Logo Passei Direto
Buscar
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
Fundado em 1864
www.dn.pt / Sexta-feira 22.1. 2021 / Ano 157.º / N.º 55 429 / € 1,70 / Diretor-geral editorial Domingos de Andrade / Diretora Rosália Amorim / Diretor adjunto Leonídio Paulo Ferreira / Subdiretora Joana Petiz
TODAS AS CAPAS
DAS PRESIDENCIAIS
EM DEMOCRACIA
GRÁTIS
SEGUNDA-FEIRA COM O SEU
DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Mulheres (ainda)
afastadas dos lugares
de decisão
59,7%
MARCELO REELEITO
PRESIDENTE
O ÚLTIMO DE QUATRO BARÓMETROS DN, JN E TSF
MANTÉM O ATUAL PRESIDENTE NO PATAMAR DOS 60 PONTOS
PERCENTUAIS. ANA GOMES ESTÁ NO SEGUNDO LUGAR,
MAS VENTURA APROXIMA-SE E VALE TANTO
COMO FERREIRA E MARISA SOMADOS.
PÁG S . 4 - 5
VOTO ELETRÓNICO
23 ANOS DE TESTES
E NENHUM RESULTADO
PÁG S . 6 -7
AUGUSTO MATEUS
“IDEOLOGIA NA SAÚDE
DEMONSTRA FALTA
DE LUCIDEZ”
PÁG. 1 4
EVASÕES
10 IDEIAS PARA
O CONFINAMENTO
DE VOLTA A CASA: COZINHAR,
BRINCAR, FAZER EXERCÍCIO,
RIR, ESCREVER E CULTIVAR
Presidente da
Câmara de Leiria
Covid mostrou
que são os autarcas
e não o Estado que
resolvem problemas”
PÁG S . 2 0 - 2 1
Desgaste
do governo
O preço político
do fecho das escolas
e da gestão
da pandemia
Ministro da Educação tem
15 dias para resolver o ensino
à distância. Está sob pressão
dos dirigentes escolares que
querem de volta as aulas online.
Analistas políticos afirmam que
o governo, os par tidos e Belém
vão sair mal na fotografia
da pandemia, perante os
portugueses, que deixaram
de ter medo da autoridade
do Estado” e dão sinais de
desconfiança” nas instituições.
PÁGS. 10-13
JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
Comissária
europeia
“União da Igualdade:
rumo à inclusão
de pessoas
com def iciência
PÁG. 1 7
PÁG. 1 6
Rece ssão à vista
em Por tugal e UE
Lagarde aler ta para
desenvolvimentos
a d ve r s o s n o vo s
devido ao coronavírus
PÁG. 1 8
SONDAGEM
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

2 EDITORIAL Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
H
oje só há uma certeza: é preciso achatar a curva de infetados e
mortos por covid-19. Todos os esforços devem ser feitos nesse
sentido. Dos transportes públicos ao teletrabalho, dos restau-
rantes às escolas. Não queremos perder mais portugueses
para a morgue por causa da pandemia e da nova variante importada do
Reino Unido. Um país onde falta população, e sobretudo população jo-
vem, não pode dar-se ao luxo de continuar a perder pessoas ao ritmo a
que está a acontecer, desde março do ano passado, catástrofe que se
agudizou depois do Natal.
Perder aulas presenciais, formação, educação e socialização entre os
jovens é mau? Sim, é péssimo. Mas perder a saúde ou perder a vida e fa-
zer que os pais e os avós possam também ver a vida em risco seria bem
pior. Hoje a cada seis segundos um português é infetado.
O que as famílias têm muita dificuldade em entender é por que razão
não se repete a experiência do ensino online. Mesmo correndo o risco
de alguma desigualdade social – porque nem todas as crianças têm
computadores, apesar das promessas do governo –, no primeiro confi-
namento o ensino à distância funcionou e também aconteceu de um
dia para o outro. Quem não tinha computador acompanhou pela RTP,
que fez um trabalho extraordinár io e emitiu uma espécie de tele-escola
dos tempos modernos. Professores e alunos adaptaram-se, ajustaram-
-se e conseguiram. Hoje não ser ia preciso reinventar a roda nem come-
çar do zero, bastaria repetir a receita que correu bem em março e que
ajudou crianças, adolescentes, jovens adultos e famílias a manter (par-
te) das suas vidas e o ensino. Tal como na saúde, na educação também
não havia um plano B preparado? Parece que não.
Nesta semana o governo anunciou que iriam começar os testes mas-
sivos nas escolas. Já agora, a esses testes anunciados que uso lhes será
dado? Os alunos deixarão de ser testados, podendo agora levar para
casa o vírus, sem o saberem? As perguntas dos portugueses são muitas.
Respostas precisam-se!
Qual é o plano B na
educaç ão e na saúde?
Rosália Amorim
Diretora do Diário de Notícias
EDITORIAL OPINIÃO
HOJE
ACONTECEU EM 1965
Paulo Baldaia
A ti, deus sol, entregamos
as nossas crianças em
sacrifício
PÁG. 15
Bruno Bobone
Porquê Marcelo
PÁG. 15
Helena Dalli
União da Igualdade: rumo
à plena inclusão das
pessoas com deficiência
PÁG. 17
Susana
Malcorra
A geopolítica em 2021:
há demasiado em jogo
para agirmos como meros
espectadores
PÁG. 23
Raul M.
Braga Pires
O dia em que Portugal
quase reconheceu a
Polisário e resgatou 17
pescadores de Aveiro
PÁG. 25
Victor Ângelo
Biden no trapézio e o
mundo na corda bamba
PÁG. 25
Uma multidão paralisou o Chiado para ver e tentar receber um
autógrafo de Amália Rodrigues a 21 de janeiro de 1965, noticiou
o DN no dia seguinte, dando conta da euforia em torno daquela
que já era, há muito, a rainha do fado.
Amália é cartaz, concedendo autógrafos na sucursal do Diário
de Notícias. Amália juntou uma multidão no Chiado e perturbou
o trânsito, podia ler-se no título e na entrada de uma peça na
primeira página do nosso jornal.
Amália Rodrigues – embaixatriz artística de Portugal no mundo
– e realmente uma das paixões de Lisboa. A sua ar te e a sua voz
não precisam de adjetivos, mas foi essa voz característica e a
maneira simples da artista que granjearam fama e a paixão que
todos lhe devotam. Se alguém tivesse ainda dúvidas disso,
bastava ter visto ontem, no Chiado, junto à sucursal do Diário de
Notícias, a multidão de admiradores ali concentrados, multidão
que acorreu ao simples anúncio de que Amália ia conceder
autógrafos”, explicava o DN, não poupando nas palavras para
enaltecer a artista, que não deu “mostras de fadiga” e
prosseguiu a sua tarefa com gestos de extrema gentileza a que
todos correspondiam com entusiasmo.
Na altura, a fadista levava mais de 20 anos de uma carreira que
já tinha extravasado fronteiras, como comprovam as atuações e
a venda massiva de álbuns em países como Espanha, Brasil,
França, Itália e Estados Unidos. Paralelamente, também já se
tinha estreado no cinema internacional. “Apesar de muitas
vezes andar longe de Lisboa, apesar dessas ausências, não é
esquecida, lia-se na primeira página do jornal.
Se ssão de autógrafos
de Amália paralisa Chiado
22.1.2021
Diretor-geral editorial Domingos de Andrade Diretora Rosália Amorim Diretor adjunto Leonídio Paulo Ferreira Subdiretora Joana Petiz Diretor-geral de conteúdos Afonso Camões
Diretores de arte Pedro Fernandes e Rui Leitão Diretor adjunto de arte Vítor Higgs Editores executivos Carlos Ferro, Helena Tecedeiro, Pedro Sequeira e Artur Cassiano (adjunto) Grandes repórteres
Ana Mafald a Inácio, Céu Neves, Graça Henriques e Fernanda Câncio Editores Lina Santos, Ricardo Simões Ferreira, Rui Frias, Filipe Gil, João Céu e Silva, João Pedro Henriques e Nuno Sousa Fernandes
Redatores Carlos Nogueira, Catarina Reis Pire s, César A, David Mandim, David Pereira, Filomena Naves, Isaura Almeida, Maria João Caetano, Paula Freitas Ferreira, Paula Sá, Susete Francisco, Susete Henriques,
Susana Salvador e Valentina Marcelino Fecho de edição Elsa Rocha (editora), Ângela Pereira e Nuno Carvalho Arte Eva Almeida (coordenadora), Fernando Almeida, Gonçalo Sena, Maria Helena Mendes, Marta Ruela
Rocha, Teresa Silva eTânia Sousa (infografia) Digitalização Nuno Espada (coordenador), Inês Nazaré, Paulo Dias e Pedro Nunes Dinheiro Vivo Joana Petiz (diretora) Evasões Pedro Ivo Carvalho (diretor )
Notícias Magazine Inê s C a rdo so ( di ret ora ) Conselho de Redação Ana Mafalda Inácio, Céu Neves, Graça Henriques, Maria João Caetano, Paula Sá; Carlos Nogueira e Rui Frias (suplentes) Secretária
de direção Elsa Silva Secretaria de redação Carla Lopes (coordenadora) e Susana Rocha Alves E-mail geral da redação dnot@dn.pt E-mail geral da publicidade
dnpub@dn.pt Contactos RuaTomás da Fonseca, Torre E, 5.º – 1600-209 Lisboa. Tel.: 213 187 500. Fax: 213 187 515; Rua de Gonçalo Cristóvão, 195, 5.º – 4049-011 Porto.
Tel.: 222 096 100; Rua João Machado, 19, 2.ºA – 3000-226 Coimbra. Tel.: Redação: 961 663 378; Publicidade: 969 105 615. Estatuto editorial disponível em www.dn.pt.
Tiragem média de dezembro de 2020: 20 735 exemplares.
Papelarias e quiosques, tal como atividade de jogos sociais, vão manter-se abertos mesmo durante o período de confinamento
que vigora no país durante um mês, desde ontem. Estes serviços estão entre os definidos como bens essenciais. A venda de
jornais deverá ficar assim assegurada ao manter-se aberta a rede de distribuição, tal como tinha acontecido no primeiro confina-
mento geral, em março do ano passado. C aso queira receber o jornal em casa, leia o QR Code na capa desta edição ou aqui
ao lado ou contacte a linha de assinaturas: 707200508.
DN TODOS OS DIAS EM BANCA. QUIOSQUES E TABACARIAS ABERTOS DURANTE O CONFINAMENTO
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 3
Saib a mais em: ret omar por t ugal.pt
IM AG E BY K A IQ UE R OC HA F R OM P E XE L S
10h00 | ABERT UR A
L eonor Fer rei ra
JORNA LIS TA TSF
Pedro Ar aújo
EDITORE XECU T IVOADJUN TO JN
10h05 | DEB AT E
Luís C a s tr o Henriques
PRESIDENTE DA AICEP
Maria C elest e Hagatong
P RE S ID E N T E D O CO NS E L H O DE A D MI NI S T R A Ç Ã O D A CO S EC
Paulo Pereira da Silva
PRESIDENTE E XECU TIVO DA RENOVA
Pedro B ar re to
A DM IN IS T R A D OR D O B A NC O BP I
Pedro Siz a V ieira
MI NI S T R O DE E S TA DO, D A EC O NO MI A E D A T R A N S ÃO D IG I TA L
M OD E R A Ç Ã O :
L eonor Fer rei ra
,
JORNA LIS TA TSF
Pedro Ar aújo
, EDI TORE XECU T IVOADJUN TO JN
11h20
| QUE STÕE S DO P ÚBLICO (v i a W h a t s A pp)
11h30 | ENCERR A MEN TO
p
25 JA NE IRO
A SSISTA
EM DIRE TO
jn.pt | tsf.pt |
LinkedIN Banco BPI
ALTO PATR OCÍNIO
PARCEIRO T ECNOLÓGICO
COMÉRCIO
IN T E RN A C ION A L
PUBLICIDADE
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

4 EM FOCO Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
Branco/
/nulo
1,1
+0,1 pp
Presidenciais 2021. Intenção de voto
Estimativa de resultados eleitorais, com distribuição de indecisos Abstenção
Últimos atos eleitorais
Adiamento das eleiçõesTendência
Variação e pontos percentuais face a dezembro de 2020
59,7 9,7
-1,7 pp
+1,7 pp
Ana Gomes André
Ventura
Tiago
Mayan
Tino de RansMarcelo de Rebelo
Sousa
%
%
15,4%
%
1,5
+1,5 pp
%
6%
Sem opinião
4,3
-1,3 pp
Marisa
Matias
%
5
-2,5 pp
João
Ferreira
%
%3,3
+2,2 pp
=
15,4%
4,3%
1,5%
5%
3,3%
62,7%
17,2%
7, 6 %
1,6%
4,7 %
1,5%
0%
10%
20%
60%
70%
Sond. outubro 2020 Sond. novembro Sond. dezembro Sond. janeiro 2021
61,4%
15,4%
8%
7, 5 %
5,6%1,1%
62,1%
16,3 %
6,6%
5,9 %
2,1 %1,1 %
59,7 %32%
Não deviam
ser adiadas
%
Deviam ser
adiadas
Legislativas
Presidenciais
Autá rq u i c a s
Legislativas
2015 2016 2017 2019
44,1%
51,3%
45%
51,4%
Marcelo R. Sousa
Ana Gomes
André Ventura
João Ferreira
Marisa Matias
Tiago Mayan
Tino de Rans
9,7 %
Marcelo Rebelo de Sou-
sa tem praticamente
garantida a eleição
no próximo domin-
go, mesmo que a abstenção possa
chegar, como se prevê, a uns im-
pressionantes 60%. De acordo
com a mais recente sondagem da
Aximage para o DN, JN e TSF, o
atual Presidente continua com 44
pontos de vantagem sobre a socia-
lista Ana Gomes. O candidato da
direita radical, André Ventura,
mantém a trajetória de subida,
mas fica no terceiro lugar. No en-
tanto, vale mais do que a soma do
comunista João Ferreira e da blo-
quista Marisa Matias, ambos em
queda. Tiago Mayan ganha fôlego
e Vitorino Silva aparece finalmen-
te no radar.
Mais do que uma antecipação
de resultados, esta sondagem da
Aximage sobre as eleições presi-
denciais deve ser olhada como a
quarta e última de uma série de
barómetros, a partir dos quais é
possível perceber tendências.
E uma das tendências mais evi-
dentes aponta para uma absten-
ção a rondar os 60%, com efeitos
imprevisíveis, não só sobre os re-
sultados finais, como sobre as po-
sições relativas de cada candidato
(ver texto secundário). Acresce que
o trabalho de campo deste inqué-
rito decorreu até 15 de janeiro, o
que significa que já não mede os
efeitos da última semana de cam-
panha. E muito menos a forma
como a evolução desenfreada da
pandemia nos últimos dias pode
Marcelo
a caminho da reeleição para
Pre sidente da República
Barómetro
Última de quatro sondagens mantém o atual
Presidente no patamar dos 60 pontos
percentuais. Ana Gomes está no segundo lugar,
mas Ventura aproxima-se e vale tanto como
Ferreira e Marisa somados.
TEXTO RAFAEL BARBOSA
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 5
Evolução das sondagens
FICHA TÉCNICA
A sondagem foi realizada pela Aximage para o
JN, TSF e DN, com o objetivo de avaliar a opinião
dos portugueses sobre a atualidade política. O
trabalho de campo decorreu entre os dias 9 e 15
de janeiro de 2021 e foram recolhidas 1183
entrevistas entre maiores de 18 anos residentes
em Portugal. Foi feita uma amostragem por
quotas, com sexo, idade e região, a partir do
universo conhecido, reequilibrada por sexo,
idade, escolaridade e região. À amostra de 1183
entrevistas corresponde um grau de confiança
de 95% com uma margem de erro de 2,8%.
A responsabilidade do estudo é da Aximage
Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção
técnica de José Almeida Ribeiro.
57, 2 % 58,4%
Sond. nov-2020
61,4%
Sond. dez-2020 Sond. jan-2021
4,2 pp - 3 pp
FONTE: AXIMAGE, BARÓMETRO POLÍTICO DE JANEIRO DE 2021/INFOGRAFIA JN
Abstenção não
afetará todos
da mesma maneira
As eleições deste domingo
terão sempre um vence-
dor, mas a verdadeira no-
tícia pode vir a ser outra: o
recorde abstenção é um dado qua-
se adquirido. Os barómetros da
Aximage para o DN, o JN e a TSF
apontam, desde novembro, para
uma taxa a rondar os 60%, supe-
rando em quase dez pontos, quer
o nível de abstenção das últimas
presidenciais (51,3% em 2016)
quer o das últimas legislativas
(51,4% em 2019).
As atuais projeções de resulta-
dos eleitorais já têm em conta esse
elevado nível de abstenção, mas é
impossível prever, por exemplo, se
o descontrolado avanço da pande-
mia até domingo poderá alterar o
comportamento de cada um dos
segmentos da am os tra . E é fu nd a-
mental perceber, por exemplo, as
diferenças geracionais no que diz
respeito à mobilização para votar.
Assim, quanto mais jovens os
eleitores, maior é a previsão de
taxa de abstenção. E o fosso é as-
sinalável: o escalão dos 18 aos 34
anos já teria nesta altura uma
taxa a ultrapassar os 70 pontos
percentuais, o dobro da taxa en-
tre os eleitores com 65 ou mais
anos, que ficariam pouco acima
dos 35 pontos.
A pergunta de um milhão de
dólares é a de saber até que pon-
to é que a abstenção entre os
mais velhos (historicamente mais
mobilizados para votar) pode su-
bir e quem sai prejudicado. Até
porque os candidatos não serão
afetados todos da mesma manei-
ra. E quem mais tem a perder
com a fuga dos mais idosos é pre-
cisamente Marcelo Rebelo de
Sousa, uma vez que o apoio ao
atual presidente cresce à medida
que envelhece o eleitor: os mais
velhos dão-lhe mais 13 pontos
percentuais do que os mais no-
vos.
Liderança em todas
as idades
Nada de conclusões precipitadas,
no entanto. Mesmo com uma de-
serção em massa dos mais ve-
lhos, Marcelo tem a vitór ia quase
assegurada e provavelmente à
primeira volta: de acordo com a
sondagem da Aximage, tem re -
sultados acima dos 50 pontos
percentuais em todos os escalões
etários.
Apoio ao atual Presidente cresce com a idade.
Ventura menos dependente do voto sénior.
ELEIÇÕES
62 %
Pelo adiamento
Quase dois terços dos
portugueses defendiam o
adiamento das eleições. Apenas
32% defendiam a manutenção,
mesmo que o número de casos
aumentasse.
Direita e esquerda
A defesa do adiamento era
particularmente forte entre os
eleitores mais à direita (Liberais e
Chega). Mais à esquerda (CDU e
BE) era maioritária a ideia de
manter a data das eleições para
este domingo.
ditar mudanças radicais no com-
portamento dos eleitores.
Vantagem de 44 pontos
É olhando para o conjunto de son-
dagens e para o percurso do candi-
dato que é possível dizer que Marce-
lo Rebelo de Sousa será reeleito.
Apesar de acumular perdas ligeiras
desde outubro (três pontos percen-
tuais no total), chega às vésperas da
eleição com um resultado estimado
de 59,7% e 44 pontos acima da so-
cialista Ana Gomes, que também
perdeu dois pontos nestes quatro
meses, mas estacionou nos 15,4%.
A ex-eurodeputada é a favorita
para ficar no segundo lugar, uma
vez que o principal concorrente, An-
dré Ventura fica a pouco mais de
cinco pontos (9,7% nesta última
sondagem). Mas o favoritismo fica
um pouco tremido quando se per-
cebe que o candidato da direita ra-
dical apresenta uma tendência de
subida, conseguindo mais dois
pontos do que em dezembro. E tem
com uma outra “vitória” à vista: nes-
te momento, vale mais do que a
soma dos dois candidatos mais à es-
querda.
Comunistas e bloquistas
O comunista João Ferreira é um dos
candidatos cujo resultado é mais
difícil de antecipar, uma vez que a
tendência foi sempre de cresci-
mento, até agora, com travões a
fundo e uma queda para os 5% em
janeiro. Ainda assim, pode aspirar a
ficar à frente da rival bloquista, uma
vez que Marisa Matias continua em
trajetória descendente (4,3%).
É fundamental ter em conta, no en-
tanto, que a recolha dos inquéritos
só parcialmente coincide com o
inusitado insulto de Ventura – o epi-
sódio do batom vermelho –, que se
tornou um tema central da última
semana de campanha da eurode-
putada do BE.
Mais para o fundo da tabela, o li-
beral Tiago Mayan parece ter bene-
ficiado, em janeiro, da exposição
mediática que conseguiu com os
sucessivos frente-a-frente nas tele-
visões: depois de três meses a arras-
tar-se com resultados à volta do
ponto percentual, aparece agora
com 3,3%. Só com os resultados de
domingo será possível confirmar
que esse crescendo se transformou
numa tendência.
É uma situação algo semelhante
à de Vitorino Silva ( Tino de Rans),
que esteve praticamente ausente
até esta última sondagem, que lhe
atribui 1,5% (em 2016, conseguiu
3,28%), claramente catapultado pe-
los debates e pelo acompanhamen-
to diário das televisões ao candida-
to confinado. A noite eleitoral con-
firmará, ou não, o ressurgimento.
Socialistas com Marcelo
Uma das melhores garantias de
uma eleição à primeira volta para
Marcelo Rebelo de Sousa, e com
um resultado robusto, é o continua-
do e massivo apoio dos eleitores so-
cialistas, visível ao longo dos últi-
mos quatro meses e novamente
confirmado por esta última sonda-
gem: são mais de dois terços os que
preferem renovar o mandato ao
atual inquilino de Belém (63,6%).
Soma-se um apoio ainda maior en-
tre os eleitores sociais-democratas
(74,1%), garantindo uma vantagem
esmagadora no chamado “bloco
central”, crucial para vencer elei-
ções em Portugal.
A sua principal adversária, Ana
Gomes, não só não tem o apoio for-
mal do PS, como não consegue
mais do que três em cada dez eleito-
res socialistas, ainda que se revele
capaz de pescar em águas bloquis-
tas e comunistas. À sua esquerda,
João Ferreira segura dois terços do
eleitorado da CDU, e Marisa Ferrei-
ra pouco mais de metade dos eleito-
res do BE. E ambos revelam capaci-
dade mínima de alargamento da
sua base de apoio para além do par-
tido de origem.
André Ventura, que também é lí-
der do Chega, é muito mais eficaz
do que qualquer dos seus adversá-
rios (Marcelo incluído) a segurar os
eleitores do partido de origem, mas
fica limitado a essa base, com uma
notável exceção: poderá conquistar
um em cada dez eleitores do PSD.
O mesmo sucede com a base de
apoio do liberal Tiago Mayan, em-
bora em números bastante mais re-
duzidos.
Inclinações de género
Marcelo Rebelo de Sousa e André
Ventura não pertencem apenas a
direitas diferentes. Estão também
separados por uma fronteira de gé-
nero bastante vincada.
O atual residente de Belém é o
candidato com maior desequilíbrio
absoluto no que diz respeito ao gé-
nero, com vantagem para o apoio
feminino: representam 68,9%, m ui-
to acima da média e com mais 19
pontos percentuais do que os ho-
mens.
Ao contrário, a marca registada de
André Ventura (como a do Chega) é
o domínio da testosterona: 14,3% de
apoio entre os eleitores homens, ou
seja, quase o triplo, ou mais nove
pontos percentuais do que entre as
mulheres.
Em quase todos os restantes can-
didatos, o suporte masculino é
maioritário, ainda que em nada se
aproxime do que se passa com o lí-
der da direita radical. A exceção é
Marisa Matias, a única em que há
um equilíbrio quase total entre ho-
mens e mulheres.
rafael@jn.pt
Norte marcelista
É no norte que Marcelo tem a sua
praça-forte. Ao contrário, é aqui
que Ana Gomes tem o seu pior
resultado. O norte é também a
região mais generosa para André
Ventura.
LIsboa esquerdista
Os dois candidatos mais à
esquerda – o comunista João
Ferreira e a bloquista Marisa
Matias – atingem o pico em
Lisboa. Aliás, os seus resultados
globais dependem em larga
medida desta região do país.
Porto liberal
A exemplo do partido de origem,
o liberal Tiago Mayan Gonçalves
tem o seu melhor resultado na
Área Metropolitana do Porto.
Outra característica comum:
quanto maior o rendimento do
eleitor, maior o apoio.
REGIÕES
O trabalho de campo desta
sondagem decorreu entre os dias
9 e 15 de janeiro, na véspera do
período de grande crescimento
dos números da pandemia para os
níveis atuais. A preocupação dos
eleitores com a sua saúde e a dos
seus compatriotas foi um dado
evidente da nossa sondagem.
Assim, é muito provável que a
abstenção seja superior ao valor
modelado. A abstenção afetará de
forma desigual as diferentes
candidaturas, mas não cremos
que o quadro geral sofra tão
grande transformação que os
resultados fiquem fora da margem
de erro da sondagem. Deixamos
este alerta aos leitores desta
sondagem para o atual contexto
de aumento da incerteza,
verdadeiramente, sem paralelo na
nossa história recente.
HUGO MOURO
AXIMAGE
Contexto
de incerteza
ESCLARECIMENTO
Mais perverso pode ser o efeito
na posição relativa dos restantes
candidatos. Ana Gomes é a se-
gunda candidata que mais de-
pende do eleitorado sénior (mar-
cava 19%), enquanto André Ven-
tura tem neste escalão o seu pior
resultado (6,2%). Se a abstenção
disparar neste segmento etário e
se combinarmos esse facto com a
tendência atual de descida de
Ana Gomes e de subida de André
Ventura, é maior a probabilidade
de o líder do Chega alcançar o se-
gundo lugar.
Na luta particular de João Ferrei-
ra e Marisa Matias pelo quarto lu-
gar, é o comunista quem tem mais
a perder se abstenção entre os elei-
tores mais velhos se aprofundar.
O seu apoio entre os dois escalões
mais velhos está em média dois
pontos percentuais acima do que
consegue nos dois mais novos. No
caso da bloquista, é exatamente ao
contrário: o apoio é bem maior nos
18/34 anos do que na faixa dos 65
ou mais anos (uma diferença de
quase sete pontos percentuais).
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

