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Curso de Fisioterapia GABRIELLE SIDRIM DE CARVALHO AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA DA FUNCIONALIDADE DO IDOSO COM BASES NO ÍNDICE KATZ E ESCALA MIF RIO DE JANEIRO 2008 1 GABRIELLE SIDRIM DE CARVALHO AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA DA FUNCIONALIDADE DO IDOSO COM BASES NO ÍNDICE KATZ E ESCALA MIF Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida como requisito para obtenção do título de Fisioterapeuta. Orientador: Profº Jorge Barboza Rio de Janeiro 2008 2 GABRIELLE SIDRIM DE CARVALHO AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA DA FUNCIONALIDADE DO IDOSO COM BASES NO ÍNDICE KATZ E ESCALA MIF Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de Fisioterapeuta. Aprovada em: ____/____/2008. BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Jorge Barboza Universidade Veiga de Almeida - Presidente da Banca Examinadora. Prof. Dr. ____________________________ Universidade Veiga de Almeida - Membro da Banca Examinadora. Prof. Dr. ____________________________ Universidade Veiga de Almeida - Membro da Banca Examinadora. 3 RESUMO O envelhecimento populacional mundial é um tema muito estudado nos dias atuais. Com o envelhecimento o corpo humano apresenta diversas modificações, podendo fazer com que a capacidade funcional do idoso diminua. O objetivo deste trabalho é uma revisão da literatura em relação a dois instrumentos de avaliação da capacidade funcional do idoso, o índice Katz e a escala de medida de independência funcional. Com base neste estudo conclui-se que uma avaliação correta da capacidade funcional do idoso é de fundamental importância para um bom programa de tratamento fisioterapêutico. Palavras-chave: Funcionalidade. Idoso. Índice de Katz. Medida de Independência Funcional (MIF). 4 ABSTRACT The worldwide population aging is a theme very studied in nowadays. With the aging the human body presents several modifications, that can decreases the senior’s functional capacity. The aim of this work is a revision about the literature between two instruments of evaluation of the senior's functional capacity: the Katz index and the scale of functional independence measure. Based on this study I have concluded that a correct evaluation of the senior's functional capacity is extremelly important for a good program of fisiotherapeutics treatment. Key-Words: Functionality. Elderly. Katz Index. Functional Independence Measure (FIM). 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 06 CAPÍTULO 1 ENVELHECIMENTO ...................................................................... 08 1.1 Envelhecimento comum e bem-sucedido ................................................... 09 1.1.1 Envelhecimento normativo ........................................................................... 10 1.2 Senescência e Senilidade ............................................................................. 10 1.3 Teorias sobre o envelhecimento.................................................................. 11 1.3.1 Relógio Biológico.......................................................................................... 12 1.3.2 Erro Catastrófico .......................................................................................... 13 1.3.3 Proteínas Alteradas ...................................................................................... 14 1.4 Fatores que influenciam no envelhecimento .............................................. 15 1.4.1 Fatores intrínsecos ....................................................................................... 15 1.4.2 Fatores extrínsecos ...................................................................................... 17 1.5 Alterações que ocorre devido o envelhecimento ....................................... 19 CAPÍTULO 2 CAPACIDADE E INCAPACIDADE FUNCIONAL .......................... 24 2.1 Atividades da Vida diária .............................................................................. 26 2.1.2 Atividades instrumentais da vida diária ........................................................ 27 CAPÍTULO 3 AVALIAÇÂO FUNCIONAL ............................................................. 29 3.1 Instrumentos de avaliação ........................................................................... 30 3.1.1 Índice de Katz .............................................................................................. 30 3.1.2 Escala de medida de independência funcional ............................................ 36 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 40 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 41 6 INTRODUÇÃO O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial característico de países desenvolvidos e em países em desenvolvimento (KALACHE et al, 1987). No Brasil, a população idosa, idade maior ou igual à 60 anos, aumentou absurdamente, passou de 3 milhões em 1960 para 14 milhões em 2002 (aumento de 500% em quarenta anos) e tem estimativa para alcançar 32 milhões em 2020 (LIMA-COSTA & VERAS, 2003). Devido este envelhecimento da população, houve maior interesse por estudos sobre o tema e a preocupação por um envelhecimento saudável está cada vez mais presente na sociedade. Com este crescimento mundial da população idosa, a preocupação em relação à capacidade funcional vem aparecendo com destaque. Esse aumento gera maior probabilidade de ocorrência de doenças crônicas e, com isto, levando ao desenvolvimento de incapacidades associadas ao envelhecimento (RICCI at al, 2005). O envelhecimento biológico normal leva o indivíduo à uma diminuição das reservas funcionais do organismo, este efeito é observado em todos os aparelhos e sistemas do corpo humano: muscular, ósseo, nervoso, circulatório, pulmonar, endócrino e imunológico. Porém a velocidade do declínio varia muito entre os tecidos, assim como de uma pessoa para outra (VANDERVOORT, 2000). Essas diversas modificações que ocorre no corpo, como as alterações físicas, fisiológicas e cognitivas tornam o indivíduo mais propenso à morte. Estas alterações podem ocorrer devido a fatores intrínsecos e extrínsecos (GARBELLINI, 2007). Com o envelhecimento há uma diminuição da capacidade funcional da pessoa, tornando-a dependente em algumas atividades realizadas no dia-a-dia. Para mensurar essa dependência é necessária uma avaliação correta da sua funcionalidade, para identificação das principais deficiências e dificuldades. A partir desta avaliação correta do nível de incapacidade do individuo, é possível aumentar o efetivo das terapias propostas, através de uma prescrição complementar quanto aos cuidados necessários para amenizar e suprir as 7 deficiências funcionais e prevenir possíveis complicações queadvenham de uma dependência existente, visando a melhor qualidade de vida deste paciente, tornando sua vida mais confortável e independente possível. (YUASO & SGUIZZATTO, 1996). O diagnóstico baseado somente na avaliação clínica torna-se inadequado com a real condição de saúde dos indivíduos idosos, já que nesta faixa etária os níveis de funcionalidade e independência são dados mais importantes do que apenas a presença de condições mórbidas (RICCI at al, 2005). Há diversos instrumentos para realização destas avaliações da funcionalidade do idoso, neste presente trabalho será abordado o Índice Katz de Independência nas atividades da vida diária e a escala de medida de independência funcional. 