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Ebook Parte 1 teórica

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Introdução: O papel da audição na terapia fonoaudiológica 
 
A audição é um sistema sensorial extremamente complexo e 
primordial para a aquisição e desenvolvimento da linguagem oral e 
escrita. Esse sistema é dividido em audição periférica, que tem o 
objetivo de amplificar a onda sonora e transformá-la em sinal elétrico 
e a audição central que irá analisar e interpretar a informação sonora. 
 
Esses dois sistemas precisam estar íntegros para que o 
indivíduo detecte, identifique e reconheça os sons que fazem parte 
do seu dia a dia, assim como, localizar o som, conseguir compreender 
a fala em situações de escuta em ambiente ruidoso, perceber 
pequenas variações do tempo que distinguem fonemas e reconhecer 
as informações que entrem pela orelha direta e esquerda. 
 
É extremamente importante que todo paciente que 
compareça ao consultório fonoaudiólogo realize a avaliação 
audiológica básica incluindo a meatoscopia, a audiometria 
comportamental, testes de fala e a imitanciometria com pesquisa de 
reflexos acústicos para investigar se a criança apresenta algum tipo 
de perda auditiva, seja por um comprometimento condutivo (orelha 
externa ou média) ou sensorioneural (cóclea/nervo auditivo). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A criança com sistema motor adequado consegue realizar 
audiometria comportamental condicionada a partir de 5 meses e 
assim conseguimos saber os limiares auditivos no teste padrão ouro 
da Audiologia (Joint Commitee on Infant Hearing, 2019). 
 
Lembre-se que a avaliação audiológica infantil é composta de 
exames que os resultados precisam ser comparados entre si para 
verificar estruturas diferentes do sistema auditivo periférico e que 
não se resume apenas nas medidas objetivas como os exames de 
emissões otoacústicas e o potencial evocado auditivo de tronco 
encefálico (PEATE). 
 
Quando é detectada algum tipo de perda auditiva na criança, 
há o processo de reabilitação auditiva com dispositivos eletrônicos 
indicado para o caso. Entretanto, esses dispositivos auxiliarão no 
acesso aos sons, porém é necessária a terapia fonoaudióloga para 
estimulação das habilidades auditivas. 
 
É comum encontrarmos na clínica fonoaudiológica inúmeras 
atividades com estimulações visuais, porém a inserção de atividades 
auditivas é de extrema importância para à aquisição e 
desenvolvimento de linguagem, seja por atividades somente 
auditivas ou por atividades auditivas-visuais para a integração desses 
dois sistemas sensoriais e assim haja unificação da informação, pois 
pacientes normo-ouvintes podem apresentar dificuldades para 
processar alguns sons que podem prejudicar a evolução clínica da 
terapia fonoaudiólogica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
1. Processamento auditivo na clínica fonoaudiológica 
 
O processamento auditivo define-se como a eficácia e a eficiência 
que o sistema nervoso auditivo central analisa e interpreta a 
informação auditiva com mecanismos neurobiológicos que subjazem 
as habilidades auditivas para compreensão da informação sonora 
(American Speech Language Hearing Association - ASHA, 2005). 
 
Baseado nas descrições da ASHA (1996), Pires (2020) tentou explicar 
as habilidades auditivas de forma mais simplificadas, sendo essas: 
 
• Detecção: habilidade de reconhecer quando há ausência ou 
presença de som. 
 
• Localização sonora: habilidade auditiva para identificar a 
origem do som em relação à fonte sonora. 
 
 
• Discriminação auditiva: habilidade auditiva para reconhecer 
se os sons são iguais ou diferentes. 
 
• Reconhecimento de padrão auditivo: habilidade auditiva para 
reconhecer o que escutou por meio da associação de conceitos 
e significados. 
 
 
• Aspectos temporais da audição: habilidades auditivas para a 
percepção de mudanças no som ao longo do tempo, como por 
exemplo, distinguir auditivamente sílabas /pa/ de /ba/ que se 
diferenciam por pequenas mudanças acústicas temporais. 
 
• Performance auditiva com sinais acústicos competitivos: 
habilidade auditiva para identificar um som que é diferente de 
outros que são apresentados ao mesmo tempo, como por 
6 
 
exemplo identificar o som do violino de uma música no meio 
outros sons de instrumentos. 
 