6 EM FOCO Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
23 anos de te ste s
e nenhum re sultado.
Porque não avança
o vo to e l et n i c o?
ELEIÇÕES O último teste-piloto ao voto eletrónico, em 2019, custou ao
Estado quase 1,5 milhões de euros e foi o quinto desde 1997. O relatório
entregue ao Parlamento confirmou que tinha sido um sucesso, mas até
agora nenhum part ido propôs o seu alargamento ao re sto do país.
TEXTO VALENTINA MARCELINO
A
s longas filas para o voto
antecipado para as presi-
denciais, agravadas pela
pandemia, no passado
domingo, evidenciaram a necessi-
dade de sistemas mais modernos
de votação. O voto eletrónico é um
deles, também defendido como
importante instrumento de com-
bate à abstenção, atraindo os mais
jovens e facilitando a participação
dos emigrantes nos atos eleitorais
nacionais. Um dos seus assumidos
defensores é o próprio Presidente
da República, Marcelo Rebelo de
Sousa, que reconhece ser ultrami-
noritário” a favor da sua introdução
em Portugal. “Nós para votarmos
não aceitamos o digital, é uma coi-
sa verdadeiramente do arco-da-ve-
lha. De repente, temos uns atavis-
mos, uns conservadorismos, uns
ultraconservadorismos incom-
preensíveis, para pioneiros, criti-
cou numa entrevista nesta semana
ao Lusojornal, após destacar que
Portugal tem sido o palco da cimei-
ra tecnológica Web Summit.
E a verdade é que o voto eletróni-
co continua a gerar desconfianças.
Nos últimos 23 anos foram feitos
testes em cinco atos eleitorais, em
1997, 2001, 2004, 2005 e 2019, e a
Comissão Nacional de Eleições
(CNE) certifica que a implementa-
ção de soluções de voto eletrónico
visa, sobretudo, conferir maior ce-
leridade às operações de votação e
apuramento, melhorar toda a ges-
tão do próprio processo com vista
a atingir ganhos de eficiência e, ao
mesmo tempo, manter ou aumen-
tar as garantias de segurança e cre-
dibilidade de todo o processo.
Afiança a CNE no seu site que
não pode descurar-se o facto de a
consagração do voto eletrónico
contribuir para que o cidadão elei-
tor exerça o seu direito de sufrágio
de modo mais eficaz e cómodo,
procurando, assim, combater algu-
mas causas do abstencionismo
que, no caso português, se têm vin-
do a evidenciar em alguns atos elei-
torais.
“É como ir ao multibanco
No último teste-piloto, nas eleições
europeias de 2019, eleitores do dis-
trito de Évora puderam experi-
mentar as novas tecnologias ao ser-
viço da democracia. “É tão fácil. Fui
à mesa, entreguei o Cartão de Cida-
dão e deram-me o cartão de voto.
Depois fui à máquina e fiz como se
fosse no multibanco. Votei e não
me enganei, porque a máquina
pede confirmação, contou à TSF
um desses eleitores.
Este teste-piloto custou 1,45 mi-
lhões de euros, financiados pelo
Ministério da Administração Inter-
na (MAI), e orelatório de avaliação
da experiência feita em Évora para
o voto eletrónico presencial garan-
te segurança aos eleitores e conclui
que deveria ser estendido futura-
mente a outros atos eleitorais. Se
houvesse dúvidas quanto à vanta-
gem deste sistema para fazer descer
a abstenção, os números de adesão
dos eleitores neste teste ajudam a
dissipá-las. “Em termos relativos, as
mesas com voto eletrónico tiveram
em média mais 97% de eleitores do
que as mesas de voto tradicional”, é
salientado no relatório.
Nas conclusões deste documen-
to é ainda referida a garantia de se-
gurança do sistema (auditado pela
Unidade Nacional de Combate ao
Cibercrime e a Criminalidade Tec-
nológica (UNC3T ) da Polícia Judi-
ciária, pelo Centro Operacional de
Segurança Infor mática (COSI) do
MAI e pela Universidade do Minho,
além da “fiabilidade do sistema” e
da maior celeridade no apuramen-
to dos resultados (logo que as urnas
fecham). A estas vantagens, assina-
ladas neste relatório, junta-se tam-
bém a da desmaterialização dos
cadernos eleitorais, que permitiu
aos eleitores deste círculo eleitoral
exercerem o seu direito de voto em
mobilidade, com uma grande
aceitação por parte dos membros
de mesa, dada a facilidade do seu
manuseamento e a rapidez e segu-
rança na identificação do eleitor” –
e a possibilidade de evitar a im-
tos públicos), quase um milhão e
meio de euros à Meo, à Portugal
Telecom e À Indra pelo projeto, se
considera o voto eletrónico im-
portante e prioritár io, e porque,
tendo havido já tantos testes, com
sucesso, não se concretizou ainda,
remete para o Parlamento. “O rela-
tório de avaliação deste projeto-pi-
loto foi entregue à Assembleia da
República em julho de 2019, ca-
bendo à Assembleia da República
determinar, para futuro, o alarga-
mento desta possibilidade, res-
ponde fonte oficial.
Na gaveta do Parlamento
Questionado ainda o gabinete de
Eduardo sobre qual é o plano para
a implementação do voto eletróni-
co, se há problemas ainda a resol-
ver que não foram identificados no
teste de Évora ou nos anteriores,
não responde. Não explica tam-
bém por que, apesar do sucesso do
teste em Évora, no relatório de ati-
vidades de 2019 da secretaria-geral
do MAI, que coordena esta área
eleitoral, a única referência que
existe ao voto eletrónico é desen-
volver um “manual de apoio ao
voto eletrónico e publicar nos sites
da CNE e do SGMAI”, o qual nem
sequer é visível nas respetivas pági-
nas da internet.
O MAI respondeu, ainda assim, à
questão sobre qual o destino dado
a todo o equipamento utilizado em
“Não pode descurar-se
o facto de a
consagração do voto
electrónico contribuir
para que o c idadão
eleitor exerça o seu
direito de sufrágio de
modo mais eficaz e
cómodo, proc ura ndo,
assim, combater
algumas causas do
abstencionismo.
Comissão Nacional de Eleições
A única vantagem
do voto eletrónico
presencial é a rapidez
na contagem dos
vo to s . Q u a n t o a o vo t o
eletrónico à distância,
o há como garantir
que é o próprio que
vota, além do risco de
haver um c iberataque
que pudesse alterar os
re s u l t a d o s .
António Filipe, PCP
pressão de 643 mil folhas de papel
A4 (3,2 toneladas)”.
Mas quando se pergunta ao ga-
binete do ministro da Administra-
ção Interna, Eduardo Cabrita, que
autorizou este teste e pagou, se-
gundo se pode consultar no por-
tal Base.gov (que regista os contra-
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 7
Quanto as cadernos eleitorais
desmaterializados, salienta a mes-
ma fonte oficial, “na sequência das
alterações introduzidas pela Lei
Orgânica n.º 4/2020, de 11 de no-
vembro, os cadernos eleitorais des-
materializados vão ser usados, pela
primeira vez, na votação dos por-
tugueses residentes no estrangeiro
das Eleições para o Presidente da
República de 2021”.
De acordo ainda com o MAI, o
relatório de avaliação sobre o teste
em Évora foi enviado ao Parlamen-
to logo em julho de 2019 e reenca-
minhado à comissão de Assuntos
Constitucionais de Direitos Liber-
dades e Garantias. A introdução do
voto eletrónico exige uma maioria
de dois terços dos deputados para
alterar a lei eleitoral e a Constitui-
ção, que deter minam que os votos
sejam presenciais.
O sucesso de Évora não motivou
nenhuma proposta por parte dos
partidos. “O grande salto qualitati-
vo seria mesmo o voto eletrónico à
distância, salienta Luís Marques
Guedes, presidente desta comis-
são, assinalando que no caso do
teste em Évora, apesar de ser voto
eletrónico, exigia na mesma a pre-
sença dos eleitores. Este deputa-
do do PSD salienta que “nas atuais
circunstâncias da pandemia fica
cada vez mais claro que a obrigato-
riedade do voto presencial, como
é o caso dos emigrantes que têm
nas eleições. Passados quase 50
anos de maturidade democrática
em Portugal, é tempo de evoluir
para essa agilização.
Por seu lado, Pedro Delgado Al-
ves, deputado do PS da mesma co-
missão parlamentar, sobre o teste
ao voto eletrónico presencial de
Évora, entende que perante atos
eleitorais como elevada seguran-
ça e fiabilidade como os nossos
têm sido ao longo de 40 anos, há
que ter um consenso amplo e a
certeza de que as vantagens que se
podem obter (e que correspon-
dem, na maioria, a maior celerida-
de da contagem) justificam as al-
terações e investimento elevado a
realizar em meios. “Tudo o que
não seja presencial não garante a
fiabilidade desejável porque não
garante quem efetivamente vo-
tou, frisa.
Do PCP, o deputado António Fi-
lipe manifesta também reticências.
Em relação ao voto eletrónico pre-
sencial, como foi o testado nas eu-
ropeias de 2019 em Évora, aponta
como “única vantagem deste siste-
ma, usado em países como o Brasil
e a Venezuela, a rapidez na conta-
gem dos votos, sendo um equipa-
mento “muito caro. Quanto ao
voto eletrónico à distância, não há
como garantir que é o próprio que
vota, além do risco de haver um ci-
berataque que pudesse alterar os
resultados.
Na UE,
só a Estónia
adotou
o sistema
N
a União Europeia (UE) o voto
eletrónico tem vindo a ser
adotado em alguns países, a várias
velocidades e em modalidades di-
ferentes. O Estado membro que foi
mais longe é a Estónia, país onde
está localizado o centro de excelên-
cia de cibersegurança da NATO e
onde os eleitores podem votar pela
internet. Na UE, a tecnologia em
eleições pode e tem sido utilizada
em quatro áreas: registo dos votan-
tes (cadernos eleitorais), o que
acontece, por exemplo em Portu-
gal, na votação propriamente dita,
na contagem dos votos e na difu-
são dos resultados. A Estónia tem
tecnologia nas quatro áreas. A
França também, mas de forma
mista, digital e papel. Outros países
têm digital apenas em algumas das
quatro áreas: Portugal, Espanha,
Hungria, Itália, Reino Unido, entre
outros. Fora da UE, países como
Brasil, Canadá, Venezuela, Para-
guai, Suíça e EUA também utilizam
esta tecnologia em eleições – este
último com o voto por correspon-
dência a ganhar destaque nas re-
centes eleições presidenciais, por
causa da pandemia. O Conselho da
Europa continua a ser a única orga-
nização da UE que estabeleceu pa-
drões intergovernamentais no
campo do voto eletrónico. Consi-
dera que o direito de voto está na
base da democracia e que, conse-
quentemente, todos os canais de
votação, incluindo o e-vote, devem
respeitar os princípios das eleições
democráticas e dos referendos”.
Em junho de 2017 fez várias reco-
mendações aos Estados membros
na introdução desta tecnologia,
entre as quais respeitar todos os
princípios de eleições e referendos
democráticos e avaliar e combater
os riscos através de medidas ade-
quadas, em particular no que se re-
fere aos riscos específicos do canal
de votação eletrónica. A UE assi-
nala que o uso de tecnologias de
informação e comunicação pelos
Estados membros nas eleições au-
mentou consideravelmente nos úl-
timos anos e que alguns países “já
usam ou estão a considerar usar o
voto eletrónico para vários fins, in-
cluindo permitir que os eleitores
votem de um local diferente da as-
sembleia de voto no distrito de vo-
tação; facilitar o voto aos seus na-
cionais residentes no estrangeiro,
alargar o acesso ao processo de vo-
tação para os eleitores com defi-
ciência, aumentar a participação
dos eleitores, fornecendo canais de
votação adicionais.
de ir aos respetivos consulados, é
incompreensível, recordando
“várias propostas do PSD para que
o voto dos emigrantes nas presi-
denciais fosse como nas legislati-
vas (por correspondência)”. “Esta
rigidez constitucional e legislativa
não favorece a maior participação
“Nas atuais
circunstâncias
da pandemia, fica
cada vez mais claro
que a obrigatoriedade
do voto presencial,
como é o caso dos
emigra ntes que têm
de ir aos respetivos
consulados,
é incompreensível.
Luís Marques Guedes, PSD
”Tudo o que não seja
presencial não garante
a fiabilidade desejável
p o rq u e n ã o g a ra n t e ,
efetivamente,
quem votou
Pedro Delgado Alves, PS
Évora, que custou 1,45 milhões de
euros: “Os computadores e equipa-
mentos de comunicações utiliza-
dos no projeto-piloto em Évora fo-
ram distribuídos pelas forças de se-
gurança. Os equipamentos de
votação eletrónica utilizados foram
alugados para aquele ato.
Nem as longas filas de espera
em várias mesas de voto por
todo o país impediram que
votassem antecipadamente
cerca de 198 mil eleitores, no
passado domingo. Segundo o
Ministério da Administração
Interna, este valor corresponde
a mais de 80% do total de
inscritos na modalidade de voto
antecipado em mobilidade para
as eleições para o Presidente da
República. De acordo com os
dados reportados pelas câmaras
municipais à Administração
Eleitoral, votaram 197 903
eleitores nos 308 concelhos do
continente e das regiões
autónomas dos Açores e da
Madeira. O número de inscritos
era de 246 880 eleitores, um
recorde absoluto. Recorde-se
que esta modalidade de voto
antecipado se tinha realizado,
nos dois últimos atos eleitorais,
apenas nas capitais de distrito e
nas ilhas das regiões
autónomas. Nesta eleição, foi
alargada a todos os concelhos.
Nas eleições para a Assembleia
da República de 2019, votaram
antecipadamente 50 638
pessoas.
Vo t a r a m 8 0 %
dos inscritos
no voto antecipado
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

