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Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
 
FACULDADE DE DIREITO 
 
Direito Penal III 
 
MATERIAL 08 
 
Prof.º Rone Miller Roma 
Caiapônia-GO 
DA RIXA 
Rixa é uma luta tumultuosa e confusa que travam entre si três ou mais pessoas, acompanhada 
de vias de fato ou violências recíprocas. Devem existir ao menos três pessoas participando 
ativamente da rixa. 
 
Objetividade jurídica 
A vida e a saúde das pessoas envolvidas na rixa. Nos termos do item 48 da Exposição de 
Motivos da Parte Especial do Código Penal: “A ‘ratio essendi’ da incriminação é dupla: a rixa 
concretiza um perigo à incolumidade pessoal e é uma perturbação da ordem e da disciplina da 
convivência civil”. Com efeito, o Direito Penal enxerga na rixa, antes de tudo, um crime de 
perigo para a incolumidade pessoal, mas a maior preocupação do legislador reside no dano que 
dela inevitavelmente resulta. 
 
Objeto material 
É o participante da rixa. 
 
Núcleo do tipo 
O núcleo do tipo é “participar”, isto é, tomar parte nas agressões. Os três ou mais rixosos 
devem combater entre si. Se dois ou mais indivíduos atacam um terceiro que somente se 
defende, não há rixa. Participa da rixa quem nela pratica, agressivamente, atos de violência 
material (exemplos: chutes, socos, pauladas etc.). Como nessas situações não se pode precisar 
qual golpe foi efetuado por um determinado agressor contra o outro, todos devem ser punidos 
pela rixa, em face da participação no tumulto. 
A rixa não se confunde com o crime de multidão, no qual há uma multiplicidade de agentes, 
espontaneamente organizada no sentido da ação comum contra pessoas ou coisas, e não para 
ataque recíproco. Em síntese, não se configura o crime tipificado pelo art. 137 do Código Penal 
quando lutam entre si dois ou mais grupos contrários, perfeitamente definidos. Nesse caso, os 
membros de cada grupo devem ser responsabilizados pelos ferimentos produzidos nos membros 
do grupo contrário. 
Entende-se, entretanto, existir crime de rixa quando se inicia uma troca de agressões entre dois 
ou mais grupos distintos, mas, em consequência do elevado número de pessoas envolvidas, não 
é possível identificar a qual grupo pertence cada um dos lutadores. 
Não se exige o emprego de armas, nem mesmo que os rixosos lutem fisicamente (exemplo: 
lançar pedras uns contra os outros). Contudo, rixa não é simples troca de palavras (injúrias 
ou ameaças), por mais ríspida que possa ser. Inexiste crime na altercação verbal violenta. 
Devem existir vias de fato ou lesões corporais, em que se chocam os contendores, com risco de 
danos à incolumidade corporal de qualquer deles ou de outrem. 
A participação na rixa pode ser material ou moral. 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
Participação material é a inerente às pessoas que efetivamente tomam parte na contenda, 
mediante atos violentos e agressivos. É o caso da pessoa que efetua socos ou pontapés contra 
outrem, atira pedaços de vidros contra terceiros etc. Aquele que assim age é denominado de 
partícipe da rixa. 
Participação moral, por sua vez, é a relativa aos sujeitos que estimulam os demais a lutarem 
entre si, por meio de induzimento ou instigação. É chamado de partícipe do crime de rixa, e 
deve ser no mínimo uma quarta pessoa, pois o delito reclama ao menos três indivíduos na luta 
generalizada. 
Normalmente a rixa é crime comissivo. Pode, no entanto, ser praticada por omissão, quando o 
omitente podia e devia agir para evitar o resultado. Exemplificativamente, também comete rixa 
o policial que assiste a três pessoas se digladiando e nada faz para impedir o prosseguimento da 
luta. 
 
Sujeitos do crime: ativo e passivo 
A rixa é classificada como crime plurissubjetivo, plurilateral ou de concurso necessário, 
pois o tipo penal reclama a participação efetiva de ao menos três pessoas na troca de agressões 
materiais. Basta um imputável. Pouco importa sejam os demais menores de idade, loucos ou 
desconhecidos. É, ainda, crime de condutas contrapostas, pois os rixosos atuam uns contra 
os outros. 
Cada participante é ao mesmo tempo sujeito ativo e passivo da rixa. Sujeito passivo não da 
própria ação, mas da ação dos outros, ou ainda da situação de perigo que com a formação da 
rixa se criou. 
 
Elemento subjetivo 
É o dolo de perigo, pouco importando o motivo que ensejou o surgimento de rixa. Não existe 
forma culposa. 
Como expressamente destaca o tipo penal, não há crime na conduta de quem ingressou no 
tumulto somente para separar os contendores. Nesse caso, não há dolo de participar da rixa. 
Por se tratar de crime de perigo, não é necessário que qualquer dos rixosos sofra lesões 
corporais. Mas, se resultar lesão corporal leve em algum dos envolvidos e seu autor for 
identificado, ele responderá pela rixa e por esse crime, em concurso material. Entretanto, 
tratando-se de lesão corporal grave ou gravíssima, o crime será de rixa qualificada. A 
contravenção de vias de fato é absorvida pela rixa. 
Anote-se que o crime é de perigo abstrato ou presumido: a lei presume, de forma absoluta, 
que há situação de perigo com a participação na rixa. 
 
Consumação 
Dá-se com a prática de vias de fato ou violências recíprocas. É nesse momento que se produz o 
perigo abstrato de dano à vida ou à saúde da pessoa humana. 
 
Tentativa 
A rixa, normalmente, surge no arrebatamento da cólera. Os rixosos se acometem de súbito, 
formando o conflito tumultuoso. É a rixa subitânea ou ex improviso. Nada impede, entretanto, 
seja premeditado o ataque de umas pessoas contra outras, para vingança ou desagravo, e nasça 
daí o embate da rixa, chamada de rixa preordenada ou ex proposito. 
Na primeira (rixa subitânea ou ex improviso) não se admite o conatus. Ou ocorre a rixa, e o 
crime está consumado, ou o tumulto não se inicia, e o fato é atípico. 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
Na segunda (rixa preordenada ou ex proposito), por outro lado, é cabível a tentativa, quando 
três ou mais pessoas acertam uma rixa, mas não conseguem consumá-la por circunstâncias 
alheias às suas vontades, tal como em razão da intervenção policial. 
 
