Prévia do material em texto
1 NA ESCURIDÃO UNDER DARKNESS The Dakwing Chronicles A CRÔNICA DA ASA NEGRA LIVRO CINCO SAVANNAH RUSSE 2 Disponibilização em inglês: Safira Tradução: Safira, Jacky Wilson, Ady Miranda Revisão e Formatação: Ady Miranda Revisão Final: Elenita Informação sobre a série 1 - Beyond the pale – distribuído 2 - Past Redemption – distribuído 3 - Beneath the Skin – distribuído 4 - In the Blood – distribuído 5 - Under Darkness – distribuído 3 Introdução Um vampiro é o que um vampiro faz. Minha mãe não me disse isso. Percebi por mim mesma. Claro, demorei mais de quatrocentos anos para perceber. Passei por humana todos estes séculos. Mas, sob uma inspeção mais cuidadosa (note as minhas presas, minha pele branca translúcida, a minha reação ao alho), fica evidente que não sou. Além do óbvio, deixe-me explicar o meu jeito de ser vampiro. Não posso morrer se não for através de uma estaca no coração (o método preferido de quem nos odeia), ser exposta ao sol ou ser atingida em um lugar macio e vulnerável com uma bala feita de prata. Tremo só de pensar nisso. Devo beber sangue, de preferência humano, mas animal também serve. Eu sou, devido à minha natureza, viciada em imoralidade, buscando o prazer em todas as suas formas, sem importar o quanto eu tente ser casta. E eu tento ser casta. Mas falho miseravelmente o tempo todo. Vivo entre milhões de pessoas na maior cidade do mundo, mas sempre serei uma forasteira. Jamais poderei me encaixar. Agora você pode entender por que tenho a chance proverbial de uma bola de neve no inferno, de ter qualquer compromisso, a longo prazo, numa relação homem-mulher. Continuo tentando. Porque, mais do que qualquer outra coisa, preciso de perdão, redenção, e, oh, sim, do verdadeiro amor. Vivo na escuridão, mas acredito que, no fundo do meu coração, eu possa encontrar a luz. Sem mais delongas, deixe-me apresentar-me. Eu sou vampira. Mas sou aquela que está andando para frente, tentando acumular algum carma bom. Tenho nome, classificação, número de série e um trabalho no governo. Sou a Agente Daphne Urbano, espiã americana. 4 Capitulo 1 Aquele que vive na esperança morre em jejum. -Benjamin Franklin Os passos, lentos e medidos, pesados e determinados atingiam a calçada atrás de mim, como o ritmo constante de um tambor de funeral. O som só me disse que eles pertenciam a um homem de porte considerável. Nem precisava olhar para trás. Sabia que ele significava problemas. Às três e meia da manhã, a noite estava encoberta, como uma mortalha, em Manhattan. Uma rápida chuva de junho tinha recém parado, deixando negros os edifícios de pedra, com a chuva. Quando passei suas janelas me encararam como olhos vazios, brancos. Até a chegada do homem, somente o silvo ocasional dos pneus de um táxi amarelo nas ruas molhadas tinha quebrado o silêncio da hora, já tardia. Senti o ar fresco, tão afiado quanto uma lâmina de faca, então respirei fundo e continuei a andar com minha cadela, Jade, presa por uma correia, ao meu lado. Olhando para baixo vi o corpo de Jade tenso, o rabo empinado, suas orelhas para cima. Os passos se tornaram mais rápidos, se aproximando. Para qualquer um que visse, eu parecia ser uma simples jovem, mais alta que a maioria e magra como a morte. Talvez, como eu passeasse sozinha nas ruas vazias da cidade, um assaltante ou um estuprador tivesse me escolhido como presa fácil. Esse pensamento fugiu tão rápido quanto veio. Quem era eu para brincar? As pessoas sãs, invariavelmente, se afastam de mim, dando-me um grande espaço. Algum instinto antigo alertava o pavor em seus ossos, dizendo que eu era alguém, não, alguém não, mas algo a evitar. Quanto aos malucos de Nova York, que não eram tão estúpidos, minha grande malamute, que mais parece um lobo do que um cão os mantinha à distância. Isso significava que as chances eram de 101 para 99 de que o meu perseguidor fosse um caçador de vampiros. Se não fizesse alguma coisa rapidamente, eu estaria prestes a morrer. A West End Avenue cruzava com o meu quarteirão cerca de duzentos metros à minha frente. Comecei a correr e Jade 5 acompanhou a minha corrida. Alcancei a esquina, virei-me bruscamente, abracei a parede de granito de um prédio e parei. Eu me virei, agachada e rapidamente liberei a correia de Jade. Preparei-me para o ataque. Nunca tive essa chance. No momento em que o homem passou pela parede do edifício e apareceu, Jade saltou tão rápido, seu corpo se tornou um borrão de rosnado e raiva. Com um grunhido que fez meu sangue gelar ela atacou, afundando os dentes profundamente no antebraço dele. Ele xingou em voz alta. A estaca de madeira polida que tinha na mão foi levantada, refletindo a luz de um poste antes de girar e cair na rua com um barulho surdo. Minha mente tornou-se uma névoa vermelha de raiva, sem pensar. Irracional e reagindo, corri para pegar a estaca letal, o que significava usá-la como uma arma de defesa. Peguei-a no asfalto. Meus dedos longos se apertaram em torno de sua suavidade. Ergui bem alto, acima da minha cabeça e corri para o meu agressor, olhando-o claramente pela primeira vez. Lutando para se livrar de Jade, o caçador era uma visão terrível. Vestido inteiramente de preto, era amplo e sólido. Seu pescoço era pouco visível, sua cabeça parecia estar diretamente sobre seu corpo, tão espessa como os músculos de seus ombros. Ele tinha o porte de um lutador construído e uma face assassina, plana, maçante e cruel. Uma corrente de elos grossos atravessava o largo tórax na diagonal, como uma cartucheira. Mais três estacas estavam penduradas nele. A visão das estacas me deixou meio louca. Ao longo dos meus séculos sobre esta terra, muitos amigos meus sentiram a agonia resultante da ação que tal instrumento oferece. E quando uma estaca é dirigida para o coração de um vampiro, dos lábios dele sai um grito terrível, um grito lancinante, de um animal em puro terror. Depois vem a feroz e horrível queima: a carne murchando e os ossos se desintegrando, até não passar de poeira, de uma cinza fina e permanente. Estas memórias aumentaram a minha raiva. Minha própria natureza bestial assumiu o controle da minha alma. Minha boca se abriu para mostrar a brancura terrível dos meus incisivos pontiagudos. Creio que estava gritando quando saltei para frente, com a intenção de cravar a estaca brilhante no caçador. Mas enquanto eu direcionava a estaca ele se afastou e ela passou pela sua bochecha, deixando um risco vermelho de sangue. Agitando Jade de seu braço, finalmente, ele conseguiu ficar em pé. Minha cadela voou em suas pernas, com 6 latidos e rosnados selvagens de fúria. Ele conseguiu fugir, mas um momento antes de escapulir, seus olhos escuros procuraram os meus e eu senti o seu ódio. Não o persegui. Meu peito arfava, meu cérebro estava girando, então parei. Chamei Jade de volta e ela voltou para mim, com a boca manchada de sangue. Encontrei a coleira na calçada e agarrei-a. Eu ainda tinha a longa estaca de madeira na mão quando minha cadela e eu retomamos nossos passos e voltamos para casa. Quando passei pelas portas de vidro no hall de entrada do meu prédio encontrei Mickey, o porteiro, dormindo em uma cadeira de madeira. O New York Post estava aberto em seu colo, sua cabeça pendendo, seus roncos subiam e desciam como as preces de um judeu no templo. Então por segurança e sentindo-me incomodada, me aproximei e dei um chute no pé da cadeira. -Hein? - disse ele, erguendo a cabeça, as pálpebras piscando rápido. -O quê...? – murmurou, com o olhar preso ao níveldos joelhos da minha calça jeans desbotada. Ele inclinou a cabeça, erguendo os olhos meio abertos, subindo pela minha blusa preta até que se concentrou no meu rosto e meus olhos, me fitando sem calor. - Senhorita Urbano? O que você quer? Sua roupa da lavanderia? O seu hálito cheirava a cerveja. -Você estava dormindo de novo, Mickey! - dei outro chute na cadeira. Minha voz soava estridente mesmo para os meus próprios ouvidos. Dando uma sacudida na cabeça, ele mordeu o lábio inferior e disse: - De jeito nenhum, Senhorita Urbano. De jeito nenhum. Apenas descansava meus olhos. Eu o cheirei. -Sim, certo. Olha, isto é importante. Esteve alguém aqui perguntando por mim? Um cara grande? Talvez mais cedo, hoje? Os olhos turvos de Mickey se abriram e ele olhou para a longa estaca de madeira em minha mão. De repente, ele conseguiu. -Não, - disse ele e se levantou. -Os ingleses mais uma vez, Senhorita Urbano? O cérebro de Mickey virou uma omelete por causa da bebida, mas ele era um cara durão. Ele enfiou na cabeça que eu estava trabalhando disfarçada para o IRA, após tomar uma surra por minha 7 causa alguns meses atrás. Ele não estava muito longe da verdade. Eu era espiã, mas de uma ultra-secreta organização de inteligência americana, um grupo sombrio chamado Equipe Darkwings, tão sigilosa que nem mesmo eu sabia qual agência tinha me contratado. Sou um dos três Darkwings originais, agora somos cinco neste grupo antiterrorista, todos nós somos vampiros. Minha existência completamente sozinha e noturna já teria sido suficiente para levantar questões sobre a minha identidade. Eu também recebia entregas de um banco de sangue uma vez por semana. Estranhos homens e mulheres apareciam para me encontrar, a qualquer hora da noite e eles eram visitantes furtivos, uma gama de pessoas que ia desde um detetive da polícia de Nova York até um homem da máfia. Privado de saber de alguns dos mais sombrios aspectos da minha vida, o velho porteiro, cansado da