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Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 1 ECONOMIA – PARTE II TEORIA MACROECONÔMICA FAISA – FACULDADE DE ILHA SOLTEIRA NOME: ____________________________________________________ Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 2 1. Introdução A Macroeconomia estuda os grandes processos da Economia nacional como um todo. Ela observa as variáveis econômicas (oferta, demanda, preços, etc.) em termos agregados, ou seja, abrangendo todos os agentes econômicos na escala de todo o território do país que está em foco. Por isso, costuma-se falar nos agregados macroeconômicos, que são as variáveis mais abrangentes da Economia. Produção, emprego e desemprego, nível de preços e inflação, participação do Governo na economia, exportações, importações, entrada e saída de capitais, taxa de câmbio: esses são os principais aspectos abordados por esta subdivisão das Ciências Econômicas. A Macroeconomia surgiu como ramo específico dos estudos econômicos a partir da obra do grande economista John Maynard Keynes: a “Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda”, publicada em 1936. Essa obra revolucionou as concepções tradicionais da Teoria Econômica. A principal corrente de idéias econômicas na época era a chamada escola neoclássica, surgida nos fins do século XIX. Havia economistas críticos dessa escola – a começar pelos marxistas, mas incluindo alguns outros economistas independentes -, porém o predomínio dos neoclássicos nas Ciências Econômicas, nas universidades dos países avançados e entre os políticos e empresários, era incontestável. Keynes apoiou-se na maioria das concepções básicas dos neoclássicos, mas introduziu modificações fundamentais e criou uma nova maneira de pensar nos problemas macroeconômicos. O objetivo principal da obra keynesiana era explicar como era possível à existência de desemprego em massa nas economias capitalistas desenvolvidas. Esse fato manifestou-se com a Grande Depressão de 1929 e durou quase toda a década de 1930. A teoria neoclássica não tinha explicações para o problema e propunha soluções que, na época, eram disparatadas. Keynes abordou a questão de um novo ângulo e ofereceu respostas mais efetivas para enfrentar a situação. Suas sugestões acabaram incorporadas ao corpo principal da Teoria Econômica e, nas três décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial (1939-45), tornaram-se o receituário comum nos países avançados. Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 3 2. A Micro e a Macroeconomia A Microeconomia: Ocupa-se da análise do comportamento das unidades econômicas, como as famílias ou consumidores e as empresas. Estuda também os mercados em que se operam os demandantes e ofertantes de bens e serviços. A perspectiva microeconômica considera a atuação das diferentes unidades econômicas como se fossem individuais. A Macroeconomia: Ocupa-se da análise do comportamento global, ao contrario da microeconomia. Analisa o sistema econômico refletindo em um número reduzido de variáveis, como o produto total de uma economia, o emprego, o investimento, o consumo, o nível geral de preço, etc. Sendo assim, podemos conceituar a macroeconomia como sendo a parte da teoria econômica que estuda o funcionamento da economia em seu conjunto (o todo). Seu propósito é obter uma visão simplificada da economia que, porém, ao mesmo tempo, permite conhecer e atuar sobre o nível da atividade econômica de um determinado país ou conjunto de países. 2.1 Política Macroeconômica A macroeconomia para analisar o funcionamento da economia, centra-se no estudo de uma serie de variáveis-chave que lhe permitem estabelecer objetivos, concretos e desenhar a política macroeconômica. A política macroeconômica é integrada pelo conjunto de medidas governamentais destinadas a incluir sobre a marcha da economia no seu conjunto. Os objetivos da política econômica são: - A inflação - O desemprego - E o crescimento A inflação A macroeconomia ocupa-se das causas e dos custos para a sociedade do crescimento do nível, isto é, da inflação, bem como das possíveis soluções e consequências das políticas a serem tomadas. Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 4 O crescimento A macroeconomia estuda as causas do crescimento da produção. Quando uma economia experimenta um crescimento notável, criam-se empregos novos e o bem-estar geral dos indivíduos cresce. O contrario ocorre quando a economia não cresce de forma suficiente, ou mesmo decresce. Além dos 3 grandes objetivos citados, as autoridades econômicas também prestam uma especial atenção ao orçamento publico e às contas para o mercado externo. Em particular, no caso da economia brasileira, o déficit público, isto é, a diferença entre o gasto público e a receita pública, aparece como uma restrição que condiciona a política macroeconômica. O saldo da balança comercial, isto é, a diferença entre as exportações realizadas para o resto do mundo e as importações procedentes do resto do mundo, preocupa os responsáveis pela política econômica. A macroeconomia analisa as causas e os efeitos dos déficits públicos e o saldo da balança comercial e as possíveis estratégias a seguir. O desemprego A macroeconomia ocupa-se do motivo pelo qual o mercado de trabalho, às vezes, apresenta porcentagens muito elevadas de desemprego e estuda as possíveis medidas a serem tomadas para tentar reduzi-lo, uma vez que além dos custos pessoais sobre os indivíduos afetados, o desemprego supõe um desperdício de recursos. 2.2. O fluxo circular da renda Para fins didáticos, imaginemos uma economia bastante simplificada, onde existam apenas as empresas, produtoras de bens e serviços, e as famílias, consumidoras de bens e serviços e fornecedoras de fatores de produção (terra, capital e trabalho) as empresas. Desconsideremos as hipóteses de comercio com o exterior, de intervenção estatal na economia, de produção de bens intermediários e de formação de estoques. Nesse sistema, as empresas recebem das famílias os fatores de produção e pagam a elas uma remuneracao na forma de renda (salários, aluguéis, lucros e/ou juros). Utilizando esses fatores comprados das famílias, as empresas produzem bens e serviços que serão vendidos às famílias, que poderão comprar tais produtos com a remuneracao recebida pela venda de fatores de produção as empresas. Desse modo, o que ocorre na economia e um ciclo da renda e da despesa: a renda flui através dos mercados de fatores de produção, enquanto a despesa flui através do mercado de bens e serviços. O fluxo circular da renda é uma forma muito simples de se representar como se cria a renda nacional e como ela pode ser medida. Mostra as transações que acontecem entre os grupos de Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 5 pessoas: Os consumidores (unidades familiares) e os produtores (empresas) como apresentado no esquema 1 abaixo. O fluxo circular da renda é o conjunto dos pagamentos das empresas feito às famílias em troca de trabalho e outros serviços produtivos e o fluxo de pagamentos das famílias as empresas em troca de bens e serviços. Pagamentos monetários pelos produtos FLUXO MONETÁRIO FLUXO DE PRODUTOS FamíliasEmpresas .Consomem bens e .Fornecem bens e serviços finais serviços aos consumidores produzidos pelas .Utilizam fatores produtivos empresas fornecidos pelas famílias .Fornecem fatores produtivos para as empresas FATORES PRODUTIVOS Terra, trabalho e capital FLUXO MONETÁRIO Pagamentos monetários pelos fatores produtivos Fluxos reais Fluxos monetários Esquema 1 Fluxo de bens e serviços e dos produtivos e dos pagamentos monetários. Este diagrama descreve todas as transações entre famílias e empresas em uma economia simples. Nesta economia as famílias compram bens e serviços das empresas, por sua vez, usam o dinheiro recebido das vendas para pagar os salários dos trabalhadores, a renda dos donos da terra e os lucros dos proprietários das empresas, esta renda flui através dos mercados dos fatores de produção. Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 6 Nesta economia, a moeda flui continuamente das famílias para as empresas e das empresas para as famílias. O esquema 2 apresenta a formação da Renda e Despesa Nacional e a formação do Produto Nacional. Esquema 2 Fluxo de bens e serviços e dos produtivos na formação da Renda e Despesa Setas internas: indicam o fluxo de bens e serviços – fluxo real Setas externas: indicam o fluxo de dinheiro – fluxo monetário O PIB dessa economia pode, dessa maneira, ser calculado de duas maneiras: somando-se a despesa total das famílias com os bens e serviços vendidos pelas empresas ou somando-se a renda total (isso e, salários, aluguéis, juros e lucros) paga as famílias pelas empresas. Evidentemente, as economias na realidade não são tão simples, e uma serie de condições foi imposta acima para que esse fluxo circular seja valido. Na vida real, as famílias não gastam toda a sua renda, os agentes econômicos realizam transações com o exterior, famílias e empresas pagam impostos ao governo, nem todos os bens e serviços produzidos são consumidos, ha formação de estoques para consumo futuro, ha produção de bens intermediários etc. Entretanto, simplificações são extremamente importantes para o estudo econômico. Alem disso, independentes de uma transação envolver governos, empresas ou famílias, ela possui necessariamente um comprador e um vendedor. E por isso que, “para a economia como um todo, a despesa e a renda são sempre iguais” (MANKIW, 2005). Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 7 3. A Contabilidade Nacional O estudo da Macroeconomia apoia-se no registro estatístico dos principais fluxos da produção e da renda. Este registro (denominado Contabilidade Nacional) segue normas e princípios definidos, cada vez mais uniformizados em escala internacional. A partir do impulso dado pela teoria keynesiana, os países desenvolvidos e, a seguir, todos os países que se empenhavam na busca do desenvolvimento econômico em moldes capitalistas, passaram a sistematizar esses registros na segunda metade do século XX. Para compreender a Contabilidade Nacional é preciso entender o funcionamento do fluxo circular da renda. Esse fluxo nos mostra de forma simplificada os principais agregados macroeconômicos: o Produto, a Renda e a Despesa. • Produto: é a denominação genérica para toda a produção de bens e serviços finais de uma economia. Costuma-se usar dois modos de contabilizá-lo: o Produto Nacional Bruto (PNB) e o Produto Interno Bruto (PIB). O PNB é mais usado nos EUA; o Brasil usa mais o PIB. Veremos como eles são calculados e a relação entre ambos; na verdade, são maneiras distintas de medir o fluxo anual da produção nacional de bens e serviços. • Renda: as famílias recebem remunerações pela venda de seus fatores de produção às empresas. Essas remunerações são chamadas de Renda. A renda da terra é o aluguel, a do capital são o lucro (ou os juros, quando o capital é emprestado por terceiros) e a renda do trabalho é o salário. Assim, aluguéis, lucros, juros e salários são os principais componentes da Renda Nacional de um país. O valor da Renda Nacional iguala o valor do Produto Nacional (veremos adiante como ocorre essa igualdade). • Despesa: os agentes econômicos (empresários, consumidores, governo, outros países) compram a produção de bens e serviços da economia nacional. Essa distribuição do produto entre os agentes que o adquirem é um elemento importante do estudo da Macroeconomia. A primeira expressão importante da Macroeconomia é a que afirma a igualdade entre esses três conceitos. De fato, trata-se de uma igualdade por definição, o que faz com que a consideremos mais do que uma igualdade: é uma identidade macroeconômica. Assim, dizemos que o Produto sempre é igual à Renda e à Despesa, em termos agregados. O Produto Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 8 4. O Produto - Apuração e Contabilização Atente para a definição do Produto acima. Referimo-nos a bens e serviços finais. No processo de produção, alguns bens possuem caráter intermediário: são resultados de um processamento, mas voltam ao circuito produtivo para dar origem a outros bens. Aço, petróleo, produtos químicos, fertilizantes, metais processados são alguns exemplos. Não servem para o consumo das famílias, nem das empresas; são apenas etapas intermediárias de produção Esses bens não se incluem no Produto. Já uma máquina é um bem final comprado por uma empresa, como um celular é um bem final de consumo das famílias. Esses bens (de consumo e de capital) formam o Produto Nacional ou Interno. Há três maneiras de computar o valor total da produção de bens e serviços finais: • somando diretamente o valor dos bens e serviços finais; • somando o valor total da produção das empresas e descontando o valor total dos bens intermediários; ou fazendo este procedimento passo-a- passo, isto é, • calculando o valor de cada etapa do processo produtivo e descontando o que as empresas pagaram aos fornecedores da etapa anterior (p. ex., matérias-primas) – esse procedimento é chamado de cálculo pelo Valor Adicionado. Veja a tabela abaixo, que mostra um processo simples de fabricação de pão e calcula o Valor Adicionado: O moinho e a padaria compraram bens intermediários (trigo e farinha, respectivamente)que devem ser descontados no cômputo geral. Se não fizermos isso, chegaremos a um valor errado de toda a produção ($ 230). Nesse valor, contamos duas vezes a farinha TRE vezes o trigo, os quais estavam embutidos nos preços das etapas posteriores. Descontando-os dessas etapas, estamos apurando o Valor Adicionado de cada etapa do processo de produção. Também é fácil observar que o valor do produto final (pão) é igual à soma dos Valores Adicionados. Este último procedimento é mais adequado às economias complexas, que envolvem inúmeras empresas em diversos setores produtivos e múltiplas transações entre elas. A contabilização do Produto envolve diversos conceitos, que enumeraremos a seguir. Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 9 4.1. Nacionale Produto Interno O primeiro computa toda a produção cuja renda é apropriada por residentes no país. Assim, a renda (aluguéis, lucros, juros e salários) dos fatores de produção (terra, trabalho e capital) pertencentes a pessoas físicas e jurídicas do país no Exterior é descontada do Produto. Por outro lado, os fatores de produção de outros países, cuja renda é apropriada pelos residentes do país em foco, tem essa renda computada no Produto Nacional deste último. Podemos citar como exemplo do primeiro caso os dividendos remetidos pela Volkswagen e pela IBM à suas matrizes na Alemanha e nos EUA, respectivamente. O segundo caso pode ser exemplificado pelos lucros remetidos ao Brasil pela Construtora Odebrecht com obras de engenharia realizadas em outros países, ou os resultados das agências do Banco Itaú no Exterior, remetidos à matriz no Brasil. Em outras palavras, o PN inclui a Renda Recebida do Exterior (RRE) ou Renda Líquida Recebida do Exterior (RLRE) e desconta a Renda Enviada ao Exterior (Ree) ou Renda Liquida Enviada ao Exterior (RLEE).. Mais comumente, dizemos que a Renda Líquida de Fatores Externos (RLFE) é incluída no Produto Nacional. O termo líquida significa a diferença entre o que foi recebido e enviado. Já o Produto Interno informa toda a produção realizada no território do país em questão, sendo indiferente se a apropriação da renda é feita por nacionais ou estrangeiros. Da mesma forma, ele desconta a renda de fatores externos (em outros países) recebida por nacionais (residentes no país). Antes de prosseguir a mensuração do PIB, e necessário definir, em termos formais, o que se entende por produto interno bruto, e para isso usaremos a definição de Gregory Mankiw: “Produto interno bruto (PIB) é o valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos em um país em um dado período de tempo.” Temos, assim, a seguinte relação: PIB + RLFE = PNB, ou PNB – RLFE = PIB Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 10 Mais analiticamente, podemos dizer que: PIB + RLRE – RLEE = PNB, ou PNB – RLRE + RLEE = PIB, Onde: RLRE = renda líquida recebida do Exterior RLEE = renda líquida enviada ao Exterior RLFE = RLRE – RLEE = renda líquida de fatores externos Agora, você pode entender porque os EUA e o Brasil adotam conceitos distintos de Produto. Os EUA são receptores líquidos de capital (recebem mais do que enviam ao Exterior) – por isso, seu PNB é maior que seu PIB. O Brasil é remetente líquido de capitais, pois paga mais renda a proprietários externos de fatores no País do que recebe por fatores pertencentes a brasileiros no Exterior. Assim, nosso PIB supera nosso PNB. Em 2003, o PIB brasileiro foi de R$ 1,5 trilhão. 4.2. Produto Bruto e Líquido Como vimos, os bens de capital fazem parte do Produto (Nacional ou Interno). São bens finais comprados por empresas, não por famílias. No entanto, uma parte desses bens irá apenas repor aqueles equipamentos e máquinas que se desgastaram com o uso. Isso nos traz um novo conceito: a depreciação. Trata-se do desgaste dos bens de capital pelo uso. Se descontarmos a depreciação, então o Produto estará computando, além dos bens de consumo e serviços, apenas o acréscimo líquido de bens de capital – ou seja, o incremento da capacidade de produção dessa economia. Trata-se do Produto (Nacional ou Interno) líquido. Dessa forma, ao lado do PNB e do PIB, temos também o PNL e o PIL, dos quais foi descontada a depreciação. 