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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS MATEMÁTICAS E DA NATUREZA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE METEOROLOGIA Disciplina: POLUIÇÃO DO AR (IGT603) Professor Responsável: Luiz Francisco Pires Guimarães Maia (luizmaia@acd.ufrj.br) Texto Complementar UNIDADE 3 - ESCALAS DO PROBLEMA DE POLUIÇÃO DO AR A poluição do ar existe em todas as escalas, de local a global. Existem cinco diferentes escalas: local, urbana, regional, continental e global. Os alcances de influência dos poluentes vão de moléculas, como gases e nanopartículas, até planetárias, como a difusão dos gases do efeito estufa pela troposfera. A escala local compreende 5 km da superfície da Terra. A escala urbana tem a ordem de 50 km. A escala regional se estende de 50 a 500 km. As escalas continentais podem ir de 500 a 1000 km. E claro, a escala global compreende todo o globo. 1. LOCAL Problemas locais de poluição do ar são geralmente caracterizados por um ou muitos emissores de grande escala ou a um grande número de pequenos emissores. Quanto menor a altura de liberação de uma fonte, maior será o potencial de impacto. Monóxido de carbono emitido dos motores de veículos, que lideram as altas concentrações perto de rodovias, é um exemplo. Qualquer fonte no nível do solo, como a evaporação de compostos orgânicos voláteis de um tanque de tratamento de resíduos, irá produzir altas concentrações perto da fonte, indo diminuindo ao passo que se distancia. Este fenômeno é conhecido como Gradiente de Concentração. 2 Grandes fontes que emitem a altas distâncias do solo através de grandes quantidades, como usinas elétricas ou indústrias, também podem causar problemas locais, especialmente sobre condições meteorológicas instáveis que fazem com que porções de pluma cheguem ao solo em altas concentrações. EFEITO CANYON Também conhecido como “cânion urbano”, é um fenômeno característico da área central das cidades, cujas edificações estão enfileiradas em ambos os lados da rua. Essa disposição dificulta a passagem do vento, criando um vórtice, que dificulta a dispersão dos poluentes atmosféricos, elevando os índices dos mesmos próximo ao solo. GRADIENTE DE VELOCIDADE DO VENTO A velocidade do vento varia com a altura e o terreno. À medida que a altitude aumenta, a velocidade do vento aumenta e à medida que o terreno se torna mais áspero, a taxa com que a velocidade do vento aumenta diminui. Isto significa que a velocidade do vento em um ambiente aberto, rural, aumentará com a altura muito mais rapidamente do que a velocidade do vento em um centro urbano denso. Como resultado, a velocidade do vento pode variar entre diferentes terrenos na mesma elevação. Em ambientes urbanos densos, o vento atingirá 100% de velocidade a uma altitude muito maior do que um ambiente aberto 3 sem edifícios e com isso, a dispersão de poluentes em áreas urbanas é menor do que em áreas rurais. 2. URBANA Problemas de Poluição do ar em áreas urbanas sao geralmente por duas formas. A primeira é a liberação de poluentes primários (aqueles lançados diretamente pelas fontes). A outra é a formação de poluentes secundários (poluentes formados a partir da reação química dos poluentes primários). Esses problemas podem ser causados por fontes individuais na escala urbana assim como na escala local. Desde que a maior fonte de monóxido de carbono são os motores de veículo, "hot spots" de alta concentração podem ocorrer especialmente próximos a cruzamentos. Essas emissões são mais significativas quando se trata de veículos em marcha lenta. Os "hot spots" se agravam se altas construções cercam esses cruzamentos. O Ozônio troposférico é um problema urbano dominante que se resulta da formação de poluentes primários. Várias grandes metrópoles experienciam a formação do ozônio por reações fotoquímicas de óxidos nitrogênio e várias espécies de hidrocarbonetos. Essas reações são catalizadas pela luz ultravioleta e por isso são chamadas de reações fotoquímicas. Óxidos de nitrogênio, principalmente o óxido nítrico (NO), mas também o dióxido de nitrogênio (NO2) são também emitidos pelos veículos e por processos de combustão. 4 BALANÇO DE RADIAÇÃO Quando a radiação solar atinge a Terra, ela é refletida, espalhada e absorvida. Em um solo coberto de vegetação as folhas absorvem uma grande quantidade de radiação, impedindo a incidência direta na superfície. A vegetação absorve parte da energia que é consumida também na evaporação da água. Embora a radiação solar incida em linha reta, os gases e aerossóis podem causar o seu espalhamento em diversos níveis da atmosfera, chamado de insolação difusa. O vapor d’água tem um alto índice de absorção da radiação solar. Juntamente com o oxigênio e o ozônio, o vapor d’água representa a maior parte dos 19% da radiação solar que são absorvidos na atmosfera. O vapor d’água e o dióxido de carbono são os responsáveis pela maior parte da absorção da radiação solar na faixa do infravermelho, que ocorre na troposfera onde suas concentrações são maiores. O vapor d’água absorve aproximadamente 5 vezes mais radiação terrestre que todos os outros gases combinados. Aproximadamente 51% da energia solar que chega ao topo da atmosfera consegue atingir a superfície da Terra. Depois, a maior parte desta energia é irradiada de volta para a atmosfera na faixa do infravermelho. 