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CAROLINE FELICINAO - MED 107 TECIDO ÓSSEO Constituinte principal do esqueleto, serve de suporte para os tecidos moles e protege órgãos vitais, como os contidos nas caixas craniana e torácica e no canal raquidiano. Aloja e protege a medula óssea, formadora das células do sangue. Proporciona apoio aos músculos esqueléticos, transformando suas contrações em movimentos úteis, e constitui um sistema de alavancas que amplia as forças geradas na contração muscular. Funcionam como depósito de cálcio, fosfato e outros íons. São capazes de absorver toxinas e metais pesados, minimizando seus efeitos adversos em outros tecidos. É um tipo especializado de tecido conjuntivo formado por células e material extracelular calcificado, a matriz óssea. As células são: os osteócitos, que se situam em lacunas no interior da matriz; os osteoblastos, que sintetizam a parte orgânica da matriz e localizam-se na sua periferia; e os osteoclastos, células gigantes, móveis e multinucleadas que reabsorvem o tecido ósseo, participando dos processos de remodelação dos ossos. Como não existe difusão de substâncias através da matriz calcificada do osso, a nutrição dos osteócitos depende de canalículos que existem na matriz. Esses canalículos possibilitam as trocas de moléculas e íons entre os capilares sanguíneos e os osteócitos. Todos os ossos são revestidos em suas superfícies externas e internas por membranas conjuntivas que possuem células osteogênicas, o periósteo e o endósteo, respectivamente. CÉLULAS DO TECIDO ÓSSEO OSTEÓCITOS Células encontradas no interior da matriz óssea, ocupando as lacunas das quais partem canalículos. Cada lacuna contém apenas um osteócito. Dentro dos canalículos os prolongamentos dos osteócitos estabelecem contatos através de junções comunicantes, por onde podem passar pequenas moléculas e íons de um osteócito para o outro. Os osteócitos são células achatadas, que exibem pequena quantidade de retículo endoplasmático rugoso, aparelho de Golgi pouco desenvolvido e núcleo com cromatina condensada. Embora essas características ultraestruturais indiquem pequena atividade sintética, os osteócitos são essenciais para a manutenção da matriz óssea. Sua morte é seguida por reabsorção da matriz. OSTEOBLASTOS Sintetizam a parte orgânica (colágeno tipo I, proteoglicanos e glicoproteínas) da matriz óssea. São capazes de concentrar fosfato de cálcio, participando da mineralização da matriz. Dispõem-se sempre nas superfícies ósseas, lado a lado, num arranjo que lembra um epitélio simples. Uma vez aprisionado pela matriz recém-sintetizada, o osteoblasto passa a se chamar osteócito. CAROLINE FELICINAO - MED 107 Os osteoblastos em fase de síntese mostram as características ultraestruturais de células produtoras de proteínas. A matriz óssea recém-formada, adjacente aos osteoblastos ativos e que não está ainda calcificada, recebe o nome de osteóide. OSTEOCLASTOS Células móveis, gigantes, multinucleadas e extensamente ramificadas. Frequentemente, nas áreas de reabsorção de tecido ósseo encontram-se porções dilatadas dos osteoclastos, colocadas em depressões da matriz escavadas pela atividade dos osteoclastos e conhecidas como lacunas de Howship. Os osteoclastos têm citoplasma granuloso, algumas vezes com vacúolos. Originam-se de precursores mononucleados provenientes da medula óssea que ao contato com o tecido ósseo, unem-se para formar os osteoclastos multinucleados. A superfície ativa dos osteoclastos, voltada para a matriz óssea, apresenta prolongamentos vilosos irregulares. Circundando essa área com prolongamentos, existe uma zona citoplasmática, a zona clara, pobre em organelas porém contendo muitos filamentos de actina. A zona clara é um local de adesão do osteoclasto com a