4.3. Produto a preços de mercado e a custo de fatores Vamos refletir num ponto já abordado: o Valor Adicionado. No que consiste, como se distribui, quais são seus componentes? Se considerarmos que o Valor Adicionado é tudo o que foi acrescentado aos bens intermediários em cada etapa da cadeia produtiva para transformá-los em bens finais, perceberemos que ele nada mais é que o equivalente a remuneração dos fatores de produção utilizados pela empresa nessa transformação: terra, trabalho e capital. Essas Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 11 remunerações - salários, lucros, juros e aluguéis - são a renda dos proprietários dos fatores de produção. Por isso, dissemos mais acima que a Renda e o Produto são idênticos. Em cada bem ou serviço que compramos, estamos pagando salários, lucros, juros e aluguéis à empresa que os produziu ou vendeu; esta, ao pagar pelos bens intermediários, está fazendo o mesmo para a empresa fornecedora dos mesmos e assim sucessivamente (na verdade, como os preços intermediários são repassados adiante, o consumidor final é quem pagará a renda dos fatores de toda a cadeia produtiva). Assim, a renda dos fatores de produção constitui o verdadeiro custo de produção. Mas o preço efetivo de muitos bens no mercado (o preço de mercado) não reflete diretamente esses custos de produção (a renda dos proprietários dos fatores usados para produzi-los). Em geral, ele é distorcido por impostos indiretos – aqueles que incidem sobre o preço do produto, como o ICMS ou o IPI. Outra distorção é que o governo, em alguns casos, fornece subsídios aos produtores de certos bens, com o objetivo de mantê-los no mercado a preços factíveis para muitos consumidores (como ocorre com o trigo, por exemplo). Impostos indiretos aumentam o preço do bem em relação ao seu custo de produção, enquanto o subsídio abaixa artificialmente esse preço. Assim, o Produto, medido a preços de mercado (isto é, computando os preços efetivos de compra e venda dos bens) difere do Produto a custo de fatores (sem aquelas distorções). Para chegarmos ao custo dos fatores, devemos abater dos preços de mercado os impostos indiretos e acrescentar o valor dos subsídios. Surge, agora, uma nova relação: PNBpm = PNBcf + Ii – Sub, ou PNBcf = PNBpm – Ii + Sub, onde pm = a preços de mercado cf = a custo de fatores Ii = impostos indiretos (incidentes sobre os preços) Sub = subsídios concedidos aos produtores pelo Governo Obs.: a relação acima vale tanto para o PNB como para o PIB (ou seja, também usamos PIBcf e PIBpm). Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 12 Exercício Exemplo 01. Numa determinada economia, onde os valores apresentados são hipotéticos, o PNL a custo de fatores é de $ 200 milhões. Sabendo-se que: - Renda líquida enviada ao exterior (RLEE) = $ 50 milhões - Impostos Indiretos = $ 80 milhões - Subsídios = $ 20 milhões - Depreciação = $ 80 milhões Pede-se: Calcule o PIB a preços de mercado Exercício Complementar 01. Com os dados abaixo, para uma economia hipotética, encontre o PIB a preço de mercado. - Impostos diretos = $ 1,5 milhões - Impostos Indiretos = $ 2 milhões - Depreciação = $ 60 milhões - Subsídios governamentais = $ 80 milhões - Rendas líquidas recebidas do exterior (RLRE) = $ 60 milhões 02. Em uma economia, a renda enviada para o exterior é maior que a renda recebida do exterior, então: A ( ) O PIB é maior que o PNB B ( ) O PIB é menor que o PNB C ( ) O PIB é igual ao PNB D ( ) PIBcf é maior que o PIBpm E ( ) PNBcf é menor que o PNBpm Em uma economia são conhecidos os valores, para determinado ano, dos agregados macroeconômicos abaixo listados: Consumo do setor privado: C Investimento do setor privado: I Poupança do setor privado: S Gasto total do setor público: G Exportações de bens e serviços não fatores: X Importações de bens e serviços não fatores: M Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 13 Renda líquida enviada ao exterior: RL O Produto Interno Bruto dessaeconomia a preços de mercado no ano em questão é dado pela soma algébrica: A ( ) C + S + X – M + RL. B ( ) C + I + S + X – M. C ( ) C + I + G + X – M. D ( ) C + G + X + M + RL. 4.4 Produto e Renda Do que foi dito, percebe-se que o Produto Nacional a custo de fatores está mais próximo da Renda Nacional do que o PN a preços de mercado. Eliminando as distorções dos preços causadas pelos impostos e subsídios, chegamos ao Valor Adicionado, que corresponde à renda dos proprietários dos fatores utilizados na produção. O Produto Interno, por sua vez, está incorporando renda de proprietários estrangeiros de fatores usados no país e deixando de computar a renda de nacionais ganha no Exterior. Portanto, tem maiores diferenças em relação à Renda. Ainda é necessário considerar a depreciação, porque ela reduz o capital existente e, portanto, a renda gerada na produção dos bens de capital que substituirão os desgastados não representa um acréscimo, mas apenas uma reposição. Assim, chegamos a uma identidade importante, que concretiza a afirmação do início desta aula sobre igualdade entre Produto e Renda: PNLcf = RN Isto é, o Produto Nacional líquido a custo de fatores equivale à Renda Nacional (o total dos aluguéis, lucros, juros e salários recebidos na economia Produto Nominal e Produto Real, Produto Per Capita No exemplo simples da produção de pão, acima, imagine que os $ 100 tenham resultado da venda de 1.000 unidades a $ 0,10 cada uma. Agora, suponha que no ano seguinte o preço do pão suba para $ 0,15 e sejam vendidas, novamente, 1.000 unidades. Teremos um Produto de $ 150 em lugar de $ 100. O valor do Produto cresceu 50%; mas isso significa o que, exatamente? Apenas um aumento equivalente no preço, sem alteração na quantidade. A sociedade não aumentou seu bem-estar, medido pela disponibilidade de pães. Essa é a razão pela qual distinguimos o Produto Nominal e o Produto Real. O primeiro apura o valor da produção a preços correntes, isto é, aos preços em vigor no momento das transações. Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 14 Desta forma, estamos usando uma moeda cujo poder de compra – medido em produtos que ela permite adquirir – caiu. As comparações entre anos diferentes estão usando moedas nominalmente iguais, mas distintas em termos reais. O Produto Real é apurado a preços constantes. Isso significa que multiplicamos os bens e serviços de um ano pelos preços do ano anterior (ou posterior), para compará-los com os desse outro ano. Assim, estamos medindo apenas as variações na quantidade produzida, evitando as distorções provocadas pela variação dos preços. Chamamos inflação à variação generalizada dos preços numa economia (examinaremos melhor o assunto na Aula 12). A inflação é medida por índices de preços que captam as principais variações destes ao longo dos meses. Para manter os preços constantes, devemos, ou multiplicar o Produto Nominal do Ano 1 pela inflação acumulada no Ano 2, ou dividir o Produto Nominal do Ano 2 pela inflação deste mesmo ano, voltando assim aos preços do Ano 1. Para isso, tomamos o índice de preços que representa a inflação do ano desejado em forma decimal, acrescido de 1. O IBGE adotou em 2007 uma nova fórmula para calcular do Produto Interno Bruto (PIB), e com isso revisou em alta o crescimento da economia do país entre 2002 e 2005. De acordo com os novos cálculos do instituto, a economia brasileira cresceu 2,9% em 2005, e não 2,3%, como divulgado no ano passado. O PIB brasileiro de 2005 em valores foi de R$ 2,148 trilhões, acima do R$ 1,937 trilhão calculado inicialmente. O crescimento econômico em 2004 foi de 5,7% (frente ao 4,9% calculado inicialmente); o de 2003, de 1,1% (frente ao 0,5% anterior); e o de 2002, de 2,7% (acima do 1,9% divulgado antes). Segundo o instituto, o novo sistema de cálculo leva em conta estudos anuais econômicos e domiciliares, assim como informações tributárias das empresas, para permitir maior “precisão”. Entre as informações agora incluídas no cálculo do PIB, estão às oferecidas pelas declarações fiscais das empresas, o código de Classificação Nacional de Atividade Econômica, os resultados das Pesquisas de Orçamentos Familiares de 2003 e o Censo Agropecuário de 2006. “Além disso, (o novo cálculo) atualiza conceitos e definições introduzidos nas últimas recomendações das Nações Unidas e de outros organismos internacionais”, afirmou o IBGE em comunicado. O órgão também informou que o índice já revisado de 2004 ainda não é definitivo e o de 2005 é preliminar, porque ambos dependem de novos cálculos. No final de 2007, serão divulgados os dados definitivos de 2004 e de 2005, e revisados os índices trimestrais para 2006”, afirmou o IBGE. O novo sistema de cálculo do PIB leva em conta 56 atividades econômicas e 110 produtos, enquanto o anterior reunia dados de 43 atividades e 80 produtos. O setor de telecomunicações, por exemplo, agora incluirá informações sobre empresas de consultoria em hardware e software, Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 15 processamento de dados, atividades de bancos de dados e distribuição on-line, atividades cinematográficas e até de agências de notícias. O consumo de ONGs, igrejas e clubes também passará a ter peso no cálculo do PIB. As mudanças elevaram significativamente o peso do setor de serviços no PIB e reduziram o valor das atividades do Governo no cálculo do índice. O mesmo critério pode ser aplicado ao PIB per capita (por cabeça, em latim), que é o valor do PIB dividido pela população do país. O enfoque do PIB per capita real permite observar se a produção física de bens e serviços está crescendo acima do incremento da população. Este fato, quando positivo, indica uma possível melhora na qualidade de vida, já que aumentou a disponibilidade de bens e serviços por habitante, em média. Evidentemente, isso não é automático: a distribuição de renda pode ser perversa e concentrar os benefícios em camadas minoritárias da população. Mas o crescimento real per capita é sempre um objetivo desejável para o PIB. 5. As Três óticas do Produto Os três conceitos com os quais iniciamos esta aula são aspectos diferentes, mas relacionados entre si, que observamos na análise do Produto. Podemos agora detalhá-los melhor, como três óticas do mesmo processo: a produção, a geração de renda e a despesa com o produto. Ótica da Produção Esta abordagem nos leva a identificar os bens e serviços produzidos na sua complexidade e variedade. Mostramos em comentários anteriores uma primeira subdivisão: bens de consumo não duráveis e duráveis, bens intermediários, bens de capital, serviços. Também observamos os fatores de produção envolvidos no processo. A subdivisão acima representa as categorias de uso dos bens e serviços. Outra importante subdivisão refere-se aos setores de atividade econômica: • Agropecuária (setor primário); • Indústria (setor secundário); • Comércio e Serviços (setor terciário). Essa subdivisão prossegue – no caso da Indústria, ela se constitui de três grandes subsetores: • Extrativa Mineral; • de Transformação; • Construção Civil. Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 16 Por sua vez, a Indústria de Transformação é formada por um grande número de ramos ou segmentos: alimentícia, de bebidas, têxtil e do vestuário, calçados, química, de plásticos, metalúrgica, de papel e papelão, de produtos de borracha, de vidro, etc. Da mesma forma, o Comércio subdivide-se em varejista e atacadista, cada um com diversas ramificações de acordo com as especialidades abrangidas. Os serviços também são subdivididos: financeiros, detransporte, de energia, serviços pessoais e assim por diante. A ótica de produção busca analisar o desempenho da economia observando a evolução das categorias de uso, dos setores e subsetores de atividade e comparando-as entre si e com o conjunto. Ela também observa os fatores de produção, sua escassez ou abundância relativa. A distribuição do Valor Adicionado pelos diversos setores e subsetores é outra informação relevante, assim como as inter-relações entre eles (quem vende para quem e compra de quem, em quais proporções ). Ótica da Renda Já constatamos que a Renda Nacional é constituída pelas remunerações dos proprietários dos fatores de produção envolvidos no processo produtivo. O estudo da evolução desses componentes e da sua distribuição (por exemplo, a participação relativa dos salários na renda nacional) é o foco desta abordagem. Ótica da Despesa Como o PIB é gasto? Quem compra os bens e serviços produzidos? Que efeito tem no próprio PIB cada um dos componentes do gasto realizado pela sociedade? Essas são as preocupações atendidas pela ótica da Despesa. Expressamos a Despesa Nacional – os gastos com a compra do PIB – através de uma expressão muito utilizada em Macroeconomia: Y = C + I + G + (X – M), onde Y = Produto ou Renda (no caso, falamos do Produto Nacional) C = consumo das famílias I = investimento (compra de bens de capital pelas empresas) G = gastos do governo (realizados com recursos retirados das famílias e empresas por meio dos impostos) X – M = exportações menos importações, ou seja, o saldo do comércio exterior Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 17 Vamos entender o significado desta importante equação macroeconômica. A despesa com o PIB compõe-se de bens de consumo e serviços consumidos pelas famílias; de bens de capital, cuja compra pelas empresas representa um investimento - isto é, ampliação da sua capacidade produtiva; de compras do governo, que retira recursos das famílias e empresas por meio da tributação e despende-os na compra de bens e serviços, incluindo bens de capital (o governo também investe, é o chamado investimento público). Finalmente, uma parte da produção nacional de bens e serviços é comprada por famílias, empresas e governos no Exterior (passaremos a utilizar a expressão Resto do Mundo, consagrada nos livros-textos de Macroeconomia). Se fecharmos a equação assim, o resultado será maior que o PIB, porque as famílias, empresas e o governo também consomem bens e serviços produzidos no Resto do Mundo (importados). Assim, somamos as exportações e subtraímos as importações para completar a fórmula da Despesa com o PIB. 5.1. Renda Disponível e Investimento: dois conceitos importantes O Consumo é um componente fundamental do PIB na ótica da despesa. As famílias consomem de acordo com sua renda, o que significa que variações na Renda Nacional afetam o Consumo agregado e, portanto, o PIB. O conceito fundamental, nesse caso, é a Renda Pessoal Disponível (RPD), que mede a parcela da Renda Nacional que fica efetivamente com as pessoas. Para chegar à RPD, partimos da Renda Nacional (RN) e deduzimos todas as parcelas não distribuídas às famílias: os Lucros Retidos pelas empresas (não distribuídos aos acionistas); os Impostos Diretos e as Contribuições Previdenciárias, FGTS e assemelhados, pagos pelas empresas. Por outro lado, acrescentamos os pagamentos de Transferências do governo (aposentadorias e pensões, seguro-desemprego, bolsas, etc.). Chegamos, assim, à Renda Pessoal (RP). Deduzindo os Impostos Diretos e contribuições previdenciárias e outras, pagos pelas pessoas físicas, encontramos a Renda Pessoal Disponível (RPD). Outro componente essencial do PIB na ótica da Despesa é o Investimento. Este possui uma importância fundamental na teoria macroeconômica, porque representa o fator-chave para o crescimento e o desenvolvimento econômico. Chamamos Investimento o gasto das empresas com a aquisição de bens de capital, isto é, com o aumento da sua capacidade produtiva. Assim, o Investimento significa ampliação da oferta de bens e serviços no futuro. Ao mesmo tempo, ele expressa a despesa com uma parte do PIB já produzido. Por essa razão, o Investimento é uma ponte entre o presente e o futuro. Por convenção, também denominamos Investimento o aumento dos estoques das empresas (por analogia, a redução de estoques é um desinvestimento ou investimento negativo). Assim, quando uma empresa realiza determinado volume de produção do qual apenas uma parte será Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 18 vendida, o restante (novo estoque) passa a ser considerado na Teoria Econômica como Investimento - neste caso, um aumento na capacidade de consumo futuro. Portanto, Investimento representa a aquisição de bens de capital, com a ampliação da capacidade física de produção das empresas, mais a variação de estoques. Se você teve dúvidas sobre o cômputo da variação de estoques como Investimento, vamos admitir a hipótese simplificadora de que ocorram apenas variações desejadas dos estoques das empresas. A ocorrência de estoques indesejados é o cerne das crises econômicas analisadas por Keynes (excesso de Oferta Agregada, ou insuficiência da Demanda Agregada) e, por isso, será vista na aula seguinte. 6. Algumas identidades importantes Vamos voltar ao fluxo circular da renda apresentado no início, no esquema 1 e 2. Na mesma aula, descrevemos o método dos modelos ou simplificações – o próprio fluxo circular é uma aplicação desse método. Agora, vamos dar maior consistência ao modelo, supondo dois novos fluxos: as famílias não gastam tudo o que recebem em consumo, elas poupam; por seu lado, as empresas não aplicam todos os seus recursos na produção de bens e serviços, elas investem uma parte na ampliação da sua capacidade produtiva. Assim, temos duas equações representativas dos dois lados do modelo, os dois agentes econômicos que o integram: famílias e empresas. As equações são as seguintes: Y = C + S Y = C + I A primeira equação mostra que a renda (Y) das famílias é gasta no consumo (C) ou na poupança (S, do inglês saving). A segunda nos diz que o produto nacional (gerado pelas empresas) compõe-se de consumo (bens e serviços para as famílias) e investimento (bens de capital para as próprias empresas). Como já vimos que a Renda e o Produto são equivalentes (por isso usamos o mesmo símbolo), podemos igualar as equações: C + S = C + I, de onde vem S + I Ou seja, a poupança é igual ao investimento. Esta é uma identidade contábil, que sempre se verifica a posteriori, isto é, uma vez realizado o fluxo econômico (em geral, ele é medido no Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 19 período de um ano). Sempre devemos nos lembrar, ao usar esta identidade, que estamos considerando a variação dos estoques como investimento. A maneira pela qual a poupança das famílias se transforma em investimentos das empresas será mais bem entendida no estudo do sistema financeiro, cuja principal função é exatamente realizar essa transferência dos poupadores aos tomadores de empréstimos para empreendimentos produtivos. Continuando a tornar o modelo mais complexo – portanto, mais próximo da realidade – vamos introduzir o Governo no fluxo da renda e do produto. O Governo retira recursos das famílias e empresas através dos tributos (T) e realiza gastos (G) com esses recursos, que aumentam a Demanda Agregada. Assim, a renda das famílias agora se destina ao consumo (C), à poupança (S) ou aos tributos (T). O produto, por sua vez, compõe-se dos bens de consumo (C), do investimento (I) e do gasto governamental(G), ou seja: Y = C + S + T e Y = C + I + G Igualando as equações, vem: S + T = I + G Esta nova equação também pode ser reescrita assim: G - T = S – I Isto indica que o excesso de gastos do governo sobre sua arrecadação tributária (o chamado déficit público) será financiado pela poupança líquida das famílias (do setor privado). O termo