 
• Performance auditiva com sinais acústicos degradados: 
habilidade auditiva para reconhecer quando partes do som 
não estão completas, como por exemplo tirar a sílaba /cho/ da 
palavra chocolate, nossa audição consegue realizar o 
fechamento e reconhecer a palavra mesmo quando faltam 
partes. 
 
 
 
 
 
Esses conceitos definidos pela ASHA (1996) são 
importantes para que o fonoaudiólogo saiba compreender o que 
deve ter nas estratégias que visam a estimulação das habilidades 
auditivas, porém alguns conceitos precisam ser melhor esclarecidos 
como as habilidades que envolvem os aspectos temporais do som, 
ou seja, o processamento temporal. 
 
7 
 
O processamento temporal é a base do processamento 
auditivo, especificamente no que diz respeito à percepção de fala, 
pois muitas características da informação auditiva sofrem influência 
do tempo (Shinn, 2003). Sendo essas as habilidades: 
 
• Ordenação temporal: é uma habilidade auditiva que está 
relacionada ao processamento de múltiplos estímulos de 
acordo com a sua ordem de ocorrência no tempo. Essa 
habilidade permite que um indivíduo discrimine e ordene a 
forma correta de ocorrência dos sons (Shinn, 2003). Também 
pode ser descrita como a habilidade de reconhecer, identificar 
e sequenciar padrões auditivos envolve a capacidade 
perceptual e os processos cognitivos. Para um indivíduo 
realizar uma atividade relacionada à ordenação temporal os 
hemisférios direito e esquerda precisam trabalhar de forma 
fisiológica integrada e assim existem duas etapas para 
aplicação de atividades: a imitação do som em que há 
participação maior do hemisfério direito e nomeação do som 
que tem participação de estruturas como o corpo caloso e 
hemisfério esquerdo. (Pinheiro e Musiek, 1985). Por uma 
questão de maturação das vias auditivas centrais, crianças 
pequenas podem não conseguir realizar essas atividades de 
ordenação temporal, porém esse assunto será melhor 
explicado nos próximos itens desse E-book. 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
• Resolução temporal: refere-se a uma habilidade auditiva para 
detectar mudanças nos estímulos em decorrência do tempo, 
como a percepção de gaps (intervalos de silêncio) no meio de 
um ruído ou entre dois estímulos (Eggermont, 2015). Essa 
habilidade auditiva é de extrema importância para a 
discriminação de fonemas com traços semelhantes. Indivíduos 
com transtorno do processamento auditivo necessitam de 
maiores gaps ou intervalos de tempo para detectar estímulos. 
 
Esses indivíduos podem apresentar dificuldades em processar 
os elementos da fala que são apresentados de forma rápida, 
pois a fala, quando é apresentada rapidamente, apresenta 
menores gaps. Sendo assim, a habilidade de resolução 
temporal ineficiente pode dificultar a detecção de menores 
gaps, o que pode inibir a percepção do som no momento do 
inicial e final (Bamiou et al., 2006). 
 
 
 
 
 
 
 
 
• Mascaramento temporal: Se refere ao mascaramento que 
ocorre quando o sinal e o ruído mascarador não se sobrepõe 
em relação ao tempo. Essa habilidade auditiva se subdivide em 
duas categorias: O backward masking (não tem tradução) 
ocorre quando o ruído mascarador segue o sinal e o forward 
masking (não tem tradução) que ocorre quando o ruído 
mascarador precede o sinal (Shinn, 2014). 
 
Escutamos falar muito pouco sobre o mascaramento temporal 
aqui no Brasil e não temos até o presente momento um teste 
9 
 
específico que avalie essa habilidade. Vamos colocar em 
termos práticos o que seria o mascaramento temporal no 
nosso dia a dia. Na palavra /estar/, temos a fricativa /s/ que 
antecede a plosiva /t/e em dificuldades auditivas relacionadas 
ao mascaramento temporal o som do /s/ poderia se sobrepor 
ao som do /t/ e assim o indivíduo perder partes da informação 
auditiva. Alguns estudos internacionais nos mostram que 
crianças com transtornos de linguagem podem apresentar 
dificuldades relacionadas ao mascaramento temporal. No 
desenho abaixo fica um pouco mais fácil entender o que seria 
o mascaramento temporal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agora é a vez de deixar mais claro os conceitos relacionados às habilidades 
auditivas de fechamento e figura-fundo para maiores esclarecimentos em 
relação a terapia dessas habilidades. 
 
