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Fundado em 1864 www.dn.pt / Sexta-feira 22.1.2021 / Ano 157.º / N.º 55 429 / € 1,70 / Diretor-geral editorial Domingos de Andrade / Diretora Rosália Amorim / Diretor adjunto Leonídio Paulo Ferreira / Subdiretora Joana Petiz TODAS AS CAPAS DAS PRESIDENCIAIS EM DEMOCRACIA GRÁTIS SEGUNDA-FEIRA COM O SEU DIÁRIO DE NOTÍCIAS Mulheres (ainda) afastadas dos lugares de decisão 59,7% MARCELO REELEITO PRESIDENTE O ÚLTIMO DE QUATRO BARÓMETROS DN, JN E TSF MANTÉM O ATUAL PRESIDENTE NO PATAMAR DOS 60 PONTOS PERCENTUAIS. ANA GOMES ESTÁ NO SEGUNDO LUGAR, MAS VENTURA APROXIMA-SE E VALE TANTO COMO FERREIRA E MARISA SOMADOS. PÁGS. 4-5 VOTO ELETRÓNICO 23 ANOS DE TESTES E NENHUM RESULTADO PÁGS. 6-7 AUGUSTO MATEUS “IDEOLOGIA NA SAÚDE DEMONSTRA FALTA DE LUCIDEZ” PÁG. 14 EVASÕES 10 IDEIAS PARA O CONFINAMENTO DE VOLTA A CASA: COZINHAR, BRINCAR, FAZER EXERCÍCIO, RIR, ESCREVER E CULTIVAR Presidente da Câmara de Leiria “Covid mostrou que são os autarcas e não o Estado que resolvem problemas” PÁGS. 20-21 Desgaste do governo O preço político do fecho das escolas e da gestão da pandemia Ministro da Educação tem 15 dias para resolver o ensino à distância. Está sob pressão dos dirigentes escolares que querem de volta as aulas online. Analistas políticos afirmam que o governo, os partidos e Belém vão sair mal na fotografia da pandemia, perante os portugueses, que “deixaram de ter medo da autoridade do Estado” e dão sinais de “desconfiança” nas instituições. PÁGS. 10-13 JO SÉ S EN A G O U LÃ O /L U SA Comissária europeia “União da Igualdade: rumo à inclusão de pessoas com deficiência” PÁG. 17 PÁG. 16 Recessão à vista em Portugal e UE Lagarde alerta para “desenvolvimentos adversos novos” devido ao coronavírus PÁG. 18 SONDAGEM 2 EDITORIAL Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias Hoje só há uma certeza: é preciso achatar a curva de infetados e mortos por covid-19. Todos os esforços devem ser feitos nesse sentido. Dos transportes públicos ao teletrabalho, dos restau- rantes às escolas. Não queremos perder mais portugueses para a morgue por causa da pandemia e da nova variante importada do Reino Unido. Um país onde falta população, e sobretudo população jo- vem, não pode dar-se ao luxo de continuar a perder pessoas ao ritmo a que está a acontecer, desde março do ano passado, catástrofe que se agudizou depois do Natal. Perder aulas presenciais, formação, educação e socialização entre os jovens é mau? Sim, é péssimo. Mas perder a saúde ou perder a vida e fa- zer que os pais e os avós possam também ver a vida em risco seria bem pior. Hoje a cada seis segundos um português é infetado. O que as famílias têm muita dificuldade em entender é por que razão não se repete a experiência do ensino online. Mesmo correndo o risco de alguma desigualdade social – porque nem todas as crianças têm computadores, apesar das promessas do governo –, no primeiro confi- namento o ensino à distância funcionou e também aconteceu de um dia para o outro. Quem não tinha computador acompanhou pela RTP, que fez um trabalho extraordinário e emitiu uma espécie de tele-escola dos tempos modernos. Professores e alunos adaptaram-se, ajustaram- -se e conseguiram. Hoje não seria preciso reinventar a roda nem come- çar do zero, bastaria repetir a receita que correu bem em março e que ajudou crianças, adolescentes, jovens adultos e famílias a manter (par- te) das suas vidas e o ensino. Tal como na saúde, na educação também não havia um plano B preparado? Parece que não. Nesta semana o governo anunciou que iriam começar os testes mas- sivos nas escolas. Já agora, a esses testes anunciados que uso lhes será dado? Os alunos deixarão de ser testados, podendo agora levar para casa o vírus, sem o saberem? As perguntas dos portugueses são muitas. Respostas precisam-se! Qual é o plano B na educação e na saúde? Rosália Amorim Diretora do Diário de Notícias EDITORIAL OPINIÃO HOJE ACONTECEU EM 1965 Paulo Baldaia A ti, deus sol, entregamos as nossas crianças em sacrifício PÁG. 15 Bruno Bobone Porquê Marcelo PÁG. 15 Helena Dalli União da Igualdade: rumo à plena inclusão das pessoas com deficiência PÁG. 17 Susana Malcorra A geopolítica em 2021: há demasiado em jogo para agirmos como meros espectadores PÁG. 23 Raul M. Braga Pires O dia em que Portugal quase reconheceu a Polisário e resgatou 17 pescadores de Aveiro PÁG. 25 Victor Ângelo Biden no trapézio e o mundo na corda bamba PÁG. 25 Uma multidão paralisou o Chiado para ver e tentar receber um autógrafo de Amália Rodrigues a 21 de janeiro de 1965, noticiou o DN no dia seguinte, dando conta da euforia em torno daquela que já era, há muito, a rainha do fado. “Amália é cartaz, concedendo autógrafos na sucursal do Diário de Notícias. Amália juntou uma multidão no Chiado e perturbou o trânsito”, podia ler-se no título e na entrada de uma peça na primeira página do nosso jornal. “Amália Rodrigues – embaixatriz artística de Portugal no mundo – e realmente uma das paixões de Lisboa. A sua arte e a sua voz não precisam de adjetivos, mas foi essa voz característica e a maneira simples da artista que granjearam fama e a paixão que todos lhe devotam. Se alguém tivesse ainda dúvidas disso, bastava ter visto ontem, no Chiado, junto à sucursal do Diário de Notícias, a multidão de admiradores ali concentrados, multidão que acorreu ao simples anúncio de que Amália ia conceder autógrafos”, explicava o DN, não poupando nas palavras para enaltecer a artista, que não deu “mostras de fadiga” e “prosseguiu a sua tarefa com gestos de extrema gentileza a que todos correspondiam com entusiasmo”. Na altura, a fadista levava mais de 20 anos de uma carreira que já tinha extravasado fronteiras, como comprovam as atuações e a venda massiva de álbuns em países como Espanha, Brasil, França, Itália e Estados Unidos. Paralelamente, também já se tinha estreado no cinema internacional. “Apesar de muitas vezes andar longe de Lisboa, apesar dessas ausências, não é esquecida”, lia-se na primeira página do jornal. Sessão de autógrafos de Amália paralisa Chiado 22.1.2021 Diretor-geral editorial Domingos de Andrade Diretora Rosália Amorim Diretor adjunto Leonídio Paulo Ferreira Subdiretora Joana Petiz Diretor-geral de conteúdos Afonso Camões Diretores de arte Pedro Fernandes e Rui Leitão Diretor adjunto de arte Vítor Higgs Editores executivos Carlos Ferro, Helena Tecedeiro, Pedro Sequeira e Artur Cassiano (adjunto) Grandes repórteres Ana Mafalda Inácio, Céu Neves, Graça Henriques e Fernanda Câncio Editores Lina Santos, Ricardo Simões Ferreira, Rui Frias, Filipe Gil, João Céu e Silva, João Pedro Henriques e Nuno Sousa Fernandes Redatores Carlos Nogueira, Catarina Reis Pires, César Avó, David Mandim, David Pereira, Filomena Naves, Isaura Almeida, Maria João Caetano, Paula Freitas Ferreira, Paula Sá, Susete Francisco, Susete Henriques, Susana Salvador e Valentina Marcelino Fecho de edição Elsa Rocha (editora), Ângela Pereira e Nuno Carvalho Arte Eva Almeida (coordenadora), Fernando Almeida, Gonçalo Sena, Maria Helena Mendes, Marta Ruela Rocha, Teresa Silva eTânia Sousa (infografia) Digitalização Nuno Espada (coordenador), Inês Nazaré, Paulo Dias e Pedro Nunes Dinheiro Vivo Joana Petiz (diretora) Evasões Pedro Ivo Carvalho (diretor ) Notícias Magazine Inês Cardoso (diretora ) Conselho de Redação Ana Mafalda Inácio, Céu Neves, Graça Henriques, Maria João Caetano, Paula Sá; Carlos Nogueira e Rui Frias (suplentes) Secretária de direção Elsa Silva Secretaria de redação Carla Lopes (coordenadora) e Susana Rocha Alves E-mail geral da redação dnot@dn.pt E-mail geral da publicidade dnpub@dn.pt Contactos RuaTomás da Fonseca, Torre E, 5.º – 1600-209 Lisboa. Tel.: 213 187 500. Fax: 213 187 515; Rua de Gonçalo Cristóvão, 195, 5.º – 4049-011 Porto. Tel.: 222 096 100; Rua João Machado, 19, 2.ºA – 3000-226 Coimbra. Tel.: Redação:há muito. Não existir, demonstra falta de lucidez, porque além da covid há as doen- ças crónicas da nossa civilização, “Marcelo é a escolha certa” para equilibrar e criar convergência AUGUSTO MATEUS Antigo ministro de Guterres lamenta medidas complexas e pouco assertivas que criam desigualdade. Defende saúde sem ideologia, que integre todos e seja gerida com racionalidade. TEXTO JOANA PETIZ O economista Augusto Mateus defende medidas diferentes para uma crise que é distinta de todas as que já vivemos. PE D RO C O RR EI A /G LO BA L IM AG EN S no e outras indiretamente, há o problema das cadeias de valor glo- balizadas, as contas não podem ter por base a faturação. Um restau- rante fechado não fatura, mas também não faz encomendas, paga menos impostos, luz, etc. e essas assimetrias têm de ser pesa- das nos apoios, como o tem de ser a forma de apoio.” Lembra que no confinamento anterior o consumo se reduziu a cerca de metade, pelo que o lay-off a pagar dois terços do salário com- pensava bem – “as pessoas tinham menos despesas, as empresas não se descapitalizavam e o défice não crescia exageradamente”. Quando se complicou essa medida, abriu- -se a caixa de Pandora, e criou-se tratamento diferente de situações que deviam ser tratadas como iguais. “Diferentes lay-offs, limites de pessoas nas lojas, de horários, apoios dependentes de fatura- ção... há negócios que precisam de 80% de ocupação se não não so- brevivem!” Por outro lado, Mateus defende que o recurso a crédito devia existir com mais força num momento posterior, de recupera- ção, para a impulsionar, e agora devíamos focar recursos na liqui- dez e na hibernação das atividades mais afetadas, de forma a conser- vá-las para que se possa salvar o máximo de empresas quando houver condições de recuperação. “Na crise financeira e da dívida so- berana perdemos 10% das empre- sas. Agora vamos perder mais. É preciso ver quais estão em condi- ções de recuperar.” Por tudo isto e pela exigência do momento atual, pela necessidade de enfrentar a crise – pandémica e económica – com seriedade, o economista diz que “precisamos de uma governação mais transpa- rente e verdadeira, de governar de forma muito mais assertiva nos atos”. “Temos muita conversa e pou ca ação, o governo age como uma espécie de médico que só prescreve, mas o papel da política pública é o de fazer bem o bem, nós mandatamos responsáveis para resolver temas, não para enunciar problemas.” E também aí Marcelo tem um papel fundamental, de focar políti- cas e unir esforços. “Qualquer so- ciedade tem problemas que são de todos e outros de alguns e há forças políticas que se posicionam de cada um dos lados, “umas dirigin- do-se claramente à governação, outras tentando ser transformado- ras ou bloqueadoras”. E nesta elei- ção só o atual Presidente apresen- ta vontade de “dar vida ao poder compensatório com equilíbrio, tentando mobilizar os portugueses para projetos comuns, para criar convergência em torno dos gran- des problemas e desafios. Os ad- versários posicionam-se todos nu - ma lógica de dividir, sem uma in- terpretação completa, alargada. Portanto, Marcelo Rebelo de Sousa é a solução acertada”. “Precisamos de medidas úteis e justas, não de soluções simpáticas. Precisamos dos apoios certos e que haja rigor e transparência na comunicação – que não tem havido.” Augusto Mateus Economista que exigem cuidados permanen- tes, e acidentes, e toda a gente po- dia estar a fazer melhor.” Também do ponto vista econó- mico, o ex-ministro defende que devíamos estar a fazer melhor e isso depende de olhar as desigual- dades e fazer bem as contas, para responder com mecanismos mui- to específicos e adequados às dife- rentes realidades. “Há atividades encerradas por decisão do gover- Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 15 Fechamos as escolas, sacrificamos toda uma geração de estudantes, julgando que dessa forma acal- mamos a ira dos deuses, como é suposto terem feito os astecas há largas centenas de anos. Tamanho egoísmo só é possível por preguiça de cumprir o que está assente como melhor forma de combater a pandemia. – É mais fácil fechar as escolas do que rastrear as fontes de contágio ou colocar todo o sistema de saúde (público, social e privado) a tratar os doentes. – É mais fácil fechar as escolas do que usar máscara ou reforçar a higienização das mãos e manter o distanciamento social. – É mais fácil fechar as escolas do que reforçar os transportes públicos para evitar que eles funcionem lotados à hora de ponta ou exigir condições de segu- rança sanitária nas fábricas, na constru- ção civil, nos supermercados. Mas que não haja dúvidas, se acaba- rem a dispensar a qualidade de ensino de mais de um milhão de portugueses, só por burrice podem acreditar que foi por A ti, deus sol, entregamos as nossas crianças em sacrifício Opinião Paulo Baldaia manterem as escolas abertas que milha- res de portugueses se juntaram no fim de semana, à beira-mar, passeando sem máscara com tudo ao molho e fé em deus. Ou que foi por terem os filhos na es- cola que muitos portugueses, sem mesa na esplanada, passaram a pedir a bica, a mini e a sandes de queijo ao postigo para, mesmo de pé, manterem o alegre conví- vio com os amigalhaços de sempre. – É mais fácil fechar as escolas do que obrigar os imbecis a cumprir a lei que deveria ser igual para todos. – É mais fácil fechar as escolas do que garantir o policiamento e a vigilância para fazer cumprir as leis que emanam da vontade do Presidente da República, do parlamento e do governo. Quem nos representa desiste com demasiada faci- lidade. Estamos mesmo perdidos quan- do o futuro deixa de contar. Mas se é por aí que a maioria pretende caminhar, então convém, ainda assim, garantir alguma equidade na desgraça. A primeira coisa que é preciso reconhe- cer é que o Ministério da Propaganda, também conhecido por Ministério da Educação, falhou redondamente no cumprimento da promessa feita pelo primeiro-ministro, António Costa, em abril. O kit eletrónico não chegou a to- dos os alunos (1,2 milhões) no início do ano letivo, como pomposamente anun- ciou António Costa há nove meses que iria acontecer. Chegou em novembro apenas para cem mil, menos de 10%. E mesmo que só contemos os alunos que não tinham, nem têm, computador e internet disponível, para os pais em te- letrabalho e/ou os filhos em ensino à distância, um estudo da Universidade Nova dava conta, também em abril do ano passado, que esse número deve ron- dar os 300 mil alunos. Fechar todas as escolas, para lá dos 15 dias agora anunciados, é cobardia. Há mais alunos infetados, mas não há ne- nhuma informação que garanta que as escolas sejam um foco. Nas escolas, os alunos têm mais segurança do que a que encontram em sua própria casa. Este sacrifício em honra do deus sol não pode trazer senão a escuridão. Espere- mos que não dure mais do que os 15 dias anunciados. Jornalista Fechar todas as escolas, para lá dos 15 dias agora anunciados, é cobardia. Há mais alunos infetados, mas não há nenhuma informação que garanta que as escolas sejam um foco. Nas escolas, os alunos têm mais segurança do que a que encontram em sua própria casa. Foi há praticamente dois anos que tive a oportunidade de publica- mente desafiar Marcelo Rebelo de Sousa a candidatar-se a um se- gundo mandato. Fui provavelmente o primeiro a fazê-lo e fi-lo exatamente pe- las mesmas razões que me levam a escre- ver – hoje, aqui – este texto. Durante largas décadas a Europa e o mundo evoluíram no sentido da demo- cracia e da liberdade. A ideia de mudar o acesso ao poder, atribuindo aos atos elei- torais a base desse mesmo poder, era a solução ambicionada pelo mundo para conseguir chegar a um estádio de liberda- de e respeito pelas pessoas. Com este sistema de governação, e confiantes de que este sistema nos per- mitiria a confiançapara nos abrirmos ao mundo, avançámos na globalização. E fi- zemo-lo sempre baseados no paradigma de sucesso da economia de mercado – o sistema que mais contribuiu para a cria- ção de riqueza. Contudo, tanto pela habituação ao siste- ma, pelo comodismo que se instalou atra- vés dessa mesma criação de riqueza, como pela clara perda de foco sobre aquilo que é a essência de todas as nossas ações – e que é a pessoa humana –, a verdade é que chegá- mos a um ponto em que o sistema deixou de nos encantar e passou a ser a razão de to- das as frustrações, e como tal condenável. É em resultado desta sensação de frus- tração que assistimos ao despontar por todo o mundo de movimentos de contes- tação que se afirmam contra o politica- mente correto e que se tornam muito ape- lativos, pois geralmente prometem aquilo que as pessoas gostariam de conquistar. Porquê Marcelo Opinião Bruno Bobone Para combater essas frustrações torna- -se fundamental a promoção de projetos que vão ao encontro dos anseios das pes- soas que, na sua origem, se fundam em questões que verdadeiramente importa corrigir e melhorar. Contudo, quando as- sociadas aos temas mais populistas, pro- movem a instabilidade e a imprevisibili- dade e acabam por criar situações com as quais não queremos conviver, mas que não poderemos evitar. Veja-se o caso daquilo que sucedeu nos Estados Unidos: mesmo os mais entusias- tas defensores das políticas imprevisíveis de Donald Trump nunca suspeitariam que poderia tudo terminar com um assalto ao Capitólio. Da mesma maneira, os admira- dores de Maduro não poderiam acreditar que um país com a riqueza da Venezuela pudesse estar a passar fome, nem que a China voltasse a ter um presidente vitalício. É neste mundo que temos de ir votar. Ainda que em Portugal o papel constitu- cional do presidente da República não seja decisivo para tudo mudar nesta matéria, o presidente é a referência do país que que- remos e é o garante do tipo de sociedade que pretendemos para o nosso futuro. E o que eu quero é uma sociedade que se foque na qualidade das pessoas que a com- põem, em que todos importam e em que todos têm o direito de ser felizes. Uma so- ciedade em que o respeito verdadeiro pelas pessoas e pelos seus ideais seja intocável. Em que as religiões sejam respeitadas pelo que representam para os crentes e em que o bem comum tenha primazia sobre o bem individual. Uma sociedade em que haja oportuni- dades iguais para todos, onde haja uma preocupação de criar riqueza, mas que seja sempre criada com o objetivo de ser distribuída com justiça por todos os seus membros. Uma sociedade e um país em que pro- curemos todos juntos encontrar um cami- nho integrador e inclusivo em que produ- zamos sempre mais pela complementari- dade do que pela competição. Um país em que seja mais importante ser feliz do que ser rico, ajudar do que ga- nhar, ser pessoa e parte do todo, do que ser só mais um membro de uma fação. É por tudo isto que acredito que vale a pena Marcelo.. Bruno.bobone.dn@gmail.com O que quero é uma sociedade que se foque na qualidade das pessoas que a compõem, em que todos importam e em que todos têm o direito de ser felizes. 16 SOCIEDADE Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias Mariana Branquinho da Fonseca “É preciso garantir que prevalece a meritocracia” Mariana Branquinho da Fonseca, board member da Professional Wo- men’s Network (PWN) Lisbon, res- ponsável pela dinamização e apre- sentação, no nosso mercado, do es- tudo Gender Diversity Index de 2020, fala ao DN sobre o papel da mulher no mercado português, as suas oportunidades e vantagens, assim como o perfil de liderança es- perado em 2021 para lidar com os desafios colocados em contexto de crise pandémica. O que é preciso fazer para mudar a igualdade no tecido empresarial europeu? A situação nos países europeus é muito diversa, mas na essência eu diria que o que se tem de fazer ao nível da Europa não é diferente do que é preciso fazer ao nível de cada país, e em Portugal em particular: educar, formar, comunicar, dar vi- sibilidade dos bons exemplos, e ga- rantir que, independentemente do género, o que prevalece é a merito- cracia. O programa Women on Board identifica mulheres com o perfil de líderes. Que perfil de mulher vai liderar em 2021, em contexto de crise e pandemia? Não faria uma distinção por géne- ro. O contexto que hoje vivemos tem com certeza um impacto si- gnificativo no perfil de liderança, já que as pessoas/equipas estão as- sustadas, apreensivas, inseguras. Hoje, mais do que nunca, valoriza- -se uma liderança inclusiva, mar- cada por maior colaboração, maior agilidade, mais transparência, on - de a segurança de cada colabora- dor passou a ser um tema prioritá- rio. O líder tem de ser capaz de olhar para a individualidade de Pode parecer um paradoxo dizer que a Europa está atrasada cerca de 60 anos no que concerne à igualda- de de género quando há persona- gens como Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, ou Angela Merkel, chanceler da Ale- manha. Mas a verdade é que são duas exceções. Os vários estudos feitos sobre o tema provam isso mesmo: a Europa tem crescido ape- nas meio ponto percentual por ano, fixando-se nos 67,9 pontos (numa de tabela de 100). Suécia, Dinamar- ca e França são os países com me- lhores resultados, mas o realce vai para a Itália, Luxemburgo e Malta, dado serem os países que mais su- biram no ranking (com valores ava- liados a partir de 2010). Os dados que constam do Gender Diversity Index [Índice de Diversidade de Gé- nero] de 2020, que avalia a igualda- de de género em 600 empresas regis- tadas no STOXX Europe de 17 países europeus, Portugal incluído, reve- lam que ainda existe uma elevada “sub-representação de mulheres em cargos de gestão de topo das empre- sas cotadas em bolsa na União Euro- peia (UE)”. Basta olhar pa ra os nú- meros para nos apercebermos des- ta realidade. Sabendo que o valor mínimo de paridade é de 40%, o que dizer do facto de a mé dia da União Europeia (a 28, ainda com Reino Unido) se situar nos 30%? Portugal está ainda pior, 3,4 pon- tos percentuais abaixo da média eu- ropeia. Observando esses números, percebe-se que Portugal ainda está muito longe de sequer cumprir a lei que estabelece que as empresas pú- Mulheres continuam afastadas dos lugares de decisão IGUALDADE DE GÉNERO Em Portugal apenas 26,6% das empresas têm uma liderança feminina. Um número abaixo da média europeia, do valor mínimo da paridade e dos 33,3% estabelecidos por lei. TEXTO ALEXANDRA COSTA Na União Europeia, a média de mulheres em cargos de gestão de topo é de apenas 30%. Portugal está ainda pior: 3,4 pontos percentuais abaixo da média da UE. cada elemento da sua equipa, po- tenciar a contribuição de cada um, tirando partido dessa diversidade de pensamento ao mesmo tempo que promove uma abordagem muito mais colaborativa como ga- rante para a tomada de melhores decisões e assegurar a resolução dos problemas complexos. Assim, no líder, são valorizadas caracterís- ticas como autenticidade associa- da a uma certa humildade, sendo capaz de colocar o seu ego de lado para criar confiança; resiliência emocional, ou seja, a capacidade de manter a postura quando con- frontado com as dificuldades e ad- versidades causadas pela diferen- ça; autoconfiança e otimismo; fle- xibilidade, na medida em que se adapta à diferença e é capaz de to- lerar a ambiguidade; e curiosidade, demonstrando empatia e abertura à diferença. No que respeita às competências, irão ser valorizadas a construção de confiança inter- pessoal (honestidade, procurando identificar pontos comuns ao mes- mo tempo que valoriza perspetivas diferentes), integração de diferen- tes perspetivas (considerar vários pontos de vista e necessidades, ge- rindo o conflito de forma eficaz), otimização de talento (capacidade de motivação e desenvolvimento de talento, promovendo a colabo-ração através das diferenças); capa- cidade de adaptação (visão global, capaz de se adaptar às situações, inovando a partir das diferenças) e de transformação (coragem para enfrentar situações difíceis, per- suasão e obtenção de resultados). Em que posição se encontra Por- tugal no panorama europeu? Portugal encontra-se numa posi- ção em que ainda tem espaço si- gnificativo de melhoria, a vários ní- veis. Para além do género, são hoje ENTREVISTA Dirigente da PWN Lisbon diz que “hoje, mais do que nunca, deve valorizar-se uma liderança inclusiva”. blicas e