8 1 ENVELHECIMENTO O envelhecimento é um processo lento, caracteriza-se pelas perdas progressivas e muitas vezes irreversíveis das capacidades fisiológicas e órgãos, dos sistemas e de adaptação e certas situações de estresse, inicia-se em algum momento da vida do ser humano e acentua-se em diferentes ocasiões (MIATELO, 1978; MOTTA 1989). Segundo Confort (1979), o envelhecimento se caracteriza por redução da capacidade de adaptação do equilíbrio homeostático perante situações de sobrecarga funcional do organismo. Filho & Alencar (2000) definem o envelhecimento como a redução da capacidade de sobreviver. O envelhecimento pode ser conceituado como um processo dinâmico e progressivo onde há modificações tanto morfológicas como funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam progressiva perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que levam o individuo à morte. O termo envelhecimento é muito empregado para descrever as mudanças morfofuncionais ao longo da vida que ocorrem após a maturação sexual e que, progressivamente compromentem a capacidade de respostas dos indivíduos ao estresse ambiental e à manutenção da homeostasia (NETTO, 1996). Mobbs (2001) definiu envelhecimento como um processo gradual e espontâneo de mudanças biológicas do homem, que resulta na maturação e no crescimento durante a infância, puberdade e idade adulta, e no declínio durante a meia-idade e a idade tardia. Para Baltes & Baltes (1990), o envelhecimento é mundialmente reconhecido como um processo heterogêneo, “caracterizado por ampla variabilidade interindividual”, um processo multidimensional. Pode-se considerar o envelhecimento, como admite a maioria dos biogerontologistas, como a fase de todo um continuum que é a vida, começando esta com a concepção e terminando com a morte. Ao longo desse 9 continuum é possível observar fases de desenvolvimento, puberdade e maturidade, entre as quais podem ser identificados marcadores biofisiológicos que representam limites de transição entre as mesmas. O exemplo é a menarca como marcador do início da puberdade na mulher. Ao contrário do que acontece com as outras fases, o envelhecimento não possui um marcador biofisiológico de seu início. De qualquer forma, a demarcação entre maturidade e envelhecimento, a qual este período aparentemente segue, é arbitrariamente fixada, mais por fatores socioeconômicos e legais do que biológicos (NETTO, 1996). A incapacidade de mensurar o fenômeno do envelhecimento, que está intimamente vinculada à dificuldade de definir a idade biológica, justifica a falta de segurança para adotar quaisquer das teorias existentes sobre o fenômeno. Os mesmos motivos justificam a inexistência de uma definição de envelhecimento que atenda aos múltiplos aspectos que o compõem. Respeitando-se as limitações assinaladas e dentro de uma visão prioritariamente biogerontológica, o envelhecimento é conceituado como um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, que determinam perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte (NETTO, 1996). 1.1 Envelhecimento Comum e Bem-Sucedido Hoje em dia, admite-se duas formas distintas de envelhecimento: usual ou comum e bem-sucedido ou saudável. No envelhecimento comum estão presentes fatores extrínsecos (tipo de dieta, sedentariedade, dentre outros) que aumentam os efeitos adversos que ocorrem com o passar dos anos, já no envelhecimento bem-sucedido estes fatores estão presente em menor intensidade e importância ou até mesmo não estariam presentes. Para Rowe e Kahn (2001), a definição de envelhecimento bem-sucedido se dá quando as pessoas apresentam um baixo risco de doença e incapacidades (que apresentam, por exemplo, fatores de estilo de vida 10 saudável, tais como dieta adequada, ausência do hábito de fumar e prática de atividades físicas); que estão utilizando ativamente habilidades de resolução de problemas, conceitualização e linguagem; que estão mantendo contatos sociais e estão participando em atividades produtivas (voluntariado; trabalho remunerado ou não remunerado). Rowe e Kahn (1998) apresentam três indicadores de envelhecimento saudável: baixo risco de doenças e de incapacidades funcionais; funcionamento mental e físico excelentes; e envolvimento ativo com a vida. 1.1.1 Envelhecimento Normativo De acordo com Odenheimer et al (2004), o conceito de envelhecimento normal alterou-se ao longo das últimas gerações. Segundo Fox & Hollander (1990), desde que o normal não pode ser adequadamente definido, é impossível selecionar “pessoas idosas normais” como controle ou como material para estudo dos efeitos da idade. Afirmam inclusive que a expressão envelhecimento normativo representaria o processo natural de desenvolvimento em fases avançadas da vida. Este envelhecimento pode ser dividido em dois tipos: primário e secundário. O envelhecimento normativo primário seria definido como universal presente em todas as pessoas, geneticamente determinado ou pré- programado. Já o envelhecimento normativo secundário representa o resultado de algumas influências externas e variável entre indivíduos em diferentes meios, seria decorrente de fatores cronológicos, geográficos e culturais. 1.2. Senescência e Senilidade Senescência é o período da vida que inicia após os 30 anos quando começam a ocorrer alterações que refletem as diminuições normais em todos os sistemas orgânicos (HARRIS, 2005). A senescência e a senilidade freqüentemente são acompanhadas do declínio da mobilidade (OLIVEIRA, GORETTI, & PEREIRA, 2006). 11 A senescência é um fenômeno fisiológico, arbitrariamente identificado pela idade cronológica, sendo considerado um envelhecimento sadio porque o declínio físico e mental é lento e compensado pelo organismo (DUARTE, SANTOS & GONÇALVES, 2002). O termo senescência pode ser empregado para descrever as mudanças que ocorrem no organismo humano relacionado com a idade, alterando e afetando adversamente suas funções e vitalidade, aumentando assim a taxa de mortalidade em função do tempo. Senescência pode ser considerado um somatório de alterações orgânicas, funcionais e psicológicas próprias do envelhecimento normal, natural (NETO & CUNHA, 2006). Jamet et al (2004) relataram que a senescência, afeta desfavoravelmente o equilíbrio, produzindo mudanças em todos os níveis do controle postural, propiciando desordens nas três funções principais: os receptores sensoriais, o processamento cognitivo central ea execução da resposta motora. Senilidade é caracterizada por um declínio gradual no funcionamento de todos os sistemas do corpo humano e por modificações determinadas por afecções que freqüentemente acometem a pessoa idosa. A senilidade seria o estágio final da senescência, quando o risco de mortalidade beira os 100% (NETO & CUNHA, 2006). Segundo a senilidade caracteriza-se pelo declínio físico associado à desorganização mental. Curiosamente, a senilidade não é exclusiva da idade avançada, mas pode ocorrer prematuramente porque é identificada com uma perda considerável do funcionamento físico e cognitivo, observável pelas alterações na coordenação motora, a alta irritabilidade, além de uma considerável perda de memória (DUARTE, SANTOS & GONÇALVES, 2002). 1.3 Teorias sobre envelhecimento Diversas teorias são estudas para tentar explicar e entender o processo de envelhecimento, algumas não apresentam qualquer base científica, outras ainda não foram testadas. 1.3.1 Relógio Biológico 12 Teoria que sugere que todas as pessoas possuem uma quantidade finita de substância vital que quando esgotada resulta em envelhecimento e morte (HARRIS, 2005). Há várias evidências que estabelecem o fato que fatores genéticos são fundamentais no processo de envelhecimento. Assim, acredita-se que cada espécie de ser vivo apresenta uma duração máxima de vida, que seria determinada pelo seu padrão genético (NETTO & BORGONOVI, 1996). Nos processos de crescimento e desenvolvimento observa-se que certos gens apresentam uma ação definida em certas fases da vida. Assim, o envelhecimento seria a continuação do programa de diferenciação que teria a morte como fase derradeira (FILHO & ALENCAR, 2000). Alguns autores seguem a hipótese do envelhecimento estar relacionado com os genes responsáveis por esse fato e, assim sendo, a duração máxima da vida das espécies seria determinada por um relógio biológico controlado por seu padrão genético. O relógio seria administrado pelas histonas, proteínas que decidem se a atividade de determinado gene será ou não expressa (LUSTRI & MORELLI, 2007). Este relógio biológico é regulado de maneira diferente nas várias espécies, procurando manter sempre a relação entre os eventos (FILHO & ALENCAR, 2000). É importante ressaltar que em algumas pesquisas foram separados o núcleo do citoplasma e verificou-se que o núcleo vive mais tempo. Da mesma forma, verificaram a capacidade de divisão dessas células juntando núcleos jovens com citoplasmas jovens. Esses estudos demonstraram que o controle do relógio pode estar no núcleo celular (LUSTRI & MORELLI, 2007). Os autores que defendem esta teoria, admitem que as células teriam um relógio biológico intrínseco, ou seja, uma seqüência de eventos programados dentro do genoma, que dariam origem ao processo de envelhecimento, que seria a continuação do programa de diferenciação, isto é, uma extensão do programa de crescimento e desenvolvimento (NETTO & BORGONOVI, 1996). Outros estudos propõem que a coordenação do processo de envelhecimento se localiza no sistema nervoso central, sugerindo que esse controle encontrava-se na hipófise, pois em estudo de hipofisectomia em ratos, contrariando as expectativas, os ratos apresentaram maior sobrevida. Também 13 houve melhora na capacidade de síntese de RNA a partir do DNA, fato muito reduzido com o envelhecimento (LUSTRI & MORELLI, 2007). 