vida, tinha chegado a uma explicação para mim que era muito melhor em seu esquema de coisas que a verdade. Ele até podia imaginar que eu fosse espiã, mas vampira, bebedora de sangue, que parecia estar na casa dos vinte anos, mas que tinha mais de 400 anos de idade? De jeito nenhum. Portanto, meu recente caso de amor com o orgulhoso irlandês, St. Julien Fitzmaurice, que muitas vezes parava algum tempo para ouvir as histórias do porteiro e discutir os problemas da Irlanda do Norte, fez Mickey se convencer que eu era um Provo1, o que foi legal. Eu também nunca poderia esquecer que Mickey se colocou no caminho do mal para me defender. Minha voz ficou mais suave quando respondi se estava com problemas novamente. -Para dizer a verdade, não sei - eu disse. – Fique ligado, ok? Agora totalmente desperto e pronto para ação, ele disparou: - Não se preocupe comigo. Trabalhei em Dublin, mas cresci na Irlanda do Norte, você sabe. -Eu sei, Mick e que belo rapaz você deve ter sido - eu disse com um sorriso gentil. -Quem está de dia esta semana? -McDougal. Vou informar tudo a ele. Nós temos cobertura, Senhorita Urbano - ele me assegurou. -Obrigada, gostei de saber. - Puxei a coleira de Jade e fui para o elevador com o passo animado, mas estava com um peso no meu coração. Esperava que minha vida dupla não matasse Mickey ou 1 Provo, membro do Exército Republicano Irlandês Provisório ou IRA, uma organização paramilitar da Irlanda no Norte. 8 qualquer outra pessoa do meu prédio, algum dia. Apertei o número do meu andar e quando a porta se fechou eu pensei, o mal está frustrado, mas não vai embora. Ele apenas espera por um momento mais oportuno. 9 Capitulo 2 “Não há maior benefício prático do que fazer algumas falhas no início da vida", -Henry Thomas Huxley, sobre a educação médica. Ao anoitecer, na noite seguinte, o ligeiro sussurro de asas invisíveis me despertaram do sono e dos pesadelos que me incomodavam. O ar úmido na minha cripta cheirava a mofo, neste quarto escondido por trás da estante de livros do corredor do meu apartamento. Sentei-me no caixão e olhei em torno das trevas, que não filtravam sequer um raio de luz. Este é o espelho da minha alma, pensei e, de repente, percebi que estava muito irritada. Saí do interior forrado de cetim, que, embora perfumado, mantinha o distinto cheiro de terra da Transilvânia, terra que estava debaixo do travesseiro. Eu estava nua, flexionei as costas, estiquei os braços finos acima da cabeça e decidi que precisava de um levantador de humor infalível: um doce e preto café, seguido por algumas compras, numa séria terapia. Onde fazer compras? Eu pensava. Na Saks da Quinta Avenida, que para mim era coisa de senhora velha e decadente, de qualquer maneira, mas ficava aberta até às oito horas. A hiper Bloomingdale's na Cinquenta e Nove com a Lexington permanecia aberta até as dez, todas as noites da semana. Esse era o meu horário. Na verdade, minha loja favorita, a meca das compras, era a Neiman Marcus, mas a melhor loja da cadeia estava na Galleria em Houston, Texas. Já que eu não tinha absolutamente nada no meu calendário social (Será que eu realmente tinha um? Do tipo: sangue tipo O à meia-noite! Uma escapadela a procura de sexo anônimo como ferramenta para o amor verdadeiro!), eu, por um breve momento, acalentei a idéia de um vôo noturno, em seguida, vetei. Os cortes nas companhias de aviação e a falta de atendimento ao cliente, juntamente com os procedimentos de segurança opressivos e ineficazes, tiraram o divertimento dos vôos comerciais. Nesses dias, quando eu voava, era geralmente sob meu próprio poder. Desde que eu me transformasse em um enorme morcego para 10 voar, precisava ser altamente seletiva sobre o tempo e lugares que decolava para a imensidão azul. Uma vez, extasiada com o luar e desatenta ao que flutuava abaixo, voei ao longo da costa Atlântica e deixei as pessoas do navio de cruzeiro Queen Elizabeth II em estado de emergência. Os passageiros que passeavam no convés superior me viram e entraram em pânico. Os médicos do navio os convenceram de que alguém tinha posto algum alucinógeno na fonte de coquetel de champanhe. Apesar dos riscos de ser descoberta, nunca iria desistir de voar. Voar em minha forma de morcego, com a quebra fantasmagórica das amarras da terra, tornou-se uma experiência Zen, o mais próximo do nirvana que eu poderia conseguir. Não, só menti sobre o caminho para o nirvana. Eu sabia muito bem que havia outro caminho. Por que eu mentiria? A longa vida que tenho vivido cheia de disfarces, subterfúgios e escondendo minha natureza de vampiro significava que eu mentia muito, tanto para mim quanto para os outros. E estava mentindo para mim agora mesmo, impulsionada pela minha vergonha, pois eu queria ser moral e casta como uma freira. No entanto, o outro caminho para o satori, nirvana ou felicidade, chame do jeito que você quiser, era prolongado e desinibido, satisfazendo completamente o sexo tântrico com o homem certo. E se eu ousasse confessar, sabia exatamente quem era esse "homem certo" para o sexo, de qualquer maneira. Era uma relação sustentada, que tinha acabado por ser o Sr. Errado: Darius Della Chiesa, um lindo pedaço de macho que também era mentiroso, traidor e um enganador SOB2. Alguns meses atrás ele roubou meu coração e depois, o quê? Pisou nele e me deixou arrasada, invadiu minha alma como uma sombra. De repente, meu humor de merda voltou com força total. Bati a porta secreta de minha cripta em meu apartamento enquanto as janelas revelavam o roxo perfeito de umaNova York no crepúsculo do verão antecipado. Parei em frente ao espelho do corredor. Meus cabelos longos e escuros estavam caídos ao redor do meu rosto pálido. Meus ombros estavam caídos. Meus olhos tinham perdido o brilho. Eu tinha um olhar desbotado. Uma noite de compras? Inferno, eu precisava de algo mais drástico: uma reforma total. Talvez isso 2 SOB, Son of Bitch, um insulto muito utilizado. 11 pudesse aliviar a depressão que me atingiu desde a última missão dos Darkwings. Desci do alto da adrenalina que havia me sustentado quando eu estava na ativa direto e, atualmente, estava à deriva entre as relações, mais uma vez me encontrei sem objetivo ou direção na vida. Pior ainda, uma combinação de tédio e frustração sexual me deixava cada vez mais assombrada pelas memórias de Darius. Que diabos estava acontecendo comigo?! Eu me repreendi. Eu estava a poucos dias de me casar com ex-agente do Serviço Secreto St. Julien Fitzmaurice, meu romance de recuperação pós-Darius. Fitz realmente me propôs casamento, assumira o compromisso, foi aberto e honesto. Ele desistiu de ser humano para se tornar vampiro, como eu. E eu o mordi? Hmmmm, sim, mas não o suficiente para fazer dele um morto-vivo. Em vez disso, desisti do casamento e o mandei embora, literalmente. Agora ele estava em fuga. Minha mãe, nada romântica, queria matá-lo. Seu lema é: "homens mortos não contam contos" e Fitz sabia demais sobre os vampiros de Nova York. Em vez de lamentar a perda de um cara realmente bom, eu ficava pensando, Darius, Darius, Darius. Seus olhos azuis. Suas mãos fortes. Seu riso, seu charme, sua paixão. Mesmo sabendo que ele estava atualmente em turnê pela Alemanha com sua banda de rock, a Darius DC e o Projeto Vampiro, flagrei-me observando as pessoas nas ruas, esperando ilogicamente vê-lo andando na minha direção. Quando eu fechava os olhos durante a noite, estava de volta em seus braços. Nós vivíamos brigando como cães e gatos, quando ele partiu, mas tudo que eu lembrava era que fizemos amor como animais selvagens e loucos, sem barreiras. Deus, é melhor eu ir com calma. Eu precisava tirar Darius fora do meu sistema. Talvez uma limpeza de cólon ajudasse. Entrei na cozinha distraidamente, acariciando a cabeça de Jade quando ela saiu da cama de cachorro e ficou ao meu lado, pronta para ser alimentada. Tinha vindo do quarto, onde não dormi, mas vesti a roupa quando ouvi o guinchar de Gunther, meu rato branco. As necessidades dos meus animais de estimação eram simples: cocô, comer e beber, xixi, dormir e brincar. Queria que as minhas fossem tão elementares. Poucos minutos depois, sentei-me na cozinha segurando uma caneca com uma mão, sorvendo o café preto e virando as páginas da edição de hoje do New York Times com a outra. Lia as notícias e comecei a rir com a notícia da coluna Metro Briefing sobre um homem 12 de Connecticut, que se confessou culpado de explodir banheiros públicos portáteis em três cidades. Ele se declarou culpado e no tribunal disse que um medicamento prescrito o fez pensar que as latrinas estavam espionando-o. Ri também de um criminoso estúpido no Alabama que colocou uma máscara de esqui, antes de realizar uma invasão de domicílio e gritando para um homem idoso - Dê-me todo o seu dinheiro e valores. E, Paw-Paw, eu quis dizer tudo! - O avô chamou a polícia para dizer- lhes que seu neto lhe roubara cinquenta dólares. Estava prestes a voltar para a seção de Artes, para iniciar o jogo de palavras cruzadas, quando notei outra notícia inócua enterrada nas últimas páginas da primeira seção: Na segunda-feira, 5 de junho o Intrepid Sea, Air & Space Museum vai deixar sua casa no cais do Pier Oitenta e seis na Décima Segunda Avenida com a Rua Quarenta e Seis, em Manhattan, para ser rebocado para Newport, Virginia, para uma renovação de US $ 8 milhões de dólares. O navio será repintado e sofrerá uma completa remodelação exterior. Novas áreas do interior, incluindo a sala da