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Cruzeiros Marítimos: Uma Abordagem Introdutória

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Aula 9 – Cruzeiros marítimos: Uma abordagem introdutória
Introdução
Nesta aula, serão destacados alguns dos principais elementos componentes do turismo hidroviário. 
Também serão conhecidos os primórdios das operações com cruzeiros marítimos
Esta abordagem é estratégica para a compreensão da estrutura do turismo hidroviário e os fatores que levaram ao surgimento de um dos principais segmentos: os cruzeiros.
Terra: planeta água
Entre mares, oceanos, baías, lagos e rios estima-se que as águas ocupem mais de 70% de toda a extensão do globo, tornando-as um elemento vital sob diversas formas para todos nós, desde a alimentação até o deslocamento de pessoas e cargas como você já teve a oportunidade de conhecer. 
Contudo, agora você irá compreender como estas regiões também são interessantes para fins de lazer, esportes e para o turismo.
Seja sob a forma de um passeio de barco na Baía de Guanabara; de uma volta romântica pelos canais seculares de Veneza a bordo das gôndolas; apreciando a paisagem da Lagoa Rodrigo de Freitas num barco a remo ou em um pedalinho; e até mesmo num cruzeiro no Caribe, a verdade é que o uso das águas como forma de lazer, turismo e esportes náuticos vem representando há décadas uma maneira bastante aprazível de se curtir um simples fim de semana, feriado prolongado ou as “férias dos sonhos” de milhões de pessoas em todo o mundo.
Transporte hidroviário no Brasil
No caso do Brasil pode-se afirmar que temos uma situação mais que privilegiada neste aspecto, afinal, o nosso litoral ocupa uma vasta extensão de aproximadamente 7.367 quilômetros desde a região Norte ao extremo sul, e nosso território conta com cerca de 35 mil quilômetros de rios navegáveis.
O que faz do uso potencial destes recursos como instrumento de lazer uma oportunidade singular para a geração de empregos e receita para muitos brasileiros.
Se não bastasse a ampla oferta de rios e praias, as altas temperaturas durante quase o ano inteiro em todo o País também contribui para que este nicho de mercado se aqueça – principalmente nos meses de verão - e apesar de ainda haver muito a se explorar, o uso estratégico das nossas águas como segmento turístico tem sido alavancado através de políticas de fomento, e inclusive esteve presente no estudo intitulado “Cadernos e Manuais de Segmentação” proposto pelo Ministério do Turismo, aonde: dos doze trabalhos apresentados, três deles encontram-se diretamente relacionados a este tema enquanto outros seis temas também encontram-se integrados à este segmento.
O turismo de “água e sol”
Esse tipo de turismo também é um agente estratégico no fomento a outros setores da indústria, pois suas margens induzem o surgimento de hotéis, bares, restaurantes, práticas de esportes e lazer em geral, além de gerarem inúmeras outras oportunidades de comércio, transportes e até mesmo atividades sazonais. 
Dados da indústria hoteleira confirmam esta tendência ao apontarem que cerca de 80% dos hotéis do Rio encontram-se na Zona Sul da cidade, em bairros “litorâneos” como Leme, Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado e Barra da Tijuca.
Isso sem contar as centenas de resorts espalhados em todo mundo que geram um enorme demanda turística por se tratar de um produto bastante singular onde os turistas encontram hospedagem de luxo, gastronomia de alta qualidade, e praias paradisíacas para se banhar, praticar esportes e passear de barco, jangada, Jet ski, lancha entre outras atividades aquáticas.
Mas não pense que os resorts estão associados somente a praias e litorais: eles também são encontrados às margens de rios como o Paraguai, o Negro e o Solimões, por exemplo, que oferecem as mesmas atrações e qualidade dos estabelecimentos encontrados na costa brasileira ou no Caribe.
Sobre os transportes hidroviários
Como você já pode perceber por trás desta aparente interminável variedade de oferta turística de mares, rios e lagos, entre outros, existe uma ferramenta fundamental que é o transporte hidroviário.
Tanto na geração de acessibilidade como ocorre nos “hotéis de rio” da Amazônia cuja principal maneira de chegar é via fluvial, quanto na função de papel principal (cruzeiros marítimos) ou de coadjuvante (passeios de barco, esportes náuticos) no âmbito do turismo eles são hoje considerados verdadeiros produtos com uma quantidade gigantesca de adeptos que não para de crescer a cada ano que passa.
Seja como instrumento de lazer, exercício físico, acessibilidade ou mobilidade, você irá conhecer agora as principais modalidades de transporte hidroviário de uso turístico ou transporte regular de passageiros que estão presentes no dia a dia de pessoas em praticamente todos os continentes.
