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UNIVERSIDADE BRASIL DANIEL LOPES PILAN PROVAS NO PROCESSO PENAL: TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA BIRIGUI 2018 UNIVERSIDADE BRASIL DANIEL LOPES PILAN PROVAS NO PROCESSO PENAL: TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA Birigui 2018 Trabalho de Pesquisa na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso 9º semestre do curso Bacharel em Direito da Universidade Brasil – unidade: Faculdade Birigui Orientador: Esp. Everson Alves de Almeida Pilan, Daniel P637d Provas no Processo Penal: Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada / Daniel Lopes Pilan -- Birigui, 2018. 73 f.: il.; 30 cm. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) –Universidade Brasil - Unidade: Faculdade Birigui, 2018. Orientador: Prof.º Esp. Everson Alves de Almeida. 1. Processo Penal. 2. Provas. 3. Provas Ilícitas. 4. Arvore Envenenada 341.43 Dedico aos meus pais que sempre me apoiaram em todas minhas escolhas, me instruíram, me educaram, me ascenderam ao que sou; sempre me confortaram nas minhas derrotas e comemoraram nas minhas vitórias. Aos meus heróis, todo amor e respeito, eternos para mim, Josiane Ribeiro Lopes e Wilson Pilan Jr. Agradeço primeiramente ao Mestre Everson de Almeida, o qual possibilitou este trabalho com sua grande paciência, vasto conhecimento e grandiosa orientação, também, como sendo um dos motivos de não ter desistido do curso no primeiro termo, seus ensinamentos sempre serão lembrados, de Direito e de vida. Dizem que o aprendiz deve sempre superar o seu mestre, mas alguns, em alguns casos, são simplesmente insuperáveis. Agradeço à Mestra Melissa Puertas Sampaio, pela dedicação e pelos conhecimentos prestados e, principalmente, pela paciência. Agradeço também ao futuro magistrado e meu grande amigo Rafael Brandão, o qual sempre esteve disposto a colaborar com seus conhecimentos e suas ideias mais que inovadoras ao bom direito. Por fim, agradeço aos meus colegas de sala Odair Ramirez Reis, que sempre esteve de bom humor e disposto a ajudar; À Debora da Silva Matos que com sua fé sustentou a todos ao seu redor e não apenas a si mesma; À Andreia de Oliveira que sempre ajudou nos momentos difíceis. Ainda, aos supramencionados, por terem me suportado nesses cinco anos: Muito Obrigado. “Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.” Friedrich Nietzsche TERMO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins e que se fizerem necessários que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade Brasil – Campus Birigui/SP, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca da monografia. Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico. Birigui, ___ de ________ de 2018. _____________________ DANIEL LOPES PILAN DANIEL LOPES PILAN PROVAS NO PROCESSO PENAL: TEORIA DOS FRUTOS DA ÀRVORE ENVENENADA Monografia aprovada em ___ de _______ de 2018, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em direito na Universidade Brasil – unidade: Faculdade Birigui, pela banca examinadora formada por: Presidente e Orientador: Prof. Esp. Everson Alves de Almeida Instituição: Universidade Brasil – unidade: Faculdade Birigui Campus – Birigui Assinatura:__________________________________ Professor(a): Profa. Ma. Juliana Maria Simão Samogin Instituição: Universidade Brasil – unidade: Faculdade Birigui Campus – Birigui Assinatura:__________________________________ Professor(a): Profa. Ma. Ineida Tragueta Lorenzetti Instituição: Universidade Brasil – unidade: Faculdade Birigui Campus – Birigui Assinatura:__________________________________ NOTA: 10,00 (X) APROVADO ( ) REPROVADO LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS HC - Habeas Corpus CPP - Código de Processo Penal CP - Código Penal CF - Constituição Federal p. - Página Ex: - Exemplo STF - Supremo Tribunal Federal LISTA DE SÍMBOLOS § - Parágrafo §§ - Parágrafos RESUMO A presente monografia, tida como trabalho de conclusão de curso, trata sobre as provas no processo penal e a teoria dos frutos da árvore envenenada, tendo sido realizada com base em estudos de bibliografias doutrinárias de direito, para o melhor entendimento do tema. Observa os métodos de prova do processo penal e, mais especificamente, as provas ilícitas e suas exceções, com ênfase nas teorias norte-americanas, as quais tem influenciado muito o Direito brasileiro. Com o estudo, foi observado que as provas ilícitas são resultado de um abuso do estado em detrimento de direitos privados. Em consequência, a insegurança jurídicas que as provas ilícitas podem trazer, bem como sua repercussão em vários âmbitos do direito, principalmente nos direitos individuais das pessoas, o estudo se faz necessário para uma melhor reflexão e elucidação do problema. A teoria dos frutos da árvore envenenada, é uma das teorias norte-americanas, esta trata das provas derivadas das ilícitas, tornando-as também ilícitas e estranhas ao processo, como se nunca tivessem existido. Palavras Chave: Processo Penal; Provas; Provas Ilícitas; Arvore Envenenada ABSTRACT This monograph, taken as a course conclusion, deals with the evidence in the criminal process and the theory of the fruits of the poisoned tree, having been carried out based on studies of doctrinal bibliographies of law, for a better understanding of the subject. It observes the methods of proof of thecriminal process and, more specifically, the illicit evidence and its exceptions, with emphasis on the North American theories, which has greatly influenced Brazilian law. With the study, it was observed that illicit evidence is the result of an abuse of the state over private rights. Consequently, the legal uncertainty that illicit evidence can bring, as well as its repercussion in various areas of law, especially in the individual rights of individuals, the study is necessary for a better reflection and clarification of the problem. The theory of the fruits of the poisoned tree, is one of the North American theories, this deals with the evidence derived from the illicit ones, making them also illegal and strange to the process, as if they had never existed. . Keywords: Criminal Procedure; Evidences; Unlawful Proofs; Poisoned Tree SUMÁRIO INTRODUÇÂO ............................................................................................... 16 1 BREVE HISTÓRICO DAS PROVAS E DO PROCESSO PENAL NO BRASIL ..................................................................................................................... 17 1.1 Brasil Colônia ...................................................................................... 17 1.2 Brasil Império (Constituição de 1824)................................................ 19 1.2.1 Código Criminal de 1830 .............................................................. 20 1.2.2 Código de Processo Criminal de 1832 ........................................ 22 1.3 República e Constituição de 1891 ...................................................... 23 1.3.1 Código Penal de 1890....................................................................... 23 1.4 Constituição de 1934 ........................................................................... 23 1.5 Constituição de 1937 ........................................................................... 24 1.5.1 O Código Penal e o Código de Processo Penal de 1941 ........... 24 2 PROVAS NO PROCESSO PENAL ............................................................. 26 2.1 Provas................................................................................................... 26 2.2 Sentido da Prova ................................................................................. 27 2.3. Objeto da Prova .................................................................................. 27 2.3.1. Dos que não são Objeto de Prova .............................................. 27 2.3.2 Espécies ......................................................................................... 28 2.4 Sistema de Avaliação das Provas ...................................................... 29 2.5 Meios de Prova .................................................................................... 30 2.6 Ônus da Prova ..................................................................................... 31 2.7 Procedimento Probatório .................................................................... 32 2.7.1 Prova Emprestada ......................................................................... 33 2.8 Princípios Gerais da Prova ................................................................. 33 2.9 Busca e Apreensão ............................................................................. 35 2.9.1 Busca Domiciliar e Pessoal .......................................................... 36 2.9.2 Formalidades ................................................................................. 38 2.10 Provas Periciais ................................................................................. 38 2.10.1 Perito ............................................................................................ 39 2.10.2 Exame de Corpo de Delito .......................................................... 40 2.11 Interrogatório ..................................................................................... 40 2.11.1 Características ............................................................................. 41 2.11.2 Direitos do Réu no Interrogatório .............................................. 42 2.11.3 Conteúdo...................................................................................... 43 2.11.4 Confissão ..................................................................................... 43 2.11.5. Características da Confissão .................................................... 45 2.11.6 Voluntária ou espontânea .......................................................... 45 2.11.7 Validade da Confissão ................................................................ 45 2.12 Delação ............................................................................................... 46 2.12.1 Delação Premiada ....................................................................... 46 2.13 Prova Testemunhal ........................................................................... 47 2.13.1 Características da Prova Testemunhal ..................................... 47 2.13.2 Dispensas e Proibições de Testemunhas ................................. 48 2.13.3 Compromisso e Deveres da testemunha .................................. 49 2.13.4 Contradita .................................................................................... 50 2.13.5 Numero de Testemunhas por procedimento ............................ 50 2.13.6 Procedimento .............................................................................. 50 2.14 Reconhecimento de Pessoas e Coisas ........................................... 51 2.14.1 Reconhecimento de Pessoas ..................................................... 51 2.14.2 Reconhecimento de pessoas por foto ...................................... 52 2.14.3 Reconhecimento de Objetos ...................................................... 52 2.15 Acareação .......................................................................................... 52 2.16 Prova Documental ............................................................................. 53 2.16.1 Função da Prova Documental .................................................... 54 2.16.2 Prova Emprestada ....................................................................... 54 2.17 Prova Indiciária .................................................................................. 54 2.17.1 Prova de Fora da Terra ............................................................... 55 2.17.2 Prova Antecipada ........................................................................ 55 2.17.3 Contra indícios ............................................................................ 55 3 PROVA ILEGAL .......................................................................................... 56 3.1 Conceito ............................................................................................... 56 3.2 Conceito pós 2008 (Lei n. 11.690/08) ................................................. 58 3.3 O juiz Contaminado ............................................................................. 59 3.4 Hipóteses de Admissibilidade da Prova Proibida ........................... 60 3.4.1 Exceção do Erro Inócuo ............................................................... 60 3.4.2 Legitimidade para requerer a exclusão da prova ilícita ............. 60 3.4.3 Princípio da Proporcionalidade ................................................... 60 3.4.4 Prova Ilícita Pro Reo ..................................................................... 61 3.5 Teoria da Visão Ampla ........................................................................61 4 TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA ............................. 64 4.1 Conceito ............................................................................................... 64 4.2 Teoria da Fonte Independente ............................................................ 65 4.3 Teoria da Descoberta Inevitável ......................................................... 67 4.4 Teoria da Mancha Purgada ................................................................. 69 CONSIDERAÇÔES FINAIS ........................................................................... 71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 73 16 INTRODUÇÂO Esta monografia tem como objeto de estudo as provas no processo penal e a teoria dos frutos da árvore envenenada, ressaltando as provas ilícitas e a própria mencionada teoria, assim como as exceções advindas dela. Destarte, informar sobre à atividade probatório nos tribunais, a reprodução imprescindível em juízo, coleta de provas legais e ilegais pelos agentes dos Estado e a sua utilização ou não no decorrer do processo. Para esta monografia foram realizadas pesquisas em bibliografias de diversos autores, doutrinadores, para o embasamento teórico e melhor entendimento do tema, além de que a discussão doutrinaria é uma das essências do bom direito. A monografia foi dividida em quatro capítulos para melhor didática. No primeiro capítulo, há um breve entendimento dos períodos do processo penal os quais eram refletidos pelas constituições e o momento em que foram outorgadas, sendo apenas um ponto de partida para lidar com opulento assunto. O capitulo dois dá início ao assunto de fato, trazendo princípios e entendimentos doutrinários, além de todas as provas do rol positivo do Código de Processo Penal, bem como as provas que não estão determinadas, em razão do próprio código não tratar as provas com taxatividade. No penúltimo capítulo há o assuntos das provas ilícitas, de rol também não taxativo, e algumas teorias aceitas no Brasil. Por fim, no quarto capítulo, a teoria dos frutos da árvore envenenada e suas exceções teóricas, algumas aceitas no Brasil. A justificativa desta monografia é os excessos cometidos na coleta de provas pelos agentes do Estado, os abusos e erros judiciários, além da insegurança jurídica por falta de discussão de alguns temas, como é o caso das provas ilícitas e a própria teoria dos frutos da árvore envenenada. É imprescindível que a pirâmide jurídica sempre seja observada, além dela, os entendimentos dos tribunais superiores e a analogia em bonam partem1, quando não for o suficiente ou justo, então lutar pela justiça. 