corrente da âncora, no geral, as salas de atracação e da oficina serão acessíveis ao público pela primeira vez. O complexo do museu será reaberto no outono. Embora o grande porta-aviões da Segunda Guerra Mundial, Intrepid, estivesse ancorado a uma curta distância do meu apartamento, nunca tive tempo para visitá-lo. Já tinha visto o David de Michelangelo, em Florença, o Coliseu, em Roma, a Torre Eiffel, em Paris e o Big Ben em Londres, mas como a maioria das pessoas, ignorei a história no meu próprio quintal. Enquanto lia pensava: - Bem, acho que não vou ver o Intrepid neste verão - quando o celular começou a tocar. Deixei-o tocar meu toque atual, o tema musical da série televisiva Os Sopranos enquanto localizava o quebra-cabeça, então, preguiçosamente estiquei o braço e atendi ao telefone. Achei que era minha melhor amiga, Benny Policarpo, chamando com a notícia de uma venda especial ou algo igualmente urgente. Achei certo. Era minha companheira na Equipe Darkwing, uma vampira linda, loira, de seios fartos, de Branson, Missouri e de todos os lugares improváveis. Sua voz alegre me deu um - Ei - gritado. Ela 13 falou e, em seguida, balbuciou sobre seu affair firme com um vampiro chamado Martin. As relações de Benny tendem a ter uma data de validade mais curta do que um litro de leite. Elas azedam rapidamente e deixam um gosto ruim na boca. Eu meio que ouvi enquanto fazia as palavras cruzadas e murmurava, pois era conveniente. -Benny, - eu finalmente disse, cortando-lhe a palavra. -Qual o nome do cabeleireiro novo e quente que você usa? -Você quer dizer o Nick? O cara daquele programa de televisão TLC What Not to Wear! -Sim, ele. Acha que posso conseguir uma rápida consulta? -Não é o caso. Ele tem uma lista de espera de um quilômetro de comprimento. Alguns de seus assistentes são bem legais. -Eu não sei. Esta é uma grande coisa para mim. Tenho cabelo comprido há quanto tempo? Quatrocentos anos? Se eu resolver reestilizá-lo, preciso amá-lo. -Talvez você deva apenas aparar as pontas - ela sugeriu. Eu podia ouvir a água corrente. Sabendo que ela não cozinhava, tampouco estava lavando pratos. Imaginei que ela estava prestes a tomar banho. -Aparar as pontas não vai modificá-lo - disse eu, rindo da minha própria inteligência. - Preciso fazer algo drástico. Estou enlouquecendo. Não sei qual é o problema comigo. Não consigo fugir dessa tristeza. -Querida, é compreensível. - Ela falou em voz alta sobre a água borbulhando no fundo. -Quero dizer, Fitz era gos-to-sís-si-mo e você estava praticamente andando para o altar quando disse para ele ir embora. Quem de nós poderia imaginar encontrar um cara disposto a passar a eternidade com a mesma mulher? Não pode ser fácil superar isso. Qualquer um estaria chateado. Precisei morder a língua. Na verdade, foi muito mais fácil desistir de Fitz do que pensei. Eu amava o cara, mas não estava apaixonada por ele. Na verdade, poucos dias antes de aceitar seu anel de noivado eu o traí com outra pessoa e o próprio pensamento do que fiz ainda me constrangia. Meu "deslize" não foi um bom sinal de que eu estava falando sério sobre o casamento e eu sabia disso. Jamais teria sonhado em fazer isso com Darius. Estava tão apaixonada por ele. Oh, merda, lá estava eu de novo pensando em Darius. Murmurei - Sim, Benny, eu sei. Mas foi a coisa certa a fazer. 14 -Claro que foi! Você foi tão nobre sobre isso. - A voz dela estava cheia de empatia e me senti uma bosta por enganá-la. - Tudo o que você precisa fazer para se sentir melhor é apenas ir em frente, - disse ela. -Agora, vamos pensar sobre isso, você fazer o que deseja. Devo pedir outro cabeleireiro ou você quer esquecer o cabeloe ir ao clube vampiro comigo? Eu sabia o que ela estava sugerindo: uma rapidinha, uma transa tipo “fazer e sair fora” com um vampiro bonito. A nossa espécie poderia ser as crianças para o princípio de Freud de que passamos a vida procurando prazer e evitando a dor. Sem consequências por um comportamento promíscuo, sem filhos, nenhuma doença, nenhum compromisso, os vampiros só fazem o que querem, com quem querem, sempre que querem. Mas isso não era para mim. Estive lá, fiz isso, tinha a camiseta. A comparação entre fazer amor com alguém que eu realmente gostasse e fazer sexo anônimo não era mais emocionante do que espirrar. Ok, estou mentindo de novo. Às vezes, me sinto bem no momento, mas depois me odeio. Essa é a verdade. -Obrigada, Benny, mas não, obrigada - eu disse. – Quer saber? Você está certa. Preciso esquecer o cabelo, por enquanto. Vamos apenas fazer compras em vez disso. Você pode me encontrar na Bloomie's lá pelas oito? -Claro. Devo chamar a Audrey? - Audrey Greco, uma bibliotecária vampira que era novata no Darkwings. Ela se juntou a nós na nossa missão anterior. Audrey tinha um aspecto sombrio, com pesados óculos negros que devia ter sido moda entre os sugadores de sangue no Greenwich Village lá por meados do século XIX, tornou-se amiga de ambas, Benny e eu. -Absolutamente. E outra coisa, Benny... -O quê? Respirei fundo e exalei forte. Meu coração estava começando a disparar. Eu só precisava dizer. - Fui atacada por um caçador de vampiros na noite passada. -O quê?! - Eu podia sentir sua voz ficar triste quando as palavras saíram com pressa: - E você está bem? Você deve estar bem. Você está falando comigo. Você o matou? Quem era ele? O que aconteceu? Que merda. Que merda. Que merda. - Sua voz subiu de volume com a histeria incipiente. -Como ele a encontrou? O que você vai fazer? 15 -Benny, acalme-se. Estou bem. Não tenho nem mesmo um arranhão. Eu não o matei. Ele fugiu. E não sei o que fazer. Basta ter cuidado, eu acho. -Você tem que chamar sua mãe. Eu sei que você não quer. Mas prometa-me! Você precisa de proteção. - Suas palavras estavam tingidas pelo medo. Benny estava certa. Devia deixar minha mãe saber do meu atacante. O problema é que eu não gosto de dizer nada para a minha mãe. Pior ainda, Marozia "Mar-Mar" Urbano não só era minha mãe, mas era também minha chefe. A titereira invisível que puxava as cordas da operação de inteligência. A mulher que era conselheira do Presidente da nossa nação (e com Bill Clinton, muitas vezes, sobre a parte mais íntima do corpo), e uma verdadeira crente, não apenas em tornar o mundo mais seguro para a democracia, mas também na condução de minha vida. Naturalmente, ela era vampira também. Mestra na ilusão, Mar- Mar parecia ser uma gracinha, corpo com piercig, tipo neo-hippie, que parecia ter vinte, ou, no máximo, vinte e dois anos de idade. Na realidade, ela vive há mais de mil anos. Os olhos dela diriam isso imediatamente, se alguém tivesse a audácia de olhar de perto. Através deles pode-se vislumbrar sua alma e essa alma era mirrada, desconfiada de tudo e muito antiga. Antes de desligar, jurei para Benny que iria ligar para Mar-Mar e disse que iria vê-la na Bloomingdale's. Garanti-lhe que tinha certeza que nenhum homem carregando uma enorme e escura estaca de madeira estava me seguindo. Podia jurar que ela ficou nervosa com aquilo. Depois de falar com Benny ao telefone não fiz nada por algum tempo. Fiquei ali sentada, olhando para o nada, meu pé pulando nervosamente. Eu estava com problemas, sabia que estava. De alguma forma os caçadores de vampiros tinham me identificado. Mais precisamente, as pessoas que enviaram os caçadores de vampiros tinham me identificado. Meu melhor palpite era de que aquelas pessoas eram do Opus Dei, uma organização secreta dentro da Igreja Católica Apostólica Romana, tão amplamente divulgada no best seller O Código Da Vinci. Eu não tinha como verificar se qualquer um dos relatos ficcionais de Dan Brown era verdade. Mas sabia de uma coisa dentre tantas verdadeiramente assustadoras sobre o Opus Dei: seus membros, ou supranumerários, praticavam a "mortificação corporal", o que 16 significava que usavam os chicotes para a autoflagelação e usavam em torno de sua coxa um cilício, uma corrente de metal com pontas que se enterravam na carne. Seu fundador, Josemaría Escrivá, escreveu uma vez sobre o sofrimento: "Bendiga a dor. Ame a dor. Santifique a dor. Glorifique a dor!” Eu poderia pensar em um monte de coisas para amar. Dor não era uma delas. Mas o Papa João Paulo II canonizou Escrivá e assim Roma fez dele um santo. A organização adotou matar vampiros, com gosto similar ao fanatismo. Mantiveram em sua sede, em Manhattan, arquivos meticulosos sobre os avistamentos de vampiros e incidentes ao redor do mundo. Meu colega de espionagem Cormac O'Reilly, que fora plantado no local como recepcionista até recentemente, o meu "manipulador" em espionagem J, e eu, arriscamos a vida para recuperar tantos arquivos quanto pudéssemos. Mas o assalto não desestimulou o grupo, evidentemente. O Opus Dei prometeu erradicar a todos nós, "demônios", e agressivamente recrutou e treinou caçadores de vampiros para fazê-lo. Minhas chances de sobrevivência eram de uma rápida queda a quase nulas. Precisava pesar minhas opções. Sabia que seria atacada novamente. Talvez eu devesse deixar a cidade por um tempo. Finalmente consegui me recompor o suficiente para telefonar para Mar-Mar em sua casa em Scarsdale, o calmo enclave no condado de Westchester, quase quarenta quilômetros ao norte de Nova York. Ela não utilizava telefones celulares. Telefones fixos eram mais seguros, ela sempre dizia. Agora sua voz estava rude quando atendeu o meu telefonema, como se estivesse no meio de algo importante. O que, provavelmente, ela estava. -Olá, Mar-Mar, - eu disse categoricamente. -Querida! Eu ia ligar mais tarde. Não, realmente eu ia. Mas eu estou bem no meio de uma coisa, receio. – Eu a ouvi cobrir o receptor do telefone com a mão e falar rapidamente para outra pessoa. -Você está, obviamente, ocupada, - eu disse. -Olha, não vou demorar muito. Pode dar à sua única filha, talvez dois minutos do seu tempo? - Eu perguntei, com uma borda de impaciência na voz. - Nunca estou ocupada demais para você, querida. Você sabe disso, - ela respondeu. Eu, frequentemente, estava no rodapé da sua lista de prioridades. - Sua voz soou engraçada. Algo errado? 