de “Diabos, não, não vamos,” Mar-Mar, com todas suas “excentricidades” da inesquecível noite, dormindo em um caixão e evitando todos os alimentos com o alho, tinha sido aceita, sem dúvida, pela primeira vez em sua vida. Como resultado disso, em sua mente e em seu estilo de vida, hospedava-se nesse momento, justo aí. A vergonha que me fez passar durante a década de 80... todavia recordo de me fazer ruborizar, inesgotável, indomável e decidida a meter-se em minha vida, no amor (ou na falta dele), ela é minha cruz... A campainha tocou lá embaixo e Mar-Mar gritou através do inter- comunicador: - Teletransporte-me, Scotty13! – Tive tempo apenas de esconder o arquivo, antes que ela estivesse em minha porta. Abri e ela entrou na sala. – Olá Docinho, como vai? – ela riu. Ela deixou cair um cesto grande cheio de vegetais orgânicos em uma cadeira e me deu um abraço de quebrar os ossos. A parte superior da cabeça se aproximou de meu rosto. Encolhi-me e suavemente me coloquei fora de seu alcance. - Estou bem, mamãe, - disse-lhe – Como estás? - Tudo excelente. Não se importa se eu fumar? – disse. Irritava-me, mas só lhe entreguei um cinzeiro. Ela procurou em sua BIC e acendeu um cigarro que havia tirado de uma carteira de Camel de aspecto inocente. – Oh, mamãe, não vai fumar isso, - eu lhe disse com consternação. Ela riu e em meio à profundidade arrastada do odor penetrante da maconha, ela começou a cantar, “Eu não brilhava o sol quando já não estás”. Ela nunca se havia resignado a deixar-me em meu próprio lugar e já fazia assim por uns duzentos anos. Ela ainda tenta controlar a minha vida cada vez que pode. E nesse momento vi como ela olhou a correspondência que deixei na mesa de jantar. Ela casualmente passou pelo meu lado para ter uma posição mais perto da pilha de cartas para ler os nomes. Inclusive, passou a mão, por acidente, com certeza, através da pilha para dar uma olhada nos elementos da parte inferior. 13 Frase do Star Trek Ela é incorrigível. Eu não disse nada sobre a sua bisbilhotice, mas não podia passar por alto a erva ruim que estava fumando. - Sabes que odeio ver-te doidona. – eu disse. - Sim, é francamente irritante, não? Escuta querida, me relaxa e é mais saudável que o álcool. Não é que oponho a isso tampouco. O doce é bom, mas o licor é mais rápido, - disse, e me sorriu. Era impossível. Dava-me por vencida e me preparei para o que vinha.- Assim, você conheceu a alguém ultimamente? - Não, mamãe. - Sabe, - ela disse - minha amiga Zoe tem um filho. É solteiro e... - E ele é um vampiro - terminei por ela. Lembrei-me de outras vezes que me tinha fixado com alguém e imaginei uma pálida criatura decadente,que ainda vivia com sua mãe. - Sim, é obvio que é um vampiro. Sabe como me sinto a respeito de sair com alguém fora da família. É uma receita para romper o coração. Quem mais pode não trair a sua confiança, à exceção de um dos teus? Quem pode saber quem e o que é e ainda te aceitar? A confiança é a base de qualquer relação vitoriosa. Vivendo uma vida dupla com um amante é o beijo da morte e não é nenhum jogo de palavras. - Assim, por que não segue o seu próprio conselho? – Respondi com sarcasmo em minha voz. Ainda amo a minha mãe, ela empurra os meus botões e eu quase sempre termino dizendo algo que lamento mais tarde. - Oh, querida, - disse com uma voz entrecortada e a tristeza se arrastou nela. – Houve outras considerações na hora de escolher a Giamo. Teu pai era um simples mortal, quando nos conhecemos, mas era um homem maravilhoso. Houve uma exceção com ele e, bem, ele necessitava de mim. Tinha planos, tinha sonhos. E nunca lhe menti. Ao menos depois da primeira vez que lhe mordi, nunca lhe menti. Ele me amava ainda mais depois que se aproximou de nós. Éramos uma equipe tão incrível, até que foi traído e... – Seus olhos começaram chorar. – Eu nunca vou deixar de ter saudades dele. Éramos almas gêmeas. E ele me deu você. As lágrimas começaram a rolar pelas suas faces. Eu nunca aprendo. Qualquer menção ao meu pai, Giambattista Castagna e é o início das obras hidráulicas. Nunca aprendi muito sobre ele com ela. Ela me criou sozinha e estivemos clandestinas grande parte desse tempo. Se me atrevesse a perguntar-lhe o aconteceu com meu pai e por que não estava conosco, ela simplesmente começava a chorar. Eu creio que suas lágrimas são genuínas, mas são uma maneira eficaz de por fim à conversa. Quando lhe perguntei sobre sua vida antes do meu nascimento, só disse algo como: “Devemos viver o presente. Concentra-te no agora, querida. O passado é passado”. Irrita-me muito que ela esconda muito de mim. Tudo o que realmente sabemos com certeza é que ela nasceu na Itália no século X. Nunca me mencionou a minha avó, ou qualquer de seus maridos, em primeiro lugar. Descobri que se havia casado muitas vezes (com muitos, aliás) antes que ela conhecesse o meu pai, por investigações que fiz em bibliotecas de todo o mundo. Tudo o que li só aprofundou o mistério ao seu redor. - Estou começando um novo trabalho amanhã. – disse, com a esperança de distraí-la antes que realmente começasse a berrar. Ela respirou fundo e as lágrimas se foram. - Ah, sim? Isso é