líquido significa a parte da poupança não canalizada para os investimentos. O governo será o tomador desses recursos, através da dívida pública. Vamos acrescentar agora o Resto do Mundo ao nosso modelo. O país realiza exportações de bens e serviços (X) e também os importa (M). As importações figuram no lado da renda, porque é um dispêndio realizado pelos detentores dos recursos originados do fluxo de renda. As exportações são uma parte do produto nacional. Assim, temos: Y = C + S + T + M e Y = C + I + G + X Igualando, vem: S + T + M = I + G + X Também podemos rearranjar esta equação, de duas formas interessantes para observarmos alguns processos macroeconômicos: Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 20 1) I = S + (T – G) + (M – X) 2) (G – T) = (S – I) + (M – X) A primeira equação nos diz que o investimento será financiado pela poupança privada (S); pela poupança pública (T – G) - ou seja, o oposto do déficit público; e pela poupança externa (M – X), isto é, os recursos que o país terá que obter do Resto do Mundo para financiar o excesso de importações sobre as exportações. Na segunda equação, vemos que o déficit público acaba sendo financiado pela poupança privada líquida e pela poupança externa. Ou seja, o setor privado torna-se credor do governo (dívida pública interna) e o setor externo torna-se credor do país (dívida externa, que pode ser pública e/ou privada). No caso da dívida externa ser privada, os recursos externos são tomados por agentes privados, que, por outro lado, financiarão a dívida interna do governo – dessa forma, a dívida externa é internalizada. 7. PIB Real e PIB Nominal Vimos acima que o PIB mede a despesa total em bens e serviços em uma economia. Se a despesa aumenta de um ano para o outro (ou seja, se o valor do PIB aumenta), ha duas possíveis explicações para esse fato: em primeiro lugar, pode-se dizer que a economia esta produzindo mais, e o valor dos componentes do PIB aumenta por isso; mas também e possível que a economia tenha produzido o mesmo tanto, ou ate menos, e os preços tenham aumentado. E ai surge um problema na analise do PIB como indicador da produção de uns pais: como saber se as alterações do PIB de um período para o outro são frutos de mais produção ou de uma alteração nos preços? E para isso que os economistas efetuam a distinção entre PIB real e PIB nominal. O PIB real avalia a produção de bens e serviços a preços constantes de um ano-base (um ano cujos preços de mercado são estabelecidos como padrão para mensuração), ou seja, faz-se a seguinte hipótese: qual seria o PIB no período analisado se os preços do ano-base tivessem se mantido, segundo as 11quantidades atuais? Desse modo, o calculo do PIB real não faz nada mais que multiplicar as quantidades comercializadas de todos os bens no ano corrente (isso e, no ano em analise) pelos preços dos mesmos bens no ano-base. Você vera abaixo um exemplo numérico. Mas antes disso, vamos definir PIB nominal. O PIB nominal avalia a produção de bens e serviços a preços correntes, ou seja, considera as variações de preços ocorridas na economia. O PIB nominal não esta preocupado em retirar os efeitos da inflação da economia (que e o que o PIB real faz), mas sim em avaliar o montante total de produção do período em questão, quanto de dinheiro “circulou” no fluxo da renda nesse período. O PIB nominal e dado, portanto, pelo produto de quantidade vendida no ano corrente pelos preços do próprio ano corrente. Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 21 Como você pode ver, a única coisa que se altera nas mensurações do PIB real e do PIB nominal são os preços: no primeiro caso, os preços são do ano-base; no segundo, do ano corrente. E a diferença de valores entre os dois nos mostra os efeitos da variação de preços total na economia (que você vera, na próxima unidade deste modulo, tratar-se da inflação). Vejamos agora o exemplo numérico. Suponha uma economia simples em que existam apenas dois mercados, de batata frita e refrigerante. Os dados de preços e quantidades dessa economia ao longo dos anos de 2007, 2008 e 2009 estão apresentados na tabela abaixo. O PIB nominal, como vimos acima, e dado pelo produto de preços e quantidades no próprio ano em questão. Desse modo, temos que: PIBn2007 = 4x100+2x150 = R$700 PIBn2008 = 5x80+2,5x120 = R$700 PIBn2009 = 5,5x80+1,2x200 = R$680 O PIB nominal revela, portanto, que a produção da economia permaneceu constante de 2007 para 2008, sofrendo uma ligeira queda em 2009. Vejamos agora o que o PIB real tem a nos dizer. Consideraremos como ano-base o ano de 2007. PIBr2007 = 4x100+2x150 = R$700 Como você pode perceber, o PIB real no ano-base coincidiu com seu PIB nominal. E isso sempre ocorre, uma vez que os preços tomados para o calculo do PIB real são os preços do ano-base (que, no caso, e o próprio ano em questão). PIBr2008 = 4x80+2x120 = R$560 PIBr2009 = 4x80+2x200 = R$720 Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 22 Observe agora que, se descontarmos os efeitos das variações de preços (isso e, calculando-se o PIB real), temos uma situação diferente da mostrada por meio do PIB nominal: o PIB real em 2008 foi menor que o de 2007 (lembre-se que o PIB nominal de 2007 e 2008 e igual), enquanto o PIB real em 2009 foi maior que o de 2008 (lembre-se que o PIB nominal de 2009 e menor que o de 2007). Mas então, qual das duas formas e a correta? Não existe forma correta ou errada. Ambas servem para seus próprios propósitos. Como você viu acima, se você quiser saber qual foi à produção de fato de um ano, sem deixar que as variações de preços interfiram na sua analise, você deve observar o PIB real; se você quiser saber qual foi o montante total de dinheiro (ou seja, a despesa total) que circulou na economia, independentemente de suas variações de preços, ai o recomendável e utilizar o PIB nominal. 7.1. Deflator implícito do PIB Como você viu, o PIB nominal reflete, ao mesmo tempo, os preços dos bens e serviços e as quantidades comercializadas desse bem no ano corrente, enquanto o PIB real, ao considerar os preços apenas do ano-base, reflete apenas as quantidades produzidas. Temos, portanto, a seguinte situação: PIB nominal = preços correntes x quantidades correntes PIB real = preços do ano-base x quantidades correntes Se quisermos, portanto, avaliar a variação dos preços ocorrida do ano-base para o ano corrente em questão, e possível fazê-lo observando os valores do PIB nominal e do PIB real do ano corrente. Se dividirmos PIB nominal por PIB real, temos: Temos, portanto, que a razão entre PIB nominal e PIB real nos da à relação entre os preços correntes e os preços do ano-base. Dessa maneira, surge o chamado Deflator Implícito do PIB, “uma medida do nível de preços calculada como a razão entre o PIB nominal e o PIB real multiplicada por cem” (MANKIW, 2005). Portanto, Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 23 Como PIB nominal e PIB real no ano-base são iguais, o deflator implícito do PIB para o ano-base e sempre igual a cem. Para os anos subsequentes, o deflator mede as variações nos preços (e não nas quantidades), ou seja, ele “mede a variação do PIB nominal a partir do ano-base que não pode ser atribuídaa uma variação do PIB real” (MANKIW, 2005). Tomemos os exemplos dados acima: O valor do deflator implícito do PIB para cada um desses anos será, portanto: Deflator2007 = (700/700)x100 = 100 Deflator2008 = (700/560)x100 = 125 Deflator2009 = (680/720)x100 = 94,44 O deflator e, dessa maneira, uma das medidas da variação do nível geral de preços em uma economia. Você vera no próximo texto outra medida, o Índice de Preços ao Consumidor, e aprendera as diferenças básicas entre esse índice e o deflator para a mensuração da alteração de preços. Pelos valores calculados, podemos chegar ao valor da inflação medida pelo deflator implícito do PIB. Essa variação pode ser medida da seguinte maneira: 7.2 PIB e Bem Estar Econômico O PIB e regularmente utilizado como indicador de bem-estar econômico, seja por indicar a riqueza total de um pais ou pelo PIB per capita (que e obtido pela divisão do valor total do PIB pela população local). Mas não e um indicador ideal. O PIB per capita, por exemplo, não leva em consideração a distribuição de renda, o acesso à saúde e educação etc. (o assunto indicadores sociais e desigualdade será tratado na ultima unidade do curso). O próprio PIB não indica a preservação do meio ambiente. Um pais pode experimentar um rápido crescimento econômico em detrimento da preservação ambiental, o que esconderia seus verdadeiros efeitos sobre o Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 24 “bem-estar” dessa população. O PIB não considera tampouco as atividades que ocorrem fora dos mercados. Produção doméstica, serviço de dona-de-casa, trabalho voluntário, horas de lazer perdidas com o aumento do trabalho: nada e computado no PIB. Mas isso não faz do PIB uma medida desprezível do bem-estar econômico. No fim das contas, pode-se dizer que o PIB e, sim, uma boa medida do bem-estar econômico, uma vez que nos permite mensurar a renda, a despesa e o produto totais de uma economia ao longo de um período. Dessa maneira, permite- nos avaliar o desenvolvimento e o crescimento médios da economia como