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SOCIEDADES INDÍGENAS NO BRASIL 
 
Os povos indígenas do Brasil 
Estima-se que, quando os portugueses chegaram às terras que hoje chamamos de Brasil, viviam na região mais de 3 milhões de pesso-
as, falando mais de mil línguas. As diferenças culturais entre os diversos grupos indígenas eram imensas. 
De acordo com a classificação linguística, os povos indígenas do Brasil se dividiam nos grupos tupi (ou tupi-guarani), jê, caraíba e arua-
que, além de grupos menores. Com certeza, muitas outras famílias linguísticas existiram, mas foram extintas antes que se iniciassem os 
estudos de classificação dos nativos americanos. 
 
Direito às terras tradicionais 
Para facilitar nosso estudo, vamos reunir grupos indígenas que possuem características comuns. Isso não significa que desprezamos as 
particularidades de cada um desses povos. É preciso lembrar-se sempre da diversidade cultural existente tanto entre as comunidades 
indígenas como entre elas e a nossa sociedade. 
Diversos grupos indígenas ainda vivem hoje de forma parecida à que se vivia na época do "descobrimento" da América. Outros fazem 
esforços para preservar suas tradições e manter suas terras. Os povos indígenas estão espalhados por todo o território. A maioria vive 
em terras indígenas, ou seja, terras de uso exclusivo dos índios, demarcadas e reconhecidas pelo governo federal. De acordo com a 
Constituição de 1988, os índios têm o direito de viver nas terras que tradicionalmente ocupam. Além disso, garante-se aos índios a 
posse permanente e o uso exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos neles existentes. Muitas terras indígenas estão localiza-
das em áreas ricas em recursos naturais, como madeiras e minérios, despertando o interesse dos não índios. As invasões às terras indí-
genas e a exploração de seus recursos por não índios têm sido causa de inúmeros conflitos, muitas vezes resultando em mortes. 
 
Agricultores, coletores e artesãos 
Antes da chegada dos portugueses, os povos indígenas do Brasil não construíam cidades, não acumulavam excedentes, não utilizavam 
moedas, não conheciam um Estado centralizado nem a ideia de propriedade privada da terra. Entre eles não havia cobrança de impos-
tos nem diferenças sociais. A maior parte das tribos era seminômade e vivia em aldeias. Uma só tribo podia reunir várias aldeias e con-
trolar um extenso território. As aldeias tupis, por exemplo, localizavam-se em áreas bem servidas de água, madeira e caça. Cada aldeia 
tinha uma população que variava de 500 a 3 mil pessoas, distribuídas em quatro a oito habitações. Cada moradia tinha um líder, cha-
mado principal. As relações entre as aldeias variavam de tempos em tempos: os aliados de hoje podiam ser os inimigos de amanhã. 
O artesanato desses povos era diversificado. Eles faziam redes com fibras vegetais; objetos e utensílios de madeira, de pedra ou de 
osso; cerâmica e cestos. As residências eram de madeira, cipó e fibras vegetais, elementos encontrados em abundância na natureza. 
Além de serem exímios caçadores e coletores, desenvolveram importante atividade agrícola nas terras próximas às aldeias. Cultivavam 
mandioca, cará, batata-doce, amendoim, abacaxi, mamão, milho, feijão, caju e inúmeras outras plantas. O peixe e a caça completavam a 
dieta. Como você pode perceber, o cardápio desses indígenas era variado e rico. 
 