Rixa qualificada: art. 137, parágrafo único 
A rixa qualificada, também chamada de rixa complexa, é uma das últimas reminiscências 
da responsabilidade penal objetiva. Com efeito, a redação do parágrafo único do art. 137 do 
Código Penal permite a conclusão de que todos os rixosos, pelo fato da participação na rixa, 
suportarão a qualificadora quando ocorre lesão corporal de natureza grave ou morte, pouco 
importando qual deles foi o responsável pela produção do resultado agravador. 
Mas, se ocorrer lesão corporal de natureza grave ou morte, a pena é aumentada, passando a ser 
de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos de detenção. Há então uma condição de maior punibilidade. 
Frise-se que não se impõe ao simples participante a posição de coautor no crime de dano que 
se verificou. Ele responde somente por uma forma peculiar de crime que é a rixa da qual derivou 
morte ou lesão grave. 
As lesões leves e a tentativa de homicídio não qualificam a rixa. 
É indiferente que a morte ou a lesão corporal de natureza grave tenha sido produzida em um 
dos rixosos ou em um terceiro, alheio à rixa, apaziguador ou mero transeunte. De igual modo, 
também há rixa qualificada quando um estranho mata um dos rixosos quando de sua intervenção 
destinada a conter o tumulto. Basta, em qualquer dos casos, a relação de causalidade entre a 
rixa e o resultado naturalístico. 
O resultado morte ou lesão corporal de natureza grave pode ser não individualizado ou 
individualizado. Na primeira hipótese (resultado não individualizado), todos os rixosos 
respondem pela rixa qualificada.É o que normalmente acontece, pois em geral são 
acontecimentos anônimos cuja autoria se perde no tumulto, e para incluí-los como resultado da 
rixa é suficiente a presença de um vínculo de causa e efeito entre a luta dos rixosos e a 
consequência do dano. 
Frise-se, porém, que somente respondem pela rixa qualificada, mas não pela lesão corporal de 
natureza grave ou pela morte. 
Na segunda hipótese (resultado individualizado), por sua vez, ao autor da morte ou da lesão 
corporal de natureza grave serão imputados os delitos de homicídio ou de lesão grave em 
concurso material com rixa qualificada. Essa foi a opção acolhida pelo Código Penal. Há, 
todavia, opiniões no sentido de que, apurando-se a autoria da morte ou da lesão corporal de 
natureza grave, deve o agente responder pelo homicídio ou lesão grave em concurso material 
com rixa simples, sob pena de caracterização de inaceitável bis in idem. 
A propósito, até mesmo o rixoso que sofreu lesão corporal de natureza grave responde pela rixa 
qualificada, pois o parágrafo único do art. 137 do Código Penal não faz distinção. A lesão grave 
de que foi vítima comunicou à rixa o ônus da qualificadora, e é com esse caráter que ela vem 
recair sobre ele mesmo, bem como sobre os demais participantes. Em resumo, todos os que se 
envolvem no tumulto, daí sobrevindo lesão corporal de natureza grave, respondem pela rixa 
qualificada. 
A pena da rixa qualificada é a mesma, tanto se resultar lesão corporal de natureza grave como 
se resultar morte. O resultado agravador (lesão corporal de natureza grave ou morte) pode ser 
doloso ou culposo. Não se cuida de crime essencialmente preterdoloso. 
Se ocorrerem várias mortes ou lesões corporais de natureza grave, estará caracterizado um 
crime único de rixa qualificada. A pluralidade de eventos lesivos deve ser sopesada pelo 
magistrado na fixação da pena-base (“consequências do crime – CP, art. 59, caput). 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
O sujeito que participou da rixa, mas a abandonou antes da lesão corporal de natureza grave ou 
da morte da vítima, responde pela forma qualificada, pois concorreu, com o seu comportamento 
anterior, para a manutenção e desenvolvimento do entrevero, e, por corolário, também para a 
produção do resultado naturalístico, ainda que indiretamente. 
Todavia, se o sujeito somente ingressou na rixa após a lesão corporal de natureza grave ou 
morte da vítima, a ele será imputado o crime de rixa simples. Responsabilizar o interveniente 
pelo que ocorreu antes de sua participação seria aceitar ter ele influído de qualquer modo na 
produção do resultado, sancionando um absurdo ao admitir que um efeito possa preceder sua 
causa. 
 
Rixa e legítima defesa 
Não é possível suscitar a legítima defesa no crime de rixa, pois quem dele dolosamente participa 
comete ato ilícito. Exemplificativamente, se no contexto da rixa um dos envolvidos empunha 
uma faca para atacar outro rixoso, e este se defende, matando-o, a ele será imputada a rixa, pois 
este delito já estava consumado. Subsiste, contudo, a legítima defesa no tocante ao crime de 
homicídio. 
Anote-se, porém, que a legítima defesa somente alcança os resultados produzidos durante a 
rixa, não impedindo que o sujeito responda por rixa qualificada, nos moldes do art. 137, 
parágrafo único, do Código Penal. Destarte, quem mata, durante o entrevero, em legítima 
defesa, não responde por crime de homicídio, respondendo, contudo, por rixa qualificada. É a 
mesma posição dos outros rixosos, que também respondem por tal delito.126 
 
Ação penal 
A ação penal é pública incondicionada, qualquer que seja a modalidade do delito. 
 
Classificação doutrinária 
Trata-se de crime comum (pode ser praticado por qualquer pessoa); plurissubjetivo, 
plurilateral ou de concurso necessário, e de condutas contrapostas (exigem-se no mínimo 
três pessoas, cujas condutas voltam-se umas contra as outras); doloso; de forma livre (admite 
qualquer meio de execução); comissivo, e, excepcionalmente, omissivo impróprio, espúrio 
ou comissivo por omissão; de perigo abstrato (presume-se, com a prática da conduta, a 
ocorrência de perigo); plurissubsistente e instantâneo (consuma-se em um momento 
determinado, sem continuidade no tempo). 
 