as cotadas passem a cumprir 33,3% de cargos femininos nos con- selhos de administração e nos ór- gãos de fiscalização. Sem contar que, em Portugal, as mulheres tendem a ocupar cargos não executivos. Estes números reacenderam o debate sobre o tema da igualdade de género, considerado prioritário por Ursula von der Leyen e pelo Par- lamento Europeu, que está a equa- cionar levar a cabo mais ações regu- latórias no sentido de aumentar a presença feminina na liderança cor- porativa. Mas o que dificulta a subida das mulheres a lugares de topo? Para Mariana Branquinho da Fonseca, board member da PWN [Professio- nal Women’s Network] Lisbon, orga- nização sem fins lucrativos integra- da na PWN Global e dinamizadora, em Portugal, do Gender Equality Awards 2020, existem três fatores que justificam este “atraso”. Por um lado, as mulheres partem de “uma situação de grande desequilíbrio e, por isso, por mais medidas e leis que existam, é preciso tempo”. Não se trata tanto de estabelecer quotas (e de as cumprir), acrescen- ta, mas sim, e principalmente, de conseguir levar a cabo uma mudan- ça de mentalidades. Por outro lado, convém assegurar a criação de ta- lento. E garantir que as mulheres Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 17 PI XA BA Y Mariana Branquinho da Fonseca defende que, mais do que estabelecer quotas de género, é importante “mudar mentalidades”. Há dez anos, a União Europeia ratifi- cou a Convenção das Nações Uni- das sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Foi a primeira convenção em matéria de direitos humanos na qual a União Europeia (UE) se tornou par- te, dando início a uma nova era em que o res- peito pelos direitos das pessoas com deficiên- cia é um dever, tanto moral quanto jurídico. Ao longo da última década, a UE e os seus Estados membros têm trabalhado com o ob- jetivo de cumprir as obrigações decorrentes da Convenção. Para a UE, significa garantir que as regras, as políticas e os programas eu- ropeus incluem as pessoas com deficiência, respeitam plenamente a Convenção e pro- movem uma Europa inclusiva. Todos os países da UE estão igualmente vinculados pela Convenção, bem como pelas leis da UE em matéria de não discriminação e acessibilidade, o que significa que os Estados membros devem garantir sistemas de educa- ção inclusivos destinados às pessoas com de- ficiência e ter em vigor legislação que proíba a discriminação no local de trabalho. Devem também tornar os transportes e os edifícios públicos acessíveis. A Estratégia Europeia para a Deficiência 2010-2020 orientou a ação da UE ao longo da última década, colocou a incapacidade no topo da agenda da UE e trouxe melhorias tan- gíveis. O histórico Ato Europeu da Acessibili- dade, por exemplo, exige que o acesso aos produtos e serviços essenciais, como os tele- fones, os computadores, os livros eletrónicos, os serviços bancários e as comunicações ele- trónicas, seja facilitado para que possam ser utilizados por pessoas com deficiência. Os di- reitos dos passageiros da UE garantem que as pessoas com deficiência tenham acesso aos meios de transporte rodoviários, aéreos e ma- rítimos. A UE também tem desempenhado um papel de liderança a nível mundial na promoção da inclusão das pessoas com defi- ciência por meio das nossas políticas de desenvolvimento e humanitárias. A pandemia de covid-19 veio expor novas desigualdades que as pessoas com deficiên- cia enfrentam e o facto de a pandemia as afe- tar mais do que às outras pessoas, por via des- sas mesmas desigualdades. Com o encerra- mento das escolas e as aulas através da internet, os alunos com deficiência nem sem- pre têm acesso ao material e ao equipamento pedagógicos. A teleconferência, o teletrabalho e as com- pras pela internet também podem constituir obstáculos. Até o acesso à informação sobre o União da Igualdade: rumo à plena inclusão das pessoas com deficiência Opinião Helena Dalli vírus se revela um desafio. Assim, a resposta da UE à crise faz da igualdade um assunto prioritário, ao mesmo tempo que adota o maior pacote de estímulos de sempre para impulsionar a recuperação. A nossa linha de orientação para uma recu- peração pós-covid justa aponta para a inclu- são das pessoas com deficiência, para que vi- vam com dignidade e autonomia e tenham acesso a serviços que lhes permitam partici- par plenamente no mercado de trabalho e na sociedade. Em abril, a presidência portugue- sa reunir-se-á com a Comissão e os Estados membros para um diálogo político de alto ní- vel sobre os direitos das pessoas com defi- ciência, a fim de abrir novos caminhos. Estamos a passar para uma velocidade su- perior, a fim de evitar que os efeitos da covid- -19 façam abrandar as conquistas já alcança- das em prol das pessoas com deficiência. As políticas devem ser concebidas de forma in- clusiva para todos, a fim de garantir uma re- cuperação resiliente e justa. Após amplas consultas, apresentarei uma nova e reforçada estratégia da União sobre os direitos das pessoas com deficiência para o período 2021-2030. Esta estratégia basear-se- -á nos resultados dos dez últimos anos e ofe- recerá soluções para os desafios futuros. Abrangerá todos os aspetos da Convenção das Nações Unidas, transformando em ação os direitos nela consagrados e proporcionará um quadro sólido para os próximos anos, a fim de garantir que ninguém seja deixado para trás. Os 87 milhões de pessoas com defi- ciência na UE merecem deixar de ser alvo de discriminação estrutural ou de estereótipos negativos. As nossas ambições exigirão o empenho de todos. A estratégia constituirá o ponto de refe- rência para a UE e para todos os governos, os parceiros sociais, a sociedade civil e o setor privado. O nosso compromisso e a nossa ação neste domínio constituirão mais um passo importante rumo a uma União da Igualdade. Trabalharei em estreita colabora- ção com todos os Estados membros para fa- zer da UE um modelo de inclusão, acessibili- dade e direitos humanos. As pessoas com deficiência vão participar no diálogo e no processo, pois devem ser par- te ativa em todas as questões que lhes dizem respeito. É este o significado do lema “Unida na Di- versidade”. Comissária europeia da Igualdade questões estruturantes a integra- ção de diferentes gerações e cultu- ras, o acolhimento de millennials, as competências-chave para a per- manente mudança, os novos seg- mentos de negócio, o ambiente tecnológico, as condições de traba- lho remoto e a gestão de equipas à distância. Qual o papel da PWN Lisbon na promoção da igualdade? Na questão concreta da igualdade de oportunidades, a PWN Lisbon definiu uma “3 Grow Strategy”, que se propõe: fazer crescer a PWN Lis- bon, estabelecendo alianças e par- cerias estratégicas; promover a igualdade de oportunidades de desenvolvimento profissional das mulheres, através de formação e orientação em liderança, progra- mas de mentoring, empreendedo- rismo, networking e partilha de boas práticas; e disponibilizar mais evidência sobre o valor económico e social da diversidade de género. É no quadro deste contributo que a PWN Lisbon está hoje posicionada como stakeholder estratégico das organizações em Portugal. A.C. têm a possibilidade de adquirir e desenvolver competências e expe- riências que lhes assegurem uma carreira e, consequentemente, de conseguir um lugar de topo. Tudo começa com um risco.Para Mariana Branquinho, os decisores “têm de arriscar, dar oportunidade a quem ainda não exerceu, contra- tar com base no potencial e não apenas na experiência adquirida”. Porque o mais difícil é “conseguir a primeira posição no topo de uma organização”. Médico absolvido de indemnizar paciente O Supremo Tribunal de Justiça absolveu um médico de in- demnizar uma paciente de 43 anos por um erro médico durante uma pequena cirurgia realizada no seu consultório em Aveiro. O acórdão, datado de 15 de de- zembro de 2020, julgou procedente o recurso interposto pelo médico especialista em gastrenterologia e, embora com um voto de vencido, revogou a decisão do Tribunal da Relação do Porto, que tinha conde- nado o réu e uma seguradora a pa- gar uma indemnização de cem mil euros à autora. Em causa estava um alegado erro de tratamento, nomeadamente quanto à omissão da preparação da paciente para a intervenção realiza- da em 2016, que se destinava a re- mover um pólipo, mediante peque- na cirurgia em ambulatório e com aplicação de anestesia local. Os factos dados como provados referem que “quando foi acionada a eletrocoagulação com vista a quei- mar o pólipo, em pleno canal anal, aconteceu uma explosão”, ocasio- nada pela “presença no intestino da autora de gases (metano e/ou hi- drogénio)”, tendo o réu interrompi- do imediatamente o tratamento. A paciente foi transportada para o Hospital de Aveiro, onde foi sub- metida a uma operação para remo- ver parte do intestino grosso, devi- do à “laceração extensa” no intesti- no grosso. A paciente, que na sequência deste incidente teve ne- cessidade de permanecer em re- pouso durante um período de 170 dias, acabou por instaurar uma ação contra o médico a exigir uma in- demnização de quase 200 mil euros. Em 2018, o Tribunal de Aveiro jul- gou a ação improcedente, porque “não entendeu que tivesse sido de- monstrada a obrigatoriedade de qualquer preparação (jejum e/ou limpeza intestinal) para a operação”. A autora recorreu então para a Re- lação do Porto, que concluiu pela existência de um comportamento “ilícito e culposo” por parte do réu, sustentando que a explosão ocorri- da “não é normal ou usual” e que o médico não adotou qualquer pro- cedimento com vista a evitá-la. Desta feita, o médico recorreu para o STJ, que considerou que “o dramático resultado não se registou por ausência de um procedimento que as leges artis [conjunto de regras e técnicas que estabelecem proce- dimentos clínicos a que os médicos estão vinculados] impusessem ou obrigassem”. DN/LUSA 18 DINHEIRO Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias a presidente do BCE. Sobre o futu- ro, Lagarde confia que a vacinação, iniciada no final de dezembro, “per- mite uma maior confiança na reso- lução da crise sanitária”, só que “le- vará algum tempo até que a imuni- dade generalizada seja alcançada”. E “não podemos descartar novos desenvolvimentos adversos rela- cionados com a pandemia”. Assim, “no médio prazo, a recu- peração da economia da zona euro deverá ser apoiada por condições de financiamento favoráveis, orça- mentos públicos expansionistas e uma recuperação da procura, à medida que as medidas de confina- mento são levantadas e a incerteza diminui”. “As notícias sobre as perspetivas para a economia global, o acordo sobre as futuras relações UE-Reino Unido e o início das campanhas de vacinação são encorajadoras, mas a pandemia em curso e as suas im- plicações para as condições econó- micas e financeiras continuam a ser riscos negativos”, disse a ex-che- fe do FMI. Juros mínimos e bazucas ficam na mesma Há pouco mais de um mês, o BCE decidiu manter os juros em míni- mos históricos e reforçar a chama- da bazuca de dinheiro ultrabarato (sobretudo os programas de com- pra de Obrigações do Tesouro) em mais 40%, em cerca de 500 mil mi- lhões de euros para um total de 1,85 biliões de euros. Desde então vários problemas ou incertezas foram cla- rificados, mas outros surgiram com maior violência. O BCE optou, assim, por deixar tu do na mesma. Nessa altura, havia três pedras na engrenagem. As vaci- nas covid-19 ainda não estavam no terreno, ainda não era seguro que o então presidente eleito dos EUA, Joe Biden, conseguisse chegar ao cargo, e não havia acordo final para a saída do Reino Unido da União Europeia. Estes três problemas, entretanto, dissiparam-se. As vacinas chega- ram, Biden foi empossado na quar- ta-feira passada e o acordo final do Brexit lá foi alcançado depois de anos de impasses, avanços e mui- tos recuos. Mas, como reparou Lagarde, es- tamos perante uma nova vaga da doença e uma nova disrupção da atividade. Além das bazucas, o BCE decidiu também manter as taxas de juro de referência em mínimos históricos, em 0% e abaixo de zero. luis.ribeiro@dinheirovivo.pt to (PIB), há uma quase perfeita sin- cronia entre Portugal e a zona euro. Ou seja, sempre que a economia da zona euro começa a cair, Portu- gal também cai (aconteceu a partir de meados de 2008, por exemplo) ou então Portugal já está em reces- são (foi o caso da crise que come- çou no final de 2010 e se prolongou até meados de 2013), mostram os dados do Eurostat e do Instituto Nacional de Estatística (INE). Ontem, a líder do BCE, Christine Lagarde, revelou que “os últimos dados económicos, inquéritos e in- dicadores de alta frequência suge- rem que o ressurgimento da pan- demia e a intensificação associada às medidas de contenção terão le- vado a um declínio na atividade no quarto trimestre de 2020 e também devem pesar sobre a atividade no primeiro trimestre deste ano”. Portanto, a reta final de 2020 foi marcada por uma quebra da eco- nomia e os primeiros três meses deste ano vão pelo mesmo cami- nho. Recessão à vista, a segunda em menos de um ano. A zona euro entrou em recessão no primeiro trimestre do ano pas- sado. A economia do euro recuou 3,7% nos primeiros três meses de 2020 e depois afundou mais 11,7%. Portugal seguiu este ritmo, tendo até registado valores piores: menos 4% e menos 3,9%, respetivamente. “A evolução económica continua a ser desigual entre setores, com o setor de serviços a ser mais adver- samente afetado pelas novas restri- ções à interação social e mobilida- de do que o setor industrial”, referiu Azona euro está à beira de uma nova recessão, a se- gunda em menos de um ano, e Portugal também, tendo em conta o histórico da evo- lução económica dos dois territó- rios. Aconteceu no primeiro confi- namento para deter a covid-19, de - ve acontecer agora, outra vez. A zona euro está prestes a cair numa nova recessão técnica, isto é, dois trimestres consecutivos de quebra da atividade económica, avisou ontem a presidente do Ban- co Central Europeu (BCE), na con- ferência de imprensa que se se- guiu à reunião sobre política mo- netária e taxas de juro, nesta quinta-feira. Mas isto é um sinal quase inequí- voco de que Portugal também esta- rá nessa situação, agravando a di- nâmica da zona euro, na qual o país se insere. De acordo com um levantamen- to das séries históricas da evolução trimestral do produto interno bru- Nova recessão à vista na zona euro e em Portugal ECONOMIA Presidente do BCE, Christine Lagarde, avisa que “não podemos descartar novos desenvolvimentos adversos” devido à covid. TEXTO LUÍS REIS RIBEIRO O Banco Central Europeu manteve, na reunião de ontem, as taxas de juro em mínimos históricos. A crise é desigual, sublinhou Lagarde, com os serviços a serem mais afetados pelas restrições. FR A N C IS C O S EC O / P O O L / A FP Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 19 António Horta-Osório vai liderar o conselho de ad- ministração da Bial já a partir de abril, substituin- do Luís Portela, que nos últimos 42 anos presidiu à farmacêutica de que é principal acionista. O conhe- cido banqueiro português, que irá acumular estas novas funções com as de chairman do Credit Suisse, terá como tarefas contribuirpara a definição das grandes linhas estra- tégicas da Bial, tendo em vista a consolidação da empresa a nível internacional. A farmacêutica por- tuguesa, que exporta para 60 países e tem 11 filiais no exterior, faturou 344 milhões de euros em 2020, um aumento de 11,3% face a 2019, com 80% a ser garantida nos mercados externos. António Portela man- tém-se como CEO da empresa com sede na Trofa. O gestor português, que está prestes a deixar a presidência exe- cutiva do banco Lloyds, já tinha ad- mitido que não excluía Portugal do seu futuro, e até reconheceu que podia deixar de trabalhar na banca. Esta última hipótese não se veio a colocar, mas aceitou colocar o seu know-how ao serviço da farmacêu- tica portuguesa. “A Bial é uma das empresas portuguesas que mais admiro”, diz António Horta-Osório em comunicado, sublinhando que deseja que a sua experiência ajude a consolidar o caminho de empre- sa internacional de renome cons- truído por Luís Portela. Segundo o ainda chairman da Bial, “esta mudança vem sendo preparada há algum tempo, visan- do, por escolha da minha família, o reforço da estrutura profissional que desenvolvemos, preparando a Bial para um novo patamar no con- texto internacional”. Luís Portela está à frente da Bial desde 1979, quando comprou a maioria do ca- pital da empresa fundada pelo avô em 1924. Neste percurso de 42 anos, transformou a Bial numa farma- cêutica de âmbito internacional, com o lançamento a nível global dos primeiros medicamentos de investigação portuguesa, um an- tiepilético e um antiparkinsónico. Há dez anos, decidiu passar a pre- sidência executiva ao filho mais ve- lho, António Portela, e assumiu as funções de presidente do conselho de administração. Mas foi avisan- do que queria retirar-se da vida Em 1993, aceitou um convite de Emilio Botín para ir trabalhar para o Santander e criou o Banco San- tander de Negócios Portugal. Nes- te banco, trabalhou em Portugal e no Brasil e, mais tarde, no Reino Unido, sendo nomeado em 1999 vice-presidente executivo do gru- po Santander. Um ano depois as- sume a presidência executiva do Lloyds. No seu currículo consta ainda a nomeação pela rainha de Inglaterra para administrador não executivo do Banco de Inglaterra. No verão de 2020, Horta-Osório anunciou a sua saída do Lloyds no final do mandato, que termina em abril. Hoje exerce funções de admi- nistrador não executivo em alguns grupos económicos, como a Exor (holding da família Agnelli) e a IN - PAR (holding da família Lemann). sonia.s.pereira@dinheirovivo.pt António Horta-Osório vai ser chairman da Bial GESTÃO Banqueiro vai ajudar a definir a estratégia da farmacêutica portuguesa para a consolidação nos mercados internacionais. TEXTO SÓNIA SANTOS PEREIRA Banqueiro acumulará a função na Bial com a de líder do Credit Suisse. Endividamento da economia bate recorde São quatro meses con- secutivos de recordes. O endividamento da economia aumentou em novembro para fixar um novo máximo de sempre. Ao todo, empresas, famílias e se- tor público deviam 742,8 mil milhões de euros no final de novembro último, segundo dados divulgados ontem pelo Banco de Portugal. Trata-se de uma subida de 2,1 mil milhões de euros. Por detrás deste au- mento está, sobretudo, o con- tributo da subida do endivida- mento do setor público, que teve um aumento mensal de 1,4 mil milhões de euros. Já o setor privado registou uma su- bida de 700 milhões de euros na dívida. “É normal que em dezembro e em janeiro se as- sista a mais do mesmo”, disse Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Merca- dos Financeiros. “É um au- mento que tem que ver sobre- tudo com endividamento pa - ra gestão dos gastos com a pandemia”, frisou. Segundo o Banco de Portu- gal, o aumento do “endivida- mento do setor público refle- tiu-se, sobretudo, no cresci- mento do endividamento face às próprias administrações públicas [2,4 mil milhões de euros] e face ao setor financei- ro [1,0 mil milhões de euros]”. “Estes aumentos foram par- cialmente compensados pela redução do endividamento face ao exterior [2,0 mil mi- lhões de euros]”, adiantou numa nota de informação es- tatística. O aumento do endivida- mento no país acontece numa altura em que Portugal atra- vessa uma das maiores crises económicas de sempre, devi- do às medidas adotadas no âmbito da epidemia do novo coronavírus. No setor privado, “o endivi- damento dos particulares pe- rante o setor financeiro regis- tou um incremento de 0,4 mil milhões de euros”. “Por sua vez, o endividamento das em- presas aumentou 0,3 mil mi- lhões de euros, refletindo a su- bida do endividamento face ao exterior de 0,4 mil milhões de euros, parcialmente com- pensada pela redução do en- dividamento face ao setor fi- nanceiro”, referiu . Filipe Garcia lembrou que há empresas e famílias com moratórias no crédito e que, portanto, não amortizam a sua dívida ao banco, o que contribui para a manutenção do nível de endividamento. Também apontou que se re- gista um aumento na contra- tação de crédito, nomeada- mente ao consumo, o que acresce ao volume de crédito global das famílias. “Mesmo que possam amortizar dívida, os agentes económicos não o estão a fazer por uma questão de prudência”, afirmou. “Os bancos vão continuar a aper- tar as condições de acesso ao crédito e é prudente manter uma folga”, disse o mesmo economista. Mas alertou que “o stock de dívida não para de aumentar” e que “pode tor- nar-se insustentável” no futu- ro, quando começarem a su- bir as taxas de juro. ELISABETE TAVARES elisabete.tavares@dinheirovivo.pt CONTAS São mais 2,1 mil milhões acumulados até ao mês de novembro. Gastos com medidas adotadas na pandemia deverão levar dívida a novos máximos. Estado, empresas e famílias continuam a endividar-se. profissional antes dos 70 anos, que completa a 28 de julho. Cumprindo com o seu expresso desejo, Luís Portela prepara-se ago- ra para se dedicar à Fundação Bial, aos livros e à família. “Retiro-me com um enorme agradecimento à fantástica equipa que tive o privilé- gio e o prazer de capitanear e com a convicção de que, com o apoio de António Horta-Osório, estão cria- das condições para servirmos cada vez melhor a saúde de um cada vez maior número de pessoas.” Carreira de sucesso A carreira de sucesso na banca de António Horta-Osório é já bem co- nhecida. O banqueiro iniciou o seu percurso profissional em 1987, no Citibank, na área de mercado de capitais, seguindo-se a Goldman Sachs, em Nova Iorque e Londres. G U ST AV O B O M / G LO BA L IM AG EN S RE IN A LD O R O D RI G U ES /G LO BA L IM AG EN S 20 LOCAL Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias No início desta semana defendeu publicamen- te o fecho das escolas, ao contrário da decisão inicial do governo neste confina- mento. Porquê? Nós estamos com bastantes dias de atraso neste confinamento, se que- remos que seja eficaz. Quando vejo o caso de Leiria, que foi a capital de distrito que teve o melhor desem- penho no controlo da pandemia [até ao Natal] e de repente, em pou- cas semanas, vemos descambar por completo todos os números... isso só é resolvido com um confina- mento que não seja a fingir. Isso quer dizer que está claramente em desacordo com a atitude do go- verno, que supostamente apoia. Certo. Já tive oportunidade de fa- lar com membros do governo so- bre este assunto. Considero que só há um fator decisivo para a questão do confinamento: o da saúde. To- dos os dias reúno-me, presencial- mente ou ao telefone, com o dire- tor do Hospital de Leiria e pergun- to quantas camas disponíveis temos. E quando os gestores na área da saúde nos dão indicações claras de que estamos a viver mo- mentos dramáticos, terá de ser a saúde a ditar quais deverão ser as ações de confinamento. Uma das apostas nos últimos anos eram os eventos, muitos eventos. Está a decorrer no Estádio Munici- pal a Taça da Liga, um exemplo deum investimento que agora não tem retorno... Todo o trabalho que Leiria desen- volveu nos últimos dez anos foi fei- to a pensar como colocar o maior N U N O B RI TE S/ G LO BA L IM AG EN S ENTREVISTA É presidente da Câmara de Leiria desde há um ano e não esconde alguma deceção com a falta de apoio do governo nalgumas matérias. Insiste na criação do aeroporto em Monte Real e aposta na candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura em 2027. TEXTO PAULA SOFIA LUZ Gonçalo Lopes “A covid mostrou que são os autarcas e não o Estado que resolvem os problemas” número de pessoas na cidade e no concelho, a participar na nossa agenda cultural e desportiva, para atrair e fixar pessoas e assim afir- mar o nosso território. E de repen- te, no último ano, temos de mudar o chip: não podemos fazer e temos de pôr as pessoas em casa, quando até então era tirá-las de casa e pô- -las na rua. Isto para qualquer au- tarca é a inversão completa das suas prioridades. Quando se pen- sou na Taça da Liga, o objetivo era atrair as equipas principais, mas também criar na cidade uma atra- ção que iria trazer bastante retorno económico para a hotelaria, a res- tauração, o comércio... Perante isso, a candidatura a Capi- tal Europeia da Cultura em 2027 é o que resta. É aí que vai apostar to- das as fichas? O desenvolvimento do nosso terri- tório passa muito por apostar em três áreas fundamentais: a promo- ção do desenvolvimento económi- co e a digitalização, a preocupação na área do ambiente e uma tercei- ra área dedicada à cultura e à cria- tividade, que tem um papel muito importante para a afirmação do território – para que seja atrativo para a juventude e para a fixação de pessoas. E a candidatura a Capital Europeia da Cultura representa um objetivo muito grande não só para Leiria mas para uma região consti- tuída por 26 municípios. Mas é Leiria que assume a lideran- ça... Quanto é que custa ao municí- pio esse projeto? Até ao momento tem sido da or- dem de um milhão de euros. Prevê- -se para o futuro um investimento Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 21 Concurso público para celebração de contrato de arrendamento de loja no Centro Comercial Mira Sol na Urbanização do Buzano Nuno Filipe Ferreira Alves, Presidente da União das Freguesias de Carcavelos e Parede (“UFCP”), torna público que, por reunião do órgão executivo do dia 2 de janeiro de 2021, aprovou a abertura do procedimento “Concurso público para celebração de contrato de arrendamento de loja no Centro Comercial Mira Sol no Buzano”, sita na Praceta Natália Correia, n.