1 É o uso da analogia em benefício do réu 17 1 BREVE HISTÓRICO DAS PROVAS E DO PROCESSO PENAL NO BRASIL 1.1 Brasil Colônia Para Flavia Lages de Castro os primeiros documentos relacionados com o território que hoje é o Brasil, são a Bula Inter Coetera (1493)2 e o Tratado de Tordesilhas3. Nos primeiros 30 anos desde o descobrimento não houve legislação brasileira, sendo utilizada apenas pequenos resquícios da legislação dos conquistadores lusitanos (NASCIMENTO, 2007) Não havendo chance de haver outro regime de direito nestas terras pós- colônial: Ao aqui chegar, os portugueses encontraram uma população dispersa em várias tribos, chamando esse povo indistintamente de índios. Como é sabido, o estágio evolutivo dos que aqui residiam era comparado ao do período neolítico (desconheciam a escrita, a roda etc.). Adicione-se a isso o fato de não existirem instituições políticas e jurídicas com um mínimo de representatividade. Não houve nem discussão: os portugueses impuseram sem o menor constrangimento o seu sistema jurídico à nova colônia, não restando absolutamente nada dos antigos costumes jurídicos dos indígenas. (MACIEL, 2010, p.130) Bem como, ainda, havia o total desinteresse de Portugal pelas terras do novo mundo, em razão de que o comércio com a índias rendiam muito mais lucros do que a colônia, em primeiro momento. No regime colonial, a colônia é mero instrumento de enriquecimento para os reinos, destarte, Portugal esperava encontrar outro o quanto antes para que assim, houvesse lucro. Não havia um interesse de implementar um regime jurídico ou regulamentar as terras etc. (CASTRO, 2007) Posteriormente, com o êxito das colônias espanholas de encontrarem minérios, Portugal iniciou a distribuição de terras para dar início as buscar por 2 Foi definida como um tratado em maio de 1493, do Papa Alexandre VI, o qual determina que o “novo mundo” era dividido entre Portugal e Espanha. 3 Efetiva a Divisão entre o território de Portugal e Espanha 18 minérios, com isso, o território no novo mundo foi colonizado pelos portugueses, com método de divisão em grandes latifúndios, as Capitanias Hereditárias. (CASTRO, 2007) Os donatários recebiam as Cartas de Doação 4 e os Forais5, tendo o direito e o dever de exercer a justiça. Não era algo arbitral, tendo em vista que os próprios forais delimitavam os poderes e deveres. (CASTRO, 2007) Em consonância Jose Fabio Rodrigues Maciel: A Colônia, base de nosso país, formou-se como uma sociedade agrária baseada no latifúndio, existindo, sobretudo, em função da Coroa. Sua economia era complementar, baseada em monopólios e estancos, obrigatórios, que eram bastante benéficos para a burguesia mercantil lusitana. Os colonos vinham para cá "fazer a América", com a esperança de um dia voltar para Portugal e usufruir das riquezas aqui conquistadas. Não havia o espírito da construção de um país livre e soberano. O que dominava era o desejo de sugar tudo que a nova terra podia dar, sem preocupações com o que ela poderia vir a se tornar. (MACIEL, 2010, p. 131) Era um sistema tipicamente feudal, em que as questões políticas, administrativas e jurídicas ficavam a cargo dos donatários. Como não havia burocratização quanto aos procedimentos adotados, na prática confundia-se em uma só pessoa as funções de legislar, acusar e julgar. (MACIEL, 2010, p. 132) As capitanias acabaram por fracassar em razão do desinteresse dos donatários (CASTRO, 2007). Por isso, a Coroa portuguesa interviu em sua colônia instituindo o Governo Geral, o qual assume as responsabilidades da colônia sendo a justiça instituída: a) Primeira instância: formada por juízes singulares que eram distribuídos nas categorias de ouvidores, juízes ordinários e juízes especiais. Por sua vez, estes se desdobravam em juízes de vintena, juízes de fora, juízes de órfãos, juízes de sesmarias etc. b) Segunda instância: composta de juízes colegiados que atuavam nos chamados Tribunais da Relação; apreciavam os recursos e embargos. No Brasil o primeiro Tribunal da Relação foi criado na Bahia, em 1587, mas entrou efetivamente em funcionamento apenas em 1609. Era composto por dez desembargadores, contando com o chanceler. Cada um deles tinha uma função definida. Tempos depois, em função das grandes distâncias, novos tribunais foram criados: Rio de Janeiro, em 1751; Maranhão, em 1812; e Pernambuco, em 1821.Vale salientar que a competência dos 4 Documento que indicava a posse da capitania 5 Documento que indicava os direitos do possuidor (Recebimento de taxas, distribuição de terras, etc) 19 Tribunais da Relação compreendiabasicamente três situações processuais: era uma instância recursale, em grau de recurso, recebia dois tipos de recursos: as apelações e os agravos; tinha competência para ações originárias, em certos casos, nas áreas cível, criminal e do patrimônio estatal; competência avocatória em determinadas situações de juízo criminal. Como se vê, não era um Tribunal exclusivamente recursal. c) Tribunal de Justiça Superior: era a terceira e última instância, com sede em Lisboa. Era a chamada Casa da Suplicação, espécie de tribunal de apelação. Com a vinda da família real para o Brasil em 1808, foi transferido para a cidade do Rio de Janeiro. (MACIEL, 2010, p. 134) 1.2 Brasil Império (Constituição de 1824) Com as políticas imperialistas da França, em razão da ascensão de Napoleão Bonaparte, a Família Real Portuguesa foi obrigada a se retirar para a colônia com a ajuda dos Coroa Inglesa. (CASTRO, 2007) Atrelado ao governo inglês, que auxiliou a vinda da família real para cá em 1808, D. João VI teve de ceder a algumas modernizações exigidas pelo capitalismo nascente dos ingleses, como a abertura dos portos (1808). Importante anotar que as tarifas para os produtos ingleses eram extremamente benéficas. Além disso, com a vinda de praticamente toda a corte lisboeta para o Rio de Janeiro, outras medidas administrativas foram tomadas, como a criação do Banco do Brasil em 1810 e a elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves em 1815. (MACIEL, 2010, p. 143) Quando a Família Real retornou para Portugal, em razão da saída dos franceses, D. João teve de retornar, deixando seu filho, D. Pedro I, para governar o Brasil que logo assumiria o trono do império . Como consequência da Revolução do Porto, muitos políticos brasileiros participaram como deputados das Cortes convocadas em 1820, adquirindo excelente experiência legislativa. Quando convocada a Assembleia Constituinte no início do Império, essa experiência foi aproveitada, já que muitos retornaram e assumiram postos para a elaboração da nossa primeira Constituição genuinamente nacional. E aí que começam a surgir os primeiros problemas, já que foram tremendamente influenciados pelo pensamento liberal, e o liberalismo tinha como ícones as bem- sucedidas Revoluções Americana e Francesa, cujos princípios não eram facilmente adaptáveis à recente condição de ex-colônia do nosso país. (MACIEL, 2010, p. 148) 20 Convocada a constituinte em 1823, não é de espantar que D. Pedro I a tenha dissolvido logo depois, já que sua composição era de maioria liberal radical, que defendia interesses bons para o novo país, mas totalmente contrários aos dos que detinham o poder real. A solução encontrada, após a dissolução da Assembleia Constituinte, foi concentrar a elaboração da Constituição nas mãos de poucos e, em vez de termos uma Constituição promulgada, tivemos como marco da nossa primeira Lei Maior ter sido ela outorgada. Foi elaborada a Carta Constitucional e outorgada em 11 de dezembro de 1823 Encaminhada para análise dos Estados, entrou em vigor em 25 de março de 1824, data em que foi jurada pelo Imperador. (MACIEL, 2010, p. 148) A nova constituição havia sido outorgada pelo poder monárquico institucionalizando a monarquia parlamentar. Valorizando o individualismo econômico do Estado; Escravocrata, apesar de nada constar em escrito, reflexo de uma vergonha escravista em pleno iluminismo; Centralizando o poder político: [...] instituição de um quarto poder, denominado Poder Moderador, que dava amplos poderes ao detentor do cargo máximo. Essa previsão constava nos arts. 98 a 101 da Constituição. Citamos o art. 99 como exemplo: ‘A Pessoa do Imperador é inviolável e Sagrada: Ele não está sujeito a responsabilidade alguma’ [...] (MACIEL, 2010, p. 149) Também instituído o voto censitário, onde menores de 25 anos e mulheres não votavam, sendo algo exclusivo da classe mais rica. As eleições dos deputados federais e provincianos eram indiretas, sendo os cargos reservados para pessoas que obtinha renda mínima de 400-000 mil-réis. O estado era católico, não laico nem laicista. 1.2.1 Código Criminal de 1830 Este código revogou as Ordenações Filipenas, as quais possuíam penas de carácter cruel e desumano, bem como, davam brechas para o favorecimento de uns em detrimento de outros. O novo código trazia a distinção dos crimes em públicos, privados, e contra os bons costumes, bem como, penas como de morte, galés6, prisão com trabalho, prisão simples, banimento, degredo, privação de direitos políticos, perda de emprego público e multas (MACIEL, 2010). 6 Trabalho em obras públicas 21 O novo código foi uma evolução, com inspiração iluminista e clara influencia dos pensadores da época como Beccaria, trouxe vários princípios que ainda estão em uso no ordenamento jurídico contemporâneo (CASTRO, 2007): Vários princípios gerais de política penal já estavam delineados pelo art. 179 da Constituição do Império, como consta a seguir: "Art. 179. A inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte. 1º) Nenhum cidadão pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude da lei. (...) 5º) Ninguém pode ser perseguido por motivo de religião, uma vez que respeite a do Estado, e não ofenda a moral pública. (...) 8º) Ninguém poderá ser preso sem culpa formada, exceto nos casos declarados na lei; e nestes, dentro de vinte e quatro horas, contadas da entrada na prisão, sendo em cidades, vilas, ou outras povoações próximas aos lugares da residência do juiz e nos lugares remotos dentro de um prazo razoável, que a lei marcará, atenta a extensão do território, o juiz, por uma nota por ele assinada, fará constar ao réu o motivo da prisão, o nome do seu acusador, e os das testemunhas, havendo-as. 9º) Ainda com culpa formada, ninguém será conduzido à prisão, ou nela conservado estando já preso, se prestar fiança idônea, nos casos que a Lei a admite, e em geral, nos crimes que não tiverem maior pena do que a de seis meses de prisão ou desterro para fora da comarca, poderá o réu livrar-se solto. 10) À exceção de flagrante delito, a prisão não pode ser executada senão por ordem escrita da autoridade legítima. Se esta for arbitrária, o juiz que a deu e quem a tiver requerido serão punidos, com as penas que a lei determinar. O que fica disposto acerca da prisão antes de culpa formada não compreende as ordenanças militares, estabelecidas como necessárias à disciplina. 11) Ninguém será sentenciado senão pela autoridade competente, por virtude de lei anterior, e na forma por ela prescrita. (...) 18) Organizar-se-á, quanto antes, um código civil e criminal, fundado nas sólidas bases da justiça e equidade. 19) Desde já ficam abolidos os açoutes, a tortura, a marca de ferro quente, e todas as mais penas cruéis. 20) Nenhuma pena passará da pessoa do delinqüente. Portanto, não haverá, em caso algum, confiscação de bens; nem 22 a infâmia do réu se transmitirá aos parentes em qualquer grau que seja. 21) As cadeias serão seguras, limpas e bem arejadas, havendo diversas casas para separação dos réus, conforme suas circunstâncias e natureza de seus crimes. (MACIEL, 2010, p. 151) Apesar de sua origem iluminista o código nãoavançou muito em questão de justiça, principalmente, em razão da constituição esquecer os escravos e os índios os segregando, assim, lhes dando uma justiça diversa da do esperado. O art. 60 conservou para os escravos a pena de açoites, expressamente extinta pela Constituição; celebrar cultos de outra religião que não a católica continuou sendo considerado crime policial. (MACIEL, 2010, p. 152) Ainda, em razão da execução processual depender do Conselho de Jurados, tribunal do júri da época, o código não pode evoluir a além, sendo que de qualquer forma, era regido pelo próprio costume da época (MACIEL, 2010). 1.2.2 Código de Processo Criminal de 1832 O novo código dava fim à inquisição Filipina, trazendo novos mecanismos para o direito, como o juizado de instrução, de caráter contraditório, o Habeas Corpus e o Conselho de Jurados. O código também era utilizando na área civil, dando autonomia para os municípios. (MACIEL, 2010) Para o código, havia os juízes de direito e os juízes de paz, os quais eram eleitos pela camada mais rica, gerando injustiças na aplicação das leis, havendo uma proteção entre os eleitos e eleitores: O sistema judiciário passa a contar com juízes de direito, juízes municipais, juízes de paz, promotores de justiça e jurados, sendo que em grau de recurso havia as Juntas de Paz ou as Relações (Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e Recife). Para o Supremo Tribunal havia apenas o recurso de revista. (MACIEL, 2010, p. 153) Os crimes eram divididos em Públicos e Privados, estes somente movimentados pelo particular: Aqueles davam causa à ação penal promovida pelo promotor público ou por qualquer cidadão, quando cabível a ação penal popular. Já os crimes particulares davam ao ofendido a possibilidade 23 de promover a ação penal. Como no Código Criminal, o que era levado em consideração era a vítima, portanto até mesmo o homicídio era considerado particular, pois ofendia a segurança individual. Devido à ação penal popular, que hoje não mais existe, mesmo quem não fosse vítima poderia promover a ação penal, no caso de ser um crime público. (MACIEL, 2010, p. 153) O processo era de dois tipos, o sumário onde a competência pertencia ao juiz de paz, e o ordinário, onde a competência era do Conselho de Jurados na presidido por um juiz de direito, sendo a fase de aceitação ou renuncia da queixa, bem como julgamento, julgado por ambos. (MACIEL, 2010, p. 153) 1.3 República e Constituição de 1891 Com a queda do Império em razão da revolta dos militares, logo após a guerra do Paraguai, foi instituído um governo provisório para a administração do Brasil. Foi nomeada uma Assembleia constituinte a qual veio a dar origem a Constituição de 1891. (CASTRO, 2007) A nova constituição tinha influencia norte-americana, tornando o Brasil uma república federativa, descentralizando os poderes que antes eram do imperador, em legislativo, executivo e judiciário. Esta constituição trouxe várias mudanças sendo uma delas um novo código Penal. 1.3.1 Código Penal de 1890 O novo código penal já estabelecia os princípios da territorialidade e legalidade conforme seus artigos 1º e 4º respectivamente. Outra inovação foi a distinção de crime e contravenção, no entanto, não como conhecemos hoje, sendo a distinção apenas por definição. (CASTRO, 2007) As penas eram definidas pelo artigo 43, sendo prisão celular, banimento, reclusão, prisão com trabalho obrigatório, e de interdição, na qual o indivíduo ficaria impossibilitado de exercer algumas ações. 1.4 Constituição de 1934 24 O governo Vargas provisório, o qual protelou uma nova constituição desde a época de 1930, foi perdendo força graças a revolução constitucionalista de 1932. Foi montada a assembleia constituinte para uma nova constituição em 1933, com o ressurgimento das antigas oligarquias, sendo eleitos 40 deputados para a realização da constituição. (CASTRO, 2007) A nova constituição foi Publicada em 16 de julho de 1934, onde nela foi preservado o federalismo, presidencialismo e o regime representativo. O maior fato desta constituição é que a assembleia constituinte, mesmo após a publicação da constituição, dava à Getúlio Vargas o direito de permanecer na presidência até 1937 onde ocorreu uma nova constituição. (CASTRO, 2007) 1.5 Constituição de 1937 A instauração do Estado Novo, uma ditadura que possui uma constituição, a qual outorgava todo o poder nas mão de Vargas. Esta constituição, também chamada de Polaca, devido a inspiração com a Carta Polonesa de 1935, mas a principal influencia foi da Itália Facista, a A carta del Lavoro7 e da Cartilha de 1891. (CASTRO, 2007) Para essa constituição, todo poder emana do povo, porém representado pelo presidente, Getúlio Vargas, tido como autoridade suprema do Estado Novo, estando o poder legislativo também nas mão do presidente. (CASTRO, 2007) O presidente também tinha poder de escolher os governantes, e estes por sua vez, tinham o poder de escolher os governantes dos municípios. E nesse contexto que foi criado o Código de processo Penal. 