Atividade na Europa
Atualmente, a Europa é o continente mais integrado do mundo, seja via aérea, terrestre (rodovias ou ferrovias), ou por hidrovias, os turistas que circulam pelo “Velho Continente” contam com uma ampla diversidade e de modalidades de transporte, e os utilizam de acordo com sua necessidade.
Dentre as mais diversas formas de integração europeia, os ferry boats - ou balsas, como costumamos chamar no Brasil - tem sido sempre uma excelente opção e uma inesquecível experiência para quem viaja principalmente a lazer.
Isso ocorre por que diferentemente dos aviões e de praticamente todos os trens (à exceção do Eurostar), os ferries funcionam como um fantástico instrumento de integração modal do tipo Roll On- Roll Off (ou Ro-Ro) onde os passageiros embarcam e desembarcam em seus próprios veículos, e ao final da viagem, ainda contam com a facilidade de prosseguirem a bordo de seu veículo particular.
Vantagens
Além da facilidade de possuir o carro particular ao final da travessia, os ferries também oferecem outras vantagens aos seus usuários, como:
- Não enfrentam engarrafamentos e permitem acesso direto.
- Podem custar mais barato, dependendo do número de pessoas que esteja viajando (uma família inteira, por exemplo).
- Permitem que os passageiros levem toda a bagagem que necessitem junto aos seus veículos, sem as indesejáveis cobranças de excesso de bagagem muito comum nos aeroportos.
- Mesmo para os passageiros que não viajam no próprio veículo não existe a triagem de limite de bagagem, uma vez você consiga transportá-la por conta própria.
- Não há a menor possibilidade de extravio ou perda de bagagem, uma vez que o próprio passageiro a transporta.
- Chegando ao porto, não há motivo para alugar um veículo.
- Para cadeirantes os ferries oferecem espaço e conforto que nenhuma outra modalidade de transporte é capaz de oferecer.
- Normalmente constituem uma viagem relaxante e muito confortável.
Isso sem contar as centenas de resorts espalhados em todo mundo que geram um enorme demanda turística por se tratar de um produto bastante singular onde os turistas encontram hospedagem de luxo, gastronomia de alta qualidade, e praias paradisíacas para se banhar, praticar esportes e passear de barco, jangada, Jet ski, lancha entre outras atividades aquáticas.
Ferries no Brasil
No Brasil o mercado de ferries ainda está longe de oferecer a mesma estrutura e qualidade da Europa, na verdade, além da precariedade a oferta de ferries poderia ser muito maior considerando as dimensões geográficas do País e a extensão de seu litoral e rios navegáveis. 
Dentre as várias linhas operadas no Brasil, algumas possuem finalidade tanto para transporte regular de pessoas quanto turístico, como as que interligam:
• Baía de Guaratuba (PR)
• São Luís – Cujupe (MA)
• Estado da Bahia (Salvador, Itaparica, Itacaré, Valença, Morro de São Paulo)
Segundo Cooper et.al. (2007) existem 95 ilhas na Grécia sendo que existem apenas 15 aeroportos integrando-as via aérea. As demais ilhas dependem diretamente do serviço regular de ferries transportando passageiros até o continente, em especial nos períodos de verão quando a circulação de turistas aumenta significativamente entre as ilhas gregas.
Transportes Hidroviários Turísticos
Os transportes hidroviários são fundamentais para o turismo não somente pelofato de permitirem acessibilidade em escala mundial, vale lembrar que em alguns casos eles transcendem o seu papel de “simplesmente” deslocar pessoas de um ponto a outro e passam a constituir parte da experiência de uma viagem ou até mesmo a motivação principal de um turista.
Como você pode ver são vários os exemplos mundo afora em que os transportes hidroviários mostram seu potencial e agregam um valor fenomenal à oferta turística de uma localidade.
Seja qual for o motivo, um passeio de barco normalmente faz parte da programação do roteiro de quem viaja para um lugar de praia, lago ou rio, mesmo que este não tenha relação com o turismo “sol e água”, afinal, para curtir um jantar romântico a bordo de um dos bateaux que circulam pelo Sena, ou um agradável almoço navegando no Rio da Prata em Buenos Aires, não necessariamente precisa-se de exposição ao sol, biquíni ou protetor solar.
Mas quando se fala em turismo hidroviário simplesmente nada se compara aos cruzeiros marítimos! Dentro do turismo, poucos produtos tem o poder de encantar, emocionar e de ser tão desejado como estes meganavios que cruzam os oceanos transportando alegria e esbanjando beleza, encantamento, admiração e elegância por onde eles passam. Vamos então conhecer este produto simplesmente único dentro do turismo?