1.3.2 Erro Catastrófico Teoria proposta por Orgel (1963), afirma que erros na síntese de uma proteína podem ser utilizados na síntese de outras proteínas, levando à uma diminuição progressiva da fidelidade e à eventual acumulação de proporções de proteínas aberrantes, potencialmente letais. Estes erros assumem significado especial quando afetam proteínas envolvidas na síntese de DNA, resultando na perda de fidelidade do DNA replicado, aumentando, conseqüentemente, as mutações somáticas e originando, eventualmente, patologias e disfunção celular (MOTA, FIGUEIREDO & DUARTE, 2004). A transcrição por uma enzima alterada poderia determinar suspensão e/ou inversão de uma ou mais seqüências de bases purínicas ou pirimidínicas que constituem o código genético. A conseqüência da transcrição do equivoco seria reunião de seqüências incorretas de aminoácidos, levando à produção de proteínas anormais, que terminariam por levar à deterioração orgânica e à morte (NETTO & BORGONOVI, 1996). Processos incorretos de transcrição e/ou de tradução dos ácidos nucléicos reduziriam a eficiência celular a um nível incompatível com a vida. Essa hipótese diverge das teorias de mutação somática e de dano ao DNA, pois afirma que o erro na informação incide sobre outras moléculas que não o DNA. A idéia básica contida nessa teoria é de que a capacidade da célula de produzir seu conjunto normal de proteínas funcionais depende não apenas da correta especificação genética das seqüências polipeptídicas, mas também da fidelidade do aparato de síntese protéica. Mesmo que o genoma não contenha nenhuma mutação somática ou dano no DNA, erros poderiam acontecer durante o processo de tradução (NETO & CUNHA, 2006). Se as proteínas ou RNAs erroneamente traduzidos tivessem função na síntese protéica, esses erros seriam transmissíveis e cumulativos, levando a um efeito exponencial chamado de “erro catastrófico”. Um erro catastrófico aconteceria quando a freqüência de erros alcançasse um valor no qual um ou mais processos vitais para a célula assumissem uma ineficiência letal. Se 14 morrerem células em quantidades suficientes para causar esse efeito, o resultado seria o decréscimo na capacidade funcional que caracteriza o envelhecimento (NETO & CUNHA, 2006). Além disto, outros argumentos se contrapõem à hipótese de Orgel, pois pesquisas básicas sobre o envelhecimento têm mostrado que: 1) a transcrição e translação mantêm-se inalteradas com o avançar da idade; 2) o envelhecimento é caracterizado pela constância da seqüência de aminoácidos de uma grande variedade de proteínas fisiologicamente importantes (NETTO & BORGONOVI, 1996). 1.3.3 Proteínas Alteradas É a possibilidade que mudanças na estrutura da proteína podem ocorrer após serem produzidas, mudando a atividade enzimática e assim, comprometendo a eficiência da célula, podendo ocorrer acúmulo de proteínas alteradas com o avançar da idade. Tais alterações poderiam, constituir fator fundamental para redução da função celular. Essas modificações que surgem na pós-síntese seriam resultantes de alterações enzimáticas que ocorreriam com a idade. A presença de moléculas protéicas anormais em células idosas poderia ser também resultado da redução da degradação (NETTO & BORGONOVI, 1996). Possivelmente, as enzimas alteradas são moléculas de longa vida e residem que na célula por um longo tempo, o bastante para sofrerem uma desnaturação sutil no ambiente citoplasmático. Proteínas alteradas representariam um caso especial do conceito de ligações cruzadas, envolvendo mudanças conformacionais que poderiam ser tanto reversíveis (como no uso de pontes de hidrogênio para alterar a forma) como irreversíveis (uso de ligações covalentes para estabelecer ligações com outras moléculas) (NETO & CUNHA, 2006). Um outro fator a ser levado em conta na hipótese de proteínas alteradas é o processamento de proteínas. Essa atividade parece ficar mais lenta com a idade, devido a mudanças desconhecidas nas vias citoplasmáticas de degradação. A idéia de que proteínas anormais se acumulam com o passar do tempo é comprovada pelo aumento da probabilidade de as proteínas de vida 15longa sofrerem uma modificação pós-tradução e de se alterarem com a idade, ao mesmo tempo em que a taxa de degradação diminui. Assim, a alteração das propriedades enzimáticas pode afetar a célula de modo mais abrangente do que o reduzido número de enzimas mostraria (NETO & CUNHA, 2006). A agressão contínua das células somáticas durantes dias, meses e anos, por diferentes fatores, pode determinar mutações ou alterações ao acaso de alguns genes e, como conseqüência, haveria acúmulo progressivo de alterações cromossômicas e, portanto, na síntese de várias moléculas protéicas. As células divisíveis parecem apresentar maior capacidade de reparar o DNA alterado. No entanto, nas células cerebrais e nas fibras cardíacas, os danos são irrecuperáveis, pois elas não são substituídas (FILHO & ALENCAR, 2000). 1.4 Fatores que influenciam o envelhecimento São diversos fatores que podem influenciar o envelhecimento, nos fatores intrínsecos têm-se os fatores genéticos, radicais livres, ligações cruzadas, ligação de DNA-Histona e outros. Nos fatores extrínsecos têm a radiação, temperatura, poluição, alimentação e tensão emocional. Muitos destes fatores internos e externos ainda precisam ser mais estudos. 1.4.1 Fatores intrínsecos - Genético Os genes podem ser úteis para promover a longevidade ou prejudiciais encurtando o ciclo de vida (HARRIS, 2005). As características do envelhecimento e a duração da vida são próprias de cada espécie. Os progressos tecnológicos, o avanço da medicina, a melhora das condições sócio-econômicas têm influenciado e prolongado a expectativa média de vida, porém o tempo máximo de vida do ser humano permanece em torno de 120 anos, o que demonstra que todo o progresso médico e tecnológico não influenciou o processo de envelhecimento. Acredita- se que cada espécie de ser vivo apresente uma duração máxima de vida que 16 seria determinada pelo seu padrão genético. No entanto, a avaliação da herança genética é difícil, pois o envelhecimento é processo complexo, soma de vários fatores que agem durante a vida (FILHO & ALENCAR, 2000). - Radicais Livres Entende-se por radical livre de maneira simples, qualquer átomo ou molécula altamente reativo, que contêm número ímpar de elétrons em sua última camada eletrônica (FERREIRA & MATSUBARA, 1997). Isto torna esse átomo ou molécula altamente reagente, combinando-se com as moléculas próximas, principalmente aminoácidos contendo grupo sulfidril e ácidos graxos insaturados. Os radicais livres surgiriam no organismo em reações metabólicas normais e também em resposta a influencias internas e externas, como isquemia, radiação e drogas. Os radicais livres provocariam alterações orgânicas devido às reações com enzimas, lípides, colágeno, hormônios e também com DNA e RNA. Em conseqüência dessas reações ocorreriam alterações celulares, teciduais e também genéticas que estariam relacionadas com o processo de envelhecimento (FILHO & ALENCAR, 2000). - Ligações Cruzadas O colágeno é uma proteína de tecido conectivo encontrada principalmente nos ligamentos, tendões, cartilagens, músculos, válvulas cardíacas e vasos sangüíneos. À medida que o indivíduo envelhece, mais colágeno é formado, surgindo ligações cruzadas que tornam a estrutura mais resistente e quase inflexível. Com o aumento da rede de ligações cruzadas no envelhecimento, os processos de difusão seriam alterados, a permeabilidade dos vasos sangüíneos se modificaria, resultando na passagem menos eficiente de nutrientes e metabólitos entre as células e os vasos sangüíneos (FILHO & ALENCAR, 2000). - Ligação DNA-Histona 17 As histonas são proteínas básicas pequenas que consistem de um domínio globular, em que o filamento de DNA se enrola, porém se separa facilmente também, deixando-o livre para transcrição do RNA. No envelhecimento, as ligações de DNA-histona seriam mais estáveis, determinando modificações em algumas propriedades físico-químicas do DNA e causando alterações na transcrição. Estas alterações na expressão do gen seriam responsáveis pelas modificações na síntese protéica (MENDITI & KANG, 2007). 