8 EM FOCO Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
PEDRO PINA/RTP/LUSA
Sob suspeita de estar infetado com covid-19, Marcelo Rebelo de Sousa participou no debate televisivo entre todos os candidatos por videoconferência, a partir de casa.
PAULO NOVAIS/LUSA
EPA/MARIO CRUZ
PEDRO ROCHA/GLOBAL IMAGENS
Marcelo saiu pouco, mas não deixou os afetos em casa.
A fila para o voto
antecipado em
Lisboa, na Cidade
Universitária.
João Ferreira viajou na Linha do Vouga, em defesa da ferrovia.
Tiago Mayan foi
correr à beira Tejo,
junto ao Palácio
de Belém.
NUNO FOX/LUSA
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 9
Nem arruadas, nem comícios, nem multidões,
nem beijinhos, nem selfies: acabou a mais insólita
das campanhas eleitorais.
TEXTO SUSETE FRANCISCO
T
ermina nesta sexta-feira a campanha elei-
toral mais insólita e atípica de sempre:
sem arruadas, sem comícios, sem banhos de
multidão. Às vezes, até sem candidato. Não
houve beijinhos nem selfies, ouviram-se in-
sultos – pouco comuns na política portugue-
sa –, que transformaram o batom vermelho
em mensagem política. Houve um protesto
violento (outra raridade). E um tema central
inevitável e omnipresente: a pandemia.
Com as ações de rua crescentemente limi-
tadas – o confinamento apanhou a campa-
nha a meio –, o confronto político centrou-se,
sobretudo, nos debates televisivos que opu-
seram todos os candidatos. E que foram pal-
co para as notórias convergências das três
candidaturas da esquerda – Ana Gomes, Ma-
risa Matias e João Ferreira – e as ainda mais
notórias divergências de todos os candidatos
com André Ventura. Nomeadamente os do
espaço político da direita, Marcelo Rebelo de
Sousa e Tiago Mayan.
Recandidato ao cargo, que todas as sonda-
gens dão como vencedor folgado, Marcelo
pouca campanha fez para lá dos debates e
entrevistas – saiu pela primeira vez à rua ape-
nas ao sexto dia. Uma atitude que esteve na
mira de Ana Gomes, que do início ao final
acusou o recandidato de desvalorizar as elei-
ções. Ontem, foi o próprio Marcelo a afirmar-
-se preocupado, apontando como quase
inevitável” uma segunda volta caso a absten-
ção atinja os 70%. E foi dizendo que “ter uma
segunda volta com uma epidemia como esta,
com mais três semanas de campanha, é uma
exigência acrescida.
Ana Gomes, que concorre sem o apoio do
PS – a cúpula dos socialistas está, em larga
medida, ao lado de Marcelo –, fez mira per-
manente ao atual Presidente da República,
criticando o que fez (a viabilização do gover-
no dos Açores) e sobretudo o que não fez.
Ainda à esquerda, Marisa Matias (uma repe-
tente que há cinco anos recolheu 10,2% dos
votos) e João Ferreira levaram para a campa-
nha presidencial as principais bandeiras do
Bloco de Esquerda e do PCP. Tal como Tiago
Mayan Gonçalves, candidato da Iniciativa
Liberal, que saltou do anonimato para agi-
tar a a bandeira dos liberais. Tanto (ou mais)
que os candidatos, são também os partidos
que medem forças no ato eleitoral deste do-
mingo. O mesmo (em versão “o partido sou
eu”) é válido para André Ventura, que fez
uma campanha a disparar em todas as dire-
ções, mais do que uma vez a resvalar para o
insulto, e mede forças neste domingo com a
esquerda em geral e Ana Gomes em particu-
lar. Por último, Vitorino Silva, o autodenomi-
nado candidato do povo, que como o
povo” foi para casa no dia do confinamento,
e se apresenta pela segunda vez às urnas nas
presidenciais (e da última vez saiu com 150
mil votos).
Vitorino Silva foi ao Hospital de São João, no Porto, doar sangue. Ana Gomes num gesto que se transformou num protesto contra Ventura.
Marisa Matias com Pilar del Río, num comício virtual no Capitólio. André Ventura cumprimenta Marine Le Pen... com o braço esquerdo.
ESTELA SILVA/LUSA JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
TIAGO PETINGA/LUSA DIANA QUINTELA / GLOBAL IMAGENS
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

10 POLÍTICA Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
De sgaste do governo.
“Não se pode fazer
acordos com os vírus,
que não têm afetos”
PANDEMIA Analistas políticos consideram que o governo, o Presidente
e até os partidos vão sair mal na fotograf ia desta pandemia, perante
portugueses que deixaram de “ter medo da autoridade do Estado” e que
dão sinais de “desconf iança” nas instituições.
TEXTO PAU L A S Á
A
situação dramática da
pandemia em Portugal,
com o número recorde de
infeções por covid e de
mortos a ser batido todos os dias, vai
afetar seriamente a relação do país
com o executivo? Os analistas polí-
ticos e sociais, embora ainda com
dúvidas sobre o impacto das novas
medidas de confinamento e dos
avanços e recuos entre o Natal e a
data presente, entendem que sim,
sobretudo ao nível da confiança dos
cidadãos nos seus governantes.
A autoridade do Estado foi cla-
ramente posta em causa, diz ao
DN António Costa Pinto, o que re-
mete para o facto de as pessoas não
estarem a respeitar as medidas de
confinamento decretadas pelo go-
verno. “No primeiro confinamen-
to, o medo associado à autor idade
do Estado funcionou. Agora já não
funcionou, afirma o politólogo.
E sublinha que “não vale a pena
culpar a sociedade, ainda para
mais numa sociedade como a nos-
sa, onde o negacionismo é escas-
so. A resposta da sociedade a esta
nova fase da pandemia deriva de
outro fator: “Existe a perceção de
que os decisores políticos não
atuaram com base em evidência
científica e ainda que não imple-
mentaram as decisões.
O professor universitário Viriato
Soromenho-Marques é ainda mais
taxativo sobre as consequências
desta última fase de resposta à cri-
se de saúde pública, em que critica
fortemente todos os erros cometi-
dos” e para os quais “têm de existir
responsáveis. “Temos uma crise
sanitária, uma crise económica,
que vai causar imenso sofrimento,
e uma crise de confiança no gover-
no e nas instituições. É um pacote
muito duro. A casmurrice vai sair
muito cara, considera.
Viriato Soromenho-Marques faz
o historial do que considera terem
sido os erros capitais e que condu-
ziram a esta terceira vaga agressiva
de covid. É incompreensível, diz,
que se tenha tido uma política de
abertura no Natal, em que os nú-
meros de infetados e de mortos já
era elevado, e quando todas as evi-
dências internas e externas apon-
tavam no sentido contrário. “Como
se o Natal fosse um direito constitu-
cional! Os governos existem para
cuidar da vida das pessoas, não
para as festividades do Natal.”
Os políticos profissionais, como
António Costa, frisa, estão habi-
tuados a fazer acordos, mas não se
consegue fazer acordos com os ví-
rus, que não têm afetos, e são eles
que ditam o que vamos fazer.
E como académico que é vai aos
dados que foram tornados públi-
cos, a 11 de dezembro, em dois es-
tudos, um do Instituto de Saúde
Pública da Universidade do Porto e
outro do Instituto Superior Técnico
da de Lisboa, em que ambos apon-
tavam para a perda de mais 1500 vi-
das com um abrandamento das
medidas do estado de emergência
no período das festas. António
Costa sabia disto, a oposição sabia
disto, o Presidente sabia disto. Esti-
vemos a jogar um desporto radical
com o vírus, quando avançamos e
ainda com todo o sistema escolar a
funcionar”, afirma V iriato Sorome-
nho-Marques, que recorda que as
escolas abertas representam 25 %
da população em circulação.
Recorda que o maior crescimen-
to das infeções se deu nas faixas etá-
rias entre os 13 e os 20 anos. “Esta-
mos numa situação de guerra, e
numa situação destas não podemos
mandar os nossos estudantes para
locais onde vão ser alvo de bombar-
deamento do inimigo, diz momen-
tos antes de o primeiro-ministro,
saído do Conselho de Ministros,
anunciar que as escolas e as univer-
sidades fecham durante 15 dias. E
António Costa assumiu o recuo na
decisão de manter os estabeleci-
mentos de ensino a funcionar com
António Costa e Marcelo
Rebelo de Sousa têm
estado em sintonia na
gestão da pandemia.
Retrato destes dias
Desconfinar no Natal
A 5 de dezembro, António Costa
anunciou que no Natal os
portugueses iam descomprimir das
medidas do estado de emergência,
com liberdade de circulação entre
concelhos e sem restrições a
reuniões familiares. No Ano Novo o
aperto foi maior, mas ainda assim
foi permitida a circulação na via
pública até às 23.00 de dia 31.
Aperto no Ano Novo
“Temos de cortar completamente
as celebrações do Ano Novo.” Foi
assim que António Costa recuou
nas celebrações e pôs todo o país
em confinamento, mesmo os
concelhos de baixo risco de
infeção. Neste dia, e seguindo a
tendência, a DGS registava mais
4320 infetados e mais 87 mortos
por covid-19.
Costa confinado em São Bento
A 19 de dezembro, o primeiro-
-ministro ficou em isolamento
profilático na residência oficial, em
São Bento, até ao dia 29 do
mesmo mês. António Costa foi
considerado contacto com
exposição de alto risco depois de
ter estado com o presidente
francês, que estava infetado,
embora tenha testado negativo.
Vacinação arranca
No dia 27 de dezembro arrancou o
processo de vacinação contra a
covid-19. Os primeiros vacinados
foram profissionais da saúde,
auxiliares, médicos, enfermeiros e
técnicos de diagnóstico e
terapêutica. Nessa altura a DGS
registava, e porque se tratava de
um domingo, 1577 novos infetados
e 63 mortos.
Presidência da UE e vacinação
O tema da vacinação foi o foco no
arranque formal da presidência
portuguesa da União Europeia,
a 5 de janeiro. No CCB, e ao lado
de Charles Michel, presidente do
Conselho Europeu, Costa avisa
que o processo vai ser “demorado
e durar todo o ano de 2021. Neste
dia houve mais 4956 casos de
infeção no país e 90 mortos.
Soromenho-Marques
faz um paralelo
dramático: “Até f inal
de fevereiro, vamos ter
mortos em número
igual ou superior a
todos os mortos na
Guerra Colonial.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Fundado em 1864
www.dn.pt / Sexta-feira 22.1.2021 / Ano 157.º / N.º 55 429 / € 1,70 / Diretor-geral editorial Domingos de Andrade / Diretora Rosália Amorim / Diretor adjunto Leonídio Paulo Ferreira / Subdiretora Joana Petiz
TODAS AS CAPAS 
DAS PRESIDENCIAIS 
EM DEMOCRACIA 
GRÁTIS 
SEGUNDA-FEIRA COM O SEU 
DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Mulheres (ainda) 
afastadas dos lugares 
de decisão
59,7%
MARCELO REELEITO 
PRESIDENTE 
O ÚLTIMO DE QUATRO BARÓMETROS DN, JN E TSF 
MANTÉM O ATUAL PRESIDENTE NO PATAMAR DOS 60 PONTOS 
PERCENTUAIS. ANA GOMES ESTÁ NO SEGUNDO LUGAR, 
MAS VENTURA APROXIMA-SE E VALE TANTO 
COMO FERREIRA E MARISA SOMADOS. 
PÁGS. 4-5 VOTO ELETRÓNICO 
23 ANOS DE TESTES 
E NENHUM RESULTADO 
PÁGS. 6-7 
 
AUGUSTO MATEUS 
“IDEOLOGIA NA SAÚDE 
DEMONSTRA FALTA 
DE LUCIDEZ” 
PÁG. 14
EVASÕES 
10 IDEIAS PARA 
O CONFINAMENTO 
DE VOLTA A CASA: COZINHAR, 
BRINCAR, FAZER EXERCÍCIO, 
RIR, ESCREVER E CULTIVAR
Presidente da 
Câmara de Leiria 
“Covid mostrou 
que são os autarcas 
e não o Estado que 
resolvem problemas”
PÁGS. 20-21
Desgaste 
do governo 
O preço político 
do fecho das escolas 
e da gestão 
da pandemia
Ministro da Educação tem 
15 dias para resolver o ensino 
à distância. Está sob pressão 
dos dirigentes escolares que 
querem de volta as aulas online. 
Analistas políticos afirmam que 
o governo, os partidos e Belém 
vão sair mal na fotografia 
da pandemia, perante os 
portugueses, que “deixaram 
de ter medo da autoridade 
do Estado” e dão sinais de 
“desconfiança” nas instituições. 
 
PÁGS. 10-13
JO
SÉ
 S
EN
A
 G
O
U
LÃ
O
/L
U
SA
Comissária 
europeia 
“União da Igualdade: 
rumo à inclusão 
de pessoas 
com deficiência” 
PÁG. 17
PÁG. 16
Recessão à vista 
em Portugal e UE 
Lagarde alerta para 
“desenvolvimentos 
adversos novos” 
devido ao coronavírus
PÁG. 18
SONDAGEM 
2 EDITORIAL Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
Hoje só há uma certeza: é preciso achatar a curva de infetados e 
mortos por covid-19. Todos os esforços devem ser feitos nesse 
sentido. Dos transportes públicos ao teletrabalho, dos restau-
rantes às escolas. Não queremos perder mais portugueses 
para a morgue por causa da pandemia e da nova variante importada do 
Reino Unido. Um país onde falta população, e sobretudo população jo-
vem, não pode dar-se ao luxo de continuar a perder pessoas ao ritmo a 
que está a acontecer, desde março do ano passado, catástrofe que se 
agudizou depois do Natal. 
Perder aulas presenciais, formação, educação e socialização entre os 
jovens é mau? Sim, é péssimo. Mas perder a saúde ou perder a vida e fa-
zer que os pais e os avós possam também ver a vida em risco seria bem 
pior. Hoje a cada seis segundos um português é infetado. 
O que as famílias têm muita dificuldade em entender é por que razão 
não se repete a experiência do ensino online. Mesmo correndo o risco 
de alguma desigualdade social – porque nem todas as crianças têm 
computadores, apesar das promessas do governo –, no primeiro confi-
namento o ensino à distância funcionou e também aconteceu de um 
dia para o outro. Quem não tinha computador acompanhou pela RTP, 
que fez um trabalho extraordinário e emitiu uma espécie de tele-escola 
dos tempos modernos. Professores e alunos adaptaram-se, ajustaram-
-se e conseguiram. Hoje não seria preciso reinventar a roda nem come-
çar do zero, bastaria repetir a receita que correu bem em março e que 
ajudou crianças, adolescentes, jovens adultos e famílias a manter (par-
te) das suas vidas e o ensino. Tal como na saúde, na educação também 
não havia um plano B preparado? Parece que não. 
Nesta semana o governo anunciou que iriam começar os testes mas-
sivos nas escolas. Já agora, a esses testes anunciados que uso lhes será 
dado? Os alunos deixarão de ser testados, podendo agora levar para 
casa o vírus, sem o saberem? As perguntas dos portugueses são muitas. 
Respostas precisam-se!
Qual é o plano B na 
educação e na saúde? 
Rosália Amorim 
Diretora do Diário de Notícias
EDITORIAL OPINIÃO 
HOJE
ACONTECEU EM 1965
Paulo Baldaia 
A ti, deus sol, entregamos 
as nossas crianças em 
sacrifício 
PÁG. 15 
 
Bruno Bobone 
Porquê Marcelo 
PÁG. 15 
 
Helena Dalli 
União da Igualdade: rumo 
à plena inclusão das 
pessoas com deficiência 
PÁG. 17 
 
Susana 
Malcorra 
A geopolítica em 2021: 
há demasiado em jogo 
para agirmos como meros 
espectadores 
PÁG. 23 
 
Raul M. 
Braga Pires 
O dia em que Portugal 
quase reconheceu a 
Polisário e resgatou 17 
pescadores de Aveiro 
PÁG. 25 
 
