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AD1 FUNDAMENTOS EDUCAÇÃO I 2013.1 com gabarito

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Gabarito AD1 – Fundamentos da Educação I – Coord: Prof. Liliane Sanchez. 
 
OBS: Tendo em vista o caráter subjetivo das questões propostas e o fato de serem 
dissertativas, este gabarito pretende servir apenas como modelo para a análise das 
respostas, apresentando trechos dos capítulos que apontam os principais conceitos a 
serem desenvolvidos e abordados em cada questão. No entanto, os tutores responsáveis 
pela correção das avaliações devem exercer seus potenciais de autonomia reflexiva e 
interpretativa na realização das correções, considerando as argumentações 
desenvolvidas por cada aluno, mas, respeitando os conteúdos abordados na disciplina. 
 
 
Questão I (vale 2,5 pontos) 
Interprete a frase: “A condição humana é fruto da vivência coletiva dos homens no 
mundo, social e historicamente determinada.” 
 
Resposta : Além de ter sua existência condicionada pelo mundo natural com que se 
defronta, o homem vê-se condicionado pelo próprio mundo que edifica, graças a sua 
capacidade criativa ímpar entre todos os animais. Os homens constantemente criam suas 
condições de existência, produzindo sentidos à ela. Diferentemente dos animais, que 
apenas reagem às condições que lhes são impostas pelo meio em que vivem, os homens 
vão além: criam seu próprio mundo, produzindo “cultura”, atuando e transformando o 
mundo natural pré-existente e influenciando as futuras gerações. Nesse sentido, 
podemos dizer que os homens são condicionados pelo ambiente no qual se inserem (o 
meio faz o homem), mas, também podemos dizer que o homem influencia esse mesmo 
ambiente onde está inserido (o homem faz o meio), produzindo transformações nesse 
ambiente, que também incidirão sobre a própria existência humana. Devido ao fato de o 
homem ser “inacabado”, em processo contínuo de auto-criação, ou seja, sempre em 
processo de “humanização”, é que ele torna-se diferente de acordo com o meio, o 
contexto social-histórico, as influências educativas e culturais sofridas e vivenciadas. 
Sendo assim, o homem, que ao nascer traz algumas características comuns a sua espécie 
e algumas particulares, ao entrar em contato com o meio (o mundo), vai se tornando 
“humano” à medida que convive e começa a fazer parte de determinado grupo social, da 
“humanidade”, devido a sua capacidade de adaptação e transformação. Através das 
informações e influências recebidas de seu meio, o homem vai se auto-criando, num 
processo contínuo de “humanização” (tornar-se humano, assemelhar-se a sua espécie, 
adquirindo características comuns). Contudo, além de receber influências do meio em 
que vive, através da educação e da cultura, que variam no tempo-espaço (condições 
históricas, geográficas, sociais, econômicas, políticas e culturais), o homem, como um 
ser atuante, um agente, também é capaz de exercer influências sobre esse meio (sobre as 
condições dadas) e transformá-lo. Sendo assim, além de estar em constante interação 
com o meio físico e sócio cultural, eles (homem e “meio”/“condições”) estão sempre em 
transformação. 
 
 
Questão II (vale 2,5 pontos): 
 
O que é FILOSOFIA? 
 
RESPOSTA : Freqüentemente ouvimos, em nosso dia-a-dia, o uso da palavra 
“filosofia”em contextos bastante distintos. Os usos cotidianos do termo (senso comum) 
apontam tanto para um modo geral de agir quanto para a adoção de regras ou diretrizes 
que sirvam de orientação para um fim determinado. Podemos citar como exemplo 
desses usos uma notícia divulgada em um jornal da televisão em que o gerente de uma 
grande empresa, ao ser entrevistado sobre sua nomeação, afirmou que “a nova filosofia 
da empresa estará voltada para a conscientização de seus grupos...”. Outro exemplo é a 
declaração bastante comum “esta é a minha filosofia de vida”, ou mesmo declarações 
como “a filosofia desta arte marcial consiste na persistência aliada à reflexão e à 
ponderação”. 
Contudo, a Filosofia, como disciplina SISTEMÁTICA possui um sentido diverso de 
tais usos. Uma das formas de responder à pergunta “o que é a Filosofia?” é começar por 
sua etimologia, isto é, pelo estudo da origem da palavra. A palavra filosofia é composta 
por dois termos gregos: philo e sophía. Philo deriva de philía, que traduz a idéia de 
amor fraterno ou de amizade e, portanto, significa “aquele que tem um sentimento 
amigável”. Sophia possui o sentido de sabedoria, pois deriva de sophós, que significa 
sábio. A Filosofia, portanto, tem o sentido etimológico de “amor à sabedoria”. 
A Filosofia é movida pelo espanto, pelo desejo de compreensão e pela contemplação. 
Ela também julga, avalia, pergunta e responde, mas como um comportamento resultante 
de uma aspiração humana de preencher uma falta ou uma incompletude que se traduz na 
busca pelo conhecimento. 
A Filosofia surgiu como saber racional acerca da natureza, isto é, como um 
conhecimento bastante abrangente que buscava explicar a origem e as transformações 
do mundo. Posteriormente, a Filosofia deixa de se ocupar fundamentalmente com o 
conhecimento da natureza e passa a se voltar para as questões humanas, isto é, a ética, a 
política, a estética etc. 
A característica principal da atitude filosófica girará sempre em torno de interrogações 
fundamentais como “o que é o homem?”, “o que é a verdade?”, “o que é a liberdade?”, 
“como nos tornamos livres, racionais e virtuosos?” “por que a liberdade e a virtude são 
valores para o ser humano?” “o que é a educação?” “por que precisamos nos instruir em 
uma educação escolar?” “o que é bem?” “o que é justiça?” Em outras palavras, a atitude 
filosófica permanece sempre como indagação acerca do que a coisa (ou a idéia ou o 
valor) é, como a coisa (ou idéia ou valor) é e por que a coisa (ou idéia ou valor) é como 
é. 
 