1.4.2 Fatores Extrínsecos É muito difícil avaliar o real valor de um fator ambiental ou externo, pois os dados obtidos em laboratório não são observados no homem (FILHO & ALENCAR, 2000). - Radiação A radiação em doses pequenas ou em única dose pode aumentar o número de aberrações cromossômicas em animais. São importantes a idade em que aconteceu a exposição, a quantidade recebida, o tempo e o número de exposições. Os efeitos da radiação sobre o DNA variam segundo o agente (NETTO & BORGONOVI, 1996). Em sobreviventes das explosões atômicas no Japão, em 1945, verificou- se maior incidência de neoplasias relacionadas à proximidade do local da explosão, porém não foram observadas manifestações precoces de envelhecimento através de variáveis morfológicas e funcionais (FILHO & ALENCAR, 2000). - Temperatura O ser humano, devido à sua capacidade de termorregulação e à utilização de meios de proteção contra variações da temperatura. No entanto, o homem submetido a temperaturas próximas a 50ºC ou a 0ºC e sem meios de proteção, tolera-se por pouco tempo, surgindo precocemente alterações 18 orgânicas que podem até levá-lo à morte. Verifica-se, portanto, que é difícil estabelecer para o homem relação entre temperatura e longevidade, mas parece que o clima temperado, sujeito a pequenas variações, seria o mais propício à espécie humana (FILHO & ALENCAR, 2000). - Poluição A contaminação do ar pelo monóxido de carbono, bastante intensa nas grandes cidades é a maior causa de incidência de doenças pulmonares crônicas e de suas complicações, aumentando o índice de mortalidade por problemas respiratórios, contudo, não está provado que este fator interfira no processo de envelhecimento propriamente dito (FILHO & ALENCAR, 2000). - Alimentação Inúmeros estudos têm demonstrado que a alimentação pode, em certos casos, afetar o processo de envelhecimento. Segundo Confort (1979), o mecanismo pelo qual agiria este fator dietético ainda é obscuro, embora se suspeite de que atuaria nos mecanismos de síntese protéica, retardando os processos que levariam à sua deterioração. - Tensão Emocional O estado de tensão emocional é responsabilizado pela maior incidência de diversas infecções como, por exemplo, a aterosclerose, porém discute-se sua influência no processo de envelhecimento. Em estudos, Bourlière analisou este fato e observou dentro de um grupo de 40 idosos, os indivíduos ulcerosos tinham menos capacidade física, declínio mais rápido da capacidade intelectual e maior estado de tensão, assim pode-se descartar a tensão emocional como aceleradora do processo de envelhecimento. O envelhecimento é um fenômeno extremamente complexo, que pode ser influenciado por inúmeros fatores, muitos dos quais ainda permanecem obscuros (FILHO & ALENCAR, 2000). 19 1.5 Alterações que ocorre devido ao envelhecimento Marca-se o envelhecimento biológico pela diminuição da taxa metabólica, o que se reflete na demora do intercâmbio de energia do organismo nervoso, a energia (capacidade de reserva), usada em excesso, não é totalmente recuperada, uma vez que o aumento da idade celular decorrente de menor capacidade para a divisão celular resulta em desaceleracão funcional. Assim, o envelhecimento do tecido resultado da mudança das células renováveis para não renováveis. (MCARDLE & KATCH, 1998). À medida que aumentaa idade cronológica as pessoas tornam-se menos ativas, suas capacidades físicas diminuem e, com alterações psicológicas que acompanham a idade (depressão, estresse, sentimento de velhice), existe ainda a diminuição maior da atividade física que consequentemente facilita a aparição de doenças crônicas, que, contribuem para deteriorar o processo de envelhecimento. A maioria dos efeitos do envelhecimento acontece por imobilidade e má adaptação e não somente por doenças crônicas (MATSUDO et al,2000). Uma das mais evidentes alterações que ocorrem com o aumento da idade cronológica é a mudança nas dimensões corporais. Com o processo de envelhecimento, existem mudanças principalmente na estatura, no peso e na composição corporal. Com o envelhecimento existe uma diminuição da estatura, esta perda é de aproximadamente 1 cm por década e começa acontecer por volta de 40 anos de idade. Essa perda de estatura se deve à diminuição do arco do pé, ao aumento das curvaturas da coluna, a uma diminuição no tamanho da coluna vertebral devido à perda de água nos discos intervertebrais decorrentes dos esforços de compressão a que são submetidos (figura 1). (LUSTRI & MORELLI, 2007). Fiatarone-Singh (1998), fala que este evento se deve à compressão vertebral, o estreitamento dos discos e a cifose. Este processo parece ser mais rápido nas mulheres do que nos homens, devido principalmente, a prevalência de osteoporose na pós-menopausa. 20 Figura 1. Diferença de estatura entre um adulto e um idoso Fonte: LUSTRI & MORELLI, 2007. A pele e os pêlos seguem direções próprias conforme suas linhas de tensão, a pele fica menos elástica por causa da alteração da elastina e ocorre a diminuição da sua espessura e do tecido subcutâneo, levando ao aparecimento das rugas. Observa-se uma diminuição da atividade das glândulas sudoríparas e sebáceas, resultando em uma pele áspera e seca, mais sujeita a lesões e infecções. Os melonócitos podem sofrer alterações no seu funcionamento e, consequentemente, levar à formação de manchas hiperpigmentadas, marrons, lisas e achatadas, principalmente na face e no dorso da mão. Há diminuição geral dos pêlos, por todo o corpo, exceto narinas, orelha e sobrancelhas. As células do córtex, com o envelhecimento perdem pigmento, resultando cabelos brancos (LUSTRI & MORELLI, 2007). O indivíduo idoso apresenta um aumento dos diâmetros da caixa torácica e do crânio, a continuidade de crescimento do pavilhão auditivo e do 21 nariz. Aumenta-se também o tecido adiposo, principalmente na região abdominal. O teor de água corporal diminui pela perda hídrica intracelular e também há perda de potássio, principalmente pela diminuição do número de células nos órgãos. Isto leva o idoso a perda de massa corporal, afetando vários órgãos e músculos. Os músculos são os que mais sofrem com essa perda de massa, ocorre também perda de massa óssea (LUSTRI & MORELLI, 2007). De acordo com Matsudo e Matsudo (1992), para ambos sexos, o início do decréscimo ósseo se dá com uma perda massa óssea de menos de 0,5% ao ano, sendo alterada na pós menopausa para 3% a 10% para o osso trabecular e 1% a 2% para o cortical. O envelhecimento é marcado por uma perda aproximada de 2 a 3% de massa corporal magra por década. A sarcopenia – perda gradativa de massa do músculo esquelético que ocorre com o avanço da idade – contribui para diminuições na força muscular, alterações no modo de andar e equilíbrio, perda de função física e risco aumentado de doenças crônicas (DUTTA, 1997). A sarcopenia foi associada, em ambos os sexos, a três a quatro vezes mais chances de incapacidade física e funcional, independente da idade, sexo, raça, hábitos de saúde, nível sócio-econômico e doenças crônicas (MATSUDO et al, 2000). A perda de massa corporal magra, o tecido mais ativo metabolicamente, é acompanhada freqüentemente por aumento da gordura corporal e diminuição proporcional na taxa metabólica (HURLEY, 1997). A perda da massa muscular e consequentemente da força muscular é a principal responsável pela deterioração na mobilidade e na capacidade funcional do índividuo idoso. A sarcopenia que indica perda da massa, força e qualidade do músculo esquelético tem um impacto significante na saúde pública, pelas suas bem reconhecidas conseqüências funcionais ao andar e no equilíbrio, aumentando o risco de queda e perda da independência física funcional, além disto contribui para aumentar o risco de doenças crônicas (MATSUDO et al, 2000). A taxa metabólica de repouso diminui aproximadamente 15 a 20% durante a vida. Essas alterações na massa corporal magra, gordura corporal e taxa metabólica podem reduzir as necessidades de energia, diminuir a 22 capacidade de atuar independentemente na vida diária e aumentar o risco de várias doenças crônicas associadas à obesidade (HARRIS, 2005). Além destas alterações na composição corporal, de acordo com Garbellini (2007), o envelhecimento está frequentemente associado ao comprometimento do desempenho