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Gabarito AD1 – Fundamentos da Educação I – Coord: Prof. Liliane Sanchez. OBS: Tendo em vista o caráter subjetivo das questões propostas e o fato de serem dissertativas, este gabarito pretende servir apenas como modelo para a análise das respostas, apresentando trechos dos capítulos que apontam os principais conceitos a serem desenvolvidos e abordados em cada questão. No entanto, os tutores responsáveis pela correção das avaliações devem exercer seus potenciais de autonomia reflexiva e interpretativa na realização das correções, considerando as argumentações desenvolvidas por cada aluno, mas, respeitando os conteúdos abordados na disciplina. Questão I (vale 2,5 pontos) Interprete a frase: “A condição humana é fruto da vivência coletiva dos homens no mundo, social e historicamente determinada.” Resposta : Além de ter sua existência condicionada pelo mundo natural com que se defronta, o homem vê-se condicionado pelo próprio mundo que edifica, graças a sua capacidade criativa ímpar entre todos os animais. Os homens constantemente criam suas condições de existência, produzindo sentidos à ela. Diferentemente dos animais, que apenas reagem às condições que lhes são impostas pelo meio em que vivem, os homens vão além: criam seu próprio mundo, produzindo “cultura”, atuando e transformando o mundo natural pré-existente e influenciando as futuras gerações. Nesse sentido, podemos dizer que os homens são condicionados pelo ambiente no qual se inserem (o meio faz o homem), mas, também podemos dizer que o homem influencia esse mesmo ambiente onde está inserido (o homem faz o meio), produzindo transformações nesse ambiente, que também incidirão sobre a própria existência humana. Devido ao fato de o homem ser “inacabado”, em processo contínuo de auto-criação, ou seja, sempre em processo de “humanização”, é que ele torna-se diferente de acordo com o meio, o contexto social-histórico, as influências educativas e culturais sofridas e vivenciadas. Sendo assim, o homem, que ao nascer traz algumas características comuns a sua espécie e algumas particulares, ao entrar em contato com o meio (o mundo), vai se tornando “humano” à medida que convive e começa a fazer parte de determinado grupo social, da “humanidade”, devido a sua capacidade de adaptação e transformação. Através das informações e influências recebidas de seu meio, o homem vai se auto-criando, num processo contínuo de “humanização” (tornar-se humano, assemelhar-se a sua espécie, adquirindo características comuns). Contudo, além de receber influências do meio em que vive, através da educação e da cultura, que variam no tempo-espaço (condições históricas, geográficas, sociais, econômicas, políticas e culturais), o homem, como um ser atuante, um agente, também é capaz de exercer influências sobre esse meio (sobre as condições dadas) e transformá-lo. Sendo assim, além de estar em constante interação com o meio físico e sócio cultural, eles (homem e “meio”/“condições”) estão sempre em transformação. Questão II (vale 2,5 pontos): O que é FILOSOFIA? RESPOSTA : Freqüentemente ouvimos, em nosso dia-a-dia, o uso da palavra “filosofia”em contextos bastante distintos. Os usos cotidianos do termo (senso comum) apontam tanto para um modo geral de agir quanto para a adoção de regras ou diretrizes que sirvam de orientação para um fim determinado. Podemos citar como exemplo desses usos uma notícia divulgada em um jornal da televisão em que o gerente de uma grande empresa, ao ser entrevistado sobre sua nomeação, afirmou que “a nova filosofia da empresa estará voltada para a conscientização de seus grupos...”. Outro exemplo é a declaração bastante comum “esta é a minha filosofia de vida”, ou mesmo declarações como “a filosofia desta arte marcial consiste na persistência aliada à reflexão e à ponderação”. Contudo, a Filosofia, como disciplina SISTEMÁTICA possui um sentido diverso de tais usos. Uma das formas de responder à pergunta “o que é a Filosofia?” é começar por sua etimologia, isto é, pelo estudo da origem da palavra. A palavra filosofia é composta por dois termos gregos: philo e sophía. Philo deriva de philía, que traduz a idéia de amor fraterno ou de amizade e, portanto, significa “aquele que tem um sentimento amigável”. Sophia possui o sentido de sabedoria, pois deriva de sophós, que significa sábio. A Filosofia, portanto, tem o sentido etimológico de “amor à sabedoria”. A Filosofia é movida pelo espanto, pelo desejo de compreensão e pela contemplação. Ela também julga, avalia, pergunta e responde, mas como um comportamento resultante de uma aspiração humana de preencher uma falta ou uma incompletude que se traduz na busca pelo conhecimento. A Filosofia surgiu como saber racional acerca da natureza, isto é, como um conhecimento bastante abrangente que buscava explicar a origem e as transformações do mundo. Posteriormente, a Filosofia deixa de se ocupar fundamentalmente com o conhecimento da natureza e passa a se voltar para as questões humanas, isto é, a ética, a política, a estética etc. A característica principal da atitude filosófica girará sempre