matriz óssea e cria um microambiente fechado, onde tem lugar a Aplicação Médica A tetraciclina se deposita com grande afinidade sobre a matriz óssea recém-formada. Esse antibiótico é fluorescente, e isto possibilita a realização de uma técnica para avaliar a velocidade de formação óssea. Esse procedimento de biópsia óssea tem utilidade no diagnóstico de certas doenças como a ostemalacia, onde a mineralização está prejudicada, e a osteíte fibrosa cística, quando ocorre aumento na atividade dos osteoclastos, resultando em remoção de matriz óssea. CAROLINE FELICINAO - MED 107 reabsorção óssea. Os osteoclastos secretam, para dentro desse microambiente fechado, ácido (H+), colagenase e outras hidrolases. A atividade dos osteoclastos é coordenada por citocinas (pequenas proteínas sinalizadoras que atuam localmente) e por hormônios como calcitonina (produzido pela glândula tireoide), e paratormônio, secretado pelas glândulas paratireoides. MATRIZ ÓSSEA A parte inorgânica representa cerca de 50% do peso da matriz óssea. Os íons mais encontrados são o fosfato e o cálcio. Há também bicarbonato, magnésio, potássio, sódio e citrato em pequenas quantidades. O cálcio e o fósforo formam cristais de estrutura da hidroxiapatita. Há uma capa de hidratação (água e íons) em volta do cristal de hidroxiapatita, que facilita a troca de íons entre o cristal e o líquido intersticial. A parte orgânica da matriz é formada por fibras colágenas (95%) constituídas de colágeno do tipo I e por pequena quantidade de proteoglicanos e glicoproteínas. As glicoproteínas do osso podem ter alguma participação na mineralização da matriz. A associação de hidroxiapatita com fibras colágenas é responsável pela dureza e resistência do tecido ósseo. Após a remoção do cálcio, os ossos mantêm sua forma intacta, porém tornam-se tão flexíveis quanto os tendões. A destruição da parte orgânica, que é principalmente colágeno, também deixa o osso com sua forma intacta, porém tão quebradiço que dificilmente pode ser manipulado sem se partir. CAROLINE FELICINAO - MED 107 PERIÓSTEO E ENDÓSTEO A camada superficial do periósteo contém principalmente fibras colágenas e fibroblastos. As fibras de Sharpey são feixes de fibras colágenas do periósteo que penetram no tecido ósseo e prendem firmemente o periósteo ao osso. Na sua porção profunda, o periósteo é mais celular e apresenta células osteoprogenitoras, morfologicamente parecidas com fibroblastos. As células osteoprogenitoras se multiplicam por mitose e se diferenciam em osteoblastos, desempenhando papel importante no crescimento dos ossos e na reparação das fraturas. O endósteo é geralmente constituído por uma camada de células osteogênicas achatadas revestindo as cavidades do osso esponjoso, o canal medular, os canais de Havers e os de Volkmann. As principais funções do endósteo e do periósteo são a nutrição do tecido ósseo e o fornecimento de novos osteoblastos, para o crescimento e a recuperação do osso. TIPOS DE TECIDO ÓSSEO Osso compacto: é, macroscopicamente, formado por partes sem cavidades visíveis. Osso esponjoso: é, macroscopicamente, formado por partes com muitas cavidades intercomunicantes. Nos ossos longos, as extremidades ou epífises são formadas por osso esponjoso com uma delgada camada superficial compacta. A diáfise (parte cilíndrica) é quase totalmente compacta, com pequena quantidade de osso esponjoso na sua parte profunda, delimitando o canal medular. Principalmente nos ossos longos, o osso compacto é chamado também de osso cortical. Nos ossos chatos, que constituem a abóbada craniana, existem duas camadas de osso compacto, as tábuas interna e externa, separadas por ossoesponjoso que, nesta localização, recebe o nome de díploe. As cavidades do osso esponjoso e o canal medular da diáfise dos