• Fechamento auditivo: essa habilidade auditiva está 
relacionada com a percepção de fala degradada, ou seja, uma 
fala que foi modificada, seja por corte de frequência, distorção, 
compressão, com reverberação ou quando está degradada 
pela presença de ruído no ambiente. O sistema auditivo 
nervoso central tem a capacidade de fazer o reconhecimento 
10 
 
do som mesmo quando partes forma omitidas com a 
degradação do estímulo. Um exemplo de fechamento visual é 
quando recebemos um email em que a pessoa esqueceu de 
escrever uma sílaba errada dentro de uma palavra, mas pelo 
contexto conseguimos compreender a mensagem. Com a 
audição ocorre de forma semelhante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
• Figura-fundo: É a habilidade auditiva de focar a atenção em um 
estímulo auditivo, enquanto os outros estímulos auditivos do 
cenário são ignorados, como a focar a atenção na fala do 
professor em sala de aula enquanto há barulho de outros 
falantes no mesmo ambiente, ou ruídos de ventilador e ar 
condicionado. Fazemos diariamente a figura-fundo com sons 
verbais ou não verbais, assim como utilizamos a participação 
das duas orelhas trabalhando em conjunto ou de forma 
separadas e assim entramos em um conceito chamado escuta 
dicótica. 
 
 
A escuta dicótica caracteriza-se quando diferentes estímulos auditivos são 
apresentados de forma simultânea, cada um em uma orelha. As duas 
orelhas podem trabalhar juntas para integrar a informação, sendo chamada 
11 
 
de integração binaural ou de formas separadas, chamada de separação 
binaural e assim a atenção ao estímulo auditivo é direcionada somente para 
a orelha esquerda ou direita. 
 
 
O sistema nervoso auditivo central precisa estar íntegro para o 
desenvolvimento de habilidades de linguagem e cognição, porém é 
importante enfatizar que memória e atenção fazem parte de um sistema 
superior cognitivo de ordem maior e que essas habilidades não de origem 
auditiva, porém podemos estar utilizando partes do sistema cognitivo para 
estimulação e reabilitação das habilidades auditivas (ASHA, 2005). 
 
 
• Memória auditiva: Consiste na habilidade de armazenar 
informação auditiva de curto prazo de forma crescente, com 
estímulos verbais ou não verbais. Um exemplo de atividade 
com memória auditiva é brincadeiras como “fui à feira”. 
Comprei banana, comprei banana e maçã, comprei banana, 
maça e uva. 
 
12 
 
• Atenção auditiva: Consiste na habilidade de direcionar a 
atenção para um estímulo auditivo específico que pode ser 
concomitantemente com um ato motor. Por exemplo, ao 
escutar uma música o paciente deverá levantar a mão quando 
escutar a palavra “coração”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
2- Fisiologia da audição central e idade sugerida para 
estimulação das habilidades auditivas. 
 
O sistema auditivo periférico está pronto ao nascimento, porém 
determinadas estruturas que compõe o sistema nervoso auditivo 
central, que depende de experiências auditivas para se desenvolver 
estarão próximas a de um adulto por volta de doze anos (Moore e 
Guan, 2001) 
 
 O processo de maturação das vias auditivas centrais é caudo-
rostral, ou seja, do tronco encefálico em direção a estruturas 
superiores como córtex auditivo e corpo caloso e cada habilidade 
auditiva corresponde às janelas de desenvolvimento, assim como as 
habilidades de linguagem e cognição se desenvolvem em estágios de 
desenvolvimento da criança. 
 
 
 
 Na fonoaudiologia trabalhamos com intervenção precoce em 
relação à aquisição e desenvolvimento da linguagem, assim como a 
detecção precoce de perdas auditivas, porém deve-se ter em mente 
que a criança tem determinados períodos de desenvolvimento das 
habilidades auditivas e alguma vezes não conseguir executar 
determinada tarefa pode ser por não estar apto de forma auditiva 
fisiológica ou falta de capacidade cognitiva e linguística para 
responder a determinados comandos, sendo assim nesse E-BOOK 
14 
 
vamos falar um pouco sobre quais habilidades auditivas podem ser 
estimuladas por faixa etária. 
 