° 181, Urbanização do Buzano, São Domingos de Rana, de acordo com as peças de concurso que fazem parte do presente procedimento e que poderão ser consultadas: • Na secretaria da sede da UFCP, em Carcavelos, sita da Estrada da Torre, n.° 1483, 2775-688 Carcavelos; • Na secretaria da delegação da UFCP, na Parede, sita na Rua José Relvas, n.° 84, 2775-222 Parede. • No site da UFCP: www.uf-carcavelosparede.pt As candidaturas deverão obedecer aos critérios constantes do Regime Jurídico de Acesso de Exer- cício de Atividades de Comércio, Serviços e Restauração, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 10/2015, de janeiro e cumprir as leis e regulamentos aplicáveis ao exercício da atividade comercial a exercer no local a arrendar. As propostas, apresentadas nos termos constantes das peças do concurso e acompanhadas dos docu- mentos aí exigidos, deverão ser entregues para o email procedimentosconcursais@uf-carcavelosparede.pt até às 23:59h do dia 16 de fevereiro de 2021. O presente Edital não dispensa a consulta integral do Programa de Concurso. Carcavelos, 21 de janeiro de 2021 O Presidente Nuno Alves ANÚNCIO POR EDITAL N.o 2/21 PUB muito grande na área da progra- mação e dos equipamentos cultu- rais: um centro de artes que vai fun- cionar no topo norte do estádio, com uma componente importan- te para as indústrias criativas; uma black box num edifício histórico do centro de Leiria (Paço Episcopal) dedicada sobretudo às artes de pal- co, e um centro de artes contempo- rânea na Vila Portela, através da re- cuperação do edifício. Acredita mesmo que conseguirá ganhar esta batalha a cidades como Oeiras, Braga, Aveiro, Coim- bra, entre outras? Acredito que sim porque a decisão é europeia, de um júri independen- te. E esta candidatura tem na sua base os ideais da constituição euro- peia: integração (de vários conce- lhos, assim como a UE integrou vá- rios países), espírito de coesão (os que estão mais desenvolvidos têm de puxar pelos mais fracos, como na Europa), o espírito solidário e de consciência social. E Leiria (e toda a rede) tem todas as condições para ser embaixadora da cultura na Eu- ropa: um território de 700 mil habi- tantes, a norte de Lisboa, com uma pujança do ponto de vista econó- mico e referências na área do patri- mónio cultural únicas – como o Mosteiro de Alcobaça e o da Batalha que são classificados pela UNESCO –, Fátima e um vasto património imaterial que nos torna uma candi- datura potencialmente vencedora. Leiria e Coimbra protagonizaram no verão passado uma disputa a propósito da construção de um novo aeroporto. Sentiu-se preteri- do pelo governo quando um minis- tro veio defender Coimbra? A minha relação com Coimbra é perfeitamente tranquila. Tenho o máximo respeito pelo trabalho que lá é desenvolvido. Mas a região de Leiria está em profundo cresci- mento e transformação, e irá pas- sar por momentos de forte afirma- ção no contexto nacional. O aero- porto é só o que nos está a faltar para sermos muito grandes, para sermos maiores e conquistarmos coisas que até agora não conquis- támos. Sei que é um processo de- morado, que nos obriga a duas coi- sas: trabalho de equipa, a exemplo do que temos na rede cultura 2027, e também acordos, regras de ouro que existem entre a Câmara de Lei- ria, o Núcleo Empresarial, o Insti- tuto Politécnico e o hospital. Inde- pendentemente daquilo que cada um faz, nunca criticamos o traba- lho uns dos outros. Se os estudos concluírem que o aeroporto deverá ser construído na região de Coimbra, aceita-o? A região centro tem polos de atra- ção diversos e muito importantes. Mas o maior de todos, e o que gera movimentações no espaço aéreo europeu, é Fátima. Por isso o aero- porto tem de estar o mais próximo possível deste polo de atração. No final do ano passado, o ministro do Ambiente recuou na reconstru- ção de uma estação de tratamento de efluentes, o que vai protelar a despoluição da ribeira dos Mila- gres e da bacia do Lis. Como é que recebeu essa notícia? O senhor ministro é livre de dizer o que entende sem dar conhecimen- to ao presidente da Câmara de Lei- ria. Mas recebi-a com bastante desagrado. Acho que este tipo de assuntos tem um nível de preocu- pação e impacto social que mere- cem outro tipo de trato e acompa- nhamento político. O assunto devia ter sido tratado não à volta do mi- crofone de um jornalista, no meio de uma visita ao Pinhal de Leiria, mas no momento e na altura cer- tos, com as explicações adequadas. Tem faltado esse tato e essa inter- ação entre o poder local e o poder central? Quanto a isso respondo com o exemplo da covid, que mostrou muita coisa. Mostrou que o Estado português, nas suas estruturas des- centralizadas, não tem liderança nem capacidade de intervenção, o que se reflete nas estruturas de Saú- de, Educação, Segurança Social. Também ficou evidente que são os autarcas que tentam fazer pontes e resolver problemas, porque têm or- çamento, coragem e o apoio das pessoas. Tem insistido em falar dos apoios no âmbito da emergência social. A pandemia alterou o tecido social de Leiria? Em que medida? Leiria é um concelho extremamen- te dinâmico do ponto de vista eco- nómico. Também tem desequilí- brios sociais, e a pandemia trouxe novas situações de carência econó- mica, provocada pelo encerramen- to de algumas atividades. Houve um primeiro passo que foi dado através de ajudaalimentar, que foi fundamental para um conjunto de famílias imigrantes, sobretudo bra- sileiras, e que logo no início do pri- meiro confinamento ficaram sem rendimentos. E que outros apoios? Além disso, criámos o fundo de emergência municipal de apoio às empresas, que permitiu acudir àquele empresário que tem a sua unidade comercial fechada. Tam- bém criámos um fundo, com 1,2 milhões de euros, para acudir a quem e quando é preciso. Neste caso é a pandemia, no futuro pode ser uma inundação, um incêndio, qualquer outra catástrofe. As nos- ao resto do mandato. E há decisões que têm de ser pensadas e parti- lhadas, do foro pessoal, mas tam- bém do foro político. Tenho tido bastantes pessoas que me incenti- vam a continuar nesta vida autár- quica, mas ainda não tomei uma decisão. Raul Castro – que saiu da câmara há pouco mais de um ano, deixan- do-lhe a presidência – teceu duras críticas ao seu desempenho en- quanto líder do executivo. Em 2017, “uma referência, uma inspi- ração, um homem superior”. O que é que mudou? Continuo a ter grande admiração pelo trabalho realizado na Câmara de Leiria. É um trabalho notável de recuperação económica, ao qual continuo a ter um enorme respeito e lealdade. Mas quando ele lhe dá uma nota negativa, como é que se sente? Traído? Não posso responder. Terá de lhe perguntar a ele os verdadeiros mo- tivos dessas avaliação. Sinto-me de consciência tranquila e muito mo- tivado. O combate à covid foi uma inspiração como autarca, neste primeiro ano enquanto presiden- te. E só quem está cá diariamente é que percebe quais são os níveis de prioridade. Felizmente Raul Cas- tro não teve essa chatice de viver esta crise pandémica. Nós fomos “Todos os dias reúno- -me com o diretor do Hospital de Leiria, presencialmente ou ao telefone, e pergunto quantas camas disponíveis temos.” “A candidatura a Capital Europeia da Cultura representa um objetivo muito grande para Leiria mas também para uma região constituída por 26 municípios.” sas prioridades [enquanto autar- cas] mudaram radicalmente. A nos- sa visão de médio e longo prazo está limitada. Ninguém sabe como esta- remos daqui a um ano. Entretanto já cancelou a Feira de Maio... Sim, que seria no mês cinco. Mas também estamos a cancelar coisas que eram previstas para o mês sete. Se me perguntar sobre a passagem de ano, não consigo responder. Mas no mês dez haverá, à partida, eleições autárquicas. Porque é que ainda não anunciou a sua re- candidatura? Porque o momento é ainda de al- guma expectativa relativamente dos concelhos do país que mais medidas impulsionaram, e muitas delas em antecipação, como o uso da máscara na rua, os testes aos emigrantes que vieram passar o Natal, as ações de apoio ao dina- mismo económico. Todas estas ações levam a que muitas coisas que tínhamos sonhado para Leiria tenham de ser adiadas. Em que é que Leiria se pode posi- cionar melhor em relação a outras cidades vizinhas? Temos de afirmar sempre Leiria – mas também os concelhos vizinhos – como um polo importante de des- envolvimento económico e indus- trial, com mão-de-obra e empresá- rios de grande capacidade, mas onde o instituto politécnico tem um papel fundamental, na forma- ção. Depois temos de criar condi- ções de investimento público que garantam alavancar toda esta am- bição local e regional, coisa que não tem acontecido; o alargamento do hospital, com mais valências, a transição do politécnico para uni- versidade. E tudo isso obriga a um envolvimento do governo. Um dos investimentos que iremos fazer no futuro é o Centro de Negócios Digi- tal no topo norte do estádio. E é im- portante sublinhar a proximidade a Lisboa. Somos a cidade a norte da capital com mais potencial de crescimento. 22 INTERNACIONAL Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias A rutura com a equipa an- terior na Casa Branca concretizou-se, como anunciado, com uma sé- rie de medidas nas primeiras horas. Joe Biden assinou 17 ordens execu- tivas e memorandos, uma declara- ção a proclamar 20 de janeiro Dia da Unidade Nacional e uma carta endereçada ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Ao segundo dia, primeiro a tempo inteiro, o democrata assinou mais uma dezenas de ordens executivas e de memorandos sobre a priorida- de total, a pandemia. Crise climáti- ca, igualdade racial, proteção de imigrantes e de minorias sexuais foram os outros temas que o novo presidente decidiu desde já atacar, em grande parte com a revogação de ordens de Donald Trump. O ex- verno à crise. Um plano “impulsio- nado pela ciência, dados e saúde pública e não pela política”, disse Jeff Zients, coordenador do novo grupo de trabalho covid-19. No plano internacional, o país si- nalizou na quinta-feira que reto- mariam o seu financiamento à OMS. O imunologista e diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas Anthony Fau- ci confirmou que os EUA iriam continuar a financiar a organiza- ção, ao mesmo tempo que pediu uma investigação aturada às ori- gens da pandemia na China. “Em circunstâncias difíceis, esta organi- zação mobilizou a comunidade científica e de investigação e de - senvolvimento para acelerar vaci- nas, terapias e diagnósticos”, disse Fauci numa reunião da OMS. A ética faz também parte das preocupações de Joe Biden. Uma das ordens executivas proíbe os novos membros da administração de receberem ofertas dos grupos de interesses, de quando saírem da administração entrarem para em- presas relacionadas com a área de trabalho, nem de aceitarem salá- rios ou benesses do anterior em- pregador. Ainda na quarta-feira à noite, Biden instou os futuros altos funcionários a tratarem todas as pessoas com respeito. “Caso con- trário despedir-vos-ei no momen- to”, advertiu. Numa reunião virtual realizada na Sala de Jantar de Estado de jura- mento dos futuros funcionários, Biden reiterou o compromisso com os valores, ao dizer que os no- meados vão “trabalhar com o go- verno mais decente do mundo”. E acrescentou: “Temos de restaurar a alma deste país, e conto com to- dos vós.” Noutro contraste para com Donald Trump, Biden realçou que a lealdade dos funcionários re- side no povo norte-americano e não no presidente. “As pessoas não trabalham para nós, nós trabalha- mos para o povo. Eu trabalho para o povo. Eles pagam o meu salário. Na sala de jantar de Estado, Biden reuniu-se de forma virtual com centenas de funcionários indigitados. Dezenas de ordens para reverter a política de Trump EUA Joe Biden e a sua equipa começaram por cumprir a palavra ao porem em prática dezenas de ordens executivas e diretivas para as agências e departamentos com o objetivo de virar a página e atacar os problemas mais prementes, caso da pandemia do novo coronavírus. TEXTO CÉSAR AVÓ JI M W AT SO N /A FP -presidente pautou a sua política pela reversão de muitas medidas de Barack Obama. Na quinta-feira também se sou- be que, em relação à política exter- na, a administração Biden juntará a Rússia à China na lista de países a tratar com firmeza. Apesar de nem todos os departamentos e agências terem alinhado, os anos de Trump foram marcados pelas declarações de admiração mútua por Vladimir Putin e encontros dos quais nada transpirou. Ao regresso ao Acordo de Paris sobre as alterações climáticas, a permanência na Organização Mundial de Saúde, a revogação da licença de construção do contro- verso gasoduto Keystone XL entre os EUA e o Canadá, juntam-se me- didas de grande simbolismo como acabar com o estado de emergên- cia na fronteira sul, o que implica o fim da construção de novos troços da vedação com o México e a cana- lização dos respetivos fundos para outras necessidades. Os imigrantes e refugiados viram uma atenção es- pecial de Biden, com ordens execu- tivas para a revisão de prioridades na política migratória, na prática acabando com a separação de fa- mílias na fronteira; terminar com vetos discriminatóriosde entrada nos EUA ao revogar ordens ante- riores de Trump sobre proibição de entrada de cidadãos de alguns paí- ses muçulmanos e africanos; ao dar ordens para se contabilizar to- dos os habitantes no censo, sem exceção; ao repor medida que im- pede o repatriamento de cidadãos da Libéria; e ao proteger os imi- grantes ilegais que entraram atra- vés do protocolo DACA, os chama- dos dreamers. Ao segundo dia no cargo, Joe Bi- den apresentou uma nova estraté- gia nacional de 1,9 biliões de dóla- res para enfrentar a pandemia, que passa por vacinar cem milhões de pessoas em cem dias, aumentar o uso de máscaras e testes e oferecer mais ajuda de emergência aos des- empregados e empresários. Para já assinou dez ordens executivas para democratizar os testes e vacinas, tornar as escolas e as viagens mais seguras com a obrigatoriedade do uso de máscaras, e dotar os estados com mais meios. Outras ordens irão fomentar a investigação de no- vos tratamentos para a covid-19; reforçar a recolha e análise de da- dos para moldar a resposta do go- Aos funcionários indigitados, o novo presidente disse que vão entrar no “governo mais decente do mundo” e exigiu que tratem todos os norte- -americanos com respeito. “Caso contrário despedir- -vos-ei no momento”, advertiu. Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 23 Sento-me a escrever sobre os desafios da geopolítica neste novo ano, de- pois de o Congresso americano ter confirmado Joe Biden e Kamala Har- ris como os próximos presidente e vice-pre- sidente e após os eventos nefastos ocorridos no Capitólio. Ambos os acontecimentos dei- xaram uma marca global no que será 2021 e – atrever-me-ia a dizer – nos próximos anos. A disparatada cadeia de eventos que se suce- deram desde o passado dia 3 de novembro leva-me a tecer as seguintes conclusões: > Comprovou-se que o processo eleitoral do país considerado símbolo da democracia no mundo tomou um rumo até há pouco impensável. > Observou-se que o próprio presidente questionou abertamente a legitimidade dos resultados, apesar de ter sido rejeitado por todas as instâncias judiciais. > Percebeu-se que essa mensagem distorcida imbuiu os eleitores do presidente Trump, dos quais mais de 85% creem que as eleições foram manipuladas. > Corroborou-se que o próprio presidente pressionou diretamente os diferentes atores do processo, como o secretário de Estado da Geórgia, para que revertessem os resultados. > E, por fim, testemunhou-se o assalto ao edifício do Congresso, símbolo máximo da democracia representativa, por extremistas violentos, atiçados pela retórica inflamatória do seu líder, com as consequências já verificadas. A chegada do presidente eleito Biden à Casa Branca alimentava (e alimenta) grandes ex- pectativas de mudança no mundo, que hoje se veem tolhidas pelos últimos aconteci- mentos. Em todas as geografias e na maioria das capitais do mundo surgem já as pergun- tas que se seguem. Como recuperar a confiança e o respeito do resto do mundo no modelo de governo americano depois do sucedido? Como con- vencer as pessoas de que este foi um inci- dente isolado, que não se repetirá quando uma sociedade tão dividida como a dos EUA voltar às urnas em 2022 ou 2024? Como reto- mar a defesa acérrima da democracia, refor- çando o seu valor pelo mundo fora? Como evitar que os seguidores de modelos alterna- tivos questionem a autoridade com que os EUA exercem a sua capacidade de persua- são e influência? A geopolítica em 2021: há demasiado em jogo para agirmos como meros espectadores Opinião Susana Malcorra Num momento em que a cooperação in- ternacional, o multilateralismo e a essência da ordem que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, com o sistema democrático no centro, são questionados, é fundamental que a administração americana recupere o seu papel influente. Os primeiros sinais da- dos pelo presidente eleito confirmaram a in- tenção de reocupar o lugar que o país detém historicamente, ainda que com indícios de que espera estar acompanhado por outros países com as mesmas perspetivas, para não ter toda a responsabilidade a pesar nos seus ombros. Porém, a atual tensão social interna pode vir a monopolizar a atenção da nova administração e a interferir na fixação das prioridades da agenda internacional. O modelo existente que associa democra- cia liberal e capitalismo necessita de um pro- fundo ajustamento. As reivindicações dos ci- dadãos insatisfeitos em boa parte do planeta têm vindo a aumentar ao longo dos anos e requerem respostas. A desigualdade e a falta de oportunidades e de mobilidade social alargaram o fosso entre cidadãos e governos e governantes, pondo em causa a capacida- de da democracia para resolver os proble- mas. Os efeitos da disrupção tecnológica e da digitalização intensificam-se – e a pande- mia só veio acelerar o processo. É fundamental encontrar um modelo que ofereça soluções a quem se sente rele- gado, que reconheça que não podemos sair desta situação sozinhos e que só a sustenta- bilidade através do equilíbrio social, econó- mico e ambiental poderá evitar males maiores. A crise da covid é outra chamada de atenção para encarar o futuro sob uma nova perspetiva. Aquilo a que assistimos nas últimas sema- nas nos EUA é uma chamada de atenção para todos e um reflexo do estado de espírito que reina em muitas partes do mundo. Em finais de 2019 e inícios de 2020, vimos muitas pessoas a sair em massa às ruas em diferen- tes capitais para protestar contra os seus go- vernos, mobilizadas por diferentes causas, por vezes, irreconciliáveis, mas partilhando o objetivo de pedir mudanças e resultados concretos para os cidadãos. A pandemia e as restrições vieram cristalizar tudo isso, mas de certeza que, uma vez superadas as condi- cionantes e medidos os efeitos da covid, as ruas voltarão a ser palco de protestos. A pergunta basilar é se tudo isso, incluin- do os mais recentes acontecimentos em Washington, não poderá reforçar valores e princípios, adequando os instrumentos disponíveis às exigências do século XXI, com os EUA a recuperar o seu papel na co- munidade internacional ou se, pelo contrá- rio, não poderá debilitar-nos, fazendo sur- gir questionamentos com consequências difíceis de prognosticar, que fragilizem ain- da mais o sistema. E, no pano de fundo, está a confrontação geopolítica entre a China e os EUA, que condicionará a dinâmica de diálogo e negociação. É nesse espaço que a União Europeia pode e deve tomar para si o dever de articular e construir pontes nas instâncias onde as diferenças pareçam irre- conciliáveis. Tudo sem perder de vista que há muitos atores – dos governos aos partidos ou aos movimentos e às redes sociais – interessados em propagar modelos alternativos. Alguns defendem uma visão arreigada de autorita- rismo, que prioriza a eficácia dos resultados medidos exclusivamente em termos de desenvolvimento económico em detrimen- to de todas as considerações relativas aos di- reitos e liberdades. A resposta final está por chegar, e a forma que assumir terá um impacte significativo na redefinição do futuro a que aspiramos. Há demasiado em jogo para agirmos como meros espectadores. Professora decana da IE School of Global and Public Affairs (IE University) O modelo existente que associa democracia liberal e capitalismo necessita de um profundo ajustamento. As reivindicações dos cidadãos insatisfeitos em boa parte do planeta têm vindo a aumentar ao longo dos anos e requerem respostas. Eles pagam o vosso salário”, disse na videoconferência. Entrada musculada A administração Biden quer pror- rogar por cinco anos com a Rússia o tratado Novo START a dias deste expirar, e ao mesmo tempo prepa- ra-se para avançar com mais san- ções a Moscovo, numa demonstra- ção de força sem paralelo desde o fim da Guerra Fria. O acordo, o úni- co tratado a limitar os dois maiores arsenais nucleares do mundo, foi assinado em 2002por George W. Bush e Vladimir Putin e deixa de ter força legal no dia 5 de fevereiro. A administração Trump tentou nos últimos meses fechar um acordo de extensão de curto, mas falhou ao tentar incluir a China como si- gnatária. A Rússia mostrou-se favo- rável a uma renovação do tratado que restringe o número de ogivas nucleares estratégicas a 1550 por mais cinco anos. O secretário de Estado indigita- do Antony Blinken disse aos con- gressistas na terça-feira que as san- ções a aprovar no Congresso serão “extremamente úteis para se poder impor condições e consequências” à Rússia. Blinken disse que o Novo START proporciona aos Estados Unidos “tremendo acesso a dados e inspeções”, pelo que é “certamen- te do interesse nacional renovar”. Ao mesmo tempo, a nova admi- nistração está a preparar-se para impor mais sanções à Rússia, en- quanto se aguarda uma nova ava- liação das suas recentes atividades, solicitada pelos serviços secretos. A pedido de Biden, a nova diretora dos Serviços Secretos, Avril Haines, irá avaliar a alegada interferência da Rússia nas eleições de 2020, o envenenamento do líder da oposi- ção Alexei Navalny e as alegações de que os russos estariam a pagar recompensas aos talibãs para atin- girem soldados dos EUA no Afega- nistão. Faz ainda parte da investi- gação um ataque cibernético a agências e departamentos federais relacionados com o software So- larWinds, que analistas atribuíram à Rússia. “Vamos utilizar estas ava- liações para informar a nossa res- posta à agressão russa nas próxi- mas semanas”, disse outro alto fun- cionário ao The Washington Post. Biden está a excluir um “restabe- lecimento” nas relações bilaterais com Moscovo, ao contrário do que tem sido prática. “Esta será a pri- meira administração americana pós-soviética que não entrou em funções com o compromisso de forjar uma relação mais calorosa com a Rússia”, disse Angela Stent, uma alta funcionária dos serviços secretos durante a administração de George W. Bush. “Tal como trabalhamos com a Rússia, também nós trabalhare- mos para responsabilizar a Rússia pelas suas ações imprudentes e agressivas que temos visto nos últi- mos meses e anos”, disse um alto funcionário ao Post . 