em torno de interrogações fundamentais como “o que é o homem?”, “o que é a verdade?”, “o que é a liberdade?”, “como nos tornamos livres, racionais e virtuosos?” “por que a liberdade e a virtude são valores para o ser humano?” “o que é a educação?” “por que precisamos nos instruir em uma educação escolar?” “o que é bem?” “o que é justiça?” Em outras palavras, a atitude filosófica permanece sempre como indagação acerca do que a coisa (ou a idéia ou o valor) é, como a coisa (ou idéia ou valor) é e por que a coisa (ou idéia ou valor) é como é. Questão III (vale 2,5 pontos): Quais são as diferenças entre o pensamento mítico e o pensamento filosófico? Explique como se dá a transição de um ao outro na antiguidade clássica? RESPOSTA : A palavra mito vem do grego mythos, e deriva de mytheyo, que significa conversar, contar, narrar. O pensamento mítico, portanto, é uma narrativa mediante a qual um povo fornece explicações para a realidade em que vive: a origem do mundo, das plantas, dos animais, do bem, do mal, das guerras, do poder etc. A atitude filosófica é desencadeada pela admiração e pelo desejo de compreensão e de contemplação. Os questionamentos resultantes desse desejo de saber podem partir tanto de reflexões acerca dos conhecimentos estabelecidos, quanto de ponderações subjetivas sobre as nossas crenças e os nossos costumes cotidianos. Contudo, tais questionamentos não devem permanecer no âmbito das preferências e das opiniões subjetivas, mas, ao contrário, devem ultrapassar essa esfera dando lugar à construção de um conjunto de idéias e de significações que possam ser evidenciadas por meio de argumentos coerentes e consistentes. A linguagem filosófica é argumentativa, e é nesse sentido que ela difere fundamentalmente da linguagem mítica, que, embora também se constitua como uma forma de explicação da realidade ou da vida humana, apresenta-se como um mytheyo, isto é, como uma narrativa. O mito é um relato sobre a origem do mundo e das coisas nele existentes que recorre aos deuses e ao mistério para explicar a realidade. Suas explicações são baseadas não na argumentação e no debate teórico, mas na autoridade oriunda da crença em uma revelação divina. O pensamento filosófico surgiu quando, diante da multiplicidade do real, os gregos começam a procurar uma unidade, um princípio (arché) tirado da natureza que explicasse as inúmeras manifestações do real. Antes disso, porém, havia uma outra forma de explicação para tudo o que ocorre no mundo: o mito, isto é, uma narrativa fabulosa sobre a origem das plantas,dos astros, dos homens, do bem, da morte etc. A narrativa mítica se configurava como um testemunho divino, ou seja, a palavra do mito era sagrada porque derivava de uma revelação divina. Entretanto, aos poucos, o pensamento mítico foi dando lugar a uma linguagem explicativa completamente diferente. Os filósofos passaram a explicar a realidade não mais recorrendo a verdades reveladas, mas a explicações justificadas e passíveis de discussão. O logos passou a predominar em relação ao mito exigindo que a explicação fosse argumentativa, lógica e fundada apenas na razão humana. Questão IV (vale 2,5 pontos): Discorra sobre o ideal de formação humana de Platão: RESPOSTA : Platão foi discípulo de Sócrates e alguns aspectos da filosofia socrática irão permanecer em muitas de suas formulações teóricas. É o caso da idéia de que a educação não consiste na transmissão de conhecimentos, mas na formação do homem como homem. E para Platão, ensinar, assim como governar, é função que cabe ao sábio. Por essa razão, em seu livro A república, ele imagina uma sociedade, governada por reis-filósofos, que deveria servir como modelo da cidade ideal. Nesta obra, Platão propõe que as crianças sejam educadas pelo Estado e não pela família. O Estado criaria estabelecimentos próprios para a educação coletiva das crianças. A formação seria igual para todas até os vinte anos, quando ocorreria o primeiro momento de separação das mesmas. Partindo de um pressuposto de que todas as pessoas são diferentes, Platão afirma que, por essa razão, elas devem ocupar lugares e funções distintas na sociedade. Governar seria tarefa apenas de quem possui o saber, uma vez que somente os mais dotados de conhecimento teriam condições objetivas de organizar com justiça as atividades políticas. Segundo Platão, é somente pela filosofia que se podem discernir todas as formas de justiça política e individual. Por isso, a forma de governo ideal é aquela em que o poder é encarregado aos mais sábios, aos filósofos. Afinal, se na concepção de Platão a justiça é o fundamento de todas as virtudes e o sábio é uma pessoa virtuosa, segue-se que o sábio deve por excelência ser justo. Cabe destacar, por fim, que, tal como no pensamento socrático, a filosofia platônica defende a formação de um elevado tipo de homem e, por isso, a idéia de educação deveria ser um processo de construção consciente. Platão retomará também a idéia socrática de que o processo educativo nunca acaba, prolongando-se enquanto o homem existir. É próprio do homem, para Platão, encontrar-se permanentemente em processo de formação.