 Todos os documentos relacionados às boas práticas clínicas 
sobre processamento auditivo, como da ASHA, Academia Americana 
de Audiologia e Sociedade Britânica de Audiologia recomendam a 
realização do exame de processamento auditivo a partir de sete anos 
por todas as questões maturacionais auditivas e capacidade de 
compressão sobre os testes que são aplicados na bateria de 
avaliação. Sendo assim, um diagnóstico de transtorno do 
processamento auditivo é somente a partir de sete anos, porém 
algumas habilidades auditivas podem ser estimuladas antes dessa 
idade, principalmente em crianças com atraso de desenvolvimento 
ou que apresentam queixas relacionadas a audição. 
 
 
• A detecção, discriminação e identificação auditiva são 
habilidades básicas e que devem fazer parte da terapia 
fonoaudiológica. De acordo com Eggermont (2014) as 
habilidades auditivas de detecção e discriminação auditiva 
estão presentes no bebê por volta de seis meses. O bebê é 
capaz de discriminar a voz da mãe de outras vozes do 
ambiente. Identificar sons depende da experimentação sonora 
da criança, porém é uma habilidade auditiva que pode ser 
estimulada na primeira infância. 
 
 
• A localização sonora é uma habilidade auditiva que está 
presente em bebês a partir de três meses em relação à 
lateralidade e se desenvolve para outros ângulos e direções 
até 24 meses. No livro de Northern e Downs (2005) sobre 
audição infantil é possível observar as etapas esperadas de 
desenvolvimento da localização sonora da criança até os 24 
meses, como lateralizar para os lados, para cima e para baixo. 
A habilidade auditiva de localização sonora faz parte do nosso 
dia a dia até como forma de sobrevivência e deve pode ser 
estimulada na terapia fonoaudiológica com instrumentos de 
15 
 
diferentes faixas de frequência (sons graves, médios e agudos), 
objetos com seu determinado som (como talheres, caixa de 
fósforo, molho de chaves, e à viva voz em diferentes ângulos, 
como a chamar ou fornecer comandos à criança em diferentes 
de frente, de costas, à direita, a esquerda e em distâncias 
diferentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Acreditamos que as habilidades auditivas básicas descritas por 
Boothroyd (1986) como detecção, discriminação, identificação e 
compreensão auditiva, sendo essa quando a criança entende o que 
significa o estímulo auditivo deve estar presente na terapia de 
linguagem para auxiliar no decorrer da fonoterapia. 
 
 
• Percepção de fala degradada: A partir dos cinco anos a criança 
começa a compreender melhor a fala na presença no ruído ou 
quando há outro tipo de degradação, como reverberação por 
exemplo. De seis meses a cinco anos há uma grande janela para 
percepção auditiva geral. O volume cerebral aumenta por volta de 
25% entre o nascimento e os quatro anos, o que aumenta a expansão 
do néo-córtex auditivo e a densidade neuronal dobra de tamanho 
entre do momento do nascimento até os seis anos e nesse período 
há aquisição dos traços característicos da língua materna. 
16 
 
As habilidades perceptuais auditivas continuam para degradação de 
fala e percepção de fala no ruído melhoram gradualmente até os 
doze anos (Eggermont, 2014). 
 
Não encontramos na literatura a estimulação das habilidades 
auditivas que envolvem o processamentotemporal e a escuta 
dicótica antes da idade indicada para diagnóstico (sete anos). 
Lembramos que as habilidades auditivas não dependem apenas de 
estruturas neurais, mas da capacidade de compreensão que 
envolvem outros sistemas mentais além do auditivo. O que temos 
descrito em relação ao amadurecimento de estruturas corticais 
auditivas e corpo caloso (sendo que existe participação dessas 
estruturas na escuta dicótica e nas habilidades auditivas que 
subjazem do processamento temporal) é que ocorrem de forma mais 
tardia, podendo chegar até doze anos (Eggermont, 2014). Por tanto, 
recomendamos que a estimulação de tais habilidades auditivas sejam 
realizadas a partir de sete anos ou adaptadas para crianças mais 
novas levando em consideração as particularidades da idade e 
desenvolvimento auditivo. 
 