ossos longos são ocupados pela medula óssea. Essa é de cor vermelha e ativa na produção de células do sangue (medula óssea hematógena) nos jovens. Com a idade, vai sendo infiltrada por tecido adiposo, com diminuição da atividade hematógena (medula óssea amarela). Histologicamente existem dois tipos de tecido ósseo: o imaturo ou primário; e o maduro, secundário ou lamelar. Os dois possuem as mesmas células e os mesmos constituintes da matriz. O tecido primário é o que aparece primeiro, tanto no desenvolvimento embrionário como na reparação das fraturas, sendo temporário e substituído por tecido secundário. No tecido ósseo primário as fibras colágenas se dispõem irregularmente, porém no tecido ósseo secundário essas fibras se organizam em lamelas. CAROLINE FELICINAO - MED 107 TECIDO ÓSSEO PRIMÁRIO OU IMATURO É pouco frequente no adulto, persistindo apenas próximo às suturas dos ossos do crânio, nos alvéolos dentários e em alguns pontos de inserção de tendões. O tecido ósseo primário apresenta fibras colágenas desorganizadas, tem menor quantidade de minerais (mais facilmente penetrado pelos raios X) e maior proporção de osteócitos do que o tecido ósseo secundário. TECIDO ÓSSEO SECUNDÁRIO (LAMELAR) OU MADURO Sua principal característica é possuir fibras colágenas organizadas em lamelas de 3 a 7 µm de espessura, que ou ficam paralelas umas às outras, ou se dispõem em camadas concêntricas em torno de canais com vasos, formando os sistemas de Havers ou ósteons. Separando grupos de lamelas, ocorre frequentemente o acúmulo de uma substância cimentante que consiste em matriz mineralizada porém com muito pouco colágeno. Na diáfise dos ossos, as lamelas se organizam formando os sistemas de Havers, os circunferenciais externo e interno e os intermediários. Cada sistema de Havers (ósteon) é um cilindro longo, às vezes bifurcado, paralelo à diáfise e formado por quatro a 20 lamelas ósseas concêntricas. No centro desse cilindro ósseo existe um canal revestido de endósteo, o canal de Havers, que contém vasos e nervos. Os canais de Havers comunicam-se entre si, com a cavidade medular e com a superfície externa de osso por meio de canais transversais ou oblíquos, os canais de Volkmann. Estes se distinguem dos de Havers por não apresentarem lamelas ósseas concêntricas. CAROLINE FELICINAO - MED 107 Os sistemas circunferenciais interno e externo são constituídos por lamelas ósseas paralelas entre si, formando duas faixas: uma situada na parte interna do osso, em volta do canal medular e em contato com o endósteo, e a outra parte mais externa, próxima ao periósteo. O sistema circunferencial externo é mais desenvolvido do que o interno. Entre os dois sistemas circunferenciais encontram-se inúmeros sistemas de Havers e grupos irregulares de lamelas, as lamelas intersticiais (sistemas intermediários), que provêm de restos de sistemas de Havers que foram destruídos durante o crescimento do osso. HISTOGÊNESE O tecido ósseo é formado ou por ossificação intramembranosa, que ocorre no interior de uma membrana conjuntiva; ou por ossificação endocondral, que se inicia sobre um molde de cartilagem hialina. OSSIFICAÇÃO INTRAMEMBRANOSA É o processo formador dos ossos frontal, parietal e partes do occipital, do temporal e dos maxilares superior e inferior. Contribui também para o crescimento dos ossos curtos e para o aumento em espessura dos ossos longos. O local da membrana conjuntiva onde a ossificação começa chama-se centro de ossificação primária. O processo tem início pela diferenciação de células mesenquimatosas que se transformam em grupos de osteoblastos. Estes sintetizam o osteóide (matriz não mineralizada) que logo se mineraliza, englobando alguns osteoblastos que se transformam em osteócitos. Como vários desses grupos surgem quase