17 Eu girava o fio do telefone no dedo. -Sim, de certa forma. Agora, não fique chateada, mas fui atacada por um caçador de vampiros na noite passada. Houve silêncio por um momento. Mar-Mar, em seguida, perguntou: - Você foi atacada? Por um caçador de vampiro? Tem certeza? -Claro que tenho certeza! Conheço um caçador de vampiros quando vejo um. Ele tentou me matar! -Calma, querida. Preciso pensar por um minuto. Um caçador de vampiros em Manhattan é uma situação grave. Raramente eles agem isoladamente. Nunca é um evento aleatório. Como é que eles a encontraram? Preciso que você me conte o que aconteceu. Desde o início. Onde você estava? A que horas foi isso? - Ela tinha começado a soar menos como minha mãe e mais como uma investigadora de polícia. Respondi as perguntas. Ela perguntou sobre o que lhe parecia, se ele estava sozinho, se fui seguida anteriormente. Em nenhum momento ela perguntou se eu estava bem, nem uma vez. Mas deixou para jogar a afirmação bombástica no final: - A última vez que tivemos caçadores de vampiros em Nova York você estava envolvida com o rapaz que, você sabe quem, trouxe para cá. - Darius não pode ter nada a ver com isso. Por que você ainda diz isso? Você nunca gostou dele, isso é tudo. Ele não está na cidade.Ele nem está no país. Está excursionando pela Europa com sua banda de rock. - Percebi que estava começando a lamentar. Eu ouvi algo como um grunhido do outro lado da linha. -Você tem certeza sobre isso? - ela perguntou. -Sim! Não. Ok, não tenho cem por cento de certeza. Não falei com ele nenhuma vez... - Hesitei. Ela sabia que Darius voltara para Nova York procurando por mim, depois que comecei a ver Fitz? -... por um longo tempo. -Bem, eu não ia dizer nada para você, - disse minha mãe, imediatamente, obtendo minha total atenção. - Ouvi algo de meus velhos amigos do Greenwich Village sobre o Darius DC e o Projeto Vampiro cancelarem alguns shows da turnê e restituírem o dinheiro. Então, talvez ele não esteja na Europa. Meu coração disparou no peito. - Será... Será que você já ouviu alguma coisa? - Engasguei. -Não, claro que não. Eu diria a você, se tivesse. Claro que diria, pensei. 18 - Posso lamentar por dizer isto - acrescentou ela, com voz firme, - mas é melhor você descobrir onde ele está. Precisamos chegar ao fundo do por que você foi alvo dos caçadores. -Ok, - eu disse, imediatamente comecei a pensar em quem chamar para conseguir informações. Então eu disse, como um adendo, -Oh, Sim. Queria dizer a você que se sou um alvo, talvez fosse melhor eu sair da cidade por um tempo. Estava pensando no Texas. Estava pensando que poderia sair amanhã noite. Poderia esperar a poeira baixar. Não sei. Acha que isso é uma boa idéia? - Eu me sentia inquieta e distraída. Minha mãe não disse nada. -Mar-Mar? Você está aí? Você acha que isso é uma boa idéia? -Não, Daphne, não acho, - disse ela secamente, em seguida, gritou para alguém, - Estarei por aqui em um segundo. Esse altar parece ótimo. Receba os vasos, senão vão manchar. -Por que não? Porque foi minha idéia? Você sempre rejeita as minhas idéias. - Eu estava, definitivamente, choramingando agora. -Pare de ser juvenil. O fato é que você não pode ir a qualquer lugar. Os Darkwings estão sendo chamados para uma nova missão. Pensei que J já tivesse contatado você. Você tem uma reunião sobre isso esta noite. 19 Capitulo 3 "Peço para enviar-me o meu coração, porque não posso ter o seu." -Sir John Suckling Enquanto esperava J chamar, sentei-me no banco alto na bancada de granito da cozinha para uma segunda xícara de café preto. Terminei o quebra-cabeça e voltei a manusear o jornal. Vi o anúncio de um casaco de tênis felpudo Juicy Couture 3e calças à venda na Bloomie's, bem como uma saia jeans da 7 for All Mankind4 que seria o ideal para este tempo variável de junho. Estava recortando o anúncio quando o telefone finalmente tocou. Como esperava, J estava na linha, chamando-me para uma reunião de emergência. J nunca falava, só gritava ordens. Eu tinha que estar no nosso escritório no Edifício Flatiron na Rua Vinte e Três às sete, ele disse agudamente. Não sou muito boa em seguir ordens. Talvez em reação ao controle da mão de Mar-Mar, tentando orientar minha vida em todos os momentos, questiono a autoridade como um reflexo. Então pulei nos meus calcanhares. Em vez de dizer, Sim, sim, senhor, eu disse na voz mais doce possível, - Eu não posso chegar às sete. Vou tentar as sete e meia. A resposta de J tinha aquele tom sufocado de alguém prestes a explodir. - Você vai tentar chegar aqui? Temos um alerta vermelho. Uma emergência nacional. Largue tudo e traga sua bunda aqui. Agora. -Não. Eu não posso. Sério. Veja, minha mãe, sua chefe, também me deu uma ordem. Tenho que fazer alguns telefonemas para ela antes sair daqui esta noite. Presumo que seu pedido também seja uma questão de segurança nacional. Ok, eu estava deitada de novo, mais ou menos. Gostaria de fazer alguns telefonemas pelo celular a caminho da Bloomie's. As compras não iriam demorar muito. Qual era o mal? Como uma meia 3 Juicy Cuture, marca de roupa que vai do fofo ao brega. 4 7 FOR ALL MANKIND, marca de roupas jeans californiana, que se diferenciam pelo conforto, design e modelagens únicas que se encaixam em qualquer pessoa, de qualquer parte do mundo. 20 hora iria fazer alguma maldita diferença? J, obviamente, gastou o tempo antes de ligar para mim, então eu não estava com vontade de sair correndo só porque ele decidiu que agora era conveniente para ele organizar a reunião. J levou algum tempo antes de me responder. Ele não poderia revogar Mar-Mar, então teve que admitir o argumento. - Roger. Termine o que você vai fazer. Venha para cá o mais cedo possível. Lembre-se - ele rosnou: - cedo é na hora certa. Em tempo é tarde. Não posso atrasar a reunião por você mais do que quinze minutos. - Bem, você acabou de fazer o que precisava ser feito, - disse eu. Desliguei antes que ele começasse a gritar. Ele devia estar, provavelmente, com dez tons de roxo. Eu gostava de puxar sua corrente. Benny chamou a seguir, cancelando as compras, sua voz alta e gorjeante animada com o chamado de volta ao trabalho. Não contei a ela sobre minha pequena rebelião contra J ou dos meus planos de chegar atrasada. Não precisava nem da desaprovação com seu silêncio nem de uma palestra. Depois me vesti rapidamente com calças para ioga e um felpudo casaco de treino, francês. Alisei o cabelo para trás em um coque apertado, seguro por um clipe. Quando saí do elevador para o lobby do prédio, poucos minutos depois, notei que Mickey havia criado um posto de tiro no lobby. Ele encontrou uma pesada mesa de metal para substituir a antiga mesa da recepção, que era uma frágil mesa francesa provincial. Estrategicamente, trocou o encosto das cadeiras, cobertas de brocado de seda e deu-lhe uma cobertura Black and Tan, para o caso de alguém entrar pela porta da frente com armas de fogo. Mickey, com os cabelos grisalhos cobertos por um chapéu e os ombros curvados, estava do outro lado da sala, absorto em uma conversa sobre uma entrega da FedEx com o corretor a quem pertencia o rottweiler do 9B. Mas, enquanto eu andava, o porteiro sub- repticiamente levantou a bainha do casaco do uniforme para revelar uma pistola presa na parte de trás das calças. Ele me lançou um olhar rápido e piscou. Mostrei-lhe o polegar para cima. Saí do prédio com cautela. Examinei a rua nas duas direções e observei o movimento. Olhei para os carros estacionados, tendo tempo de verificar um SUV preto, com as janelas profundamente escurecidas por uma película, que despertou minha suspeita. Quando fiquei convencida de que não estava sob vigilância, chamei um táxi. 21 Um táxi amarelo com uma mossa no pára-choque traseiro encostou-se ao meio-fio. Abri a porta mas não entrei até dar uma olhada cuidadosa no condutor. Era um cara magrelo, preto, com cabelos grisalhos e um maço de Camel sem filtros, no bolso da camisa. De acordo com o ID exibido no painel de instrumentos, seu nome era Myron Jones. -Onde? - ele perguntou quando entrei. Eu disse e ele resmungou alguma coisa ininteligível, pegou uma prancheta, anotou meu destino, então começou a mexer no rádio com uma mão e com a outra ele puxou o carro para o tráfego. A locução de voz era distorcida por um pop ocasional e assobios, mas o motorista conseguiu sintonizar os Yankees contra os Red Sox, que jogavam e me ignorou totalmente. Toda sua hostilidade, apelo homicida e más vibrações eram dirigidos ao Boston, que estava liderando por dois na parte superior do sétimo. Isso era quase que uma garantia de que ele não era um caçador de vampiros como eu pensava. Do interior sombrio do táxi irregular, cujo banco traseiro beliscou minha bunda com suas molas arqueadas, comecei a fazer ligações. Eu tinha alguns contatos que poderiamme dar algumas notícias sobre Darius, mas não muitas. Ele era um espião mais