Cruzeiros Marítimos
Inicialmente, “cruzeiro” é o termo designado às viagens descontraídas a bordo de meganavios onde os turistas contam com ampla infraestrutura que envolve hospedagem, alimentação, entretenimento, esportes e lazer – também são conhecidos como “resorts flutuantes”- que ao longo de seu percurso fazem paradas em diversos portos.
Embora só tenham se difundido a partir da segunda metade do século XX, já existem indícios de “viagens descontraídas” realizadas a bordo de navios a partir da Grã Bretanha desde o século XIX, quando a empresa Orient Lines realizava viagens a bordo de seus navios com destino ao Caribe, Mediterrâneo e Escandinávia e cujo objetivo era também entreter seus passageiros.
Entre as décadas 1920 e 1930 quando passou a vigorar a Lei Seca em território norte-americano, muitas empresas de navegação de bandeira americana passaram a adotar a chamada “bandeira de conveniência” e navegar com bandeira panamenha para assim poderem servir bebidas alcoólicas a bordo dos navios durante suas viagens, este fenômeno indiretamente acabou estimulando uma nova demanda para seus serviços.
Histórico dos cruzeiros
Mas ambos os casos ainda não configuravam o atual mercado de cruzeiros em si, então você deve estar se perguntando:
Como tudo começou?
Muito bem, até o início do século XX os navios reinavam absolutos no transporte intercontinental, pois àquela época não havia outra maneira de se deslocar entre o Brasil e a Europa, por exemplo, visto que via terrestre isso seria impossível ao passo que o transporte aéreo ainda não oferecia capacidade compatível com a demanda.
Neste momento a empresa White Star lançara mega navios como o Olympic, o Britannic e o famoso Titanic, que apesar de não ser um navio de cruzeiros, e sim um navio que se destinaria a operações regulares no Atlântico Norte, ofereceria serviços segmentados por classe, onde a classe destinada às pessoas mais abastadas em nada deviam ao serviço de luxo encontrado nos mega cruzeiros de hoje em dia.
Entre os anos 1960 e 1970 a indústria aeronáutica passou a lançar aeronaves tri ou quadrimotores de alta velocidade, longo alcance e alta capacidade em termos de passageiros, como, os Boeing 707, Douglas DC-8, Douglas DC-10 e principalmente o Boeing 747, carinhosamente chamado de “Jumbo”, ao mesmo tempo em que o transporte aéreo passou a se tornar competitivo também em relação ao preço praticado pelas empresas de navio.
Com a possibilidade de cruzar o Atlântico em pouco mais de 9 horas ao mesmo custo de um bilhete de navio que poderia durar até 10 dias ou mais, as viagens transoceânicas foram aos poucos se tornando pouco atraentes aos olhos dos consumidores que gradativamente foram abandonando-as em função dos deslocamentos aéreos.
Assim, a evolução tecnológica da indústria aérea lançou a indústria marítima em uma crise sem fim, levando muitas empresas deste segmento a se dedicarem exclusivamente ao transporte de cargas – afinal, no que concerne o transporte de cargas, até mesmo nos dias de hoje, os navios seguem imbatíveis devido à sua capacidade de carga e a relação custo x benefício no transporte – ou então buscando novas soluções de prestação de serviço a seus passageiros através de outro enfoque mercadológico – começava a nascer aí um dos segmentos mais adorados por todos os turistas: os cruzeiros marítimos.
Mas a indústria marítima soube reagir com o segmento dos cruzeiros
A necessidade de se manterem vivas levou as empresas de navios a se dedicarem a uma nova forma de transporte “descontraído” sobre as águas onde a motivação dos viajantes não estaria no deslocamento em si, mas sim em desfrutar dos serviços oferecidos a bordo dos navios.
No entanto, algumas empresas ainda enfrentariam muitas dificuldades de ingressar no mercado de cruzeiros devido às diferenciações que este setor possuía em termos de composição de custo e demanda, como aponta Palhares (2002):
• Falta de recursos suficiente para converter seus navios “tradicionais” em navios de cruzeiros;
• A elevação dos custos operacionais devido ao maior volume de funcionários que um navio de cruzeiro exige, mesmo que as empresas adotassem a bandeira de conveniência para atenuar estes valores importando mão de obra estrangeira;
• Relutância de algumas empresas em adotarem a bandeira de conveniência;
• Dificuldade de compreenderem as necessidades de um passageiro de cruzeiro.