5 ILHA DE CALOR É um fenômeno climático que ocorre principalmente em cidades com elevado grau de urbanização. Acontece quando há a elevação da temperatura quando comparada a áreas periféricas, consolidando literalmente uma ilha (climática). Surge em períodos diurnos e noturnos, mas seu ápice é ao anoitecer, quando a área rural resfria mais rápido que a urbana, onde muros, asfalto e todo tipo de edificação receberam radiação solar durante todo o dia, retendo calor por mais tempo. O aumento da temperatura e a conseqüente diminuição da umidade relativa, em associação com a má qualidade do ar, podem gerar situações de desconforto térmico assim como causar danos à saúde dos habitantes locais. 3. REGIONAL Pelo menos três tipos de problemas contribuem para a poluição do ar na escala regional. O primeiro é a mistura de oxidantes urbanos na escala regional. Muitas grandes áreas metropolitanas estão próximas uma das outras e em constante crescimento. Em resultado disso, o ar de uma área metropolitana, contendo ambos os poluentes primários e secundários, flui para uma área metropolitana adjacente. 6 O segundo problema está na liberação de poluentes primários de lenta reação que sofrem reações e transformações num longo período de transporte. O gás, dióxido de enxofre (SO2), lançado primeiramente pela combustão de combustíveis fósseis, é oxidado durante um transporte de longa distância a trióxido de enxofre (SO3): 2 SO2 + O2 = SO3 Embora SO2 seja um gás, ambas as fases gasosa e líquida da oxidação do SO2 ocorre na troposfera. O SO3 por sua vez reage com o vapor de água para formar o ácido sulfúrico: SO3 + H2O = H2SO4 O ácido sulfúrico reage com diversos compostos para formar sulfatos. Estes são partículas finas (submicrometro). Óxido nítrico (NO) resulta da combustão de alta temperatura, tanto de usinas elétricas e de indústrias. O NO é oxidado na atmosfera, geralmente bem devagar, ou mais rapidamente se existe a presença de ozônio, à dióxido de nitrogênio (NO2). O NO2 também reage com outros elementos, formando nitratos, que também é uma partícula fina. Os sulfatos e nitratosexistentes na atmosfera como partículas finas, geralmente menor que 1 µm, podem ser removidos das atmosfera por diversos processos. "Rain out" ocorre quando as partículas servem como núcleos de condensação para a formação de nuvens. As partículas são então eliminadas se as gotas crescem suficiente para se tornar gota de chuva. Outro mecanismo, chamado de "washout", também involve chuva, mas as partículas são capturadas pela gotas de chuva enquanto estão caindo. Ambos mecanismos contribuem para a formação das chuva ácida, o que faz com que partículas de nitrato e sulfato chegue a lagos e córregos, aumentando sua acidez. Sendo assim, a chuva ácida é um problema tanto regional quanto continental. O terceiro problema está relacionado a visibilidade, que pode ser causado pela emissão e transporte de plumas ou níveis de material particulado no ar, que produz diversas intensidades de neblinas. As finas partículas de sulfato e nitratos discutidas anteriormente são as grandes responsáveis pela redução de visibilidade. 7 4. CONTINENTAL Em uma pequena área continental, como a Europa, existe uma pequena diferença entre o que pode ser considerada uma escala regional e continental. Entretanto, em grandes continentes, já há uma diferença substancial. Talvez a maior preocupação na escala continental seja que as políticas de poluição do ar de uma nação são suscetíveis a criar impactos nas nações vizinhas. A chuva ácida na Escandinávia tem causado impactos na Grã Betanha e na Europa ocidental. O Japão considera parte dos seus problemas de poluição do ar como tendo origens na China e Coréia. Por décadas, Canadá e os Estados Unidos tem cooperado em estudos e em resolver os problemas de chuva ácida na América do Norte. 5. GLOBAL O lançamento de radiação do acidente de Chernobyl poderia ser considerado primeiramente como um problema regional ou continental. Entretanto, níveis mais altos que os usuais foram detectados no noroeste do Pacífico logo após o acidente. Da mesma forma, poluentes orgânicos persistentes, como os Bifenilos policlorados, tem sido observados em mamíferos do Ártico, milhares de milhas de distância da fonte. Essas observações demonstram os efeitos do transporte de longa duração. Um problema de poluição atmosférica de natureza global particularmente notável é o lançamento de clorofluorcarbonos, usados como propelentes de sprays e em ar condicionados e seus efeitos sobre a camada de ozônio na atmosfera. Um problema natural de poluição do ar que pode causar efeitos globais é a injeção de detritos de partículas finas de vulcões. Se uma quantidade considerável é lançada, pode até mudar o balanço de radiação. O bloqueio da radiação solar reduzirá o grau de aquecimento diurno da superfície terrestre. Uma “mini era do gelo” foi causada em meados de 1800, quando uma montanha vulcânica no Pacífico entrou em erupção. O verão do ano foi mais frio do que o habitual.