 
 
 
 
 
DOS CRIMES CONTRA A HONRA 
 
Três são os crimes contra a honra definidos no Código Penal: calúnia (art. 138), difamação (art. 
139) e injúria (art. 140). Cada um desses delitos possui um significado próprio, razão pela qual 
não podem ser confundidos entre si. 
 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
Honra é o conjunto de qualidades físicas, morais e intelectuais de um ser humano, que o fazem 
merecedor de respeito no meio social e promovem sua autoestima. É um sentimento natural, 
inerente a todo homem e cuja ofensa produz uma dor psíquica, um abalo moral, acompanhados 
de atos de repulsão ao ofensor. Representa o valor social do indivíduo, pois está ligada à sua 
aceitação ou aversão dentro de um dos círculos sociais em que vive, integrando seu patrimônio. 
Um patrimônio moral que merece proteção. 
 
Espécies de honra 
Classifica-se a honra, inicialmente, em objetiva e subjetiva. 
Honra objetiva é a visão que a sociedade tem acerca das qualidades físicas, morais e 
intelectuais de determinada pessoa. É a reputação de cada indivíduo no seio social em que está 
imerso. Trata-se, em suma, do julgamento que as pessoas fazem de alguém. 
Honra subjetiva, por sua vez, é o sentimento que cada pessoa possui acerca das suas próprias 
qualidades físicas, morais e intelectuais. É o juízo que cada um faz de si mesmo (autoestima). 
Subdivide-se em honra-dignidade e honra-decoro. 
Honra dignidade é o conjunto de qualidades morais do indivíduo, enquanto honra-decoro é 
o conjunto de qualidades físicas e intelectuais. 
Honra comum é a atinente à vítima enquanto pessoa humana, independentemente das 
atividades por ela exercidas. Exemplo: chamar alguém de imbecil. 
Honra especial, também denominada de honra profissional, é a que se relaciona com a 
atividade particular da vítima. Exemplo: chamar um médico-cirurgião de “açougueiro”. 
 
 
ART. 138 – CALÚNIA 
Caluniar consiste na atividade de atribuir falsamente a alguém a prática de um fato definido 
como crime. O legislador foi repetitivo, pois ambos os verbos – “caluniar” e “imputar” – 
equivalem a atribuir. Melhor seria ter nomeado o crime como “calúnia”, descrevendo o modelo 
legal de conduta da seguinte forma: “Imputar a alguém, falsamente, fato definido como crime”. 
Isto é caluniar. 
Vislumbra-se, pois, que a calúnia nada mais é do que uma difamação qualificada, ou seja, uma 
espécie de difamação. Atinge a honra objetiva da pessoa, atribuindo-lhe o agente um fato 
desairoso, no caso particular, um fato falso definido como crime. 
 
Objetividade jurídica 
O art. 138 do Código Penal resguarda a honra objetiva, é dizer, a reputação da pessoa na 
sociedade. 
 
Objeto material 
É a pessoa que tem sua honra objetiva ofendida pela conduta criminosa. 
 
Núcleo do tipo 
O núcleo do tipo é “caluniar”. Como já mencionado, o legislador foi redundante. Caluniar é 
imputar, razão pela qual não era necessário dizer: “caluniar alguém, imputando-lhe...”. A 
conduta consiste em atribuir a alguém a prática de um determinado fato. 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
Esse fato, entretanto, deve ser previsto em lei como criminoso. Há de ser definido como 
crime, qualquer que seja a sua espécie: doloso ou culposo, punido com reclusão ou com 
detenção, de ação penal pública (incondicionada ou condicionada) ou de ação penal privada. 
Nada impede que a calúnia possa se verificar mediante a imputaçãode um crime também de 
calúnia. 
Além disso, é imprescindível a imputação da prática de um fato determinado, isto é, de uma 
situação concreta, contendo autor, objeto e suas circunstâncias. Nesse sentido, não basta chamar 
alguém de “ladrão”, pois tal conduta caracterizaria o crime de injúria. A tipificação da calúnia 
reclama, por exemplo, a seguinte narrativa: “No dia 10 de fevereiro de 2013, por volta das 
20h00, ‘A’, com emprego de arma de fogo, ameaçou de morte a vítima ‘B’, dela subtraindo em 
seguida seu relógio”. 
O fato deve ser também verossímil, pois em caso contrário não há calúnia, tal como quando se 
diz que alguém furtou a lua. 
Se não bastasse, é fundamental que a ofensa se dirija contra pessoa certa e determinada. 
A imputação falsa de contravenção penal não configura o crime de calúnia. Não se admite a 
analogia in malam partem no Direito Penal. Mas não há dúvida de que é maculada a honra 
alheia ao se atribuir falsamente a alguém a responsabilidade por uma contravenção penal, 
motivo pelo qual estará caracterizado o crime de difamação. 
De igual modo, se uma lei posterior retirar o caráter criminoso do fato imputado ao agente 
(abolitio criminis), desaparecerá a calúnia. O delito será desclassificado para difamação, se o 
fato for desonroso, ou deixará de existir, nos demais casos. Exemplo: “A” imputa falsamente a 
“B” a prática de um furto, por ter subtraído um dos seus dez automóveis. Posteriormente, com 
a mudança do regime de governo no país, é editada uma lei que revoga o art. 155 do Código 
Penal (furto), e também autoriza as pessoas a se apoderarem de carros de quem tiver mais de 
um bem dessa natureza. O fato, anteriormente definido como calúnia, será atípico. 
 