1.5.1 O Código Penal e o Código de Processo Penal de 1941 O código penal, elaborado seu projeto por Alcantara Machado, com 390 artigos, passou por uma revisão em comissão, sendo sancionado por Vargas apenas em 7 de dezembro de 1940, entrando em vigor em 1942. O código acabou por refletir os pensamentos neoclássicos e positivistas. (CASTRO, 2007) O código de processo penal também é um decreto lei imposto por Getúlio Vargas e está vigente até o presente momento, ambos códigos possuem semelhança fascista, em razão da inspiração aos códigos italianos da época. O próprio Vargas possuía admiração aos regimes autoritários. (CASTRO, 2007) O que o Estado Novo possibilitou foi uma guinada mais forte e mais aberta para a centralização política, administrativa, econômica 7 É um documento que ditava as relações de trabalho na Itália fascista de Benito Mussolini 25 demonstrando com mais obviedade uma aproximação ideológica com o fascismo no que diz respeito ao culto ao líder e a tendência ao totalitarismo. (CASTRO, 2007, p. 493) Para Flavia Lages Castro, a legalidade e a extralegalidade andavam juntas, em razão de um estado ditatorial o qual tinha leis advindas de estados fascistas e de cunho criminológico das escolas positivistas. (CASTRO, 2007) Portanto, havia uma repressão aos indivíduos e não aos crimes em si, uma aplicação abusiva o qual a própria constituição permitia. 26 2 PROVAS NO PROCESSO PENAL 2.1 Provas O senso comum entende como prova aquilo que pode ser afirmado e confirmado, seja por um método ou por outro. No entanto, para a conveniência dos estudiosos do direito, há uma vasta gama de doutrinadores que discutem o assunto muito mais a fundo. Para Avena: “Prova é o conjunto de elementos produzidos pelas partes ou determinados pelo juiz visando à formação do convencimento quanto a atos, fatos e circunstâncias”. (AVENA, 2017, p. 315) Porém, Guilherme de Souza Nucci, vai além ao explicar o conceito de prova; diz que, a prova origina-se do latim probatio, probare, que significa ensaiar, verificar, examinar, reconhecer por experiência, aprovar, persuadir alguém a alguma coisa ou demonstrar. Sendo a forma de convencer o juiz da realidade fatídica. Em suma, “A prova vincula-se à verdade e à certeza, que se ligam à realidade, todas voltadas, entretanto, à convicção de sereshumanos.” (NUCCI, 2015, p. 17). Nucci (2015), ainda, informa que a verdade é subjetiva, em relação às certezas pessoais, não sendo o objetivo das partes no processo alcançar a verdade objetiva, mas sim uma verdade subjetiva que se assemelhe ao real e convença o magistrado disso. Fernando Capez, em consonância com os doutrinadores citados, afirma em relação à prova que: [...] é o conjunto de atos praticados pelas partes, pelo juiz (CPP, arts. 156, I e II, com a redação determinada pela Lei n. 11.690/2008, 209 e 234) e por terceiros (p. ex., peritos), destinados a levar ao magistrado a convicção acerca da existência ou inexistência de um fato, da falsidade ou veracidade de uma afirmação. Trata-se, portanto, de todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de comprovar a verdade de uma alegação. (CAPEZ, 2017, p. 361) Destarte a prova é a evidenciação de um fato ao órgão julgador para a formação de sua convicção, bem como, também, é a parte essencial de um 27 processo, com partes de experiência, demonstração, verificação, convencimento, que forma a verdade processual que meramente se assemelha à real. 2.2 Sentido da Prova Renato Brasileiro de Lima divide a prova em três acepções, devido aos seus vários sentidos, sendo a: Prova como atividade probatória, a qual seria a formação da prova, sua verificação e demonstração, no processo para a convicção do juiz; Prova como resultado, a qual seria a convicção do juízo já formada, comprovada pela atividade probatória que se torna uma verdade processual com um grau de certeza, dando segurança ao julgador para à sentença; Prova como meio: sendo esta simplesmente o instrumento que confirma a situação fatídica (LIMA, 2017). Essa separação também é seguida por Nucci (2015). 2.3. Objeto da Prova Quanto ao seu objeto, Fernado Capez é o que melhor elucida: Objeto da prova é toda circunstância, fato ou alegação referente ao litígio sobre os quais pesa incerteza, e que precisam ser demonstrados perante o juiz para o deslinde da causa. São, portanto, fatos capazes de influir na decisão do processo, na responsabilidade penal e na fixação da pena ou medida de segurança, necessitando, por essa razão, de adequada comprovação em juízo. (CAPEZ, 2012, p. 360) Avena (2017) simplifica o objeto da prova como “são todos os fatos, principais ou secundários, que reclamem uma apreciação judicial e exijam uma comprovação”. 2.3.1. Dos que não são Objeto de Prova Não constituem objeto de prova: a) Fatos axiomáticos8 ou intuitivos: são evidentes; por serem evidentes, não é preciso provar: 8 Inquestionável e incontestável; em que há axioma, princípio evidente por si mesmo. 28 Por exemplo, no caso de morte violenta, quando as lesões externas forem de tal monta que tornarem evidente a causa da morte, será dispensado o exame de corpo de delito interno (CPP, art. 162, parágrafo único). Exemplo: um ciclista é atropelado por uma jamanta e seu corpo é dividido em pedaços. Dispensa-se o exame cadavérico interno, pois a causa da morte é evidente. (CAPEZ, 2017, p. 362) b) Fatos Notórios: é o conhecimento popular, o qual todos tem conhecimento. Para Capez (2017) “É o caso da verdade sabida: por exemplo, não precisamos provar que no dia 7 de setembro comemora-se a Independência, ou que a água molha e o fogo queima.” c) Presunção Legal: “o legislador, por força da experiência, criou regra contra a qual não admite demonstração em contrário (ex.: o menor de 18 anos é penalmente inimputável)” (NUCCI, 2015. p. 20). d) Fatos Inúteis: são os que não colaboram na solução do caso e por isso devem ser evitados, para que haja objetividade no processo. 2.3.2 Espécies Nucci (2015) faz a primeira divisão de provas em típicas e atípicas, sendo a primeira as previstas em lei que possuem procedimento próprio, dando como exemplo a prova testemunhal e a pericial. A segunda, trata-se das provas não prevista em lei, ou o seu procedimento, sendo o exemplo da reconstituição de crime. As provas diretas e indiretas, Avena, quanto ao fato que deve ser demonstrado, elucida que as provas diretas “são aquelas que por si sós demonstram o próprio fato objeto da investigação. Exemplo: o testemunho prestado por determinada pessoa que presenciou um homicídio” (AVENA, 2017, p. 316). Enquanto as provas indiretas: não demonstram diretamente o fato ou podem ser deduzidas. Exemplo: O álibi, se o indivíduo estava em local diferente que ocorreu o crime, na mesma hora, é facilmente deduzido que ele não é o autor do crime. Provas Negativas e Positivas: “positivas as que têm por objeto demonstrar a verdade de um enunciado fático. São negativas (ou contraprovas) as que tendem a demonstrar que um enunciado fático é falso, vale dizer, que o fato não aconteceu” (NUCCI, 2015, p. 20) Também, as provas plenas e não plenas, sendo as plenas a de certeza quanto ao fato, por exemplo, provas testemunhais e documentais. Provas não 29 plenas, podem gerar uma certeza em primeiro momento, porém não podem ser utilizadas como base no processo. Exemplo, o indício ou a Fundada suspeita (AVENA, 2017, p. 316). Avena ainda dispõe mais duas espécies: Provas Reais e Provas Pessoais; sendo a primeira as referentes as que não resultam diretamente de pessoas, dando como exemplo: o cadáver, a arma empregada. A segunda, sendo as que dependem da pessoa, exemplos: o interrogatório, o testemunho, o laudo pericial (AVENA, 2017, p. 316) 2.4 Sistema de Avaliação das Provas Os processualistas dividem em três sistemas, sendo: a) Livre convicção, Sistema da certeza moral do juiz ou da íntima convicção: é um sistema que surgiu em determinado momento histórico, dando maior liberdade na decisão do juiz, não estando ele vinculado a nada, somente a sua própria convicção não precisando fundamenta-la; Avena, ainda, faz a seguinte distinção: “enquanto no livre convencimento o juiz decide (intimamente) e depois tem que motivar sua decisão, na íntima convicção o juiz decide (intimamente) sem a necessidade de exteriorizar as razões de sua convicção.”(AVENA, 2017, p. 318) Capez (2012) e Nucci (2015), salientam que esse sistema ainda é utilizado no Tribunal do Júri, ou Júri Popular, em razão de que não há necessidade dos jurados fundamentarem suas decisões em seus votos individuais. b) Sistema da Prova Legal, da Certeza Moral do Legislador, da Verdade Legal, da Verdade Formal ou Tarifado: neste o juiz está atrelado diretamente ao ordenamento jurídico, não tendo liberdade em formar sua convicção com base no seu empirismo, somente com base nos pesos e medidas do ordenamento jurídico. Para Guilherme de Souza Nucci: [...] é o método mais limitado, ligado à valoração taxada ou tarifada da prova, significando o pre estabelecimento de um determinado valor para cada prova produzida no processo, fazendo com que o juiz fique adstrito ao critério fixado pelo legislador, bem como restringido na sua atividade de julgar. (NUCCI, 2015, p. 23) Há resquícios desse sistema, como ocorre quando a lei exige determinada forma para a produção de alguma prova, v.g., art. 158, CPP, demandando o exame de corpo de delito para a formação da 30 materialidade da infração penal, que deixar vestígios vedando a sua produção através da confissão. (NUCCI, 2015, p. 23) Fernando Capez também cita o mesmo exemplo: Somente vigora como exceção, em hipóteses como, por exemplo, as dos arts. 158 (quando a infração deixar vestígios, nem a confissão do acusado supre a falta do exame de corpo de delito, estando o juizlimitado à prova pericial) e 155, parágrafo único (estado de pessoas somente se prova mediante certidão, não se admitindo a prova testemunhal), do CPP. (CAPEZ, 2012, p. 400) c) Sistema da Livre (não intima) convicção, da Verdade Real, do livre convencimento ou da persuasão racional: é a fusão dos dois sistemas acima citados, no qual o juiz não está ligado a valores probatórios impostos pelo ordenamento jurídico. Porém, precisa, necessariamente fundamentar sua decisão, obedecendo certos prefixos legais, ainda que flexíveis, especificando os elementos de prova que o levaram a criar sua convicção, bem como, somente analisar o que estiver nos autos (CAPEZ, 2012). Nucci (2015), ensina que a decisão motivada deve convencer as partes e a sociedade em abstrato. É o sistema adotado pelo nosso Código de Processo Penal, cujo art. 155, caput (antigo art. 157), com a redação determinada pela Lei n. 11.719/2008, dispõe: “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”. Atende às exigências da busca da verdade real, rejeitando o formalismo exacerbado, e impede o absolutismo pleno do julgador, gerador do arbítrio, na medida em que exige motivação. (CAPEZ, 2012, p. 401) 2.5 Meios de Prova Compreende tudo que possa demonstrar a realidade estudada, de forma direta ou indireta, para a formação dos fatos. Podendo ser utilizado qualquer meio de prova, desde que não sejam ilegais, proibidas ou meramente protelatórias. Ensina Fernando Capez: [...] a doutrina e a jurisprudência são unânimes em assentir que os meios de prova elencados no Código de Processo Penal são meramente exemplificativos, sendo perfeitamente possível a produção de outras provas, distintas daquelas ali enumeradas.( CAPEZ, 2012, p. 394) 31 Ensina Nucci que, a ainda há os meios de prova diretas e indiretas, sendo aquelas as que se ligam diretamente com o fato, enquanto a essas, as que se ligam com elementos que levam ao fato. Ex: suspeita sob indivíduo. Ainda, com relação a livre convencimento motivado, devido a esse, o juiz pode valorar a prova indireta como mais relevante em detrimento da direta, desde que motive sua convicção (NUCCI, 2015). 2.6 Ônus da Prova O ônus da prova é a incumbência das partes em se provar o alegado, em detrimento de seu próprio direito caso não alegue, não havendo ilícito em não participar na produção das provas. “Ônus da prova é, pois, o encargo que têm os litigantes de provar, pelos meios admissíveis, a verdade dos fatos” (CAPEZ, 2012, p.396). Sendo necessário a prova quando se alega fato acusatório, cabendo à acusação provar os fatos, podendo a defesa ficar inerte, ou provar o contrário, bem como alegar excludente de ilicitude ou, ainda, fator benéfico ao caso, não invertendo o ônus, mas sim criando um novo ônus para à prova. Desta forma, destaca Capez: [...] cabe provar a quem tem interesse em afirmar. A quem apresenta uma pretensão cumpre provar os fatos constitutivos; a quem fornece a exceção cumpre provar os fatos extintivos ou as condições impeditivas ou modificativas. (CAPEZ, 2012, p. 396). De se notar, porém, que a regra de o “ônus da prova incumbir a quem alega” não é absoluta, uma vez que, conforme o art. 156, II, com a redação determinada pela Lei n. 11.690/2008, é facultado ao juiz de ofício: “deter minar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvidas sobre ponto relevante” (inciso II). Note-se, contudo, que, em razão de nosso Código de Processo Penal adotar o sistema acusatório, e não inquisitivo, tal faculdade de produção de provas pelo magistrado é supletiva, devendo, pois, ser comedida, nesse sentido, sua atuação. Somente em casos excepcionais, quando a dúvida persistir no espírito do magistrado, é que este poderá dirimi-la, determinando as diligências nesse sentido. (CAPEZ, 2012, p. 396-397) Simplifica Avena (2017), que cabe à acusação a prova da existência do fato imputado e a sua autoria, já para a defesa, incumbirá a prova de causas excludentes 32 de ilicitude, de culpabilidade e tipicidade, circunstancias atenuantes, minorantes e privilegiadoras. Claro, somente se alegado. Lembra Nucci que, o ônus da acusação é sempre inflexível e exigível, enquanto o da defesa é flexível e não necessariamente exigível; O ônus do órgão acusatório, quando falho, jamais poderá gerar convencimento favorável à condenação, pois seria este fundamentado em livre convicção íntima, o que é inadmissível (ex cetuado o sistema do Tribunal do Júri). O ônus da defesa, quando falho, pode gerar convencimento favorável ao réu, desde que calcado no princípio da presunção de inocência. Logo, o magistrado, nessa hipótese, estaria absolvendo o acusado não por livre convicção íntima, mas se valendo de princípio constitucional expresso. (NUCCI, 2015, p. 33-34) 2.7 Procedimento Probatório A doutrina divide em quatro fases o procedimento probatório, inclusive AVENA ( 2017): a) Proposição: é a fase na qual as partes propõem ao órgão julgador as provas a serem trazidas para a apreciação. Essa, dividida em duas partes, sendo a referente a acusação, denúncia e queixa, e a segunda da defesa, com resposta à acusação ou defesa prévia. b) Admissão: momento de aceitação pelo órgão julgador das provas postuladas pelas partes. Nos momentos ordinários o julgador somente pode declinar provas que sejam impertinentes ao processo, enquanto, nos momentos extraordinários, pode recusar provas por serem desnecessária ao seu convencimento, desde que fundamentadamente. Lembra Capez (2012), que o incidente de insanidade mental pode ser alegado a qualquer momento, inclusive de ofício pelo juiz. c) Produção: São os atos processuais que trazem para dentro do processo as provas aceitas pelo juízo. 33 d) Valoração: é o momento em que o órgão julgador passa a dar valor a cada prova produzida, utilizando de seu conhecimento e convicção para tanto, então, motiva seu entendimento para dar sua sentença (AVENA, 2017) 2.7.1 Prova Emprestada No entendimento de Fernando Capez: a prova produzida em determinado processo, posteriormente requisitada para outro processo, com as mesmas partes, apenas mérito divergente ou similar. No entanto, é imprescindível que a prova tenha sido produzida perante as mesmas partes do novo processo, proibindo provas que assim não sejam, exemplo: provas de inquérito policial. Parte majoritária da doutrina entender que a prova emprestada não pode figurar contra quem não tenha participado do processo anterior. A prova emprestada sempre será documental, não importando a sua origem, mesmo que seja testemunhal ou pericial (CAPEZ, 2012). 2.8 Princípios Gerais da Prova Princípio do Contraditório: cada prova produzida por uma das partes pode ser criada uma contraprova pela parte contrária, assim como qualquer auto novo no processo as partes são intimadas para se manifestar sobre ele. Ensina Avena: O contraditório consubstancia-se na expressão audiatur et altera parte(ouça-se também a partecontrária), o que importa em conferir ao processo uma estrutura dialética. Assim, se uma das partes arrolou testemunhas, tem a outra o direito de contraditá-las, de inquiri-las e também de arrolar as suas. (AVENA, 2017, p. 317) Princípio da Comunhão: significa que provas trazidas aos ao processo, passam a pertencer ao processo. Isso significa que a parte não podedesistir da prova sem anuência da parte contrária. Porém Avena faz ressalva quanto às testemunhas: Em nome dessa sistemática, por exemplo, é que não se pode, em tese, admitir a desistência da oitiva de testemunha arrolada por um 34 dos polos sem a anuência do outro, pouco importando se quem a arrolou foi a acusação ou a defesa. Dizemos “em tese” porque, na disciplina conferida ao procedimento comum ordinário pela Lei 11.719/2008, dispôs o art. 401, § 2.