simultaneamente no centro de ossificação, há confluência das traves ósseas formadas, dando ao osso um aspecto esponjoso. Entre as traves formam-se cavidades que são penetradas por vasos sanguíneos e células mesenquimatosas indiferenciadas, que irão dar origem à medula óssea. A parte da membrana conjuntiva que não sofre ossificação passa a constituir o endósteo e o periósteo. OSSIFICAÇÃO ENDOCONDRAL É o principal responsável pela formação dos ossos curtos e longos. Consiste em dois processos: Primeiro, a cartilagem hialina sofre modificações, havendo hipertrofia dos condrócitos, redução da matriz cartilaginosa a finos tabiques, sua mineralização e a morte dos condrócitos por apoptose. Segundo, as cavidades previamente ocupadas pelos condrócitos são invadidas por capilares sanguíneos e células osteogênicas vindas do conjuntivo adjacente. Essas células diferenciam-se em osteoblastos, que depositarão matriz óssea sobre os tabiques de cartilagem calcificada. NÃO há transformação de cartilagem em tecido ósseo, apenas substituição. _______________________________________________________________________________ CAROLINE FELICINAO - MED 107 No osso longo, o primeiro tecido ósseo a aparecer é formado por ossificação intramembranosa do pericôndrio que recobre a parte média da diáfise cartilaginosa, formando um cilindro (colar ósseo). Enquanto se forma o colar ósseo, as células cartilaginosas envolvidas pelo mesmo se hipertrofiam, morrem por apoptose e a matriz da cartilagem se mineraliza. Vasos sanguíneos, partindo do periósteo, atravessam o cilindro ósseo e penetram na cartilagem calcificada, levando consigo células osteoprogenitoras originárias do periósteo, que proliferam e se diferenciam em osteoblastos. Estes formam camadas contínuas nas superfícies dos tabiques cartilaginosos calcificados e iniciam a síntese da matriz óssea que logo se mineraliza. Forma-se, assim, tecido ósseo primário sobre os restos da cartilagem calcificada. O centro de ossificação acima descrito, que aparece na parte média da diáfise, é chamado de centro primário. Seu crescimento rápido, em sentido longitudinal, acaba por ocupar toda a diáfise. Desde o início da formação do centro primário, surgem osteoclastos e ocorre absorção do tecido ósseo formado no centro da cartilagem, aparecendo o canal medular. À medida que se forma o canal medular, células sanguíneas, originadas de células hematógenas multipotentes (células-tronco) trazidas pelo sangue dão origem à medula óssea. Mais tarde, formam-se os centros secundários de ossificação, um em cada epífise, porém não simultaneamente. Esses centros são semelhantes ao centro primário da diáfise, mas seu crescimento é radial em vez de longitudinal. Quando o tecido ósseo formado nos centros secundários ocupa as epífises, o tecido cartilaginoso fica reduzido a dois locais: a cartilagem articular (persiste por toda a vida e não contribui para a formação de tecido ósseo) e a cartilagem de conjugação ou disco epifisário (disco cartilaginoso que não foi penetrado pelo osso em expansão e que será responsável pelo crescimento longitudinal do osso; fica entre o tecido ósseo das epífises e o da diáfise e seu desaparecimento por volta dos 20 anos de idade determina a parada do crescimento longitudinal dos ossos). CAROLINE FELICINAO - MED 107 Na cartilagem de conjugação, começando ao lado da epífise, distinguem-se as cinco zonas: 1. Zona de repouso, onde existe cartilagem hialina sem qualquer alteração morfológica. 2. Zona de cartilagem seriada ou de proliferação. Aqui os condrócitos dividem-se rapidamentee formam fileiras ou colunas paralelas de células achatadas e empilhadas no sentido longitudinal do osso. 3. Zona de cartilagem hipertrófica. Esta zona apresenta condrócitos muito volumosos, com depósitos citoplasmáticos de glicogênio e lipídios. A matriz fica reduzida a tabiques delgados, entre as células hipertróficas. Os condrócitos entram em apoptose. 