Elemento normativo do tipo: “falsamente” 
Deve ser falsa a imputação do fato definido como crime. Por óbvio, não há calúnia quando se 
atribui a determinada pessoa um delito que ela realmente cometeu. A finalidade do Código 
Penal é proteger a honra das pessoas de bem, e não acobertar criminosos. 
Há erro de tipo, excludente do dolo e, consequentemente, do fato típico, quando o agente, 
agindo de boa-fé, supõe erroneamente ser verdadeira a imputação. 
Formas de calúnia 
a) inequívoca ou explícita: a ofensa é direta, manifesta. Não deixa dúvida nenhuma acerca da 
vontade do sujeito de atacar a honra alheia. Exemplo: “A” ingressou ontem na casa de “B”, no 
período noturno, e, ameaçando-a de morte, estuprou-a. 
b) equívoca ou implícita: a ofensa é velada, discreta. O sujeito, sub-repticiamente, passa o 
recado no sentido de que a vítima teria praticado um delito. Exemplo: Em uma conversa em 
que falavam sobre a fortuna de “A”, que fora Prefeito, “B” diz que também seria rico se tivesse 
se apropriado durante anos de verbas públicas. 
c) reflexa: o sujeito, desejando caluniar uma pessoa, acaba na descrição do fato atribuindo 
falsamente a prática de um crime também a pessoa diversa. Exemplo: “A”, policial militar, 
recebeu de “B” elevada quantia em dinheiro para não prendê-lo em flagrante. Atribuiu ao 
funcionário público o crime de corrupção passiva (CP, art. 317), e o delito de corrupção ativa 
(CP, art. 333), ao particular. 
 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
Consumação 
O crime de calúnia ofende a honra objetiva. Consuma-se, portanto, quando a imputação falsa 
de crime chega ao conhecimento de terceira pessoa, sendo irrelevante se a vítima tomou ou não 
ciência do fato. Não é necessário que um número indeterminado ou elevado de pessoas tome 
conhecimento do fato, sendo suficiente que uma única pessoa saiba da atribuição falsa. 
 
Tentativa 
É ou não possível, dependendo do meio de execução do crime. 
A calúnia verbal não comporta o conatus. Tratando-se de crime unissubsistente, ou o sujeito 
atribui falsamente a prática de crime a uma pessoa diversa da vítima, e o delito estará 
consumado, ou não o faz, e o fato é atípico. 
Na forma escrita, porém, é possível a tentativa, como no clássico exemplo da carta que se 
extravia, ou, modernamente, no e-mail recebido criptografado pela vítima. 
 
Subtipo da calúnia: art. 138, § 1.º 
Nos termos do art. 138, § 1.º, do Código Penal: “Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa 
a imputação, a propala ou divulga”. 
Verifica-se essa espécie de calúnia quando alguém, depois de tomar conhecimento da 
imputação falsa de um crime à vítima, leva adiante a ofensa, transmitindo-a a outras pessoas. 
Propalar é relatar verbalmente, enquanto divulgar consiste em relatar por qualquer outro meio 
(exemplos: panfletos, outdoors, gestos etc.). A propalação e a divulgação são condutas do 
sujeito, e não resultado do crime. 
Essa modalidade do crime de calúnia é incompatível com o dolo eventual. A lei é clara 
nesse sentido ao estatuir a expressão “sabendo falsa a imputação”, indicativa de conhecimento 
efetivo da falsidade da imputação (dolo direto). Também não admite tentativa, pois ou sujeito 
relata o que ouviu, e o crime estará consumado, ou não conta, e inexiste crime. Essa é a posição 
dominante. Entendemos, contudo, ser admissível o conatus na conduta de 
“divulgar” (exemplo: o agente coloca um cartaz em uma árvore, mas, antes de ser lido por 
outras pessoas, um raio o destrói). A imputação falsa de crime propalada ou divulgada para um 
só indivíduo caracteriza o delito. A lei não condiciona a tipicidade da conduta ao relato a 
diversas pessoas. Além disso, uma única pessoa já é capaz de transmitir a informação falsa a 
diversas outras. 
Calúnia contra os mortos 
É punível a calúnia contra os mortos (CP, art. 138, § 2.º). 
Somente se admite a calúnia contra os mortos por expressa previsão legal. A imputação que 
caracteriza o crime, obviamente, deve referir-se a fato correspondente ao período em que o 
ofendido estava vivo. Não há regra semelhante no tocante aos demais crimes contra a 
honra. 
A lei tutela a honra das pessoas mortas relativamente à memória da boa reputação, bem como 
o interesse dos familiares em preservar a dignidade do falecido. Vítimas do crime são o cônjuge 
e os familiares do morto, pois este último não tem mais direitos a serem penalmente protegidos. 
 
Exceção da verdade: art. 138, § 3.º 
A descrição típica da calúnia reclama a imputação falsa de fato definido como crime. Portanto, 
somente há calúnia quando a imputação é falsa (elemento normativo do tipo). Se a imputação 
é verdadeira, o fato é atípico. 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
A falsidade da imputação é presumida. Essa presunção, contudo, é relativa (iuris tantum), 
pois admite prova em sentido contrário. Aquele a quem se atribui a responsabilidade pela 
calúnia pode provar a veracidade do fato criminoso por ele imputado a outrem. A exceção da 
verdade é o instrumento adequado para viabilizar essa prova, e se fundamenta no interesse 
público em apurar a efetiva responsabilidade pelo crime para posteriormente punir seu autor, 
coautor ou partícipe. Lembre-se que a tipificação da calúnia serve para tutelar a honra de 
pessoas de bem contra ataques ilícitos, mas nunca para acobertar criminosos. 
Trata-se de incidente processual e prejudicial, pois impede a análise do mérito do crime de 
calúnia, devendo ser solucionado antes da ação penal. Ademais, constitui-se em medida 
facultativa de defesa indireta, pois o acusado pelo delito contra a honra não é obrigado a se 
valer da exceção da verdade, e pode defender-se diretamente (exemplo: negativa de autoria). 
Na hipótese de autoridade pública com prerrogativa de foro (foro especial), a exceção da 
verdade será decidida pelo Tribunal competente. Exemplificativamente, se “A” imputou a um 
juiz de Direito carioca a prática de um crime, e por esta razão foi processado pelo crime de 
calúnia, eventual exceção da verdadepor ele oferecida será julgada pelo Tribunal de Justiça do 
RJ. Entretanto, a análise da sua admissibilidade será realizada pelo juízo em que tramita a ação 
penal. 
Em razão de ser a falsidade da imputação uma elementar do crime de calúnia, a regra é a 
admissibilidade da exceção da verdade. É o que se extrai do § 3.º do art. 138 do Código Penal: 
“Admite-se a prova da verdade”. Entretanto, a exceção da verdade não poderá ser utilizada em 
três situações expressamente previstas pelo legislador. O rol é taxativo e não pode ser ampliado 
pelo intérprete da lei. Vejamos. 
 