º, que as partes poderão desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas, sem exigir, para tanto, a aquiescência da parte ex adversa. Apesar desta normatização, cremos que, em função do princípio da comunhão da prova, a concordância da outra parte com a desistência de prova oral levada a efeito pela parte contrária deve sim ser uma condição para que possa o magistrado homologá-la. Considere-se, por exemplo, que a defesa não tenha arrolado determinada testemunha pelo fato de esta já se encontrar no rol das testemunhas de acusação. Nesse caso, a desistência incondicional da testemunha pelo promotor implicaria prejuízo ao acusado. (AVENA, 2017, p. 317) Princípio da Oralidade: é o princípio que dá maior prioridade às provas realizadas oralmente, de preferência na presença do juiz que participa de sua produção. Para Avena (2017), este princípio traz mais dois subprincípios, o da concentração e o da imediação: a) Concentração: é o princípio que determina a produção de provas em única audiência. b) Imediação: é o princípio que assegura o contato do juiz com as provas, para que elas se fixe em sua mente para que possa valora-las com maior exatidão e segurança (AVENA, 2017, p. 317) Princípio da Publicidade: este princípio comum no processo em si, é a transparência dos atos processuais para maior segurança pública; Há algumas exceções ao princípio: Art. 93, IX, da CF: “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação”. (BRASIL, 1988, p. 37) Art. 792, § 1.º, do CPP: “Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou 35 turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes”. (BRASIL, 1941, p.674) Art. 201, § 6.º, do CPP: “O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação”. (BRASIL, 1941, p. 629.) Art. 234-B do CP: “Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título (crimes contra a dignidade sexual) correrão em segredo de justiça”. (BRASIL, Decreto Lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940, p. 555) Princípio da autorresponsabilidade das partes: “as partes assumem as consequências de sua inatividade, erro ou atos intencionais.” (CAPEZ, 2012, p. 401) Princípio da não auto incriminação: de acordo com AVENA é o princípio que não obriga o réu a se auto acusar, ou produzir provas contra si mesmo, ou fornecer qualquer tipo de indícios, material, padrão de voz ou qualquer outro meio de prova que possa acusa-lo. (AVENA, 2017, p. 318) Princípio do livre convencimento motivado: Princípio apresentado por Capez o julgador tem liberdade na apreciação das provas, de acordo com os fatos e circunstâncias constantes nos autos. (CAPEZ, 2012, p. 402) 2.9 Busca e Apreensão “A prova não é eterna: se for pessoal (CPP, art. 240, § 2º), a pessoa pode falecer ou tornar-se desconhecido seu paradeiro; se for real, o tempo poderá alterá- la ou destruí-la” (CAPEZ, 2012, p. 402). Para Fernando Capez, a busca e apreensão é a forma de se evitar o desaparecimento e o perecimento da prova, sendo realizada durante a investigação ou já na fase processual, porém antes da prisão do indivíduo. 36 Nucci divide o conceito em duas fases, sendo a busca o movimento assecuratório que descobre algo interessante ao processo. A apreensão também é assecuratória, tomando algo de alguém ou de determinado lugar, para que se devolva à vítima, assegurando o seu direito ou, o depositando aos autos para se tornar objeto de prova. Ainda, como meio de assegurar indenização, ou o apreensão do objeto do crime. (NUCCI, 2015) Ensina Avena quanto a natureza jurídica: [...] busca e apreensão, tudo dependerá do caráter de que venha a se revestir. Normalmente, assume natureza de meio de prova, destinada à utilização nas investigações criminais e nos processos judiciais. Pode, contudo, revestir-se de caráter assecuratório de direitos, como ocorre na hipótese de ser efetivada em decorrência de determinação de arresto (art. 137 do CPP), cujo objetivo é garantir o êxito da reparação civil dos danos causados pela prática da infração penal. (AVENA, 2017, p. 416) Pode ser ordenada de ofício pelo juiz ou requerida pelas partes no processo, ou, ainda, pela autoridade policial no inquérito policial. Quando se tratar de busca pessoal juiz e autoridade policial, este somente na decorrência do Inquérito. Ensina Guilherme Nucci (2015) que a Busca não está ligada diretamente à apreensão, ou seja, uma independe da outra. É possível realizar apenas busca e realizar apenas apreensão. Exemplos dados pelo doutrinador: [...] o advogado necessita ingressar na casa da vítima, antes da realização do plenário do júri, para visualizar, pessoalmente, o local e confrontar com o laudo de lugar; impedido por familiares do ofendido, requer ao magistrado um mandado de busca. O movimento volta-se à pesquisa para garantir a plenitude de defesa do réu. Acompanhado do oficial de justiça, ingressa na casa para retirar suas anotações pessoais; [...] (NUCCI, 2015, p. 266) [...] em praça pública, mendigos submetem outro, idoso, a maus- tratos; expede-se, a requerimento do Ministério Público, mandado de apreensão de pessoa (não há necessidade de busca, pois o local é público) para encaminhamento a local adequado. (NUCCI, 2015, p. 266) 2.9.1 Busca Domiciliar e Pessoal O domicílio possui tutela constitucional e por isso é preciso certas situações para se adentrar ao mesmo, com “fundadas razões” (artigo 240 CPP) para tanto. 37 Para a doutrina majoritária o domicílio não tem a interpretação do Código Civil no Código de Processo Penal, tendo a maior interpretação possível: O termo domicílio deve ser interpretado com a maior amplitude possível. Equipara-se, pois, domicílio a casa ou habitação, isto é, o local onde a pessoa vive, ocupando-se de assuntos particulares ou profissionais. Serve para os cômodos de um prédio, abrangendo o quintal, bem como envolve o quarto de hotel, regularmente ocupado, o escritório do advogado ou de outro profissional, o consultório do médico, o quarto de pensão, entre outros lugares fechados destinados à morada de alguém. (NUCCI. 2015, p. 271) Para efeitos da busca e apreensão, compreendemos que o alcance dessa expressão deve ser o mais amplo possível, superando-se o conceito de domicílio previsto no Código Civil segundo o qual se considera como tal o local em que a pessoa se estabelece comânimo definitivo de moradia (art.70) ou onde exerce a sua profissão (art. 72). (AVENA, 2017, p. 417) Para se efetuar a Busca Domiciliar é preciso de mandado, todas as vezes em que a autoridade judicial não a efetuar pessoalmente. A constituição em seu art. 5, XI, fornece as hipóteses em que o interesse público sobressai sobre a garantia da inviolabilidade de domicílio: durante a noite, em casos de flagrante delito, desastres, prestar socorro; Durante o dia, nos casos já citados e com ordem judicial. Capez ensina que após a Constituição de 88, a alínea F do §1º foi revogada em razão da inviolabilidade de domicílio, neste caso, as autoridade administrativas não podem invadir domicílio sem ordem judicial. (CAPEZ, 2012) Na busca pessoal, é preciso haver suspeita fundada, uma base, de alguém que oculte consigo arma proibida, isso engloba também outros objetos ilícitos. É realizada na pessoa, em suas roupas e pertences, inclusive veículo que esteja em sua posse. (NUCCI, 2015, p. 271) Não é preciso mandado judicial, em razão da urgência em que se deve ser realizada, tratando-se de segurança publica e bem maior. A autoridade deve agir com cuidado para não extrapolar o a sua autoridade, com atos invasivos e constrangedores, sendo assim, cometendo o crime de abuso de autoridade. (NUCCI, 2015, p. 271) Nucci ainda elucida a Fundada Suspeita: A fundada suspeita é requisito essencial e indispensável para a realização da busca pessoal, consistente na revista do indivíduo. 38 Suspeita é uma desconfiança ou suposição, algo intuitivo e frágil, por natureza, razão pela qual a norma exige fundada suspeita, algo mais concreto e seguro. Assim, quando um policial desconfiar de alguém, não poderá valer-se, unicamente, de sua experiência ou pressentimento, necessitando, ainda, de algo mais palpável, como a denúncia feita por terceiro de que a pessoa porta o instrumento usado para o cometimento do delito, bem como pode ele mesmo visualizar uma saliência sob a blusa do sujeito, dando nítida impressão de se tratar de um revólver. (NUCCI, 2015, p. 271) Na falta de elementos visíveis, pode-se requerer ao juiz a expedição de mandado de busca pessoal, desde que se forneça algum elemento consistente para que a diligência se realize (ex.: a busca e constatação de uma tatuagem no corpo do suspeito). (NUCCI, 2015, p. 271) 2.9.2 Formalidades O art. 243 do CPP é claro, estabelecendo o conteúdo extrínseco e intrínseco do mandado de busca (e apreensão): a) deve indicar o mais precisamente possível a casa onde se realizará a diligência, o nome do proprietário ou morador (no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá que sofrê-la ou sinais identificadores); b) o motivo e os fins da diligência; c) assinatura do escrivão e da autoridade (NUCCI, 2015, p. 272) Ensina Nucci, que o procedimento deve ser respeitado, para se evitar arbitrariedades das autoridades, realizando buscas a esmo, sem objetivos específicos, um abuso do poder do estado na persecução; Nossa sugestão é seguir exatamente o que dispõe a lei processual penal, no art. 243, seja em favela ou no bairro mais nobre da cidade, até que se discuta o seu conteúdo, alterando-se a norma para todos os brasileiros. (NUCCI, 2015, p. 274) 2.10 Provas Periciais Perícia é o exame técnico realizado por profissional da área exigida, que possui conhecimentos específicos para o deslinde do objeto a ser periciado como prova. “A perícia é o exame de alguma coisa ou de alguém, realizado por técnicos ou especialistas, em determinados assuntos, que podem fazer afirmações ou extrair conclusões pertinentes ao processo penal” (NUCCI, 2015, p. 63) Possui natureza jurídica de meio de prova que é de forma especial. Pode ser determinada pela autoridade policial na fase inquisitorial (CPP. Art. 6º,VII) ou pelo 39 juiz por meio de ofício(art. 156, II, CPP), sendo corporificada pelo laudo realizado pelo perito. (LENZA. 2013) Há vários tipos de perícia sendo cada uma realizada por profissional da área em que se profissionalizou em determinada matéria, sendo que o médico realiza os exames de necropsia, o psiquiatra os exames psiquiátricos, e etc. (CAPEZ, 2012) Fernando Capez ainda distingue os tipos de perícia como: perícia “percipiendi”: a qual possui caráter técnico porém não valorativa ou conlsuiva; Perícia “deducendi”: a qual é interpretação científica do perito sobre o fato ou objeto; Perícia “intrínseca”: a que envolve elemento inerentes ao criem; Perícia “Extrínseca”: a qual tem por objeto elementos estranhos ao crime, pouco conectados a ele, exemplo objetos danificados na cena do crime; Perícia Vinculatória: a qual o juiz fica vinculado à conclusão do perito, sem efetuar juízo contrário àquela prova; Perícia Liberatória: nesta, prevalece o livre convencimento do juiz; Perícia Oficial: aquela elaborada por perito integrante dos quadros funcionais do Estado; Perícia Psiquiátrica: trata-se daquela que determina a imputabilidade e periculosidade do agente. (CAPEZ, 2012) 2.10.1 Perito O perito é um auxiliar da justiça, que possui conhecimento técnico para a matéria a ser explorada, sendo estranho ás partes, tendo prestado compromisso ao 40 juízo. Podendo ser o perito oficial, o qual passou por concurso público de provas e títulos ou o perito não oficial, trata-se daquele que não está no rol de peritos comuns, ou concursados, a nomeação não pode ser recusada pelo perito, salvo motivo justificável, estando sujeito as sanções da lei. (CAPEZ, 2012) 2.10.2 Exame de Corpo de Delito É o conjunto de vestígios materiais que formam a materialidade da infração. Desta forma o exame de corpo de delito é o auto que comprova a existência do delito, realizado por peritos. Já, o próprio corpo de delito, é o próprio crime. O exame pode ser realizado de forma direta: onde se analisa o próprio corpo de delito – o cadáver, a lesão, o arrombamento; Ou, de forma Indireta: com base nos relatos de testemunhas que gerará uma dedução lógica. (NUCCI, 2016) De acordo com o Código de Processo Penal, em seu artigo 158, o Exame de corpo de delito é sempre exigível quando o delito deixa vestígios. Não havendo vestígios, a prova testemunhal pode substituir o exame, (CPP art. 167). (CAPEZ. 2012) O exame é realizado por um perito, profissional da área, que usa de seus conhecimentos técnicos para determinar as provas, com isso, elaborando o laudo pericial. O laudo é o documento que traz a descrição minuciosa do objeto e os resultados da perícia. (CAPEZ. 2012) 2.11 Interrogatório É o ato jurídico pelo qual o juiz ouve a versão dos fatos do réu. É ato personalíssimo do réu e privativo do juiz. Tem natureza jurídica de prova, pela qual o réu pode se defender dando sua versão dos fatos ou simplesmente ficando em silêncio. Algumas doutrinas considera a natureza como meio de defesa do réu: Com o advento da Lei n. 11.719/2008, que alterou o procedimento comum, reforçou-se a natureza de meio de defesa do interrogatório. Isto porque a nova reforma processual penal instituiu, no procedimento ordinário e sumário, a audiência única (CPP, arts. 400 e 531), em que se concentram todos os atos instrutórios (tomada de declarações do ofendido, inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 41 222, caput, deste Código, esclarecimentos dos peritos, acareações, reconhecimento de pessoas), passando o interrogatório a ser realizado após todos esses atos da instrução probatória. (Vide também CPP, art. 411, com a redação determinada pela Lei n.11.689/2008, a qual alterou o procedimento do júri.). (CAPEZ, 2012, p. 417) Meio de defesa, essencialmente, porque é a primeira oportunidade do acusado para ser ouvido, garantindo-se a sua autodefesa, quando pode narrar a sua versão do fato, negando (ou afirmando) a autoria, além de indicar provas em seu favor. Poderá, ainda, calar-se, sem que se possa extrair daí qualquer prejuízo à sua defesa ou, então, é possível que assuma a prática do delito, alegando excludente de ilicitude ou de culpabilidade. Tal foco (meio de defesa) eleva-se, quando o procedimento prevê a inquirição do acusado ao final da instrução, quando todas as provas já foram colhidas.Por outro lado, não deixa de ser, para a lei brasileira, em segundo plano, um meio de prova. (NUCCI, 2015, p. 96) 2.11.1 Características É um ato processual personalíssimo, somente o réu pode ser interrogado. O ato é privativo do juiz, sendo que só ele pode interrogar o réu, no entanto, com o encerramento do interrogatório, o ministério público ou as partes podem trazer questões ao juiz e, este, as considerando pertinentes, as realizará ao réu, porém são questões meramente complementares. Diante disso, fica mantida a característica de ser o interrogatório um ato privativo do juiz, mesmo com a possibilidade de as partes sugerirem uma ou outra indagação ao seu final, dado ser esta uma atuação complementar e de caráter excepcional. O que não se admite é que o acusado seja tratado como testemunha, submetido a uma bateria de perguntas da acusação, capazes de comprometer sua autodefesa. O juiz deverá estar atento para não desnaturar o ato, impedindo que ganhe contornos de quase inquisitorialidade. (CAPEZ, 2012, p. 419) É imprescindível a presença do defensor durante o interrogatório, que assegure a defesa do réu, podendo ser considerado nulo o interrogatório quando em desacordo com a forma. É ato oral, sendo relativizado quando se tratar de pessoas com deficiências especiais como a surdez ou mudez. 