24 INTERNACIONAL Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias Trunfo de Sánchez na Catalunha baralha as contas independentistas ESPANHA Candidatura do ministro da Saúde, Salvador Illa, às eleições catalãs foi anunciada de surpresa no fim de 2020 e as sondagens já lhe dão a vitória. Apoio à independência em queda. Osocialista catalão Salva- dor Illa era quase um desconhecido quando assumiu, a 13 de janeiro de 2020, a pasta da Saúde em Espa- nha. Num país onde esta área é da responsabilidade dos governos au- tonómicos, o cargo não era visto como importante – o Unidas Pode- mos terá até recusado a pasta nas negociações para a formação da coligação com o PSOE. Há um ano, a covid-19 era algo distante, que só preocupava a China. Mas o novo coronavírus espalhou-se pelo mundo e, diante da pandemia, Illa tornou-se um dos rostos mais co- nhecidos do governo. Há menos de um mês, soube-se que será o can- didato dos socialistas às eleições autonómicas na Catalunha. Pedro Sánchez lançou o seu trunfo e já está a ter resultados: Illa surge à frente das sondagens e baralha as contas dos independentistas. Em março, 62% dos espanhóis não sabiam quem era o seu minis- tro da Saúde, segundo uma sonda- gem do Centro de Investigações Sociológicas (CIS). Em outubro, de- pois do confinamento e do estado de alarme e apesar dos números de casos e de mortes por covid-19 em Espanha, 85% identificavam corre- tamente Illa – com os seus famosos óculos de massa preta. E ele era o segundo ministro com melhor ava- liação do governo (uma média de 4,7), atrás apenas da titular da pas- ta da Economia, Nadia Calviño (5), e aparecendo à frente do próprio primeiro-ministro (4,3). O catalão de 54 anos tinha até agora como experiência política a presidência da câmara da sua terra natal, La Roca de Vallés, e anos de trabalho de bastidores no Partido Socialista da Catalunha (PSC, no qual milita desde 2005).O secretá- rio da área de Organização do PSC, número dois do líder Miquel Iceta, ajudou a negociar vários acordos, como o que permitiu a coligação que colocou Ada Colau à frente da câmara de Barcelona. Esteve tam- bém na equipa que negociou a abstenção dos independentistas da Esquerda Republicana da Cata- lunha (ERC) à investidura de Sán- chez e terá sido para servir de liga- ção aos catalães que este o incluiu no governo. A sua veia de negociador, além da popularidade nas sondagens, TEXTO SUSANA SALVADOR nha, admitindo que não parte com a pandemia resolvida, mas num momento de esperança com a che- gada da vacina. As eleições autonómicas foram antecipadas para 14 de fevereiro depois de o presidente do governo catalão, Quim Torra, ter sido con- denado por desobediência e ficado inabilitado para o desempenho de cargos públicos. Mas, diante da ter- ceira vaga da pandemia, o governo catalão e os partidos decidiram adiar as eleições para 30 de maio – os socialistas queriam que fossem adiadas no máximo para março, esperando continuar a aproveitar o efeito que a candidatura de Illa teve. Contudo, o Tribunal Superior de Justiça da Catalunha decidiu manter a data original, em respos- ta a um particular, aguardando-se a decisão final do recurso. Nesta quinta-feira, a sondagem CIS dava a vitória a Illa, com 23,9% das intenções de voto (entre 30 a 35 deputados no Parlamento catalão). No final do ano passado, surgiam em terceiro nas sondagens. Em se- gundo lugar da pesquisa do CIS surge a ERC, do atual presidente in- terino da Generalitat, Pere Ara- gonès, com 20,6% (31 a 33 deputa- dos), sendo que a outra força polí- tica independentista, o Junts per Catalunya, não vai além dos 12,5% dos votos (20 a 27 deputados). Atualmente coligados no governo catalão, os dois partidos avançam divididos para a eleição. O terceiro partido independentista, a Candi- datura de União Popular, tem 6% (8 a 11 deputados). Juntos, estes partidos não che- gam a 40% das intenções de voto e teriam dificuldade em repetir a maioria parlamentar que agora têm. Este número que vai ao en- contro da última sondagem GAD3 para o jornal La Vanguardia, que colocava o apoio à independência da Catalunha nos 42,6%, frente aos 48,9% que votariam “não” se hou- vesse um referendo. Os catalães realizaram a 1 de outubro de 2017 um referendo que não foi reco- nhecido por Espanha e que abriu a crise política na região, que pas- sou pela perda temporária da au- tonomia e o julgamento dos res- ponsáveis pela consulta – uns es- tão presos, outros, como o então pre si dente da Generalitat, Carles Puig demont, optaram pelo exílio. Salvador Illa tornou-se um dos rostos da luta contra a covid-19. Eleições foram marcadas para 14 de fevereiro, mas a covid- -19 obrigou a adiá-las para 30 de maio. Um tribunal suspendeu contudo essa decisão e espera-se o recurso. terá sido uma das razões pelas quais Iceta terá dito a Sánchez que Illa deveria ser o candidato às elei- ções catalãs. Espanha estava então no meio do segundo pico da pan- demia e o primeiro-ministro terá decidido manter a candidatura em segredo até ao final do ano, para evitar polémica. Foi a 30 de dezem- bro que o líder do PSC, que foi o candidato em 2015 e 2017, anun- ciou que o ministro era o escolhido para ir a votos em 2021. “Queremos uma nova etapa de reencontros sem bandas nem blo- cos, para deixar para trás esta déca- da perdida de desencontros dolo- rosos e queixas inúteis”, disse dias depois Illa, no primeiro ato como candidato na Catalunha. E anun- ciou que só deixará o Ministério da Saúde quando começar a campa- EP A /E M IL IO N A RA N JO OS ADVERSÁRIOS Carlos Carrizosa Ciudadanos Em 2017 conquistou 25,6% dos votos e 36 deputados. Mas a então candidata e atual líder do Ciudadanosa nível nacional, Inés Arrimadas, não conseguiu formar governo. Agora o candidato é o n.º 2, o advogado Carlos Carrizosa, mas a sondagem do CIS prevê um descalabro: 9,6% de intenções de voto e 13 a 15 deputados. Pere Aragonès Esquerda Republicana O presidente interino da Generalitat é o candidato da ERC, cujo líder foi um dos condenados pelo referendo de 2017, Oriol Junqueras. Tem sido o favorito nas sondagens, mas na do CIS surge atrás do socialista Salvador Illa, com 20,6% (31 a 33 deputados). Atualmente tem 31 e governa com o Junts. Laura Borrás Junts per Catalunya A atual porta-voz do Junts no Parlamento catalão é a candidata do partido do ex- -presidente da Generalitat, Carles Puigdemont (no exílio). Tem 12,5% na CIS (20 a 27 deputados). O Partido Democrata Europeu Catalão, que fazia parte do Junts, vai a votos separado, com Àngels Chacón (ex-titular da pasta das Empresas). Jéssica Albiach En Comú Podem A marca do Podemos na Catalunha concorre com a líder do grupo parlamentar e surge com 9,7% (9 a 12 deputados). Ignacio Garriga Vox A extrema-direita prepara-se para entrar em força no Parlamento catalão, com o CIS a dar-lhe 6,6% (6 a 10 deputados). O candidato é atualmente deputado no Congresso de Espanha. Dolors Sabater Candidatura de União Popular A outra força independentista concorre com a ex-autarca de Badalona. Tem 6% das intenções de voto (8 a 11 deputados). Alejandro Fernández Partido Popular O novo líder do PP catalão surge com 5,8% (7 deputados), abaixo do Vox, mas mais do que o PP tem agora (4 deputados). Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 25 Oembaixador Eurico Paes, ac- tualmente reformado, era à época dos factos que aqui relata o primeiro-secretário da Embaixada de Portugal em Argel. É também membro da Comissão de Re- lações Internacionais da Sociedade de Geografia de Lisboa, espaço no qual promove conferências, tendo algumas este cunho de memória diplomática. Na primavera de 1980, a traineira Rainha do Mar, com 17 pescadores de Aveiro a bordo, foi apresada pela Poli- sário em águas sarauis, que os portu- gueses julgavam abrangidas no re- cém-assinado acordo de pescas com Marrocos. Relato do então primeiro- -secretário Eurico Paes, em Argel: “A Embaixada de Portugal em Argel foi imediatamente prevenida do se- questro dos 17 portugueses em águas sarauis pela Embaixada da República Árabe Saraui Democrática (RASD) em Argel (que era onde funcionava o ver- dadeiro governo saraui), que os ho- mens só seriam libertados se o Minis- tro dos Negócios Estrangeiros portu- guês fosse a Argel negociar com as autoridades sarauis. Esta exigência trazia manifestamente água no bico pois, se isso acontecesse, equivaleria a um reconhecimento (pelo menos implícito) da independência da RASD por Portugal. Transmitido o aconteci- mento para Lisboa, logo o MNE Frei- tas do Amaral declarou que não se deslocaria a Argel para negociar a li- bertação destes detidos ilegitima- mente. Prudente, Freitas não quis ex- por-se ao vexame. Imediatamente toda a imprensa portuguesa se atirou ao governo português, chefiado à época pelo arguto Sá Carneiro. Foi nessa altura que o primeiro-ministro português, já cansado com a pressão mediática e eventualmente receoso do efeito negativo que o assunto cau- sava ao governo, resolveu enviar a Ar- gel, não um membro do seu governo, mas o director das Relações Interna- cionais (RI) do PSD, para tentar resol- ver o assunto. Freitas não concordava em negociações com terroristas (como dizia) e, portanto, quis demar- car-se. Seria então uma acção parti- dária e não governativa. O dia em que Portugal quase reconheceu a Polisário e resgatou 17 pescadores de Aveiro Opinião Raul M. Braga Pires Uma semana depois do aprisiona- mento dos pobres pescadores apare- ceu em Argel o Dr. Luís Fontoura, que dirigia o gabinete de RI do PSD. Trazia duas cartas, recebidas independente- mente uma da outra. Uma do MNE Freitas do Amaral, que, não o manda- tando para nada, apenas lhe limitava a acção, proibindo-o de falar em nome do governo português. A outra carta, mais institucional e formal, de Sá Car- neiro, incumbia-o de representar o governo português nas negociações tendentes à libertação dos homens. Fontoura não tinha, assim, um duplo mandato. Mas também não queria deixar de cumprir o que um e outro dos líderes da coligação governamen- tal lhe tinham recomendado. O gran- de problema prévio era assim o seu re- conhecimento pelos ‘polisários’ como legítimo representante do governo português, para que, negociando com eles a nível de governo, pudessem di- zer que o governo de Portugal tinha implicitamente reconhecido o gover- no da RASD.” Interrompo a interessante narrativa para ir directo ao problema central, já que a Polisário/RASD exigiu que Por- tugal reconhecesse oficialmente a sua existência para libertar os 17 cativos portugueses. Como é que o enviado do PSD “descalçou esta bota”? De re- gresso ao narrador: “Fontoura, a quem eu tinha entre- gue um jornal antigo onde, numa vi- sita oficial que Felipe González tinha feito a Argel, ainda como líder da oposição espanhola, tinha respondi- do à sacramental pergunta que: ‘El PSOE reconoce la existência del pue- blo sahraui en lucha.’ Fontoura sorri e toma nota. Vai ao deserto e regressa no dia seguinte com os homens, vito- rioso. À chegada ao aeroporto Houari Bou- medienne, rodeado pelos 17 pescado- res portugueses, diz aos jornalistas que o interrogam: ‘O PSD reconhece a exis- tência do povo saharui em luta!’” Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt Escreve de acordo com a antiga ortografia Muito do que se decide no círcu- lo do poder em Washington tem um impacto global, quer se queira quer não. Peço des- culpa por começar este texto com esta la- palissada. Mas é um facto que a política americana continua a pesar mais do que nenhuma outra nas relações estratégicas e económicas internacionais. Assim, com a entrada em funções da administração Bi- den, a cena internacional começou um novo capítulo. É uma mudança profunda de rota, num sentido positivo e democráti- co. Para já, anuncia a esperança de um apaziguamento das tensões criadas ao longo dos últimos quatro anos e que colo- caram as dinâmicas entre os principais atores mundiais num patamar potencial- mente explosivo. O diálogo deverá substi- tuir a política da confrontação e do abuso da força. Vivemos, porém, num tempo de gran- des interrogações. A mobilização de deze- nas de milhares de paramilitares, para as- segurar a tranquilidade da cerimónia de entrada em funções do novo presidente, é um indício flagrante da gravidade das con- tradições internas que existem na socieda- de americana. Joe Biden tem um trabalho de equilibrista à sua espera. Sabe que é fe- roz a hostilidade que foi fomentada pelo seu predecessor, e amplificada por vários dirigentes que se sentam no Congresso ou por comentadores que aparecem em cer- tos canais televisivos. É ainda mais perigo- sa por ter gerado, na mente de muitos fa- náticos, uma diabolização dos oponentes. Na lógica doentia de alguns desses treslou- cados, o passo seguinte é a ação violenta, o tentar aproveitar qualquer oportunidade para atirar a matar sobre a democracia. Essa possibilidade é um risco que o Serviço Secreto terá de equacionar de modo per- manente. Ao procurar uma visão mais ampla do que poderá acontecer no seguimento des- te momento de viragem, noto que nin- guém consegue vaticinar de modo convin- cente os contornos do que temos pela frente. Apenas se pode dizer que o mundo de amanhã será diferente do que conhece- mos até agora. Quem pensa que tudo vol- tará à situação em que estávamos em 2019, antes da pandemia, ou em 2016, antes da presidência de Donald Trump, só pode an- dar a sonhar com o passado. Biden no trapézio e o mundo na corda bamba Opinião Victor Ângelo O capítulo que agora se abre combina uma certa dose de961 663 378; Publicidade: 969 105 615. Estatuto editorial disponível em www.dn.pt. Tiragem média de dezembro de 2020: 20 735 exemplares. Papelarias e quiosques, tal como atividade de jogos sociais, vão manter-se abertos mesmo durante o período de confinamento que vigora no país durante um mês, desde ontem. Estes serviços estão entre os definidos como bens essenciais. A venda de jornais deverá ficar assim assegurada ao manter-se aberta a rede de distribuição, tal como tinha acontecido no primeiro confina- mento geral, em março do ano passado. Caso queira receber o jornal em casa, leia o QR Code na capa desta edição ou aqui ao lado ou contacte a linha de assinaturas: 707200508. DN TODOS OS DIAS EM BANCA. QUIOSQUES E TABACARIAS ABERTOS DURANTE O CONFINAMENTO Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 3 Saiba mais em: retomarportugal.pt IM AG E B Y K AI Q U E R O CH A FR O M P EX EL S 10h00 | ABERTURA Leonor Ferreira JORNALISTA TSF Pedro Araújo EDITOREXECUTIVOADJUNTO JN 10h05 | DEBATE Luís Castro Henriques PRESIDENTE DA AICEP Maria Celeste Hagatong PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA COSEC Paulo Pereira da Silva PRESIDENTE EXECUTIVO DA RENOVA Pedro Barreto ADMINISTRADOR DO BANCO BPI Pedro Siza Vieira MINISTRO DE ESTADO, DA ECONOMIA E DA TRANSIÇÃO DIGITAL MODERAÇÃO: Leonor Ferreira, JORNALISTA TSF Pedro Araújo, EDITOREXECUTIVOADJUNTO JN 11h20 | QUESTÕES DO PÚBLICO (via WhatsApp) 11h30 | ENCERRAMENTO p 25 JANEIRO ASSISTA EM DIRETO jn.pt | tsf.pt | LinkedIN Banco BPI ALTO PATROCÍNIOPARCEIRO TECNOLÓGICO COMÉRCIO INTERNACIONAL PUBLICIDADE 4 EM FOCO Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias Branco/ /nulo 1,1 +0,1 pp Presidenciais 2021. Intenção de voto Estimativa de resultados eleitorais, com distribuição de indecisos Abstenção Últimos atos eleitorais Adiamento das eleiçõesTendência Variação e pontos percentuais face a dezembro de 2020 59,7 9,7-1,7 pp +1,7 pp Ana Gomes André Ventura Tiago Mayan Tino de RansMarcelo de Rebelo Sousa % % 15,4% %1,5 +1,5 pp % 6% Sem opinião 4,3 -1,3 pp Marisa Matias % 5 -2,5 pp João Ferreira % %3,3 +2,2 pp = 15,4% 4,3% 1,5% 5% 3,3% 62,7% 17,2% 7,6% 1,6% 4,7% 1,5%0% 10% 20% 60% 70% Sond. outubro 2020 Sond. novembro Sond. dezembro Sond. janeiro 2021 61,4% 15,4% 8% 7,5%5,6% 1,1% 62,1% 16,3% 6,6% 5,9%2,1% 1,1% 59,7% 32% Não deviam ser adiadas % Deviam ser adiadas Le gi sl at iv as Pr es id en ci ai s Au tá rq ui ca s Le gi sl at iv as 2015 2016 2017 2019 44,1% 51,3% 45% 51,4% Marcelo R. Sousa Ana Gomes André Ventura João Ferreira Marisa Matias Tiago MayanTino de Rans 9,7% M arcelo Rebelo de Sou- sa tem praticamente garantida a eleição no próximo domin- go, mesmo que a abstenção possa chegar, como se prevê, a uns im- pressionantes 60%. De acordo com a mais recente sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, o atual Presidente continua com 44 pontos de vantagem sobre a socia- lista Ana Gomes. O candidato da direita radical, André Ventura, mantém a trajetória de subida, mas fica no terceiro lugar. No en- tanto, vale mais do que a soma do comunista João Ferreira e da blo- quista Marisa Matias, ambos em queda. Tiago Mayan ganha fôlego e Vitorino Silva aparece finalmen- te no radar. Mais do que uma antecipação de resultados, esta sondagem da Aximage sobre as eleições presi- denciais deve ser olhada como a quarta e última de uma série de barómetros, a partir dos quais é possível perceber tendências. E uma das tendências mais evi- dentes aponta para uma absten- ção a rondar os 60%, com efeitos imprevisíveis, não só sobre os re- sultados finais, como sobre as po- sições relativas de cada candidato (ver texto secundário). Acresce que o trabalho de campo deste inqué- rito decorreu até 15 de janeiro, o que significa que já não mede os efeitos da última semana de cam- panha. E muito menos a forma como a evolução desenfreada da pandemia nos últimos dias pode Marcelo a caminho da reeleição para Presidente da República Barómetro Última de quatro sondagens mantém o atual Presidente no patamar dos 60 pontos percentuais. Ana Gomes está no segundo lugar, mas Ventura aproxima-se e vale tanto como Ferreira e Marisa somados. TEXTO RAFAEL BARBOSA Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 5 Evolução das sondagens FICHA TÉCNICA A sondagem foi realizada pela Aximage para o JN, TSF e DN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre a atualidade política. O trabalho de campo decorreu entre os dias 9 e 15 de janeiro de 2021 e foram recolhidas 1183 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal. Foi feita uma amostragem por quotas, com sexo, idade e região, a partir do universo conhecido, reequilibrada por sexo, idade, escolaridade e região. À amostra de 1183 entrevistas corresponde um grau de confiança de 95% com uma margem de erro de 2,8%. A responsabilidade do estudo é da Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de José Almeida Ribeiro. 57,2% 58,4% Sond. nov-2020 61,4% Sond. dez-2020 Sond. jan-2021 4,2 pp - 3 pp FO N TE : A X IM AG E, B A RÓ M ET RO P O LÍ TI C O D E JA N EI RO D E 20 21 /I N FO G RA FI A J N Abstenção não afetará todos da mesma maneira As eleições deste domingo terão sempre um vence- dor, mas a verdadeira no- tícia pode vir a ser outra: o recorde abstenção é um dado qua- se adquirido. Os barómetros da Aximage para o DN, o JN e a TSF apontam, desde novembro, para uma taxa a rondar os 60%, supe- rando em quase dez pontos, quer o nível de abstenção das últimas presidenciais (51,3% em 2016) quer o das últimas legislativas (51,4% em 2019). As atuais projeções de resulta- dos eleitorais já têm em conta esse elevado nível de abstenção, mas é impossível prever, por exemplo, se o descontrolado avanço da pande- mia até domingo poderá alterar o comportamento de cada um dos segmentos da amostra. E é funda- mental perceber, por exemplo, as diferenças geracionais no que diz respeito à mobilização para votar. Assim, quanto mais jovens os eleitores, maior é a previsão de taxa de abstenção. E o fosso é as- sinalável: o escalão dos 18 aos 34 anos já teria nesta altura uma taxa a ultrapassar os 70 pontos percentuais, o dobro da taxa en- tre os eleitores com 65 ou mais anos, que ficariam pouco acima dos 35 pontos. A pergunta de um milhão de dólares é a de saber até que pon- to é que a abstenção entre os mais velhos (historicamente mais mobilizados para votar) pode su- bir e quem sai prejudicado. Até porque os candidatos não serão afetados todos da mesma manei- ra. E quem mais tem a perder com a fuga dos mais idosos é pre- cisamente Marcelo Rebelo de Sousa, uma vez que o apoio ao atual presidente cresce à medida que envelhece o eleitor: os mais velhos dão-lhe mais 13 pontos percentuais do que os mais no- vos. Liderança em todas as idades Nada de conclusões precipitadas, no entanto. Mesmo com uma de- serção em massa dos mais ve- lhos, Marcelo tem a vitória quase assegurada e provavelmente à primeira volta: de acordo com a sondagem da Aximage, tem re- sultados acima dos 50 pontos percentuais em todos os escalões etários. Apoio ao atual Presidente cresce com a idade. Ventura menos dependente do voto sénior. ELEIÇÕES 62% Pelo adiamento Quase dois terços dos portugueses defendiam o adiamento das eleições. Apenas 32% defendiam a manutenção, mesmo que o número de casos aumentasse. Direita e esquerda A defesa do adiamento era particularmente forte entre os eleitores mais à direita (Liberais e Chega). Mais à esquerda (CDU e BE) era maioritária a ideia de manter a data das eleições para este domingo. ditar mudanças radicais no com- portamento dos eleitores. Vantagem de 44 pontos É olhando para o conjunto de son- dagens e para o percurso do candi- dato que é possível dizer que Marce- lo Rebelo de Sousa será reeleito. Apesar de acumular perdas ligeiras desdeotimismo com uma longa lista de incertezas. Na véspera da to- mada de posse de Biden, participei numa discussão internacional sobre as perspeti- vas e os desafios que se podem antever no horizonte dos próximos anos, e não houve clareza de ideias. Quem olha para o futuro com honestidade intelectual pode identi- ficar um número de pistas possíveis, mas acaba por ter de confessar que tudo é in- certo e nebuloso. Os únicos pontos de acordo dizem res- peito à pandemia do coronavírus. Primei- ro, aceitamos todos que a pandemia é um desafio enorme, que condiciona todos os outros. Por isso, deve ser tratada como a prioridade das prioridades. Isto exige uma mobilização excecional da atenção política e de todos os meios necessários. A segunda área de acordo é sobre o imperativo da coo- peração internacional. Países do Norte e do Sul, como eufemisticamente se diz, todos devem colaborar de modo a tornar as vaci- nas acessíveis a cada pessoa. A luta contra a covid deve ser uma ponte de união e de cooperação entre os povos, e não uma li- nha de maior fratura. Seria uma tragédia de consequências incalculáveis sair desta cri- se com um mundo ainda mais dividido en- tre ricos e pobres, e, infelizmente, essa pos- sibilidade existe. Terceiro, também há acor- do sobre a duração da crise. Não podemos alimentar a ilusão de que dentro de meses tudo estará resolvido. As questões logísti- cas, as dificuldades financeiras e as insufi- ciências em matéria de infraestruturas, so- bretudo nos países mais pobres, as muta- ções que o vírus vai conhecendo, sem esquecer os comportamentos de algumas pessoas, tudo isso pede tempo, diligência, paciência e prudência. Essas são as mensa- gens que devem ser sublinhadas. A incerteza é uma fonte de medos, de in- segurança e conflitos. É propícia ao apare- cimento de iluminados políticos, que re- duzem a complexidade dos factos a duas ou três frases, e as soluções a um par de slo- gans. Por isso, há que estar atento e com- bater todas as formas de demagogia e mentiras políticas, de que se alimentam os populismos de todas as matizes Conselheiro em segurança internacional. Ex-representante especial da ONU 26 DESPORTO Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias ITÁLIA Já lá vão quase dez anos desde que AC Milan e Inter Milão terminaram a Liga italiana nos dois primeiros lugares e onze desde que ambos encabeçavam a tabela à 18.