um todo. Assim, o PIB não se revela uma medida eficaz do bem-estar econômico para a maioria dos propósitos a que se destina, mas não para todos. Exercício Exemplo 01 - A tabela 1 apresenta valores de mercado de uma economia em dois períodos. Encontre os valores reais para o período 2 com base no período 1. Tabela 1 Período 1 Período 2 Produtos Quant Preço $ Valor Quant. Preço $ Valor Automóveis (un) 10 2.000,00 10 3.000,00 Liquidificadores (un) 30 20,00 30 40,00 Batatas (ton) 10 200,00 10 100,00 Tecidos (ton) 30 5,00 30 10,00 Bebidas (ton) 20 10,00 20 20,00 Total Tabela 2 Período 1 Período 2 Produtos Quant Preço $ Valor Quant. Preço $ Valor Automóveis (un) 10 2.000,00 12 3.000,00 Liquidificadores (un) 30 20,00 29 40,00 Batatas (ton) 10 200,00 11 100,00 Tecidos (ton) 30 5,00 31 10,00 Bebidas (ton) 20 10,00 21 20,00 Total Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 25 8. As Diversas Medidas do Produto O PIB, como você viu acima, e uma das maneiras de mensuração do produto disponível em Economia. Mas não e a única. Inicialmente, você já viu que ha diferentes óticas de mensuração do PIB, cada uma analisando diferentes componentes. Dessa maneira, qual será a relação entre o PIB medido pela ótica da produção, o medido pela despesa e o medido pela renda? Você deve se lembrar que o PIB pela ótica da despesa reflete os valores que foram pagos no mercado para compra dos bens e serviços produzidos, dividindo-se entre consumo, investimento, gastos do governo e exportações liquidas. Dessa maneira, ao calcularmos o PIB pela ótica da despesa, obtemos o chamado PIB a preços de mercado (ou PIBpm), que reflete, portanto, o valor de mercado pago pelos bens e serviços na economia. Já o PIB pela ótica da renda mensura a remuneracao dos fatores de produção em todas as etapas do processo de produção, e por isso e chamado PIB a custo de fatores (ou PIBcf). Não deveriam, portanto, dar o mesmo valor os produtos calculados tanto pela ótica da despesa quanto pela ótica da renda? Apenas se não houver participação governamental na economia. O Governo pode intervir na economia por meio da cobrança de impostos indiretos e pela concessão de subsídios. Dessa maneira, o valor de mercado dos bens diferencia-se do custo de seus fatores de produção por esses dois componentes: impostos indiretos e subsídios. Qual e, então, a relação existente entre o PIB calculado a preços de mercado e o PIB a custo de fatores? Observe a relação abaixo: PIBpm – impostos indiretos + subsídios = PIBcf Ou PIBcf + impostos indiretos – subsídios = PIBpm Isso porque, enquanto os impostos indiretos são gastos pelo produtor, sendo, portanto adicionados ao custo de produção para que se componha o preço de mercado do produto, os subsídios funcionam como auxilio a produção, e seu valor e descontado do custo de produção para formar o preço de mercado. E essa, portanto, a relação que se estabelece entre PIBpm e PIBcf. Como você viu acima, o valor PIB pela soma dos valores adicionados (ótica da produção) equivale ao PIB pela ótica da renda. Dessa maneira, o PIB calculado pela ótica da produção sai, como pela renda, a custo de fatores. Veremos agora outras medidas diferentes do PIB, mas antes definiremos alguns conceitos econômicos importantes: Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 26 BRUTO – o “B” de PIB indica que está incluso no valor do PIB os gastos com depreciação, ou seja, a deterioração dos bens de capital na produção. Os gastos com reparos de maquinas, por exemplo, entram como depreciação, e a depreciação esta inclusa no PIB. LIQUIDO – caso se exclua o valor da depreciação com maquinas e equipamentos do produto bruto, teremos então o produto liquido, que e, portanto, a quantidade total de produção, descontados o valor da depreciação. INTERNO – o “I” do PIB indica que se inclui no PIB o valor de todos os bens e serviços produzidos internamente em uns pais, independentemente da nacionalidade da empresa ou funcionário que os produziu. Ainda que uma empresa estrangeira instalada no pais remeta rendas para o exterior, esse valor e incluído no produto interno, uma vez que foi produzido dentro dos limites geográficos desse pais. Se uma empresa do pais em questão esta instalada no exterior, ainda que ela remeta rendas para esse pais, suas rendas não entrarão no produto interno, uma vez que não foi produzida no próprio pais. Impostos indiretos são aqueles cobrados por produto. Os impostos diretos correspondem ao imposto de renda. NACIONAL – quando se quer contabilizar não o que foi produzido dentro das fronteiras do pais, mas sim tudo o que foi produzido por empresas e pessoas do próprio pais e enviado para o pais (afinal, de nada adianta uma empresa nacional produzir no exterior e manter renda lá fora), utiliza-se o produto nacional. Ele inclui, portanto, os rendimentos enviados para o pais (e exclui os rendimentos enviados para o exterior). Agora, sim, qual a relação entre essas medidas? Produto Bruto – depreciação = Produto Liquido ou Produto Liquido + depreciação = Produto Bruto Produto Interno – renda enviada ao exterior + renda recebida do exterior = Produto Nacional Como você já aprendeu, podemos utilizar o termo “liquido” indicando uma subtração. Nesse caso, podemos dizer que renda enviada ao exterior – renda recebida do exterior = renda liquida enviada ao exterior. Assim,Produto Interno – (renda enviada ao exterior – renda recebida do exterior) = Produto Nacional Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 27 Produto Interno – renda liquida enviada ao exterior = Produto Nacional ou Produto Nacional + renda liquida enviada ao exterior = Produto Interno Em resumo, temos: Produto Bruto – depreciação = Produto Liquido Produto Interno – renda liquida enviada ao exterior = Produto Nacional Produto a preços de mercado – impostos indiretos + subsídios = Produto a custo de fatores As nomenclaturas para os conceitos apresentados acima são: Bruto – B; Liquido – L; Interno – I;Nacional – N; Preços de Mercado – PM; Custo de Fatores – cf. Desse modo, e possível termos combinações dessas varias medidas do produto, tais como: PIBpm, PIBcf, PNBpm, PNBcf, PILpm, PILcf, PNLpm e PNLcf. Para achar o valor de um a partir do outro, basta ver o que muda na nomenclatura de um para a do outro, e então efetuar as transformações necessárias. Por exemplo: se você tem o PIBpm e deseja encontrar o PNBpm. A única alteração e do “I” e do “N”, ou seja, você deve transformar o valor interno em valor nacional. Para fazê-lo, basta seguir conforme explicado acima. Assim, Atenção: Renda enviada e renda recebida não são equivalentes de importação e exportação. Uma empresa brasileira em Angola que envia rendimentos para sua matriz no Brasil o faz sem comprar qualquer produto em troca. Dessa maneira, não ha relação entre renda liquida enviada ao exterior e importações líquidas. Não confunda! PIBpm – renda liquida enviada ao exterior = PNBpm Procede-se da mesma maneira quando ha mais de uma transformação. Por exemplo, Para transformar o PIBpm em PNLcf, deve-se fazer o seguinte: PIBpm – depreciação – renda liquida enviada ao exterior – impostos indiretos + subsídios = PNLcf 8. 1. O PIB e o PNB Como o que diferencia PIB e PNB e a renda liquida enviada ao exterior, e de se esperar que o PNB seja maior naqueles países em que a renda liquida enviada ao exterior seja menor, ou seja, aqueles países que recebem mais de suas empresas e residentes no exterior do que enviam para Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 28 o exterior as empresas e residentes estrangeiros instalados nesse pais. E o caso de países como os Estados Unidos. Esses países possuem, portanto, um PNB maior que seu PIB. Em países como o Brasil, em que a renda liquida enviada ao exterior e positiva (ou seja, ha mais renda de estrangeiros enviada para o exterior do que renda de empresas e indivíduos brasileiros no exterior enviada para o Brasil), o PIB e, por consequência, maior que o PNB. A importância disso reside no fato de qual indicador utilizar como medida da produção nacional. É evidente que e mais interessante para um pais parecer (ao menos nos números) que sua economia e maior, mais forte e produz mais. Dessa maneira, e de se esperar que os países analisem qual o maior indicador dentre PIB e PNB e o utilizem com mais predominância. Desse modo, o PIB e a medida do produto mais utilizada no Brasil, enquanto o PNB e o mais utilizado nos Estados Unidos. 9. Síntese Nesta aula, você travou contato com os principais elementos da Contabilidade Nacional. Verificou o significado e a identidade entre o Produto, a Renda e a Despesa. Observou os diversos conceitos em que o Produto é calculado: Interno ou Nacional, bruto ou líquido, a custo de fatores ou a preços de mercado. Ficou sabendo a diferença entre o Produto Nominal e o Real e a importância do PIB per capita. Também vimos os conceitos de Renda Pessoal Disponível e de Investimento, antecipando a importância deste último para o crescimento econômico. Partindo do modelo mais simples do fluxo da renda, fomos observando as identidades entre poupança e investimento e agregando novos agentes (Governo, Resto do Mundo) para obter versões mais complexas daquele fluxo e das relações entre seus componentes. 