Victor Ângelo 
Biden no trapézio e o 
mundo na corda bamba 
PÁG. 25
Uma multidão paralisou o Chiado para ver e tentar receber um 
autógrafo de Amália Rodrigues a 21 de janeiro de 1965, noticiou 
o DN no dia seguinte, dando conta da euforia em torno daquela 
que já era, há muito, a rainha do fado. 
“Amália é cartaz, concedendo autógrafos na sucursal do Diário 
de Notícias. Amália juntou uma multidão no Chiado e perturbou 
o trânsito”, podia ler-se no título e na entrada de uma peça na 
primeira página do nosso jornal. 
“Amália Rodrigues – embaixatriz artística de Portugal no mundo 
– e realmente uma das paixões de Lisboa. A sua arte e a sua voz 
não precisam de adjetivos, mas foi essa voz característica e a 
maneira simples da artista que granjearam fama e a paixão que 
todos lhe devotam. Se alguém tivesse ainda dúvidas disso, 
bastava ter visto ontem, no Chiado, junto à sucursal do Diário de 
Notícias, a multidão de admiradores ali concentrados, multidão 
que acorreu ao simples anúncio de que Amália ia conceder 
autógrafos”, explicava o DN, não poupando nas palavras para 
enaltecer a artista, que não deu “mostras de fadiga” e 
“prosseguiu a sua tarefa com gestos de extrema gentileza a que 
todos correspondiam com entusiasmo”. 
Na altura, a fadista levava mais de 20 anos de uma carreira que 
já tinha extravasado fronteiras, como comprovam as atuações e 
a venda massiva de álbuns em países como Espanha, Brasil, 
França, Itália e Estados Unidos. Paralelamente, também já se 
tinha estreado no cinema internacional. “Apesar de muitas 
vezes andar longe de Lisboa, apesar dessas ausências, não é 
esquecida”, lia-se na primeira página do jornal.
Sessão de autógrafos 
de Amália paralisa Chiado
22.1.2021
Diretor-geral editorial Domingos de Andrade Diretora Rosália Amorim Diretor adjunto Leonídio Paulo Ferreira Subdiretora Joana Petiz Diretor-geral de conteúdos Afonso Camões 
Diretores de arte Pedro Fernandes e Rui Leitão Diretor adjunto de arte Vítor Higgs Editores executivos Carlos Ferro, Helena Tecedeiro, Pedro Sequeira e Artur Cassiano (adjunto) Grandes repórteres 
Ana Mafalda Inácio, Céu Neves, Graça Henriques e Fernanda Câncio Editores Lina Santos, Ricardo Simões Ferreira, Rui Frias, Filipe Gil, João Céu e Silva, João Pedro Henriques e Nuno Sousa Fernandes 
Redatores Carlos Nogueira, Catarina Reis Pires, César Avó, David Mandim, David Pereira, Filomena Naves, Isaura Almeida, Maria João Caetano, Paula Freitas Ferreira, Paula Sá, Susete Francisco, Susete Henriques, 
Susana Salvador e Valentina Marcelino Fecho de edição Elsa Rocha (editora), Ângela Pereira e Nuno Carvalho Arte Eva Almeida (coordenadora), Fernando Almeida, Gonçalo Sena, Maria Helena Mendes, Marta Ruela 
Rocha, Teresa Silva eTânia Sousa (infografia) Digitalização Nuno Espada (coordenador), Inês Nazaré, Paulo Dias e Pedro Nunes Dinheiro Vivo Joana Petiz (diretora) Evasões Pedro Ivo Carvalho (diretor ) 
Notícias Magazine Inês Cardoso (diretora ) Conselho de Redação Ana Mafalda Inácio, Céu Neves, Graça Henriques, Maria João Caetano, Paula Sá; Carlos Nogueira e Rui Frias (suplentes) Secretária 
de direção Elsa Silva Secretaria de redação Carla Lopes (coordenadora) e Susana Rocha Alves E-mail geral da redação dnot@dn.pt E-mail geral da publicidade 
dnpub@dn.pt Contactos RuaTomás da Fonseca, Torre E, 5.º – 1600-209 Lisboa. Tel.: 213 187 500. Fax: 213 187 515; Rua de Gonçalo Cristóvão, 195, 5.º – 4049-011 Porto. 
Tel.: 222 096 100; Rua João Machado, 19, 2.ºA – 3000-226 Coimbra. Tel.: Redação:há muito. Não 
existir, demonstra falta de lucidez, 
porque além da covid há as doen-
ças crónicas da nossa civilização, 
“Marcelo é a escolha certa” para 
equilibrar e criar convergência 
AUGUSTO MATEUS Antigo ministro de Guterres lamenta medidas complexas e pouco assertivas que 
criam desigualdade. Defende saúde sem ideologia, que integre todos e seja gerida com racionalidade.
TEXTO JOANA PETIZ
O economista 
Augusto Mateus 
defende medidas 
diferentes para uma 
crise que é distinta 
de todas as que 
já vivemos.
PE
D
RO
 C
O
RR
EI
A
/G
LO
BA
L 
IM
AG
EN
S
no e outras indiretamente, há o 
problema das cadeias de valor glo-
balizadas, as contas não podem ter 
por base a faturação. Um restau-
rante fechado não fatura, mas 
também não faz encomendas, 
paga menos impostos, luz, etc. e 
essas assimetrias têm de ser pesa-
das nos apoios, como o tem de ser 
a forma de apoio.” 
Lembra que no confinamento 
anterior o consumo se reduziu a 
cerca de metade, pelo que o lay-off 
a pagar dois terços do salário com-
pensava bem – “as pessoas tinham 
menos despesas, as empresas não 
se descapitalizavam e o défice não 
crescia exageradamente”. Quando 
se complicou essa medida, abriu-
-se a caixa de Pandora, e criou-se 
tratamento diferente de situações 
que deviam ser tratadas como 
iguais. “Diferentes lay-offs, limites 
de pessoas nas lojas, de horários, 
apoios dependentes de fatura-
ção... há negócios que precisam de 
80% de ocupação se não não so-
brevivem!” Por outro lado, Mateus 
defende que o recurso a crédito 
devia existir com mais força num 
momento posterior, de recupera-
ção, para a impulsionar, e agora 
devíamos focar recursos na liqui-
dez e na hibernação das atividades 
mais afetadas, de forma a conser-
vá-las para que se possa salvar o 
máximo de empresas quando 
houver condições de recuperação. 
“Na crise financeira e da dívida so-
berana perdemos 10% das empre-
sas. Agora vamos perder mais. É 
preciso ver quais estão em condi-
ções de recuperar.” 
Por tudo isto e pela exigência do 
momento atual, pela necessidade 
de enfrentar a crise – pandémica e 
económica – com seriedade, o 
economista diz que “precisamos 
de uma governação mais transpa-
rente e verdadeira, de governar de 
forma muito mais assertiva nos 
atos”. “Temos muita conversa e 
pou ca ação, o governo age como 
uma espécie de médico que só 
prescreve, mas o papel da política 
pública é o de fazer bem o bem, 
nós mandatamos responsáveis 
para resolver temas, não para 
enunciar problemas.” 
E também aí Marcelo tem um 
papel fundamental, de focar políti-
cas e unir esforços. “Qualquer so-
ciedade tem problemas que são de 
todos e outros de alguns e há forças 
políticas que se posicionam de 
cada um dos lados, “umas dirigin-
do-se claramente à governação, 
outras tentando ser transformado-
ras ou bloqueadoras”. E nesta elei-
ção só o atual Presidente apresen-
ta vontade de “dar vida ao poder 
compensatório com equilíbrio, 
tentando mobilizar os portugueses 
para projetos comuns, para criar 
convergência em torno dos gran-
des problemas e desafios. Os ad-
versários posicionam-se todos nu -
ma lógica de dividir, sem uma in-
terpretação completa, alargada. 
Portanto, Marcelo Rebelo de Sousa 
é a solução acertada”.
“Precisamos de 
medidas úteis e justas, 
não de soluções 
simpáticas. 
Precisamos dos apoios 
certos e que haja rigor 
e transparência 
na comunicação – que 
não tem havido.”
Augusto Mateus 
Economista 
que exigem cuidados permanen-
tes, e acidentes, e toda a gente po-
dia estar a fazer melhor.” 
Também do ponto vista econó-
mico, o ex-ministro defende que 
devíamos estar a fazer melhor e 
isso depende de olhar as desigual-
dades e fazer bem as contas, para 
responder com mecanismos mui-
to específicos e adequados às dife-
rentes realidades. “Há atividades 
encerradas por decisão do gover-
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 15
Fechamos as escolas, sacrificamos 
toda uma geração de estudantes, 
julgando que dessa forma acal-
mamos a ira dos deuses, como é 
suposto terem feito os astecas há largas 
centenas de anos. Tamanho egoísmo só 
é possível por preguiça de cumprir o que 
está assente como melhor forma de 
combater a pandemia. 
– É mais fácil fechar as escolas do que 
rastrear as fontes de contágio ou colocar 
todo o sistema de saúde (público, social 
e privado) a tratar os doentes. 
– É mais fácil fechar as escolas do que 
usar máscara ou reforçar a higienização 
das mãos e manter o distanciamento 
social. 
– É mais fácil fechar as escolas do que 
reforçar os transportes públicos para 
evitar que eles funcionem lotados à hora 
de ponta ou exigir condições de segu-
rança sanitária nas fábricas, na constru-
ção civil, nos supermercados. 
Mas que não haja dúvidas, se acaba-
rem a dispensar a qualidade de ensino de 
mais de um milhão de portugueses, só 
por burrice podem acreditar que foi por 
A ti, deus sol, entregamos 
as nossas crianças 
em sacrifício 
Opinião 
Paulo Baldaia
manterem as escolas abertas que milha-
res de portugueses se juntaram no fim de 
semana, à beira-mar, passeando sem 
máscara com tudo ao molho e fé em 
deus. Ou que foi por terem os filhos na es-
cola que muitos portugueses, sem mesa 
na esplanada, passaram a pedir a bica, a 
mini e a sandes de queijo ao postigo para, 
mesmo de pé, manterem o alegre conví-
vio com os amigalhaços de sempre. 
– É mais fácil fechar as escolas do que 
obrigar os imbecis a cumprir a lei que 
deveria ser igual para todos. 
– É mais fácil fechar as escolas do que 
garantir o policiamento e a vigilância 
para fazer cumprir as leis que emanam 
da vontade do Presidente da República, 
do parlamento e do governo. Quem nos 
representa desiste com demasiada faci-
lidade. Estamos mesmo perdidos quan-
do o futuro deixa de contar. 
Mas se é por aí que a maioria pretende 
caminhar, então convém, ainda assim, 
garantir alguma equidade na desgraça. 
A primeira coisa que é preciso reconhe-
cer é que o Ministério da Propaganda, 
também conhecido por Ministério da 
Educação, falhou redondamente no 
cumprimento da promessa feita pelo 
primeiro-ministro, António Costa, em 
abril. O kit eletrónico não chegou a to-
dos os alunos (1,2 milhões) no início do 
ano letivo, como pomposamente anun-
ciou António Costa há nove meses que 
iria acontecer. Chegou em novembro 
apenas para cem mil, menos de 10%. 
E mesmo que só contemos os alunos 
que não tinham, nem têm, computador 
e internet disponível, para os pais em te-
letrabalho e/ou os filhos em ensino à 
distância, um estudo da Universidade 
Nova dava conta, também em abril do 
ano passado, que esse número deve ron-
dar os 300 mil alunos. 
Fechar todas as escolas, para lá dos 15 
dias agora anunciados, é cobardia. Há 
mais alunos infetados, mas não há ne-
nhuma informação que garanta que as 
escolas sejam um foco. Nas escolas, os 
alunos têm mais segurança do que a 
que encontram em sua própria casa. 
Este sacrifício em honra do deus sol não 
pode trazer senão a escuridão. Espere-
mos que não dure mais do que os 15 
dias anunciados. 
 
 
Jornalista
Fechar todas as 
escolas, para lá 
dos 15 dias agora 
anunciados, é 
cobardia. Há mais 
alunos infetados, 
mas não há nenhuma 
informação que 
garanta que as 
escolas sejam um 
foco. Nas escolas, 
os alunos têm mais 
segurança do que 
a que encontram 
em sua própria casa.
Foi há praticamente dois anos que 
tive a oportunidade de publica-
mente desafiar Marcelo Rebelo de 
Sousa a candidatar-se a um se-
gundo mandato. Fui provavelmente o 
primeiro a fazê-lo e fi-lo exatamente pe-
las mesmas razões que me levam a escre-
ver – hoje, aqui – este texto. 
Durante largas décadas a Europa e o 
mundo evoluíram no sentido da demo-
cracia e da liberdade. A ideia de mudar o 
acesso ao poder, atribuindo aos atos elei-
torais a base desse mesmo poder, era a 
solução ambicionada pelo mundo para 
conseguir chegar a um estádio de liberda-
de e respeito pelas pessoas. 
Com este sistema de governação, e 
confiantes de que este sistema nos per-
mitiria a confiançapara nos abrirmos ao 
mundo, avançámos na globalização. E fi-
zemo-lo sempre baseados no paradigma 
de sucesso da economia de mercado – o 
sistema que mais contribuiu para a cria-
ção de riqueza. 
Contudo, tanto pela habituação ao siste-
ma, pelo comodismo que se instalou atra-
vés dessa mesma criação de riqueza, como 
pela clara perda de foco sobre aquilo que é a 
essência de todas as nossas ações – e que é a 
pessoa humana –, a verdade é que chegá-
mos a um ponto em que o sistema deixou 
de nos encantar e passou a ser a razão de to-
das as frustrações, e como tal condenável. 
É em resultado desta sensação de frus-
tração que assistimos ao despontar por 
todo o mundo de movimentos de contes-
tação que se afirmam contra o politica-
mente correto e que se tornam muito ape-
lativos, pois geralmente prometem aquilo 
que as pessoas gostariam de conquistar. 
Porquê Marcelo
Opinião 
Bruno Bobone
Para combater essas frustrações torna-
-se fundamental a promoção de projetos 
que vão ao encontro dos anseios das pes-
soas que, na sua origem, se fundam em 
questões que verdadeiramente importa 
corrigir e melhorar. Contudo, quando as-
sociadas aos temas mais populistas, pro-
movem a instabilidade e a imprevisibili-
dade e acabam por criar situações com as 
quais não queremos conviver, mas que 
não poderemos evitar. 
Veja-se o caso daquilo que sucedeu nos 
Estados Unidos: mesmo os mais entusias-
tas defensores das políticas imprevisíveis 
de Donald Trump nunca suspeitariam que 
poderia tudo terminar com um assalto ao 
Capitólio. Da mesma maneira, os admira-
dores de Maduro não poderiam acreditar 
que um país com a riqueza da Venezuela 
pudesse estar a passar fome, nem que a 
China voltasse a ter um presidente vitalício. 
É neste mundo que temos de ir votar. 
Ainda que em Portugal o papel constitu-
cional do presidente da República não seja 
decisivo para tudo mudar nesta matéria, o 
presidente é a referência do país que que-
remos e é o garante do tipo de sociedade 
que pretendemos para o nosso futuro. 
E o que eu quero é uma sociedade que se 
foque na qualidade das pessoas que a com-
põem, em que todos importam e em que 
todos têm o direito de ser felizes. Uma so-
ciedade em que o respeito verdadeiro pelas 
pessoas e pelos seus ideais seja intocável. 
Em que as religiões sejam respeitadas 
pelo que representam para os crentes e em 
que o bem comum tenha primazia sobre o 
bem individual. 
Uma sociedade em que haja oportuni-
dades iguais para todos, onde haja uma 
preocupação de criar riqueza, mas que 
seja sempre criada com o objetivo de ser 
distribuída com justiça por todos os seus 
membros. 
Uma sociedade e um país em que pro-
curemos todos juntos encontrar um cami-
nho integrador e inclusivo em que produ-
zamos sempre mais pela complementari-
dade do que pela competição. 
Um país em que seja mais importante 
ser feliz do que ser rico, ajudar do que ga-
nhar, ser pessoa e parte do todo, do que ser 
só mais um membro de uma fação. 
É por tudo isto que acredito que vale a 
pena Marcelo.. 
 
 
Bruno.bobone.dn@gmail.com
O que quero é uma 
sociedade que se foque 
na qualidade das pessoas 
que a compõem, em 
que todos importam 
e em que todos têm 
o direito de ser felizes.
16 SOCIEDADE Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
Mariana Branquinho da Fonseca “É preciso 
garantir que prevalece a meritocracia”
Mariana Branquinho da Fonseca, 
board member da Professional Wo-
men’s Network (PWN) Lisbon, res-
ponsável pela dinamização e apre-
sentação, no nosso mercado, do es-
tudo Gender Diversity Index de 
2020, fala ao DN sobre o papel da 
mulher no mercado português, as 
suas oportunidades e vantagens, 
assim como o perfil de liderança es-
perado em 2021 para lidar com os 
desafios colocados em contexto de 
crise pandémica. 
 
O que é preciso fazer para mudar a 
igualdade no tecido empresarial 
europeu? 
A situação nos países europeus é 
muito diversa, mas na essência eu 
diria que o que se tem de fazer ao 
nível da Europa não é diferente do 
que é preciso fazer ao nível de cada 
país, e em Portugal em particular: 
educar, formar, comunicar, dar vi-
sibilidade dos bons exemplos, e ga-
rantir que, independentemente do 
género, o que prevalece é a merito-
cracia. 
O programa Women on Board 
identifica mulheres com o perfil 
de líderes. Que perfil de mulher vai 
liderar em 2021, em contexto de 
crise e pandemia? 
Não faria uma distinção por géne-
ro. O contexto que hoje vivemos 
tem com certeza um impacto si-
gnificativo no perfil de liderança, já 
que as pessoas/equipas estão as-
sustadas, apreensivas, inseguras. 
Hoje, mais do que nunca, valoriza-
-se uma liderança inclusiva, mar-
cada por maior colaboração, maior 
agilidade, mais transparência, on -
de a segurança de cada colabora-
dor passou a ser um tema prioritá-
rio. O líder tem de ser capaz de 
olhar para a individualidade de 
Pode parecer um paradoxo 
dizer que a Europa está 
atrasada cerca de 60 anos 
no que concerne à igualda-
de de género quando há persona-
gens como Ursula von der Leyen, 
presidente da Comissão Europeia, 
ou Angela Merkel, chanceler da Ale-
manha. Mas a verdade é que são 
duas exceções. Os vários estudos 
feitos sobre o tema provam isso 
mesmo: a Europa tem crescido ape-
nas meio ponto percentual por ano, 
fixando-se nos 67,9 pontos (numa 
de tabela de 100). Suécia, Dinamar-
ca e França são os países com me-
lhores resultados, mas o realce vai 
para a Itália, Luxemburgo e Malta, 
dado serem os países que mais su-
biram no ranking (com valores ava-
liados a partir de 2010). Os dados 
que constam do Gender Diversity 
Index [Índice de Diversidade de Gé-
nero] de 2020, que avalia a igualda-
de de género em 600 empresas regis-
tadas no STOXX Europe de 17 países 
europeus, Portugal incluído, reve-
lam que ainda existe uma elevada 
“sub-representação de mulheres em 
cargos de gestão de topo das empre-
sas cotadas em bolsa na União Euro-
peia (UE)”. Basta olhar pa ra os nú-
meros para nos apercebermos des-
ta realidade. Sabendo que o valor 
mínimo de paridade é de 40%, o que 
dizer do facto de a mé dia da União 
Europeia (a 28, ainda com Reino 
Unido) se situar nos 30%? 
Portugal está ainda pior, 3,4 pon-
tos percentuais abaixo da média eu-
ropeia. Observando esses números, 
percebe-se que Portugal ainda está 
muito longe de sequer cumprir a lei 
que estabelece que as empresas pú-
Mulheres continuam 
afastadas dos lugares 
de decisão
IGUALDADE DE GÉNERO Em Portugal apenas 26,6% das empresas 
têm uma liderança feminina. Um número abaixo da média europeia, 
do valor mínimo da paridade e dos 33,3% estabelecidos por lei. 
TEXTO ALEXANDRA COSTA
Na União Europeia, 
a média de mulheres 
em cargos de gestão 
de topo é de apenas 
30%. Portugal está 
ainda pior: 3,4 pontos 
percentuais abaixo 
da média da UE. 
cada elemento da sua equipa, po-
tenciar a contribuição de cada um, 
tirando partido dessa diversidade 
de pensamento ao mesmo tempo 
que promove uma abordagem 
muito mais colaborativa como ga-
rante para a tomada de melhores 
decisões e assegurar a resolução 
dos problemas complexos. Assim, 
no líder, são valorizadas caracterís-
ticas como autenticidade associa-
da a uma certa humildade, sendo 
capaz de colocar o seu ego de lado 
para criar confiança; resiliência 
emocional, ou seja, a capacidade 
de manter a postura quando con-
frontado com as dificuldades e ad-
versidades causadas pela diferen-
ça; autoconfiança e otimismo; fle-
xibilidade, na medida em que se 
adapta à diferença e é capaz de to-
lerar a ambiguidade; e curiosidade, 
demonstrando empatia e abertura 
à diferença. No que respeita às 
competências, irão ser valorizadas 
a construção de confiança inter-
pessoal (honestidade, procurando 
identificar pontos comuns ao mes-
mo tempo que valoriza perspetivas 
diferentes), integração de diferen-
tes perspetivas (considerar vários 
pontos de vista e necessidades, ge-
rindo o conflito de forma eficaz), 
otimização de talento (capacidade 
de motivação e desenvolvimento 
de talento, promovendo a colabo-ração através das diferenças); capa-
cidade de adaptação (visão global, 
capaz de se adaptar às situações, 
inovando a partir das diferenças) e 
de transformação (coragem para 
enfrentar situações difíceis, per-
suasão e obtenção de resultados). 
Em que posição se encontra Por-
tugal no panorama europeu? 
Portugal encontra-se numa posi-
ção em que ainda tem espaço si-
gnificativo de melhoria, a vários ní-
veis. Para além do género, são hoje 
ENTREVISTA Dirigente da PWN Lisbon diz que “hoje, mais do que nunca, deve valorizar-se uma liderança inclusiva”.
blicas e as cotadas passem a cumprir 
33,3% de cargos femininos nos con-
selhos de administração e nos ór-
gãos de fiscalização. Sem contar que, 
em Portugal, as mulheres tendem a 
ocupar cargos não executivos. 
Estes números reacenderam o 
debate sobre o tema da igualdade 
de género, considerado prioritário 
por Ursula von der Leyen e pelo Par-
lamento Europeu, que está a equa-
cionar levar a cabo mais ações regu-
latórias no sentido de aumentar a 
presença feminina na liderança cor-
porativa. 
Mas o que dificulta a subida das 
mulheres a lugares de topo? Para 
Mariana Branquinho da Fonseca, 
board member da PWN [Professio-
nal Women’s Network] Lisbon, orga-
nização sem fins lucrativos integra-
da na PWN Global e dinamizadora, 
em Portugal, do Gender Equality 
Awards 2020, existem três fatores 
que justificam este “atraso”. Por um 
lado, as mulheres partem de “uma 
situação de grande desequilíbrio e, 
por isso, por mais medidas e leis que 
existam, é preciso tempo”. 
Não se trata tanto de estabelecer 
quotas (e de as cumprir), acrescen-
ta, mas sim, e principalmente, de 
conseguir levar a cabo uma mudan-
ça de mentalidades. Por outro lado, 
convém assegurar a criação de ta-
lento. E garantir que as mulheres 
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 17
PI
XA
BA
Y
Mariana Branquinho 
da Fonseca defende 
que, mais do que 
estabelecer quotas de 
género, é importante 
“mudar mentalidades”.
Há dez anos, a União Europeia ratifi-
cou a Convenção das Nações Uni-
das sobre os Direitos das Pessoas 
com Deficiência. Foi a primeira 
convenção em matéria de direitos humanos 
na qual a União Europeia (UE) se tornou par-
te, dando início a uma nova era em que o res-
peito pelos direitos das pessoas com deficiên-
cia é um dever, tanto moral quanto jurídico. 
Ao longo da última década, a UE e os seus 
Estados membros têm trabalhado com o ob-
jetivo de cumprir as obrigações decorrentes 
da Convenção. Para a UE, significa garantir 
que as regras, as políticas e os programas eu-
ropeus incluem as pessoas com deficiência, 
respeitam plenamente a Convenção e pro-
movem uma Europa inclusiva. 
Todos os países da UE estão igualmente 
vinculados pela Convenção, bem como pelas 
leis da UE em matéria de não discriminação e 
acessibilidade, o que significa que os Estados 
membros devem garantir sistemas de educa-
ção inclusivos destinados às pessoas com de-
ficiência e ter em vigor legislação que proíba a 
discriminação no local de trabalho. Devem 
também tornar os transportes e os edifícios 
públicos acessíveis. 
A Estratégia Europeia para a Deficiência 
2010-2020 orientou a ação da UE ao longo da 
última década, colocou a incapacidade no 
topo da agenda da UE e trouxe melhorias tan-
gíveis. O histórico Ato Europeu da Acessibili-
dade, por exemplo, exige que o acesso aos 
produtos e serviços essenciais, como os tele-
fones, os computadores, os livros eletrónicos, 
os serviços bancários e as comunicações ele-
trónicas, seja facilitado para que possam ser 
utilizados por pessoas com deficiência. Os di-
reitos dos passageiros da UE garantem que as 
pessoas com deficiência tenham acesso aos 
meios de transporte rodoviários, aéreos e ma-
rítimos. A UE também tem desempenhado 
um papel de liderança a nível mundial na 
promoção da inclusão das pessoas com defi-
ciência por meio das nossas políticas de 
desenvolvimento e humanitárias. 
A pandemia de covid-19 veio expor novas 
desigualdades que as pessoas com deficiên-
cia enfrentam e o facto de a pandemia as afe-
tar mais do que às outras pessoas, por via des-
sas mesmas desigualdades. Com o encerra-
mento das escolas e as aulas através da 
internet, os alunos com deficiência nem sem-
pre têm acesso ao material e ao equipamento 
pedagógicos. 
A teleconferência, o teletrabalho e as com-
pras pela internet também podem constituir 
obstáculos. Até o acesso à informação sobre o 
União da Igualdade: rumo 
à plena inclusão das pessoas 
com deficiência 
Opinião 
Helena Dalli
vírus se revela um desafio. Assim, a resposta 
da UE à crise faz da igualdade um assunto 
prioritário, ao mesmo tempo que adota o 
maior pacote de estímulos de sempre para 
impulsionar a recuperação. 
A nossa linha de orientação para uma recu-
peração pós-covid justa aponta para a inclu-
são das pessoas com deficiência, para que vi-
vam com dignidade e autonomia e tenham 
acesso a serviços que lhes permitam partici-
par plenamente no mercado de trabalho e na 
sociedade. Em abril, a presidência portugue-
sa reunir-se-á com a Comissão e os Estados 
membros para um diálogo político de alto ní-
vel sobre os direitos das pessoas com defi-
ciência, a fim de abrir novos caminhos. 
Estamos a passar para uma velocidade su-
perior, a fim de evitar que os efeitos da covid-
-19 façam abrandar as conquistas já alcança-
das em prol das pessoas com deficiência. As 
políticas devem ser concebidas de forma in-
clusiva para todos, a fim de garantir uma re-
cuperação resiliente e justa. 
Após amplas consultas, apresentarei uma 
nova e reforçada estratégia da União sobre os 
direitos das pessoas com deficiência para o 
período 2021-2030. Esta estratégia basear-se-
-á nos resultados dos dez últimos anos e ofe-
recerá soluções para os desafios futuros. 
Abrangerá todos os aspetos da Convenção 
das Nações Unidas, transformando em ação 
os direitos nela consagrados e proporcionará 
um quadro sólido para os próximos anos, a 
fim de garantir que ninguém seja deixado 
para trás. Os 87 milhões de pessoas com defi-
ciência na UE merecem deixar de ser alvo de 
discriminação estrutural ou de estereótipos 
negativos. 
As nossas ambições exigirão o empenho de 
todos. A estratégia constituirá o ponto de refe-
rência para a UE e para todos os governos, os 
parceiros sociais, a sociedade civil e o setor 
privado. O nosso compromisso e a nossa 
ação neste domínio constituirão mais um 
passo importante rumo a uma União da 
Igualdade. Trabalharei em estreita colabora-
ção com todos os Estados membros para fa-
zer da UE um modelo de inclusão, acessibili-
dade e direitos humanos. 
As pessoas com deficiência vão participar 
no diálogo e no processo, pois devem ser par-
te ativa em todas as questões que lhes dizem 
respeito. 
É este o significado do lema “Unida na Di-
versidade”. 
 
