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Centro Universitário Salesiano de São Paulo
Ana Beatriz Moreira da Costa
Parente é Serpente
(Análise do filme)
Lorena
2014
Curso de Psicologia
Disciplina: Teorias da Personalidade
Docente: 
2º Ano – Turma B
A família é a fonte da prosperidade e da desgraça 
dos povos.
(Martinho Lutero)
Parente... é Serpente
Diretor: Mario Monicelli 
Produção: Giovanni Di Clemente
País: Itália
Ano: 1992
Duração: 100min
Gênero: Comédia (Humor Negro) – Drama
	
Personagens Principais
Avós:
Trieste – Matriarca da família, uma senhora tradicional e protetora, que reúne os parentes para uma festa Natalina.
Savério – Patriarca da família, casado com Trieste. Submisso e nitidamente abalado pelos efeitos da velhice, com uma cabeça muito confusa. (gagá)
Filhos:
Lina: Filha Progenitora de Mauro. Professora e famosa mãe preocupada e ansiosa. Além de intrometida (fofoqueira), acomodada e hipocondríaca. Reclama muito do marido.
Milena – Muito bondosa e solidária, aparentemente. Frustrada pelo fato de não ter tido filhos.
Alessandro – completamente submisso em relação a sua esposa “intragável”, esnobe: Gina.
 Alfredo – Solteiro e dá aulas de italiano numa escola para moças. Homossexual.
Genros/nora:
Michele – Marido de Lina, amante de Gina.
Gina – Esposa de Alessandro, Amante de Michele. Dominadora e Autoritária.
Filippo – Marido de Milena, Marechal da Aeronáutica. 
Netos:
Mauro – Filho de Lina e Michele. Ao mesmo tempo que mostra uma visão inocente, dá sinais de puberdade entrando em conflito com o cérebro infantil.
Monica: Filha pré adolescente de Gina e Alfredo, muito comilona e sonha em ser Bailarina.
Cenas Importantes
No começo do filme, dentro do carro a caminho da casa da mãe, Lina, mãe de mauro explica ao marido que o menino está comendo inadequadamente e diz “Prefere adoecer e me matar de susto”. A cena mostra o quanto a mãe é dramática e exagerada. O pai parece não concordar com o desespero desnecessário da mãe, mas acata suas decisões, talvez para evitar discussões.
Ao chegar ao encontro Natalino, Alfredo é abordado pelo cunhado com um tom sarcástico, pelo fato dele conviver com muitas moças diariamente (alunas). 
Algumas cenas demonstram o quanto tradicional é a família. Os homens ficam juntos jogando carteado e fumando cigarros, enquanto as moças conversam sobre vida alheia e cuidam do jantar. 
Michele, ao jogar cartas com o cunhado, pergunta à esposa se ela trouxe seus remédios, ao ouvir um não, Milena lhe oferece o seu (Valium). Cena que mostra o desequilíbrio psicológico dos personagens.
Na cozinha, preparando o jantar, os filhos e a mãe Trieste cantam e dançam juntos uma canção, com muita animação. O que nos faz perceber que o relacionamento dos filhos com a mãe é muito amoroso, havendo uma interrupção dos cônjuges. 
Um momento interessante é quando passa na rua a procissão de natal e toda a família interrompe o que está fazendo para observar. É uma tradição, segundo a vovó, ao ouvir a campainha todos devem ficar em casa e os filhos devem beijar as mãos dos pais e com muito respeito, eles o fazem. 
Milena ao ouvir comentários da mãe a respeito de filhos, sai da mesa e vai para a cozinha, Lina vai confortá-la, mas com seu comodismo, ela só piora tudo. Cena que demonstra a enorme frustração da personagem por não ter tido filhos e se sentir só.
Sentados à mesa, Gina abraça o marido e do seu outro lado, Michele Acaricia sua perna. Cena que demonstra a relação extraconjugal dos personagens.
À caminho da missa, podemos observar diversas pessoas da cidade, todos comentando a respeito da vida alheia, o que passa uma impressão de ser algo relacionado à cultura local ou à época retratada.