42 Não é ato preclusivo, podendo ser realizado a qualquer momento, por se tratar de defesa do réu. Podendo, ainda, o juiz interrogar novamente o réu, a qualquer momento. Quanto a ausência de interrogatório no processo, Fenando Capez elucida: Há duas posições: os que são pela nulidade relativae os que defendem a nulidade absoluta. Prevalece a tese de que a ausência de interrogatório no curso da ação constitui nulidade absoluta, cujo prejuízo é presumido, uma vez que violado preceito de ordem constitucional, qual seja, o princípio da ampla defesa. (CAPEZ, 2012, p. 422) Mesmo com as novas reformas da lei Lei 11.900/2009, nada impede que o juiz possa realizar o interrogatório por vídeoconferência, porém, não sendo a regra. Ainda, há a possibilidade de se proceder o interrogatório no estabelecimento prisional em que ele se encontra, garantindo a segurança dos envolvidos (art. 185, § 1.º, CPP). No entanto, a regra é a realização da audiência de instrução e julgamento no fórum, com o acompanhamento das partes e do réu escoltado. 2.11.2 Direitos do Réu no Interrogatório Para Capez (2012), durante o interrogatório o réu pode ficar em silêncio, mentir, confessar ou negar as acusações. A Constituição de 88, em seu art. 5º, LXIII, consagrou o direito ao silêncio, sem que isso traga prejuízos ao réu no decorrer da ação. O réu pode mentir durante o interrogatório, tendo em vista que não presta juramento ou compromisso, não havendo sanção para a sua mentira. O interrogatório, quando se tratar de pessoa analfabeta e com deficiência, pessoa estrangeira, surdo-mudo, será realizado de modo diverso. No caso do estrangeiro, será realizado com interprete de sua língua; do surdo-mudo as perguntas serão escritas, se haver apenas uma das deficiências ele pode responder oralmente ou escrever suas respostas, de acordo com sua peculiaridade. (CAPEZ, 2012) O réu tem o direito de delatar outro autor dos fatos, como ensina Carpez: Delação ou chamamento de corréu é a atribuição da prática do crime a terceiro, feita pelo acusado, em seu interrogatório, e pressupõe que o delator também confesse a sua participação. Tem o valor de prova testemunhal na parte referente à imputação e admite reperguntas por 43 parte do delatado (Súmula n. 65 das Mesas de Processo Penal da USP). (CAPEZ, 2012, p.430) 2.11.3 Conteúdo Quando iniciado o interrogatório o juiz irá individualizar o réu, lhe questionando sobre seus familiares, local que mora, onde trabalha, para que não ocorra equívocos quantos a pessoa. As questões desse cunho, também tem o objetivo de individualizar a personalidade do réu, para que possa se analisar o seu contexto social, suas oportunidades e desvantagens, se já foi preso ou processado, se cumpriu pena e etc. Após a individualização do indivíduo, o Juiz colocará a par das acusações o réu, bem como todos os elementos que a acusação dispõe, para que possa se situar em sua defesa. Então, após esses procedimentos, inicia-se a auto defesa do réu, na qual ele pode confrontar os elementos apresentados com sua versão dos fatos, ou ficar em silêncio. (CAPEZ, 2012) Ensina Capez: De acordo com o art. 187, § 2º, do CPP, ele será indagado sobre: ‘I — ser verdadeira a acusação que lhe é feita; II — não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que atribuí- la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem deva ser imputada a prática do crime, e quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da infração ou depois dela; III — onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia desta; IV — as provas já apuradas; V — se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra elas; VI — se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, ou qualquer objeto que com esta se relacione e tenha sido apreendido; VII — todos os demais fatos e pormenores que conduzam à elucidação dos antecedentes e circunstâncias da infração; VIII — se tem algo mais a alegar em sua defesa’.(CAPEZ, 2012, p. 430) 2.11.4 Confissão A confissão é aceitação de autoria de fato criminoso, pelo réu, diante da autoridade judiciária. (CAPEZ, 2012) Melhor elucida Nucci: Confessar, no âmbito do processo penal, é admitir, contra si, a prática de fato criminoso, por quem seja suspeito ou acusado de um crime, tendo pleno discernimento e fazendo-o de forma voluntária, expressa e pessoal, diante da autoridade competente, em ato solene e público, reduzido a termo. (NUCCI, 2015, p.129) 44 Nucci ensina que a confissão é um ato solene, tem seu próprio rito e não deve possuir vícios. A aceitação deve ser voluntária, não havendo nenhum tipo de coação ou ardil para tanto, deve ser realizada pessoalmente pelo réu e de forma expressa e na presença do órgão julgador, em ato solene e público. Se em determinado momento do interrogatório, o réu prestou informação desfavorável à sua defesa, isso não é tratado como confissão, apenas como declaração contrária ao seu interesse, mesmo que em sede de inquérito policial. (NUCCI, 2012) A confissão deve ser reduzida a termo, sendo sua forma unicamente oral não considerada como confissão. Ou seja: “se a declaração for produzida solene, pessoal e voluntariamente, diante da autoridade competente, reduzida por escrito, tratando-se de admissão de fato criminoso, será uma autêntica confissão, caso a parte tenha discernimento para fazê-lo”. (NUCCI, 2012, p.132) Destarte, a confissão tem natureza jurídica de prova, em razão de ser não englobar outros sentidos que a própria definição de prova. (NUCCI, 2012) Fernando Capez, divide os tipos de confissãonas seguintes: a) Simples: quando o confitente reconhece pura e simplesmente a prática criminosa, limitando-se a atribuir a si a prática da infração penal. b) Qualificada: quando confirma o fato a ele atribuído, mas a ele opõe um fato impeditivo ou modificativo, procurando uma excludente de antijuridicidade, culpabilidade ou eximentes de pena (ex.: confessa ter emitido um cheque sem fundos, mas a “vítima” sabia que era para descontá-lo a posteriori). c) Complexa: quando o confitente reconhece, de forma simples, várias imputações. d) Judicial: é aquela prestada no próprio processo, perante juiz competente, mediante forma prevista e não atingida por nulidade. Quando se fala que a confissão judicial é aquela prestada no próprio processo, é porque se busca refutar de plano a confissão efetivada nos autos de outra ação, constituindo, nesses casos, mera prova emprestada. Pode ser efetivada no interrogatório ou por termo nos autos. e) Extrajudicial: designa aquelas produzidas no inquérito ou fora dos autos da ação penal, ou melhor, todas aquelas que não se incluem entre as judiciais. Quando um terceiro vem a depor num processo, e afirma ter ouvido o acusado confessar o fato, na verdade está prestando um testemunho, o que não implica confissão. Ao contrário do processo civil, o processo penal não conhece a confissão ficta. f) Explícita: quando o confitente reconhece, espontânea e expressamente, ser o autor da infração. 45 g) Implícita: quando o pretenso autor da infração procura ressarcir o ofendido dos prejuízos causados pela infração. (CAPEZ, 2012, p. 432) A confissão deixou de ser a “rainha das provas”, sendo necessário confronta- la com todas as outras provas para então avaliar o seu valor, o próprio código de Processo Penal afirma não se tratar de prova plena de culpabilidade. 2.11.5. Características da Confissão Para Capez, a confissão tem caráter retratável, podendo a qualquer momento o réu se retratar de sua confissão. A confissão perde o valor, porém, a simples negação do fato não invalida a confissão, em razão do conhecimento anterior dela. Divisibilidade ou Cindibilidade: a confissão pode ser total ou em parte, não necessariamente admitindo todos os atos ilícitos. Ainda, pode haver partes que comportem excludentes de ilicitude, conforme o réu alegar, sendo sinceras, o juiz pode acatar sua confissão. No direito Processual Penal não existe confissão ficta, mesmo com a revelia do réu, em razão de se tratar de bem jurídico muito mais valioso em que costume o direito civil lida, o qual criou tal ficção. (CAPEZ, 2012) 2.11.6 Voluntária ou espontânea Avena (2017) ensina que a confissão pode ser espontânea, quando o indivíduo por “livre e íntima” vontade assume a autoria do fato, sem qualquer coação moral, física ou processual, apenas pela própria vontade. Enquanto, a confissão voluntária, o indivíduo confessa, sem ser essa sua vontade inicial, porém, pelo decorrer do processo, fica evidente sua culpa ou clara contradição do interrogatório com os fatos. 2.11.7 Validade da Confissão Ensina Nucci (2015) que a confissão precisa de alguns requisitos para ser considerada válida, citando requisitos intrínsecos e extrínsecos para à validade. Intrínsecos: a) Verossímil: os fatos alegados precisam condizer com a realidade; b) certa: o réu pode apenas confessar o que é de seu conhecimento, sem depender de terceiros ou presunções, bem como coisas que ouviu dizer; 46 c)Inteligível: a confissão precisa ser clara, sem contradições completamente compreensível. d) Persistente e uniforme: sem contradições ou variedade de versões; e) Coerente: precisa estar corroborada pelas provas dispostas no processo; f) conteúdo relacionado ao confitente: o réu pode apenas confessar os atos que realizou, restando delações para os atos que terceiros(coautoria) realizaram. (NUCCI, 2015) Extrínsecos: a) expressa e reduzida a termo: não existe confissão tácita no direito penal brasileiro, portanto, o réu deve confessar expressamente ainda na presença da autoridade competente, que reduzirá a termo a confissão; b) produzida perante a autoridade competente: nos casos de confissão judicial cabe ao juízo da causa. Nenhuma outra autoridade é competente em relação à confissão judicial; c) voluntária: o réu deve confessar voluntariamente, sem coações ou vícios, mesmo que por objetivos egoísticos. (NUCCI, 2015) 2.12 Delação A delação não é prevista no Código de Processo Penal em seu rol de provas, no entanto, é apreciada quando em conformidade com as outras provas no processo. (AVENA, 2017, p.388) Para Nucci, a delação é a imputação de um corréu, durante o interrogatório, a outro corréu, em relação o mesmo fato típico do interrogado. (NUCCI, 2015, p.190) Elucidação de Capez: Delação ou chamamento de corréu é a atribuição da prática do crime a terceiro, feita pelo acusado, em seu interrogatório, e pressupõe que o delator também confesse a sua participação. Tem o valor de prova testemunhal na parte referente à imputação e admite reperguntas por parte do delatado (Súmula n. 65 das Mesas de Processo Penal da USP).(CAPEZ, 2012, p. 435) 2.12.1 Delação Premiada Apesar de não constar no referido código, outros dispositivos trazem a delação premiada como ferramenta nos processos, como a Lei dos crimes contra o sistema financeiro nacional (Lei 7.492/1986; Art. 25, § 2.º) Lei dos crimes hediondos (Lei 8.072/1990; Art. 8.º); Lei do crime organizado (Lei 12.850/2013;Arts. 3.º, I, e 4.º a 7.º) entre outras. (AVENA, 2017) 47 Ensina Avena o sentido da delação: Por delação premiada compreende-se o benefício concedido ao criminoso que denunciar outros envolvidos na prática do mesmo crime que lhe está sendo imputado, em troca de redução ou até mesmo isenção da pena imposta. Trata-se de uma hipótese de colaboração do criminoso com a justiça. Segundo entende a doutrina, tal como ocorre na delação não premiada, também neste caso é preciso ter reservas na aferição do valor probatório, impondo- se, para que sirva de fundamento a uma condenação, que seja a delação confrontada e esteja em conformidade com as demais provas angariadas ao processo. (AVENA, 2017, p. 390) 2.13 Prova Testemunhal A doutrina é muito clara quando se fala em testemunha, sendo afirmado por NUCCI (2015) que a testemunha nada mais é que a pessoa com conhecimento relevante ao processo, que se compromete a dizer à verdade e ser imparcial. No entanto, melhor elucida CAPEZ nesta questão: “[...]testemunha é todo homem, estranho ao feito e equidistante das partes, chamado ao processo para falar sobre fatos perceptíveis a seus sentidos e relativos ao objeto do litígio”. (CAPEZ, 2012, p. 436), corroborando a ideia de que a testemunha não pode ter relação intima com as partes. Concluí Capez: ” É a pessoa idônea, diferente das partes, capaz de depor, convocada pelo juiz, por iniciativa própria ou a pedido das partes, para depor em juízo sobre fatos sabidos e concernentes à causa.”(CAPEZ, 2012, p.436) 2.13.1 Características da Prova Testemunhal A prova testemunhal possui características que as difere de outros tipos de depoimentos, estas que são melhor elucidadas por CAPEZ. O doutrinador revela que para ser considerada prova testemunhal, ela precisa ter judicialidade, ou seja, ser realizada em juízo. Sendo, também ,imprescindível a oralidade do feito, em razão da espontaneidade da testemunha, bem como, a questão do direito ao contraditório, vedado o testemunho já escrito. (CAPEZ, 2012) A objetividade da testemunha também é de caráter relevante, sendo exceções a solicitação de opinião própria da testemunha, para haver maiorentendimento em questões subjetivas as quais não é possível haver uma maior precisão dos fatos. Ainda, em relação a objetividade, a testemunha sempre deve 48 depor sobre o que já ocorreu, não criar conjecturas sobre o que acredita que irá ocorrer, é a retrospectividade do testemunho. (CAPEZ, 2012) Os testemunhos são individuais, para que não haja influencia de outra testemunha, em relação aos sentidos que tiveram dos fato. (CAPEZ, 2012) A ultima característica é trazida por AVENA, a incomunicabilidade da testemunha. O art. 210, parágrafo único, do CPP, traz “antes do início da audiência e durante a sua realização, serão reservados espaços separados para a garantia da incomunicabilidade das testemunhas” (BRASIL, 1941, p. 630); isto para que a testemunha não seja orientada ou influenciada, estando esta característica englobada pela Individualidade. (AVENA, 2017) 2.13.2 Dispensas e Proibições de Testemunhas Como regras gerais, todos tem o dever de testemunhar quando intimados para tanto (Art. 342, CP e Art. 206 do CPP), sujeitas a serem levadas coercitivamente ao juízo e responderem por desobediência caso não compareçam por livre espontânea vontade. (CAPEZ, 2012) Afirma AVENA em relação a capacidade para testemunhar: Estabelece o art. 202 do CPP que toda pessoa é capaz de ser testemunha. Isto significa que pode testemunhar em juízo qualquer indivíduo que tenha condições de perceber os acontecimentos ao seu redor e narrar o resultado destas suas percepções, independentemente de sua integridade mental, idade e condições físicas. Assim, podem ser arrolados o interdito, o inimputável, o surdo, o mudo etc. Evidentemente, poderá ser diferente, conforme o caso, o valor a ser conferido pelo magistrado por ocasião da sentença a cada depoimento, devendo ser considerado com reservas, por exemplo, o depoimento de uma criança de tenra idade ou de um portador de deficiência mental. (AVENA, 2017, p. 397) Todavia, algumas pessoas são dispensadas desse dever de testemunhar, como: o cônjuge, o amásio, o ascendente, o descendente ou o irmão, e os afins em linha reta do acusado. No entanto, ainda há a possibilidade do juiz colher o depoimento destes, como declarantes ou informantes, desta forma, não prestarão o compromisso. Também não prestam compromisso os “doentes e deficientes mentais e aos menores de l4 anos” (CPP, art. 208). (CAPEZ, 2012) 49 Para Avena (2017), não há prejuízo em relação à testemunha e o informante: “Ocorre que o Código de Processo Penal não faz essa distinção. Portanto, totalmente descabido pensar que o ‘informante’ não é testemunha. É sim, sendo apenas uma testemunha não compromissada.” (AVENA, 2017, p.397) Ocorre, também, que algumas pessoas são proibidas de testemunhar: Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho. (BRASIL, 1941, p.????) Exemplifica Fernando Capez: São proibidas de depor, contudo, as pessoas apontadas no art. 207 do CPP: as pessoas que devam guardar sigilo em razão de função, ministério, ofício ou profissão. Função é o exercício de atividade de natureza pública ou assemelhada (juiz, delegado, promotor, jurado, comissário de menores, escrivão de cartório, diretor escolar). Ministério é o encargo de natureza religiosa ou social (sacerdotes e assistentes sociais). Ofício é a atividade manual (marceneiro, costureiro etc.). Profissão é a atividade predominantemente intelectual (médicos, advogados e os profissionais liberais, de um modo geral). Quase todos os códigos de ética relativos a uma profissão impedem a revelação do sigilo profissional. O Cânone 1.550, § 2º, inciso II, do Codex Iuris Canonici considera o sacerdote como testemunha incapaz em relação ao que ficou sabendo em função de seu ministério. A parte final permite o depoimento se o interessado dispensar o sigilo (interessado aqui não é só quem passou a informação, ou acusado, mas também o órgão de classe ao qual pertence o profissional). Os deputados e senadores também não estão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou delas receberam informações (art. 53, § 6º, da CF — em regra extensível aos deputados estaduais, se assim dispuser a Carta Estadual). Também não podem depor como testemunha o membro do Ministério Público e o juiz que oficiaram no inquérito policial ou na própria ação penal. (CAPEZ, 2012, p.439) 2.13.3 Compromisso e Deveres da testemunha O artigo 203 do Código de Processo penal implica na advertência a testemunha sobre seu compromisso de dizer a verdade, estando sujeita, caso não o faça, as penas cominadas no crime de Falso Testemunho de artigo 342 do Código Penal. (AVENA, 2017) Outros deveres da testemunha: comparecer no local e hora determinados, estando sujeita a condução coercitiva em caso de descumprimento (art. 218, CPP), 50 além de que o juiz poderá aplicar a multa de 1 a 10 salários mínimos, prevista no art. 458 c/c o art. 436, § 2º, do CPP (alterados pela Lei n. 11.689/2008) somado as custa da diligência de Condução coercitiva. Ainda com possibilidade de responder pelo crime de Desobediência; Identificar-se e qualificar-se perante a autoridade competente; Prestar depoimento sem faltar com a verdade ou omitir, estando o silêncio sujeito as penas do crime de falso testemunho. 