 
Questão III (vale 2,5 pontos): 
 
Quais são as diferenças entre o pensamento mítico e o pensamento filosófico? Explique 
como se dá a transição de um ao outro na antiguidade clássica? 
 
 
RESPOSTA : A palavra mito vem do grego mythos, e deriva de mytheyo, que significa 
conversar, contar, narrar. O pensamento mítico, portanto, é uma narrativa mediante a 
qual um povo fornece explicações para a realidade em que vive: a origem do mundo, 
das plantas, dos animais, do bem, do mal, das guerras, do poder etc. 
A atitude filosófica é desencadeada pela admiração e pelo desejo de compreensão e de 
contemplação. Os questionamentos resultantes desse desejo de saber podem partir tanto 
de reflexões acerca dos conhecimentos estabelecidos, quanto de ponderações subjetivas 
sobre as nossas crenças e os nossos costumes cotidianos. Contudo, tais questionamentos 
não devem permanecer no âmbito das preferências e das opiniões subjetivas, mas, ao 
contrário, devem ultrapassar essa esfera dando lugar à construção de um conjunto de 
idéias e de significações que possam ser evidenciadas por meio de argumentos coerentes 
e consistentes. A linguagem filosófica é argumentativa, e é nesse sentido que ela difere 
fundamentalmente da linguagem mítica, que, embora também se constitua como uma 
forma de explicação da realidade ou da vida humana, apresenta-se como um mytheyo, 
isto é, como uma narrativa. O mito é um relato sobre a origem do mundo e das coisas 
nele existentes que recorre aos deuses e ao mistério para explicar a realidade. Suas 
explicações são baseadas não na argumentação e no debate teórico, mas na autoridade 
oriunda da crença em uma revelação divina. 
O pensamento filosófico surgiu quando, diante da multiplicidade do real, os gregos 
começam a procurar uma unidade, um princípio (arché) tirado da natureza que 
explicasse as inúmeras manifestações do real. Antes disso, porém, havia uma outra 
forma de explicação para tudo o que ocorre no mundo: o mito, isto é, uma narrativa 
fabulosa sobre a origem das plantas,dos astros, dos homens, do bem, da morte etc. A 
narrativa mítica se configurava como um testemunho divino, ou seja, a palavra do mito 
era sagrada porque derivava de uma revelação divina. Entretanto, aos poucos, o 
pensamento mítico foi dando lugar a uma linguagem explicativa completamente 
diferente. Os filósofos passaram a explicar a realidade não mais recorrendo a verdades 
reveladas, mas a explicações justificadas e passíveis de discussão. O logos passou a 
predominar em relação ao mito exigindo que a explicação fosse argumentativa, lógica e 
fundada apenas na razão humana. 
 
 
Questão IV (vale 2,5 pontos): 
 
Discorra sobre o ideal de formação humana de Platão: 
 
RESPOSTA : Platão foi discípulo de Sócrates e alguns aspectos da filosofia socrática 
irão permanecer em muitas de suas formulações teóricas. É o caso da idéia de que a 
educação não consiste na transmissão de conhecimentos, mas na formação do homem 
como homem. E para Platão, ensinar, assim como governar, é função que cabe ao sábio. 
Por essa razão, em seu livro A república, ele imagina uma sociedade, governada por 
reis-filósofos, que deveria servir como modelo da cidade ideal. Nesta obra, Platão 
propõe que as crianças sejam educadas pelo Estado e não pela família. O Estado criaria 
estabelecimentos próprios para a educação coletiva das crianças. A formação seria igual 
para todas até os vinte anos, quando ocorreria o primeiro momento de separação das 
mesmas. Partindo de um pressuposto de que todas as pessoas são diferentes, Platão 
afirma que, por essa razão, elas devem ocupar lugares e funções distintas na sociedade. 
Governar seria tarefa apenas de quem possui o saber, uma vez que somente os mais 
dotados de conhecimento teriam condições objetivas de organizar com justiça as 
atividades políticas. Segundo Platão, é somente pela filosofia que se podem discernir 
todas as formas de justiça política e individual. Por isso, a forma de governo ideal é 
aquela em que o poder é encarregado aos mais sábios, aos filósofos. Afinal, se na 
concepção de Platão a justiça é o fundamento de todas as virtudes e o sábio é uma 
pessoa virtuosa, segue-se que o sábio deve por excelência ser justo. Cabe destacar, por 
fim, que, tal como no pensamento socrático, a filosofia platônica defende a formação de 
um elevado tipo de homem e, por isso, a idéia de educação deveria ser um processo de 
construção consciente. Platão retomará também a idéia socrática de que o processo 
educativo nunca acaba, prolongando-se enquanto o homem existir. É próprio do 
homem, para Platão, encontrar-se permanentemente em processo de formação.