 Milena retrata um sonho que teve com sua avó Annina, onde a avó dizia “Milena, ajude-me, eu caí de um elefante.”
 A matriarca anuncia a vontade de morar com um dos filhos e começa uma guerra de recusas. Eles acham que Alfredo deveria ficar com os pais por ser o solteiro da família. Lina mostra ser a mais solidária e preocupada com os pais.
 A cena em que Alfredo declara ser Homossexual.
Frases de efeito
Lina: “vai ter que carregar a vida toda um saco atrás de si para fazer as necessidades”
Mauro: “o peito dela também está maior”
Mauro: “vovó, não pode falar de crianças com a tia Milena, ela fica sentida.”
Savério: “Há quatro dias que não defeco”
Savério: “Acostumado a obedecer em silêncio”
Lina: “Desculpe, Gina. Mas nós da Família é que decidimos”
Alfredo: “Um dia percebi que gosto de uma pica”
	“O que esperavam de uma mãe protetora e um pai submisso?”
Alessandro: “Bem, eu não sou afeminado. E não temos os mesmos pais?”
Alfredo: “Querem ficar conosco, querem nosso afeto. Não querem morrer sozinhos.”
Um filme muito realista, que se passa na cidade de Nápoles, na Itália, na época do Natal. O objetivo principal do filme é mostrar uma típica família italiana, separados por cidades diferentes, acentuando a personalidade de cada um, dramatizando o cotidiano de uma família tradicional e seu relacionamento apesar de feliz, um pouco conturbado. O filme não tem uma estória em si, ele visa mostrar apenas o cotidiano da família, é contado basicamente por Mauro, um menino de mais ou menos 10 anos, que demonstra nitidamente a sua visão inocente diante dos acontecimentos familiares e sua transição para a puberdade.
	Ao longo do filme, descobrimos situações dentro da família que tornam o comportamento de cada um tanto quanto duvidoso. Como a submissão dos cônjuges ao saber que são traídos pelos cunhados, o tratamento e o desleixo dos filhos para com os pais idosos e também para com seus filhos menores e o enredo da homossexualidade de Alessandro.
	O que mais chama a atenção é o fato de ser um filme antigo e muito realista, com efeitos, som e filmagem precários. Os personagens são típicos italianos do final do século XX. A caracterização é de uma família tradicional, que é o que chama mais atenção.
	Cada personagem representa um tipo de pessoa daquela época, a hipocondríaca, o homossexual, a traição, a senhora amorosa e o vovô gagá. Os diálogos entre os personagens são amorosos e ao mesmo tempo demonstram uma falta de sintonia entre os irmãos e os que vem de fora (cunhados).
	Há alterações no tom de voz durante todo o decorrer do filme, como discussões, intrigas e fofocas.
	A impressão negativa do filme é pelo fato de não haver uma história concreta, o que ocasiona a perda de interesse no filme.
	 
Crítica
Num encontro para a Ceia de Natal, uma típica família italiana deixa emergir um verdadeiro acerto de contas emocional, onde temas como o humor negro e ferino, solidão, velhice, homossexualismo e relações familiares são expostos na sua forma mais crua e quase inacreditável.
O filme começa narrado por um garoto (mais parece uma redação escolar) que descreve as cenas familiares com seus conflitos e contradições de modo perplexo e inocente. A narração se dá ao longo do filme até o final.
As famílias nuclear (pai, mãe, filhos) e extensa (família de origem – avós) são retratadas pelo menino de forma ingênua, as características dos personagens são descritas como ele as vê e sente, ou seja, sem censura, restrições ou preconceitos.
Os papéis e funções são classicamente representados.
Observa-se que os ciclos de vida familiar seguiram seu curso, seus momentos, apesar de ficar descrito para nós no filme apenas a questão do envelhecimento, da morte dos pais e o próprio envelhecimento, sendo esta a questão central a ser discutida.
Todos os membros da família chegam para a ceia de Natal preparada pela matriarca - a irmã hipocondríaca e intrometida, acompanhada pelo marido e filho que nos conta a história, a outra irmã frustrada por não ter tido filhos, o irmão que vem acompanhado da esposa esnobe e sofisticada e por fim o irmão solteiro.