 
Comissária europeia da Igualdade
questões estruturantes a integra-
ção de diferentes gerações e cultu-
ras, o acolhimento de millennials, 
as competências-chave para a per-
manente mudança, os novos seg-
mentos de negócio, o ambiente 
tecnológico, as condições de traba-
lho remoto e a gestão de equipas à 
distância. 
Qual o papel da PWN Lisbon na 
promoção da igualdade? 
Na questão concreta da igualdade 
de oportunidades, a PWN Lisbon 
definiu uma “3 Grow Strategy”, que 
se propõe: fazer crescer a PWN Lis-
bon, estabelecendo alianças e par-
cerias estratégicas; promover a 
igualdade de oportunidades de 
desenvolvimento profissional das 
mulheres, através de formação e 
orientação em liderança, progra-
mas de mentoring, empreendedo-
rismo, networking e partilha de 
boas práticas; e disponibilizar mais 
evidência sobre o valor económico 
e social da diversidade de género. É 
no quadro deste contributo que a 
PWN Lisbon está hoje posicionada 
como stakeholder estratégico das 
organizações em Portugal. A.C.
têm a possibilidade de adquirir e 
desenvolver competências e expe-
riências que lhes assegurem uma 
carreira e, consequentemente, de 
conseguir um lugar de topo. 
Tudo começa com um risco.Para 
Mariana Branquinho, os decisores 
“têm de arriscar, dar oportunidade 
a quem ainda não exerceu, contra-
tar com base no potencial e não 
apenas na experiência adquirida”. 
Porque o mais difícil é “conseguir a 
primeira posição no topo de uma 
organização”. 
Médico 
absolvido 
de indemnizar 
paciente 
O Supremo Tribunal de Justiça 
absolveu um médico de in-
demnizar uma paciente de 43 anos 
por um erro médico durante uma 
pequena cirurgia realizada no seu 
consultório em Aveiro. 
O acórdão, datado de 15 de de-
zembro de 2020, julgou procedente 
o recurso interposto pelo médico 
especialista em gastrenterologia e, 
embora com um voto de vencido, 
revogou a decisão do Tribunal da 
Relação do Porto, que tinha conde-
nado o réu e uma seguradora a pa-
gar uma indemnização de cem mil 
euros à autora. 
Em causa estava um alegado erro 
de tratamento, nomeadamente 
quanto à omissão da preparação da 
paciente para a intervenção realiza-
da em 2016, que se destinava a re-
mover um pólipo, mediante peque-
na cirurgia em ambulatório e com 
aplicação de anestesia local. 
Os factos dados como provados 
referem que “quando foi acionada a 
eletrocoagulação com vista a quei-
mar o pólipo, em pleno canal anal, 
aconteceu uma explosão”, ocasio-
nada pela “presença no intestino da 
autora de gases (metano e/ou hi-
drogénio)”, tendo o réu interrompi-
do imediatamente o tratamento. 
A paciente foi transportada para 
o Hospital de Aveiro, onde foi sub-
metida a uma operação para remo-
ver parte do intestino grosso, devi-
do à “laceração extensa” no intesti-
no grosso. A paciente, que na 
sequência deste incidente teve ne-
cessidade de permanecer em re-
pouso durante um período de 170 
dias, acabou por instaurar uma ação 
contra o médico a exigir uma in-
demnização de quase 200 mil euros. 
Em 2018, o Tribunal de Aveiro jul-
gou a ação improcedente, porque 
“não entendeu que tivesse sido de-
monstrada a obrigatoriedade de 
qualquer preparação (jejum e/ou 
limpeza intestinal) para a operação”. 
A autora recorreu então para a Re-
lação do Porto, que concluiu pela 
existência de um comportamento 
“ilícito e culposo” por parte do réu, 
sustentando que a explosão ocorri-
da “não é normal ou usual” e que o 
médico não adotou qualquer pro-
cedimento com vista a evitá-la. 
Desta feita, o médico recorreu 
para o STJ, que considerou que “o 
dramático resultado não se registou 
por ausência de um procedimento 
que as leges artis [conjunto de regras 
e técnicas que estabelecem proce-
dimentos clínicos a que os médicos 
estão vinculados] impusessem ou 
obrigassem”. DN/LUSA
18 DINHEIRO Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
a presidente do BCE. Sobre o futu-
ro, Lagarde confia que a vacinação, 
iniciada no final de dezembro, “per-
mite uma maior confiança na reso-
lução da crise sanitária”, só que “le-
vará algum tempo até que a imuni-
dade generalizada seja alcançada”. 
E “não podemos descartar novos 
desenvolvimentos adversos rela-
cionados com a pandemia”. 
Assim, “no médio prazo, a recu-
peração da economia da zona euro 
deverá ser apoiada por condições 
de financiamento favoráveis, orça-
mentos públicos expansionistas e 
uma recuperação da procura, à 
medida que as medidas de confina-
mento são levantadas e a incerteza 
diminui”. 
“As notícias sobre as perspetivas 
para a economia global, o acordo 
sobre as futuras relações UE-Reino 
Unido e o início das campanhas de 
vacinação são encorajadoras, mas 
a pandemia em curso e as suas im-
plicações para as condições econó-
micas e financeiras continuam a 
ser riscos negativos”, disse a ex-che-
fe do FMI. 
Juros mínimos e bazucas 
ficam na mesma 
Há pouco mais de um mês, o BCE 
decidiu manter os juros em míni-
mos históricos e reforçar a chama-
da bazuca de dinheiro ultrabarato 
(sobretudo os programas de com-
pra de Obrigações do Tesouro) em 
mais 40%, em cerca de 500 mil mi-
lhões de euros para um total de 1,85 
biliões de euros. Desde então vários 
problemas ou incertezas foram cla-
rificados, mas outros surgiram com 
maior violência. 
O BCE optou, assim, por deixar 
tu do na mesma. Nessa altura, havia 
três pedras na engrenagem. As vaci-
nas covid-19 ainda não estavam no 
terreno, ainda não era seguro que o 
então presidente eleito dos EUA, Joe 
Biden, conseguisse chegar ao cargo, 
e não havia acordo final para a saída 
do Reino Unido da União Europeia. 
Estes três problemas, entretanto, 
dissiparam-se. As vacinas chega-
ram, Biden foi empossado na quar-
ta-feira passada e o acordo final do 
Brexit lá foi alcançado depois de 
anos de impasses, avanços e mui-
tos recuos. 
Mas, como reparou Lagarde, es-
tamos perante uma nova vaga da 
doença e uma nova disrupção da 
atividade. 
Além das bazucas, o BCE decidiu 
também manter as taxas de juro de 
referência em mínimos históricos, 
em 0% e abaixo de zero. 
luis.ribeiro@dinheirovivo.pt
to (PIB), há uma quase perfeita sin-
cronia entre Portugal e a zona euro. 
Ou seja, sempre que a economia 
da zona euro começa a cair, Portu-
gal também cai (aconteceu a partir 
de meados de 2008, por exemplo) 
ou então Portugal já está em reces-
são (foi o caso da crise que come-
çou no final de 2010 e se prolongou 
até meados de 2013), mostram os 
dados do Eurostat e do Instituto 
Nacional de Estatística (INE). 
Ontem, a líder do BCE, Christine 
Lagarde, revelou que “os últimos 
dados económicos, inquéritos e in-
dicadores de alta frequência suge-
rem que o ressurgimento da pan-
demia e a intensificação associada 
às medidas de contenção terão le-
vado a um declínio na atividade no 
quarto trimestre de 2020 e também 
devem pesar sobre a atividade no 
primeiro trimestre deste ano”. 
Portanto, a reta final de 2020 foi 
marcada por uma quebra da eco-
nomia e os primeiros três meses 
deste ano vão pelo mesmo cami-
nho. Recessão à vista, a segunda em 
menos de um ano. 
A zona euro entrou em recessão 
no primeiro trimestre do ano pas-
sado. A economia do euro recuou 
3,7% nos primeiros três meses de 
2020 e depois afundou mais 11,7%. 
Portugal seguiu este ritmo, tendo 
até registado valores piores: menos 
4% e menos 3,9%, respetivamente. 
“A evolução económica continua 
a ser desigual entre setores, com o 
setor de serviços a ser mais adver-
samente afetado pelas novas restri-
ções à interação social e mobilida-
de do que o setor industrial”, referiu 
Azona euro está à beira de 
uma nova recessão, a se-
gunda em menos de um 
ano, e Portugal também, 
tendo em conta o histórico da evo-
lução económica dos dois territó-
rios. Aconteceu no primeiro confi-
namento para deter a covid-19, de -
ve acontecer agora, outra vez. 
A zona euro está prestes a cair 
numa nova recessão técnica, isto 
é, dois trimestres consecutivos de 
quebra da atividade económica, 
avisou ontem a presidente do Ban-
co Central Europeu (BCE), na con-
ferência de imprensa que se se-
guiu à reunião sobre política mo-
netária e taxas de juro, nesta 
quinta-feira. 
Mas isto é um sinal quase inequí-
voco de que Portugal também esta-
rá nessa situação, agravando a di-
nâmica da zona euro, na qual o país 
se insere. 
De acordo com um levantamen-
to das séries históricas da evolução 
trimestral do produto interno bru-
Nova recessão à vista 
na zona euro e em Portugal
ECONOMIA Presidente do BCE, Christine Lagarde, avisa que “não 
podemos descartar novos desenvolvimentos adversos” devido à covid. 
TEXTO LUÍS REIS RIBEIRO 
O Banco Central 
Europeu manteve, 
na reunião de ontem, 
as taxas de juro em 
mínimos históricos. 
A crise é desigual, sublinhou Lagarde, com os serviços a serem mais afetados pelas restrições.
FR
A
N
C
IS
C
O
 S
EC
O
 /
 P
O
O
L 
/ 
A
FP
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 19
António Horta-Osório vai 
liderar o conselho de ad-
ministração da Bial já a 
partir de abril, substituin-
do Luís Portela, que nos últimos 42 
anos presidiu à farmacêutica de 
que é principal acionista. O conhe-
cido banqueiro português, que irá 
acumular estas novas funções com 
as de chairman do Credit Suisse, 
terá como tarefas contribuirpara a 
definição das grandes linhas estra-
tégicas da Bial, tendo em vista a 
consolidação da empresa a nível 
internacional. A farmacêutica por-
tuguesa, que exporta para 60 países 
e tem 11 filiais no exterior, faturou 
344 milhões de euros em 2020, um 
aumento de 11,3% face a 2019, com 
80% a ser garantida nos mercados 
externos. António Portela man-
tém-se como CEO da empresa 
com sede na Trofa. 
O gestor português, que está 
prestes a deixar a presidência exe-
cutiva do banco Lloyds, já tinha ad-
mitido que não excluía Portugal do 
seu futuro, e até reconheceu que 
podia deixar de trabalhar na banca. 
Esta última hipótese não se veio a 
colocar, mas aceitou colocar o seu 
know-how ao serviço da farmacêu-
tica portuguesa. “A Bial é uma das 
empresas portuguesas que mais 
admiro”, diz António Horta-Osório 
em comunicado, sublinhando que 
deseja que a sua experiência ajude 
a consolidar o caminho de empre-
sa internacional de renome cons-
truído por Luís Portela. 
Segundo o ainda chairman da 
Bial, “esta mudança vem sendo 
preparada há algum tempo, visan-
do, por escolha da minha família, o 
reforço da estrutura profissional 
que desenvolvemos, preparando a 
Bial para um novo patamar no con-
texto internacional”. Luís Portela 
está à frente da Bial desde 1979, 
quando comprou a maioria do ca-
pital da empresa fundada pelo avô 
em 1924. Neste percurso de 42 anos, 
transformou a Bial numa farma-
cêutica de âmbito internacional, 
com o lançamento a nível global 
dos primeiros medicamentos de 
investigação portuguesa, um an-
tiepilético e um antiparkinsónico. 
Há dez anos, decidiu passar a pre-
sidência executiva ao filho mais ve-
lho, António Portela, e assumiu as 
funções de presidente do conselho 
de administração. Mas foi avisan-
do que queria retirar-se da vida 
Em 1993, aceitou um convite de 
Emilio Botín para ir trabalhar para 
o Santander e criou o Banco San-
tander de Negócios Portugal. Nes-
te banco, trabalhou em Portugal e 
no Brasil e, mais tarde, no Reino 
Unido, sendo nomeado em 1999 
vice-presidente executivo do gru-
po Santander. Um ano depois as-
sume a presidência executiva do 
Lloyds. No seu currículo consta 
ainda a nomeação pela rainha de 
Inglaterra para administrador não 
executivo do Banco de Inglaterra. 
No verão de 2020, Horta-Osório 
anunciou a sua saída do Lloyds no 
final do mandato, que termina em 
abril. Hoje exerce funções de admi-
nistrador não executivo em alguns 
grupos económicos, como a Exor 
(holding da família Agnelli) e a IN -
PAR (holding da família Lemann). 
sonia.s.pereira@dinheirovivo.pt
António Horta-Osório 
vai ser chairman da Bial 
GESTÃO Banqueiro vai ajudar a definir a estratégia da farmacêutica 
portuguesa para a consolidação nos mercados internacionais.
TEXTO SÓNIA SANTOS PEREIRA 
Banqueiro acumulará a função na Bial com a de líder do Credit Suisse.
Endividamento da 
economia bate recorde
São quatro meses con-
secutivos de recordes. 
O endividamento da 
economia aumentou 
em novembro para fixar um 
novo máximo de sempre. Ao 
todo, empresas, famílias e se-
tor público deviam 742,8 mil 
milhões de euros no final de 
novembro último, segundo 
dados divulgados ontem pelo 
Banco de Portugal. Trata-se de 
uma subida de 2,1 mil milhões 
de euros. Por detrás deste au-
mento está, sobretudo, o con-
tributo da subida do endivida-
mento do setor público, que 
teve um aumento mensal de 
1,4 mil milhões de euros. Já o 
setor privado registou uma su-
bida de 700 milhões de euros 
na dívida. “É normal que em 
dezembro e em janeiro se as-
sista a mais do mesmo”, disse 
Filipe Garcia, economista da 
IMF – Informação de Merca-
dos Financeiros. “É um au-
mento que tem que ver sobre-
tudo com endividamento pa -
ra gestão dos gastos com a 
pandemia”, frisou. 
Segundo o Banco de Portu-
gal, o aumento do “endivida-
mento do setor público refle-
tiu-se, sobretudo, no cresci-
mento do endividamento face 
às próprias administrações 
públicas [2,4 mil milhões de 
euros] e face ao setor financei-
ro [1,0 mil milhões de euros]”. 
“Estes aumentos foram par-
cialmente compensados pela 
redução do endividamento 
face ao exterior [2,0 mil mi-
lhões de euros]”, adiantou 
numa nota de informação es-
tatística. 
O aumento do endivida-
mento no país acontece numa 
altura em que Portugal atra-
vessa uma das maiores crises 
económicas de sempre, devi-
do às medidas adotadas no 
âmbito da epidemia do novo 
coronavírus. 
No setor privado, “o endivi-
damento dos particulares pe-
rante o setor financeiro regis-
tou um incremento de 0,4 mil 
milhões de euros”. “Por sua 
vez, o endividamento das em-
presas aumentou 0,3 mil mi-
lhões de euros, refletindo a su-
bida do endividamento face 
ao exterior de 0,4 mil milhões 
de euros, parcialmente com-
pensada pela redução do en-
dividamento face ao setor fi-
nanceiro”, referiu . 
Filipe Garcia lembrou que 
há empresas e famílias com 
moratórias no crédito e que, 
portanto, não amortizam a 
sua dívida ao banco, o que 
contribui para a manutenção 
do nível de endividamento. 
Também apontou que se re-
gista um aumento na contra-
tação de crédito, nomeada-
mente ao consumo, o que 
acresce ao volume de crédito 
global das famílias. “Mesmo 
que possam amortizar dívida, 
os agentes económicos não o 
estão a fazer por uma questão 
de prudência”, afirmou. “Os 
bancos vão continuar a aper-
tar as condições de acesso ao 
crédito e é prudente manter 
uma folga”, disse o mesmo 
economista. Mas alertou que 
“o stock de dívida não para de 
aumentar” e que “pode tor-
nar-se insustentável” no futu-
ro, quando começarem a su-
bir as taxas de juro. 
ELISABETE TAVARES 
elisabete.tavares@dinheirovivo.pt
CONTAS São mais 2,1 mil milhões acumulados até 
ao mês de novembro. Gastos com medidas adotadas 
na pandemia deverão levar dívida a novos máximos.
Estado, empresas e famílias continuam a endividar-se.
profissional antes dos 70 anos, que 
completa a 28 de julho. 
Cumprindo com o seu expresso 
desejo, Luís Portela prepara-se ago-
ra para se dedicar à Fundação Bial, 
aos livros e à família. “Retiro-me 
com um enorme agradecimento à 
fantástica equipa que tive o privilé-
gio e o prazer de capitanear e com 
a convicção de que, com o apoio de 
António Horta-Osório, estão cria-
das condições para servirmos cada 
vez melhor a saúde de um cada vez 
maior número de pessoas.” 
Carreira de sucesso 
A carreira de sucesso na banca de 
António Horta-Osório é já bem co-
nhecida. O banqueiro iniciou o seu 
percurso profissional em 1987, no 
Citibank, na área de mercado de 
capitais, seguindo-se a Goldman 
Sachs, em Nova Iorque e Londres. 
G
U
ST
AV
O
 B
O
M
 /
 G
LO
BA
L 
IM
AG
EN
S
RE
IN
A
LD
O
 R
O
D
RI
G
U
ES
/G
LO
BA
L 
IM
AG
EN
S
20 LOCAL Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
No início desta semana 
defendeu publicamen-
te o fecho das escolas, 
ao contrário da decisão 
inicial do governo neste confina-
mento. Porquê? 
Nós estamos com bastantes dias de 
atraso neste confinamento, se que-
remos que seja eficaz. Quando vejo 
o caso de Leiria, que foi a capital de 
distrito que teve o melhor desem-
penho no controlo da pandemia 
[até ao Natal] e de repente, em pou-
cas semanas, vemos descambar 
por completo todos os números... 
isso só é resolvido com um confina-
mento que não seja a fingir. 
Isso quer dizer que está claramente 
em desacordo com a atitude do go-
verno, que supostamente apoia. 
Certo. Já tive oportunidade de fa-
lar com membros do governo so-
bre este assunto. Considero que só 
há um fator decisivo para a questão 
do confinamento: o da saúde. To-
dos os dias reúno-me, presencial-
mente ou ao telefone, com o dire-
tor do Hospital de Leiria e pergun-
to quantas camas disponíveis 
temos. E quando os gestores na 
área da saúde nos dão indicações 
claras de que estamos a viver mo-
mentos dramáticos, terá de ser a 
saúde a ditar quais deverão ser as 
ações de confinamento. 
Uma das apostas nos últimos anos 
eram os eventos, muitos eventos. 
Está a decorrer no Estádio Munici-
pal a Taça da Liga, um exemplo deum investimento que agora não 
tem retorno... 
Todo o trabalho que Leiria desen-
volveu nos últimos dez anos foi fei-
to a pensar como colocar o maior 
N
U
N
O
 B
RI
TE
S/
G
LO
BA
L 
IM
AG
EN
S
ENTREVISTA É presidente da Câmara de Leiria desde há um ano e não 