a) se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado 
por sentença irrecorrível: inciso I 
Nos crimes de ação penal privada somente a vítima (ou seu representante legal, dependendo do 
caso) pode iniciar o processo penal, mediante o ajuizamento de queixa-crime. Orientou-se o 
legislador pelo critério do strepitus fori (escândalo do foro), pois nessas hipóteses a publicidade 
da ação penal pode ser mais prejudicial ao ofendido do que suportar a impunidade do delito 
contra ele cometido. A decisão sobre exercitar ou não a persecução penal, portanto, pertence 
única e exclusivamente à vítima. 
Destarte, a utilização da exceção da verdade para provar a veracidade da imputação, quando a 
vítima do crime imputado não desejou processar seu responsável, importaria em nítida violação 
da sua vontade, tornando público um assunto que ela preferiu manter em segredo. Esse é o 
fundamento da vedação desse meio de prova. Imaginemos um exemplo: João imputa a Pedro a 
prática de um crime de injúria, pois, em determinada data, ele teria chamado Maria de 
“prostituta”. Maria, entretanto, em que pese ter lavrado um boletim de ocorrência contra Pedro, 
não ajuizou queixa-crime contra ele no prazo decadencial, operando-se a extinção da 
punibilidade de eventual crime de injúria. Não seria razoável permitir a João, contra a vontade 
de Maria, provar ter sido ela realmente injuriada por Pedro. 
Se não bastasse, ainda que o ofendido tenha inaugurado a ação penal privada, considera-se o 
réu inocente até o trânsito em julgado da condenação (CF, art. 5.º, inc. LVII), razão pela qual 
também se proíbe a exceção da verdade. É o que dispõe a parte final da regra em análise: “o 
ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível”. 
 
b) se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no n.º I do art. 141: inciso II 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
Não se admite a exceção da verdade quando o fato é imputado contra o Presidente da 
República ou contra chefe de governo estrangeiro. 
Esse dispositivo, longe de constituir-se em inaceitável privilégio de caráter pessoal, tem assento 
constitucional. Com efeito, o Supremo Tribunal Federal é o juízo competente para processar e 
julgar, originariamente, nas infrações penais comuns, o Presidente da República (CF, art. 102, 
inc. I, b), somente depois de admitida a acusação por dois terços da Câmara dos Deputados (CF, 
art. 86, caput). 
Fica claro, portanto, que a exceção da verdade implicaria desrespeito a tais regras 
constitucionais, pois se buscaria provar a responsabilidade penal do Presidente da República 
em uma ação penal comum, e sem o juízo de admissibilidade da acusação pela Câmara dos 
Deputados. Observe o exemplo: “A” diz a “B” que o Presidente da República ingressou em sua 
casa e de lá subtraiu diversos dos seus pertences pessoais. O Presidente da República oferece 
contra “A” queixa-crime pela prática de calúnia. Em respeito ao complexo procedimento 
constitucionalmente previsto para proteger o cargo do Presidente da República, “A” não poderá 
se valer da exceção da verdade para provar que o Chefe do Poder Executivo Federal realmente 
furtou seus bens. 
No tocante aos chefes de governos estrangeiros, a vedação ao uso da exceção da verdade 
encontra fundamento nas imunidades diplomáticas, pois tais pessoas são imunes à jurisdição 
brasileira, respondendo apenas perante seus países de origem. 
Vicente Greco Filho, contrário a estas proibições legais, aduz que o art. 138, § 3.º, inciso II, do 
Código Penal, não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, tendo em vista a 
plenitude do regime democrático, no qual a verdade não admite restrição à sua emergência, 
qualquer que seja a autoridade envolvida. 
 
c) se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença 
irrecorrível: inciso III 
O crime imputado pode ser de ação penal pública ou de ação penal privada. Em qualquer 
hipótese, se o ofendido pela calúnia foi absolvido por sentença irrecorrível, a garantia 
constitucional da coisa julgada impede o uso da exceção da verdade (CF, art. 5.º, inc. XXXVI). 
Se o Poder Judiciário, depois de cumprido o devido processo legal, já decidiu pela 
improcedência da acusação, recaindo sobre essa sentença a autoridade e a eficácia da coisa 
julgada, não pode o responsável pela calúnia querer provar, em um incidente processual, que o 
ofendido pela calúnia deveria ter sido punido pelo crime a ele imputado. Frise-se, em reforço, 
a impossibilidade no direito brasileiro de revisão criminal pro societate. 
Entretanto, se ocorreu a extinção da punibilidade no tocante ao crime anterior, a exceção da 
verdade será possível, pois não houve análise do mérito em favor do réu, isto é, ele não foi 
absolvido. 
 
Consequência da inadmissibilidade da exceção da verdade 
Uma questão constantemente formulada em concursos públicos, especialmente em provas 
orais, é a seguinte: “Existe calúnia com a imputação verdadeira de fato definido como crime?”. 
O instinto é responder “não”. O raciocínio formulado pelos candidatos e normalmente forçado 
pelos examinadores é esse: “A falsidade da imputação é elementar do tipo penal previsto no art. 
138 do Código Penal. Portanto, não se pode falar em calúnia com imputação verdadeira de fato 
definido como crime”. 
Mas esse raciocínio é equivocado. A resposta é sim, ou seja, existe calúnia com imputação 
verdadeira de fato definido como crime, nas hipóteses em que não se admite a exceção da 
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verdade. Com efeito, ainda que verdadeira a imputação, isto é, embora seja efetivamente o 
ofendido responsável pelo crime a ele atribuído, o réu da ação penal de calúnia não poderá 
provar a veracidade do que disse, uma vez que a lei não aceita esse meio de defesa. 
Anote-se, porém, que há posicionamentos no sentido de que, constituindo-se a exceção da 
verdade um meio de defesa, qualquer restrição à sua utilização, como ocorre nas três alíneas do 
art. 138, § 3.º, do Código Penal, viola o princípio constitucional da ampla defesa (art. 5.º, inc. 
LV). 
 