A riqueza indígena na floresta 
Os indígenas do Brasil queimavam parte da floresta para fazer roças de plantio (método chamado agricultura de coivara). Como suas 
roças eram pequenas e eles cultivavam apenas o necessário para a sobrevivência da aldeia, não destruíam a floresta. 
Entre as espécies frutíferas plantadas ou coletadas pelos indígenas, podemos citar: castanha-do-pará, maracujá, umbu, mangaba, jabu-
ticaba, cupuaçu, pitanga, fruta-do-conde, cajá, goiaba, entre outras. As palmeiras da floresta forneciam alimento (palmito, açaí, pupu-
nha, entre outros), madeira para diversos fins e a palha, muito utilizada na produção de cestos, esteiras e outros tipos de artesanato. 
Entre as plantas medicinais mais conhecidas, podemos citar o jaborandi, a copaíba e a quinina, além de estimulantes como a erva-mate 
e o guaraná. De acordo com o cientista Andrew Gray, três quartos das drogas medicinais prescritas atualmente derivam de plantas 
descobertas por povos indígenas. 
 
A importância da mandioca para os nativos 
Um dos alimentos mais importantes para esses povos foi a mandioca, raiz de alto teor nutritivo. Algumas espécies de mandioca são 
venenosas, mas os índios descobriram que, quando essas raízes são torradas e prensadas, o veneno é eliminado. Da mandioca, os indí-
genas faziam a farinha, a tapioca, o beiju e bebidas fermentadas. Costumavam comer a farinha misturada com carne, vegetais e frutas. 
Além disso, faziam pirão e paçoca com a raiz, que era o principal alimento dos índios antes da chegada dos portugueses. Em torno da 
mandioca, conhecida no Brasil como pão-pobre, uaipi, aipim, castelinha ou macaxeira, foram criadas lendas. 
 
Vida cotidiana 
Os povos indígenas utilizavam machados e facas de pedra para facilitar o trabalho diário. As mulheres encarregavam-se das atividades 
domésticas do artesanato e dos trabalhos agrícolas, enquanto os homens se dedicavam à caça, à pesca, à guerra e à construção das 
casas. 
Os ameríndios dominavam a arte de fazer fogo a partir da rotação rápida de um pedaço de madeira dura sobre outro mais flexível. O 
fogo era utilizado para preparar alimentos e fabricar recipientes de barro. O grau de elaboração desses recipientes variava de acordo 
com o grupo indígena. Muitos grupos eram hábeis artesãos e produziam potes, vasos, esculturas, imagens sagradas, entre outras peças 
de cerâmica. 
Os indígenas desenvolveram técnicas para conservar os alimentos. Além de utilizar o sal, abundante nas regiões litorâneas, eles em-
pregavam também a técnica de secar a carne de caça ao Sol, prática comum nos nossos dias. 
Nessas sociedades sem Estado, não havia um poder político que determinasse o que as pessoas deveriam fazer e que punisse quem 
não obedecesse. Era comum a existência de líderes de pequenos grupos, com autoridade temporária, escolhidos para coordenar as 
ações durante uma caçada ou uma expedição guerreira. Os pajés, considerados sacerdotes e sábios, também tinham grande prestígio 
social. Eles ajudavam a curar as doenças dos membros de suas comunidades, em uma cerimônia chamada de pajelança. 
Ainda hoje, esse costume permanece presente na organização política de vários povos. Nessas tribos, como no passado, os assuntos 
mais importantes são discutidos pelos guerreiros mais experientes ou pelos homens adultos. Nos conselhos tribais ou de aldeia, as 
opiniões dos pajés são respeitadas. 
 
A arte indígena 
As mais conhecidas manifestações artísticas dos índios do Brasil eram a pintura corporal, registrada em diversos documentos históricos, 
e a arte plumária, resultado da confecção de cocares e mantos de penas de aves. Na produção de objetos como cestos e utensílios de 
cerâmica, os indígenas mostravam a preocupação em associar beleza e utilidade. 
 
 
A arte marajoara 
Muitos séculos antes de Pedro Álvares Cabral aportar no litoral da Bahia, os marajoaras, habitantes da ilha de Marajó, na região amazô-
nica, fabricavam refinados objetos de cerâmica e ornamentos de penas, cestas, arcos, flechas, ferramentas simples, canoas e demais 
utensílios. Outros adereços usados pelos índios eram os colares, braceletes, brincos, botoques, tiras e cinturões formando chocalhos, 
feitos de contas, conchas e sementes. Na cerâmica, fabricavam potes e vasos de uso doméstico, além de urnas funerárias ou cerimoni-
ais. 
 