esconde alguma deceção com a falta de apoio do governo nalgumas 
matérias. Insiste na criação do aeroporto em Monte Real e aposta 
na candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura em 2027.
TEXTO PAULA SOFIA LUZ
Gonçalo Lopes 
“A covid mostrou 
que são os autarcas 
e não o Estado 
que resolvem 
os problemas”
número de pessoas na cidade e no 
concelho, a participar na nossa 
agenda cultural e desportiva, para 
atrair e fixar pessoas e assim afir-
mar o nosso território. E de repen-
te, no último ano, temos de mudar 
o chip: não podemos fazer e temos 
de pôr as pessoas em casa, quando 
até então era tirá-las de casa e pô-
-las na rua. Isto para qualquer au-
tarca é a inversão completa das 
suas prioridades. Quando se pen-
sou na Taça da Liga, o objetivo era 
atrair as equipas principais, mas 
também criar na cidade uma atra-
ção que iria trazer bastante retorno 
económico para a hotelaria, a res-
tauração, o comércio... 
Perante isso, a candidatura a Capi-
tal Europeia da Cultura em 2027 é 
o que resta. É aí que vai apostar to-
das as fichas? 
O desenvolvimento do nosso terri-
tório passa muito por apostar em 
três áreas fundamentais: a promo-
ção do desenvolvimento económi-
co e a digitalização, a preocupação 
na área do ambiente e uma tercei-
ra área dedicada à cultura e à cria-
tividade, que tem um papel muito 
importante para a afirmação do 
território – para que seja atrativo 
para a juventude e para a fixação de 
pessoas. E a candidatura a Capital 
Europeia da Cultura representa um 
objetivo muito grande não só para 
Leiria mas para uma região consti-
tuída por 26 municípios. 
Mas é Leiria que assume a lideran-
ça... Quanto é que custa ao municí-
pio esse projeto? 
Até ao momento tem sido da or-
dem de um milhão de euros. Prevê-
-se para o futuro um investimento 
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 21
Concurso público para celebração de contrato de arrendamento 
de loja no Centro Comercial Mira Sol na Urbanização do Buzano
Nuno Filipe Ferreira Alves, Presidente da União das Freguesias de Carcavelos e Parede (“UFCP”), 
torna público que, por reunião do órgão executivo do dia 2 de janeiro de 2021, aprovou a abertura do 
procedimento “Concurso público para celebração de contrato de arrendamento de loja no Centro 
Comercial Mira Sol no Buzano”, sita na Praceta Natália Correia, n.° 181, Urbanização do Buzano, São 
Domingos de Rana, de acordo com as peças de concurso que fazem parte do presente procedimento 
e que poderão ser consultadas:
• Na secretaria da sede da UFCP, em Carcavelos, sita da Estrada da Torre, n.° 1483, 2775-688 Carcavelos;
• Na secretaria da delegação da UFCP, na Parede, sita na Rua José Relvas, n.° 84, 2775-222 Parede.
• No site da UFCP: www.uf-carcavelosparede.pt
As candidaturas deverão obedecer aos critérios constantes do Regime Jurídico de Acesso de Exer-
cício de Atividades de Comércio, Serviços e Restauração, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 10/2015, 
de janeiro e cumprir as leis e regulamentos aplicáveis ao exercício da atividade comercial a exercer 
no local a arrendar.
As propostas, apresentadas nos termos constantes das peças do concurso e acompanhadas dos docu-
mentos aí exigidos, deverão ser entregues para o email procedimentosconcursais@uf-carcavelosparede.pt 
até às 23:59h do dia 16 de fevereiro de 2021.
O presente Edital não dispensa a consulta integral do Programa de Concurso.
Carcavelos, 21 de janeiro de 2021
O Presidente
Nuno Alves
ANÚNCIO 
POR EDITAL 
N.o 2/21
PUB
muito grande na área da progra-
mação e dos equipamentos cultu-
rais: um centro de artes que vai fun-
cionar no topo norte do estádio, 
com uma componente importan-
te para as indústrias criativas; uma 
black box num edifício histórico do 
centro de Leiria (Paço Episcopal) 
dedicada sobretudo às artes de pal-
co, e um centro de artes contempo-
rânea na Vila Portela, através da re-
cuperação do edifício. 
Acredita mesmo que conseguirá 
ganhar esta batalha a cidades 
como Oeiras, Braga, Aveiro, Coim-
bra, entre outras? 
Acredito que sim porque a decisão 
é europeia, de um júri independen-
te. E esta candidatura tem na sua 
base os ideais da constituição euro-
peia: integração (de vários conce-
lhos, assim como a UE integrou vá-
rios países), espírito de coesão (os 
que estão mais desenvolvidos têm 
de puxar pelos mais fracos, como 
na Europa), o espírito solidário e de 
consciência social. E Leiria (e toda 
a rede) tem todas as condições para 
ser embaixadora da cultura na Eu-
ropa: um território de 700 mil habi-
tantes, a norte de Lisboa, com uma 
pujança do ponto de vista econó-
mico e referências na área do patri-
mónio cultural únicas – como o 
Mosteiro de Alcobaça e o da Batalha 
que são classificados pela UNESCO 
–, Fátima e um vasto património 
imaterial que nos torna uma candi-
datura potencialmente vencedora. 
Leiria e Coimbra protagonizaram 
no verão passado uma disputa a 
propósito da construção de um 
novo aeroporto. Sentiu-se preteri-
do pelo governo quando um minis-
tro veio defender Coimbra? 
A minha relação com Coimbra é 
perfeitamente tranquila. Tenho o 
máximo respeito pelo trabalho que 
lá é desenvolvido. Mas a região de 
Leiria está em profundo cresci-
mento e transformação, e irá pas-
sar por momentos de forte afirma-
ção no contexto nacional. O aero-
porto é só o que nos está a faltar 
para sermos muito grandes, para 
sermos maiores e conquistarmos 
coisas que até agora não conquis-
támos. Sei que é um processo de-
morado, que nos obriga a duas coi-
sas: trabalho de equipa, a exemplo 
do que temos na rede cultura 2027, 
e também acordos, regras de ouro 
que existem entre a Câmara de Lei-
ria, o Núcleo Empresarial, o Insti-
tuto Politécnico e o hospital. Inde-
pendentemente daquilo que cada 
um faz, nunca criticamos o traba-
lho uns dos outros. 
Se os estudos concluírem que o 
aeroporto deverá ser construído 
na região de Coimbra, aceita-o? 
A região centro tem polos de atra-
ção diversos e muito importantes. 
Mas o maior de todos, e o que gera 
movimentações no espaço aéreo 
europeu, é Fátima. Por isso o aero-
porto tem de estar o mais próximo 
possível deste polo de atração. 
No final do ano passado, o ministro 
do Ambiente recuou na reconstru-
ção de uma estação de tratamento 
de efluentes, o que vai protelar a 
despoluição da ribeira dos Mila-
gres e da bacia do Lis. Como é que 
recebeu essa notícia? 
O senhor ministro é livre de dizer o 
que entende sem dar conhecimen-
to ao presidente da Câmara de Lei-
ria. Mas recebi-a com bastante 
desagrado. Acho que este tipo de 
assuntos tem um nível de preocu-
pação e impacto social que mere-
cem outro tipo de trato e acompa-
nhamento político. O assunto devia 
ter sido tratado não à volta do mi-
crofone de um jornalista, no meio 
de uma visita ao Pinhal de Leiria, 
mas no momento e na altura cer-
tos, com as explicações adequadas. 
Tem faltado esse tato e essa inter-
ação entre o poder local e o poder 
central? 
Quanto a isso respondo com o 
exemplo da covid, que mostrou 
muita coisa. Mostrou que o Estado 
português, nas suas estruturas des-
centralizadas, não tem liderança 
nem capacidade de intervenção, o 
que se reflete nas estruturas de Saú-
de, Educação, Segurança Social. 
Também ficou evidente que são os 
autarcas que tentam fazer pontes e 
resolver problemas, porque têm or-
çamento, coragem e o apoio das 
pessoas. 
Tem insistido em falar dos apoios 
no âmbito da emergência social. 
A pandemia alterou o tecido social 
de Leiria? Em que medida? 
Leiria é um concelho extremamen-
te dinâmico do ponto de vista eco-
nómico. Também tem desequilí-
brios sociais, e a pandemia trouxe 
novas situações de carência econó-
mica, provocada pelo encerramen-
to de algumas atividades. Houve 
um primeiro passo que foi dado 
através de ajudaalimentar, que foi 
fundamental para um conjunto de 
famílias imigrantes, sobretudo bra-
sileiras, e que logo no início do pri-
meiro confinamento ficaram sem 
rendimentos. 
E que outros apoios? 
Além disso, criámos o fundo de 
emergência municipal de apoio às 
empresas, que permitiu acudir 
àquele empresário que tem a sua 
unidade comercial fechada. Tam-
bém criámos um fundo, com 1,2 
milhões de euros, para acudir a 
quem e quando é preciso. Neste 
caso é a pandemia, no futuro pode 
ser uma inundação, um incêndio, 
qualquer outra catástrofe. As nos-
ao resto do mandato. E há decisões 
que têm de ser pensadas e parti-
lhadas, do foro pessoal, mas tam-
bém do foro político. Tenho tido 
bastantes pessoas que me incenti-
vam a continuar nesta vida autár-
quica, mas ainda não tomei uma 
decisão. 
Raul Castro – que saiu da câmara 
há pouco mais de um ano, deixan-
do-lhe a presidência – teceu duras 
críticas ao seu desempenho en-
quanto líder do executivo. Em 
2017, “uma referência, uma inspi-
ração, um homem superior”. 
O que é que mudou? 
Continuo a ter grande admiração 
pelo trabalho realizado na Câmara 
de Leiria. É um trabalho notável de 
recuperação económica, ao qual 
continuo a ter um enorme respeito 
e lealdade. 
Mas quando ele lhe dá uma nota 
negativa, como é que se sente? 
Traído? 
Não posso responder. Terá de lhe 
perguntar a ele os verdadeiros mo-
tivos dessas avaliação. Sinto-me de 
consciência tranquila e muito mo-
tivado. O combate à covid foi uma 
inspiração como autarca, neste 
primeiro ano enquanto presiden-
te. E só quem está cá diariamente é 
que percebe quais são os níveis de 
prioridade. Felizmente Raul Cas-
tro não teve essa chatice de viver 
esta crise pandémica. Nós fomos 
“Todos os dias reúno-
-me com o diretor do 
Hospital de Leiria, 
presencialmente ou 
ao telefone, e pergunto 
quantas camas 
disponíveis temos.” 
“A candidatura a 
Capital Europeia da 
Cultura representa um 
objetivo muito grande 
para Leiria mas 
também para uma 
região constituída 
por 26 municípios.” 
sas prioridades [enquanto autar-
cas] mudaram radicalmente. A nos-
sa visão de médio e longo prazo está 
limitada. Ninguém sabe como esta-
remos daqui a um ano. 
Entretanto já cancelou a Feira de 
Maio... 
Sim, que seria no mês cinco. Mas 
também estamos a cancelar coisas 
que eram previstas para o mês sete. 
Se me perguntar sobre a passagem 
de ano, não consigo responder. 
Mas no mês dez haverá, à partida, 
eleições autárquicas. Porque é 
que ainda não anunciou a sua re-
candidatura? 
Porque o momento é ainda de al-
guma expectativa relativamente 
dos concelhos do país que mais 
medidas impulsionaram, e muitas 
delas em antecipação, como o uso 
da máscara na rua, os testes aos 
emigrantes que vieram passar o 
Natal, as ações de apoio ao dina-
mismo económico. Todas estas 
ações levam a que muitas coisas 
que tínhamos sonhado para Leiria 
tenham de ser adiadas. 
Em que é que Leiria se pode posi-
cionar melhor em relação a outras 
cidades vizinhas? 
Temos de afirmar sempre Leiria – 
mas também os concelhos vizinhos 
– como um polo importante de des-
envolvimento económico e indus-
trial, com mão-de-obra e empresá-
rios de grande capacidade, mas 
onde o instituto politécnico tem 
um papel fundamental, na forma-
ção. Depois temos de criar condi-
ções de investimento público que 
garantam alavancar toda esta am-
bição local e regional, coisa que não 
tem acontecido; o alargamento do 
hospital, com mais valências, a 
transição do politécnico para uni-
versidade. E tudo isso obriga a um 
envolvimento do governo. Um dos 
investimentos que iremos fazer no 
futuro é o Centro de Negócios Digi-
tal no topo norte do estádio. E é im-
portante sublinhar a proximidade 
a Lisboa. Somos a cidade a norte 
da capital com mais potencial de 
crescimento.
22 INTERNACIONAL Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
A rutura com a equipa an-
terior na Casa Branca 
concretizou-se, como 
anunciado, com uma sé-
rie de medidas nas primeiras horas. 
Joe Biden assinou 17 ordens execu-
tivas e memorandos, uma declara-
ção a proclamar 20 de janeiro Dia 
da Unidade Nacional e uma carta 
endereçada ao secretário-geral das 
Nações Unidas, António Guterres. 
Ao segundo dia, primeiro a tempo 
inteiro, o democrata assinou mais 
uma dezenas de ordens executivas 
e de memorandos sobre a priorida-
de total, a pandemia. Crise climáti-
ca, igualdade racial, proteção de 
imigrantes e de minorias sexuais 
foram os outros temas que o novo 
presidente decidiu desde já atacar, 
em grande parte com a revogação 
de ordens de Donald Trump. O ex-
verno à crise. Um plano “impulsio-
nado pela ciência, dados e saúde 
pública e não pela política”, disse 
Jeff Zients, coordenador do novo 
grupo de trabalho covid-19. 
No plano internacional, o país si-
nalizou na quinta-feira que reto-
mariam o seu financiamento à 
OMS. O imunologista e diretor do 
Instituto Nacional de Alergia e 
Doenças Infecciosas Anthony Fau-
ci confirmou que os EUA iriam 
continuar a financiar a organiza-
ção, ao mesmo tempo que pediu 
uma investigação aturada às ori-
gens da pandemia na China. “Em 
circunstâncias difíceis, esta organi-
zação mobilizou a comunidade 
científica e de investigação e de -
senvolvimento para acelerar vaci-
nas, terapias e diagnósticos”, disse 
Fauci numa reunião da OMS. 
A ética faz também parte das 
preocupações de Joe Biden. Uma 
das ordens executivas proíbe os 
novos membros da administração 
de receberem ofertas dos grupos 
de interesses, de quando saírem da 
administração entrarem para em-
presas relacionadas com a área de 
trabalho, nem de aceitarem salá-
rios ou benesses do anterior em-
pregador. Ainda na quarta-feira à 
noite, Biden instou os futuros altos 
funcionários a tratarem todas as 
pessoas com respeito. “Caso con-
trário despedir-vos-ei no momen-
to”, advertiu. 
Numa reunião virtual realizada 
na Sala de Jantar de Estado de jura-
mento dos futuros funcionários, 
Biden reiterou o compromisso 
com os valores, ao dizer que os no-
meados vão “trabalhar com o go-
verno mais decente do mundo”. 
E acrescentou: “Temos de restaurar 
a alma deste país, e conto com to-
dos vós.” Noutro contraste para 
com Donald Trump, Biden realçou 
que a lealdade dos funcionários re-
side no povo norte-americano e 
não no presidente. “As pessoas não 
trabalham para nós, nós trabalha-
mos para o povo. Eu trabalho para 
o povo. Eles pagam o meu salário. 
Na sala de jantar de Estado, 
Biden reuniu-se de forma 
virtual com centenas de 
funcionários indigitados.
Dezenas de ordens para 
reverter a política de Trump
EUA Joe Biden e a sua equipa começaram por cumprir a palavra ao porem em prática dezenas 
de ordens executivas e diretivas para as agências e departamentos com o objetivo de virar 
a página e atacar os problemas mais prementes, caso da pandemia do novo coronavírus. 
TEXTO CÉSAR AVÓ
JI
M
 W
AT
SO
N
/A
FP
-presidente pautou a sua política 
pela reversão de muitas medidas 
de Barack Obama. 
Na quinta-feira também se sou-
be que, em relação à política exter-
na, a administração Biden juntará 
a Rússia à China na lista de países a 
tratar com firmeza. Apesar de nem 
todos os departamentos e agências 
terem alinhado, os anos de Trump 
foram marcados pelas declarações 
de admiração mútua por Vladimir 
Putin e encontros dos quais nada 
transpirou. 
Ao regresso ao Acordo de Paris 
sobre as alterações climáticas, a 
permanência na Organização 
Mundial de Saúde, a revogação da 
licença de construção do contro-
verso gasoduto Keystone XL entre 
os EUA e o Canadá, juntam-se me-
didas de grande simbolismo como 
acabar com o estado de emergên-
cia na fronteira sul, o que implica o 
fim da construção de novos troços 
da vedação com o México e a cana-
lização dos respetivos fundos para 
outras necessidades. Os imigrantes 
e refugiados viram uma atenção es-
pecial de Biden, com ordens execu-
tivas para a revisão de prioridades 
na política migratória, na prática 
acabando com a separação de fa-
mílias na fronteira; terminar com 
vetos discriminatóriosde entrada 
nos EUA ao revogar ordens ante-
riores de Trump sobre proibição de 
entrada de cidadãos de alguns paí-
ses muçulmanos e africanos; ao 
dar ordens para se contabilizar to-
dos os habitantes no censo, sem 
exceção; ao repor medida que im-
pede o repatriamento de cidadãos 
da Libéria; e ao proteger os imi-
grantes ilegais que entraram atra-
vés do protocolo DACA, os chama-
dos dreamers. 
Ao segundo dia no cargo, Joe Bi-
den apresentou uma nova estraté-
gia nacional de 1,9 biliões de dóla-
res para enfrentar a pandemia, que 
passa por vacinar cem milhões de 
pessoas em cem dias, aumentar o 
uso de máscaras e testes e oferecer 
mais ajuda de emergência aos des-
empregados e empresários. Para já 
assinou dez ordens executivas para 
democratizar os testes e vacinas, 
tornar as escolas e as viagens mais 
seguras com a obrigatoriedade do 
uso de máscaras, e dotar os estados 
com mais meios. Outras ordens 
irão fomentar a investigação de no-
vos tratamentos para a covid-19; 
reforçar a recolha e análise de da-
dos para moldar a resposta do go-
Aos funcionários 
indigitados, o novo 
presidente disse que 
vão entrar no 
“governo mais 
decente do mundo” 
e exigiu que tratem 
todos os norte-
-americanos com 
respeito. “Caso 
contrário despedir-
-vos-ei no momento”, 
advertiu. 
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 23
Sento-me a escrever sobre os desafios 
da geopolítica neste novo ano, de-
pois de o Congresso americano ter 
confirmado Joe Biden e Kamala Har-
ris como os próximos presidente e vice-pre-
sidente e após os eventos nefastos ocorridos 
no Capitólio. Ambos os acontecimentos dei-
xaram uma marca global no que será 2021 e – 
atrever-me-ia a dizer – nos próximos anos. 
 