maravilhoso, querida. Para quem você estará trabalhando? Que estará fazendo? – Eu sabia de memória minha identidade, mas a verdadeira prova seria se ela iria acreditar. - Estou trabalhando na catalogação e restauração de objetos do século XIX de teatro. Para o Serviço de Parques Nacionais. – Um olhar de... suspeita? Cruzou o rosto de minha mãe. - Como é isso? – Perguntou. - Um golpe de sorte, - disse, e fui para a cozinha para tomar algo. – Queres um copo de água mineral? – Ela assentiu. – Frizzante o naturale? – Lhe perguntei, em italiano. Se ela queria a água com gás ou não. - Frizzante, com uma rodela de limão se não for demasiado problema, - disse, atrás de mim. – Que tipo de golpe de sorte? - Te recordas de Cormac O’Reilly? – Abri a garrafa de Pellegrino, peguei uma rodela de limão em um copo de gelo e entreguei para Mar- Mar. Ela pegou e me disse: - Te referes ao bailarino? Aquele que estava em Chorus Line há vinte anos atrás? Pensei que os dois não se falavam. - Bom, não, mas me encontrei com ele faz pouco tempo e nos reconciliamos. Ele está trabalhando neste projeto histórico de teatro e pensei que podia ser boa nisso também. É definitivamente uma janela quando já se viu os elementos realmente em uso. – Me sorriu. – O NPS continua me contratando, esta é só uma ocupação temporária, assim tomei o trabalho. Creio que é interessante. Tenho estado aborrecida ultimamente. - Mãos ociosas são os instrumentos do diabo, - Mar-Mar murmurou. – Sabes que sempre podes trabalhar para o Greenpeace. - Alguém mais vai ter que salvar as baleias, mamãe, - eu disse. – Este trabalho é suficiente para mim. Eu posso trabalhar à noite. - Desde que você esteja contente, - disse com um suspiro que significava que ela não estava e voltou ao assunto de sua vida. – Sabes, não seria nada demais você sair pelo menos uma vez com o filho de Zoe. Você poderia pelo menos tentar. Parece ser um bom garoto. - Eu não acredito mamãe. - A mim sim. Faça-o por mim. Olhe, não quero que tenha um encontro real. Venha à minha casa no próximo sábado. Vou convidar Zoe e Louis para tomar algo. - Louis? – eu disse. - É francês, da Louisiania. É um ramo da família, já sabes, mas é bastante agradável. Eu realmente não sabia nada desse ramo da família, exceto alguns rumores desagradáveis. Apesar de que não se preocupava com a linhagem de Louis, estava segura de que não seria como ele. Não me atraem a maioria dos homens vampiros. Em qualquer caso, eu sabia que minha mãe não se daria por vencida até que estivesse de acordo. - Está certo mamãe. Beber vai estar bem – Uma risada iluminou o rosto de minha mãe. Sua missão estava cumprida, acabou rapidamente sua água mineral e anunciou que ia reunir-se com amigos em East Village. Depois de dar-me um rápido beijo nas duas bochechas, no estilo europeu, ela saiu. Devo admitir que minha casa ficou vazia quando ela saiu. Depois de algumas horas de meditação e de escutar as Variações Goldberg de Bach, caí em um sono profundo até ao amanhecer. Quando finalmente ouvi o alarme. Devo ter tocado o botão de repetição de cinco ou seis vezes sem recuperar a consciência plena, enquanto o crepúsculo caía. Tinha menos de uma hora para vestir-me e para andar por vinte ruas. Coloquei um suéter e um par de calças jeans. Não me importo de ser pressionada. Onde uma vez havia estado uma dor surda em meu coração, agora me sentia ligeira e mareada pela adrenalina do otimismo. Podia ser uma espiã muito boa eu sabia, Qualquer coisa que J quisesse que eu fizesse me sentia confiada de poder manejá-lo. Não passou muito tempo antes de dar-me conta de como estava enganando a mim mesma nesse momento. Mas a ignorância é uma felicidade e eu nunca me senti tão feliz como me sentia nesse dia. Nunca mais dormi tão profundamente e por tanto tempo. J estava me esperando na sala de conferências. Um sorriso em meu rosto, meus passos rápidos e me achei diante da porta. Ao ver seu rosto sombrio me senti como que golpeada contra um muro de tijolos. - Sente-se, senhorita Urbano, - disse categoricamente. Eu sentei- me. – Temos muito material para repassar. Você encontrará seu objetivo amanhã, então não tem muito tempo para preparar-se. – Ele evitou os meus olhos. Busquei os seus, mas não pude fazer contato, então olhei a sua forte mandíbula, notei a sombra de uma barba que começava a surgir, olhei o movimento de sua boca. Comecei a imaginar como me sentiria com esses lábios traçando pelo centro de meus ombros desnudos. Uma sensação quente e arrepiante corria acima e abaixo de minha espinha dorsal, onde seus lábios me deixavam beijos... - Srta. Urbano, quando se comunicar conosco, - disse acabando com meus doces sonhos, - você deve utilizar seu nome de código, Hermes. - Ah! O deus grego. O mensageiro. E qual é o seu? - Anel mestre. - Assim é quem manda. – O que seja. Não escolho os nomes, senhorita Urbano, - disse ele. – Agora, continuando com isto. Você representa um colecionador privado de arte aborígine. O colecionador é real. A arte é real. Boaventura sabe da coleção e quer muitíssimo comprar artigos dela. O colecionador está resistindo em ter contato direto com ele. Boaventura tem tentado. Foi