 
 
 
 
 
17 
 
3.Utilização das atividades do E-book 
 
Esse E-book foi desenvolvido para auxiliar na clínica 
fonoaudiológica e pode ser utilizado na terapia de pacientes 
com dificuldades relacionadas à linguagem, transtorno do 
processamento auditivo, treinamento auditivo acusticamente 
controlado e terapia de usuários de dispositivos eletrônicos, 
como AASI e implante coclear. 
 
Antes de utilizar as atividades desse material em pacientes com 
AASI e implante coclear é importante verificar se o paciente 
tem acesso aos sons, ou seja, se o paciente tem audibilidade 
suficiente para realizar as tarefas atividades propostas. Em 
usuários de AASI é importante utilizar as medidas objetivas 
para verificação e validação com testes comportamentais, 
assim como em pacientes com implante coclear. 
Em usuários de AASI verifique sempre antes da terapia se as 
pilhas não estão acabando e se estão ligados. Em usuários de 
implante coclear verifique em se o processador de fala está 
carregado e o programa em uso para descrever no relatório a 
evolução clínica para o fonoaudiólogo que realiza os 
mapeamentos auditivos. 
As atividades podem ser realizadas com ou sem fones nos 
pacientes usuários de dispositivos eletrônicos. Em casos de uso 
de fones, sugerimos fones maiores que os utilizados de forma 
convencional. Verifique sempre o conforto do paciente nas 
condições adequadas. 
 
 
 
 
 
18 
 
Os áudio e fichas visuais presentes nesse material estão 
sem modificações e com modificações para quem não tem o 
audiômetro para controle acústico das atividades, como os 
textos com ruído e a as frases com reverberação. 
A ASHA (2005) nos diz que para a eficácia de um 
treinamento auditivo devemos incluir atividades mais 
auditivas, porém também devemos incluir atividades que 
misturem linguagem, cognição e audição e assim as atividades 
propostas por nós foram elaboradas com base nessas 
recomendações. 
 
 Nas folhas de protocolos estão descritas o nome da 
atividade, instruções, faixa etária indicada, habilidade auditiva 
a ser estimulada que pode ser realizada de acordo com a 
criatividade do terapeuta, além das sugestões presentes nesse 
E-book 
 
3.1 – Atividades de detecção auditiva 
 
A detecção consiste na habilidade auditiva de identificar 
se há presença ou ausência de som e deve-se sempre fazer 
parte da terapia de pacientes usuários de dispositivos 
eletrônicos em intensidades altas, médias e baixas. Essa 
habilidade também pode ser utilizada em crianças mais novas 
normo-ouvintes como uma preparação para a consciência do 
som. 
Na atividade “Mariana e seu papagaio” escolhemos 
frequências de 500 a 4.000Hz por abranger o espectro da fala, 
em que toda vez que o paciente escutar o “apito” com o áudio 
gravado deve-se colocar a comida feita de pedaços de papel no 
pote de ração. Você pode realizar essa atividade sem ou com 
ruído de fundo (que pode ser no audiômetro ou no celular ou 
computador) para aumentar o nível de dificuldade e pode ser 
realizada com ou sem fones. 
19 
 
Essa atividade também pode ser utilizada como a habilidade de 
atenção auditiva. Selecione uma lista de palavras e toda vez 
que o paciente escutar com a letra /m/, por exemplo, deve dar 
comida ao papagaio de Mariana. 
 
