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Teoria Geral (noções)
“Ubi ius, ubi societas; ubi societas, ubi ius” (onde está o Direito, está a sociedade; onde está a sociedade, está o Direito)
Origem do Direito: ubi societas, ibijus (norma de conduta primária)
São José, agosto de 2017
Instituto de Ensino Superior da Grande Florianópolis - IESGF 
Curso: Direito
Disciplina: Títulos de Crédito
Prof. Ricardo Espindola
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A definição dos Títulos de Crédito está no art. 887, do Código Civil:
Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e  autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. Essa definição foi dada por um jurista chamado Cesare Vivante e reproduzido pelo Código Civil de 2002. 
	O direito aqui é o direito ao crédito (monetário).
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	Fábio Ulhoa Coelho, partindo o conceito apresentado por Cesare Vivante ensina que: “Proponho um caminho algo diferente, que parte do conceito, que parte do conceito apresentado acima (conceito de Cesare Vivante): o título de crédito é um documento. Como documento, ele reporta um fato, ele diz que alguma coisa existe.
	Em outros termos, o título prova a existência de uma relação jurídica, especificamente de uma relação de crédito; ele constitui a prova de que certa pessoa é credora de outra; ou de que duas ou mais pessoas são credoras de outras. 
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	Se alguém assina um cheque e o entrega a mim, o título documenta que sou credor daquela pessoa. A nota promissória, letra de câmbio, duplicata ou qualquer outro título de crédito também possuem o mesmo significado, também representam obrigação creditícia.
	O título de crédito não é o único documento disciplinado pelo direito. Há outros, que também reportam fatos, que provam que certo sujeito é titular de um direito perante outro, ou perante qualquer um. 
	O instrumento escrito de contrato de locução documenta, entre outras obrigações, que o locador é credor dos aluguéis devidos pelo locatário. A escritura pública de compra e venda de imóvel prova a existência do negócio de aquisição do bem e discrimina as obrigações assumidas pelas partes. 
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	A notificação de lançamento fiscal relata que o contribuinte é obrigado a pagar o tributo ao Estado. A sentença judicial condenatória representa o dever imposto à parte vencida de satisfazer o direito reconhecido à vencedora. 
	Além desses, muitos outros documentos têm a sua elaboração e seus efeitos dispostos na lei ou em regulamentos; livros mercantis, nota fiscal, fatura, certificado de registro de marca, apólice de seguro, diploma de curso superior etc.
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	O título de crédito se distingue dos demais documentos representativos de direitos e obrigações em três aspectos. Em primeiro lugar, ele se refere unicamente a relações creditícias. 
	Não se documenta num título de crédito nenhuma outra obrigação, de dar, fazer ou não fazer. Apenas o crédito titularizado por um ou mais sujeitos, perante outro ou outros, consta de um instrumento cambial. 
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	O contrato de locação empresarial, por exemplo, além de assegurar o crédito do aluguel, representa o dever de o locador respeitar a posse do locatário sobre o imóvel, ou de suportar a renovação compulsória do vínculo, na forma da lei. 
	A característica de representar exclusivamente direitos creditórios, por si só, não é suficiente para distinguir os títulos de crédito dos demais documentos representativos de obrigação. 
	A apólice de seguro, por exemplo, também representa apenas o crédito eventual do segurado ou do terceiro beneficiário, perante a seguradora e não se pode considerar título de crédito.
 
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	A segunda diferença entre o título de crédito e muitos dos demais documentos representativos de obrigação está ligada à facilidade na cobrança do crédito em juízo. Ele é definido pela lei processual como título executivo extrajudicial (CPC, art. 585, I); possui executividade, quer dizer, dá ao credor o direito de promover a execução judicial do seu direito. 
	Nem todos os instrumentos escritos que documentam obrigações creditícias apresentam essa característica. 
	Se o credor não dispuser de documento a que a lei processual atribua natureza executória, a cobrança do seu crédito representado deverá ser feita através de ação de conhecimento (ou monitória), normalmente mais morosa que a execução. 
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	Esse atributo dos títulos de crédito – convém ressaltar – também não é exclusivo; diversos outros documentos representativos de obrigação são também títulos executivos (sentença judicial, contrato revestido de certas formalidades, apólices de seguro de vida etc.).
	Em terceiro lugar, o título de crédito ostenta o atributo da negociabilidade, ou seja, está sujeito a certa disciplina jurídica, que torna mais fácil a circulação do crédito, a negociação do direito nele mencionado. 
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	A fundamental diferença entre o regime cambiário e a disciplina dos demais documentos representativos de obrigação (que será chamada, aqui, de civil) é relacionada aos preceitos que facilitam, ao credor, encontrar terceiros interessados em antecipar-lhe o valor da obrigação (ou parte deste), em troca da titularidade do crédito.
	Em outros termos, se o credor tem o seu direito representado por um título
de crédito (por exemplo, uma nota promissória, duplicada ou cheque pós-datado), ele pode facilmente desconta-lo junto ao banco de que é cliente. 
 