 
ART. 139 – DIFAMAÇÃO 
Constitui-se a difamação em crime que ofende a honra objetiva, e, da mesma forma que na 
calúnia, depende da imputação de algum fato a alguém. Esse fato, todavia, não precisa ser 
criminoso. Basta que tenha capacidade para macular a reputação da vítima, isto é, o bom 
conceito que ela desfruta na coletividade, pouco importando se verdadeiro ou falso. 
O sujeito deve referir-se a um acontecimento que contenha circunstâncias descritivas, tais como 
momento, local e pessoas envolvidas, não se limitando simplesmente a ofender a vítima. 
Exemplificativamente, falar que um homem é “ébrio contumaz” caracteriza injúria, enquanto 
narrar que ele, em dias determinados, cambaleava em via pública de tão bêbado que estava 
configura difamação. A imputação de um fato definido como contravenção penal tipifica o 
crime de difamação, pois a calúnia depende da imputação falsa de crime. 
 
Objetividade jurídica 
A lei penal protege a honra objetiva. 
 
Objeto material 
É a pessoa que tem sua honraobjetiva atacada pela conduta criminosa. 
 
 
Núcleo do tipo 
Difamar é imputar a alguém um fato ofensivo à sua reputação. Consiste, pois, em desacreditar 
publicamente uma pessoa, maculando os atributos que a tornam merecedora de respeito no 
convívio social. E, na linha da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a ocorrência do 
delito de difamação “dá-se a partir da imputação deliberada de fato ofensivo à reputação da 
vítima, não sendo suficiente a descrição de situações meramente inconvenientes ou negativas”. 
Veja-se que, ao contrário do que ocorre na calúnia, não existe o elemento normativo do 
tipo “falsamente”. Portanto, subsiste o crime de difamação ainda que seja verdadeira a 
imputação (salvo quando o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de 
suas funções), desde que dirigida a ofender a honra alheia. Buscou o legislador deixar nítido 
que as pessoas não devem fazer comentários desairosos sobre a vida alheia. Agiu bem ao 
proceder dessa forma, pois não se pode permitir, em nenhuma hipótese, o desnecessário ataque 
à honra alheia. 
Nada obstante o Código Penal não descreva em seu art. 139 a conduta de “propalar”, aquele 
que assim age pratica nova difamação, pois lhe é vedado levar uma difamação adiante, depois 
de tomar conhecimento acerca dela. 
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Consumação 
A difamação atinge a honra objetiva. Consuma-se, portanto, quando terceira pessoa toma 
conhecimento da ofensa dirigida à vítima. 
 
Tentativa 
Pode ou não pode ser admitida, dependendo do meio de execução do crime. 
A difamação verbal é incompatível com a tentativa. Em razão de seu caráter unissubsistente, 
ou o agente atribui à vítima a prática de um fato ofensivo à sua reputação, e o crime estará 
consumado, ou não o faz, e o fato é atípico. 
Na forma escrita, contudo, é possível o conatus. Exemplo: bilhete contendo imputação ofensiva 
à honra alheia que se extravia. 
 
Exceção da verdade 
Como o art. 139 do Código Penal dispensa a falsidade da imputação como elementar típica, ao 
contrário do que se dá na calúnia, é indiferente tenha o fato ofensivo ocorrido ou não. Essa é 
a regra geral: não se admite a exceção da verdade no crime de difamação. De fato, seria 
irrelevante provar a veracidade do fato atribuído à vítima, pois ainda assim subsistiria o crime. 
Excepcionalmente, entretanto, o legislador autoriza a exceção da verdade. É o que estabelece 
o parágrafo único do art. 139 do Código Penal: “A exceção da verdade somente se admite se o 
ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções”. 
O fundamento dessa permissão legal reside no direito de fiscalização ou crítica dos cidadãos 
acerca do regular exercício das funções desempenhadas por agentes públicos. Há interesse 
coletivo em fiscalizar o correto exercício da atividade pública. Se o ofensor demonstrar a 
veracidade da imputação, será absolvido. A verdade, nesse caso, funciona como causa 
específica de exclusão da ilicitude, uma vez que a falsidade não integra o tipo penal. Mas essa 
prova não é permitida quando a imputação versa sobre fatos relativos à vida privada do agente 
público. 
A doutrina diverge no tocante à possibilidade de ser utilizada a exceção da verdade quando 
aquele a quem foi imputado o fato ofensivo já abandonou a função pública. 
Para Damásio E. de Jesus, E. Magalhães Noronha e Heleno Cláudio Fragoso, não se admite 
a exceptio veritatis nessa hipótese, pois o art. 139, parágrafo único, do Código Penal, é taxativo 
ao estatuir: “se o ofendido é funcionário público”. 
Essa última posição nos parece a mais acertada. É suficiente seja a ofensa atinente ao exercício 
das funções anteriormente exercidas pelo agente público. De fato, ainda que tenha, por qualquer 
motivo, deixado de exercer a função pública, será possível ao ofensor valer-se da exceção da 
verdade se a sua imputação diz respeito a um fato praticado pelo ofendido quando funcionário 
público e correlato ao exercício dessa função. Se, por outro lado, ao tempo da ofensa o ofendido 
já não era mais funcionário público, não será possível ao ofensor valer-se da exceção da 
verdade, pois o Código Penal exige esteja a condição de funcionário público presente no 
momento da imputação. 
Em síntese, deve existir contemporaneidade entre a imputação ofensiva e o exercício da 
função estatal. 
 
Exceção de notoriedade 
O art. 523 do Código de Processo Penal, dispondo sobre o processo e julgamento dos crimes 
de calúnia e injúria, de competência do juiz singular, fala em “exceção de notoriedade”. Esse 
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dispositivo, na prática, é utilizado principalmente para o crime de difamação, pois não haveria 
motivos legítimos para permitir a exceção da notoriedade do fato imputado à calúnia e à injúria, 
e negá-lo para remanescente delito contra a honra. 
Quem se vale da exceção da notoriedade alega a falta de ofensividade da conduta do sujeito. 
Aduzem seus partidários, precipuamente, a falta de potencialidade da ação para lesar a honra 
alheia, uma vez que o fato imputado já era público. Destarte, a ação praticada em nada altera o 
sentimento da coletividade acerca dos atributos físicos, morais e intelectuais da vítima. 
Essa regra, entretanto, é inútil, pois na difamação – como a falsidade não integra o tipo penal – 
é irrelevante seja verdadeira ou falsa a imputação de fato ofensivo à reputação da vítima. Com 
efeito, a vedação da exceção da verdade (salvo no tocante ao funcionário público) é extensiva 
à exceção da notoriedade. As pessoas não devem formular comentários inadequados sobre a 
honra alheia, pouco importando se verdadeiros ou falsos. Esse é o fundamento da previsão legal 
da difamação como crime. 
 