3.2 – Atividades de discriminação auditiva 
 
Selecionamos para essas atividades estímulos auditivos 
linguísticos e não linguísticos para que o paciente diferencie se 
os sons são iguais ou diferentes. 
Em relação aos estímulos linguísticos utilizamos a lista de 
sílabas proposta por Cristofolini (2008) como o teste de 
discriminação perceptual. Deixamos os áudios sem e com 
expansão e amplificação no tempo, essa medida foi proposta 
por Tallal (1975) com base em estudos perceptuais auditivos 
em pacientes com transtorno de desenvolvimento de 
linguagem (TDL) para facilitar a discriminação auditiva. 
Os estímulos não linguísticos são relacionados à 
frequência, duração do estímulo e intervalo inter-estímulo 
como nível de dificuldade. O nível 1 corresponde a estímulos 
apresentados de forma mais devagar e o nível 2 a estímulos 
apresentados com menores intervalos inter-estímulos, o que 
deixa a atividade mais desafiante para os pacientes. As 
frequências escolhidas para essas atividades foram 500 e 1000 
Hz devido aos resíduos auditivos de pacientes que apresentam 
perda auditiva em rampa e que podem não ter memória 
auditiva suficiente para sons mais agudos. 
Essas atividades podem ser realizadas tanto no 
audiômetro quando no celular ou computador. 
 
3.3- Atividades de reconhecimento auditivo 
Reconhecer o som é uma habilidade auditiva que exige 
a participação de sistemas mentais superiores, como acesso 
20 
 
lexical das palavras da língua nativa que incluem categorias 
semânticas. Certifique que o seu paciente tenha vocabulário 
suficiente para realizar as atividades que podem ser feitas com 
ou sem ruído de fundo conforme descrito na atividade de 
detecção auditiva. 
3.4 - Atividades de fechamento auditivo 
Nas atividades propostas utilizamos frases com reverberação 
que correspondem à fala degradada e textos com diferentes 
tipos de ruído de fundo. Deixamos livre os áudios tanto com 
modificações, quanto sem modificações. 
Para quem quiser utilizar o texto no audiômetro sugerimos 
variar a relação sinal/ruído do audiômetro em cada parágrafo 
dos textos e fazer perguntas de interpretação de texto para os 
pacientes (deixamos algumas sugestões). Os textos foram 
selecionados conforme as séries iniciais, assim como também 
selecionados o texto “Na famosa feira livre” que foi proposta 
por Cristofolini (2008) e tem pares mínimos balanceados 
foneticamente. 
As frases também podem ser utilizadas com e sem 
reverberação com variação da relação sinal/ruído. Sugere-se 
utilizar os princípios da escuta monótica no audiômetro. 
Deixamos o apoio visual de cada figura que corresponde as 
frases para apoio visual nessa atividade, porém também pode 
ser realizada somente de forma auditiva. 
 
3.4 - Atividades que envolvem o processamento temporal 
As atividades que serão descritas a seguir podem ser realizadas 
no audiômetro de forma binaural ou somente com o uso de 
computador, tablet, celular com ou sem fone. Tudo depende 
do desempenho do paciente e planejamento terapêutico. 
 
 
21 
 
• Ordenação temporal: Utilizamos parâmetros semelhantes das 
atividades de discriminação auditiva como frequência, duração e 
intervalos inter-estímulos com três tons. O nível 1 corresponde 
sempre à atividade mais lenta em relação a esses parâmetros, o nível 
2 ao nível médio e o nível 3 ao mais rápido. Os parâmentros de 
intervalos inter-estimulos utilizados foram 1 segundo, 500 
milissegundos e 200 milisegundos. Sugerimos começar pelas 
atividades de frequência e posteriormente as atividades com 
duração na forma de imitação (hum hum him) e assim seguir para 
nomeação (som fino e som grosso) devido à transferência inter-
hemisférica e associação de som e símbolo, segundo a teoria que 
envolve a ordenação temporal. Caso o paciente tenha dificuldades 
relacionadas à memória ou tenha dificuldades relacionados a 
ordenar três tons, sugerimos realizar a ordenação temporalcom as 
atividades de discriminação auditiva com dois tons. 
 É importante ao mudar de nível de dificuldade das atividades de 
ordenação temporal usar a base dos 30 a 70% de acertos, ou seja, se 
o paciente não consegue passar de 30% de acertos é necessário 
escolher uma atividade mais fácil que as propostas nesse material e 
caso o paciente avance e tenha 70% de acertos nos níveis de 
dificuldades são utilizadas as estratégias mais difíceis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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• Resolução temporal: Propusemos atividades com percepção de gap 
que variam de 1 segundo até 50 milissegundos no pink noise que tem 
uma faixa mais curta de frequência que o white noise e o no 
restaurant noise. Deixamos um apoio visual de placa para toda vez 
que o paciente escutar o gap sinalizar para o fonoaudiólogo. 
Atividades com percepção auditiva de gaps são muito importantes 
para contribuir com a percepção auditiva de pausas entre palavras e 
fonemas que se distinguem por traços acústicos mínimos como os 
fonemas surdos e sonoros. 
 