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	Na operação de desconto bancário, o credor do título de crédito (descontário) transfere a titularidade do seu direito ao banco (descontador) e recebe deste, adiantado, uma parte do valor do crédito. 
	No vencimento, o banco irá cobrar o devedor, lucrando com a diferença entre o valor facial do título e o montante antecipado ao credor originário. Nem todos os documentos representativos de obrigação, contudo, são descontáveis pelos bancos. 
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	Existe uma decisão súmula 370 STJ:
370. Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.
	Se a pessoa apresenta um cheque pré-datado antes da data combinada, mesmo que tenha fundos e não cause prejuízos materiais ao emissor, causa dano moral.
	Assim, esse exemplo mostra como essa matéria é atual. Seja sobre cheque, ou mesmo a duplicata. Todos aqui com certeza assinaram o canhoto de uma fatura. Saiba que aquele canhoto foi anexado a segunda via da fatura.
	Naquele momento você reconheceu a dívida da duplicada. O mesmo acontece com o boleto. Ele é anexado a duplicada. 
 
 
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	Não é qualquer papel que é titulo de credito. Um papel de pão escrito “devo x reais ao fulano e assino”, isso não é titulo de crédito.
	Primeiro requisito é que é necessário estar prescrito em lei. Um documento particular não pode ser equiparado a título de crédito.
	Todo título de credito é um título executivo. Uma vez que ele é regularmente preenchido, caso o pagamento não ocorra, ou seja, a obrigação não seja cumprida, o credor dentro dos prazos legais (todo título tem prazo prescricional) por exemplo, cheque é 6 meses.
	Esse prazo é para entrar com uma ação, para pedir ao juízo que exija o cumprimento. Ele não precisa mais da fase de conhecimento, pois o titulo já é executável.
 
 
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	É diferente ter um documento que não é um título de crédito. A fase de execução, se não é titulo de credito, vai precisar de fase de conhecimento.
	Titulo executivo é um titulo de crédito, dentro da sua validade (ainda não prescrito).
	Existem 4 modalidades de títulos de créditos dentre as 44 que existem, que são muito importantes, os chamados títulos próprios. Reúnem todas as características essenciais que um titulo deve ter:
Letra de cambio
Nota promissória
Cheque
Duplicata
 
 
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	há um período na historia que é muito importante para o direito comercial, Renascimento Comercial. Com o fim do império romano, os bárbaros desagregaram o império e formaram a Europa por desagregada. 
	É uma cultura de guerra. E o povo fugiadessa cultura de guerra e se fecharam em feudos. Pacto feudal. Proteção e direito de viver na terra dos nobres em troca de 80 % da produção. Isso durou 700 anos.
 	Isso paralisou o comercio mundial. Pois não havia caminhos abertos para circulação de mercadorias. Sem esses caminhos não há comércio.
 
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	Renascimento Comercial Séc. XIII
	Com a crise feudal, os burgos (nos entroncamentos das estradas – fora dos feudos) os trabalhadores começam a trocar moeda por produtos.
	O sustento do nobre vinha das rendas (tributação dos servos) e o sustento do burguês vinha do seu próprio trabalho.
	Nesta época em que o comercio renasceu, os comerciantes se estabeleceram nos burgos, não havia Estado organizado. Tome por exemplo um comerciante em Hamburgo, mandando mercadoria para Veneza. Um trajeto cheio de ladroes, salteadores, havia muitas perdas, o único pagamento aceito era ouro, medido em peso.
 