A disparatada cadeia de eventos que se suce-
deram desde o passado dia 3 de novembro 
leva-me a tecer as seguintes conclusões: 
> Comprovou-se que o processo eleitoral 
do país considerado símbolo da 
democracia no mundo tomou um rumo 
até há pouco impensável. 
> Observou-se que o próprio presidente 
questionou abertamente a legitimidade 
dos resultados, apesar de ter sido 
rejeitado por todas as instâncias judiciais. 
> Percebeu-se que essa mensagem 
distorcida imbuiu os eleitores do 
presidente Trump, dos quais mais de 85% 
creem que as eleições foram 
manipuladas. 
> Corroborou-se que o próprio presidente 
pressionou diretamente os diferentes 
atores do processo, como o secretário de 
Estado da Geórgia, para que revertessem 
os resultados. 
> E, por fim, testemunhou-se o assalto ao 
edifício do Congresso, símbolo máximo 
da democracia representativa, por 
extremistas violentos, atiçados pela 
retórica inflamatória do seu líder, com as 
consequências já verificadas. 
 
A chegada do presidente eleito Biden à Casa 
Branca alimentava (e alimenta) grandes ex-
pectativas de mudança no mundo, que hoje 
se veem tolhidas pelos últimos aconteci-
mentos. Em todas as geografias e na maioria 
das capitais do mundo surgem já as pergun-
tas que se seguem. 
Como recuperar a confiança e o respeito 
do resto do mundo no modelo de governo 
americano depois do sucedido? Como con-
vencer as pessoas de que este foi um inci-
dente isolado, que não se repetirá quando 
uma sociedade tão dividida como a dos EUA 
voltar às urnas em 2022 ou 2024? Como reto-
mar a defesa acérrima da democracia, refor-
çando o seu valor pelo mundo fora? Como 
evitar que os seguidores de modelos alterna-
tivos questionem a autoridade com que os 
EUA exercem a sua capacidade de persua-
são e influência? 
A geopolítica em 2021: há demasiado em jogo 
para agirmos como meros espectadores
Opinião 
Susana Malcorra
Num momento em que a cooperação in-
ternacional, o multilateralismo e a essência 
da ordem que surgiu após a Segunda Guerra 
Mundial, com o sistema democrático no 
centro, são questionados, é fundamental 
que a administração americana recupere o 
seu papel influente. Os primeiros sinais da-
dos pelo presidente eleito confirmaram a in-
tenção de reocupar o lugar que o país detém 
historicamente, ainda que com indícios de 
que espera estar acompanhado por outros 
países com as mesmas perspetivas, para não 
ter toda a responsabilidade a pesar nos seus 
ombros. Porém, a atual tensão social interna 
pode vir a monopolizar a atenção da nova 
administração e a interferir na fixação das 
prioridades da agenda internacional. 
O modelo existente que associa democra-
cia liberal e capitalismo necessita de um pro-
fundo ajustamento. As reivindicações dos ci-
dadãos insatisfeitos em boa parte do planeta 
têm vindo a aumentar ao longo dos anos e 
requerem respostas. A desigualdade e a falta 
de oportunidades e de mobilidade social 
alargaram o fosso entre cidadãos e governos 
e governantes, pondo em causa a capacida-
de da democracia para resolver os proble-
mas. Os efeitos da disrupção tecnológica e 
da digitalização intensificam-se – e a pande-
mia só veio acelerar o processo. 
É fundamental encontrar um modelo 
que ofereça soluções a quem se sente rele-
gado, que reconheça que não podemos sair 
desta situação sozinhos e que só a sustenta-
bilidade através do equilíbrio social, econó-
mico e ambiental poderá evitar males 
maiores. A crise da covid é outra chamada 
de atenção para encarar o futuro sob uma 
nova perspetiva. 
Aquilo a que assistimos nas últimas sema-
nas nos EUA é uma chamada de atenção 
para todos e um reflexo do estado de espírito 
que reina em muitas partes do mundo. Em 
finais de 2019 e inícios de 2020, vimos muitas 
pessoas a sair em massa às ruas em diferen-
tes capitais para protestar contra os seus go-
vernos, mobilizadas por diferentes causas, 
por vezes, irreconciliáveis, mas partilhando 
o objetivo de pedir mudanças e resultados 
concretos para os cidadãos. A pandemia e as 
restrições vieram cristalizar tudo isso, mas 
de certeza que, uma vez superadas as condi-
cionantes e medidos os efeitos da covid, as 
ruas voltarão a ser palco de protestos. 
A pergunta basilar é se tudo isso, incluin-
do os mais recentes acontecimentos em 
Washington, não poderá reforçar valores e 
princípios, adequando os instrumentos 
disponíveis às exigências do século XXI, 
com os EUA a recuperar o seu papel na co-
munidade internacional ou se, pelo contrá-
rio, não poderá debilitar-nos, fazendo sur-
gir questionamentos com consequências 
difíceis de prognosticar, que fragilizem ain-
da mais o sistema. E, no pano de fundo, está 
a confrontação geopolítica entre a China e 
os EUA, que condicionará a dinâmica de 
diálogo e negociação. É nesse espaço que a 
União Europeia pode e deve tomar para si o 
dever de articular e construir pontes nas 
instâncias onde as diferenças pareçam irre-
conciliáveis. 
Tudo sem perder de vista que há muitos 
atores – dos governos aos partidos ou aos 
movimentos e às redes sociais – interessados 
em propagar modelos alternativos. Alguns 
defendem uma visão arreigada de autorita-
rismo, que prioriza a eficácia dos resultados 
medidos exclusivamente em termos de 
desenvolvimento económico em detrimen-
to de todas as considerações relativas aos di-
reitos e liberdades. 
A resposta final está por chegar, e a forma 
que assumir terá um impacte significativo 
na redefinição do futuro a que aspiramos. 
Há demasiado em jogo para agirmos como 
meros espectadores. 
 
 
Professora decana da IE School of Global 
and Public Affairs (IE University)
O modelo existente que 
associa democracia 
liberal e capitalismo 
necessita de um 
profundo ajustamento. 
As reivindicações dos 
cidadãos insatisfeitos 
em boa parte do planeta 
têm vindo a aumentar 
ao longo dos anos 
e requerem respostas.
Eles pagam o vosso salário”, disse 
na videoconferência. 
Entrada musculada 
A administração Biden quer pror-
rogar por cinco anos com a Rússia 
o tratado Novo START a dias deste 
expirar, e ao mesmo tempo prepa-
ra-se para avançar com mais san-
ções a Moscovo, numa demonstra-
ção de força sem paralelo desde o 
fim da Guerra Fria. O acordo, o úni-
co tratado a limitar os dois maiores 
arsenais nucleares do mundo, foi 
assinado em 2002por George W. 
Bush e Vladimir Putin e deixa de ter 
força legal no dia 5 de fevereiro. 
A administração Trump tentou nos 
últimos meses fechar um acordo 
de extensão de curto, mas falhou 
ao tentar incluir a China como si-
gnatária. A Rússia mostrou-se favo-
rável a uma renovação do tratado 
que restringe o número de ogivas 
nucleares estratégicas a 1550 por 
mais cinco anos. 
 O secretário de Estado indigita-
do Antony Blinken disse aos con-
gressistas na terça-feira que as san-
ções a aprovar no Congresso serão 
“extremamente úteis para se poder 
impor condições e consequências” 
à Rússia. Blinken disse que o Novo 
START proporciona aos Estados 
Unidos “tremendo acesso a dados 
e inspeções”, pelo que é “certamen-
te do interesse nacional renovar”. 
Ao mesmo tempo, a nova admi-
nistração está a preparar-se para 
impor mais sanções à Rússia, en-
quanto se aguarda uma nova ava-
liação das suas recentes atividades, 
solicitada pelos serviços secretos. 
A pedido de Biden, a nova diretora 
dos Serviços Secretos, Avril Haines, 
irá avaliar a alegada interferência 
da Rússia nas eleições de 2020, o 
envenenamento do líder da oposi-
ção Alexei Navalny e as alegações 
de que os russos estariam a pagar 
recompensas aos talibãs para atin-
girem soldados dos EUA no Afega-
nistão. Faz ainda parte da investi-
gação um ataque cibernético a 
agências e departamentos federais 
relacionados com o software So-
larWinds, que analistas atribuíram 
à Rússia. “Vamos utilizar estas ava-
liações para informar a nossa res-
posta à agressão russa nas próxi-
mas semanas”, disse outro alto fun-
cionário ao The Washington Post. 
Biden está a excluir um “restabe-
lecimento” nas relações bilaterais 
com Moscovo, ao contrário do que 
tem sido prática. “Esta será a pri-
meira administração americana 
pós-soviética que não entrou em 
funções com o compromisso de 
forjar uma relação mais calorosa 
com a Rússia”, disse Angela Stent, 
uma alta funcionária dos serviços 
secretos durante a administração 
de George W. Bush. 
“Tal como trabalhamos com a 
Rússia, também nós trabalhare-
mos para responsabilizar a Rússia 
pelas suas ações imprudentes e 
agressivas que temos visto nos últi-
mos meses e anos”, disse um alto 
funcionário ao Post .
24 INTERNACIONAL Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
Trunfo de Sánchez na Catalunha 
baralha as contas independentistas
ESPANHA Candidatura do ministro da Saúde, Salvador Illa, às eleições catalãs foi anunciada 
de surpresa no fim de 2020 e as sondagens já lhe dão a vitória. Apoio à independência em queda.
Osocialista catalão Salva-
dor Illa era quase um 
desconhecido quando 
assumiu, a 13 de janeiro 
de 2020, a pasta da Saúde em Espa-
nha. Num país onde esta área é da 
responsabilidade dos governos au-
tonómicos, o cargo não era visto 
como importante – o Unidas Pode-
mos terá até recusado a pasta nas 
negociações para a formação da 
coligação com o PSOE. Há um ano, 
a covid-19 era algo distante, que só 
preocupava a China. Mas o novo 
coronavírus espalhou-se pelo 
mundo e, diante da pandemia, Illa 
tornou-se um dos rostos mais co-
nhecidos do governo. Há menos de 
um mês, soube-se que será o can-
didato dos socialistas às eleições 
autonómicas na Catalunha. Pedro 
Sánchez lançou o seu trunfo e já 
está a ter resultados: Illa surge à 
frente das sondagens e baralha as 
contas dos independentistas. 
Em março, 62% dos espanhóis 
não sabiam quem era o seu minis-
tro da Saúde, segundo uma sonda-
gem do Centro de Investigações 
Sociológicas (CIS). Em outubro, de-
pois do confinamento e do estado 
de alarme e apesar dos números de 
casos e de mortes por covid-19 em 
Espanha, 85% identificavam corre-
tamente Illa – com os seus famosos 
óculos de massa preta. E ele era o 
segundo ministro com melhor ava-
liação do governo (uma média de 
4,7), atrás apenas da titular da pas-
ta da Economia, Nadia Calviño (5), 
e aparecendo à frente do próprio 
primeiro-ministro (4,3). 
O catalão de 54 anos tinha até 
agora como experiência política a 
presidência da câmara da sua terra 
natal, La Roca de Vallés, e anos de 
trabalho de bastidores no Partido 
Socialista da Catalunha (PSC, no 
qual milita desde 2005).O secretá-
rio da área de Organização do PSC, 
número dois do líder Miquel Iceta, 
ajudou a negociar vários acordos, 
como o que permitiu a coligação 
que colocou Ada Colau à frente da 
câmara de Barcelona. Esteve tam-
bém na equipa que negociou a 
abstenção dos independentistas 
da Esquerda Republicana da Cata-
lunha (ERC) à investidura de Sán-
chez e terá sido para servir de liga-
ção aos catalães que este o incluiu 
no governo. 
A sua veia de negociador, além 
da popularidade nas sondagens, 
TEXTO SUSANA SALVADOR
nha, admitindo que não parte com 
a pandemia resolvida, mas num 
momento de esperança com a che-
gada da vacina. 
As eleições autonómicas foram 
antecipadas para 14 de fevereiro 
depois de o presidente do governo 
catalão, Quim Torra, ter sido con-
denado por desobediência e ficado 
inabilitado para o desempenho de 
cargos públicos. Mas, diante da ter-
ceira vaga da pandemia, o governo 
catalão e os partidos decidiram 
adiar as eleições para 30 de maio – 
os socialistas queriam que fossem 
adiadas no máximo para março, 
esperando continuar a aproveitar 
o efeito que a candidatura de Illa 
teve. Contudo, o Tribunal Superior 
de Justiça da Catalunha decidiu 
manter a data original, em respos-
ta a um particular, aguardando-se 
a decisão final do recurso. 
Nesta quinta-feira, a sondagem 
CIS dava a vitória a Illa, com 23,9% 
das intenções de voto (entre 30 a 35 
deputados no Parlamento catalão). 
No final do ano passado, surgiam 
em terceiro nas sondagens. Em se-
gundo lugar da pesquisa do CIS 
surge a ERC, do atual presidente in-
terino da Generalitat, Pere Ara-
gonès, com 20,6% (31 a 33 deputa-
dos), sendo que a outra força polí-
tica independentista, o Junts per 
Catalunya, não vai além dos 12,5% 
dos votos (20 a 27 deputados). 
Atualmente coligados no governo 
catalão, os dois partidos avançam 
divididos para a eleição. O terceiro 
partido independentista, a Candi-
datura de União Popular, tem 6% (8 
a 11 deputados). 
Juntos, estes partidos não che-
gam a 40% das intenções de voto e 
teriam dificuldade em repetir a 
maioria parlamentar que agora 
têm. Este número que vai ao en-
contro da última sondagem GAD3 
para o jornal La Vanguardia, que 
colocava o apoio à independência 
da Catalunha nos 42,6%, frente aos 
48,9% que votariam “não” se hou-
vesse um referendo. Os catalães 
realizaram a 1 de outubro de 2017 
um referendo que não foi reco-
nhecido por Espanha e que abriu 
a crise política na região, que pas-
sou pela perda temporária da au-
tonomia e o julgamento dos res-
ponsáveis pela consulta – uns es-
tão presos, outros, como o então 
pre si dente da Generalitat, Carles 
Puig demont, optaram pelo exílio. 
Salvador Illa 
tornou-se 
um dos rostos 
da luta contra 
a covid-19.
Eleições foram 
marcadas para 14 de 
fevereiro, mas a covid-
-19 obrigou a adiá-las 
para 30 de maio. Um 
tribunal suspendeu 
contudo essa decisão 
e espera-se o recurso. 
terá sido uma das razões pelas 
quais Iceta terá dito a Sánchez que 
Illa deveria ser o candidato às elei-
ções catalãs. Espanha estava então 
no meio do segundo pico da pan-
demia e o primeiro-ministro terá 
decidido manter a candidatura em 
segredo até ao final do ano, para 
evitar polémica. Foi a 30 de dezem-
bro que o líder do PSC, que foi o 
candidato em 2015 e 2017, anun-
ciou que o ministro era o escolhido 
para ir a votos em 2021. 
“Queremos uma nova etapa de 
reencontros sem bandas nem blo-
cos, para deixar para trás esta déca-
da perdida de desencontros dolo-
rosos e queixas inúteis”, disse dias 
depois Illa, no primeiro ato como 
candidato na Catalunha. E anun-
ciou que só deixará o Ministério da 
Saúde quando começar a campa-
EP
A
/E
M
IL
IO
 N
A
RA
N
JO
OS ADVERSÁRIOS
Carlos Carrizosa 
Ciudadanos 
Em 2017 
conquistou 25,6% 
dos votos e 36 
deputados. Mas a 
então candidata e 
atual líder do Ciudadanosa nível 
nacional, Inés Arrimadas, não 
conseguiu formar governo. Agora o 
candidato é o n.º 2, o advogado 
Carlos Carrizosa, mas a sondagem 
do CIS prevê um descalabro: 9,6% 
de intenções de voto e 13 a 15 
deputados. 
 
Pere Aragonès 
Esquerda 
Republicana 
O presidente 
interino da 
Generalitat é o 
candidato da ERC, 
cujo líder foi um dos condenados 
pelo referendo de 2017, Oriol 
Junqueras. Tem sido o favorito nas 
sondagens, mas na do CIS surge atrás 
do socialista Salvador Illa, com 20,6% 
(31 a 33 deputados). Atualmente tem 
31 e governa com o Junts. 
 