cognitivo e fisiológico, o que torna as pessoas mais susceptíveis à morte. O sistema nervoso central (SNC) é o sistema biológico mais comprometido com o processo de envelhecimento, pois é o responsável pela vida de relação (sensações, movimentos, funções psíquicas, entre outros) e pela vida vegetativa (funções biológicas internas). O comprometimento do SNC, quando ocorre, é preocupante, pelo fato de ser formado, em sua maioria, por unidades morfofuncionais pós-mitóticas sem possibilidade reprodutora (CANÇADO & HORTA, 2006). O cérebro do idoso apresenta alterações significativas na função fisiológica, principalmente relacionadas com o comprometimento da memória, o retardo das funções centrais e a diminuição do peso cerebral. A força muscular diminuída marcha retardada com diminuição de movimentos associados, reflexos profundos hiporresponsivos e alterações de sensibilidade estão associadas às modificações no nível anatômico macroscópico, celular e molecular do sistema nervoso (SN). Em relação ao psiquismo, os distúrbios de memória são os mais comuns, conhecidos como “esquecimento benigno do idoso” (GARBELLINI, 2007). A aquisição de novas informações e sua conversão pela memória de trabalho em memória de longa duração diminuem significativamente com a idade. Além disso, à medida que envelhecem, as pessoas apresentam dificuldade para dormir, aumento da insônia e interrupções do sono (GARBELLINI, 2007). As quantidades menores de neurotransmissores podem predispor um indivíduos a depressão e distúrbios do sono. As alterações no sistema nervoso central (SNC) podem causar menor coordenação e equilíbrio, alterações de humor e dificuldades na recuperação de informações (HARRIS, 2005). Com o envelhecimento, acontecem mudanças nos tecidos corpóreos que se manifestam de vários modos. Essas mudanças envolvem alterações bioquímicas na composição do tecido e alterações causadas secundariamente 23 pelos danos acumulados em estruturas com potencial de reparação limitado (OLIVEIRA, 2007). 24 2 CAPACIDADE E INCAPACIDADE FUNCIONAL A capacidade funcional (CF) do idoso é definida pela ausência de dificuldades no desempenho de certos gestos e de certas atividades da vida cotidiana. Os conceitos fazem parte de um sistema de Classificação Internacional de Comprometimento, Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da World Hearth Organization (WHO). O conceito de capacidadefuncional é amplo, trabalhando-se em geral de análises sobre o tema com a questão capacidade/incapacidade (ALENCAR et al, 2007). A capacidade funcional surge como um valor ideal para o idoso possa viver independente, sendo essa capacidade de o indivíduo realizar suas atividades físicas e mentais necessárias para manutenção de suas atividades básicas, como: tomar banho, vestir-se, realizar higiene pessoal, transferir-se, alimentar-se, manter a continência, preparar refeições, ter o controle financeiro, tomar remédios, fazer compras, arrumar a casa, usar o telefone, caminhar a uma certa distância, etc (RAMOS, 2003). Van-Bilsen et al. usam em seu estudo o termo status funcional, analisando a assistência necessária em atividades domesticas, como: preparar comida, passar, lavar, movimentar-se fora de casa, fazer compras no supermercado (ALENCAR et al, 2007). Chaimowicz (1997) fala que as questões da capacidade funcional e autonomia do idoso podem ser mais importantes que a própria questão da morbidade, pois se relaciona com a qualidade de vida. A incapacidade funcional é definida pela presença de dificuldade no desempenho de atividades da vida cotidiana ou mesmo pela impossibilidade de desempenhá-las (TRELHA et al, 2005). A capacidade funcional diminui com a idade, mas nem sempre no mesmo ritmo para todas as pessoas. A funcionalidade pode ser influenciada beneficamente por vários fatores, tal como a atividade física, cuja prática regular retém níveis mais altos de capacidade funcional, fundamentalmente na função cardiovascular (SPIRDUSO 1995; SHEPHARD,1997). O processo normal do envelhecimento se caracteriza pela diminuição da capacidade funcional dos diversos órgãos e tecidos, o que acarreta um risco 25 aumentado de doenças, na sua maioria crônica-degenerativas, que estão se tornando cada vez mais prevalentes em nosso país. São afecções que não têm diagnóstico de resolutividade rápida e absorvem grandes quantidades de recursos materiais e de profissionais especializados. Existe perda da capacidade funcional com o avançar da idade. Este conceito é de grande importância, pois não somente a identificação de doenças o pilar de sustentação da atenção de saúde na velhice, mas a avaliação de incapacidades funcionais e sua causas, as quais nem sempre estão linearmente relacionadas às doenças presentes (YUASO & SGUIZZATTO, 1996). Quando ocorrem déficits em capacidades funcionais refletem-se na dependência funcional, a qual, contudo, é gradativa e pode não atingir todos os domínios do funcionamento dos idosos ao mesmo tempo. Assim dificuldades de locomoção, déficits sensoriais e até mesmo invalidez não implicam necessariamente descontinuidade do funcionamento intelectual e afetivo (NERI, 2007). De acordo com Letti (2006), a capacidade funcional, especialmente a dimensão motora é um dos mais importantes marcadores de um envelhecimento bem sucedido e da qualidade de vida dos idosos. A perda dessa capacidade está associada à predição de fragilidade, dependência, institucionalização, trazendo complicações ao longo do tempo e gerando cuidados de longa permanência e alto custo. Embora o conceito de capacidade funcional seja bastante complexo abrangendo outros como os de deficiência, incapacidade, desvantagem, bem como os de autonomia e independência, na prática trabalha-se com o conceito de capacidade/incapacidade. A incapacidade funcional define-se pela presença de dificuldade no desempenho de certos gestos e de certas atividades da vida cotidiana ou mesmo pela impossibilidade de desempenhá-las (ROSA et al, 2003). Spirduso (1995) identifica cinco categorias hierárquicas que detectam os diferentes níveis de capacidade funcional de idosos: 26 a) fisicamente dependentes: pessoas que não podem executar atividades básicas da vida diária (como vestir-se, tomar banho, comer) e que dependem de outros para suprir as necessidades diárias; b) fisicamente frágeis: indivíduos que conseguem executar atividades básicas da vida diária, mas não todas as atividades instrumentais da vida diária; c) fisicamente independentes: podem realizar todas as atividades básicas e instrumentais da vida diária, mas são geralmente sedentários; d) fisicamente ativos: realizam exercícios regularmente e aparentam ser mais jovens que a idade cronológica; e) atletas: correspondem a pequena porcentagem da população, pessoas engajadas em atividades competitivas. A avaliação da capacidade funcional do paciente idoso é o contraponto do bom atendimento geriátrico, pois os objetivos terapêuticos deverão estar centrados na maioria da capacidade funcional, que nem sempre se tornam realidade em virtude das próprias limitações econômicas e sociais do idoso. É importante lembrar que a qualidade de vida está intimamente ligada ao status funcional que o paciente apresenta e, consequentemente, ao próprio progresso de qualquer programa de reabilitação. Portanto, a compreensão da avaliação do status funcional em geriatria deve pautar-se na revisão da maior parte das habilidades funcionais, divididas em duas categorias: as atividades de vida diária (AVDs) e as atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) (SHIGUEMOTO, 2007). 2.1 Atividades da Vida Diária (AVDs) O conceito de atividades de vida diária é talvez um dos únicos conceitos em que se há consenso em geral. Existem muitas revisões sobre o conceito de AVDs e suas medidas (SHIGUEMOTO, 2007). Entre as clássicas AVD propostas por Sidney Katz, incluem-se a capacidade para alimentar-se, transferir-se, vestir-se, ter continência, banhar- se e usar o banheiro, denominadas pelos seus colaboradores como atividades básicas da vida diária (PASCHOAL, 1996; DIOGO, 2000). 