4. Calcificada. Nesta zona ocorre a mineralização dos delgados tabiques de matriz cartilaginosa e termina a apoptose dos condrócitos. 5. Zona de ossificação. Esta é a zona em que aparece tecido ósseo. Capilares sanguíneos e células osteoprogenitoras originadas do periósteo invadem as cavidades deixadas pelos condrócitos mortos. As células osteoprogenitoras se diferenciam em osteoblastos, que formam uma camada contínua sobre os restos da matriz cartilaginosa calcificada. Sobre esses restos de matriz cartilaginosa, os osteoblastos depositam a matriz óssea. A matriz óssea se calcifica e aprisiona osteoblastos, que se transformam e osteócitos. Desse modo, formam-se as espículas ósseas, com uma parte central de cartilagem calcificada e uma parte superficial de tecido ósseo primário. Sabe-se que a calcificação começa pela deposição de sais de cálcio sobre as fibras colágenas, um processo que parece ser induzido por proteoglicanos e glicoproteínas da matriz. A deposição dos sais de cálcio é também influenciada pela concentração desses minerais em vesículas do citoplasma dos osteoblastos, que são expelidas para a matriz (vesículas da matriz). Além disso, existe ainda a participação da enzima fosfatase alcalina, sintetizada pelos osteoblastos. CAROLINE FELICINAO - MED 107 CRESCIMENTO E REMODELAÇÃO DOS OSSOS O crescimento dos ossos consiste na formação de tecido ósseo novo, associado à reabsorção parcial de tecido já formado; deste modo, os ossos conseguem manter sua forma enquanto crescem. Os ossos chatos crescem por formação do tecido ósseo pelo periósteo situado entre as suturas e na face externa do osso, enquanto ocorre reabsorção na face interna. Nos ossos longos, as epífises aumentam de tamanho devido ao crescimento radial da cartilagem, acompanhado por ossificação endocondral. A diáfise cresce em extensão pela atividade dos discos epifisários e, em espessura, pela formação de tecido ósseo na superfície externa da diáfise, com reabsorção da superfície interna. Apesar da sua resistência às pressões e da sua dureza, o tecido ósseo é muito plástico, sendo capaz de remodelar sua estrutura interna em resposta a modificações nas forças a que está submetido. PAPEL METABÓLICO DO TECIDO ÓSSEO O esqueleto contém 99% do cálcio do organismo e participa da manutenção adequada da concentração desse íon no sangue (calcemia). Existem dois mecanismos de mobilização do cálcio depositado nos ossos. O primeiro, que tem lugar principalmente no osso esponjoso, é a simples transferência dos íons dos cristais de hidroxiapatita para o líquido intersticial, do qual o cálcio passa para o sangue. As lamelas ósseas mais jovens pouco calcificadas, devido à remodelação contínua, são as que recebem e cedem Ca2+ com mais facilidade (as lamelas antigas, muito calcificadas, têm como funções principais o suporte e a proteção). O segundo mecanismo é de ação mais lenta e decorre da ação do hormônio da paratireoide ou paratormônio, o qual causa um aumento no número de osteoclastos e reabsorção da matriz Aplicação Médica A remodelação da posição dos dentes pelo uso de aparelhos ortodônticos é um exemplo da plasticidade do tecido ósseo. Reparação de Fraturas Nos locais de fratura óssea ocorre hemorragia e para que a reparação se inicie o coágulo sanguíneo e os restos celulares e da matriz devem ser removidos por macrófagos. O periósteo e o endósteo se proliferam intensamente e formam um tecido rico em células osteoprogenitoras que constitui um colar em torno da fratura e penetra as extremidades ósseas rompidas. Nesses locais surge tecido ósseo primário por ossificação endocondral e também intramembranosa. Esse