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Níveis de linguagem Os níveis da linguagem, também chamados de níveis da fala, são os diferentes registros em que a linguagem pode ser utilizada pelos falantes, conforme o contexto comunicativo, o nível de escolarização dos falantes, a interação com diferentes interlocutores,… Existem dois níveis da linguagem principais: o culto e o coloquial. O registro culto, chamado de norma culta, linguagem formal e registro formal, é usado na linguagem escrita, na escola e no trabalho, na comunicação social, em situações que requerem uma maior seriedade, quando não há familiaridade entre os interlocutores da comunicação. O registro coloquial, também chamado de linguagem coloquial, linguagem informal e linguagem popular, é a linguagem falada em situações cotidianas de comunicação e em conversas descontraídas entre familiares, amigos, conhecidos, vizinhos, Características da linguagem coloquial Usada em situações informais ou familiares; É uma linguagem falada, espontânea e despreocupada; Responde a necessidades de comunicação imediata do dia a dia; Aceita a existência de algumas incorreções linguísticas; Há um maior relaxamento em relação às regras gramaticais; Apresenta um vocabulário simples e expressões populares; Ocorre o uso de gírias e de palavras não dicionarizadas; Utiliza estruturas sintáticas simples; Permite a liberdade de expressão do falante; Está sujeita a variações regionais, culturais e sociais. Características da norma culta Usada em situações formais, principalmente na escrita; É uma linguagem planejada, cuidada e elaborada; Privilegia a correção gramatical; Apresenta um vocabulário rico e diversificado; Utiliza estruturas sintáticas complexas; Ensinada na escola e usada na comunicação social. Outros níveis de linguagem Além dessa divisão principal entre linguagem culta e linguagem coloquial, existem outras classificações de níveis de linguagem, conforme diferentes autores, como: nível regional; nível vulgar; nível técnico ou profissional; nível literário ou artístico. Nível não é hierarquia Apesar de classificados em níveis, não significa que haja uma hierarquia entre a linguagem formal e a linguagem informal, ou seja, uma não pode ser considerada melhor ou mais importante do que a outra. Um falante que saiba adaptar o seu discurso às diferentes situações comunicativas e aos diferentes interlocutores irá usar, necessariamente, a linguagem culta e a linguagem coloquial no seu dia a dia, como linguagens complementares. Este é um exemplo de variação situacional, ou seja, uma variação linguística em função do contexto. Existem outras variações linguísticas que ocorrem conforme alterações geográficas, temporais e sociais, como variações regionais, variações históricas e variações sociais. Linguagem regional/regionalismo A linguagem regional está relacionada com as variações ocorridas, principalmente na fala, nas mais variadas comunidades linguísticas. Essas variações são também chamadas de dialetos. O Brasil, por exemplo, apresenta uma imensa variedade de regionalismos na fala dos usuários nativos de cada uma de suas cinco regiões. Gírias A gíria é um estilo associado à linguagem coloquial/popular como meio de expressão cotidiana. Ela está relacionada ao cotidiano de certos grupos sociais e podem ser incorporadas ao léxico de uma língua conforme sua intensidade e frequência de uso pelos falantes, mas, de maneira geral, as palavras ou expressões provenientes das gírias são utilizadas durante um tempo por um certo grupo de usuários e depois são substituídas por outras por outros usuários de outras gerações. É o caso, por exemplo, de uma gíria bastante utilizada pelos falantes nas décadas de 80 e 90: “chuchu, beleza”, mas que, atualmente, está quase obsoleta. Caracterizada como um vocabulário especial a gíria surge como um signo de grupo, a princípio secreto, domínio exclusivo de uma comunidade social restrita (seja a gíria dos marginais ou da polícia, dos estudantes, ou de outros grupos ou profissões). (…) Ao vulgarizar-se, porém, para a grande comunidade, assumindo a forma de uma gíria comum, de uso geral e não diferenciado, (…) torna-se difícil precisar o que é de fato vocábulo gírio ou vocábulo popular (…) É expressa freqüentemente sob forma humorística (e não raro obscena, ou ambas as coisas juntas), como ocorre, por exemplo, em certos signos que revelam evidente agressividade, como bicho, forma de chamamento que na década de 1970 substituía amigo, colega, cara; coroa, para pessoa mais idosa, madura; quadrado, em lugar de conservador tradicional, reacionário; mina, para namorada, forma trazida da linguagem marginal da prostituição, onde origina lmente signca mulher rendosa