10. Notas Estamos usando o termo estrangeiro apenas no sentido de alguém residente em outro país, assim como nacional significa, neste texto, um residente no Brasil. A nacionalidade não está sendo considerada: um brasileiro residente nos EUA, com capital aplicado no Brasil, é um estrangeiro nesse sentido (há uma remessa de renda ao Exterior); um alemão residente no Brasil, que investe na Argentina. 10. Definição PIB (Produto Interno Bruto) é a soma de todos os serviços e bens produzidos num período (mês, semestre, ano) numa determinada região (país, estado, cidade, continente). O PIB é expresso em Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 29 valores monetários (no caso do Brasil em Reais). Ele é um importante indicador da atividade econômica de uma região, representando o crescimento econômico. Vale dizer que no cálculo do PIB não são considerados os insumos de produção (matérias-primas, mão-de-obra, impostos e energia). A Fórmula para o cálculo do PIB de uma região é a seguinte: PIB = C+I+G+X-M. Onde, C (consumo privado), I (investimentos totais feitos na região), G (gastos dos governos), X (exportações) e M (importações). O PIB per capita (por pessoa), também conhecido como renda per capita, é obtido ao pegarmos o PIB de uma região, dividindo-o pelo número de habitantes desta região. O PIB do Brasil no ano de 2011, em valores correntes, foi de R$ 4,143 trilhões (crescimento de 2,7 % sobre o ano de 2010). PIB do Brasil em 2011 No ano de 2011 o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu 2,7% sobre o ano anterior, totalizando R$ 4,143 trilhões ou US$ 2,367 trilhões (dados divulgados pelo IBGE em 06 de março de 2012). Este crescimento, de acordo com o IBGE é resultado do crescimento de 4,3% nos impostos e 2,5% no valor adicionado. Foi um crescimento abaixo do potencial da economia brasileira. O crescimento do PIB em 2011, segundo economistas, foi afetado pela crise econômica nos Estados Unidos e na Europa. O crescimento do PIB também foi prejudicado pela política contra inflação adotada pelo Banco Central, que elevou as taxas de juros (Selic), desestimulando o consumo. Crescimento do PIB em 2011, por setores da economia: - Agropecuária: 3,9% - Indústria: 1,6% - Serviços: 2,7 PIB per capita (divisão do PIB pelo número de habitantes) Para identificar a diferença do nível de riqueza da população de vários Países, Estados ou Municípios pode-se utilizar o conceito de PIB Per capita que é encontrado através da divisão do PIB pelo número de habitantes. Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 30 Ex: PIB Per capita do Brasil em 2009: PIB Per capta = = Isto quer dizer que a renda média do PIB Brasileiro no ano 2009 foi de R$ 16.414,00. Quanto mais desenvolvido é o País, maior é a renda per capita. Em 2011 o PIB per capita atingiu R$ 21.252 (equivalente a US$ 12.144 em 06/03/2012), com aumento de 1,8% em volume sobre o ano anterior. Evolução do PIB do Brasil por trimestre (2011): - 1º Trimestre: 1,3% - 2º Trimestre: 0,8% - 3º Trimestre: - 0,1% - 4º Trimestre: 0,3% Demanda Interna (2011) - Taxa de investimento: 19,3% do PIB - Taxa de Poupança: 17,2% do PIB Demanda Externa (2011) - Crescimento de 4,5% das exportações - Crescimento de 9,7% nas importações Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 31 Evolução do PIB do Brasil nos últimos anos: 2,7% (2002); 1,1% (2003); 5,7% (2004); 3,2% (2005); 4 % (2006); 6,1% (2007); 5,2% (2008); - 0,3% (2009); 7,5% (2010); 2,7% (2011). Fonte: IBGE PIBbrasileiro no primeiro trimestre de 2012 apresentou taxa de 0,2% O Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado apresentou taxa de crescimento na ordem de 0,2%, na comparação do primeiro trimestre de 2012 contra o quarto trimestre de 2011, levando-se em consideração a série com ajuste sazonal. Na comparação com igual período de 2011, houve expansão do PIB de 0,8%. No acumulado dos quatro trimestres encerrados no primeiro trimestre de 2012, o PIB registrou crescimento de 1,9% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. Em valores correntes, no primeiro trimestre de 2012 a produção gerada pela indústria, agricultura, comércio, serviços e consumo, como também pelos investimentos, importações e exportações do país alcançou R$ 1.033,3 bilhões, sendo R$ 876,3 bilhões referentes ao valor adicionado (VA) a preços básicos, e R$ 157,1 bilhões, aos impostos sobre produtos líquidos de subsídios. O PIB a preços de mercado apresentou variação positiva de 0,2%, na comparação do primeiro trimestre de 2012 contra o quarto trimestre de 2011, levando-se em consideração a série com ajuste sazonal. O destaque positivo foi para a indústria, que teve crescimento de 1,7% no volume do Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 32 valor adicionado. Nos serviços, houve aumento de 0,6%, enquanto a agropecuária registrou queda de 7,3%. Pela ótica da demanda, no primeiro trimestre de 2012 a despesa de consumo da administração pública e a despesa de consumo das famílias cresceram na ordem de 1,5% e 1,0%, respectivamente. Já o outro componente da demanda interna, a formação bruta de capital fixo, teve queda de 1,8%. No que se refere ao setor externo, as importações de bens e serviços cresceram em ritmo superior ao das exportações: 1,1% contra 0,2%. A tabela 4 apresenta as variações dos componentes da demanda em relação ao trimestre imediatamente anterior. Quando comparado a igual período do ano anterior, o PIB a preços de mercado apresentou crescimento de 0,8% no primeiro trimestre de 2012. O valor adicionado a preços básicos cresceu 0,6% e os impostos sobre produtos líquidos desubsídios, 1,6%. Dentre as atividades que contribuem para a geração do valor adicionado, o destaque negativo foi para a agropecuária, que neste trimestre caiu 8,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. De acordo com o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA/IBGE-abril de 2012), a safra de alguns produtos relevantes para a agricultura, no 1º trimestre, registrou queda nas estimativas de produção anual e produtividade, como é o caso da soja (-11,4%), arroz (-13,8) e fumo (-15,9%). Por outro lado, o milho e o algodão, cujas safras também são significativas nesse período, apresentaram estimativas de crescimento de produção na ordem de 19,5% e 1,6%, respectivamente. A indústria, na mesma base de comparação, manteve-se praticamente estável (variação positiva de 0,1%); a indústria de transformação apresentou queda de 2,6%. O valor adicionado de serviços cresceu 1,6%, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Todas as atividades que o compõem registraram variações positivas, com destaque para os serviços de informação, que cresceram 4,1%; o setor de administração, saúde e educação pública apresentou crescimento de 2,9%, seguido por comércio, com 1,6%. A taxa de investimento, constituída principalmente por máquinas e equipamentos (bens de capital) e pela construção civil, registrou queda de 2,1% em relação ao mesmo período do ano de 2011. Dentre os fatores que contribuíram para explicar a queda está a menor produção de máquinas e equipamentos. Em termos de representatividade, os investimentos atingiram 18,7% do PIB no primeiro trimestre de 2012, índice inferior à taxa referente ao igual período do ano anterior (19,5%), o que foi resultante da queda em volume de investimentos. Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 33 11. INFLAÇÃO Segundo Vasconcelos (2004), a inflação pode ser definida como uma situação de aumento contínuo e generalizado no nível geral de preços. Ou seja, os movimentos inflacionários representam elevações em todos os bens produzidos pela economia e não meramente o aumento de um determinado preço e de forma contínua, não meramente uma elevação esporádica dos preços. 11.1 TIPOS DE INFLAÇÃO Vejamos algumas causas usuais da inflação: ■ Inflação de Custos - definida como o aumento no preço dos custos de produção de um determinado bem. Um exemplo importante são os salários dos empregados. ■ Inflação Inercial – Segundo Vasconcelos (2004), na visão inercialista, os mecanismos de indexação formal (contrato, aluguéis, salários) e informal (reajustes de preços no comércio, indústria, tarifas públicas) provocam a perpetuação das taxas de inflação anteriores, que são sempre repassadas aos preços correntes. ■ Inflação de Demanda – Para Vasconcelos (2004) a inflação de demanda é causada pelo excesso de demanda agregada, em relação à produção disponível de bens e serviços. É considerada o tipo mais “clássico” de inflação. Uma causa freqüente da inflação de demanda é a emissão monetária para financiar déficits orçamentários do governo. Por esta razão, intuitivamente, ela pode ser entendida como “dinheiro demais em busca de poucos bens”. Outra Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 34 situação seria a adoção de políticas econômicas que visam expandir a demanda agregada com o objetivo de aumentar o produto no curto prazo. 