Nesta cena o que se vê é uma situação de homeostase, onde a retroalimentação é negativa porque é a “não mudança” que força o padrão para assim garantiro equilíbrio.
Quando os assuntos de conflito em potencial surgem - quando a matriarca fala da impossibilidade da filha de não poder gerar filhos, ou dos problemas de saúde imaginários da outra filha - eles imediatamente são evitados, isto ocorre para que o equilíbrio seja mantido, já que uma mudança poderá reverberar no sistema inteiro.
Durante o jantar a forma de comunicação que vai prevalecer é a mensagem analógica (expressão corporal e tom de voz) com um padrão de interação complementar, ou seja, uma comunicação patológica de complementaridade rígida onde há a presença de desconfirmação - a irmã hipocondríaca com um marido submisso, o irmão submisso com uma mulher dominadora e autoritária, a matriarca que impõe as regras e um marido que as aceita sem questionamento. Os dois pólos da relação estão continuamente se desconfirmando como quando a mãe diz para a filha não comer chocolate porque ela está gorda e minutos depois quando estão falamos algo que a menina não pode ouvir, a mãe diz para ela ir comer chocolate.
Novamente nas relações entre as irmãs e a cunhada, existe uma desintonia: as irmãs rejeitam a cunhada todas as vezes em que ela faz uma colocação, uma interferência qualquer, as irmãs a tratam como uma figura fútil e vulgar, mas a cunhada não se vê assim e isto ocorre de forma constante.
Também no diálogo entre os cônjuges a Pontuação de uma seqüência de eventos fica evidente: um hostiliza e o outro retrai e esta seqüência de estímulo resposta é reforçada.
A comunicação patológica associada é por discordância de pontuação por diferença de informação: os desentendimentos entre os elementos da família não se esclarecem, os dois lados são como pólos opostos que não tem as mesmas informações.
Cena3: quando a matriarca da família anuncia que ela e o marido estão muito velhos para continuarem morando sozinhos e decidiram ir morar com um dos filhos. É claro que ninguém quer morar com os velhos e a festa acaba por virar uma autêntica batalha entre irmãos, todos querendo se livrar da responsabilidade.
No início os filhos apóiam, dizendo que, de fato, eles precisam sair mais. Mas ao perceberam o que na verdade estava acontecendo, o cenário muda completamente, o silêncio reina no ambiente, as palavras não são mais encontradas, e o vazio se estabelece na medida em que nem tudo pode ser dito: muitos segredos, mágoas e ressentimentos estão guardados e prontos para saírem das profundezas.
Ocorre a homeorese (destruição do sistema, caos). O padrão de funcionamento é mantido pelos segredos, mágoas e ressentimentos. Se ele for quebrado mexe com todos os elementos. Por isso se opta pelo silêncio, porque o medo é muito grande.
Existe impermeabilização, duplo vínculo e desconfirmação.
Cena4: No jogo do empurra-empurra entre os irmãos, de quem vai ficam com os pais, todo conteúdo mantido a sete chaves aparece: a homossexualidade do irmão, a dependência da irmã hipocondríaca da família de origem (quando os pais ficam doentes é ela quem socorre, mas não faz isto por vontade e sim pelo vínculo rígido), a fragilidade da irmã que não pode ter filhos, a traição dos cunhados, a submissão do marido que aceita a traição.
Cena5: Os irmãos reunidos na festa de ano novo ouvem na televisão a notícia de uma estufa de gás que explodiu matando todos na casa. Como é inverno, quem sabe... e neste momento em que as palavras não são ditas, apenas circulam olhares, brota a idéia: presentear os pais com uma estufa de gás.
Afinal é necessário entrar em morfogênese, estabelecer um novo equilíbrio, mudar o padrão, não importa o que precise ser feito (mesmo que seja incendiar os pais).	
Fonte: http://portaldoenvelhecimento.org.br/noticias/artigos/parente-e-serpente-o-ponto-de-vista-psicologico.html
Trabalho entregue em 17/03/2014.

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