experiente do que eu e conseguiu esconder até mesmo os detalhes mais básicos sobre sua vida, incluindo o endereço de seu apartamento, a identidade de sua família, e, claro, a localização de sua base de operações. Mas quando fiquei frenética depois que Darius foi baleado diante dos meus olhos e levado para um hospital em algum lugar secreto, J, de todas as pessoas, mandou um funcionário da agência de Darius entrar em contato comigo. O cara foi muito decente. Embora ele não tivesse me dito seu nome, deu-me um número de contato para ligar. Apenas cortesia entre profissionais. Mais tarde, quando Darius e eu nos reconciliamos e voltamos a fazer uma rumba horizontal todas as noites, espiei seu material depois que ele caiu em um sono pós-coito. Sua carteira tinha os números do seu gerente da turnê, de um cara chamado PR, que descobri ser da mãe do seu baixista, em Jersey. Estava orgulhosa de revistar os seus bolsos, enquanto ele cochilava? Claro que sou uma merda de pessoa. Mas então, nunca teria descoberto que a vocalista da banda, uma garota de cabelos encaracolados, uma vadia tatuada chamada Julie, também era espiã e ex-namorada de Darius se eu não tivesse bisbilhotado. Enganar-me uma vez, que vergonha. Enganar-me duas vezes? Isso não vai 22 acontecer. Não sou uma pessoa confiante. Se fosse, teria morrido há séculos atrás. Resumindo, coletei os pedaços de informações que pude e guardei para usar quando precisasse. Agora eu estava usando. Por conseguinte, como Mar-Mar sugeriu, fiz perguntas. Descobri que, após a banda fazer um show em Hamburgo, Alemanha, Darius anunciou para a sua comitiva que estava sofrendo de exaustão e estava preocupado em prejudicar suas cordas vocais. Ele cancelou o resto das datas na Alemanha e disse que estava tendo algum R & R5. O gestor da turnê tinha uma vaga idéia de que Darius poderia estar na Turquia. Ele ouviu Darius perguntar sobre o aluguel de uma vivenda em Bodrum. Evidentemente, Julie também sofria de exaustão. Darius arrumou as malas e partiram juntos em uma Mercedes branca. Eu senti linhas duras se formando em meu rosto ao escutar esse bocado de novidades. Quando o táxi parou na frente da Bloomingdale's descobri que ninguém sabia, realmente, onde Darius ou Julie estavam. Ninguém sabia quando voltariam. Ninguém ouvira falar deles por quase três semanas. Todos com quem eu falava diziam que Darius entrou em depressão depois de nossa separação e que ainda tinha fortes sentimentos por mim. Todos me asseguravam que sua saída com Julie não era o que parecia: ele não estava dormindo com ela. Sim, certo. E o papa não é católico. Fiquei rígida dos pés à cabeça ao pensar naquela mulher. A pequena cadela assassina tentara me matar duas vezes e os ataques foram chamados de mal-entendidos. A explicação oficial que Mar-Mar passou para mim foi que Julie não sabia que eu era uma companheira espiã. Ela era considerada experiente e altamente operante. Era de grande valia para sua agência. Qualquer um poderia cometer um erro. Ela nem sequer levou um tapa na mão. Às vezes eu sonhava em encontrá-la frente a frente em um beco escuro. Eu não queria matá-la. Só queria enfrentá-la de forma justa. Agora, depois de pagar o taxista e antes de entrar pela porta da loja de departamentos, fiz uma última ligação para um serviço que usei antes. Pedi um indício de atividade nos cartões de crédito de Darius (é claro que levantei os números dele) e pedi uma pesquisa das companhias aéreas para ver se ele e/ou Julie haviam tomado um avião comercial da Alemanha. Se eles tivessem viajado de transporte militar, eu estaria sem sorte. 5 R & R, repouso e lazer. Estar de folga. Descansando. 23 Com certeza não acreditei na história da exaustão de Darius. Eu não sabia o que ele e Julie estavam fazendo, mas a idéia de estarem juntos caiu como um pontapé no meu plexo solar. Eu não conseguia recuperar o fôlego. Quando finalmente consegui respirar, queria atacar com os punhos alguém ou alguma coisa, até que a dor dentro de mim parasse. Derrubar o transeunte mais próximo teria sido estúpido, então sublimei e olhei em torno, procurando algo que pudesse comprar, como um alvo que pudesse atacar como vingança. Ignorei os balcões de perfume. Esqueci-me das liquidações. Fui para as escadas rolantes e para as últimas coleções de design. Quando pisei no chão meus olhos brilharam, meu sangue esquentou. Vi mulheres amontoadas em torno de um rack de vestidos de cocktail. Não hesitei. Corri, ataquei a multidão e violentamente arranquei um vestido da Mandalay para fora do rack, parando a mão estendida de outra cliente com um olhar malicioso e um jogo de corpo. O vestido era algo digno de aplauso: com um decote nas costas em forma de V, que ia desde os ombros até a cintura e um belíssimo bordado em strass. Mil e quinhentos dólares por um vestido que eu poderia nunca ter uma chance de vestir. Pode soar como uma indulgência vergonhosa. Não é assim. Emocionalmente eu precisava de um vestido e precisava dele agora. Para acompanhar a compra do vestido, sapatos e uma bolsa de mão. Quando terminei as compras já passara muito além da hora prevista que imaginei anteriormente. Uma culpa mesquinha começou a picar meu cérebro. Peguei os pacotes e chamei um táxi. Entrei, suspirei profundamente e fechei os olhos. Porque eu não podia ser de todo ruim ou de todo boa. Não ter de lidar com esta paisagem interior cinzenta de indecisão, que parecia me levar a lugar nenhum, só para os problemas? Quinze minutos depois finalmente empurrei a porta que dava para o escritório dos Darkwings no terceiro andar do velho Edifício Flatiron. Letras douradas anunciavam: ABC MEDIA, INC., A HARVARD YARD CORPORATION escritas no vidro fosco. A porta estava velha, o local desatualizado. Ninguém pensaria que espiões, espiões-vampiros, estariam em reunião por trás dela. No interior, as lâmpadas de baixa potência deixavam a sala de conferência nas sombras. No entanto, pude ver claramente a carranca 24 de J. Vestindo seu uniforme de gala, classe A, enfeitado acima do coração com linha após linha de medalhas parecendo uma salada de frutas, ele estava ereto na cabeceira da mesa retangular. Para mim, ele sempre parecia como se tivesse um atiçador no rabo. Esta noite seus lábios estavam apertados com tanta força que estavam brancos. Seus olhos azuis brilhavam como mármore, frio e com raiva, ao me ver entrar. -Agente Urbano, ele falou. - Confio que você completou seus telefonemas. - Ele deu um olhar maligno para as grandes sacolas marrons da Bloomingdale's. Eu tinha três delas nas mãos. Meus companheiros, Cormac, o dançarino temperamental irlandês, Rogue, o corpulento motociclista, Benny, a de boa índole e Audrey, a erudita, estavam dois e dois, divididos por gênero, nos lados da mesa. Todos olharam para mim sem sorrir. Senti um arrepio de vergonha por meu egoísmo, por mantê-los esperando. Benny, que havia cancelado suas compras para se certificar de chegar à reunião a tempo, parecia especialmente irritada. Colei um sorriso no rosto. Eu disse para J, - Sim senhor, missão cumprida. - Sentei na cadeira ao lado de Benny e murmurei para ela: - Estas são para devolução. Pensei que poderia ter uma chance de levá-las de volta após a reunião. Ela balançou a cabeça e revirou os olhos. Então ela colocou seus lábios, com um batom vermelho brilhante, perto da minha orelha. -Isso é tão ridículo. Eu já tinha visto Benny e Audrey em base regular desde nossa última missão, mas não tinha conversado com Cormac O'Reilly desde a festa que dei, cerca de um mês atrás, no que seria a recepção do meu casamento.Minhas sobrancelhas subiram de surpresa quando vi sua aparência alterada. Cormac fora dançarino da Broadway por longa data, passou anos na linha do coro de Cats. Ele, normalmente, favorecia seu físico com camisas apertadas, sapatos italianos e, às vezes, um lápis delineador. Não mais. Uma barba de poucos dias escurecia seu rosto. Ele usava uma jaqueta preta de motoqueiro de pele de cavalo, apesar de estarmos em junho. Uma camiseta com a gola rasgada e um jeans preto completavam seu novo visual, o que o fazia uma cópia carbono de Rogue, sentado ao lado dele. A imitação é a forma mais sincera de lisonja. Ou isso, ou Cormac tinha alguma paixão por Rogue, um homem grande e bruto. 