27 Grande porcentagem da população idosa tem dificuldade ou incapacidade de realizar atividades cotidianas (Abrams,1994 e Matsudo, 2000 apud Letti et al, 2006). Essas atividades podem ser subdivididas em: atividades básicas da vida diária (ABVD’s) e atividades instrumentais da vida diária (AIVD’s). Atividades de vida diária (AVDs) são atividades de cuidado pessoal que a própria pessoa pode realizar todos os dias, como comer, vestir-se, tomar banho, realizar transferências de posições, controlar a bexiga e o intestino. (WADE,1996 apud SHIGUEMOTO, 2007) Compreendem as atividades de autocuidado e o desempenho das atividades rotineiras realizadas no âmbito restrito ao domicílio, que permitem a sobrevivência física da pessoa (NERI, 2007). Tarefas realizadas para os cuidados pessoais diários, como a alimentação, vestuário, higiene e mobilidade física (LETTI et al, 2006). Freitas & Miranda (2006) relata que as atividades básicas são aquelas que se referem ao autocuidado, ou seja, são as atividades fundamentais para a manutenção da independência: capacidade para alimentar-se, ter continência, locomover-se, tomar banho, vestir-se e usar o banheiro. Essas atividades foram denominadas atividades básicas de vida diária, ou simplesmente, atividades de vida diária (AVD). A independência na realização das AVDs é de grande importância na vida das pessoas pois envolve questões de natureza emocional, física e social. Independentemente da faixa etária, a dependência pode alterar a dinâmica familiar, os papéis desenvolvidos pelos seus membros, interferindo nas relações e no bem estar da pessoa dependente e dos seus familiares (DIOGO, 2000). 2.1.2 Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVDs) Atividades como preparar as refeições, lavar roupa, cuidar da casa, fazer compras, usar o telefone, usar o transporte, controlar o dinheiro e os medicamentossão as “atividades instrumentais da vida diária” – AIVD, propostas por Lawton e Brody (PASCHOAL, 1996; PAULA et al., 1998; DIOGO, 2000). 28 Atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) são atividades que possibilitam qualquer pessoa viver com independência em sua casa ou apartamento, como preparar refeições, realizar atividades caseiras, tomar medicamentos, usar o telefone, realizar atividades financeiras (SHIGUEMOTO, 2007). Relacionadas à capacidade de administração do ambiente de vida dentro e fora do lar (MARRA et al, 2007). Habilidades avançadas, consideradas vitais para viver independentemente na comunidade, inclusive direção de negócios pessoais, cozinhar, fazer compras, exercer tarefas domésticas e dirigir carro (LETTI et al, 2006). Para Freitas & Miranda (2006), para uma vida independente e ativa na comunidade, executando as atividades rotineiras do dia-a-dia, o idoso deve usar os recursos disponíveis no meio ambiente. O conjunto dessas atividades foi denominado atividades instrumentais de vida diária (AIVD). Estão relacionadas à realização de tarefas mais complexas, como arrumar a casa, telefonar, controlar e tomar os remédios e controle financeiro. De acordo com a capacidade de realizar essas atividades, é possível determinar se o individuo pode viver sozinho. A escala de Lawton é uma é uma das mais frequentemente utilizadas. Os instrumentos mais conhecidos para avaliar a capacidade funcional são: Índice de Katz, índice de Kenny, índice de Barthel, Medida de Independência Funcional (MIF) e escala de atividades instrumentais de vida diária (AIVD) de Lawton. 29 3 AVALIAÇÃO FUNCIONAL A avaliação da capacidade funcional dos idosos permite aos membros da equipe multidisciplinar uma visão mais precisa quanto à severidade da doença e o impacto da comorbidade. Assim, entende-se como avaliação funcional, a designação dada para uma função específica, a capacidade de se autocuidar e atender as necessidades básicas diárias, ou seja, as “atividades da vida diária” (AVD) (DIOGO, 2000). A avaliação da capacidade funcional está relacionada aos aspectos práticos das atividades de cuidado pessoal e do grau de manutenção da capacidade para o desempenho das atividades básicas e mais complexas do cotidiano (VIANA, 2007). O desempenho funcional do idoso é importante preditor de saúde. Um dos recursos utilizados para verificar os níveis de independência ou dependência dos idosos para realizar as tarefas do cotidiano é por meio da Medida de Independência Funcional (MIF) e do Índex de Independência nas Atividades de Vida Diária (VIANA, 2007). Uma tentativa sistematizada de mensurar objetivamente os níveis nos quais uma pessoa está funcionando numa variedade de áreas tais quais integridade física, qualidade da auto-manutenção, qualidade no desempenho dos papéis, estado intelectual, atividades sociais, atitude em relação a si mesmo, e o estado emocional (LAWTON, 1971). É um método para descrever habilidades e atividades em ordem de mensurar o uso individual de uma variedade de habilidades incluídas no desempenho de tarefas necessárias na vida diária, nos compromissos vocacionais, nas interações sociais, nas atividades de lazer, e outros comportamentos requeridos (GRANGER, 1984). Avaliação funcional pode ser definida como uma tentativa sistematizada de medir, de forma objetiva, os níveis nos quais uma pessoa é capaz de desempenhar determinadas atividades ou funções em diferentes áreas, utilizando-se de habilidades diversas para o desempenho das tarefas da vida cotidiana, para a realização de interações sociais, em suas atividades de lazer e em outros comportamentos requeridos em seu dia-a-dia. 30 De modo geral, representa uma maneira de medir se uma pessoa é ou não capaz, de independentemente, desempenhar as atividades necessárias para cuidar de si mesma e de seu entorno e, caso, não seja, verificar se essa necessidade de ajuda é parcial (em maior ou menor grau) ou total. Com base nessa definição, o conceito de função pode ser definido como a capacidade do indivíduo para adaptar-se aos problemas de todos os dias apesar de possuir uma incapacidade física, mental e/ou social (DUARTE et al., 2006). 3.1. Instrumentos de Avaliação Funcional Devido ao grande aumento do número de idosos no mundo inteiro, a necessidade de meios para avaliar a capacidade funcional também aumenta. Hoje em dia existem diversos estudos e instrumentos que visam a avaliação da capacidade funcional, cada um relacionado à um tipo de atividades. O presente trabalho abordou o Índice de Katz e a Escala de medida de independência funcional (MIF). 3.1.1 Índice de Katz O primeiro discernimento teórico e de padronização veio através de um grupo de Cleveland, Ohio, EUA, liderado por Sidney Katz. Este demonstrou que a seqüência de recuperação de seis atividades básicas da vida diária entre idosos incapacitados (alimentar-se, ter continência, transferir-se, usar o banheiro, vestir-se e banhar-se) se assemelhava à seqüência de desenvolvimento dessas mesmas funções no processo de crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor da criança, bem como a padrões de comportamento de membros de sociedades primitivas (PASCHOAL, 1996). O Índex de Independência nas Atividades da Vida Diária (AVD), desenvolvido por Sidney Katz em 1963, é um dos instrumentos mais antigos e tem como objetivo avaliar a capacidade funcional do idoso em relação as atividades básicas de vida diária (ABVD’s). A escala de Katz está incluída na maioria das avaliações multidimensionais e tem mostrado sua validade nos quase 40 anos em que vem sendo utilizada. Pode ser modificada acrescentando-se outras atividades, 31 como, por exemplo, andar nos arredores da casa, arrumar-se, subir e descer escadas, cortar as unhas dos pés, etc (FREITAS & MIRANDA, 2006). É um instrumento de medida das atividades de vida diária hierarquicamente relacionadas e organizado para mensurar independência no desempenho de seis funções: banhar-se, vestir-se, ir ao banheiro, transferir-se, ser continente e alimentar-se. Esse instrumento representa a descrição de um fenômeno observado em um contexto biológico e social e, apesar do desenvolvimento de outros, ainda tem sido dos mais utilizados na literatura gerontológica para avaliar a funcionalidade dos idosos que hoje são denominadas Atividades Básicas de Vida Diária (DUARTE, 2007). De acordo com Katz (1963), os idosos eram classificados como independentes se eles desenvolvessem a atividade (qualquer das seis funções propostas) sem supervisão, orientação ou qualquer tipo de auxilio direto. A dependência para cada uma das seis funções estabelecidas foi previamente determinada a seguir: a) Na função “Banhar-se” (uso de chuveiro, banheira e o ato de esfregar-se em qualquer uma dessas situações) - o idoso será classificado como independente caso precise ajuda somente para lavar uma única parte do corpo (como a região dorsal ou membro deficiente) ou