Guerras indígenas 
Os primeiros contatos dos europeus com os índios brasileiros foram feitos com os tupis, que habitavam toda a costa atlântica. Os po-
vos não tupis eram chamados de tapuias. Segundo relatos da época, os grupos viviam em harmonia interna, mas havia intensas hostili-
dades entrediversos grupos. Os povos indígenas eram guerreiros. Frequentemente, as batalhas eram provocadas por rivalidades entre 
tribos, muitas vezes decorrentes de eventos ocorridos em gerações ancestrais. Antes e depois das principais batalhas, celebravam-se 
cerimônias, nas quais os guerreiros tatuavam várias partes do corpo. Nessas cerimônias, eles consumiam substâncias alucinógenas e 
invocavam os espíritos. O objetivo das guerras era capturar prisioneiros para vingar os antepassados, e não exterminar os povos inimi-
gos ou ocupar territórios. 
 
A antropofagia 
Registros feitos por viajantes europeus que observaram os costumes da população nativa são uma fonte valiosa para o estudo dos 
povos indígenas do Brasil. Os relatos dos viajantes mostram que o costume indígena que mais perturbou os europeus foi o ritual an-
tropofágico. Nas guerras rotineiras entre as tribos, a vitória garantia à tribo vencedora o direito de devorar um dos guerreiros da tribo 
inimiga. O prisioneiro era levado para a aldeia, onde aguardava a execução. Enquanto isso, ele era muito bem tratado, alimentado e 
podia até receber uma esposa. Quando se aproximava o dia de sua morte, as aldeias vizinhas eram convidadas para a grande festa. 
Chegado o dia, o prisioneiro e o executor eram enfeitados com cores fortes e brilhantes. Depois de morto, seu corpo era limpo, cozido 
em grandes panelas e saboreado pelos presentes. Todo esse ritual destinava-se a vingar os parentes mortos em guerras e incorporar as 
virtudes guerreiras do morto. 
 
Colonização: ameaça à vida dos índios 
Desde que os europeus chegaram à América, milhões de índios morreram e diversos grupos desapareceram, vítimas principalmente de 
massacres, doenças trazidas pelos europeus e suicídios. 
No Brasil, as línguas indígenas foram reduzidas a aproximadamente 170, faladas por 206 diferentes etnias. Só na primeira metade do 
século XX, cerca de 80 etnias foram extintas. Estradas, hidrelétricas e empreendimentos econômicos de vários tipos foram implantados 
com impactos devastadores sobre as terras indígenas. Durante muitos anos o Estado brasileiro tratou os índios como incapazes. O 
antigo Código Civil, promulgado em 1916, classificava os índios, os loucos e os surdos-mudos como incapazes de manifestar sua vonta-
de. O governo criou até um órgão indigenista, a Fundação Nacional do Índio (Funai), para ser o responsável por eles. 
Os direitos dos indígenas só foram assegurados na última Constituição brasileira, promulgada em 1988. Os índios conquistaram o res-
peito à sua organização social, aos costumes, às línguas, crenças e tradições, e tiveram reconhecido o direito às terras que tradicional-
mente ocupam. Essas conquistas resultaram de um processo de mobilização e pressão por parte do movimento indígena. 
Na América do Norte, a atitude dos colonizadores ingleses e franceses não foi diferente. A matança dos índios na região das Grandes 
Planícies, durante o século XIX, foi tema de diversos filmes de "faroeste", a maioria dos quais retratava os indígenas como assassinos e 
os colonizadores como heróis. Os povos indígenas sobreviventes vivem hoje confinados em pequenas reservas. Apesar disso, as popu-
lações indígenas têm crescido novamente nas Américas, depois de séculos de massacres.