25 Baixei o conceito de Cormac e muito. Eu tenho esse direito. Eu o conheço há duzentos anos. Vivemos nos mesmos círculos. Disputamos os mesmos amantes. Não nos falamos por vinte anos depois de um incidente com um barqueiro lindo e jovem em Veneza. Meu companheiro era um complexo, difícil, irritante e contraditório vampiro, cujas feições viravam a cabeça de homens e mulheres. Ele não era transformação minha. Eu o conhecia muito bem. Mas precisava dar ao meu velho amigo uma folga. Ele e eu éramos espíritos afins quando ele veio enfrentar uma eternidade de mortos-vivos e já tínhamos vivido séculos, sabíamos melhor do que os novatos Benny ou Rogue que a eternidade era um tempo muito longo. Eu também não tinha visto Rogue, o motociclista vampiro, que ostentava um nariz amassado e uma atitude grosseira, ele raspara a cabeça desde a noite da minha festa. Verdade seja dita, Rogue tinha sido a causa do meu "escorregão" e da minha vergonha. Traí Fitz com este tosco bárbaro. Então, quando fizemos, estávamos suados e eu estava me sentindo bastante fina. Depois ele sorriu e me disse que tinha me seduzido apenas para provar que podia. Isso me deixou puta. Na noite da minha festa planejei minha vingança premeditada, com dolo. Cormac e todos os outros convidados se retiraram pouco depois das duas da manhã, mas incentivei um Rogue bêbado a ficar. Então, depois de esconder suas roupas, eu o deixei nu, insatisfeito e algemado à minha cama durante a madrugada. Rogue tinha quebrado a cabeceira da cama para libertar-se, mas minha satisfação tinha valido o preço de substituí-la. Ouvi de Mickey, o porteiro, que um cara grande, que estivera na minha festa, deixou o prédio antes do amanhecer usando uma toalha de banho na cintura e nada mais. Eu me recusei a oferecer uma explicação, mas Mickey riu e disse que a forma como o rapaz estava tentando esconder as algemas penduradas quando pediu dez dólares para um táxi foi engraçado como o inferno. Eu dei uma nota de vinte a Mickey para compensar os problemas e os meus agradecimentos. Esta noite Rogue mantinha o rosto sem expressão, ele notou a minha entrada. Ele me deu um breve aceno de cabeça em troca do que eu lhe oferecia. Para mim, minha brincadeira significava que tínhamos nivelado o campo de jogo. Esperava que ele olhasse para isso da mesma maneira. Sangue ruim entre nós seria um infortúnio. Pensei que éramos ambos profissionais o suficiente para trabalhar em conjunto sem rancor. Pelo menos, eu esperava que sim. 26 Quanto a Audrey, não podia dizer no quê ela estava pensando. Uma vampira angular, magra, de ascendência grega, que até recentemente usara óculos fundo de garrafa que faziam seus olhos parecerem pequenos e profundos. Na semana passada fez uma cirurgia LASIK e jogou os óculos fora. Agora, ela levantou os enormes olhos castanhos e olhou para mim de forma míope, como se eu ainda não estivesse em foco. Achei que ela estava preocupada com seus pensamentos, não me vendo realmente. Seu pulso esquerdo estava envolvido em um curativo totalmente branco. Achei estranho. As feridas dos vampiros curam rapidamente, então, esta lesão deve ser grave, de fato. Neste ponto, J pigarreou e sua voz de comando quebrou meu devaneio. - Agora que a Agente Urbano chegou, vamos começar. Temos uma situação altamente incomum para resolver. - Ele botou as mãos atrás das costas e apontou os olhos acima de nossas cabeças, ao começar a falar novamente. - É uma questão de grave preocupação para a inteligência dos Estados Unidos, Estado-Maior Conjunto e para aqueles a par da situação no Ministério da Marinha. Temos, de fato, uma séria ameaça à segurança nacional. – Ele fez uma pausa. Seus olhos inquietos passaram de um a um os membros da equipe. - Mas para ser franco - disse ele - neste momento não sabemos com o que estamos lidando. A excitação subiu como mercúrio pelas minhas veias. Este trabalho me deu uma razão para acordar e sair daquele maldito caixão todas as noites. Eu não fui voluntária para me tornar espiã, mas adorei. É para isto que vivo agora: o conhecimento de que eu, juntamente com meus amigos, tínhamos o poder de sermos os protetores do bem comum e que eu, uma vampira criada para ser má, poderia ser algo mais do que um pária desprezível e uma figura de pesadelo. Esta se tornou a base da minha autoestima. Eu me chutei mentalmente pela estupidez de ter jogado com J nesta noite. Debitei meu comportamento e tolice à minha imaturidade emocional. Fui transformada em vampira quando tinha apenas dezoito anos pela mordida de um rei cigano. Privada do acesso normal à maturidade, vivi quase meio milênio com meus hormônios em fúria, como uma adolescente e o meu julgamento, muitas vezes marcado, por rebeldia adolescente. Eu queria ser uma pessoa melhor. Fiz uma anotação mental para tentar com mais afinco e pensar antes de reagir a J. Ele apertava 27 meus botões do mesmo modo que minha mãe fazia. Eu era esperta o suficiente para ver a bandeira vermelha. Só precisava disciplinar-me para parar, olhar e escutar. Enquanto estava devaneando, J passou as pastas de papel manilha que sempre recebíamos no início de uma nova atribuição. Desta vez elas estavam tão recheadas de papel que tinham mais de uma polegada de espessura. Benny, a primeira a receber a pasta, abriu a dela e começou a ler alguns papéis que estavam dentro. Rapidamente fechou-a, bateu a mão sobre ela e falou. -J, querido, você não pode cuspir fora o que está acontecendo? Não sou muito de ler este conjunto de chatices aqui, coisas sobre um velho navio da marinha que foi transformado em museu e ancorado rio acima. O corpo de J passou de forte para rígido. Chamá-lo, o nosso oficial superior, de querido, sem dúvida o chateava, como Benny bem sabia. Às vezes ela agia como Marilyn Monroe no velho filme Some Like It Hot, mas seu QI era enorme. Ela tinha uma língua tão afiada que podia cortar um peru de Ação de Graças. Ela tinha suas próprias questões com J e não tomar partido foi o melhor que fiz. Isso é o que um vampiro faz. Não jogamos bem com os outros. Dei uma espiada na minha pasta e vasculhei os papéis. Estimava pelo menos cinquenta páginas datilografadas no espaçamento simples. Pelo que vi de relance, o conteúdo parecia ser a história naval da Segunda Guerra Mundial, incluindo desenhos em escala de um porta-aviões. Poderíamos levar algumas horas para percorrer todo este material. J se voltou, deixou cair as mãos para os lados e gritou: -O consenso daqueles mais acima é que os dados de base darão a velocidade de resolução deste caso. -Bem, senhor, agora, não basta ter tudo isto. Posso ser apenas uma caipira humilde de Miz'ora, mas na minha mente, que não há consenso, esta é uma pilha de merda de vaca - a nativa de Branson bateu com as unhas perfeitamente manicuradas sobre a pasta fechada. -E, docinho, talvez os chefões não saibam que nosso amigo motociclista Rogue não é o que vocês chamam de "Orientado para Impressão”, sem ofensa, querido. -Não me ofendi - disse Rogue e virou-se para J. - Gostaria muito de receberum resumo verbal. - Idem - disse Cormac, a cópia carbono. 28 Nós todos acenamos com a cabeça em concordância, incluindo Audrey, que, com sua experiência em Nova York e sobre a história da cidade, podia já estar familiarizada com algumas das informações. Discretamente fechei a pasta e ninguém abriu a deles. Juntos, olhamos para o nosso comandante. J enfrentou um motim nas fileiras e decidiu que era o melhor critério de valor, como Falstaff disse uma vez. Ele limpou a garganta. -Simplesmente, o USS Intrepid desapareceu. -É mesmo? - Rogue resmungou e se recostou na cadeira, esticando suas pernas tronco de árvores debaixo da mesa e chutando minha cadeira, acidentalmente de propósito. Eu o ignorei, tentando ver o sentido do pronunciamento de J. - Sumiu? - Perguntei. - Li no Times que o navio foi transferido para ser reformado. Onde foi que disse que estava acontecendo? Newport News? J assentiu. - Isso é verdade. O Intrepid foi agendado para a reforma. Iria para Virginia. Mas ele nunca chegou lá. Ele se foi. -O que você quer dizer com 'ele se foi’? - Benny perguntou. –Foi para onde? Você não pode perder um porta-aviões da Segunda Guerra Mundial. O que é isso, um bloco da cidade? J travou os dedos atrás das costas mais uma vez, ficou parado e respondeu sem consultar suas notas. - O USS Intrepid pesa 27.100 toneladas. Tem 26.578 metros de comprimento. Navegava com um capitão e uma parte da tripulação sob seu comando há dois dias. O comandante do porto e três rebocadores o escoltou para fora do porto de Nova York. O navio zarpou em curso para o sul. Foi avistado pela última vez fora de Asbury Park. -Tudo bem. E daí? Eles não podem encontrá-lo? Deve ter afundado ou coisa assim - disse Rogue, cruzando os dedos sobre a barriga lisa. Audrey perguntou: - Teve algum SOS? Quais eram as condições climáticas? - Nenhum sinal de socorro. Névoa da manhã. Mar calmo - J respondeu. -Talvez uma onda trapaceira? - Audrey aventurou. -Não é provável. Ele estava a uma milha ou algo assim, ao largo da costa de Jersey, - J respondeu. Eu interrompi impaciente, minha emoção declinava e sentia-me decepcionada. -J, o que está acontecendo aqui? O Intrepid desapareceu no mar. Como isso pode ser um problema de segurança 29 nacional? Desapareceu um navio velho, de sessenta anos de idade, que foi transformado em um museu para turistas. Se não tivesse sido, teria sido afundado de qualquer maneira. Não tem nenhum valor militar. Nenhum material bélico a bordo, certo? É muito provável que vazou como uma peneira. Ele afundou. Seus destroços serão localizados por sonar, mais cedo ou mais tarde. O que estamos realmente fazendo aqui hoje? J balançou a cabeça muito lentamente. – Estou ouvindo você, Agente Urbano. Repito, estamos aqui para encontrar o Intrepid. É uma questão de segurança nacional. Não tenho a liberdade de dizer mais do que isso neste momento. Quanto ao seu possível afundamento, isso não aconteceu. -O navio, você deve entender, é um símbolo do poderio militar americano por sua navegabilidade. Resistiu a um ataque com torpedos e dois kamikazes japoneses no Pacífico. Esses ataques não afundaram o Intrepid. Uma explosão massiva pode enviá-lo ao fundo, mas, nada menos e isso não aconteceu. Acredite em mim, todos os outros cenários que você sugeriu, foram investigados, sem resultados positivos. Ele respirou fundo e olhou para cada um de nós, no olho, antes de falar novamente. -Não sabemos muito, mas aqui está o que sabemos. O navio foi visto ao largo da Costa de Jersey na manhã de segunda. Muitas testemunhas eram pescadores esportivos. Pessoas em embarcações na área. Suas histórias combinam: névoa, neblina ou fumaça, alguma coisa