11.2 PRINCIPAIS ÍNDICES DE PREÇOS NO BRASIL As taxas de inflação são mensuradas por inúmeros índices, classificados de acordo com o intervalo de tempo adotado, com o regime de ponderação utilizado e com o conjunto de bens e serviços envolvidos. As duas principais instituições que realizam pesquisa sobre a evolução do nível de preços na economia brasileira são: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) Apura os seguintes índices: ■ INPC - Índice Nacional de Preços ao Consumidor – é calculado com base em índice elaborado para nove regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além do Distrito Federal e do município de Goiânia. Considera as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 e 8 salários Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 35 mínimos, cujo chefe é assalariado em sua ocupação principal e residente nas áreas urbanas das regiões. ■ IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Amplo – Abrange as mesmas localidades do INPC para seu cálculo. Considera as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 e 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos, e residentes nas áreas urbanas das regiões. Fundação Getulio Vargas Apura os Índices Gerais de Preços, que são compostos pelos seguintes índices: ■ 60% - IPA - Índice de Preços no Atacado: considera atualmente em sua base de cálculo 356 produtos industriais e agropecuários, matérias-primas agrícolas e industriais, intermediários e produtos finais e tem abrangência nacional. O IPA é publicado segundo dois conceitos: - oferta global: ponderação inclui a produção interna mais importação, refletindo os preços do total de transações realizadas no País, seja de produtos para uso interno seja para exportação; e - disponibilidade interna: só considera os produtos para uso interno. ■ 30% - IPC - Índice de Preços ao Consumidor: considera uma cesta de 425 mercadorias e abrange 12 principais regiões metropolitanas (Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Brasília, Goiânia, Curitiba, Porto Alegre, Belém, Recife e Belo Horizonte).■ 10% - INCC - Índice Nacional da Construção Civil: considera 67 itens referente a mão-de-obra, materiais e serviços do setor. Abrange as mesmas regiões metropolitanas que o IPC. Os Indices Gerais de Preços - IGP apurados são os seguintes: ■ IGP-DI – Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna - calcula a variação de preços do dia 1 ao dia 30 do mês de referência e foi o primeiro a ser criado. ■ IGP-M – Índice Geral de Preços do Mercado - calculado com metodologia idêntica à do IGP-DI e mede a inflação do dia 21 do mês anterior ao de referência ao dia 20 do mês de referência. São apurados três valores parciais, com a última sendo a variação do mês. ■ IGP-10 – Índice Geral de Preços 10 – foi o último a ser criado a semelhança dos anteriores e mede a inflação do dia 11 do mês anterior ao de referência ao dia 10 do mês de referência. 11.3 AS DISTORÇÕES E AS CONSEQÜÊNCIAS DAS ALTAS TAXAS DE INFLAÇÃO Segundo Vasconcelos (2004), o processo inflacionário, especialmente aquele caracterizado por elevadas taxas e particularmente por taxas que oscilam, tem sua previsibilidade dificultada por parte dos agentes econômicos e promove Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 36 profundas distorções na estrutura produtiva. Em primeiro lugar, a elevação sistemática dos preços desequilibra o sistema de preços relativos, isto é, faz com que as mercadorias variem de preços entre si, confundindo o consumidor sobre o que é caro ou barato. A inflação também torna imprevisível a evolução dos custos de produção das firmas, principalmente no que se refere ao preço que manteria as margens de lucro constantes no tempo. Quando o empresário fixa seu preço e os custos aumentam mais do que o previsto, suas margens de lucro diminuem e o retorno do investimento pode ficar comprometido. E ao fixar seus preços acima da evolução dos custos, corre o risco de estabelecê-lo a um valor muito alto e, portanto, perder participação de mercado. Esses fatores influenciam a formação de expectativas sobre o futuro, desestimulando os investimentos no aumento da capacidade produtiva e, consequentemente, o nível de emprego da economia. Segundo Vasconcelos (2004), uma das distorções mais sérias provocadas pela inflação diz respeito à redução do poder aquisitivo das classes que dependem de rendimentos fixos, que possuem prazos legais de reajuste. Nesse caso, todos os trabalhadores assalariados têm seu poder de compra diminuído com o passar do tempo até que ocorra novo reajuste. Esse processo é mais intenso para os trabalhadores de baixa renda que não possuem mecanismos de proteção da renda real por meio de aplicações financeiras. O aumento generalizado de preços domésticos em níveis superiores aos preços internacionais torna os produtos nacionais mais caros relativamente aos produzidos em outros países, considerando uma taxa de câmbio estável. Esse evento incentiva a importação de produtos estrangeiros e afeta negativamente as exportações, diminuindo o saldo comercial do país. Num regime de taxa de câmbio flutuante é possível que a moeda doméstica se desvalorize ante às moedas de seus parceiros comerciais. Se a taxa de câmbio for administrada pelo banco central, a autoridade monetária pode vir a ter que realizar uma desvalorização da moeda doméstica. Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 37 Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 38 12 TEORIA MALTHUSIANA Em 1798, Malthus publicou seu Ensaio sobre a população, no qual desenvolveu uma teoria demográfica que se apoiava basicamente em dois postulados: 1. Crescimento da população; 2. Produção de Alimentos; A população, se não ocorrerem guerras, epidemias, desastres naturais, etc., tenderia a duplicar a cada 25 anos. Ela cresceria, portanto, em progressão geométrica (2, 4, 8, 16, 32…) e constituiria um fator variável, que cresceria sem parar. O crescimento da produção de alimentos ocorreria apenas em progressão aritmética (2, 4, 6, 8, 10…) e possuiria certo limite de produção, por depender de um fator fixo: a própria extensão territorial dos continentes. Ao considerar esses dois postulados, Malthus concluiu que o ritmo de crescimento populacional seria mais acelerado que o ritmo de crescimento da produção de alimentos (progressão geométrica versus progressão aritmética). Previu que as possibilidades de aumento da área cultivada estariam esgotadas, pois todos os continentes estariam plenamente ocupados pela agropecuária e, no entanto, a população mundial ainda continuaria crescendo. Consequências identificadas na teoria malthusiana: A consequência disso seria a falta de alimentos para abastecer as necessidades de consumo do planeta, e as mortes, doenças, guerras civis, disputas por territórios entre outras. Podemos resumir que a principal seria a fome. Proposta de Malthus: Para evitar essa consequência, Malthus, que além de economista era pastor da Igreja Anglicana, na época contrária aos métodos anticoncepcionais, propunha que as pessoas só tivessem filhos se possuíssem terras cultiváveis para poder alimenta-los. Falhas da teoria de Malthus: Pode-se verificar que suas previsões não se concretizaram: a população do planeta não duplicou a cada 25 anos, e a produção de alimentos se acelerou graças ao desenvolvimento tecnológico. Mesmo que se considere uma área fixa de cultivo, a quantidade produzida aumentou, uma vez que a produtividade (quantidade produzida por área; toneladas de arroz por hectare, por exemplo) também vem aumentando ao longo das décadas. Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 39 Por que Malthus errou? Essa teoria, quando foi elaborada, parecia muito consistente. Os erros de previsão estão ligados principalmente às limitações da época para a coleta de dados, já que Malthus tirou suas conclusões partindo da observação do comportamento demográfico em uma determinada região, com população predominantemente rural, e as considerou válidas para todo o planeta no transcorrer da história, sem considerar os progressos técnicos advindos da natural evolução humana. Não previu os efeitos decorrentes da urbanização na evolução demográfica e do progresso tecnológico aplicado à agricultura. Podemos exemplificar a teoria de Malthus no gráfico abaixo: Desde a apresentação da teoria de Malthus, são comuns os discursos que relacionam de forma simplista a ocorrência da fome no planeta ao crescimento populacional. A fome que castiga mais da metade da população mundial é resultado da má distribuição da renda e não da carência na produção de alimentos. Nos primeiros anos do século XXI, a produção agropecuária mundial era suficiente para alimentar cerca de 9 bilhões de pessoas, enquanto a população do planeta era pouco superior a 6 bilhões. A fome existe porque as pessoas não possuem a renda necessária para suprir suas necessidades básicas, fenômeno que pode ser observado facilmente no Brasil. Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 40 12. BIBLIOGRAFIA MANKIW, N.G. Introdução a Economia. Trad. Allan Vidigal Hastings. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. GREMAUD et al. Economia Brasileira Contemporânea. 4ed. São Paulo: Atlas, 2002. Cap. 2 Introdução a Economia – A Representação da Vida Econômica BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. NAKANO, Yoshiaki. Contabilidade Social. Apostila da FGV/SP: ECMACRO- L-9, agosto de 1972. Economia II – Teoria Microeconômica: Carlos J. Santana 41 NOTAS COMERCIO EXTREIOR 5º ADM