ª ronda como agora. Depois de nove títulos seguidos estará o ciclo vitorioso bianconero a chegar ao fim? TEXTO NUNO COELHO Cerca de 125 quilómetros separam Turim e Milão mas, em termos futebolís- ticos, a distância das duas cidades do norte industrial e pode- roso de Itália para o resto do país é muito, muito maior. É preciso re- cuar 20 anos para se encontrar um campeão (então a AS Roma, curio- samente sucedendo à rival Lazio) que não tenha saído do trio forma- do por Juventus, AC Milan e Inter. Entre os três somam 72 vitórias na Liga italiana (79 se somarmos os sete obtidos pelo Torino, agora se- gundo clube da capital piemontesa mas que dominou o calcio nos anos 40 do século passado, numa trajetó- Madonnina mia! Clubes de Milão ameaçam Juventus ria que esbarrou na Basílica de Su- perga quando a equipa regressava a casa depois de um jogo no Estádio Nacional, frente ao Benfica), com os bianconeri a contabilizarem 36 títu- los, os mesmos que rossoneri e ne- razzurri juntos (18 cada um). Muito deste domínio acentuou- -se nas últimas temporadas. Tal como o Bayern Munique, na Alema- nha, e o PSG, em França, a Juventus chegou a um patamar nunca antes atingido e, de uma enfiada, acres- centou nove triunfos consecutivos ao seu palmarés, aproveitando da melhor forma a instabilidade que reinou nos dois clubes milaneses durante esta última década. tagem sobre os nerazzurri que fica- ram em quarto); e em 2017/18 esta- va em segundo a um ponto do Ná- poles. Mais preocupante é a fraca qua- lidade de jogo que a equipa exibe durante a maior parte dos jogos (ainda assim aplicou ao AC Milan a sua única derrota) e a dependência que tem de Cristiano Ronaldo (o português mantém a sua letalida- de e é mesmo o capocannoniere com 15 remates certeiros mas mui- tas vezes tem de recuar demasiado porque a bola não lhe chega e já não tem a “explosão” de outrora). E, claro, o facto de ter escolhido para técnico Andrea Pirlo, um ex- -jogador extraordinário nado e criado em Brescia que vestiu a ca- misola dos três grandes, mas com zero de experiência no banco (ini- cialmente devia orientar a equipa de sub-23 até ser promovido a principal oito dias depois), para su- ceder a Maurizio Sarri, não abre es- paço para grande otimismo. Até porque, além de AC Milan e Inter, a Juventus ainda tem pela frente Ná- poles (orientado por Gennaro Gattuso e a AS Roma (de Paulo Fonseca), além da espectacular Atalanta de Gasperini e a Lazio de Simone Inzaghi a morder-lhe os calcanhares. Importância dos investidores Enquanto a Velha Senhora se senta- va tranquilamente no trono do fu- tebol italiano até chegar à fase de pensar que o título é uma garantia automática, em Milão as duas so- cietà foram-se reconstruindo a par- tir de investimento estrangeiro, em- bora nem sempre de forma pacífi- ca: se o Inter está nas mãos, ou pelo menos a maior parte (68,55%), da Suning Holding Group, uma em- presa privada propriedade do mul- timilionário chinês Jindong Zhang – cujo filho, Steven Zhang, é o pre- sidente do clube desde 2018 –, num negócio aprovado na assembleia geral extraordinária a 28 de junho de 2016, o processo rossonero foi mais bem complicado. Em 2017, o AC Milan foi comprado por um fundo de investimento privado chi- No entanto, esta temporada tudo parece ter mudado. Ao fim de 18 jornadas, Milan e Inter encabeçam a classificação e a Juventus (que nes- ta quarta-feira ganhou a Supertaça) ocupa o quinto lugar, embora com um jogo a menos, a dez pontos do Milan e a sete do Inter. Não é ainda uma distância significativa, é certo (sobretudo se vencer a partida em atraso com os napolitanos), mas a Velha Senhora, durante os seus nove anos de reinado, apenas em dois não liderava à 18.ª jornada e a verda- de é que nunca esteve tão longe do líder: em 2015/16 era quarta mas com menos três pontos que o Inter (acabaria por vencer com 24 de van- Donec lacus quam, pellentesque a varius ac, sodales eget metus. Quisque id ligula Lukaku é uma das estrelas do Inter de Milão, autor de 12 golos em 17 jogos da liga italiana. M A RC O B ER TO RE LL O /A FP Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 27 Rafael Leão e Zlatan Ibrahimovic, uma dupla que tem dado que falar esta época ao serviço do AC Milan. Polónia anuncia Paulo Sousa como novo selecionador Paulo Sousa é o novo selecio- nador da Polónia, substi- tuindo Jerzy Brzeczek, cuja saí- da do comando técnico foi tor- nada pública na segunda-feira, anunciou a Federação Polaca de Futebol (PZPN). “Estou muito feliz e orgulhoso por me tornar selecionador de futebol da Poló- nia. A Polónia é um país de fute- bol. (...) Juntos seremos capazes de lutar pelo próximo campeo- nato da Europa”, disse o técnico português. Paulo Sousa vai orientar a se- leção polaca no Euro 2020, adia- do para 2021 devido à pande- mia, no qual a Polónia ficou integrada no grupo E, em con- junto com Espanha, Suécia e Es- lováquia. “A equipa tem grande potencial. Tem jogadores de grande qualidade. Com uma mentalidade ganhadora, disci- plina, organização e a atitude certa, juntos, comigo e o meu staff, apoiados por toda a nação, seremos fortes”, sustentou o trei- nador, de 50 anos. Sousa, que iniciou a carreira nos escalões de formação da se- leção portuguesa, vai comandar pela primeira vez uma seleção principal, depois de já ter treina- do vários clubes mundiais, o úl- timo dos quais o Bordéus, de França, entre março de 2019 e agosto de 2020. Além de Sousa, e de Fernando Santos, na equipa das quinas, também Paulo Bento, HélioSousa, Pedro Gonçalves, Luís Gonçalves, António Conceição e José Peseiro orientam atual- mente seleções, respetivamen- te Coreia do Sul, Bahrein, Ango- la, Moçambique, Camarões e Venezuela. DESAFIO Antigo internacional português vai orientar polacos no Europeu e torna-se o oitavo técnico luso atualmente ao leme de uma seleção. M IG U EL M ED IN A /A FP nês à Fininvest, empresa com liga- ções a Silvio Berlusconi. No entan- to, o fundo liderado por Li Yong - hong falhou um pagamento de 32 milhões de euros da dívida que contraiu para pagar os 99,92973% das ações e o hedge fund norte- -americano Elliot Management Corporation acabou por tomar conta do assunto em 2018. Remo- veu Li Yonghong da presidência e promoveu o empresário Paolo Sca- roni ao posto, comprometendo-se a injetar 50 milhões de euros para estabilizar a situação financeira do clube. Já no campo, a partir de 2019, cu- riosamente, ambos os clubes apos- taram em antigos jogadores da Ju- ventus para dirigirem as respetivas equipas, depois de anos de instabi- lidade absoluta. Depois de Massi- miliano Allegri, o técnico que levou a equipa ao último triunfo na Serie A (e que conquistaria depois cinco dos nove títulos da Juve), o AC Mi- lan somou sete treinadores (fora o interino Mauro Tassotti) até chegar a Stefano Pioli, campeão nacional e europeu pelos bianconeri como jogador e que como técnico osten- tava no currículo passagens por Bolonha, Lazio, Inter e Fiorentina Já os nerazzurri não fariam melhor (dez treinadores e um interino des- de José Mourinho, o último cam- peão) até contratarem a peso de ouro (12 milhões anuais) Antonio Conte, que além de jogador da Ju- ve (onde venceu 13 títulos e tam- bém foi campeão europeu) fora o seu técnico nos três títulos iniciais da caminhada atual. Mas a contra- tação de Giuseppe Marotta para o cargo de diretor-desportivo, o cére- bro por trás da construção da Ju- ventus a partir de 2010, também foi um golpe de mestre. Velhos e novos leões De qualquer forma, não deixa de ser surpreendente que o AC Milan ocupe neste momento a liderança da Serie A, sobretudo para quem viu o play-off com o Rio Ave para a Liga Europa, onde a equipa quase era eliminada. Gastou pouco (cer- ca de 28 milhões e alguns emprés- timos) para fazer alguns ajustes na equipa da época passada em no- mes como Tonali, Ante Rebic, Jens Petter Hauge, Simon Kjaer, Meïté, Brahim Díaz, Kalulu ou o lateral português Diogo Dalot. E manteve as figuras basilares, como o guar- da-redes Donnarumma, o central e capitão Romagnoli, o lateral-es- querdo Theo Hernández, o médio Hakan Çalhanoglou e, claro, o avançado sueco Zlatan Ibrahimo- vic, que com os dois golos aponta- dos segunda-feira ao Cagliari che- gou aos 12 na prova (em oito jo- gos...) e é, aos 39 anos, o líder da equipa em campo com o mau fei- tio que lhe é característico. Também o português Rafael Leão tem estado em destaque, justifican- do os cerca de 30 milhões investi- dos na sua contratação (a maior dos últimos dois anos): o avançado for- mado no Sporting, já leva cinco go- los e quatro assistências na liga em apenas 13 jogos, quase tantos como em toda a época passada (seis go- los, duas assistências). E agora, com a chegada do croata Mario Mad - zukic para complementar Zlatan na frente de ataque, o internacional sub-21 poderá assegurar que joga onde mais tem rendido, a partir do flanco esquerdo. Quanto ao Inter, que Fabio Ca- pello apontou como o principal fa- vorito ao título, também manteve a espinha dorsal do conjunto que terminou a um ponto da Juventus na época passada. O experiente Handanovic na baliza, os centrais De Vrij e Sriniar, o inglês Ashley Young, o médio Brozovic e a dupla de avançados constituída pelo possante belga Romelu Lukaku, grande figura do conjunto graças ao seu poder físico que destrói qualquer defesa, e pelo argentino Lautaro Martínez. Além disso, gas- tou perto de cem milhões em re- forços de qualidade, como o late- ral Hakimi (ex-Real Madrid), a maior parte deles no mercado in- terno: Barella, Sensi, Pinamonti e Kolarov. Para completar, a dupla chilena constituída por Arturo Vi- dal e Alexis Sánchez deu mais um toque de experiência à equipa. Resta saber se os dois clubes mi- laneses vão aguentar o ritmo até fi- nal: Pioli também começou muito bem no Inter mas acabou por ba- quear na fase final e não conti- nuou; já o Inter tem fama de falhar nos momentos decisivos. Perto do fim de fevereiro, se o futebol não for interrompido entretanto, há novo derby della Madoninna (para a Taça joga-se outro já dia 25), as- sim conhecido em homenagem à estátua dourada que encima o Duomo, a catedral da cidade lom- barda. E esse pode ser o tira-teimas decisivo para saber quem vai ser o novo rei do calcio – isto se a Juven- tus entretanto não se reerguer das cinzas. Aos 39 anos, Zlatan Ibrahimovic é o líder do AC Milan em campo, decisivo com os golos que tem marcado (12 em oito jogos). O jovem português Rafael Leão também se tem destacado na equipa que ao fim de 18 jornadas lidera a liga italiana. ANPME – Associação Nacional das PME’s (Pessoa colectiva 504608096) CONVOCATÓRIA ASSEMBLEIA GERAL ELEITORAL Nos termos do artigo 24.º dos Estatutos da ANPME, a Direcção da ANPME convoca os associados para uma Assembleia Geral Eleitoral, a realizar no próximo dia 8 de Fevereiro, pelas 14 horas, na secção do Porto, sita na Rua Júlio Dinis, n.º 210, com a seguinte ordem de trabalhos: 1. Votação dos relatórios e das contas de gerência. 2. Apreciação e votação dos orçamentos e dos programas de ação. 3. Eleição dos corpos gerentes para o quadriénio 2021/2025. 4. Anúncio do resultado das eleições e tomada de posse dos associados eleitos. 5. Outros assuntos de interesse. As listas candidatas têm de ser apresentadas até às 17 horas do dia 29 de Janeiro de 2021, na referida secção da ANPME do Porto ao cuidado do Presidente da Mesa da Assembleia Geral. Só podem concorrer os asso- ciados com plenos direitos, nos termos e ao abrigo dos artigos 12.º, alínea c) e 21.º dos Estatutos da ANPME. A Assembleia Geral funcionará nos termos dos artigos 23.º e 25.º e os corpos gerentes serão eleitos nos termos do artigo 20.º, dos Estatutos da ANPME, e o ato eleitoral decorrerá das 13 às 16 horas, horário de abertura e de encerramento da mesa de voto. Em 20 de Janeiro de 2021 A Direcção da ANPME Avisa-se todos os interessados de que se encontra aberto, pelo prazo de 15 dias seguidos, a contar de 21 de janeiro de 2021, procedimento concursal público ao abrigo do projeto Life IP Azores Natura (LIFE17 IPE/PT/000010) com vista à aquisição de Trator pneumático com tração 4X4 + Lamina frontal com tilt + Reboque Florestal + Grua Florestal + Estilhadora + Guincho Florestal, manutenção destes equipamentos, formação de 2 operadores, com entrega dos equipamentos e prestação de serviços a realizar-se no Município de Nordeste, ilha de São Miguel. O presente Caderno de Encargos pode ser consultado no site da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (http://bit.ly/tratorSPEA) O Director Executivo da SPEA Domingos Leitão PROCEDIMENTO CONCURSAL PÚBLICO COM VISTA À AQUISIÇÃO DE BENS E SERVIÇOS AO ABRIGO DO PROJETO LIFE IP AZORES NATURA (LIFE17 IPE/PT/000010) - TRATOR PNEUMÁTICO COM TRAÇÃO 4X4 E RESPETIVOS EQUIPAMENTOS - FORMAÇÃO 2 OPERADORES - MANUTENÇÃO DOS EQUIPAMENTOS PUB 28 CULTURA Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias IAN “Em Portugal percebi como funcionava um país democrático” ENTREVISTA Há mais de uma década violinista na Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, Ianina Khmelik é também IAN, o alter ego com que no ano passado editou o disco de estreia a solo, RaiVera, do qual lançou agora o single What the Eyes Cannot See. TEXTO MIGUEL JUDAS Parecem dois mundos antagóni- cos, o da pop e o da música erudi- ta, ou se calhar não, como se com- prova em RaiVera, o disco de es- treia de IAN, editado já durante o ano passado. IAN é Ianina Khme-lik, uma violinista de 37 anos, nas- cida na Rússia, mas já com mais de metade da vida passada em Portu- gal, um país que hoje já considera o seu. Os mais atentos ao universo da música clássica nacional decer- to reconhecer-lhe-ão o nome, en- quanto primeira violinista da Or- questra Sinfónica do Porto Casa da Música, mas dificilmente a identi- ficariam em palco como IAN, o tal alter ego com que irrompeu pop adentro, com um visual arrojado e um universo sonoro onde se cru- zam trip hop, eletrónica e sonori- dades sinfónicas contemporâ- neas. A primeira amostra desta sua outra vida foram os EP #1 e #2, am- bos de 2018, que serviram de en- saio geral para RaiVera, cujo título é “um neologismo” composto pe- las palavras russas rai (paraíso) e vera (fé), mas também um trocadi- lho com uma outra língua também já sua. “Em português o som de rai tem uma sonoridade que remete para algo diferente, muito mais es- tridente, como raiva ou raio. Há um contraste entre estes dois con- ceitos que de certa forma me defi- ne”, começou por afirmar, em jeito de apresentação, nesta conversa com o DN. Como é que alguém com uma car- reira feita na música sinfónica faz esta transição para a pop? A pop sempre esteve presente na minha vida e, embora quase todo o meu percurso tenha sido feito no universo clássico, sempre tive um fascínio enorme pelo outro lado da música e pelos palcos grandes. O primeiro concerto a que assisti foi dos Take That, em Hamburgo, tinha para aí 12 anos. Mais tarde vi também os Red Hot Chilli Peppers, que me marcaram imenso. Mesmo na música que ouvia sempre fui muito variada, tanto gostava de Wu Tang Clan como de Sex Pistols, por exemplo. Mas gostar de pop é diferente de fazer. Quando é que essa vontade despertou? Já fazia este tipo de música há muito tempo, mas se calhar nun- ca tinha tido coragem para a mos- trar, porque é um grande desafio estar sozinha num palco, a comu- nicar com o público. Pelo menos a mim parecia-me, porque en- quanto violinista não preciso de abrir a boca para estabelecer essa comunicação. O maior desafio neste projeto foi mesmo o de con- seguir comunicar, conseguir dizer aquilo que sinto, através da mi- nha música. Comecei a criar os te- mas deste disco já há muito tem- po, o tema Vera, por exemplo, foi composto já há muitos anos, quando participei num concurso que tinha o Ryuichi Sakamoto como jurado. Consegui chegar até à final, mas cheguei atrasada à úl- tima audição e ele ficou furioso, apesar de ter adorado a música [risos], como me disse mais tarde. Os seus colegas da Orquestra Sin- fónica do Porto Casa da Música reagiram bem a esta faceta mais pop? Muito bem, até porque sempre quis que eles, de alguma forma, fi- zessem também parte deste pro- jeto. Muitas das minhas influên- cias vêm da música contemporâ- nea, sobretudo ao nível das textu- ras sonoras, do uso da voz, da es- tética do palco. Há toda uma bagagem trazida da orquestra que transpus também para a IAN. E depois há relação pessoal, ado- ro os meus companheiros de or- questra. Apesar de sermos tantos e tão diferentes entre nós, nas na- cionalidades, nas personalidades e até nas religiões, acabamos por funcionar como uma grande fa- mília, especialmente nos mo- mentos menos bons. E foi por isso que fiz questão de incluir as suas vozes, em várias línguas, no meu espetáculo. Como é que veio viver Portugal? Vim para cá com 15 anos, era muito nova e foi uma mudança muito drástica. Mas foram cir- cunstâncias felizes as que me trouxeram até Portugal. Alguns membros da minha família esta- vam ligados ao governo soviético, acompanhei de perto a peres- troika e tudo o que o regime tinha de bom e de mau. A Rússia vivia naquela altura um período de grande instabilidade e a maior surpresa que senti, quando che- guei cá, foi perceber como funcio- nava um país democrático. A li- berdade de poder dizer o que eu queria, o facto de não haver cen- sura, ter as portas abertas para o mundo, poder viajar livremente, tudo isso foi uma dádiva e fiquei muito feliz por ter vindo para cá. É claro que a adaptação não foi propriamente fácil, até porque aterrei cá no 9.º ano, a meio das cantigas de amigo e das cantigas de amor [risos], mas as pessoas são muito acolhedoras, e eu tam- bém fiz um esforço para me inte- grar, o que tornou tudo muito mais fácil. Apesar de ter nascido na Rússia, hoje sinto que Portugal é o meu país. 1983 Nasceu em Moscovo, onde iniciou os estudos musicais aos 5 anos. 1995 Conquistou o 2.º Prémio no Concurso para Jovens Músicos de Moscovo e no ano seguinte foi estudar para a Alemanha. 1999 Veio viver para Portugal para fugir à instabilidade política e social que então se vivia na Rússia, continuando os estudos na Escola Profissional de Música de Espinho, onde o seu tutor, também russo, dava aulas. 2006 Concluiu a licenciatura em Violino na Escola Superior de Música e das Artes do Espetáculo do Instituto Politécnico do Porto. 2008 Presta pela primeira vez provas na Orquestra Sinfónica do Porto, na qual é atualmente primeira violinista. 2018 Lança as primeiras músicas como IAN, nos EP #1 e #2, tendo já antes colaborado com nomes da pop portuguesa como The Gift, Pedro Abrunhosa ou GNR. 2019 Edita o álbum de estreia RaiVera. PERFIL De Moscovo ao Porto, da erudita ao pop Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 29 Morreu Jean Graton, o criador de Michel Vaillant Oautor francês de banda desenhada Jean Graton, cria- dor da personagem Michel Vaillant, morreu on- tem aos 97 anos em Bruxelas, revelou a editora Dupuis. “Jean Graton foi o último ‘monstro sagrado’ da época de ouro da banda desenhada franco-belga”, ao lado de no- mes como Franquin, Albert Uderzo e René Goscinny, lem- brou a editora. Num comuni- cado citado pelo jornal Le Monde, a Dupuis saudou uma “obra única e admirável que apaixonou várias gerações de pequenos e grandes leitores de banda desenhada”. Nascido em Nantes em 1923, Jean Graton conjugou duas paixões ao longo da vida – arte e desporto –, vertendo- -as para as pranchas da banda desenhada, ao criar em 1957 o piloto de Fórmula 1 Michel Vaillant, protagonista de uma série de histórias em quadra- dinhos. A editora Dupuis descreve Graton como “um verdadeiro embaixador do desporto mo- torizado”, cuja obra e paixão influenciaram gerações de lei- tores e criaram um universo que ainda hoje “brilha nas li- vrarias”. Graton iniciou o percurso profissional em Bruxelas em finais dos anos de 1940, a de- senhar caricaturas e publici- dade no Le Journal des Sports. A entrada na banda dese- nhada deu-se na revista Spi- rou, tendo colaborado depois na revista Tintin, na qual, a 12 de junho de 1957, apareceu pela primeira vez Michel Vaillant. Inspirador de vocações A propósito do trabalho de Graton na construção desta personagem e do universo au- tomobilístico, no portal Lam- biek, dedicado à banda dese- nhada, lê-se que o autor fran- cês procurava ser rigoroso sobre este desporto e fazia bas- tante pesquisa, incluindo idas a corridas e encontros com pi- lotos. E dessa paixão nasceram grandes amizades. O autor não só inspirou jornalistas e pilotos, por exemplo Alain Prost, como se tornou muito amigo de Jacky Icks e de outras personalidades do meio. “Jean Graton participou em corridas em quase todo o mundo, fazendo amizade com os pilotos, chefes de equi- pa e diretores de circuito, acu- mulando milhares de fotos e documentos que conferem ao seu trabalho prestígio e auten- ticidade”, justifica a editora Dupuis. Em 1982, Jean Graton con- seguiu a titularidade legal da sua obra e criou a própria edi- tora, Studio Graton, com a participação do filho, Philippe Graton, que se tornou, entre- tanto, argumentista das histó- rias de Michel Vaillant. Refor- mou-se em 2004, altura em que já tinham sido editados cerca de 70 álbuns da série com o piloto. A série, que con- ta com vários álbuns editadosem Portugal, seria retomada em 2012, com novos desenha- dores e o argumentista Phi- lippe Graton. DN/LUSA BANDA DESENHADA Graton conjugou a paixões por arte e o desporto, vertendo-as para as pranchas da BD, ao criar em 1957 o piloto de Fórmula 1. Jean Graton ao lado da sua criação: o piloto de F1 Michel Vaillant. H ER W IG V ER G U LT / B EL G A / A FP “Fiz questão de incluir as vozes [dos meus colegas da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música], em várias línguas, no meu espetáculo.” Veio com a sua família? Não, vim mesmo sozinha, por op- ção dos meus pais, em especial da minha mãe, que queria um futuro mais seguro para mim. E porquê Portugal? Porque tínhamos alguns conheci- mentos cá, como o meu tutor, que tinha estudado no Conservatório de Moscovo e era na altura profes- sor na Escola Profissional de Mú- sica de Espinho, onde estudei an- tes de me mudar para o Porto. Os primeiros concertos de apre- sentação do disco foram adiados para março. Como é que está a vi- ver estes tempos tão estranhos para os artistas? Com muita fé e esperança, mas este segundo confinamento está a custar-me um pouco mais, confes- so. Esforçámo-nos tanto para mostrar que a cultura era segura e agora voltámos ao mesmo, é mui- to triste. Pessoalmente gostava muito de poder trabalhar, apesar de continuara a criar em casa, em- bora não seja o mesmo. Tenho a sorte de fazer parte daquela mino- ria de músicos que continuam a receber um ordenado, mas como a Casa da Música vai estar fechada até meio de fevereiro, se calhar de- víamos começar a atuar por strea- ming. É uma situação muito difícil para todos, especialmente para os técnicos, mas é algo a nível mun- dial. Ainda assim tenho esperança de que passe rapidamente, porque tenho muitos planos para este ano. Como definiria a sua música? Pensei muito nisso antes de lançar o álbum, porque é uma música que condensa vários estilos. Tem eletrónica, tem trip hop, que é tal- vez a minha maior referência, por- que adoro o Tricky, mas também tem melodias mais clássicas, por- que costumo compor ao violino. Não sei, talvez seja algo como pop contemporâneo, é o termo que me parece mais apropriado. 