para o malandro, que vive à custa dela etc. (Dino Pretti) Primeiro, ela pinta como quem não quer nada. Chega na moral, dando uma de Migué, e acaba caindo na boca do povo. Depois desba ratina, vira lero-lero, sai de fininho e some. Mas, às vêzes, volta arrebentando, sem o menor aviso. Afinal, qual é a da gíria? (Cássio Schubsky, Superinteressante) Linguagem vulgar A linguagem vulgar é exatamente oposta à linguagem culta/padrão. As estruturas gramaticais não seguem regras ou normas de funcionamento. O mais interessante é que, mesmo de maneira bem rudimentar, os falantes conseguem compreender a mensagem e seus efeitos de sentido nas trocas de mensagens. Podemos considerar a linguagem vulgar como sendo um vício de linguagem. Veja alguns exemplos bastante recorrentes em nossa língua: “Nóis vai” “Pra mim ir” “Vamo ir” Linguagem regional Regionalismos ou falares locais são variações geográficas do uso da língua padrão, quanto às construções gramaticais, empregos de certas palavras e expressões e do ponto de vista fonológico. Há, no Brasil, por exemplo, falares amazônico, nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino. Exemplo do falar gaúcho: Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão. Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho. — O senhor quer que eu deite logo no divã? — Bom, se o amigo quiser dançar uma marcha, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o vivente estendido e charlando que nem china da fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro. (Luís Fernando Veríssimo, O Analista de Bagé) Exemplo do falar caipira: Aos dezoito anos pai Norato deu uma facada num rapaz, num adjutório, e abriu o pé no mundo. Nunca mais ninguém botou os olhos em riba dele, afora o afilhado. — Padrinho, evim cá chamá o sinhô pra mode i morá mais eu. — Quá,flo, esse caco de gente num sai daqui mais não. — Bamo. Buli gente num bole, mais bicho… O sinhô anda perrengado… (Bernardo Élis, Pai Norato) Variações linguísticas A língua portuguesa encontra-se em constante alteração, evolução e atualização, não sendo um sistema estático e fechado. O uso faz a regra e os falantes usam a língua de modo a suprir suas necessidades comunicativas, adaptando-a conforme suas intenções e necessidades. Sendo uma sociedade complexa, formada por diferentes grupos sociais, com diferentes hábitos linguísticos e diferentes graus de escolarização, ocorrem variações na língua, principalmente de caráter local, temporal e social. Nem todas as variações linguísticas usufruem do mesmo prestígio, sendo algumas consideradas menos cultas. Contudo, todas as variações devem ser encaradas como fator de enriquecimento e cultura e não como erros ou desvios. Tipos de variação As variações linguísticas ocorrem principalmente nos âmbitos geográficos, temporais e sociais. Variações regionais (diatópicas ou geográficas) São variações que ocorrem de acordo com o local onde vivem os falantes, sofrendo sua influência. Este tipo de variação ocorre porque diferentes regiões têm diferentes culturas, com diferentes hábitos, modos e tradições, estabelecendo assim diferentes estruturas linguísticas. Exemplos de variações regionais: Diferentes palavras para os mesmos conceitos; Diferentes sotaques, dialetos e falares; Reduçõesde palavras ou perdas de fonemas. Variações históricas (diacrônicas) São variações que ocorrem de acordo com as diferentes épocas vividas pelos falantes, sendo possível distinguir o português arcaico do português moderno, bem como diversas palavras que ficam em desuso. Exemplos de variações históricas: Expressões que caíram em desuso; Grafemas que caíram em desuso; Vocabulário típico de uma determinada faixa etária. Variações sociais (diastráticas) São variações que ocorrem de acordo com os hábitos e cultura de diferentes grupos sociais. Este tipo de variação ocorre porque diferentes grupos sociais possuem diferentes conhecimentos, modos de atuação e sistemas de comunicação. Exemplos de variações sociais: Gírias próprias de um grupo com interesse comum, como os skatistas. Jargões próprios de um grupo profissional, como os policiais. Variações situacionais (diafásicas) São variações que ocorrem de acordo com o contexto ou situação em que decorre o processo comunicativo. Há momentos em que é utilizado um registro formal e outros em que é utilizado um registro informal. Exemplos de variações situacionais: Linguagem formal, considerada mais prestigiada e culta, usada quando não há familiaridade entre os interlocutores da comunicação ou em situações que requerem uma maior seriedade. Linguagem informal, considerada menos prestigiada e culta, usada quando há familiaridade entre os interlocutores da comunicação ou em situações descontraídas.