mudou em alguns minutos e obscureceu o navio. Quando o ar ficou limpo novamente, o navio havia desaparecido. Ele estava lá e então ele não estava mais. A Marinha tentou falar com o capitão pelo rádio do navio. Não obteve resposta. -Além disso, o navio estava dentro da área de cobertura de celular. Esforços foram feitos para o contatar o telefone da tripulação. Nenhum contato foi feito com qualquer um dos tripulantes a bordo. A Marinha mandou jatos de Long Island. A Guarda Costeira chegou ao local em 20 minutos. Não encontraram nada. Nem detritos. Nenhum destroço foi encontrado no fundo. -Depois de uma investigação oficial, podemos confirmar positivamente apenas uma coisa: O Intrepid sumiu. Parece ter desaparecido no ar. 30 Capitulo 4 Quero saber o que ele diz... O mar, Floy, o que é que ele continua a dizer? Charles Dickens em Dombey e Filhos -Bem, puta que pariu. É a merda do Philadelphia Experiment de novo. - Rogue bufou alto e sentou-se, raspando a cadeira contra o chão. J encarou Rogue e então lhe respondeu, a voz toda gelo. - Isso nunca aconteceu. -O que nunca aconteceu? Do que vocês estão falando? - Benny se inclinou para frente incapaz de reprimir o sorriso brincando em seus lábios enquanto observava os dois homens. Ela gostou do que viu: dois machos alfa tentando mijar na mesma árvore. Rogue virou a cabeça raspada para J com o queixo levantado. - Talvez tenha acontecido e talvez não. Mas precisamos ver isso. Bote a informação para fora. Qual é a problema realmente? -O desperdício de tempo - J disse com desdém. - Acho que o cavalheiro protesta demais - Cormac interrompeu, afrescalhado, mesmo com sua roupa de motoqueiro. - Gostaria de fazer uma proposta: Vamos deixar Rogue falar. Alguns segundos? - Tenho uma segunda proposta - Benny falou. J bateu a palma da mão sobre a mesa. -Chega! Não votamos nesta sala. Eu estou no comando. Não Rogue. Nem qualquer um de vocês. Então escutem. O Experimento Filadélfia é falso. Não foram localizados registros para confirmar o evento ou para confirmar o interesse da Marinha em tal experiência. -Que foi...? - Benny perguntou. J fez um sinal desesperado e disse. - No outono de 1943, o encouraçado USS Eldridge, supostamente, foi feito invisível e tele transportado do seu cais nos Estaleiros Navais da Filadélfia para Norfolk, na Virgínia. Supostamente, os membros da tripulação do navio mercante civil, o SS Andrew Furuseth, testemunharam o Eldridge se materializar em Norfolk. Digo supostamente porque não há registros de confirmação de que o Eldridge já ancorou na Filadélfia ou que o Furuseth já atracou em Norfolk. A coisa toda é um mito. 31 Rogue zombou. - Claro que é. Porque o governo diz que é. E nós sabemos que os navios nunca estiveram naquele lugar porque o governo diz que não há registros disso. Certo? - Isso é correto. - J assentiu. Rogue insolentemente se recostou na cadeira novamente, tirou um palito do bolso da camisa e enfiou na boca. Ele levantou uma sobrancelha para o nosso "comandante". A disputa pelo xixi continuou. - Bem, agora, senhor, o governo nunca mente ou destrói registros, não é? Rogue cruzou os braços sobre o peito e olhou para Benny. - O que J deixou de fora, mocinha, são alguns fatos conhecidos. Um: Albert Einstein era um consultor da Secretaria de Abastecimento da Marinha naquela época. - Dois: Um monte de gente sabia que eles estavam brincando com o Eldridge, com a instalação de cabos, fazendo alguma coisa. Claro, quando as pessoas perguntavam a Marinha explicava para as testemunhas dizendo que era apenas a desmagnetização do navio, em outras palavras, colocando os cabos elétricos em volta do casco do navio para neutralizar o campo magnético. Isso o tornaria 'invisível' para ser detectado por dispositivos.As pessoas devem ter se confundido, isso é tudo, disseram eles. -Três: uma testemunha do navio mercante Furuseth, um cara chamado Allen ou Allende, conversou com a imprensa. A Marinha revidou. Sua cúpula disse à mídia que Allen era maluco ou lunático. Allen, em seguida, suicidou-se convenientemente. Alguns dizem que ele foi assassinado. - Quatro: Um cientista respeitável demonstrou que um campo eletrônico pode criar um efeito de miragem da invisibilidade por que refratam a luz. Claro, ele só fez isso com um carretel de linha e não com um navio de batalha. Mas ele mostrou que poderia ser feito, sabe? -Você me pergunta? A coisa toda cheira a acobertamento. Sempre. Enquanto Rogue falava, a cor de J foi subindo, rastejando como uma mancha vinho até o pescoço, inundando o rosto com um vermelho feio e escuro. O homem estava quase tendo um ataque cardíaco. -De qualquer forma - Rogue continuou enquanto mexia o palito para cima e para baixo entre os dentes - agora, aqui, é o Intrepid, outro navio militar da Segunda Guerra Mundial a caminho de Norfolk e 32 desaparecendo no ar. Convenhamos. Você realmente acredita em coincidência? - Esta discussão acabou - J interrompeu. - Você quer discutir OVNIs e disparates como esses, sintonize a rádio tarde da noite e ouça a Art Bell. O governo não fez o Intrepid desaparecer. - Merda, J - Rogue disse, perplexo, dando um sorriso de dentes apertados. - Não estou dizendo que o governo está por trás do desaparecimento do Intrepid. Eu só estou dizendo que, provavelmente, exista a tecnologia para fazê-lo e agora, talvez, alguém a está usando também. O silêncio desceu sobre a sala. Em seguida, Audrey, dando um pouco de atenção, finalmente entrou na conversa defendendo o lado de J. - Não concordo com você, Rogue. Não é a mesma situação. Aquele velho conto da Segunda Guerra Mundial? As pessoas adoram teorias de conspiração. UFOs. Abduções alienígenas. Homens de preto. - Mas há homens de preto - interrompi com voz suave. Audrey me lançou um olhar interrogativo. - Tanto faz. Penso que temos de considerar algumas outras causas - insistiu ela. Benny concordou. -Sim, Rogue, querido. Isso foi uma história muito legal, mas tem o quê? Mais de sessenta anos de idade. Além disso, o Eldridge não apenas desapareceu. Ele se moveu. E essas coisas de tele transporte também é woo-woo. Fiquei passando o dedo indicador em círculos preguiçosos sobre a mesa enquanto escutava. Não olhei para cima quando comecei a falar baixinho, como se estivesse pensando em voz alta. - Woo-woo? A coisa do tele transporte, sim. Mas não o resto, você sabe. - Ergui os olhos e procurei os rostos dos meus colegas antes de descansar o meu olhar no rosto sombrio de J enquanto meu cérebro mantinha as idéias girando. Pensei que o Experimento Filadélfia pudesse ser um mito. Isso não significa que fosse completamente falso. Mitos nos permitem aceitar eventos ou idéias que não poderíamos explicar, eventos que desafiam o status quo, que não se encaixam em nossa visão de mundo. Ei, eu era um mito. Todos os vampiros eram. Mas lá estava eu, de carne e osso e real. Imaginei que todos estavam esperando que eu falasse. - Rogue tem um ponto - disse a J por último. - Ele nos deu uma teoria de como o navio desapareceu. Talvez alguém tenha a tecnologia para torná-lo, para todos os efeitos, invisível. Talvez o navio simplesmente fosse 33 camuflado e movido. Não tenho certeza que seja importante saber como eles fizeram isso. O essencial é descobrir quem fez e por quê fizeram isso. Precisamos descobrir cui bono6, quem se beneficia? E onde, no mundo, um inferno de um navio tão grande está agora. J, juro por Deus, não parecia saber o que dizer para nós naquele momento. Isso foi o suficiente para me fazer suspeitar sobre todo o serviço. Um navio desaparecendo era estranho. A nossa participação nisso era mais estranha ainda. É aí, minha bela, que reside a dificuldade, como Shakespeare disse uma vez para minha mãe. Um dia, algum historiador com uma mente aberta, uma contradição em termos, deverá ter um novo olhar para a identidade da senhora sombria dos sonetos Willy. Esse pensamento passou solto pela minha mente indisciplinada antes que eu me forçasse a me concentrar no aqui e agora. E o aqui e agora era J. No momento, eu estava olhando para ele. Ele se abaixou para pegar uma maleta e fingiu não me notar. Eu sabia que ele tinha notado, porque sempre que eu o irritava, um músculo em seu maxilar começava a pular. Eu o observei fazendo um sapateado. J colocou a maleta sobre a mesa e a abriu enquanto dizia aos Darkwings, sem olhar para nenhum de nós, para voltarmos aqui amanhã. Ele entraria em contato conosco se houvesse alguma informação nova, mais tarde, nesta mesma noite. Enquanto isso, nós devíamos - ele encolheu os ombros naquele momento - ler os documentos sobre o caso e investigar, acrescentou. Os Darkwings, inclusive eu, nos levantamos. Tínhamos adquirido o hábito de nos reunir após as reuniões. Sem dizer nada, sabíamos que iríamos falar entre nós, lá embaixo, na rua, onde não há aparelhos de escuta para pegar nossa conversa. Sim, éramos paranóicos. Mesmo os paranóicos têm inimigos. Além disso, nenhum de nós gostava do escritório. Nenhum de nós nunca usou nossos cubículos ou computadores. Nós nos reunimos lá para pegar nossas atribuições. Era um ponto de encontro. Mas não era nosso. Não era de ninguém. Não existiam fotos penduradas nas paredes. Sem armários abarrotados com papéis. A sala de reuniões era suja, com as paredes ocre desbotadas e sujeir 6 Cui Bono, quem se beneficia. Utilidade ou de utilidade como um princípio de estimar o valor de um ato ou política. 