30 VIVER Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias Afeira de tecnologia CES deste 2021 não foi exce- ção. Mais uma vez, foi à gi- gante Samsung que cou- be o papel de “cumprir a quota” de trazer ao evento robôs que, prome- tem, um dia poderemos ter em nos- sas casas para nos fazer praticamen- te todas as tarefas domésticas. Um deles é comum: um aspira- dor automático que também fun- ciona como câmara de videovigi- lância. O JetBot 90 AI+ vem equipa- do com um sistema LIDAR (uma espécie de radar, mas que funciona por meio de laser), o que lhe permi- te “ler” o espaço que o rodeia com mais eficácia e, supostamente, evi- tar bater em superfícies frágeis como vasos, por exemplo. Mas não deixa de ser um já velho e conheci- do aspirador robô. E, das novidades do género, o único que será comer- cializado. Os outros dois mostrados na feira – que decorreu neste mês de forma virtual, por causa da covid – são ape- nas protótipos. Um, o Bot Handy, já se aproxima um pouco mais do sonho do robô doméstico sonhado pela dupla Hanna-Barbera na década de 1960 para o que seria o futuro, na série Os Jetsons. Não é exatamen- te uma Rosie, a empregada do- méstica robótica que fazia tudo em casa, deixando o tempo total- mente livre para Jane Jetson fazer, basicamente, nada, mas aproxi- ma-se um pouco. Pelo menos a julgar pelos vídeos divulgados pela Samsung. Afinal, o Bot Handy – com uma base que faz lembrar um aspirador e um único braço articulado – é ca- paz de servir um copo de vinho, car- regar a máquina de lavar louça e, claro, responder a ordens básicas do tipo “traz-me ali o tablet”. O outro pequeno robô que mar- cou presença pela Samsung foi o Bot Care, que já tinha sido mostra- do em 2019. Trata-se de um “assis- tente pessoal” que pretende ser mais um companheiro doméstico digital com um display superior que comunica com o dono. O obje- tivo é lembrar compromissos ou li- gar automaticamente o seu “mes- tre e senhor” a reuniões de Zoom, por exemplo, indo ao seu encontro onde quer que este se esteja na casa. Mais uma vez, não há qual- Estamos em 2021, onde está Rosie, a robô doméstica dos Jetsons? ROBÓTICA A Samsung mostrou três robôs, há um de cozinha para milionários, mas o resto é para fazer à mão. Ainda estamos longe de ficar sem as aborrecidas tarefas domésticas. TEXTO RICARDO SIMÕES FERREIRA É caro ou o leitor é que está a ganhar pouco? Ao comum dos mortais resta...? Pode argumentar-se que o êxito das máquinas como a Bimby e apare- lhos semelhantes revela bem que existe um apetite da parte dos con- sumidores por máquinas que facili- tem a vida doméstica, em particular na cozinha. Mas uma rápida inspe- ção do mercado revela igualmente que a oferta não tem praticamente variado nos últimos anos. Duas tecnologias surgiram mais ou menos recentemente que serão de realçar, não tanto por serem faci- litadoras de tarefas domésticas, mas mais por utilizarem soluções tecno- lógicas para cozinhar de formas, ale- gadamente, mais saudáveis. Uma é a solução sous-vide, que tem na Anova Culinary o best-seller do género. Basicamente: colocam- -se todos os ingredientes a cozinhar juntos num saco de plástico próprio, sela-se o mesmo, retirando o ar, e ati- ra-se para dentro de uma panela com água. Coloca-se a varinha de sous-vide lá dentro, escolhe-se o pro- grama apropriado na app e vai-se à nossa vida. Quando estiver pronto, o telemóvel avisa. Cada varinha da Anova custa en- tre 200 e 400 euros e quem já provou a comida garante que o resultado até surpreende. A segunda tecnologia digna de nota são as máquinas Air Fryer, que utili- zam, em aparelhos de reduzidas di- mensões, sistemas de convecção de ar que fazem circular pequenas quan- tidades de óleo para fritar (tornando assim os fritos mais saudáveis). As mesmas máquinas podem ainda gre- lhar e cozer (basta pôr água em vez de óleo). Os preços variam muito. Nada, absolutamente nada, que se compare à Rosie dos Jetsons. Mas também, onde é que estão os ambi- cionados carros voadores, as escolas flutuantes e as passadeiras rolantes nos passeios? A vida nos desenhos animados é muito mais engraçada. dedicada – e fixa, não se desloca –, promete ser capaz de executar as principais tarefas desta divisão da casa, desde a culinária à lavagem da louça. Como? Basicamente, o robô con- siste em dois braços articulados de precisão industrial, presos sobre os balcões de uma cozinha costumiza- da. O software incorporado inclui cinco mil receitas, o sistema de inte- ligência artificial promete reconhe- cer ingredientes, panelas, tachos, utensílios e demais “ferramentas” necessárias para a cozinha. O seu criador, o matemático e cientista informático russo Mark Oleynik, promete comida de quali- dade de restaurante ao toque de um botão na app. Claro que toda esta sofisticação tem um preço. De momento, o mo- delo-base ronda os 250 mil euros. quer previsão anunciada para o tér- mino do seu desenvolvimento. Há um robô de cozinha que faz tudo... por um grande preço Pronto a entrar na casa de quem te- nha uma carteira recheada está o robô de cozinha da Moley Robotics. Apesar de se tratar de uma máquina Uma das varinhas, ou cookers, da Anova, para cozinhar sous vide. A robô doméstica da família do futuro da dupla Hanna-Barbera, um sonho longe de se tornar realidade. A Samsung apresentou três pequenos robôs, o pequeno aspiradorJetbot, o Bot Handy (à direita), que supostamente é capaz de carregar uma máquina da louça, e o Bot Care, um companheiro digital que comunica através do ecrã na parte superior. O robô de cozinha da Moley promete fazer tudo, até lavar os tachos e panelas no fim. Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 HUMOR E PASSATEMPOS 31 Horizontais:1. Aprovar ou eleger por meio de voto. Fêmea do bode. 2. Planta gramínea. Que acontece uma vez por ano. 3. (...) Eanes, foi o primeiro navegador a dobrar o Cabo Bojador, em 1434. Casa onde se vende ou fabrica pão. 4. Chouriça temperada com alhos. Engenheiro (abreviatura). 5. Burro. Ínsula. 6. Prefixo (duas vezes). Símbolo de miliampere. Cálcio (símbolo químico). Atmosfera. 7. Porção da circunferência. Lenda. 8. Espaço de 24 horas. Tolo. 9. Disparate. Uma dezena. 10. Mancha. Regime especial de alimentação. 11. Debruar. Montar. Verticais: 1. Grande onda. Peça metálica que faz tocar o sino. 2. Curral de ovelhas. Dar as cores do arco- -íris a. 3. Peça, geralmente de barro cozido, que serve para a cobertura de edifícios. Lugar onde se alojam ou criam cães. 4. Suspiro. Cálculo a olho. A primeira mulher, segundo a Bíblia. 5. Pilhagem. Inferior. 6. Argola. Oceano. 7. Qualquer de entre dois ou mais. Emboscada preparada para acometer ou atrair alguém. 8. Nome feminino. Embarcação de recreio. Seguir até. 9. Tecido grosseiro de lã. Disciplina. 10. Soberana. Alvo (figurado). 11. Inundar. Desdita. PALAVRAS CRUZADAS Palavras Cruzadas Horizontais: 1. Votar. Cabra. 2. Aveia. Anual. 3. Gil. Padaria. 4. Alheira. Eng. 5. Asno. Ilha. 6. Bi. Ma. Ca. Ar. 7. Arco. Mito. 8. Dia. Palerma. 9. Asneira. Dez. 10. Laivo. Dieta. 11. Orlar. Armar. Verticais: 1. Vaga. Badalo. 2. Ovil. Irisar. 3. Telha. Canil. 4. Ai. Esmo. Eva. 5. Rapina. Pior. 6. Aro. Mar. 7. Cada. Cilada. 8. Ana. Iate. Ir. 9. Burel. Ordem. 10. Rainha. Meta. 11. Alagar. Azar. SUDOKU SOLUÇÕES O que tem de novo o “novo” Diário de Notícias O ESSENCIAL DA INFORMAÇÃO, TODOS OS DIAS EM BANCA CARTOON POR RAFAEL COSTA ÚLTIMA Conselho de Administração José Pedro Soeiro (presidente), Afonso Camões, Domingos de Andrade, Guilherme Pinheiro, Kevin Ho, Philipe Yip Data Protection Officer António Santos Propriedade Global Notícias Media Group, SA; Matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Almada. Capital social: 28 571 441,25 euros. NIPC: 502535369. Sede: Rua Gonçalo Cristóvão,195-219 – 4049-011 Porto. Tel.: 222 096 100. Fax: 222 096 200 Filial: Rua Tomás da Fonseca, Torre E, 3.º – 1600-209 Lisboa. Tel.: 213 187 500. Fax: 213 187 501 Marketing e Comunicação Carla Ascenção e Patrícia Lourenço Direção Comercial Frederico Almeida Dias e Pedro Veiga Fernandes Detentores de mais de 5% do capital social: KNJ Global Holdings Limited – 35,25%; José Pedro Carvalho Reis Soeiro – 24,5%; Olivemedia, Unipessoal, Lda. – 19,25%; Páginas Civilizadas, Lda. – 10,5%; Grandes Notícias, Lda. – 10,5% Impressão Gráfica Funchalense (Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, 50, Morelena – 2715-029 Pero Pinheiro); Naveprinter (EN, 14 (km 7,05) – Lugar da Pinta, 4471-909 Maia) Distribuição VASP; Registado na ERC com o n.º 101326. Depósito legal 121 052/98 Assinaturas 707 200 508. Custo das chamadas da rede fixa 0,10 €/minuto e da rede móvel 0,25€/minuto, sendo ambas taxadas ao segundo após o primeiro minuto. Valores sujeitos a IVA. Dias úteis, das 07h00 às 18h00. Fax: 229 417 679. E-mail: apoiocliente@noticiasdirect.pt Nos últimos dias, tomámos co- nhecimento de factos graves que são atentatórios do Estado de di- reito democrático. Tanto mais quando somos um Estado que se afirma como uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na von- tade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária (art.º 1.º CRP), e que se quer um Estado de direito democrático, baseado na sobera- nia popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no res- peito e na garantia de efetivação dos direi- tos e liberdades fundamentais e na sepa- ração e interdependência de poderes (art.º 2.º CRP). Ora, numa sociedade livre e num Estado de direito democrático, instituído há qua- se meio século, tornou-se agora público, graças à liberdade de informação da im- prensa, que jornalistas foram objeto de in- quirições sobre as suas fontes de informa- ção, vítimas de seguimentos policiais, vigi- lâncias, fotografias e filmagens por forças policiais, as suas mensagens telefónicas fo- ram objeto de acesso intrusivo e transcritas para um processo criminal, e até a um dos visados o sigilo bancário lhe foi levantado. Tudo feito sem sequer ter passado pelo cri- vo de um magistrado judicial, no caso um juiz de Instrução Criminal, a quem compe- tiria, pelo menos segundo a lei, ser o juiz das garantias dos cidadãos objeto de tal in- vestigação criminal. Tudo isto um cenário que facilmente se imaginaria num Estado autocrático, mas que se diria impensável num Estado euro- peu ocidental, com a Constituição e a lei que vigoram e com os pergaminhos na consagração e defesa dos direitos funda- mentais como se afirma Portugal. A liberdade de expressão, a garantia de sigilo profissional e a garantia de indepen- dência dos jornalistas (art.º 6.º do Estatuto do Jornalista), bem como a proibição de subordinação da dita liberdade de expres- são a qualquer tipo ou forma de censura, são pilares fundamentais da constitucio- nalmente consagrada liberdade de im- prensa (art.º 38.º CRP). Liberdade de im- prensa que passa, expressamente, pelo di- reito a manter sigilo absoluto sobre as fontes jornalísticas. Por isso é estatutariamente garantido (art.º 11.º EJ) que “os jornalistas não são obrigados a revelar as suas fontes de infor- mação, não sendo o seu silêncio passível de qualquer sanção, direta ou indireta”. Mas não só: “As autoridades judiciárias perante as quais os jornalistas sejam chamados a depor devem informá-los previamente, sob pena de nulidade, sobre o conteúdo e a extensão do direito à não revelação das fontes de informação” – tudo isto apenas em sede de processo penal. Numa garantia extrema deste mesmo di- reito a manter sigilo absoluto sobre as fon- tes, estabelece a lei que “no caso de ser or- denada a revelação das fontes nos termos da lei processual penal, o tribunal deve es- pecificar o âmbito dos factos sobre os quais o jornalista está obrigado a prestar depoi- mento”, o que bem mostra que tem de ser um juiz a ordenar a dita revelação de fon- tes, e não um qualquer agente do MP. Re- corde-se que até as sessões de julgamento, que são por regra públicas sob pena de nu- lidade, poderão ser realizadas sem assis- tência de público, se estiver em causa a re- velação das fontes de informação no âmbi- to de um processo criminal. Sem direito de sigilo das fontes, não há informação livre, e não havendo informação livre, não há de- mocracia. Perante todo o relatado, a intenção dos subscritores é lançar um alerta destinado a evitar que esteja em curso um subtil ataque à liberdade de imprensa, e, assim, um ata- que ao Estado de direito democrático e ao regular funcionamento das instituições de- mocráticas. Podendo estar em causa, como parece estar, uma sucessão de situações de clara violação da liberdade de imprensa ou, pelo menos, de tentativa de condicionamento da mesma, sob a capa de se investigar a prática de quaisquer concretos alegados crimes, os defensores do Estado de direito não podem calar. É certo, e desejável, que a polícia vigie, policie e evite a prática de crimes nas ruas. Mas a utilização de meios agressivos de in- vestigação criminal (usando a arma penal do Estado para seguir, fotografar, filmar, aceder a mensagens profissionais, quebrar o segredo bancário e tentar obter acesso ilegítimo a fontes dos jornalistas) não constitui uma vigilância social do espaço público. Ao invés, são meios apenas ad- missíveis se e quando existam suspeitas reais e efetivas da prática de crimes graves, não podendo ser vistos como meios nor- mais de “policiamento” da sociedade, sob pena de se instalar um clima de medo ge- neralizado por parte de todos os cidadãos, em especial dos responsáveis por informar a sociedade (como o são os jornalistas), o que culmina necessariamente no seu amedrontamento, coação ou mesmoins- trumentalização. Por isso é condição de um Estado de di- reito democrático e livre uma imprensa li- vre e independente. Tal como não é admis- sível, a nenhum título, a espionagem priva- da, também não pode ser admissível o MP investigar fora das regras constitucionais e legais vigentes, travestindo de lícito e ad- missível o que desde a raiz é ilícito e inad- missível. A coerência impõe que só quem pode le- galmente investigar, investigue, mas im- põe também que o faça por meios lícitos, e no quadro jurídico estrito legalmente pre- visto, que deve ser literal ou mesmo restri- tivamente interpretado, sob pena de se es- tar a alargar por via administrativa ou in- terpretativa aquilo que são restrições ilegítimas e não previstas a direitos, liber- dades e garantias dos cidadãos. O que ob- viamente não é tolerado pelo sistema jurí- dico-constitucional e processual-penal português, por fazer perigar gravemente o regular funcionamento das instituições democráticas. Lisboa, 21 de Janeiro de 2021 André Veríssimo Diretor do Negócios António José Teixeira Diretor de Informação da RTP-TV Anselmo Crespo Diretor de Informação da TVI Bernardo Ribeiro Diretor do Record Domingos Andrade Diretor da TSF e diretor editorial do GMG Eduardo Dâmaso Diretor da Sábado Inês Cardoso Diretora do Jornal de Notícias João Paulo Baltazar Diretor de Informação da Antena 1 João Vieira Pereira Diretor do Expresso José Manuel Fernandes Publisher do Observador José Manuel Ribeiro Diretor do Jogo Luísa Meireles Diretora de Informação da Lusa Mafalda Anjos Diretora da Visão Manuel Carvalho Diretor do Público Mário Ramires Diretor do Nascer do Sol e do i Octávio Ribeiro Diretor-geral editorial da Cofina Media Pedro Leal Diretor de Informação da Rádio Renascença Ricardo Costa Diretor de Informação da SIC Rosália Amorim Diretora do Diário de Notícias Vítor Serpa Diretor de A Bola Em defesa de uma comunicação social livre MEDIA Na sequência das investigações do MP a quatro jornalistas, diretores dos principais órgãos de comunicação social em Portugal subscrevem uma carta aberta. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras anunciou ontem que já pagou a indemnização aos herdeiros de Ihor Homeniuk, cidadão ucraniano morto em março no aeroporto de Lisboa após sofrer agressões por parte de inspetores do SEF. “A informação sobre o pagamento da indemnização, no valor de 712 950 euros, já foi comunicada ao advogado da família”, pode ler-se em nota enviada às redações. “Este pagamento do Estado decorre ao abrigo do mecanismo extrajudicial, de adesão voluntária, ágil e simples, destinado à determinação e ao pagamento célere da referida indemnização por perdas e danos, não patrimoniais e patrimoniais, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros, de 14 de dezembro”, escreve o Ministério da Administração Interna na nota. “O valor da indemnização foi fixado pela provedora de Justiça e aceite pelos familiares da vítima”. BREVES Viúva de Ihor já recebeu indemnização “Colmatar o fosso digital entre homens e mulheres – participação das mulheres na economia digital” é o título do relatório ontem aprovado em sessão plenária no Parlamento Europeu. Da autoria da eurodeputada do PSD Maria da Graça Carvalho, nele são apresentadas diferentes propostas, da educação ao mercado de trabalho e aos media, para que sejam ultrapassadas as atuais assimetrias de género no acesso às chamadas tecnologias da informação e da comunicação (TIC). No relatório, a antiga ministra da Ciência, Inovação e Ensino Superior identifica as principais causas, nomeadamente culturais, para o menor envolvimento das mulheres nas TIC, que levam a que estas representem só 17% dos inscritos em cursos e uma percentagem semelhante dos profissionais do setor na UE. Maria da Graça Carvalho, que é membro da Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade dos Géneros, sublinha que esta é “uma questão de justiça social” para as mulheres. “A desigualdade no digital aumenta o fosso salarial, com consequências negativas também nas reformas, sendo um dos grandes problemas dos nossos dias os baixos rendimentos das mulheres aposentadas”, alertou a responsável. Mais mulheres na economia digital da Europaoutubro (três pontos percen- tuais no total), chega às vésperas da eleição com um resultado estimado de 59,7% e 44 pontos acima da so- cialista Ana Gomes, que também perdeu dois pontos nestes quatro meses, mas estacionou nos 15,4%. A ex-eurodeputada é a favorita para ficar no segundo lugar, uma vez que o principal concorrente, An- dré Ventura fica a pouco mais de cinco pontos (9,7% nesta última sondagem). Mas o favoritismo fica um pouco tremido quando se per- cebe que o candidato da direita ra- dical apresenta uma tendência de subida, conseguindo mais dois pontos do que em dezembro. E tem com uma outra “vitória” à vista: nes- te momento, vale mais do que a soma dos dois candidatos mais à es- querda. Comunistas e bloquistas O comunista João Ferreira é um dos candidatos cujo resultado é mais difícil de antecipar, uma vez que a tendência foi sempre de cresci- mento, até agora, com travões a fundo e uma queda para os 5% em janeiro. Ainda assim, pode aspirar a ficar à frente da rival bloquista, uma vez que Marisa Matias continua em trajetória descendente (4,3%). É fundamental ter em conta, no en- tanto, que a recolha dos inquéritos só parcialmente coincide com o inusitado insulto de Ventura – o epi- sódio do batom vermelho –, que se tornou um tema central da última semana de campanha da eurode- putada do BE. Mais para o fundo da tabela, o li- beral Tiago Mayan parece ter bene- ficiado, em janeiro, da exposição mediática que conseguiu com os sucessivos frente-a-frente nas tele- visões: depois de três meses a arras- tar-se com resultados à volta do ponto percentual, aparece agora com 3,3%. Só com os resultados de domingo será possível confirmar que esse crescendo se transformou numa tendência. É uma situação algo semelhante à de Vitorino Silva (Tino de Rans), que esteve praticamente ausente até esta última sondagem, que lhe atribui 1,5% (em 2016, conseguiu 3,28%), claramente catapultado pe- los debates e pelo acompanhamen- to diário das televisões ao candida- to confinado. A noite eleitoral con- firmará, ou não, o ressurgimento. Socialistas com Marcelo Uma das melhores garantias de uma eleição à primeira volta para Marcelo Rebelo de Sousa, e com um resultado robusto, é o continua- do e massivo apoio dos eleitores so- cialistas, visível ao longo dos últi- mos quatro meses e novamente confirmado por esta última sonda- gem: são mais de dois terços os que preferem renovar o mandato ao atual inquilino de Belém (63,6%). Soma-se um apoio ainda maior en- tre os eleitores sociais-democratas (74,1%), garantindo uma vantagem esmagadora no chamado “bloco central”, crucial para vencer elei- ções em Portugal. A sua principal adversária, Ana Gomes, não só não tem o apoio for- mal do PS, como não consegue mais do que três em cada dez eleito- res socialistas, ainda que se revele capaz de pescar em águas bloquis- tas e comunistas. À sua esquerda, João Ferreira segura dois terços do eleitorado da CDU, e Marisa Ferrei- ra pouco mais de metade dos eleito- res do BE. E ambos revelam capaci- dade mínima de alargamento da sua base de apoio para além do par- tido de origem. André Ventura, que também é lí- der do Chega, é muito mais eficaz do que qualquer dos seus adversá- rios (Marcelo incluído) a segurar os eleitores do partido de origem, mas fica limitado a essa base, com uma notável exceção: poderá conquistar um em cada dez eleitores do PSD. O mesmo sucede com a base de apoio do liberal Tiago Mayan, em- bora em números bastante mais re- duzidos. Inclinações de género Marcelo Rebelo de Sousa e André Ventura não pertencem apenas a direitas diferentes. Estão também separados por uma fronteira de gé- nero bastante vincada. O atual residente de Belém é o candidato com maior desequilíbrio absoluto no que diz respeito ao gé- nero, com vantagem para o apoio feminino: representam 68,9%, mui- to acima da média e com mais 19 pontos percentuais do que os ho- mens. Ao contrário, a marca registada de André Ventura (como a do Chega) é o domínio da testosterona: 14,3% de apoio entre os eleitores homens, ou seja, quase o triplo, ou mais nove pontos percentuais do que entre as mulheres. Em quase todos os restantes can- didatos, o suporte masculino é maioritário, ainda que em nada se aproxime do que se passa com o lí- der da direita radical. A exceção é Marisa Matias, a única em que há um equilíbrio quase total entre ho- mens e mulheres. rafael@jn.pt Norte marcelista É no norte que Marcelo tem a sua praça-forte. Ao contrário, é aqui que Ana Gomes tem o seu pior resultado. O norte é também a região mais generosa para André Ventura. LIsboa esquerdista Os dois candidatos mais à esquerda – o comunista João Ferreira e a bloquista Marisa Matias – atingem o pico em Lisboa. Aliás, os seus resultados globais dependem em larga medida desta região do país. Porto liberal A exemplo do partido de origem, o liberal Tiago Mayan Gonçalves tem o seu melhor resultado na Área Metropolitana do Porto. Outra característica comum: quanto maior o rendimento do eleitor, maior o apoio. REGIÕES O trabalho de campo desta sondagem decorreu entre os dias 9 e 15 de janeiro, na véspera do período de grande crescimento dos números da pandemia para os níveis atuais. A preocupação dos eleitores com a sua saúde e a dos seus compatriotas foi um dado evidente da nossa sondagem. Assim, é muito provável que a abstenção seja superior ao valor modelado. A abstenção afetará de forma desigual as diferentes candidaturas, mas não cremos que o quadro geral sofra tão grande transformação que os resultados fiquem fora da margem de erro da sondagem. Deixamos este alerta aos leitores desta sondagem para o atual contexto de aumento da incerteza, verdadeiramente, sem paralelo na nossa história recente. HUGO MOURO AXIMAGE Contexto de incerteza ESCLARECIMENTO Mais perverso pode ser o efeito na posição relativa dos restantes candidatos. Ana Gomes é a se- gunda candidata que mais de- pende do eleitorado sénior (mar- cava 19%), enquanto André Ven- tura tem neste escalão o seu pior resultado (6,2%). Se a abstenção disparar neste segmento etário e se combinarmos esse facto com a tendência atual de descida de Ana Gomes e de subida de André Ventura, é maior a probabilidade de o líder do Chega alcançar o se- gundo lugar. Na luta particular de João Ferrei- ra e Marisa Matias pelo quarto lu- gar, é o comunista quem tem mais a perder se abstenção entre os elei- tores mais velhos se aprofundar. O seu apoio entre os dois escalões mais velhos está em média dois pontos percentuais acima do que consegue nos dois mais novos. No caso da bloquista, é exatamente ao contrário: o apoio é bem maior nos 18/34 anos do que na faixa dos 65 ou mais anos (uma diferença de quase sete pontos percentuais). 