processo evolui de modo a aparecer, após algum tempo, um calo ósseo que envolve a extremidade dos ossos fraturados e é constituído por tecido ósseo primário. Ao contrário dos outros tecidos conjuntivos, o tecido ósseo repara-se sem formação de cicatriz. CAROLINE FELICINAO - MED 107 óssea, com liberação de fosfato de cálcio e aumento da calcemia. O paratormônio atua sobre receptores localizados nos osteoblastos, que em resposta a esse sinal deixam de sintetizar colágeno e iniciam a secreção do fator estimulador dos osteoclastos. Outro hormônio, a calcitonina, produzido pelas células parafoliculares da tireoide, inibe a reabsorção da matriz e, portanto, a mobilização do cálcio. A calcitonina tem um efeito inibidor sobre os osteoclastos. Aplicação Médica A descalcificação óssea pode ser resultado de carência alimentar do mineral e por produção excessiva de paratormônio (hiperparatireoidismo), o que provoca intensa reabsorção óssea, aumento de Ca2+ e (PO4)³- no sangue e deposição anormal de sais de cálcio em vários órgãos, principalmente nos rins e na parede das artérias. O oposto ocorre na osteopetrose, doença causada por defeito nas funções dos osteoclastos, com superprodução de tecido ósseo muito compactado e duro. A osteopetrose causa obliteração das cavidades que contêm medula óssea formadora de células do sangue, resultando em anemia e deficiência em leucócitos. Efeitos de Deficiências Nutricionais A deficiência de cálcio pode ser devida à carência desse mineral nos alimentos ou à falta do pró-hormônio vitamina D, que é importante para a absorção dos íons Ca2+ e (PO4)³- pelo intestino delgado. Na criança, a deficiência de cálcio causa o raquitismo, em que a matriz óssea não se calcifica normalmente, de modo que as espículas ósseas formadas pelo disco epifisário se deformam, por não suportarem as pressões normais exercidas sobre elas pelo peso corporal e ação muscular. No adulto, a falta de cálcio leva à osteomalacia, que se caracteriza pela calcificação deficiente da matriz óssea neoformada e descalcificação parcial da matriz já calcificada, com a consequente fragilidade óssea. Porém, como no adulto não mais existem cartilagens de conjugação, não ocorrem deformações dos ossos longos nem o atraso do crescimento, característicos do raquitismo. Tumores dos Ossos Os tumores formados de células ósseas são os osteomas (osteoblastomas e osteoclastomas) e os osteossarcomas. Os primeiros são benignos, mas os osteossarcomas são malignos. Os osteossarcomas se caracterizam pela presença de osteoblastos pleomórficos (morfologia irregular e variada) e que se dividem por mitose com muita frequência, associados à osteóide por eles sintetizado. A maioria dos casos de osteossarcoma ocorre em adolescentes ou adultos jovens. Os locais mais frequentemente atingidos são a extremidade inferior do fêmur e as extremidades superiores da tíbia e do úmero. CAROLINE FELICINAO - MED 107 ARTICULAÇÕES Podem ser classificadas em diartroses, que permitem grandes movimentos dos ossos, e sinartroses, nas quais não ocorrem movimentos ou ocorrem apenasmovimentos muito limitados. Conforme o tecido que une as peças ósseas, distinguem-se três tipos de sinartroses: as sinostoses, as sincondroses e as sindesmoses. Nas sinostoses, os ossos são unidos por tecido ósseo e as mesmas são totalmente desprovidas de movimentos. Encontram-se unindo os ossos chatos do crânio, nas pessoas de idade avançada. As sincondroses são articulações nas quais existem movimentos limitados, sendo as peças ósseas unidas por cartilagem hialina. As sindesmoses são, como as sincondroses, dotadas de algum movimento e nelas o tecido que une os ossos é o conjuntivo denso. Aplicação Médica Hormônios que Atuam sobre os Ossos A parte anterior da hipófise produz o hormônio do