 
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	Criaram a lettera de cambio (carta de troca). A mercadoria era enviada e o pagamento era combinado por carta. 
	Antes o comerciante ia até um banqueiro, trocando as moedas de Hamburgo pela moeda de Veneza, mas com a lettera de cambio, havia uma carta que pedia o devido crédito ao banqueiro da outra cidade, assim ele trocava a carta pelas moedas, que não precisavam ser transportadas também. 
	A carta só tinha validade para a pessoa designada, portanto, se for roubada a carta não teria mais valor. Essa carta é um titulo de crédito.
	Essa carta é um titulo de crédito.
 
 
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	a) O Conceito de crédito
Quanto ao conceito de “crédito”, Fran Martins afirma ser “a confiança que uma pessoa inspira a outra de cumprir, no futuro, obrigação atualmente assumida”. 
	De Plácido e Silva, aponta que derivado do latim creditum, de credere (confiar, emprestar dinheiro), possui o vocábulo uma ampla significação econômica e um estreito sentido jurídico. Em sua acepção econômica significa a confiança que uma pessoa deposita em outra, a quem entrega coisa sua, para que, em futuro, receba dela coisa equivalente. 
	Juridicamente, significa o direito que tem a pessoa de exigir de outra o cumprimento da obrigação contraída.
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	Verdadeiro é que para o nosso estudo sobre títulos de crédito, tanto o conceito econômico quanto o conceito jurídico de crédito nos são importantes, vez que o primeiro nos traz a ideia da relevância do crédito para a vida das empresas e o segundo nos fornece a representação do crédito no direito, ajudando-nos no momento de conceituar o instituto jurídico “título de crédito”.
	Para o direito, crédito pode ser visto como relação jurídica de natureza obrigacional, que envolve como partes um Credor e um Devedor e como objeto uma prestação pecuniária (restituição de valores), advinda da entrega pelo credor de determinado valor para o devedor.
 
 
 
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	b) O papel dos títulos de crédito na relação de crédito
	A grande utilidade dos títulos de crédito (que provisoriamente pode-se conceituar como papéis em que estão incorporados os direitos do credor contra
o devedor) para as relações jurídicas de crédito está sediada em vários aspectos, quais sejam:
o caráter probatório do título de crédito (trata-se de um documento que prova a existência de um crédito);
- permite a “circulação” do crédito, isto é, que o direito subjetivo ao crédito possa ser repassado (transferido) para terceira pessoa que não fez parte da relação jurídica original (que deu origem ao crédito);
 
 
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	- tem natureza jurídica de “título executivo extrajudicial”, conforme artigo 585 do Código de Processo Civil, dando ensejo à propositura de ação de execução (que tem como rito, resumidamente, a citação do Devedor para o pagamento da dívida constante do título no prazo de 24(vinte e quatro) horas, sob pena de penhora de bens. 
	Caso não houvesse um título executivo judicial, deveria se utilizar o Credor de ação de conhecimento (em que seria discutida a existência ou não do crédito, o que seria determinado por uma sentença judicial) para, após, propor a execução.
 
 
 
 
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	A origem de uma obrigação representada por um título de crédito, segundo Fábio Ulhoa Coelho, pode ser: 
a) Extracambial, que é o caso, por exemplo, de uma pessoa que pede emprestado um computador a um amigo e o devolve com defeito, decorrente do mau uso. Neste caso, a pessoa ao assumir a culpa, e sendo a importância devidamente quantificada, pode ter o valor da obrigação de pagar, representado pela a assinatura de um cheque ou uma nota promissória.
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b) Contrato de compra e venda ou mútuo, etc., no qual consta o valor da obrigação a ser cumprida. 
 c) Cambial, que é o caso do avalista de uma nota promissória. 
 