2.13.4 Contradita É a suspeição ou inidoneidade da testemunha arguida por alguma das partes. Feita a contradita, o juiz tem quatro opções: consultará a testemunha, sede seja ou não ser ouvida, na hipótese do art. 206 (dispensa); excluirá a testemunha, na hipótese do art. 207 (proibição); ouvirá sem compromisso, na hipótese do art. 208; e tomará o depoimento, valorando-o posteriormente. (CAPEZ, 2012, p.440) O artigo 214 do Código de Processo Penal não é taxativo, não há um rol de situações em que a testemunha é suspeita, após a arguição, o juiz tomará as razões e então, tomará o depoimento, valorando-o. (CAPEZ, 2012, p.440) 2.13.5 Numero de Testemunhas por procedimento O número de testemunhas varia com o tipo de procedimento. Vejamos: a) procedimento ordinário: cada uma das partes pode arrolar no máximo até oito testemunhas (CPP, art. 401, com a redação determinada pela Lei n. 11.719/2008); b) procedimento sumário: admite o máximo de cinco testemunhas (CPP, art. 532, com a redação determinada pela Lei n. 11.719/2008); c) procedimento sumaríssimo(Lei n. 9.099/95): máximo de três testemunhas; d) procedimento do Tribunal do Júri (plenário do Júri): o máximo de cinco (CPP, art. 422, com redação determinada pela Lei n. 11.689/ 2008). (CAPEZ, 2012, p. 440) 2.13.6 Procedimento O doutrinador Fernando Capez é quem melhor exemplifica o procedimento durante a audiência: Na audiência de instrução e julgamento, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas 51 pela acusação e pela defesa, nessa ordem, ressalvado o disposto no art. 222 do Código de Processo Penal, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando, em seguida, o acusado (CPP, arts. 400 e 531, com a redação determinada pela Lei n. 11.719/2008, e art. 411, com as modificações operadas pela Lei n. 11.689/2008). Com a nova reforma processual penal, portanto, os atos probatórios passaram a ser concentrados numa única audiência. (CAPEZ, 2012, p.442) Assim, a testemunha comparecendo à audiência, será identificada e se dará início ao seu depoimento na presençado juízo, cabendo primeiramente a parte que arrolou a testemunha os questionamento iniciais, e não ao juiz. Cabendo ao magistrado somente complementar a inquirição sobre os pontos obscuros do depoimento. (CAPEZ, 2012) Nas ocasiões em que a testemunha não falar a língua nacional, o juiz nomeará tradutor para o procedimento do depoimento (art.193, CPP). Ou, caso a testemunha tenha alguma necessidade especial, como o caso dos surdos mudos, o juiz prosseguirá conforme o artigo 192 do Código de Processo Penal. Ao término do depoimento, este será reduzido a termo, sendo fiel as expressões utilizadas pelo depoente, conforme o artigo 216 do Código de Processo Penal, onde a testemunha, o juiz e as partes assinarão concluindo o ato. (CAPEZ, 2012) 2.14 Reconhecimento de Pessoas e Coisas Tanto para o doutrinador Guilherme de Souza Nucci(2015) quanto para Fernando Capez(2012), também doutrinador, o reconhecimento de pessoas e coisas é ato solene, com natureza jurídica de meio de prova, eminentemente formal, no qual alguém é chamada a reconhecer e confirmar a identidade, no caso de reconhecimento de pessoas, ou qualidade, no caso de reconhecimento de coisas, para fins processuais penais. 2.14.1 Reconhecimento de Pessoas O artigo 226 do Código de Processo Penal detalha de forma certa a maneira de se proceder o reconhecimento. A primeiro momento, a pessoa que realizará o 52 reconhecimento deve descrever a pessoa a ser reconhecida; para fins de se evitar a má-fé. O agente que se pretende o reconhecimento será colocada lado a lado com outras pessoas de mesmas características, se possível. Posteriormente é chamada a pessoa a reconhecer o agente em meio as outras pessoas, apontando-o entre elas; Existe a possibilidade de se isolar as partes para que se evite intimidação. Após o reconhecimento é lavrado o auto permenorizado, o qual é subscrito pela autoridade, pela pessoa que realizou o reconhecimento e por duas testemunhas que estejam no local. (NUCCI, 2015) 2.14.2 Reconhecimento de pessoas por foto O reconhecimento por foto não consta no Código de Processo Penal, no entanto, o rol de provas nele constantes é apenas exemplificativo, tendo a doutrina achado idôneo o reconhecimento por foto. No entanto, para NUCCI (2015), deve-se conceder valor relativo a esse tipo de prova, principalmente quando não corroborada por outras no processo, caso em que deve ser descartada pelo magistrado. (NUCCI, 2015, p.237) 2.14.3 Reconhecimento de Objetos Conforme os artigos 226 e 227 do Código de Processo Penal, o reconhecimento de coisas e objetos é realizado quando estes estão de qualquer forma envolvidos no fato delitivo. 2.15 Acareação Possuí natureza jurídica de meio de prova, sendo ato processual realizado pela autoridade policial ou judiciária, que consiste na colocação de declarantes, partes ou depoentes frente a frente para o confronto de informações, visando a busca da verdade real. Podendo ser requeridas pelas partes ou realizada de ofício pelo juiz de direito. (NUCCI, 2015) 53 Quando realizada, a autoridade judiciária ou policial irá confrontar as divergências de informações realizando perguntas para que os envolvidos demonstrem a verdade dos fatos. Nucci organiza quando é possível a realização da acareação: Pode dar-se entre quase todos os envolvidos no processo (art. 229, CPP): a) entre réus – respeitado, naturalmente o direito ao silêncio e a possibilidade que têm de não se autoacusar; b) entre réu e testemunha – respeitado, também nesse caso, o direito ao silêncio e o privilégio contra a autoacusação; c) entre testemunhas – nesta hipótese, é de se destacar dois pontos fundamentais: a possibilidade de retratação de uma delas (a que estiver mentindo), eliminando a tipicidade do delito anteriormente cometido (art. 342, § 2.º, CP), bem como o privilégio contra autoacusação; d) entre vítima e acusado – hipótese de remoto sucesso, pois são partes antagônicas no processo e com relação ao fato delituoso, ambos prestando esclarecimentos sem o compromisso de dizer a verdade; e) entre vítima e testemunha – trata-se de alternativa envolvendo a ausência do dever de dizer a verdade, do lado do ofendido, com a possibilidade da testemunha se retratar ou proteger-se contra a autoincriminação; f) entre vítimas – situação que envolve duas partes sem o compromisso de narrar a verdade, logo, de difícil proveito. (NUCCI, 2015, p.242) 2.16 Prova Documental O conceito legal de documento está previsto no artigo 232 do Código de Processo Penal, “quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares”. Porém, a doutrina vem tratando essa definição como lato sensu, ou seja, vem dando maior interpretação ao artigo, considerando outros tipos de prova física como documentos: Atualmente, lança-se mão de um conceito mais amplo, segundo o qual os documentos compreendem não só os escritos, mas também qualquer forma corporificada de expressão do sentimento ou pensamento humano, tais como a fotografia, a filmagem, a gravação, a pintura, o desenho, o e-mail etc.(CAPEZ, 2012, p. 456) Não obstante esta definição, na atualidade vem se considerando como documento lato sensu tudo aquilo capaz de retratar determinada situação fática, sejam papéis, sejam arquivos digitalizados na forma da Lei 12.682/2012 (que disciplina a digitalização, ao armazenamento em meio eletrônico, óptico ou equivalente e a reprodução de documentos públicos e privados), seja por meio de áudio ou vídeo, v.g., um DVD com imagens relativas ao fato imputado. Qualquer coisa, enfim, capaz de representar um ato ou um fato. (AVENA, 2012, p. 412) 54 Avena, ainda, faz a distinção dos documentos públicos e particulares, sendo que estes “é aquele para cuja constituição não houve a contribuição de qualquer agente público no exercício de função pública” (AVENA, 2012, p. 412); enquanto aqueles “é aquele constituído perante a autoridade pública, no exercício de suas funções e que possua capacidade para lhe atribuir a presunção de verdade (fé pública)” (AVENA, 2012, p. 412). A doutrina ainda cita o documento strictu sensu, onde existe uma certa divergência entre CAPEZ (2012) e AVENA (2017). Para CAPEZ (2012), o documento em sentido estrito é a mera produção escrita e material do documento o qual pode provar um fato. Todavia, para AVENA o documento em sentido estrito é todo documento elaborado com sem o intuito de provar algo, embora, possa ser utilizado para tanto. (AVENA, 2017) A produção da prova documental pode ser espontânea, quando é juntada ao processo, ou de qualquer outra forma apresentado em audiência ou ao processo; Ou, requisitada, provocada, conforme o artigo 234 do CPP. (CAPEZ, 2012) 2.16.1 Função da Prova Documental Para CAPEZ (2012) a prova documental possui três funções: a) dispositivo: quando essencial para o ato jurídico a ser produzido; b) constitutivo: quando essencial para a validade do ato; c) probatório: quando sua natureza é processual. 2.16.2 Prova Emprestada É a prova retirada de um processo para que sirva de prova em outro processo, seja por fotocópia ou mecanismo similar, por isso determinada emprestada, já que não foi produzida no próprio processo em que será utilizada. Para que tenha efeito é necessário que as mesmas partes estejam relacionadas aos dois processos, bem como, também, seja respeitado a ampla defesa e o contraditório das partes. (NUCCI, 2015) 2.17 Prova Indiciária 55 O indício é “[...] um fato secundário, conhecido e provado, que, tendo relação com o fato principal, autorize, por raciocínio indutivo-dedutivo,a conclusão da existência de outro fato secundário ou outra circunstância.” (NUCCI, 2015, p.257) Enquanto a presunção é “um conhecimento fundado sobre a ordem normal das coisas, e que dura até prova em contrário (presunções relativas). As presunções legais ou absolutas não admitem prova em contrário.” (CAPEZ, 2012, p.467) Assim, os indícios e as presunções são provas no processo penal, de caráter indireto, tendo em vista que são obtidas através do raciocínio lógico. Sendo, esse tipo de prova de valor comum, em razão da livre convicção do juiz. (CAPEZ, 2012) 2.17.1 Prova de Fora da Terra É a prova que será produzida fora da jurisdição do juiz que compete julgar o processo, sendo produzida onde estiver. (CAPEZ, 2012) 2.17.2 Prova Antecipada É a prova produzida antes da introdução processual, podendo ser realizada em caráter preventivo, de forma a assegurar a existência da prova; cautelarmente, para evitar que se perca a prova em razão da demora processual ou; medida cautelar incidental a uma prova que já tem processo em andamento, porém, não chegou a fase instrutória, sendo uma forma de garantir sua existência até a referida fase. (CAPEZ, 2012) 2.17.3 Contra indícios São fatos, circunstâncias ou próprios indícios que contrariam os indícios e presunções iniciais. Como exemplificado por NUCCI: Assim, se a coisa furtada foi encontrada em poder do réu, este pode produzir a prova de um fato secundário, demonstrativo de que a adquiriu, através da emissão de nota fiscal e recibo, de uma loja. O indício é derrubado pelo contraindício. O álibi – justificativa apresentada pelo acusado para negar a autoria – é um contraindício ou indício negativo. (NUCCI, 2015, p.261) 56 3 PROVA ILEGAL 3.1 Conceito A prova ilícita, proibida, prova vedada, ilegal ou ilegítima, está prevista na constituição federal em seu artigo 5º, inciso LVI, “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”, assim, gerando uma dualidade de pensamento para quem o lê. Por que uma prova colida de forma irregular não pode gerar efeitos mesmo que seja retrato da verdade? Renato Brasileiro de Lima responde a questão: “O direito à prova, como todo e qualquer direito fundamental, não tem natureza absoluta. Está sujeito a limitações porque coexiste com outros direitos igualmente protegidos pelo ordenamento jurídico ” (LIMA, 2017, p. 620). Além de que também seria algo contraditório para o Estado, ente que toma a jurisdição para si, usar de meios ilícitos para condenar particular, dirimindo direitos fundamentais para a persecução penal e deslegitimando o direito de punir. (LIMA, 2017) Guilherme Madeira Dezem, em consonância com o que diz Lima, afirma que a aplicação da teoria da prova ilícita é uma sanção ao Estado pelas más praticas na produção de prova, sendo elas obrigatoriamente inadmissíveis pela constituição e, por isso, desentranhadas do processo. (DEZEM, 2016) Dezem, ainda, divide como forma didática a prova ilícita antes de 2008 e pós 2008, em razão de que apenas a Constituição Federal previa a prova ilícita. No entanto, não havia especificações do que era prova ilícita, cabendo à doutrina a conceituação, baseadas nas lições de Pietro Nuvolone. O qual distinguiu as provas ilícitas da provas ilegítimas, ambas sendo espécies do gênero prova vedada ou prova ilegal. (DEZEM, 2016) a) Prova Ilícita: é a prova obtida de forma que venha a ferir direito material, como, obter confissão com base em tortura ou ameaça (DEZEM, 2016). Em consonância com este conceito, Fernando Capez: Prova ilícita. Quando a prova for vedada, em virtude de ter sido produzida com afronta a normas de direito material, será chamada de ilícita. Desse modo, serão ilícitas todas as provas produzidas mediante a prática de crime ou contravenção, as que violem normas de Direito Civil, Comercial ou Administrativo, bem como aquelas que afrontem princípios constitucionais. Tais provas não serão admitidas 57 no processo penal. Assim, por exemplo, uma confissão obtida com emprego de tortura (Lei n. 9.455/97), uma apreensão de documento realizada mediante violação de domicílio (CP, art. 150), a captação de uma conversa por meio do crime de interceptação telefônica (Lei n. 9.296/96, art. 10) e assim por diante. (CAPEZ, 2016, p. 344) b) Prova Ilegítima; é a prova obtida em desacordo com as normas processuais. Prova ilegítima. Quando a norma afrontada tiver natureza processual, a prova vedada será chamada de ilegítima. Assim, será considerada prova ilegítima: o documento exibido em plenário do Júri, com desobediência ao disposto no art. 479, caput (CPP); o depoimento prestado com violação à regra proibitiva do art. 207 (CPP) (sigilo profissional) etc. Podemos ainda lembrar as provas relativas ao estado de pessoas produzidas em descompasso com a lei civil, por qualquer meio que não seja a respectiva certidão (CPP, art. 155, parágrafo único), ou a confissão feita em substituição ao exame de corpo de delito, quando a infração tiver deixado vestígios (CPP, art. 158). Nesse último caso, a título de exemplo, se houve uma lesão corporal consistente em uma fratura do antebraço, nem mesmo a radiografia, a ficha médica do paciente, o depoimento dos médicos e a confissão do acusado podem suprir a falta do exame de corpo de delito, devido à exigência processual expressa constante do art. 158 do CPP. As provas produzidas em substituição serão nulas por ofensa à norma processual e, portanto, ilegítimas, não podendo ser levadas em conta pelo juiz (CPP, art. 564, III, b), o que acarreta a absolvição por falta de comprovação da materialidade delitiva. (CAPEZ, 2016, p. 344) Nos casos de prova ilícita, é importante salientar que o direito deve ser fundamental: Neste sentido era a posição de Thiago André Pierobom de Ávila: "O direito cuja violação ensejará a ilicitude da prova há de ser um direito fundamental. A garantia fundamental da inadmissibilidade das provas ilícitas está estrategicamente localizada sob o título dos direitos e garantias fundamentais. Sua finalidade é criar um sistema de atividade processual que respeite minimamente os direitos elencados na Constituição tidos como essenciais para a convivência em sociedade. O problema perante o caso concreto é delimitar a linha que separa o plano da constitucionalidade e o da legalidade, haja vista o caráter analítico de nossa Constituição" (ÁVILA apud DEZEM, 2016, p. 205) Outra distinção salientada por Dezem, é o tempo da sua ocorrência, sendo a prova ilícita produzida antes do processo, com violação de normas de carácter material. A prova ilegítima ocorrerá durante o processo com violação de normas de 58 direito processual. No entanto, este critério pode sofrer exceções, como em caso de um juiz coagir o réu, gerando prova ilícita no decorrer do processo. (DEZEM, 2016) A consequência gerada para as provas ilegítimas é mera nulidade, ocorrendo elas no processo e em detrimento dele, o ato será nulo e deverá ser refeito. A depender do grau de violação, podendo ser o ato, também, inexistente, absolutamente nulo, relativo ou mera irregularidade. No entanto, a consequência para a prova ilícita, por ser “inadmissível”, conforme a constituição federal, é o desentranhamento do processo. 