6 EM FOCO Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias 23 anos de testes e nenhum resultado. Porque não avança o voto eletrónico? ELEIÇÕES O último teste-piloto ao voto eletrónico, em 2019, custou ao Estado quase 1,5 milhões de euros e foi o quinto desde 1997. O relatório entregue ao Parlamento confirmou que tinha sido um sucesso, mas até agora nenhum partido propôs o seu alargamento ao resto do país. TEXTO VALENTINA MARCELINO As longas filas para o voto antecipado para as presi- denciais, agravadas pela pandemia, no passado domingo, evidenciaram a necessi- dade de sistemas mais modernos de votação. O voto eletrónico é um deles, também defendido como importante instrumento de com- bate à abstenção, atraindo os mais jovens e facilitando a participação dos emigrantes nos atos eleitorais nacionais. Um dos seus assumidos defensores é o próprio Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que reconhece ser “ultrami- noritário” a favor da sua introdução em Portugal. “Nós para votarmos não aceitamos o digital, é uma coi- sa verdadeiramente do arco-da-ve- lha. De repente, temos uns atavis- mos, uns conservadorismos,uns ultraconservadorismos incom- preensíveis, para pioneiros”, criti- cou numa entrevista nesta semana ao Lusojornal, após destacar que Portugal tem sido o palco da cimei- ra tecnológica Web Summit. E a verdade é que o voto eletróni- co continua a gerar desconfianças. Nos últimos 23 anos foram feitos testes em cinco atos eleitorais, em 1997, 2001, 2004, 2005 e 2019, e a Comissão Nacional de Eleições (CNE) certifica que “a implementa- ção de soluções de voto eletrónico visa, sobretudo, conferir maior ce- leridade às operações de votação e apuramento, melhorar toda a ges- tão do próprio processo com vista a atingir ganhos de eficiência e, ao mesmo tempo, manter ou aumen- tar as garantias de segurança e cre- dibilidade de todo o processo”. Afiança a CNE no seu site que “não pode descurar-se o facto de a consagração do voto eletrónico contribuir para que o cidadão elei- tor exerça o seu direito de sufrágio de modo mais eficaz e cómodo, procurando, assim, combater algu- mas causas do abstencionismo que, no caso português, se têm vin- do a evidenciar em alguns atos elei- torais”. “É como ir ao multibanco” No último teste-piloto, nas eleições europeias de 2019, eleitores do dis- trito de Évora puderam experi- mentar as novas tecnologias ao ser- viço da democracia. “É tão fácil. Fui à mesa, entreguei o Cartão de Cida- dão e deram-me o cartão de voto. Depois fui à máquina e fiz como se fosse no multibanco. Votei e não me enganei, porque a máquina pede confirmação”, contou à TSF um desses eleitores. Este teste-piloto custou 1,45 mi- lhões de euros, financiados pelo Ministério da Administração Inter- na (MAI), e orelatório de avaliação da experiência feita em Évora para o voto eletrónico presencial garan- te segurança aos eleitores e conclui que deveria ser estendido futura- mente a outros atos eleitorais. Se houvesse dúvidas quanto à vanta- gem deste sistema para fazer descer a abstenção, os números de adesão dos eleitores neste teste ajudam a dissipá-las. “Em termos relativos, as mesas com voto eletrónico tiveram em média mais 97% de eleitores do que as mesas de voto tradicional”, é salientado no relatório. Nas conclusões deste documen- to é ainda referida a garantia de se- gurança do sistema (auditado pela Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e a Criminalidade Tec- nológica (UNC3T) da Polícia Judi- ciária, pelo Centro Operacional de Segurança Informática (COSI) do MAI e pela Universidade do Minho, além da “fiabilidade do sistema” e da maior celeridade no apuramen- to dos resultados (logo que as urnas fecham). A estas vantagens, assina- ladas neste relatório, junta-se tam- bém a da desmaterialização dos cadernos eleitorais, que permitiu “aos eleitores deste círculo eleitoral exercerem o seu direito de voto em mobilidade”, com uma “grande aceitação por parte dos membros de mesa, dada a facilidade do seu manuseamento e a rapidez e segu- rança na identificação do eleitor” – e a possibilidade de “evitar a im- tos públicos), quase um milhão e meio de euros à Meo, à Portugal Telecom e À Indra pelo projeto, se “considera o voto eletrónico im- portante e prioritário”, e porque, tendo havido já tantos testes, com sucesso, não se concretizou ainda, remete para o Parlamento. “O rela- tório de avaliação deste projeto-pi- loto foi entregue à Assembleia da República em julho de 2019, ca- bendo à Assembleia da República determinar, para futuro, o alarga- mento desta possibilidade”, res- ponde fonte oficial. Na gaveta do Parlamento Questionado ainda o gabinete de Eduardo sobre qual é o plano para a implementação do voto eletróni- co, se há problemas ainda a resol- ver que não foram identificados no teste de Évora ou nos anteriores, não responde. Não explica tam- bém por que, apesar do sucesso do teste em Évora, no relatório de ati- vidades de 2019 da secretaria-geral do MAI, que coordena esta área eleitoral, a única referência que existe ao voto eletrónico é desen- volver um “manual de apoio ao voto eletrónico e publicar nos sites da CNE e do SGMAI”, o qual nem sequer é visível nas respetivas pági- nas da internet. O MAI respondeu, ainda assim, à questão sobre qual o destino dado a todo o equipamento utilizado em “Não pode descurar-se o facto de a consagração do voto electrónico contribuir para que o cidadão eleitor exerça o seu direito de sufrágio de modo mais eficaz e cómodo, procurando, assim, combater algumas causas do abstencionismo.” Comissão Nacional de Eleições “A única vantagem do voto eletrónico presencial é a rapidez na contagem dos votos. Quanto ao voto eletrónico à distância, não há como garantir que é o próprio que vota, além do risco de haver um ciberataque que pudesse alterar os resultados.” António Filipe, PCP pressão de 643 mil folhas de papel A4 (3,2 toneladas)”. Mas quando se pergunta ao ga- binete do ministro da Administra- ção Interna, Eduardo Cabrita, que autorizou este teste e pagou, se- gundo se pode consultar no por- tal Base.gov (que regista os contra- Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 7 Quanto as cadernos eleitorais desmaterializados, salienta a mes- ma fonte oficial, “na sequência das alterações introduzidas pela Lei Orgânica n.º 4/2020, de 11 de no- vembro, os cadernos eleitorais des- materializados vão ser usados, pela primeira vez, na votação dos por- tugueses residentes no estrangeiro das Eleições para o Presidente da República de 2021”. De acordo ainda com o MAI, o relatório de avaliação sobre o teste em Évora foi enviado ao Parlamen- to logo em julho de 2019 e reenca- minhado à comissão de Assuntos Constitucionais de Direitos Liber- dades e Garantias. A introdução do voto eletrónico exige uma maioria de dois terços dos deputados para alterar a lei eleitoral e a Constitui- ção, que determinam que os votos sejam presenciais. O sucesso de Évora não motivou nenhuma proposta por parte dos partidos. “O grande salto qualitati- vo seria mesmo o voto eletrónico à distância”, salienta Luís Marques Guedes, presidente desta comis- são, assinalando que no caso do teste em Évora, “apesar de ser voto eletrónico, exigia na mesma a pre- sença dos eleitores”. Este deputa- do do PSD salienta que “nas atuais circunstâncias da pandemia fica cada vez mais claro que a obrigato- riedade do voto presencial, como é o caso dos emigrantes que têm nas eleições. Passados quase 50 anos de maturidade democrática em Portugal, é tempo de evoluir para essa agilização”. Por seu lado, Pedro Delgado Al- ves, deputado do PS da mesma co- missão parlamentar, sobre o teste ao voto eletrónico presencial de Évora, entende que “perante atos eleitorais como elevada seguran- ça e fiabilidade como os nossos têm sido ao longo de 40 anos, há que ter um consenso amplo e a certeza de que as vantagens que se podem obter (e que correspon- dem, na maioria, a maior celerida- de da contagem) justificam as al- terações e investimento elevado a realizar em meios”. “Tudo o que não seja presencial não garante a fiabilidade desejável porque não garante quem efetivamente vo- tou”, frisa. Do PCP, o deputado António Fi- lipe manifesta também reticências. Em relação ao voto eletrónico pre- sencial, como foi o testado nas eu- ropeias de 2019 em Évora, aponta como “única vantagem deste siste- ma, usado em países como o Brasil e a Venezuela, a rapidez na conta- gem dos votos”, sendo um equipa- mento “muito caro”. Quanto ao voto eletrónico à distância, “não há como garantir que é o próprio que vota, além do risco de haver um ci- berataque que pudesse alterar os resultados”. Na UE, só a Estónia adotou o sistema Na União Europeia (UE) o voto eletrónico tem vindo a ser adotado em alguns países, a várias velocidades e em modalidades di- ferentes. O Estado membro que foi mais longe é a Estónia, país onde está localizado o centro de excelên- cia de cibersegurança da NATO e onde os eleitores podem votar pela internet. Na UE, a tecnologia em eleições podee tem sido utilizada em quatro áreas: registo dos votan- tes (cadernos eleitorais), o que acontece, por exemplo em Portu- gal, na votação propriamente dita, na contagem dos votos e na difu- são dos resultados. A Estónia tem tecnologia nas quatro áreas. A França também, mas de forma mista, digital e papel. Outros países têm digital apenas em algumas das quatro áreas: Portugal, Espanha, Hungria, Itália, Reino Unido, entre outros. Fora da UE, países como Brasil, Canadá, Venezuela, Para- guai, Suíça e EUA também utilizam esta tecnologia em eleições – este último com o voto por correspon- dência a ganhar destaque nas re- centes eleições presidenciais, por causa da pandemia. O Conselho da Europa continua a ser a única orga- nização da UE que estabeleceu pa- drões intergovernamentais no campo do voto eletrónico. Consi- dera que “o direito de voto está na base da democracia e que, conse- quentemente, todos os canais de votação, incluindo o e-vote, devem respeitar os princípios das eleições democráticas e dos referendos”. Em junho de 2017 fez várias reco- mendações aos Estados membros na introdução desta tecnologia, entre as quais “respeitar todos os princípios de eleições e referendos democráticos e avaliar e combater os riscos através de medidas ade- quadas, em particular no que se re- fere aos riscos específicos do canal de votação eletrónica”. A UE assi- nala que “o uso de tecnologias de informação e comunicação pelos Estados membros nas eleições au- mentou consideravelmente nos úl- timos anos e que alguns países “já usam ou estão a considerar usar o voto eletrónico para vários fins, in- cluindo permitir que os eleitores votem de um local diferente da as- sembleia de voto no distrito de vo- tação; facilitar o voto aos seus na- cionais residentes no estrangeiro, alargar o acesso ao processo de vo- tação para os eleitores com defi- ciência, aumentar a participação dos eleitores, fornecendo canais de votação adicionais”. de ir aos respetivos consulados, é incompreensível”, recordando “várias propostas do PSD para que o voto dos emigrantes nas presi- denciais fosse como nas legislati- vas (por correspondência)”. “Esta rigidez constitucional e legislativa não favorece a maior participação “Nas atuais circunstâncias da pandemia, fica cada vez mais claro que a obrigatoriedade do voto presencial, como é o caso dos emigrantes que têm de ir aos respetivos consulados, é incompreensível.” Luís Marques Guedes, PSD ”Tudo o que não seja presencial não garante a fiabilidade desejável porque não garante, efetivamente, quem votou” Pedro Delgado Alves, PS Évora, que custou 1,45 milhões de euros: “Os computadores e equipa- mentos de comunicações utiliza- dos no projeto-piloto em Évora fo- ram distribuídos pelas forças de se- gurança. Os equipamentos de votação eletrónica utilizados foram alugados para aquele ato.” Nem as longas filas de espera em várias mesas de voto por todo o país impediram que votassem antecipadamente cerca de 198 mil eleitores, no passado domingo. Segundo o Ministério da Administração Interna, este valor corresponde a mais de 80% do total de inscritos na modalidade de voto antecipado em mobilidade para as eleições para o Presidente da República. De acordo com os dados reportados pelas câmaras municipais à Administração Eleitoral, votaram 197 903 eleitores nos 308 concelhos do continente e das regiões autónomas dos Açores e da Madeira. O número de inscritos era de 246 880 eleitores, um recorde absoluto. Recorde-se que esta modalidade de voto antecipado se tinha realizado, nos dois últimos atos eleitorais, apenas nas capitais de distrito e nas ilhas das regiões autónomas. Nesta eleição, foi alargada a todos os concelhos. Nas eleições para a Assembleia da República de 2019, votaram antecipadamente 50 638 pessoas. Votaram 80% dos inscritos no voto antecipado 8 EM FOCO Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias PE D RO P IN A /R TP /L U SA Sob suspeita de estar infetado com covid-19, Marcelo Rebelo de Sousa participou no debate televisivo entre todos os candidatos por videoconferência, a partir de casa. PA U LO N O VA IS /L U SA EP A /M A RI O C RU Z P ED RO R O C H A /G LO BA L IM AG EN S Marcelo saiu pouco, mas não deixou os afetos em casa. A fila para o voto antecipado em Lisboa, na Cidade Universitária. João Ferreira viajou na Linha do Vouga, em defesa da ferrovia. Tiago Mayan foi correr à beira Tejo, junto ao Palácio de Belém. N U N O F O X /L U SA Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 9 Nem arruadas, nem comícios, nem multidões, nem beijinhos, nem selfies: acabou a mais insólita das campanhas eleitorais. TEXTO SUSETE FRANCISCO Termina nesta sexta-feira a campanha elei- toral mais insólita e atípica de sempre: sem arruadas, sem comícios, sem banhos de multidão. Às vezes, até sem candidato. Não houve beijinhos nem selfies, ouviram-se in- sultos – pouco comuns na política portugue- sa –, que transformaram o batom vermelho em mensagem política. Houve um protesto violento (outra raridade). E um tema central inevitável e omnipresente: a pandemia. Com as ações de rua crescentemente limi- tadas – o confinamento apanhou a campa- nha a meio –, o confronto político centrou-se, sobretudo, nos debates televisivos que opu- seram todos os candidatos. E que foram pal- co para as notórias convergências das três candidaturas da esquerda – Ana Gomes, Ma- risa Matias e João Ferreira – e as ainda mais notórias divergências de todos os candidatos com André Ventura. Nomeadamente os do espaço político da direita, Marcelo Rebelo de Sousa e Tiago Mayan. Recandidato ao cargo, que todas as sonda- gens dão como vencedor folgado, Marcelo pouca campanha fez para lá dos debates e entrevistas – saiu pela primeira vez à rua ape- nas ao sexto dia. Uma atitude que esteve na mira de Ana Gomes, que do início ao final acusou o recandidato de desvalorizar as elei- ções. Ontem, foi o próprio Marcelo a afirmar- -se preocupado, apontando como “quase inevitável” uma segunda volta caso a absten- ção atinja os 70%. E foi dizendo que “ter uma segunda volta com uma epidemia como esta, com mais três semanas de campanha, é uma exigência acrescida”. Ana Gomes, que concorre sem o apoio do PS – a cúpula dos socialistas está, em larga medida, ao lado de Marcelo –, fez mira per- manente ao atual Presidente da República, criticando o que fez (a viabilização do gover- no dos Açores) e sobretudo o que não fez. Ainda à esquerda, Marisa Matias (uma repe- tente que há cinco anos recolheu 10,2% dos votos) e João Ferreira levaram para a campa- nha presidencial as principais bandeiras do Bloco de Esquerda e do PCP. Tal como Tiago Mayan Gonçalves, candidato da Iniciativa Liberal, que saltou do anonimato para agi- tar a a bandeira dos liberais. Tanto (ou mais) que os candidatos, são também os partidos que medem forças no ato eleitoral deste do- mingo. O mesmo (em versão “o partido sou eu”) é válido para André Ventura, que fez uma campanha a disparar em todas as dire- ções, mais do que uma vez a resvalar para o insulto, e mede forças neste domingo com a esquerda em geral e Ana Gomes em particu- lar. Por último, Vitorino Silva, o autodenomi- nado candidato “do povo”, que “como o povo” foi para casa no dia do confinamento, e se apresenta pela segunda vez às urnas nas presidenciais (e da última vez saiu com 150 mil votos). Vitorino Silva foi ao Hospital de São João, no Porto, doar sangue. Ana Gomes num gesto que se transformou num protesto contra Ventura. Marisa Matias com Pilar del Río, num comício virtual no Capitólio. André Ventura cumprimenta Marine Le Pen... com o braço esquerdo. ES TE LA S IL VA /L U SA JO SÉ S EN A G O U LÃ O /L U SA TI AG O P ET IN G A /L U SA D IA N A Q U IN TE LA / G LO BA L IM AG EN S 10 POLÍTICA Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias Desgaste do governo. “Não se pode fazeracordos com os vírus, que não têm afetos” PANDEMIA Analistas políticos consideram que o governo, o Presidente e até os partidos vão sair mal na fotografia desta pandemia, perante portugueses que deixaram de “ter medo da autoridade do Estado” e que dão sinais de “desconfiança” nas instituições. TEXTO PAULA SÁ Asituação dramática da pandemia em Portugal, com o número recorde de infeções por covid e de mortos a ser batido todos os dias, vai afetar seriamente a relação do país com o executivo? Os analistas polí- ticos e sociais, embora ainda com dúvidas sobre o impacto das novas medidas de confinamento e dos avanços e recuos entre o Natal e a data presente, entendem que sim, sobretudo ao nível da confiança dos cidadãos nos seus governantes. “A autoridade do Estado foi cla- ramente posta em causa”, diz ao DN António Costa Pinto, o que re- mete para o facto de as pessoas não estarem a respeitar as medidas de confinamento decretadas pelo go- verno. “No primeiro confinamen- to, o medo associado à autoridade do Estado funcionou. Agora já não funcionou”, afirma o politólogo. E sublinha que “não vale a pena culpar a sociedade, ainda para mais numa sociedade como a nos- sa, onde o negacionismo é escas- so”. A resposta da sociedade a esta nova fase da pandemia deriva de outro fator: “Existe a perceção de que os decisores políticos não atuaram com base em evidência científica e ainda que não imple- mentaram as decisões.” O professor universitário Viriato Soromenho-Marques é ainda mais taxativo sobre as consequências desta última fase de resposta à cri- se de saúde pública, em que critica fortemente “todos os erros cometi- dos” e para os quais “têm de existir responsáveis”. “Temos uma crise sanitária, uma crise económica, que vai causar imenso sofrimento, e uma crise de confiança no gover- no e nas instituições. É um pacote muito duro. A casmurrice vai sair muito cara”, considera. Viriato Soromenho-Marques faz o historial do que considera terem sido os erros capitais e que condu- ziram a esta terceira vaga agressiva de covid. É incompreensível, diz, que se tenha tido uma política de abertura no Natal, em que os nú- meros de infetados e de mortos já era elevado, e quando todas as evi- dências internas e externas apon- tavam no sentido contrário. “Como se o Natal fosse um direito constitu- cional! Os governos existem para cuidar da vida das pessoas, não para as festividades do Natal.” Os políticos profissionais, como António Costa, frisa, “estão habi- tuados a fazer acordos, mas não se consegue fazer acordos com os ví- rus, que não têm afetos, e são eles que ditam o que vamos fazer”. E como académico que é vai aos dados que foram tornados públi- cos, a 11 de dezembro, em dois es- tudos, um do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e outro do Instituto Superior Técnico da de Lisboa, em que ambos apon- tavam para a perda de mais 1500 vi- das com um abrandamento das medidas do estado de emergência no período das festas. “António Costa sabia disto, a oposição sabia disto, o Presidente sabia disto. Esti- vemos a jogar um desporto radical com o vírus, quando avançamos e ainda com todo o sistema escolar a funcionar”, afirma Viriato Sorome- nho-Marques, que recorda que as escolas abertas representam 25 % da população em circulação. Recorda que o maior crescimen- to das infeções se deu nas faixas etá- rias entre os 13 e os 20 anos. “Esta- mos numa situação de guerra, e numa situação destas não podemos mandar os nossos estudantes para locais onde vão ser alvo de bombar- deamento do inimigo”, diz momen- tos antes de o primeiro-ministro, saído do Conselho de Ministros, anunciar que as escolas e as univer- sidades fecham durante 15 dias. E António Costa assumiu o recuo na decisão de manter os estabeleci- mentos de ensino a funcionar com António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa têm estado em sintonia na gestão da pandemia. Retrato destes dias Desconfinar no Natal A 5 de dezembro, António Costa anunciou que no Natal os portugueses iam descomprimir das medidas do estado de emergência, com liberdade de circulação entre concelhos e sem restrições a reuniões familiares. No Ano Novo o aperto foi maior, mas ainda assim foi permitida a circulação na via pública até às 23.00 de dia 31. Aperto no Ano Novo “Temos de cortar completamente as celebrações do Ano Novo.” Foi assim que António Costa recuou nas celebrações e pôs todo o país em confinamento, mesmo os concelhos de baixo risco de infeção. Neste dia, e seguindo a tendência, a DGS registava mais 4320 infetados e mais 87 mortos por covid-19. Costa confinado em São Bento A 19 de dezembro, o primeiro- -ministro ficou em isolamento profilático na residência oficial, em São Bento, até ao dia 29 do mesmo mês. António Costa foi considerado contacto com exposição de alto risco depois de ter estado com o presidente francês, que estava infetado, embora tenha testado negativo. Vacinação arranca No dia 27 de dezembro arrancou o processo de vacinação contra a covid-19. Os primeiros vacinados foram profissionais da saúde, auxiliares, médicos, enfermeiros e técnicos de diagnóstico e terapêutica. Nessa altura a DGS registava, e porque se tratava de um domingo, 1577 novos infetados e 63 mortos. Presidência da UE e vacinação O tema da vacinação foi o foco no arranque formal da presidência portuguesa da União Europeia, a 5 de janeiro. No CCB, e ao lado de Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, Costa avisa que o processo vai ser “demorado” e durar todo o ano de 2021. Neste dia houve mais 4956 casos de infeção no país e 90 mortos. Soromenho-Marques faz um paralelo dramático: “Até final de fevereiro, vamos ter mortos em número igual ou superior a todos os mortos na Guerra Colonial.” Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 11 a maior prevalência da nova varian- te inglesa do vírus e que atinge as ca- madas mais jovens da população. Viriato Soromenho-Marques faz um paralelo dramático do que irá acontecer até ao final do mês de fe- vereiro dada a dimensão da pande- mia. “Vamos ter mortos em núme- ro igual ou superior a todos os mor- tos na Guerra Colonial”. “Não podemos deixar passar isto e dizer ‘obrigadinho’. Quando isto abrandar não poderá ser esqueci- do por que estão a morrer muitas pessoas e outras a sofrer. Não há um só responsável.” O professor universitário inclui no lote dos res- ponsáveis o governo, primeiro-mi- nistro, Presidente da República e até os partidos. O comentador político Pedro Marques Lopes acredita que a po- lítica de gestão da pandemia terá “efeitos políticos demolidores” para o governo num futuro próxi- mo. Até pelo efeito da “tremenda” crise económica que vai gerar. “As pessoas já não estão tolerantes e sentem que as coisas não estão a ser bem geridas”, diz. Mas afasta a possibilidade de um julgamento mais duro com o governo ditar uma crise política séria. “Espero que sobre algum pingo de cons- ciência nos decisores políticos. Se com uma crise desta dimensão sa- nitária e a brutal crise económica juntássemos uma política, era de internar os decisores políticos.” Até quando o apoio? A politóloga Sofia Serra Silva, in- vestigadora da Universidade Nova, corrobora da perspetiva de Mar- ques Lopes: “Não creio que as pos- síveis fragilidades, a existir, na ima- gem do governo acarretem uma potencial crise política. Quer o BE e o PCP nas suas últimas interven- ções têm adotado uma abordagem de procurar soluções e debater es- sas mesmas soluções numa lógica, sobretudo, de cooperação e não de conflito ou contestação. Para além disso, há um consenso generaliza- do de que uma crise política sobre- posta a uma crise pandémica é to- talmente desnecessária e contra- producente.” Sofia Serra Silva recorda que a ciência política tem indicado um fenómeno interessante , conheci- do como “rally around the flag”, que sugere que em tempos de crise, quandoum país está amea- çado, como tem acontecido com a situação pandémica, os cidadãos unem-se em torno dos seus líderes. O que se traduz em aumentos de popularidade dos líderes políticos e dos níveis de confiança e de apoio depositado pelos cidadãos naque- les que estão liderar a resposta à ameaça existente. “A questão é saber se esse apoio nos primeiros tempos se mantém ao longo do tempo. O que sabe- mos é que esse apoio não dura para sempre e que a sua duração depende de vários fatores, nomea- damente da resposta, mais ou me- nos eficiente, dos líderes políticos à situação pandémica”, diz a inves- tigadora. “Resta, portanto, saber o efeito das últimas medidas e o im- passe recente na tomada de deci- são relativamente às restrições existentes durante o confinamen- to e sobre o encerramento das es- colas.” Na sua opinião, todos os recentes impasses na tomada de decisões “podem deixar, possivelmente, marcas na imagem do governo.” 