toma banho sem auxílio. E terá denominação de dependência parcial caso receba assistência para banhar mais de uma parte do corpo ou necessita de auxilio para entrada e saída da banheira. E denominação de dependência total quando não são capazes de tomar banho sozinho. b) Na função “Vestir-se” - o idoso será classificado como independente quando ele realiza o ato de pegar as roupas no armário e vestir-se propriamente dito. As roupas estão classificadas como roupas externas e roupas íntimas, fechos e cintos. E serão classificados como dependentesquando recebem auxílio ou permaneciam parcialmente ou totalmente despidos. c) Na função “ir ao banheiro” – o idoso é considerado independente quando consegue realizar o ato de ir ao banheiro para excreções, higienizar-se e arrumar suas roupas. E considerado dependente quando 32 necessita de auxílio direto ou quando não desempenham a função. Uso de comadre ou similar, também classifica o idoso como dependente. d) Na função “Transferir-se” – o idoso é classificado como independente quando realiza o movimento para sair da cama, sentar-se em uma cadeira e vice-versa (pode usar um objeto de apoio). Uso de equipamentos ou suporte mecânico não altera a classificação de independência para a função. Dependentes são os pacientes que precisam de qualquer auxílio em qualquer transferência, ou quando não conseguem executar uma ou mais transferências. e) Na função “Continência” – o paciente é classificado como independente quando consegue realizar o ato inteiramente autocontrolado de urinar ou defecar. E é classificado como dependente quando tem incontinência total ou parcial em qualquer uma das funções. Uso regular de fraldas ou cateteres classifica o paciente como dependente. f) Na função “alimentar-se” – o paciente é classificado como independente quando realiza o ato de dirigir a comida até a boca. O preparo e corte dos alimentos estão excluídos da avaliação. São classificados como dependentes quando necessitam de qualquer assistência pessoal, aqueles que não se alimentam sem ajuda ou que utilizam sondas enterais são considerados dependentes bem como os que são nutridos por via parenteral. A avaliação de Katz abrange somente as atividades básicas de vida diária, refletindo apenas a capacidade ou não para o autocuidado básico, sendo utilizada mais para pacientes acamados em hospitais, em casas de repouso, ou mesmo em sua própria moradia, porém com um certo grau de dependência. O objetivo deste protocolo é de identificar o grau de disfunção, verificando o estado funcional atual, o planejamento de recursos de suporte e o acompanhamento evolutivo do grau de disfunção. Com a utilização de questionários simples, pode-se obter uma avaliação imediata quanto à capacidade funcional do indivíduo (YUASO & SGUIZZATTO, 1996). (Quadro 1). 33 Quadro 1. Formulário de avaliação das atividades de vida diária. Nome: Data da Avaliação: ___/___/___ Para cada área de funcionamento listada abaixo assinale a descrição que melhor se aplica. A palavra “assistência” significa supervisão, orientação ou auxílio pessoal. Banho - banho de leito, banheira ou chuveiro. ( ) Não recebe assistência (entra e sai da banheira sozinho se essa é usualmente utilizada para banho) ( ) Recebe assistência no banho somente uma parte do corpo (como costas ou uma perna) ( ) Recebe assistência no banho em mais de uma parte do corpo Vestir – pega a roupa do armário e veste, incluindo roupas intimas, roupas externas e fechos e cintos (caso use) ( ) Pega as roupas e se veste completamente sem assistência ( ) Pega as roupas e se veste sem assistência, exceto para amarrar os sapatos ( ) Recebe assistência para pegar as roupas ou para vestir-se ou permanece parcial ou totalmente despido Ir ao banheiro – dirigi-se ao banheiro para urinar ou evacuar: faz sua higiene e se veste após as eliminações ( ) Vai ao banheiro, higieniza-se e se veste após as eliminações sem assistência (pode utilizar objetos de apoio como bengala, andador, barras de apoio ou cadeira de rodas e pode utilizar comadre ou urinol à noite esvaziando por si mesmo pela manhã) ( ) Recebe assistência para ir ao banheiro ou para higienizar-se ou para vestir-se após as eliminações ou para usar urinol ou comadre à noite ( ) Não vai ao banheiro para urinar ou evacuar Transferência ( ) Deita-se e levanta-se da cama ou da cadeira sem assistência (pode utilizar um objeto de apoio como bengala ou andador) ( ) Deita-se e levanta-se da cama ou da cadeira com auxílio ( ) Não sai da cama Continência ( ) Tem controle sobre as funções de urinar e evacuar ( ) Tem “acidentes” * ocasionais *acidentes = perdas urinárias ou fecais ( ) Supervisão para controlar urina e fezes, utiliza cateterismo ou é incontinente Alimentação ( ) Alimenta-se sem assistência ( ) Alimenta-se sem assistência, exceto para cortar ou passar manteiga no pão ( ) Recebe assistência para se alimentar ou é alimentado parcial ou totalmente por sonda enteral ou parenteral FONTE: DUARTE, 2007. 34 No formulário, observam-se três categorias de classificação: independente, parcialmente dependente ou totalmente dependente. A coluna intermediária classifica os pacientes como independentes ou dependentes dependendo da função analisada. Segundo Katz, este formulário foi desenvolvido para facilitar a avaliação dos observadores e o registro mais preciso das informações. A tabela mostrou-se útil para evidenciar a dinâmica da instalação da incapacidade no processo de envelhecimento, estabelecer prognósticos, avaliar as demandas assistências, determinar a efetividade de tratamentos além de contribuir para o ensino do significado de “ajuda” na área de reabilitação (DUARTE, 2007). Como a escala visava classificar a independência nas atividades, recebeu o nome de Index of Independence in Activities of Daily Living, associando a independência/dependência dos pacientes à utilização de letras alfabéticas. Essa escala é uma versão modificada da original, publicada em 1976 por Katz e Akpom. Nesta versão apresentada a seguir, a classificação do Index se dá pelo número de funções nas quais o indivíduo avaliado é dependente (Quadro 02). Quadro 02. Classificação do paciente quanto ao número de funções em que é dependente. Index de AVDS (Katz) Tipo de Classificação 0 Independente nas seis funções (banhar-se, vestir-se, alimentação, ir ao banheiro, transferência e continência) 1 Independente em cinco funções e dependente em uma função 2 Independente em quatro funções e dependente em duas funções 3 Independente em três funções e dependente em três funções 4 Independente em duas funções e dependente em quatro funções 5 Independente em uma função e dependente em cinco funções 6 Dependente para todas as funções FONTE: DUARTE, 2007. 35 Em 1998, o Hartford Institute for Geriatric Nursing, publicou uma nova versão do Index de ADL de Katz (Quadro 03). Quadro 03. Versão do Índex publicado por Hartford Institute for Geriatric Nursing ATIVIDADES Pontos (1 ou 0) INDEPENDÊNCIA (1 ponto) SEM supervisão, orientação ou assistência pessoal DEPENDÊNCIA (0 pontos) COM supervisão, orientação ou assistência pessoal ou cuidado integral Banhar-se Pontos: ____ (1 ponto) Banhar-se completamente ou necessita de auxílio somente para lavar uma parte do corpo como as costas, genitais ou uma extremidade incapacitada. (0 pontos) Necessita de ajuda para banhar-se em mais de uma parte do corpo, entrar e sair do chuveiro ou banheira ou requer assistência total no banho. Vestir-se Pontos: ____ (1 ponto) Pega as roupas do armário e veste as roupas íntimas, externas e cintos. Pode receber ajuda para amarrar os sapatos. (0 pontos) Necessita de ajuda para vestir-se ou necessita ser completamente vestido. Ir ao banheiro Pontos: ____ (1 ponto) Dirigi-se ao banheiro, entra e sai do mesmo, arruma suas próprias roupas, limpa a área genital sem ajuda (0 pontos) Necessitade ajuda para ir ao banheiro, limpar-se ou usa urinol ou comadre. Transferência Pontos: ____ (1 ponto) Senta-se/deita-se e levanta-se da cama ou cadeira sem ajuda. Equipamentos mecânicos de ajuda são aceitáveis (0 pontos) Necessita de ajuda para sentar-se/deitar-se e levantar-se da cama ou cadeira. Continência Pontos: ____ (1 ponto) Tem completo controle sobre suas eliminações (urinar e evacuar) (0 pontos) É parcial ou totalmente incontinente do intestino ou bexiga. Alimentação Pontos: ____ (1 ponto) Leva a comida do prato à boca sem ajuda. Preparação da comida pode ser feita por outra