• Mascaramento temporal: Apesar de não termos até o momento 
testes que avaliem o mascaramento temporal é importante 
estimular essa habilidade auditiva. Utilizamos o white e restaurant 
noise com base no forward masking explicado nesse E-book. O 
paciente deve levantar a placa da atividade de resolução temporal ou 
a mão toda vez que escutar o tom de 500 Hz. 
 
As atividades que envolvem o processamento temporal são 
importantes para dar base às características acústicas dos estímulos 
de fala em relação ao tempo, por isso sugere-se a aplicação dessas 
atividades na terapia de crianças com transtornos de linguagem 
associada à terapia de linguagem como mais uma ferramenta para o 
auxiliar no processo de reabilitação. 
 
3.5 Atividades de Figura-Fundo: Deixamos como atividades 
estímulos linguísticos e não linguísticos com apoio visual que podem 
ser estimuladas com fones ou sem fones (de forma livre no 
consultório ou campo sonoro), tanto no audiômetro, quanto no 
computador. Ao utilizar as atividades com escuta dicótica com 
estímulos linguísticos sugerimos começar pelas atividades com duas 
palavras, para assim poder realizar a atividade com quatro palavras, 
tanto na etapa de integração binaural (o paciente terá que falar ou 
apontar respostas referentes às duas orelhas) ou separação binaural 
(o paciente terá que apontar ou falar respostas referentes somente 
à orelha direita ou esquerda). 
Recomendamos para quem for utilizar as atividades no audiômetro 
deixar a intensidade compatível com atividades de escuta dicótica. 
23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.6 Atividades de memória auditiva: Podem ser utilizadas com a 
gravação presente nesse material ou à viva-voz. O importante é 
obedecer às ordens propostas. Você pode pedir para o paciente 
formar frases, histórias e fazer perguntas relacionados ao tema da 
atividade, como por exemplo: Coloque o tomate e o queijo na pizza. 
Qual o legume presente nessa frase? Quais os tipos de queijo você 
conhece? Conte uma história com o tomate e outros legumes. 
Pergunte ao paciente qual o segundo ingrediente colocado na pizza? 
Qual era verde? 
Essa atividade também pode ser realizada no audiômetro ou em 
terapia fonoaudiológica e se quiser deixá-la mais difícil selecione uma 
música ou um ruído de fundo. 
 
 
 
Considerações finais 
 
Cada paciente é único, assim como o planejamento 
terapêutico que deve ser interpretado em cada situação e da mesma 
forma com as atividades aqui descritas. Elaboramos esse material, 
pois acreditamos que atividades auditivas não são formulas mágicas 
que resolvem todas as dificuldades do paciente, porém auxiliarão no 
processo de reabilitação da comunicação. 
Esperamos que esse material lúdico venha contribuir com a sua 
prática clínica. 
 
 
24 
 
Referências: 
 
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Processing Disorders: The Role of the Audiologist. Rockville, MD: American 
Speech-Language-Hearing Association; 1996. 
 
American Speech-Language-Hearing Association. (Central) Auditory 
Processing Disorders: The Role of the Audiologist. Rockville, MD: American 
Speech-Language-Hearing Association; 2005. 
 
Bamiou DE, Musiek FE, Stow I, Stevens J, Cipolotti L, Brown MM, Luxon LM. 
Auditory temporal processing deficits in patients with insular stroke. 
Neurology. 2006; 3(67): 614-619. 
 
Bootthroyd, A., Speech acoustics and perception. Austin: Pro-ed, 1986 
Cristofolini C. Trocas ortográficas: uma interpretação a partir de análises 
acústicas. [dissertação]. Programa de Pós-Graduação em Linguística; 2008. 
 
 Eggermont J. Development of the Central Auditory Nervous System. In: 
Handbookof central auditory processing disorder. Plural Publishing, Inc. 
2014. 
 
Eggermont JJ. Auditory temporal processing and its disorders. Oxford 
University press; 2015. 
 
Joint Committee On Infant Hearing (JCIH). Position statement: principles 
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