crescimento, que tem efeito acentuado sobre a cartilagem epifisária. Ele estimula certos órgãos, principalmente o fígado, a sintetizar polipeptídios denominados somatomedinas, que têm efeito sobre o crescimento. A falta desse hormônio durante o crescimento produz o nanismo hipofisário. Sua produção excessiva, como ocorre em alguns tumores da hipófise, causa o gigantismo, quando se verifica na criança, e a acromegalia, quando aparece no adulto. No adulto, como o excesso de hormônio do crescimento atua quando já não existem mais cartilagens epifisárias, os ossos não podem crescer em comprimento, mas crescem em espessura (crescimento perióstico), dando origem à acromegalia, condição em que os ossos, principalmente longos, tornam-se muito espessos. Os hormônios sexuais (testosterona e estrógenos) são estimuladores da formação de tecido ósseo. A maturação sexual precoce retarda o crescimento corporal, pois nestes casos a cartilagem epifisária é substituída precocemente por tecido ósseo. Nos casos de desenvolvimento deficiente das gônadas, as cartilagens epifisárias permanecem por mais tempo e o indivíduo atinge tamanho acima do normal. Baixa concentração de estrógenos é ainda a principal causa da osteoporose, em que a concentração de cálcio na matriz orgânica é normal, mas a quantidade de tecido ósseo é menor. Esta condição decorre de um desequilíbrio na remodelação dos ossos, com predomínio da reabsorção sobre a neoformação de tecido ósseo. Tal condição pode ser revertida com suplementação de vitamina D e de cálcio e principalmente através da reposição de estrógenos. A deficiência no hormônio da tireoide, em crianças, causa o cretinismo, caracterizado por retardo mental e nanismo. Foi observado, em camundongos adultos, que o sistema nervoso central participa da regulação da remodelação do tecido ósseo. Esse mecanismo envolve a participação do hormônio leptina, produzido pelo tecido adiposo, e pode ser a explicação para o fato de que os ossos das pessoas obesas têm maior massa e maior concentração de sais de cálcio. CAROLINE FELICINAO - MED 107 As diartroses são as articulações dotadas de grande mobilidade, geralmente encontradas unindo os ossos longos. Nelas existe uma cápsula que liga as extremidades ósseas, delimitando uma cavidade fechada, a cavidade articular. Esta cavidade contém um líquido incolor, transparente e viscoso, o líquido sinovial, que é um dialisado do plasma sanguíneo contendo elevado teor de ácido hialurônico, sintetizado pelas células da camada sinovial. O deslizamento das superfícies articulares que são revestidas por cartilagem hialina, sem pericôndrio, é facilitado pelo efeito lubrificante do ácido hialurônico. O líquido sinovial é uma via transportadora de substâncias entre a cartilagem articular (avascular) e o sangue dos capilares da membrana sinovial. As cápsulas das diartroses têm estruturas diferentes, conforme a articulação considerada, sendo, em geral, constituídas por duas camadas, uma externa, a camada fibrosa, e uma interna, a camada ou membrana sinovial. O revestimento da camada sinovial é constituído por dois tipos celulares. Um parece fibroblasto e o outro tem o aspecto e a atividade funcional semelhante ao macrófago. A camada fibrosa da cápsula articular é formada por tecido conjuntivo denso. ( Resumo da 11ª edição do livro Histologia Básica - Luiz C. Junqueira e José Carneiro. Aplicação Médica Artrite reumatoide é uma doença crônica autoimune, caracterizada por um processo inflamatório iniciado na membrana sinovial, resultando em deformidade e destruição das estruturas articulares (cartilagens e ossos subjacentes). Possui manifestações sistêmicas, como rigidez matinal, fadiga e perda de peso. Quando envolve outros órgãos (coração, pulmões, rins, etc.), a morbidade é maior.