 
ART. 140 – INJÚRIA 
A injúria é crime contra a honra que ofende a honra subjetiva. Consequentemente, ao contrário 
do que ocorre na calúnia e na difamação, não há imputação de fato. Caracteriza-se o delito com 
a simples ofensa da dignidade ou do decoro da vítima, mediante xingamento ou atribuição de 
qualidade negativa. 
A dignidade é ofendida quando se atacam as qualidades morais da pessoa (exemplo: chamá-la 
de “desonesta”), ao passo que o decoro é abalado quando se atenta contra suas qualidades físicas 
(exemplo: chamá-la de “horrorosa”) ou intelectuais (exemplo: chamá-la de “burra”). 
A queixa-crime ou denúncia ajuizada pelo crime de injúria deve descrever, minuciosamente e 
sob pena de inépcia, quais foram as ofensas proferidas contra a vítima, por mais baixas e 
repudiáveis que possam ser. 
 
 
Objetividade jurídica 
Tutela-se a honra subjetiva. 
 
Objeto material 
É a pessoa cuja honra subjetiva é atacada pela conduta criminosa. 
 
Núcleo do tipo 
Injuriar equivale a ofender, insultar ou falar mal, de modo a abalar o conceito que a vítima tem 
de si própria. Basta a atribuição de qualidade negativa, prescindindo-se da imputação de 
fato determinado. Para o Supremo Tribunal Federal: “A difamação pressupõe atribuir a outrem 
fato determinado ofensivo à reputação. Na injúria, tem-se veiculação capaz de, sem 
especificidade maior, implicar ofensa à dignidade ou ao decoro”. 
Esse crime, normalmente, é comissivo. Mas é possível também a injúria por omissão. Confira-
se o exemplo de Magalhães Noronha: “Também por omissão se pode injuriar: se uma pessoa 
chega a uma casa, onde várias outras se acham reunidas e cumprimenta-as, recusando, 
entretanto, a mão a uma que lhe estende a destra, injuria-a”. 
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Nada impede a injúria indireta, nas situações em que a injúria, além de atacar a honra da 
provocada, alcança reflexamente pessoa diversa.Exemplo: chamar um homem casado de 
“corno” importa em injuriar também sua esposa. 
 
Consumação 
Como esse crime atinge a honra subjetiva, dá-se sua consumação quando a ofensa à dignidade 
ou ao decoro chega ao conhecimento da vítima. É irrelevante tenha sido a injúria proferida na 
presença da vítima (injúria imediata) ou que tenha chegado ao seu conhecimento por 
intermédio de terceira pessoa (injúria mediata). 
 
Tentativa 
É possível quando a injúria for praticada por escrito (exemplo: bilhete ofensivo que o garçom 
de um restaurante entrega para pessoa diversa da visada pelo agente), pois, nessa hipótese, o 
crime é plurissubsistente. 
Sustenta a doutrina, contudo, que não se admite a tentativa (conatus) na injúria cometida 
verbalmente, por se tratar de crime unissubsistente. Essa afirmação deve ser encarada com 
ressalvas, mormente levando-se em conta os meios modernos de comunicação. Nada impede, 
exemplificativamente, a tentativa de injúria verbal cometida por meio de uma ligação de 
telefone celular, ou de uma conversa pelo computador, utilizando-se a internet (webcam), na 
qual o sinal é interrompido no momento em que o sujeito atribuía à vítima uma qualidade 
negativa. 
É possível ainda falar de tentativa de injúria verbal na denominada injúria mediata. Vejamos 
um exemplo: “A” pede a “B” que diga a “C”, seu irmão, que é um covarde e ignorante. “B”, 
todavia, não leva a mensagem ao seu destinatário. Iniciou-se a execução de um crime de injúria 
que somente não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
 
Exceção da verdade 
O crime de injúria é incompatível com a exceção da verdade, por dois motivos: 
1) ausência de previsão legal; e 
2) como não há imputação de fato, mas atribuição de qualidade negativa, é impossível provar a 
veracidade dessa ofensa, sob pena de provocar à vítima um dano ainda maior do que aquele 
proporcionado pela conduta criminosa. Imagine o prejuízo que seria causado se a lei permitisse 
que, depois de o agente ter chamado alguém de “pessoa monstruosa”, provasse ele a adequação 
da sua assertiva. 
 
Perdão judicial: art. 140, § 1.º 
O perdão judicial é causa de extinção da punibilidade (CP, art. 107, inc. IX), cabível nas 
hipóteses expressamente previstas em lei. Fundamenta-se nas circunstâncias do caso 
concreto, nas quais o Estado reputa que, embora presente um fato típico e ilícito cometido por 
agente culpável, não seja necessário puni-lo. A sentença que o concede não é condenatória nem 
absolutória, mas declaratória da extinção da punibilidade (Súmula 18 do STJ). 
 
O art. 140, § 1.º, do Código Penal arrola duas hipóteses de perdão judicial: 
 
I – quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria: 
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Não há razão legítima para o Estado punir quem injuriou a pessoa que o provocou. 
Mas não se trata de qualquer provocação. Há de ser reprovável, elemento normativo do tipo a 
ser aferido em concreto, levando-se em conta as condições dos envolvidos e as demais 
circunstâncias correlatas ao crime. Exemplo: Mulher a quem se dirige gracejo indecoroso 
chama o homem de “vagabundo” e “sem-vergonha”. 
Além disso, a palavra “diretamente” indica que a provocação deve ter sido perpetrada face a 
face, isto é, ofensor e ofendido devem encontrar-se frente a frente. 
Essa hipótese se assemelha ao crime cometido sob o domínio de violenta emoção, logo em 
seguida à injusta provocação da vítima. Quem provoca outra pessoa, ilegalmente, até retirar seu 
equilíbrio emocional, pode ser vitimizado pela injúria. 
 