53 exceções à emergência A 13 de janeiro, o governo aprova novas medidas para mais um período de estado de emergência. As medidas de confinamento têm 53 exceções, entre as quais as escolas e universidades abertas e são permitidas as missas. Neste dia, já as autoridades de saúde davam conta de 10 556 novas infeções e mais 156 mortos. Aperto nas medidas Cinco dias após as novas medidas, o primeiro-ministro pediu, em tom dramático, ao país para respeitar o confinamento perante os números avassaladores da pandemia. Apertou a malha das medidas, entre as quais a proibição da venda ao postigo, mas não fechou as escolas. A DGS reportava 6702 casos e 167 mortos. Escolas encerram Depois de um coro de críticas da oposição, de muitos apelos de todos os setores, incluindo Ordem dos Médicos e Fenprof, o governo aprovou ontem o encerramento de todos os graus de ensino por 15 dias para travar a disseminação da nova variante inglesa do vírus. Dia de recorde de infeções, 13 544, e de mortos, 221. (N AT AC H A /C A RD O SO / G LO BA L IM AG EN S) Há 702 doentes nos cuidados intensivos Portugal registou ontem mais 221 mortes (novo má- ximo, depois dos 219 óbi- tos do dia anterior) e 13 544 casos de covid-19 (menos 1103 do que os registados na véspera). De acordo com os dados do bo- letim epidemiológico da Direção- -Geral da Saúde, o número de hos- pitalizados e de doentes em cuida- dos intensivos mantém uma tendência de crescimento. Estão agora nos hospitais 5630 doentes infetados com o novo coronavírus, mais 137 do que no dia anterior, dos quais 702 estão em unidades de cuidados intensivos – um acrés- cimo de 21 pessoas em 24 horas. Nesta altura há 151 226 casos ati- vos de covid-19 no país. No dia de ontem foram dadas como recupe- radas 5873 pessoas. No total contabilizam-se 595 149 infetados em Portugal, desde mar- ço do ano passado, 434 237 foram dados como recuperados. Já mor- reram em Portugal 9686 pessoas em consequência da covid-19. A região de Lisboa e Vale do Tejo continua a registar o maior núme- ro de novos casos – 5401 – e tam- bém de óbitos: 85 nas últimas 24 horas. A norte houve 4510 novos casos e 53 mortos. Segundo os dados do boletim da Direção-Geral da Saúde, a região Centro ultrapassou o Norte em nú- mero de mortos: 59. Quanto aos novos casos, foram 2539. No que respeita às faixas etárias há mais um óbito a registar entre os 30 e os 39 anos e outro entre os 40 e os 49 anos. No grupo etário entre os 50 e os 59 anos há a registar oito mortes. Nas últimas 24 horas mor- reram 145 pessoas com mais de 80 anos. Variante britânica ganha terreno em Portugal Segundo avançou ontem o primei- ro-ministro, António Costa na conferência de imprensa após o Conselho de Ministros em que foi decidido o encerramento das es- colas nas próximas duas semanas, a variante inglesa do novo corona- vírus está rapidamente a ganhar terreno – tinha uma prevalência de 8% na semana passada em Portu- gal, nesta semana está nos 20% e pode vir a atingir os 60%. A minis- tra da Saúde, Marta Temido, tam- bém já tinha avançado o mesmo número em entrevista à RTP3, na noite de quarta-feira, afirmando que a nova variante do coronaví- rus “pode atingir os 60% de inci- dência em novos casos dentro de mais uma semana, até ao final do mês”, no que é “uma aceleração da transmissão”. Recorde-se que o número de novos contágios atin- giu um pico de 14 647 casos na úl- tima quarta-feira, passando assim a barreira dos 14 mil casos que al- guns epidemiologistas já estavam a antecipar – mas com as previsões a apontarem para a última sema- na do mês. No programa Grande Entrevista da estação pública, a ministra da Saúde falou ainda na pressão que está a ser vivida pelos profissionais de saúde em vários hospitais do país. “Os profissionais de saúde têm-nos levado a acreditar que conseguem sempre fazer mais um pouco, mas neste momento sinto que estamos muito próximo do li- mite e que há situações em que es- tamos no limite”, afirmou Marta Temido. BOLETIM Portugal atingiu ontem um novo máximo no número de mortes: 221 óbitos em 24 horas. Internados em UCI passaram pela primeira vez a barreira dos 700. 221 Mortes O número de óbitos em 24 horas atingiu um novo máximo, somando mais duas mortes às registadas no dia anterior. Em números globais, já morreram em Portugal 9686 pessoas com covid-19. 13 544 Contágios O número de novos casos decaiu ontem, depois de ter atingido um pico de 14 647 contágios no dia anterior. No total contabilizam-se 595 149 infetados em Portugal. Atualmente há 151 226 casos ativos. 12 POLÍTICA Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias que “tem de ter um rumo mais cer- to”. Rio concluiu a conferência de imprensa apelando à participação de todos nas presidenciais (“vão vo- tar no domingo, é uma eleição mui- to importante, as pessoas têm de fa- zer esse sacrifício”), pedindo o voto em Marcelo, e pedindo também veementemente aos portugueses para que cumpram as regras do confinamento, visto que “a situação de Portugal não é muito diferente de uma situação de guerra”. À direita do PSD, o CDS afirmou, através de Telmo Correia (líder par- lamentar), esta “era uma decisão que era inevitável, incontornável” e até “uma decisão positiva”. Contudo, tal como Rui Rio, Tel- mo Correia também salientou as mudanças de posição do governo – e o facto de, ainda na terça-feira, Escolas fechadas. Ministro tem 15 dias para resolver ensino à distância COVID-19 Alegando com os efeitos da nova variante inglesa do SARS-CoV-2, o governo decretou o encerramento total de todos os níveis de ensino. E sem aulas à distância. Dirigente escolares pressionam regresso da formação online. Exatamente uma semana depois de ter sido publica- do o decreto do governo que determinou um regres- so ao “dever geral de recolhimento” mantendo-se todos os níveis de en- sino abertos, o governo decide exa- tamente o contrário: fecham todas as escolas, das creches às universi- dades, ATL incluídos. E mais: não haverá, desta vez, ensino à distân- cia. Serão, para todos os efeitos, fé- rias de emergência de, pelo menos, quinze dias. Findo este período o governo reavaliará. Esta paragem será compensada retirando dias às pausas letivas e acrescentando uma semana ao ano letivo. O que parece estar a desenvol- ver-se, no entanto, são pressões para que findos estes quinze dias as escolas permaneçam fechadas – mas com ensino online. Ouviram- -se exigências nesse sentido das es- colas privadas e também da Asso- ciação Nacional de Dirigentes Escolares. Em conferência de im- prensa, o ministro da Educação ad- mitiu que o ensino à distância será ponderado após este encerramen- to de 15 dias. Assegurou ao mesmo tempo que “há mais de 300 mil computadores nas escolas”. António Costa, que anunciou a medida depois de mais uma reu- nião do Conselho de Ministros, jus- tificou-a com a incidência da cha- mada variante inglesa do SARS- -CoV-2. “Nós adotamos as medidasem função dos dados que existem. Não dos dados que existiram nem dos dados que imagino que ve- nham a existir. Tivemos de adotar as medidas que se impõem para evitar um crescimento desta dinâmica.” Dito de outra forma: o primeiro- -ministro recusa ter atuado pres- sionado pelo coro quase unânime na sociedade civil – começando pelas organizações dos professores e passando pelas organizações de médicos e pelos especialistas em epidemiologia ouvidos na quarta- -feira à noite pelas ministras da Saúde e da Presidência e pelos mi- nistros da Educação e do Ensino Superior. O boletim da Direção- -Geral da Saúde revelou ontem um novo recorde de mortos em 24 ho- ras: 221. Foram registados 13 544 novos infetados. O governo foi ao encontro do que o PSD exigia – mas o PSD rea- giu endurecendo o tom das críticas ao governo. Em causa, o facto de as aulas presenciais não terem sido substituídas por aulas à distância. “Isto é um desgoverno”, disse, em conferência de imprensa, o líder dos sociais-democratas, Rui Rio, sublinhando como o governo pas- sou numa semana de uma decisão para outra exatamente oposta – e pegando também nas hesitações do executivo acerca dos ATL (pri- meiro manteve-os fechados, de- pois reabriu e logo a seguir fechou- -os outra vez). “Há momentos em que é preciso dar um abanão para ver se o gover- no entra na linha”, disse ainda o lí- der do PSD, afirmando que o gover- no “assim não pode continuar” e TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES e PAULO RIBEIRO PINTO (DINHEIRO VIVO) “Há uma semana, os dados que existiam é que esta estirpe [britânica] tinha uma prevalência reduzida. Nesta semana, teve um crescimento muito significativo.” António Costa Primeiro-ministro PORTUGAL ESPANHA FRANÇA ITÁLIA REINO UNIDO IRLANDA BÉLGICA ALEMANHA NORUEGA SUÉCIA DINAMARCA POLÓNIA BIELORRÚSSIA LETÓNIA LITUÂNIA ESTÓNIA FINLÂNDIA UCRÂNIA MOLDÁVIA ROMÉNIA BULGÁRIA GRÉCIA TURQUIA SÉRVIA HUNGRIA ESLOVÁQUIA ÁUSTRIA HOLANDA ISLÂNDIA LUXEMBURGO CROÁCIA ALBÂNIA Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 13 na Assembleia da República, Antó- nio Costa ter defendido, de forma “quase arrogante”, que as escolas deveriam manter-se abertas. “A preocupação que nos fica é que o governo está completamente des- norteado”, afirmou o líder parla- mentar dos centristas. Segundo o anunciado, as escolas só ficarão abertas para os filhos até 12 anos de profissionais de setores essenciais (pessoal hospitalar, po- lícias, etc.). E os alunos beneficiá- rios da ação social escolar conti- nuarão a beneficiar disso, com re- feições nas escolas. Já os pais obrigados a faltar ao trabalho por terem filhos agora em casa (até aos 12 anos) serão pagos a 66% (um apoio idêntico ao do pri- meiro confinamento). As ativida- des para crianças com necessida- des educativas especiais também não serão interrompidas. O Conse- lho de Ministros decidiu ainda o encerramento das Lojas de Cida- dão, mantendo-se o atendimento por marcação noutros serviços pú- blicos, e a suspensão nos tribunais de todos os prazos não urgentes. António Costa justificou o facto de ter sido tentado, até ao limite, manter as escolas abertas afirman- do que “a interrupção de atividades letivas é profundamente danosa para o processo de aprendizagem” – e “não é suscetível de compensa- ção”. “Não há dinheiro que pague o dano que esta medida causa no processo de desenvolvimento de uma criança, ou na perturbação do seu processo de aprendizagem. Se isto já foi mau no ano letivo ante- rior, dois anos letivos sucessivos com problemas provocados por in- terrupções no processo de apren- dizagem tem danos muito acresci- dos”, acrescentou. “Quisemos evitar, mas não po- demos evitar face à alteração do ví- rus. Apesar de os especialistas dize- rem que aparentemente este vírus não afeta mais a saúde, dizem que parece ter mais carga viral e tem uma velocidade de transmissão muito superior. O risco de espalhar este vírus na sociedade aumentou”, afirmou ainda. E isto salientando, pelo meio, repetidamente, que “as escolas não foram nem são o prin- cipal foco de transmissão”. Segundo salientou, a intenção do governo é que a interrupção da atividade letiva “seja de curta dura- ção e que tenha a sua devida com- pensação no calendário escolar, seja no Carnaval ou na Páscoa, ou na interrupção de verão”. Candidatos apoiam Entre as candidaturas presiden- ciais, Ana Gomes disse que as me- didas eram expectáveis. “Como eu tinha antecipado, penso que estas medidas eram de esperar. Com- preendo que o governo as tenha de- cretado tendo em atenção a pro- gressão assustadora da pandemia e a necessidade de intervir rapida- mente para achatar a curva e dimi- nuir a pressão na linha da frente dos hospitais”, afirmou aos jornalistas. Já Marisa Matias, candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda, considerou que “todas as medidas que nos permitam salvar vidas são absolutamente necessárias, sem- pre tive de acordo com elas”. Contu- do, sublinhou em simultâneo, que “a par dessas medidas”, o governo deve disponibilizar “os apoios que são necessários para que as pessoas possam manter a sua vida, com di- gnidade e com o mínimo de con- forto a que têm direito”. Missas também fecham A questão dos apoios às famílias es- teve no centro das preocupações manifestadas pelo candidato do PCP. “Eu acho que era importante que o governo ponderasse essa de- cisão, não me parece adequada uma penalização das famílias que tenham de ficar sem um terço do vencimento”, disse João Ferreira. Entretanto, a Conferência Epis- copal Portuguesa decidiu também um novo encerramento das mis- sas presenciais – no sábado já não poderão ser celebradas. Na quin- ta-feira da semana passada, a hie- rarquia da Igreja Católica já tinha determinado a suspensão ou o adiamento das celebrações de ba- tismos, crismas e matrimónios, tendo em conta a “gravíssima si- tuação” da pandemia. A partir de hoje e, pelo me- nos nos próximos 15 dias, mais de 170 mil pais vão ficar em casa para acom- panhar os filhos que ficam sem au- las. A medida foi anunciada ontem pelo primeiro-ministro depois de o governo ter decidido encerrar as escolas de todos os níveis de ensi- no na tentativa de travar a propaga- ção da covid-19. Tomando por referência o mês de março do ano passado, quando as escolas também foram encerra- das, 172 274 trabalhadores benefi- ciaram do chamado apoio excecio- nal à família. De acordo com os dados dispo- nibilizados pelo Ministério do Tra- balho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) referentes a março de 2021, a esmagadora maioria (87%) dos beneficiários deste apoio eram trabalhadores por conta de outrem (149 796), 12% eram trabalhadores independen- tes e 1,4% trabalhadores de serviço doméstico. Nesse primeiro mês em que vi- gorou o apoio excecional à família, a medida custou cerca de 14 mi- lhões de euros. O DN/Dinheiro Vivo questionou o gabinete da mi- nistra do Trabalho, mas não obteve um valor previsto para este novo confinamento geral. O apoio durou até ao final do ano letivo, abrangendo cerca de 200 mil pessoas, isto porque a prestação poderia ser alternada entre os pais. Milhões de alunos Só para os alunos até aos 12 anos, ou seja, pré-escolar e ensino bási- co, estamos a falar de cerca de 1,2 milhões de crianças que vão ficar em casa nos próximos 15 dias e que precisam de acompanhamento de um dos pais. De acordo com os dados mais re- centes do Ministério da Educação, referentes ao ano letivo 2018-2019, no pré-escolar estavam inscritas cerca de 244 mil crianças, no ensi- no básico cerca de 970 mil alunos. No secundário encontravam-se inscritos perto de 400 mil alunos. Estes dados dizem respeito ao en- sino público e privado. Ao contrário do que aconteceu durante o encerramento das esco- las no ano passado, nos próximos 15 dias não haverá ensino à distân- cia, sendo este período recuperado mais tarde. Independentes com um terço “O apoio seráatribuído nos moldes em que foi atribuído em 2020”, refe- Mais de 170 mil em casa com os filhos sem aulas APOIO Trabalhadores por conta de outrem recebem 66% do salário. Período para calcular vencimento ainda a definir para independentes, que recebem um terço dos rendimentos. TEXTO MARIA CAETANO e PAULO RIBEIRO PINTO re o MTSSS em resposta ao DN/Di- nheiro Vivo. E, por isso, clarificou o Instituto de Segurança Social na sua página ainda ontem, dará direito ao pagamento de dois terços do salá- rio-base dos trabalhadores por conta de outrem, até um máximo de 1995 euros, e assegurando um mínimo de 665 euros, tal como em março do ano passado. O encargo foi então repartido entre Segurança Social e empregadores, no caso dos trabalhadores por conta de outrem. O mesmo apoio está também aberto a trabalhadores indepen- dentes e do serviço doméstico. No caso dos primeiros, estes terão di- reito a um apoio correspondente “a um terço da base de incidência contributiva”, esclarece o MTSSS. O valor será de um mínimo de 438,81 euros, com um teto de 1097 euros. Mas o período de referência dos rendimentos ainda será esclareci- do no decreto-lei. Já os trabalhadores domésticos deverão ter, tal como na primave- ra, direito a dois terços da remune- ração registada num período ain- da a determinar no decreto-lei já aprovado pelo governo. Aqui, tam- bém, repartidos entre a Segurança Social e empregadores, à partida. O apoio vai permanecer vedado a progenitores quando um deles esteja em regime de teletrabalho. “Não são abrangidas as situações em que é possível a prestação de trabalho em regime de teletraba- lho”, esclareceu a Segurança Social. “Caso um dos progenitores se en- contre em teletrabalho, o outro não poderá receber este apoio”, re- forçou. A Segurança Social disponibili- zou já ontem o modelo da declara- ção que os trabalhadores por con- ta de outrem terão de remeter às entidades empregadoras, que de- pois comunicam com a Segurança Social e asseguram os pagamentos. Apesar de implicar encargos também para os empregadores, o apoio ao salário dos pais não terá sido discutido na última reunião da concertação social, na quarta- -feira, segundo indicaram ontem ao DN/Dinheiro Vivo a UGT e a CGTP. Até à hora de fecho desta edição, não foi possível obter uma reação das confederações patro- nais que têm assento na concerta- ção social. maria.s.caetano@dinheirovivo.pt paulo.pinto@dinheirovivo.pt Escolas Encerramento total, das creches às universidades, passando pelos ATL. Não há sequer aulas online. Serão 15 dias (pelo menos) de férias de emergência, período que será compensado mais tarde. As escolas só permanecerão abertas para crianças até 12 anos filhas de profissionais dos setores essenciais e para servir refeições aos beneficiários da ação social escolar. As atividades de necessidades educativas especiais também funcionarão. Tribunais O Conselho de Ministros decidiu a suspensão nos tribunais de todos os prazos não urgentes, o que se traduzirá numa proposta que ainda terá de ser votada no Parlamento. Lojas de cidadão Foi decretado o encerramento das Lojas de Cidadão, mantendo-se o atendimento presencial mediante marcação, na rede de balcões dos diferentes serviços, bem como a prestação desses serviços através dos meios digitais e dos centros de contacto. As medidas decididas ontem Apenas os pais de filhos menores de 12 anos podem pedir apoio. RU I M A N U EL F O N SE C A /G LO BA L IM AG EN S “Não são abrangidas as situações em que é possível o teletrabalho” e só um dos pais pode receber o apoio de cada vez, esclarece o governo. 14 POLÍTICA Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias Areeleição de Marcelo Re- belo de Sousa como Pre- sidente da República “é a escolha certa e quase ób- via”. Quem o diz é Augusto Mateus, que não estranha a mobilização de apoios ao atual Presidente mesmo entre quem tem cores políticas di- ferentes. “Não é questão de ser so- cialista ou liberal ou outra coisa qualquer. É uma questão de equilí- brio e da importância do PR no re- gime semipresidencialista, não em tudo mas no que é fundamental. Os portugueses gostam desse po- der compensatório, do equilíbrio que dá” – e que faz especial sentido neste momento. Num contexto de crise diferente de qualquer outra que tenhamos vivido, o antigo ministro de Antó- nio Guterres defende uma respos- ta da saúde livre de ideologias e que integre todos os atores – público, privado e social – e lembra que à medida que esta crise se agrava ou se arrasta no tempo o governo per- de a simpatia dos portugueses. Pelo que sublinha: “Nós precisa- mos é de medidas úteis e justas, não de soluções simpáticas. E pre- cisamos dos apoios certos e que haja rigor e transparência na co- municação, que não tem havido.” Sem podermos recorrer às solu- ções conhecidas por se tratar de uma crise fundamentalmente di- ferente e geradora de desigualda- de, e que se tem enfrentado com “navegação ultra à vista”, gerando “extrema incerteza” – e com ela re- ceio e oportunismo –, Augusto Mateus defende ser essencial de- senhar medidas assertivas e que tratem todos por igual “pelas fun- ções que exercem na sociedade”, pesadas as devidas diferenças. “O trabalhador assalariado e o inde- pendente têm de ter iguais condi- ções, temos de ter princípios mui- to mais ativos e automáticos de partilha da dor”, explica. Como o lay-off simplificado, repartindo os custos em três partes iguais: em- presa, trabalhadores e Estado en- quanto representante da socieda- de. “Teria sido importante que to- dos países se alinhassem nisto perante quebras de procura bru- tais ou fecho de atividade.” Porque o problema não é financeiro, de quantidade de dinheiro, mas do tratamento que se lhe dá, provo- cando sentimento em alguns de estarem a ser maltratados e não verem a sua dor partilhada. “Há uma profunda desigualdade empresarial, setorial, regional, etc. dos problemas e com uma enorme amplitude de variação também a nível social. Temos profundíssima desigualdade entre assalariados e independentes, atividades sobre criatividade e cultura, de que disse- mos o melhor e que estão debaixo de água e outras comuns que estão bem melhor. A incerteza e a desi- gualdade nos impactos da pande- mia exigem de governos e cidadãos um comportamento inteiramente novo. Não se pode tentar resolver problemas que tínhamos antes de resolver o de saúde pública ou arris- camos criar profundas injustiças.” A esse nível, Augusto Mateus la- menta erros básicos de gestão. “Ninguém estava preparado para isto e não há culpa de governos – por piores que sejam –, mas preci- samos de lucidez e isso tem faltado em muitos aspetos.” A começar pela necessidade de pôr todos os serviços de saúde a funcionar em conjunto, para prestar serviço uni- versal, rápido e com qualidade. Fa- ria sentido a requisição civil? Ma- teus é perentório: “Não! Não faz ne- nhum sentido. O que é preciso é gerir a saúde com racionalidade. A sociedade portuguesa está con- sensualizada no que Marcelo tem expresso – apesar de atacado pelos outros candidatos: temos agentes privados, públicos e sociais e temos de garantir que existe um SNS pú- blico para todas as pessoas serem iguais na doença, mas temos mui- to a ganhar com a especialização e complementaridade de outro tipo de serviços.” E lembra que a vacina só foi possível “porque houve gran- de colaboração entre atores: incen- tivos fortíssimos públicos e mobi- lização de conhecimento privado”. Para uma saúde melhor e livre de ideologia, a funcionar para servir os portugueses, defende um conheci- mento aprofundado dos custos de referência, como há nos medica- mentos. “Se uma entidade conse- gue suportar melhor certos custos, pode beneficiar disso, se suporta pior é prejudicada. Os preços na saúde são fundamentais para a co- laboração e já devia haver planos de combate a pandemias e de oti- mização de recursos