pessoa (0 pontos) Necessita de ajuda parcial ou total com a alimentação ou requer alimentação parenteral. Total de Pontos = ________ 6 = independente 4 = dependência moderada 2 ou menos = muito dependente FONTE: DUARTE, 2007 36 Após a avaliação das AVDs, deve-se realizar duas perguntas para complementação da mesma. “O que o senhor (a) gostaria de fazer e que não está fazendo?”: possibilita preciosas informações quanto às necessidades funcionais do paciente do seu ponto de vista e, portanto, deve abranger a avaliação funcional. O aspecto do paciente é valorizado e usado na prescrição do plano de cuidados. “O que o senhor (a) fazia e deixou de fazer?” fornece informações quanto ao declínio funcional apresentado pelo paciente. O comprometimento das AVDs básicas pode ser o reflexo de uma doença grave ou conjunto de doenças que afetam diretamente ou indiretamente a cognição, humor, mobilidade e comunicação, de forma isolada e associada (MORAES, 2008). Pode-se, a partir de uma avaliação correta, aumentar a efetividade das terapias propostas, através de uma prescrição complementar quanto aos cuidados especiais necessários para suprir as deficiências funcionais e prevenir possíveis complicações que advenham de uma dependência existente ou não satisfeita adequadamente (YUASO & SGUIZZATTO, 1996). 3.1.2 Escala MIF (Medida de Independência Funcional) A Medida de Independência Funcional (MIF) é um instrumento que avalia a capacidade funcional e cognitiva em relação a seis dimensões: autocuidados, controle de esfíncteres, transferências, locomoção, comunicação e cognição social. A Medida de Independência Funcional (MIF) foi desenvolvida na década de 1980 por uma força-tarefa norte-americana organizada pela Academia Americana de Medicina Física e Reabilitação. Seu objetivo foi criar um instrumento capaz de medir o grau de solicitação de cuidados de terceiros que o paciente portador de deficiência exige para realização de tarefas motoras e cognitivas. (RIBERTO et al, 2001). A MIF verifica o desempenho do indivíduo de realização de um conjunto de 18 tarefas, referentes às subescalas de autocuidados, controle esfincteriano, transferências, locomoção, comunicação e cognição social. Cada item pode ser classificado em uma escala de graus de dependência de 7 37 níveis, sendo valor 0 correspondente à dependência total e o valor 7 correspondente à normalidade na realização de tarefas de forma independente (BUFFALO, 1993; RIBERTO et al, 2001) A MIF é uma medida que atende critérios de confiabilidade, validade, precisão, praticidade, facilidade. Tem como meta determinar quais os cuidados necessários a serem prestados para que o paciente realize as AVDs. (RIBERTO et al, 2001). A MIF faz parte do Sistema Uniforme de Dados para Reabilitação Médica (SUDRM), sendo amplamente utilizada e aceita como medida de avaliação funcional internacionalmente (VIANA et al, 2007). Sua natureza é multidimensional, e pode ser utilizada para trazer resultados quanto ao tratamento, como forma de planejamento terapêutico, dentre outros. A revisão da literatura aponta que a MIF é utilizada principalmente em lesões neurológicas e também pode ser utilizada em crianças. A forma de se obter informações deriva da observação do desempenho do paciente, e/ou nas informações fornecidas pelo paciente/familiar/acompanhantes/equipe. Tem como vantagem o fato de não compreender somente as atividades motoras, mas também os aspectos cognitivos e capacidade de comunicação. A escala avalia 18 categorias pontuadas de um a sete e classificadas quanto ao nível de dependência para a realização da tarefa. As categorias são agrupadas em seis dimensões: autocuidados (alimentação, higiene pessoal, banho, vestir metade superior, vestir metade inferior, utilização do vaso sanitário), controle de esfíncteres (controle da urina e defecação), transferências (leito, cadeira, cadeira de rodas, vaso sanitário, banheiro, chuveiro), locomoção (marcha, cadeira de rodas, escadas), comunicação (compreensão, expressão) e cognição social (interação social, resolução de problemas, memória) (Tabela 1) (RICCI, KUBOTA, CORDEIRO, 2005). A Escala MIF é dividida em dois domínios, o motor e o cognitivo. 1) Motor: comer, aprontar-se, banho, vestir parte superior do corpo, vestir parte inferior do corpo, vaso sanitário, controle de bexiga, controle de intestino, transferência da cama para a cadeira de rodas, transferência da cadeira de rodas para o vaso sanitário, transferências no banheiro e chuveiro, 38 marcha/cadeira de rodas, escadas; 2) Cognitivo: compreensão, expressão, integração social, resolução de problemas, memória (Tabela 1). Cada dimensão é analisada pela soma de suas categorias referentes; quanto menor a pontuação, maior é o grau de dependência. Somando-se os pontos das dimensões da MIF, obtém-se um escore total mínimo de 18 e o máximo de 126 pontos, que caracterizam os níveis de dependência pelos subescores (RICCI, KUBOTA, CORDEIRO, 2005). Tabela 1. Tarefas Avaliadas pela Medida de Independência Funcional. DIMENSÕES CATEGORIAS MIF TOTAL MIF motor Autocuidados Alimentação Higiene matinal Banho Vestir-se acima da cintura Vestir-se abaixo da cintura Uso do vaso sanitário Controles de esfíncteres Controle da Urina Controle das Fezes Transferências Leito, cadeira, cadeira de rodas Vaso sanitário Chuveiro ou banheira Locomoção Marcha / Cadeira de Rodas Escadas MIF cognitivo Comunicação Compreensão Expressão Cognição Social Interação social Resolução de problemas Memória FONTE: RIBERTO et al, 2001. A pontuação de cada categoria varia de um a sete (1 – 7), de acordo com o grau de dependência (Quadro 4): 7 - independência completa; 6 - independência modificada; 5 - supervisão; 4 - ajuda mínima (indivíduo realiza > 75% da tarefa); 3 - ajuda moderada (indivíduo realiza > 50% da tarefa); 2 - ajuda máxima (indivíduo realiza > 25% da tarefa); 1 - ajuda total. 39 Quadro 4. Pontuação de cada categoria. Pontos Descrição 7 Independência completa 6 Independência modificada 5 Supervisão, estímulo ou preparo 4 Dependência; ajuda mínima 3 Dependência; ajuda moderada 2 Dependência; ajuda máxima 1 Dependência; ajuda total A MIF total pode ser dividida em quatro subescores, de acordo com a pontuação total obtida: a) 18 pontos: dependência completa (assistência total); b) 19 – 60 pontos: dependência modificada (assistência de até 50% da tarefa); c) 61 – 103 pontos: dependência modificada (assistência de até 25% da tarefa); d) 104 – 126 pontos: independência completa / modificada. 40 CONCLUSÃOA expectativa de vida mundial aumentou de maneira relevante, e como conseqüência houve um aumento significativo da população idosa. Devido a este aumento fica evidente a necessidade de uma maior atenção a esta faixa etária. O processo de envelhecimento pode acarretar algumas dificuldades ao individuo, gerando assim um comprometimento da sua capacidade funcional, atrapalhando na realização de suas atividades do dia-a-dia. Por conseguinte, este trabalho teve o objetivo de mostrar dois instrumentos de avaliação da capacidade funcional do idoso, o índice de Katz e a escala de medida de independência funcional (MIF), já que ambos visam identificar as possíveis dependências em relação a funcionalidade do paciente. O índice de Katz é um dos instrumentos mais antigos e está presente em praticamente todas as avaliações multidimensionais. A MIF avalia além da capacidade funcional, a capacidade cognitiva, tornando assim uns dos testes mais completos. Com o resultado destas avaliações é possível traçar um tratamento fisioterapêutico adequado e um plano de cuidados suplementares visando a maior independência possível deste individuo, melhorando assim sua qualidade de vida. 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, M.C.B.; HENEMANN, L.; ROTHENBUHLER, R.; A Capacidade Funcional em Pacientes, e a Fisioterapia em um programa de assistência domiciliar. Fisiotererapia em Movimento. v.11, n.1, p.11-20, 2008. ANDREOTTI, R.S.; OKUMA, S.S. Validação de uma bateria de testes de atividades da vida diária para idosos fisicamente independentes. Revista Paulista de Educação Física, v.1, n.13, p.46-66, 1999. BALTES, P. B.; & BALTES, M. M. (1990). Psychological perspectives on sucessful aging: The model of selective optimization with compensation. In P. B. Baltes & M. M. Baltes (Eds.), Sucessful aging: Perspectives from the Behavioral Sciences (pp. 1-34). 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