3.2 Conceito pós 2008 (Lei n. 11.690/08) A lei n. 11.690/08 modificou o artigo 157 do código de processo penal dispondo “São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais” distanciando-se da doutrina e da antiga jurisprudência que dividia as provas proibidas como ilícitas e ilegítimas,unificando-as como uma única espécie, provas ilícitas. (CAPEZ, 2016, p. 345) O tema não é pacífico. Dezem, entende que não foi abandonada a distinção das provas ilegítimas e ilícitas, sendo que “Nesse sentido é a posição de Antonio Scarance Fernandes e de Paulo Rangel e é a posição que defendemos”. (DEZEM, 2016, p. 207). Para Dezem, a distinção é necessária em razão de suas consequências divergentes em cada caso, como: “A prova ilícita é inadmissível, deve ser desentranhada e inutilizada. A prova ilegítima é causa de nulidade, de forma que o ato simplesmente deve ser refeito, permanecendo o ato nulo no processo”(DEZEM, 2016, p. 207). Ressalta, também, que os critérios de convalidação da prova nula e da prova ilícita é divergente: A título de exemplo cito o difícil tema do prejuízo, previsto no art. 563 do CP. Prejuízo é critério utilizado para se anular ou não a prova e nenhuma relação possui com a validação da prova ilícita. O risco da interpolação dos conceitos que prejuízo passe a ser critério de validação da prova ilícita o que não pode ser admitido. (DEZEM, 2016, p. 207) 59 Outra consequência, quando a prova ilícita entra no processo, ela deve ser desentranhada imediatamente e posteriormente não poderá ser repetida. Para Dezem, a inadmissibilidade da prova ilícita é pouco estudada na doutrina brasileira, porem, uma das consequências estudadas pelas doutrinas norte- americanas é a irrepetibilidade das provas ilícitas no processo, sendo essa uma das consequências para coibir os agentes do estado de adoram métodos ilícitos de provar. A prova ilícita tinha como caráter o male captum bene retentum9, justificando assim ás más condutas dos agentes públicos que seriam teoricamente punidos, porém, as provas se mantinham nos autos. Os agentes nunca eram punidos e o estado não era punido por produzir a prova ilícita, assim, acarretando o injusto. (DEZEM, 2016) Novamente, não havendo distinção das provas ilícitas, uma prova com erro meramente processual não poderia ser repetida, gerando o indesejado para o processo penal. A prova nula não é desentranhada do processo nem destruída. (DEZEM, 2016) A jurisprudência no pós 2008 tem evitado o uso do termo prova ilegítima. No entanto, percebe-se claramente dos julgados do STJ e do STF que, embora não usem o termo prova ilegítima, acabam por aplicar as sanções de nulidade para os casos de prova obtida com violação a regras de direito processual. (DEZEM, 2016, p. 207) 3.3 O juiz Contaminado É a figura do Juiz que obtêm contato com a prova ilícita e portanto fica “contaminado”, tendo sua imparcialidade afetada, mesmo que a prova seja desentranhada dos autos o juiz poderá ser influenciado pela mesma por ter tido contanto. (DEZEM, 2016) A doutrina vê como solução o afastamento do juiz do processo em questão sendo-lhe nomeado o seu substituto legal para julgar o caso, sendo uma analogia aos casos de suspeição e impedimento. No entanto, a jurisprudência não adere a ideia, tendo como rol taxativo as situações de suspeição e impedimento. (DEZEM, 2016) 9 Mal colhida, mas bem conservada 60 3.4 Hipóteses de Admissibilidade da Prova Proibida Há algumas exceções na inadmissibilidade das provas ilícitas, muitas delas trazidas pela doutrina norte americana e aceitas na doutrina e jurisprudência do Brasil, reforçando a ideia de que nenhum direito é absoluto. 3.4.1 Exceção do Erro Inócuo Pode ocorrer quando o erro é mínimo, não prejudicando de fato o direito das partes e, havendo condenação, esta deve ser corroborada com provas lícitas e idôneas para a condenação. Fixado no julgamento em xeque que a prova tida por ilícita não foi a única adotada para a condenação, que se baseou em outros elementos, expressamente referidos naquele édito, não há como chegar a uma conclusão diversa, na via eleita, pois é intento que demanda revolvimento fático-probatório, não condizente com restrito e mandamental veio de conhecimento do writ (STJ, HC187.044/SP, j.15.10.2013, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura) 3.4.2 Legitimidade para requerer a exclusão da prova ilícita Este entendimento tem origem no direito norte-americano no qual é preciso ser parte legítima do processo para requerer o desentranhamento da prova ilícita do processo. Esta expressão, apresentada por Thiago André Pierobom de Ávila, indica que, em casos de busca e apreensão, a proteção da regra de exclusão é apenas daquele que possui "uma legítima expectativa de privacidade própria, violada pela busca, e não apenas daquele que tenha a propriedade sobre o bem objeto da apreensão". (ÁVILA Apud DEZEM, 2016, p. 209) 3.4.3 Princípio da Proporcionalidade Para Avena, é princípio que sopesa a relativa importância da prova com a importância do direito que ela pode vir a colocar em risco, relativizando um ou outro: [...]é aplicado o princípio da proporcionalidade, também chamado de princípio do sopesamento, o qual, partindo da consideração de que 61 “nenhum direito reconhecido na Constituição pode revestirse de caráter absoluto”, possibilita que se analise, diante da hipótese de colisão de direitos fundamentais, qual é o que deve, efetivamente, ser protegido pelo Estado. (AVENA, 2017, p. 332) 3.4.4 Prova Ilícita Pro Reo Para a maior parte da Doutrina as provas ilícitas utilizadas em favor do réu são admissíveis, em razão do bem jurídico tutelado, de forma genérica, a liberdade, ser maior que a mera irregularidade das provas. Assim entende Grinover, Magalhães e Scarance. (DEZEM, 2016) A segunda discussão no mesmo sentido é sobre a responsabilidade do acusado quando ele comete uma infração para gerar a prova ilícita que o inocenta. A doutrina também é unanime nesse sentido, em afirmar que o acusado pode estar protegido por excludentes de ilicitude como a legítima defesa. (DEZEM, 2016) Para Dezem, a ideia deve melhor moderada, em razão dos bem jurídicos tutelados, sendo alguns de maior relevância que outros. Dezem se utiliza do exemplo do crime de tortura para se conseguir prova de inocência de um crime contra honra, não é razoável tendo em vista os valores envolvidos. (DEZEM, 2016) 3.5 Teoria da Visão Ampla A regra geral é que a busca e apreensão realizada sem mandado judicial é prova ilícita, porém, quando a coisa está à vista ampla do policial não há necessidade de mandado, podendo ser apreendida como prova lícita. (DEZEM, 2016) Outra situação que pode vir a validar a prova, é já durante a diligencia, os policiais encontrarem à vista aberta outra prova, podendo apreende-la mesmo que ela não conste no mandado de busca e apreensão. (DEZEM, 2016) Os parâmetros da teoria foram estabelecidos no caso Coolidge vs Newhampshire de 1971, e sua limitações no caso Horton vs California de 1990. Para a teoria ser válida é preciso estar de acordo com os seguintes pontos: (DEZEM, 2016) 62 a) O objeto deve estar em plena vista do policial; b) O policial deve poder estar legalmente no local onde viu o objeto; c) A natureza da prova deve ser imediatamente aparente; Dezem traz o seguinte exemplo no Brasil: Esta teoria pode ter aplicação no Brasil e pode ter importante parâmetro para os casos envolvendo serendipidade, ou seja, descoberta fortuita de provas. Embora não tenha sido mencionado o nome desta teoria, foi ela utilizada pelo STJ em caso de busca e apreensão em escritório de advocacia em que figurava como um dos investigados o estagiário e descobriram provas de outro crime por parte de advogado quetrabalhava no local: "É lícita a apreensão, em escritório de advocacia, de drogas e de arma de fogo, em tese pertencentes a advogado, na hipótese em que outro advogado tenha presenciado o cumprimento da diligência por solicitação dos policiais, ainda que o mandado de busca e apreensão tenha sido expedido para apreender arma de fogo supostamente pertencente a estagiário do escritório – e não ao advogado – e mesmo que no referido mandado não haja expressa indicação de representante da OAB local para o acompanhamento da diligência. De fato, o inc. II e o § 6.º do art. 7.º da Lei 8.906/1994 dispõem, respectivamente, que são direitos do advogado "a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia" e que "Presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de advogado, a autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste artigo, em decisão motivada, expedindo mandado de busca e apreensão, específico e pormenorizado, a ser cumprido na presença de representante da OAB, sendo, em qualquer hipótese, vedada a utilização dos documentos, das mídias e dos objetos pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho que contenham informações sobre clientes". A finalidade das normas acima transcritas é, claramente, salvaguardar o sigilo da profissão, respeitando-se as informações privilegiadas que os advogados recebem de seus clientes, em homenagem ao princípio da ampla defesa, previsto no art. 5.º, LV, da CF/1988. No caso em análise, os policiais estavam legitimamente autorizados a ingressar no escritório de advocacia por meio de mandado regularmente expedido, e a determinação de busca e apreensão se deu para o endereço profissional do investigado e não para uma sala ou mesa específica. Não obstante o mandado de busca e apreensão tenha sido expedido para apuração de crime praticado pelo estagiário do escritório, verificou-se, coincidentemente, no cumprimento da medida, a ocorrência 63 flagrancial de dois outros crimes que possuem natureza permanente, ou seja, sua consumação se protrai no tempo. Contraria a razoabilidade exigir-se dos policiais envolvidos na diligência que fingissem não ter visto os crimes, para solicitar, a posteriori, um mandado específico de busca e apreensão para o escritório do advogado. Essa medida contrariaria o art. 301 do CPP: "Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito". Desse modo, não há excesso por parte dos policiais envolvidos na busca e apreensão, uma vez que a busca em todo o escritório era necessária, haja vista que a arma de fogo pertencente ao estagiário poderia estar escondida em qualquer lugar do escritório, o que justifica abusca em todo o ambiente, e não apenas nos locais, em princípio de exercício da função de estagiário. Ressalte-se que a localização de elementos que configuram outros crimes, praticados por pessoa que não figura como objeto do mandado de busca e apreensão, insere-se na hipótese nominada pela doutrina de "encontro fortuito de provas". Ademais, em que pese a não indicação expressa de representante da OAB local para o acompanhamento da diligência, foi solicitado, pelos policiais nela envolvidos, que um advogado estivesse presente e acompanhasse o cumprimento do mandado de busca e apreensão no escritório. Sendo assim, aplicando-se o princípio da instrumentalidade das formas, a finalidade da norma foi atingida, não havendo que se falar em nulidade, mas sim, se muito, em mera irregularidade".(STJ, RHC 39.412-SP, j. 03.03.2015, rel. Min. Felix Fischer). (DEZEM, 2016, p. 212) 64 4 TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA 4.1 Conceito The fruits of the poison tree10, é uma teoria do direito norte-americana a qual significa a contaminação de uma prova obtida ilegalmente (árvore) que leva a outras provas (frutos) as quais de certa forma, não tiveram o mesmo vício, porém, por terem sido descobertas por meio irregular, são consideradas ilegais por derivação. Como afirma Guilherme Madeira Dezem, a teoria teve início em 1920, quando a suprema corte norte-americana considerou inválida uma intimação expedida com base em uma busca ilegal, no caso Silverthorne Lumber & Cov.United States, porém, “a expressão "fruits of the poisonous tree doctrine" somente seria cunhada em outro julgamento pelo Min.Franckfurter, no caso Nardone v. United States, de 1937” (DEZEM, 2016, p. 213). Com a nova teoria a corte passa a adotar esse entendimento para todos os casos como afirma Capez: “A partir de uma decisão proferida no caso Siverthorne- Lumber Co. vs. United States, em 1920, as cortes americanas passaram a não admitir qualquer prova, ainda que lícita em si mesma, oriunda de práticas ilegais”. (Capez, 2016, p. 345). No Brasil, antes da reforma de 2008, a teoria também era adotada, porém, com o fundamento do art. 573, § 1.º, do CPP, dispondo que “a nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequência”, como afirmado por Avena: “Transpondo-se essa disposição para o tema de provas, resultava que a ilicitude de uma prova, uma vez reconhecida, causará a ilicitude das provas que dela diretamente decorram” (AVENA, 2017, p. 330). O ordenamento jurídico brasileiro, pós 2008, adotou a teoria como pode se notar no artigo 157, § 1º “são inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado ao nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras”. Bem como, a doutrina e a jurisprudência compactuaram com a teoria, conforme afirma Dezem e Capez: 10 Teoria dos frutos da árvore envenenada 65 A despeito da existência de jurisprudência na Corte no sentido de os vícios eventualmente ocorridos no inquérito policial não terem o condão de macular a ação penal(HC 83.921/RJ, 1.ª T., rel. Min. Eros Grau, DJe de 27.08.2004), devem ser consideradas imprestáveis as provas ilícitas obtidas de forma direta ou por derivação de outras (fruits of the poisonous tree), independentemente do momento em que forem produzidas. 