34 nas janelas, parecia ser um lugar anônimo, impessoal como uma caixa de correios. Quase. Para mim, o escritório tinha uma característica singular: Ele continha o J. Ele era um espaço em branco ardósia de um homem, uma pessoa que nunca revelou seu nome, endereço, passado ou vida pessoal. Ele nos mostrou uma banda muito estreita no espectro de sua existência, ainda que algumas coisas não pudessem ser escondidas. Desde o início ele agiu como se me odiasse. Agiu é a palavra-chave. Ele pode não gostar de mim, mas me deseja, eu tinha certeza disso. Vi seu ciúme de Darius Della Chiesa em cada palavra que disse sobre o meu ex-namorado. Então, quando fiquei noiva de St. Julien Fitzmaurice, ele de deu uma ordem direta para não me casar com Fitz. Acordei a raiva e a luxúria de J. Não me diga que estou errada. Uma mulher sabe quando um homem a quer, mesmo que ele negue ao mundo e a si mesmo. Hoje à noite eu chateei J mais uma vez. Ele sempre foi tão fácil. Provoquei suas emoções como uma correspondência com dinamite. Agora eu queria brincar com fogo. Os novos melhores amigos, Rogue e Cormac, já estavam fora da porta. Audrey e Benny contornaram a mesa e caminhavam para mim. Estendi a mão, puxei Benny pelo braço e sussurrei: - Quero falar com J. Depois converso com você lá embaixo. Cinco minutos no máximo. Benny me deu um olhar que claramente dizia: - Não faça nada estúpido, e sussurrei de volta, - Claro. Olhei para J. Ele olhou para longe, mas não rápido o suficiente. Ele esteve me olhando. Ele começou a fechar a maleta. Fui até ele. - Quero pedir desculpas, - eu disse. Ele sacudiu a cabeça. - O que você realmente quer? - ele perguntou. - Não, sério. Eu estava fora de linha esta noite. Sem desculpas. Não vai acontecer novamente, isso é tudo. J me encarou, seu rosto estava rígido. – Certo. -E eu gostaria de lhe perguntar uma coisa. Seus olhos se estreitaram levemente. - O quê? -Por que os Darkwings estão nisso? Eu não consigo entender.O que é que devemos fazer? -Encontrar o Intrepid, - J revidou. -Não, - eu disse, balançando a cabeça. -Não. Eu não acho que seja isso. Qual é a ligação real? Para nós, quero dizer. 35 J evitou meus olhos, então, por isso, aproximei-me mais dele, obrigando-o a recuar, o que ele não fez, nem olhou para mim. - Eu não sei, - respondeu ele. Debrucei-me um pouco mais em direção a ele e, de repente, senti o calor do seu corpo. Senti o cheiro almiscarado e macho dele. - Adivinha, - disse eu em voz baixa. Seus olhos me seguraram depressa. Agora estávamos como pólos opostos de um ímã e a tração para nos juntar se tornava irresistível. - Eu não sei, - disse ele muito devagar. -Por que você não pergunta para sua mãe se quer algumas respostas? A amargura estava lá. Eu ouvi. J não gostava das manipulações de Marozia mais do que eu, aposto. - Acredite em mim, J, - eu disse, minha voz era íntima e as palavras apenas uma pequena parte do jogo que, de repente, estávamos jogando. - Eu seria a última a saber. É assim que funciona com ela. Sua respiração, levemente perfumada com mentol e tabaco, movia o ar em torno de meu rosto. -Como eu disse, Agente Urbano, não sei por que os Darkwings foram colocados neste caso. Vi seus olhos se moverem para os meus lábios, muito brevemente, antes de voltar aos meus olhos. Será que ele queria me beijar ou estava pensando sobre como se fechariam quando eu fosse mordê-lo? Ficamos ali sem falar por um longo minuto, com a respiração um pouco mais difícil do que antes. Pensei em fazer o primeiro movimento, para beijá-lo. Teria foi tão fácil. Mas J era um homem obcecado por controle. Sexo seria tudo sobre dominação, dele ou minha. Decidi irritá-lo mais uma vez. - Tenho outra pergunta, - eu disse. -Qual é? - ele perguntou. - Será que o seu pessoal ouviu alguma coisa sobre Darius? Uma porta bateu entre nós. - Eu não ouvi nada, - disse ele, em seguida afastou-se e estendeu a mão para pegar sua pasta. - Ei, não perguntei isso para chateá-lo. Eu preciso saber. Não é nada pessoal... São negócios. J me lançou um olhar frio. - Meu negócio é ser espião. Esse é o meu negócio. Então fale. Por que você está perguntando sobre Darius della Chiesa? - Não tenho nada sólido, J. Ele deixou a Alemanha, talvez tenha ido para a Turquia... - hesitei. Quanto mais eu poderia deixar de fora? Eu me perguntava. - Ele parece ter desaparecido. Na noite passada fui atacada na rua por caçadores de vampiros. Se eles estiverem 36 conectados a ele de qualquer maneira, seja porque ele os enviou ou porque estão procurando por ele através de mim, preciso saber. O rosto de J estava diferente quando olhou para mim, então. – Vou perguntar por aí. Informo você sobre o que descobrir. - Ele só me olhou por um momento. - Daphne... -O quê? Eu não esperava, J agarrou meu braço com a mão livre, puxou- me para ele tão firmemente que suas medalhas pressionaram meu peito. Seus lábios estavam muito perto dos meus. - Não brinque com isto. Se ele entrar em contato, me diga. Não confio nele. Já lhe disse isso antes. Ouça-me, agora. Não confio nele. Então J me soltou, virou muito rápido, entrou em seu gabinete e fechou a porta. Fiquei lá, abalada e sem saber bem o que pensar, só que eu tinha certeza que não sabia toda a história. Não era sobre o Intrepid. E não sobre Darius della Chiesa. Lá embaixo, na calçada, o ar suave da noite de junho acariciava o meu rosto. Quatro vampiros esperavam por mim, de pé, juntos, divididos dois a dois. Eu era o quinto da roda, o ímpar. Isso nunca tinha sido mais óbvio do que agora, eu, o único Darkwing com sacos de compras da Bloomingdale's pendentes das mãos, voltando para me juntar a eles. -Adivinha o que Macky fez, - disse Benny. Olhei para meu amigo de longa data Cormac. Ele era um camaleão e, como Johnny Depp, usava sua nova personalidade. Seu cabelo era longo, seu corpo magro, na sua postura de duplicação de Rogue. Cormac era a sombra menor e mais sombria do homem grande, mas não louco, não insubstancial. Ele era um vampiro. Ele era perigoso o tempo todo. Agora, com roupas de motoqueiro de couro negro, ele permitiu que o mundo visse algo da sedução do nosso mal, a ativar-se do nosso lado negro. Levantei as sobrancelhas. -Macky fez alguma coisa? Não, não me diga. Quero adivinhar. Oh, eu sei. Ele fez uma tatuagem. Antebraço? Ombro? Ou você precisa deixar cair as calças para nos mostrar? Cormac fez uma careta para mim. -Você não está nem perto, - disse Benny. -Diga a ela, Macky. -Sim, diga. Realmente inquirindo, as mentes querem saber. -Eu tenho uma bicicleta, - Cormac disse. 37 -Uma bicicleta? - Eu fiz eco. Eu não entendo. Cormac, você decidiu fazer o Tour da França ou alguma coisa? -Uma motocicleta. Venha. Vou lhe mostrar. Ele voltou para o Edifício Flatiron e empurrou a porta de entrada. Todos nós o seguimos, incluindo Rogue, que jogou o cigarro no chão e o apagou com o calcanhar de sua bota. Atrás de uma porta de vidro fosco na parte de trás do lobby, estacionadas no piso de granito, estavam duas Harley-Davidsons, uma preta com pára-choques cromados e a outra toda branca. -Esta é a minha. - Cormac se aproximou e montou a moto branca. -Tem um jeito antigo, - disse eu, sem saber o que dizer. Rogue, vaiando minha ignorância, disse. - São motos clássicas. Cormac tem uma Hard Head 1940 com mudança de suicídio. A minha é uma Head Bomb 1954. Fiquei ali segurando as sacolas da Bloomingdale's como uma matrona suburbana e tentei parecer entusiasmada. - Ah, legal. Benny gritou. - Daph! Elas valem dezenas de milhares de dólares! Você não acha que elas são bonitas? -A minha vai ser, - Cormac disse - quando conseguir repintá-la. Era uma moto da polícia, por isso ela é branca. Todo o estoque. Raras como o inferno. Rogue empurrou sua motocicleta através das portas e do lobby. Ele a montou. Audrey subiu atrás dele, montando como piranha. Ele deu a partida e o rugido do motor me feriu os ouvidos. -Eu estou andando com Cormac - Benny gritou sobre o ruído. Cormac teve mais problemas empurrando sua motocicleta do que Rogue, mas ele conseguiu e Benny montou na motocicleta atrás dele. -Abra as portas da frente para nós, - Audrey gritou para mim, colocando uma mão no ombro de Rogue e apontando para a entrada da Quinta Avenida com a outra. Eu abri, apoiando um lado aberto da porta dupla e segurando o outro lado da porta dupla com meu ombro para dar às motos a passagem fácil através delas. Rogue e Audrey passaram por mim e foram até a calçada, freando antes de sair para a rua. Cormac estava tendo um pequeno problema com sua moto para dar partida. Achei que a "mudança de suicídio" era o problema. Benny estava empoleirada atrás dele, sorrindo. Eu esperava que ele não a derrubasse na rua quando descessem pela avenida. -Eu pensei que íamos conversar - Eu disse para ela. 38 -Nós vamos. Só então Cormac conseguiu botar o motor em funcionamento e saiu pela porta. Benny virou a cabeça para trás para mim e gritou sobre o rugido do motor, -Pegue um táxi e encontre-nos na Harley Charlie's Hangout. Você se lembra onde é, né? Eu lembrava, tudo bem. O bar de motoqueiros na Rua West, onde quase perdi a cabeça na noite em que conheci Rogue. Harley Charlie's Hangout, frequentado por motoqueiros vampiros e outros criminosos, não era um lugar para ir com três sacolas grandes. Nenhum cliente comprava na Bloomingdale's, a maioria deles nunca tinha sequer ouvido falar dela, aposto. Já era ruim o bastante eu estar vestindo calças de yoga, pelo amor de Deus. Certamente eu não iria, então decidi voltar pelas escadas para o escritório, deixar minhas coisas no meu computador e voltar mais tarde.