 
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	 Dentre as principais características ou atributos que possuem os títulos de crédito, que lhes dão agilidade e garantia, são:
- Negociabilidade representada pela facilidade de circulação do crédito que o título representa. Assim, um título de crédito pode ser transferido mediante endosso (assinatura no verso do título, podendo o endosso, ser em preto quando declara o nome do beneficiado, e em branco quando não o faz). - Executividade representativa da garantia de cobrança mais ágil quando o credor resolve recorrer ao judiciário visando à satisfação do crédito. A executividade assegura uma maior eficiência para a cobrança do crédito representado.
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	 As características ou princípios básicos dos títulos de crédito. 	Os títulos de crédito nas suas mais variadas espécies guardam em si três características fundamentais, quais sejam
a) Cartularidade 	A cartularidade é a característica do título que tem por base sua existência física ou equivalente, ou seja, o título tem que existir na sua essência como elemento efetivo e representativo do crédito. 
	Assim, um título de crédito existe enquanto existir a sua cártula, ou seja, enquanto existir o próprio título impresso, não sendo admitido inclusive cópia para efeitos de execução da dívida. Daí decorre o axioma jurídico de que “o que não está no título, não está no mundo”. . 
 
 
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	b) Autonomia 	A autonomia representa a independência das obrigações vinculadas a um mesmo título, ou seja, com a autonomia tem-se a desvinculação do título de crédito em relação ao negócio jurídico que motivou a sua criação. 	A autonomia gera direitos autônomos no campo processual. O título de crédito, uma vez colocado em circulação, mediante a sua transferência para um terceiro de boa-fé, o título se desvincula do negócio concreto que o originou, como forma de proteger tal terceiro de boa-fé e conferir segurança jurídica à circulação do crédito pelo título representado.
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Código Civil:
 Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. 
 
 
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	Para melhor entendimento, suponha o seguinte exemplo prático: uma pessoa A adquiriu de B um determinado bem e assinou uma nota promissora, que em seguida B endossou (transferiu) esta nota promissória para C, em pagamento de uma dívida pessoal. O bem adquirido por A foi devolvido a B por vícios redibitórios (defeitos ocultos), ficando a dívida ou o negócio desfeito. 	Neste caso, embora A não esteja mais devendo a B, está porém obrigado a pagar a nota promissora a C, no vencimento, cabendo a pessoa A cobrar de B o respectivo valor da nota promissória em decorrência do negócio entre eles ter sido desfeito.
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	c) Literalidade 	A literalidade carrega em si a formalidade e o rigor do que deve estar expresso no título de crédito, pois representa o conteúdo escrito no próprio documento. 
	Só tem valor jurídico-cambial o efetivo escrito no título de crédito original, explicitando assim, de forma literal, a obrigação por ele representada.
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	Em decorrência da literalidade, o devedor tem a garantida de que até à data do vencimento,não lhe será exigido obrigação cambiária em valor superior ao que está literalmente expresso documentalmente. 
	Por outro lado, o credor tem a garantia de que o devedor, na data aprazada, lhe pagará a efetiva quantia expressa no título de crédito, sob pena de incorrer em obrigações adicionais, a exemplo de juros, multa e honorários advocatícios.
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	Destaca-se ainda, que em virtude da literalidade, a quitação de um título deverá está expressa no próprio título de crédito. Assim como o aval só terá efeito jurídico-cambial se estiver assinado no próprio título. 
	 	Art. 889, do Código Civil: Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente. 
 
 
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	Fiança x Avalista (aval)
	Do ponto de vista do credor, a fiança é melhor do que o aval. Apesar de mais burocrático, ao assinar o contrato, o fiador é responsável por todo o documento, ou seja, responde por todas as cláusulas contratuais, caso haja algum desrespeito.
	O avalista, no entanto, é responsável apenas pelo valor de face do título, ou seja, pelo valor contratado, sem incidência dos juros e encargos, em caso de atraso no pagamento.
 
 
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	A diferença entre um e outro, se dá na assinatura. Enquanto o fiador assina o próprio contrato ou documento à parte, o avalista assina o título de crédito.
	Outra diferença importante entre um e outro, está na preferência de ordem da execução. No caso da fiança, existe a preferência, ou seja, o devedor deve ser acionado primeiro e, somente depois de esgotadas todas as possibilidades do próprio contratante honrar com a dívida, o fiador é acionado.
 
 
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	No aval, não existe preferência de ordem, portanto, o credor pode executar qualquer uma das partes. 
	Normalmente, a primeira escolha é o avalista, que tendo de arcar com um compromisso de outra pessoa, passa a cobrá-la, o que agiliza o processo de pagamento.
 
 
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