4. Essas razões justificam que os elementos de prova formalmente produzidos nos Inquéritos 129/10 e 280/10 sejam desentranhados do caderno processual, aniquilando qualquer possibilidade de servirem de subsídio para fundamentar a condenação, sem prejuízo daquelas provas eventualmente produzidas de forma legítima e autônoma (STF, Rcl 12.484/DF, j. 29.09.2014, rel. Min. Dias Toffoli) (Dezem, 2016, p. 213) [...] o Brasil, Grinover, Scarance e Magalhães sustentam que a ilicitude da prova se transmite a tudo o que dela advier, sendo inadmissíveis as provas ilícitas por derivação, dentro do nosso sistema constitucional: “Na posição mais sensível às garantias da pessoa humana, e consequentemente mais intransigente com os princípios e normas constitucionais, a ilicitude da obtenção da prova transmite-se às provas derivadas, que são igualmente banidas do processo” (As nulidades no processo penal, 3. ed., Malheiros Ed., p. 116) (MALHEIROS, 1996, apud CAPEZ, 2016, p.345) No entanto, a teoria exige que a prova fruto esteja diretamente e exclusivamente ligada à prova envenenada, ou seja, “a prova tida como contaminada tenha sido decorrência de uma outra, manifestamenteviciada, ou de uma situação de ilegalidade” (AVENA, 2017, p. 330). Esse “nexo causal”, afirmado também por Dezem (2016), é a causalidade que contamina as outras provas, em razão disso, a própria suprema corte norte-americana adotou mecanismos que atenuem a aplicabilidade da teoria dos frutos da árvore proibida. Porém, os mecanismos atenuantes, alguns reconhecidos no Brasil, são exceções, a regra sempre será a vedação da prova ilegal, em respeito aos princípios constitucionais e tratados internacionais os quais o Brasil é signatário. (DEZEM, 2016) 4.2 Teoria da Fonte Independente A independente source, ou fonte independente, é a ideia de que havendo duas fontes para a prova, uma admissível e outra ilegal, é possível aceitar a como não contaminada as provas derivadas, não havendo óbice para elas no processo. Em outras palavras: 66 [...] a teoria ou exceção da fonte independente, se o órgão da persecução penal demonstrar que obteve, legitimamente, novos elementos de informação a partir de uma fonte autônoma de prova, que não guarde qualquer relação de dependência, nem decorra da prova originariamente ilícita, com esta não mantendo vínculo causal, tais dados probatórios são admissíveis, porque não contaminados pela mácula da ilicitude originária. (LIMA, 2017, p. 97) É preciso cuidado para se lidar com esta teoria, em razão de se tratar de exceção, e a regra ser a representação da garantia dos direitos fundamentais os quais devem permanecer imaculados, quando não, gerando a prova ilícita. Destarte, é preciso inequívoca demonstração de que se trata de prova oriunda de fonte legítima a qual não haja nexo de causalidade e advinda de linha paralela a da prova contaminada. (LIMA, 2017) Esta teoria de exceção também teve sua origem nas cortes norte-americanas, sendo citados os casos de Bynum v. U.S., de 1960, e Murray v. United States, de 1988: No caso Bynum v. U.S., de 1960, a Corte determinou inicialmente a exclusão de identificação dactiloscópica que havia sido feita durante a prisão ilegal do acusado Bynum. Ao ser novamente processado, valeu-se a acusação de um antigo conjunto de planilhas dactiloscópicas de Bynum que se encontrava nos arquivos do FBI e que correspondiam às impressões digitais encontradas no local do crime. Como a polícia tinha razão para verificar as antigas planilhas de Bynum independentemente da prisão ilegal, e como as impressões digitais de tais planilhas tinham sido colhidas anteriormente sem qualquer relação com o roubo investigado dessa vez, as antigas planilhas foram admitidas como prova obtida independentemente, de maneira alguma relacionada à prisão ilegal (LIMA, 2017, p. 97) No caso Murray v. United States, de 1988, após perceberem uma atividade suspeita de tráfico de drogas em uma residência, policiais entraram ilegalmente na casa e confirmaram a suspeita; posteriormente, requereram um mandado judicial para a busca e apreensão indicando apenas as suspeitas e sem mencionar a anterior entrada e, de posse do mandado, entraram novamente na residência e apreenderam as drogas. A Corte entendeu que a prova era válida, pois, ainda que os policiais não houvessem realizado a primeira violação, de qualquer forma seria obtido o mandado a justificar a segunda entrada legal, com base apenas nos indícios iniciais. (LIMA, 2017, p. 97) Para Dezem (2016), o qual também cita ambos os casos em sua doutrina, a teoria é temerária e carece de cautela para a sua aplicabilidade, tendo dado como 67 exemplo caso Murray, imaginando os muitos possíveis abusos polícias que poderiam ser cometidos. Além do fato, de já haver precedentes no Brasil de sua aplicabilidade pelo STF: Se, no entanto, o órgão da persecução penal demonstrar que obteve, legitimamente, novos elementos de informação a partir de uma fonte autônoma de prova – que não guarde qualquer relação de dependência nem decorra da prova originariamente ilícita, com esta não mantendo vinculação causal -, tais dados probatórios revelar-se- ão plenamente admissíveis, porque não contaminados pela mácula da ilicitude originária. A questão da fonte autônoma de prova (an independent source) e a sua desvinculação causal da prova ilicitamente obtida - Doutrina - Precedentes do Supremo Tribunal Federal - Jurisprudência comparada (a experiência da Suprema Corte Americana): casos Silverthorne Lumber co. v. United States (1920); Segura v. United States (1984); Nix v. Williams (1984); Murray v. United States (1988), v.g." (RHC 90.376,.03.04.2007, rel. Min. Celso de Mello). (DEZEM, 2016, p. 214) Todavia, após a reforma de 2008, passa a constar no dispositivo do Código de Processo Penal no art. 157, § 1°, do CPP, "são também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras". 4.3 Teoria da Descoberta Inevitável Inevitable Discovery ou Teoria da Fonte Hipotética Independente, como afirmado por Dezem (2016), é uma das teorias de exceção à Teoria dos Frutos da Arvore Envenenada, a qual consiste na ideia de que independente da prova original (árvore) ter sido obtida por meio ilícito, as provas advindas dela (frutos) podem ser admitidas no processo, desde que, de outro modo lícito, ela viria à tona. No entanto, Lima (2017) afirma que esta exceção não pode ser meramente especulativa, sendo indispensáveis os fatos idôneos à descoberta inevitável da prova fruto. Em consonância: Deve-se analisar se, naquele caso concreto, haveria a inevitabilidade da descoberta da prova. Esta análise deve ser feita considerando-se a linha investigativa desenvolvida naquela específica investigação e não por meio de esquemas mentais abstratos e genéricos (DEZEM, 2016, p. 2015) 68 Tanto Guilherme Madeira Dezem (2016) quanto Renato Brasileiro de Lima (2017) citam a origem da teoria, bem como seu exemplo prático e fatídico, sendo o caso Nix. V. Willians de 1984, onde policiais torturaram um suspeito de homicídio obtendo deste a confissão, bem como a localidade do corpo, assim, apreendendo a materialidade do crime no local informado. Inicialmente a juntada da prova material do corpo encontrado seria ilegal, com base na teoria dos frutos da árvore envenenada, no entanto, a corte norte-americana entendeu que a teoria não poderia ser aplicada em razão de que no mesmo dia havia um grupo de duzentas pessoas realizando buscas pela localidade onde o corpo estava, sendo cessada apenas em razão da busca específica da polícia, ou seja, indubitavelmente o corpo seria encontrado de uma forma ou de outra. Esta teoria, de acordo com os doutrinadores Dezem (2016) e Lima (2017) está no ordenamento jurídico, apesar de ambos sustentar um equivoco do legislador na suscitação da lei; “a redação dada ao §2º do art.157 do CPP, entendemos que o legislador quis positivar no sistema a exceção da fonte hipotética independente e não a teoria da fonte independente.” (DEZEM, 2016, p. 215). É verdade que o legislador não se refere de maneira expressa à teoria da descoberta inevitáveL Porém, como dito acima, seu conteúdo pode ser extraído do an. 157, § 2", do CPP: "considera-se fonte independente aquela que, por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova" (nosso grifo). Parece ter havido uma confusão por parte do legislador ao se referir à fonte independente, pois o conceito por ele trazido é o da limitação da descoberta inevitável. Com efeito, pela própria redação do § 2° do art. 157 do CPP, empregando o verbo no condicional,percebe-se que nem mesmo seria necessário que a prova derivada tivesse sido cefetivamente conseguida a partir de uma fonte autônoma e regular de prova (teoria da fonte independente), bastando que houvesse uma mera possibilidade disso ("seria capaz de conduzír ao fato objeto da prova''). Inequívoca, pois, a adoção da limitação da descoberta inevitável. (LIMA, 2017, p. 630) Destarte, para Dezem (2016), em relação ao artigo 157 do CPP §§1º e 2º estes comportam respectivamente a Teoria da Fonte Independente e Teoria da Descoberta Inevitável. O STF já admitiu a teoria em um caso em que policiais em busca e apreensão pessoal, apreenderam o celular do indivíduo e olharam o histórico de ligações e 69 chamadas sem autorização judicial, assim, obtendo a informação de que havia sido atendida uma chamada próximo ao momento do crime, sendo esta do marido da vitima de homicídio. “O STF considerou não haver ilicitude neste tipo de análise pela polícia mas, ainda que houvesse, a teoria da descoberta inevitável afastaria esta ilicitude derivada” (DEZEM, 2016, p. 215), sobre o HC. 91.867, j. 24.04.2012. rel. Gilmar Mendes. 4.4 Teoria da Mancha Purgada The Puged Tainted Limitatior ou Mancha Purgada Limitadas, Contaminação Expurgada, Contaminação Atenuada, limitação dos vícios Sanados, Nexo Causal Atenuado ou, por fim, da Tinta Diluída. Esta teoria, também criada pela Suprema Corte Americana, é uma das exceções da Teoria do Fruto da Árvore Envenenada, ela diz respeito ao nexo causal tênue ou atenuado entre a prova original (arvore) e a prova derivada (fruto), sanando o vício da contaminação entre uma e outra. Esta teoria foi desenvolvida no caso WONG SUN v. US (1963), em que a polícia, de maneira ilegal, ingressou no domicílio de "A" sem causa provável (indícios probatórios necessários para tanto), efetuando em seguida sua prisão. Dessa prisão ilegal resultou a apreensão de drogas em posse de "B", o qual, por sua vez, disse ter recebido a droga de "C", que também foi preso de maneira ilegaL Dias mais tarde, após "C" ter sido colocado em liberdade, resolveu voluntariamente confessar aos policiais a prática do delito, durante seu interrogatório policial. Quanto à apreensão da droga com "B" e suas declarações, entendeu a Suprema Corte tratar-se de prova ilícita por derivação, eis que resultado da entrada ilegal na casa de "A". No entanto, concluiu que a teoria dos frutos da árvore envenenada não teria o condão de contaminar o que se apurou conta "C'', pois sua ação voluntária de confessar a prática delituosa após ter sido solto e advertido de seus direitos, teria tomado a conexão entre a prisão ilegal e a declaração tão atenuada que o veneno da ilegalidade originária teria se dissipado. Da análise do caso WONG SUN v. US, embrião da limitação da mancha purgada, depreende-se que um vício de ilicitude originário pode ser expurgado, ou seja, removido, por meio de um ato independente interveniente, praticado pelo acusado ou por um terceiro, a determinar a interrupção da corrente causal entre a ilegalidade originária e a prova subsequente. (LIMA, 2017, p. 632) Outro caso similar exposto por Dezem (2017) é o caso julgado pela Corte Europeia de Direitos Humanos, Gäfgen vs Alemanha (caso 22978/05), caso em que Policiais torturaram Magnus Gäfgen até que ele confessasse o homicídio de uma 70 garoto de 11 anos. Posteriormente, durante o processo, Gäfgen confessou novamente o crime sendo condenado à prisão perpétua. Gäfgen entrou com processo junto a Corte Europeia de Direitos Humanos que reconheceu a tortura e condenou a Alemanha a indeniza-lo pelos danos, porém, manteve o processo. A corte entendeu “aplicação desta teoria na medida em que a confissão feita em juízo, perante os juízes e com a presença de advogado faria com que a prova derivada tivesse conexão atenuada e justificasse a condenação.” (DEZEM, 2016, p. 216) A teoria foi positivada no trecho do §1º do art. 157 “não evidenciando o nexo de causalidade entre umas e outras”, o que não se confunde com a teoria da prova independente, conforme explica Lima: Na teoria da fonte independente, o nexo causal entre as provas é atenuado em razão da circunstância de a prova secundária possuir existência independente da prova primária. Na limitação da mancha purgada, o lapso temporal decorrido entre a prova primária e a secundária, as circunstâncias intervenientes na cadeia probatória, a menor relevância da ilegalidade ou a vontade do agente em colaborar com a persecução criminal atenuam a ilicitude originária, expurgando qualquer vício que possa recair sobre a prova secundária. (LIMA, 2017, p. 632) Dezem faz criticas à teoria, em razão da mesma ameaçar os direitos fundamentais da constituição, bem como os tratados internacionais: “trata-se de teoria que permite lavar a prova ilícita para, retirando a ilicitude, dar-lhe o verniz de licitude” (DEZEM, 2016, p. 216). Para Dezem, o grande número de exceções podem levar o órgão julgador a ignorar a regra e adotar sempre as exceções como a solução do conflito eficácia e garantismo. (DEZEM, 2016) 71 CONSIDERAÇÔES FINAIS Após o estudo é possível verificar algumas considerações. As provas no processo penal é um tema vasto e rico, há diversas teorias e posicionamentos, bem como, inúmeras maneiras de se provar os fatos relevantes para o direito penal ou, bem dizendo, comprovar a materialidade dos crimes. A ideia era realmente trazer um rol informativo o mais vasto possível, para a melhor compreensão de um dos temas que se faz essencial ao direito e a justiça, bem como, auxiliar os futuros juristas no dia-a-dia das provas no direito. É de simples cognição que as provas sempre serão proibidas quando violarem normas de direito material, seja de qualquer área do direito, ou normas processuais interrompendo o rito. A distinção entre as provas Ilícitas e as Ilegítimas, como foi visto no terceiro capítulo desta, muitas vezes se faz necessária, porém a jurisprudência não tem adotado tal distinção, nem mesmo a doutrina ainda entrou em consonância sobra a existência dos dois institutos ou a unificação dos mesmos em gênero e espécie: Prova Ilícita. No entanto, os efeitos ainda são os mesmos, em caso de vício material a prova de fato deve ser desentranhada do processo, como se nunca tivesses existido, e as de vício instrumental, resta refazer o ato ou anula-lo, caso já não seja propriamente nulo. Outra discussão que pode vir a ter alguma reviravolta em um futuro próximo é quanto a Teoria do Juiz contaminado, é evidente e mais que plausível a suspeição do magistrado quando o mesmo teve contato com a prova ilícita. Não é possível 72 deixar de se influenciar pela verdade, mesmo quando essa verdade advém de um claro vício. Quanto a Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada, é uma teoria que de fato se faz necessária contra os abusos do Estado, é uma salva guarda dos direitos fundamentais e comuns dos cidadãos. É uma pequena punição ao estado a não utilização dessas provas, bem como, um preço pequeno a se pagar, caso alguns que realmente agiram com vilania se safarem com base na teoria, devido as liberdades individuais, os direitos fundamentais e humanos serem maiores conquistas na balança do direito. No entanto, nenhum direito é absoluto, como foi visto nas próprias teorias de exceção, bem como, ainda, haverão muitas discussões doutrinárias sobre esta teoria e, logo, novas surgirão. O direito está sempre em constante mutação. 73 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, Renam. Históriado Direito/ Renan Aguiar; Coordenador José Fábio Rodrigues Maciel. – 4. ed. – São Paulo: Saraiva, 2010. AVENA, Norberto Claudio Pâncaro. Processo Penal/ Norberto Avena. – 9. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal/ Fernando Capez – 23. ed. – São Paulo: Saraiva, 2016. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal/ Fernando Capez – 19. ed. – São Paulo: Saraiva, 2012. CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral e Brasil/ Flavia Lages de Castro – 5. ed. – Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. DEZEM, Guilherme Madeira. Curso de Processo Penal [Livro Eletrônico]/ Guilherme Madeira Dezem; coordenadores Darlan Barroso, Marco Antônio Araújo Junior – 2. Ed - São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais 2016. LIMA, Renato Brasileiro de. Manuel de Processo Penal: volume único/ Renato Brasileiro de Lima – 5. ed. rev. Ampl. e Atual. – Salvador: Ed. Juspodium, 2017. NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de História do Direito/ Walter Vieira do Nascimento. 21. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2007 NUCCI, Guilherme de Souza. Provas no Processo Penal/ Guilherme de Souza Nucci – 4. Ed. – Rio de Janeiro: Forense. 2015. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal/ Guilherme de Souza Nucci – 11. Ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense. 2014 REIS, Alexandre Cebrian Araújo. Direito Processual Penal Esquematizado/ Alexandre Cebrian Araújo Reis e Victor Eduardo Rios; Coordenador Pedro Lenza. 2. ed. – São Paulo: Saraiva, 2013 VADE MECUM SARAIVA / obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Cúria, Lívia Céspedes e Fabiana Dias de Rocha – 21. ed. Atual e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2016