II – no caso de retorsão imediata, que consiste em outra injúria: 
A retorsão é a injúria proferida pelo ofendido contra quem antes o injuriou. É o revide: tão logo 
ofendida, a vítima também ataca a honra do seu agressor. Deve ser imediata, ou seja, efetuada 
tão logo o injuriado tiver conhecimento da ofensa. Assim, tratando-se de injúrias verbais, a 
retorsão deve se verificar na mesma ocasião em que o ofendido suportar a ofensa. 
Admite-se também o perdão judicial no tocante a injúrias escritas. Nessa hipótese, a relação de 
imediatidade impõe o revide quando o injuriado conhecer a sua existência, pois somente a partir 
de então surge a possibilidade de retorsão imediata. 
Cuida-se de modalidade anômala de legítima defesa, na qual quem foi injuriado devolve 
imediatamente a agressão mediante outra injúria. Como já se pronunciou o Superior Tribunal 
de Justiça: “A retorsão prevista no art. 140, § 1.º, II, do CP só permite que a pena não seja 
aplicada àquele que responde de forma injuriosa a uma injúria que lhe foi primeiramente 
proferida, desde que assim o faça imediatamente após ter sido ofendido”. 
Quem inicia a discussão ofensiva não pode agir em retorsão imediata. E não há retorsão contra 
ofensa pretérita. 
Frise-se, por oportuno, que existe apenas retorsão imediata envolvendo injúrias. Se a resposta 
consiste em difamação, ao agente será imputado o crime tipificado pelo art. 139 do Código 
Penal. 
Injúria real: art. 140, § 2.º 
Quando a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio 
empregado, se considerem aviltantes, a pena é de detenção, de três meses a um ano, e multa, 
além da pena correspondente à violência. 
A injúria real, por si só, ingressa no conceito de infração penal de menor potencial ofensivo, 
aplicando-se as disposições compatíveis da Lei 9.099/1995. 
Trata-se da injúria em que o sujeito escolhe como meio para ofender a honra da vítima, não 
uma palavra, um xingamento, mas sim uma agressão física capaz de envergonhá-la. Com efeito, 
o meio de execução é a violência ou então vias de fato. 
Violência é sinônimo de lesão corporal. Nesse caso, a lei impõe o concurso material 
obrigatório entre as penas dos crimes de injúria real e do resultante da violência (homicídio, 
lesão corporal etc.). Destaque-se que deve ser aplicada de forma autônoma e cumulativa a pena 
da lesão corporal, qualquer que seja sua natureza (leve, grave ou gravíssima). 
A contravenção penal de vias de fato, por sua vez, consiste na agressão física sem intenção de 
produzir lesão corporal (exemplo: tapa desferido no rosto da vítima). De fato, se o sujeito queria 
lesionar a vítima, mas não conseguiu fazê-lo, a infração penal deverá ser capitulada como 
tentativa de lesão corporal dolosa, e não como vias de fato. Aqui, contudo, as vias de fato são 
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absorvidas pela injúria real, pois o Código Penal prevê autonomia (soma de penas) 
exclusivamente para as lesões corporais. 
Mas não é qualquer agressão física que caracteriza a injúria real. A agressão deve ser aviltante, 
é dizer, humilhante. Esse elemento normativo do tipo pode ser concretizado pela natureza do 
ato (exemplos: arrancar o fio do bigode de um homem com intenção ultrajante, rasgar a saia de 
uma mulher etc.) ou pelo meio empregado (exemplos: atirar fezes na vítima, molhar seu cabelo 
com cerveja em um bar etc.). 
 
Injúria qualificada: art. 140, § 3.º 
Pune-se com reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, sem prejuízo de multa, o crime de injúria que 
consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem, ou a condição 
de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Esta pena, embora sensivelmente inferior àquela 
cominada no caput, no tocante à injúria simples, é constitucional, e encontra seu fundamento 
de validade na dignidade da pessoa humana, assegurada pelo art. 1.º, III, da Constituição 
Federal. 
A injúria qualificada, assim como os demais crimes contra a honra, reclama seja a ofensa 
dirigida a pessoa ou pessoas determinadas. Destarte, a atribuição de qualidade negativa à 
vítimaindividualizada, calcada em elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem, 
constitui crime de injúria qualificada (CP, art. 140, § 3.º). Esse crime obedece às regras 
prescricionais previstas no Código Penal. 
Quando fundada em elementos relativos à raça, a injúria qualificada não se confunde com o 
crime de racismo. 
Racismo é a divisão dos seres humanos em raças, superiores ou inferiores, resultante de um 
processo de conteúdo meramente político-social. Desse pressuposto origina-se essa prática 
nefasta que, por sua vez, gera discriminação e preconceito segregacionista. O racismo não pode 
ser tolerado, em hipótese alguma, pois a ciência já demonstrou, com a definição e o 
mapeamento do genoma humano, que não existem distinções entre os seres humanos, seja pela 
segmentação da pele, formato dos olhos, altura ou quaisquer outras características físicas. Não 
há diferença biológica entre os seres humanos, que na essência, biológica ou constitucional (art. 
5.º, caput), são todos iguais. 
A injúria qualificada é delito afiançável, prescritível, e de ação penal pública condicionada à 
representação do ofendido (CP, art. 145, parágrafo único, com a redação dada pela Lei 
12.033/2009), enquanto o racismo, de ação penal pública incondicionada, por mandamento 
constitucional expresso, constitui-se em crime inafiançável e imprescritível (CF, art. 5.º, XLII). 
Os crimes de racismo são definidos pela Lei 7.716/1989 (crimes resultantes de preconceito de 
raça ou de cor), e se evidenciam por manifestações preconceituosas generalizadas (a todas 
as pessoas de uma raça qualquer) ou pela segregação racial (exemplo: vedar a matrícula de 
uma criança de uma raça qualquer em uma escola). Exemplificativamente, chamar alguém de 
“gringo safado” tipifica injúria qualificada, enquanto afirmar que “todos os gringos são 
safados” constitui crime de racismo. 
A parte final do art. 140, § 3.º, do Código Penal (condição de pessoa idosa ou portadora de 
deficiência) foi inserida pela Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso. 
 
Injúria cometida pela internet e competência 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
Os crimes de injúria cometidos pela internet são de competência da Justiça Estadual, mesmo se 
forem utilizadas redes sociais sediadas no exterior.

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