Laura Borrás 
Junts per Catalunya 
A atual porta-voz 
do Junts no 
Parlamento catalão 
é a candidata do 
partido do ex-
-presidente da Generalitat, Carles 
Puigdemont (no exílio). Tem 12,5% na 
CIS (20 a 27 deputados). 
O Partido Democrata Europeu 
Catalão, que fazia parte do Junts, vai 
a votos separado, com Àngels 
Chacón (ex-titular da pasta das 
Empresas). 
 
Jéssica Albiach 
En Comú Podem 
A marca do 
Podemos na 
Catalunha 
concorre com a 
líder do grupo 
parlamentar e surge 
com 9,7% (9 a 12 deputados). 
 
Ignacio Garriga 
Vox 
A extrema-direita prepara-se para 
entrar em força no Parlamento 
catalão, com o CIS a dar-lhe 6,6% 
(6 a 10 deputados). O candidato é 
atualmente deputado no Congresso 
de Espanha. 
 
Dolors Sabater 
Candidatura de União Popular 
A outra força independentista 
concorre com a ex-autarca de 
Badalona. Tem 6% das intenções 
de voto (8 a 11 deputados). 
 
Alejandro Fernández 
Partido Popular 
O novo líder do PP catalão surge 
com 5,8% (7 deputados), abaixo do 
Vox, mas mais do que o PP tem 
agora (4 deputados).
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 25
Oembaixador Eurico Paes, ac-
tualmente reformado, era à 
época dos factos que aqui 
relata o primeiro-secretário 
da Embaixada de Portugal em Argel. É 
também membro da Comissão de Re-
lações Internacionais da Sociedade de 
Geografia de Lisboa, espaço no qual 
promove conferências, tendo algumas 
este cunho de memória diplomática. 
Na primavera de 1980, a traineira 
Rainha do Mar, com 17 pescadores de 
Aveiro a bordo, foi apresada pela Poli-
sário em águas sarauis, que os portu-
gueses julgavam abrangidas no re-
cém-assinado acordo de pescas com 
Marrocos. Relato do então primeiro-
-secretário Eurico Paes, em Argel: 
“A Embaixada de Portugal em Argel 
foi imediatamente prevenida do se-
questro dos 17 portugueses em águas 
sarauis pela Embaixada da República 
Árabe Saraui Democrática (RASD) em 
Argel (que era onde funcionava o ver-
dadeiro governo saraui), que os ho-
mens só seriam libertados se o Minis-
tro dos Negócios Estrangeiros portu-
guês fosse a Argel negociar com as 
autoridades sarauis. Esta exigência 
trazia manifestamente água no bico 
pois, se isso acontecesse, equivaleria 
a um reconhecimento (pelo menos 
implícito) da independência da RASD 
por Portugal. Transmitido o aconteci-
mento para Lisboa, logo o MNE Frei-
tas do Amaral declarou que não se 
deslocaria a Argel para negociar a li-
bertação destes detidos ilegitima-
mente. Prudente, Freitas não quis ex-
por-se ao vexame. Imediatamente 
toda a imprensa portuguesa se atirou 
ao governo português, chefiado à 
época pelo arguto Sá Carneiro. Foi 
nessa altura que o primeiro-ministro 
português, já cansado com a pressão 
mediática e eventualmente receoso 
do efeito negativo que o assunto cau-
sava ao governo, resolveu enviar a Ar-
gel, não um membro do seu governo, 
mas o director das Relações Interna-
cionais (RI) do PSD, para tentar resol-
ver o assunto. Freitas não concordava 
em negociações com terroristas 
(como dizia) e, portanto, quis demar-
car-se. Seria então uma acção parti-
dária e não governativa. 
O dia em que Portugal quase 
reconheceu a Polisário e 
resgatou 17 pescadores de Aveiro
Opinião 
Raul M. Braga Pires
Uma semana depois do aprisiona-
mento dos pobres pescadores apare-
ceu em Argel o Dr. Luís Fontoura, que 
dirigia o gabinete de RI do PSD. Trazia 
duas cartas, recebidas independente-
mente uma da outra. Uma do MNE 
Freitas do Amaral, que, não o manda-
tando para nada, apenas lhe limitava a 
acção, proibindo-o de falar em nome 
do governo português. A outra carta, 
mais institucional e formal, de Sá Car-
neiro, incumbia-o de representar o 
governo português nas negociações 
tendentes à libertação dos homens. 
Fontoura não tinha, assim, um duplo 
mandato. Mas também não queria 
deixar de cumprir o que um e outro 
dos líderes da coligação governamen-
tal lhe tinham recomendado. O gran-
de problema prévio era assim o seu re-
conhecimento pelos ‘polisários’ como 
legítimo representante do governo 
português, para que, negociando com 
eles a nível de governo, pudessem di-
zer que o governo de Portugal tinha 
implicitamente reconhecido o gover-
no da RASD.” 
Interrompo a interessante narrativa 
para ir directo ao problema central, já 
que a Polisário/RASD exigiu que Por-
tugal reconhecesse oficialmente a sua 
existência para libertar os 17 cativos 
portugueses. Como é que o enviado 
do PSD “descalçou esta bota”? De re-
gresso ao narrador: 
“Fontoura, a quem eu tinha entre-
gue um jornal antigo onde, numa vi-
sita oficial que Felipe González tinha 
feito a Argel, ainda como líder da 
oposição espanhola, tinha respondi-
do à sacramental pergunta que: ‘El 
PSOE reconoce la existência del pue-
blo sahraui en lucha.’ Fontoura sorri e 
toma nota. Vai ao deserto e regressa 
no dia seguinte com os homens, vito-
rioso. 
À chegada ao aeroporto Houari Bou-
medienne, rodeado pelos 17 pescado-
res portugueses, diz aos jornalistas que 
o interrogam: ‘O PSD reconhece a exis-
tência do povo saharui em luta!’” 
 
 
Politólogo/arabista 
www.maghreb-machrek.pt 
Escreve de acordo com a antiga ortografia
Muito do que se decide no círcu-
lo do poder em Washington 
tem um impacto global, quer 
se queira quer não. Peço des-
culpa por começar este texto com esta la-
palissada. Mas é um facto que a política 
americana continua a pesar mais do que 
nenhuma outra nas relações estratégicas e 
económicas internacionais. Assim, com a 
entrada em funções da administração Bi-
den, a cena internacional começou um 
novo capítulo. É uma mudança profunda 
de rota, num sentido positivo e democráti-
co. Para já, anuncia a esperança de um 
apaziguamento das tensões criadas ao 
longo dos últimos quatro anos e que colo-
caram as dinâmicas entre os principais 
atores mundiais num patamar potencial-
mente explosivo. O diálogo deverá substi-
tuir a política da confrontação 
e do abuso da força. 
Vivemos, porém, num tempo de gran-
des interrogações. A mobilização de deze-
nas de milhares de paramilitares, para as-
segurar a tranquilidade da cerimónia de 
entrada em funções do novo presidente, é 
um indício flagrante da gravidade das con-
tradições internas que existem na socieda-
de americana. Joe Biden tem um trabalho 
de equilibrista à sua espera. Sabe que é fe-
roz a hostilidade que foi fomentada pelo 
seu predecessor, e amplificada por vários 
dirigentes que se sentam no Congresso ou 
por comentadores que aparecem em cer-
tos canais televisivos. É ainda mais perigo-
sa por ter gerado, na mente de muitos fa-
náticos, uma diabolização dos oponentes. 
Na lógica doentia de alguns desses treslou-
cados, o passo seguinte é a ação violenta, o 
tentar aproveitar qualquer oportunidade 
para atirar a matar sobre a democracia. 
Essa possibilidade é um risco que o Serviço 
Secreto terá de equacionar de modo per-
manente. 
Ao procurar uma visão mais ampla do 
que poderá acontecer no seguimento des-
te momento de viragem, noto que nin-
guém consegue vaticinar de modo convin-
cente os contornos do que temos pela 
frente. Apenas se pode dizer que o mundo 
de amanhã será diferente do que conhece-
mos até agora. Quem pensa que tudo vol-
tará à situação em que estávamos em 2019, 
antes da pandemia, ou em 2016, antes da 
presidência de Donald Trump, só pode an-
dar a sonhar com o passado. 
Biden no trapézio 
e o mundo na corda bamba
Opinião 
Victor Ângelo 
O capítulo que agora se abre combina 
uma certa dose de961 663 378; Publicidade: 969 105 615. Estatuto editorial disponível em www.dn.pt. 
Tiragem média de dezembro de 2020: 20 735 exemplares.
Papelarias e quiosques, tal como atividade de jogos sociais, vão manter-se abertos mesmo durante o período de confinamento 
que vigora no país durante um mês, desde ontem. Estes serviços estão entre os definidos como bens essenciais. A venda de 
jornais deverá ficar assim assegurada ao manter-se aberta a rede de distribuição, tal como tinha acontecido no primeiro confina-
mento geral, em março do ano passado. Caso queira receber o jornal em casa, leia o QR Code na capa desta edição ou aqui 
ao lado ou contacte a linha de assinaturas: 707200508.
DN TODOS OS DIAS EM BANCA. QUIOSQUES E TABACARIAS ABERTOS DURANTE O CONFINAMENTO
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 3
Saiba mais em: retomarportugal.pt
IM
AG
E 
 B
Y 
 K
AI
Q
U
E 
R
O
CH
A 
FR
O
M
 P
EX
EL
S
10h00 | ABERTURA
Leonor Ferreira
JORNALISTA TSF
Pedro Araújo
EDITOREXECUTIVOADJUNTO JN
10h05 | DEBATE 
Luís Castro Henriques
PRESIDENTE DA AICEP
Maria Celeste Hagatong
PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA COSEC
Paulo Pereira da Silva
PRESIDENTE EXECUTIVO DA RENOVA
Pedro Barreto
ADMINISTRADOR DO BANCO BPI
Pedro Siza Vieira
MINISTRO DE ESTADO, DA ECONOMIA E DA TRANSIÇÃO DIGITAL
 MODERAÇÃO: Leonor Ferreira, JORNALISTA TSF 
Pedro Araújo, EDITOREXECUTIVOADJUNTO JN
11h20 | QUESTÕES DO PÚBLICO (via WhatsApp)
11h30 | ENCERRAMENTO
p
25 JANEIRO
ASSISTA 
EM DIRETO
jn.pt | tsf.pt | 
LinkedIN Banco BPI 
ALTO PATROCÍNIOPARCEIRO TECNOLÓGICO
COMÉRCIO
INTERNACIONAL
PUBLICIDADE
4 EM FOCO Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
Branco/
/nulo
1,1
+0,1 pp
Presidenciais 2021. Intenção de voto
Estimativa de resultados eleitorais, com distribuição de indecisos Abstenção
Últimos atos eleitorais
Adiamento das eleiçõesTendência
Variação e pontos percentuais face a dezembro de 2020
59,7
9,7-1,7 pp
+1,7 pp
Ana Gomes André
Ventura
Tiago
Mayan
Tino de RansMarcelo de Rebelo
Sousa
%
%
15,4%
%1,5
+1,5 pp
%
6%
Sem opinião
4,3
-1,3 pp
Marisa
Matias
%
5
-2,5 pp
João
Ferreira
%
%3,3
+2,2 pp
=
15,4%
4,3%
1,5%
5%
3,3%
62,7%
17,2%
7,6%
1,6%
4,7%
1,5%0%
10%
20%
60%
70%
Sond. outubro 2020 Sond. novembro Sond. dezembro Sond. janeiro 2021
61,4%
15,4%
8%
7,5%5,6% 1,1%
62,1%
16,3%
6,6%
5,9%2,1%
1,1%
59,7% 32%
Não deviam 
ser adiadas
%
Deviam ser 
adiadas
Le
gi
sl
at
iv
as
Pr
es
id
en
ci
ai
s
Au
tá
rq
ui
ca
s
Le
gi
sl
at
iv
as
2015 2016 2017 2019
44,1%
51,3%
45%
51,4%
Marcelo R. Sousa
Ana Gomes
André Ventura
João Ferreira
Marisa Matias
Tiago MayanTino de Rans
9,7%
M arcelo Rebelo de Sou-
sa tem praticamente 
garantida a eleição 
no próximo domin-
go, mesmo que a abstenção possa 
chegar, como se prevê, a uns im-
pressionantes 60%. De acordo 
com a mais recente sondagem da 
Aximage para o DN, JN e TSF, o 
atual Presidente continua com 44 
pontos de vantagem sobre a socia-
lista Ana Gomes. O candidato da 
direita radical, André Ventura, 
mantém a trajetória de subida, 
mas fica no terceiro lugar. No en-
tanto, vale mais do que a soma do 
comunista João Ferreira e da blo-
quista Marisa Matias, ambos em 
queda. Tiago Mayan ganha fôlego 
e Vitorino Silva aparece finalmen-
te no radar. 
Mais do que uma antecipação 
de resultados, esta sondagem da 
Aximage sobre as eleições presi-
denciais deve ser olhada como a 
quarta e última de uma série de 
barómetros, a partir dos quais é 
possível perceber tendências. 
E uma das tendências mais evi-
dentes aponta para uma absten-
ção a rondar os 60%, com efeitos 
imprevisíveis, não só sobre os re-
sultados finais, como sobre as po-
sições relativas de cada candidato 
(ver texto secundário). Acresce que 
o trabalho de campo deste inqué-
rito decorreu até 15 de janeiro, o 
que significa que já não mede os 
efeitos da última semana de cam-
panha. E muito menos a forma 
como a evolução desenfreada da 
pandemia nos últimos dias pode 
Marcelo
a caminho da reeleição para 
Presidente da República
Barómetro 
Última de quatro sondagens mantém o atual 
Presidente no patamar dos 60 pontos 
percentuais. Ana Gomes está no segundo lugar, 
mas Ventura aproxima-se e vale tanto como 
Ferreira e Marisa somados. 
TEXTO RAFAEL BARBOSA
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 5
Evolução das sondagens
FICHA TÉCNICA
A sondagem foi realizada pela Aximage para o 
JN, TSF e DN, com o objetivo de avaliar a opinião 
dos portugueses sobre a atualidade política. O 
trabalho de campo decorreu entre os dias 9 e 15 
de janeiro de 2021 e foram recolhidas 1183 
entrevistas entre maiores de 18 anos residentes 
em Portugal. Foi feita uma amostragem por 
quotas, com sexo, idade e região, a partir do 
universo conhecido, reequilibrada por sexo, 
idade, escolaridade e região. À amostra de 1183 
entrevistas corresponde um grau de confiança 
de 95% com uma margem de erro de 2,8%.
A responsabilidade do estudo é da Aximage 
Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção 
técnica de José Almeida Ribeiro.
57,2% 58,4%
Sond. nov-2020
61,4%
Sond. dez-2020 Sond. jan-2021
4,2 pp - 3 pp
FO
N
TE
: A
X
IM
AG
E,
 B
A
RÓ
M
ET
RO
 P
O
LÍ
TI
C
O
 D
E 
JA
N
EI
RO
 D
E 
20
21
/I
N
FO
G
RA
FI
A
 J
N
Abstenção não 
afetará todos 
da mesma maneira 
As eleições deste domingo 
terão sempre um vence-
dor, mas a verdadeira no-
tícia pode vir a ser outra: o 
recorde abstenção é um dado qua-
se adquirido. Os barómetros da 
Aximage para o DN, o JN e a TSF 
apontam, desde novembro, para 
uma taxa a rondar os 60%, supe-
rando em quase dez pontos, quer 
o nível de abstenção das últimas 
presidenciais (51,3% em 2016) 
quer o das últimas legislativas 
(51,4% em 2019). 
As atuais projeções de resulta-
dos eleitorais já têm em conta esse 
elevado nível de abstenção, mas é 
impossível prever, por exemplo, se 
o descontrolado avanço da pande-
mia até domingo poderá alterar o 
comportamento de cada um dos 
segmentos da amostra. E é funda-
mental perceber, por exemplo, as 
diferenças geracionais no que diz 
respeito à mobilização para votar. 
Assim, quanto mais jovens os 
eleitores, maior é a previsão de 
taxa de abstenção. E o fosso é as-
sinalável: o escalão dos 18 aos 34 
anos já teria nesta altura uma 
taxa a ultrapassar os 70 pontos 
percentuais, o dobro da taxa en-
tre os eleitores com 65 ou mais 
anos, que ficariam pouco acima 
dos 35 pontos. 
A pergunta de um milhão de 
dólares é a de saber até que pon-
to é que a abstenção entre os 
mais velhos (historicamente mais 
mobilizados para votar) pode su-
bir e quem sai prejudicado. Até 
porque os candidatos não serão 
afetados todos da mesma manei-
ra. E quem mais tem a perder 
com a fuga dos mais idosos é pre-
cisamente Marcelo Rebelo de 
Sousa, uma vez que o apoio ao 
atual presidente cresce à medida 
que envelhece o eleitor: os mais 
velhos dão-lhe mais 13 pontos 
percentuais do que os mais no-
vos. 
Liderança em todas 
as idades 
Nada de conclusões precipitadas, 
no entanto. Mesmo com uma de-
serção em massa dos mais ve-
lhos, Marcelo tem a vitória quase 
assegurada e provavelmente à 
primeira volta: de acordo com a 
sondagem da Aximage, tem re-
sultados acima dos 50 pontos 
percentuais em todos os escalões 
etários. 
Apoio ao atual Presidente cresce com a idade. 
Ventura menos dependente do voto sénior.
ELEIÇÕES 
62% 
Pelo adiamento 
Quase dois terços dos 
portugueses defendiam o 
adiamento das eleições. Apenas 
32% defendiam a manutenção, 
mesmo que o número de casos 
aumentasse. 
 
Direita e esquerda 
A defesa do adiamento era 
particularmente forte entre os 
eleitores mais à direita (Liberais e 
Chega). Mais à esquerda (CDU e 
BE) era maioritária a ideia de 
manter a data das eleições para 
este domingo.
ditar mudanças radicais no com-
portamento dos eleitores. 
Vantagem de 44 pontos 
É olhando para o conjunto de son-
dagens e para o percurso do candi-
dato que é possível dizer que Marce-
lo Rebelo de Sousa será reeleito. 
Apesar de acumular perdas ligeiras 
desdeotimismo com uma 
longa lista de incertezas. Na véspera da to-
mada de posse de Biden, participei numa 
discussão internacional sobre as perspeti-
vas e os desafios que se podem antever no 
horizonte dos próximos anos, e não houve 
clareza de ideias. Quem olha para o futuro 
com honestidade intelectual pode identi-
ficar um número de pistas possíveis, mas 
acaba por ter de confessar que tudo é in-
certo e nebuloso. 
Os únicos pontos de acordo dizem res-
peito à pandemia do coronavírus. Primei-
ro, aceitamos todos que a pandemia é um 
desafio enorme, que condiciona todos os 
outros. Por isso, deve ser tratada como a 
prioridade das prioridades. Isto exige uma 
mobilização excecional da atenção política 
e de todos os meios necessários. A segunda 
área de acordo é sobre o imperativo da coo-
peração internacional. Países do Norte e do 
Sul, como eufemisticamente se diz, todos 
devem colaborar de modo a tornar as vaci-
nas acessíveis a cada pessoa. A luta contra a 
covid deve ser uma ponte de união e de 
cooperação entre os povos, e não uma li-
nha de maior fratura. Seria uma tragédia de 
consequências incalculáveis sair desta cri-
se com um mundo ainda mais dividido en-
tre ricos e pobres, e, infelizmente, essa pos-
sibilidade existe. Terceiro, também há acor-
do sobre a duração da crise. Não podemos 
alimentar a ilusão de que dentro de meses 
tudo estará resolvido. As questões logísti-
cas, as dificuldades financeiras e as insufi-
ciências em matéria de infraestruturas, so-
bretudo nos países mais pobres, as muta-
ções que o vírus vai conhecendo, sem 
esquecer os comportamentos de algumas 
pessoas, tudo isso pede tempo, diligência, 
paciência e prudência. Essas são as mensa-
gens que devem ser sublinhadas. 
A incerteza é uma fonte de medos, de in-
segurança e conflitos. É propícia ao apare-
cimento de iluminados políticos, que re-
duzem a complexidade dos factos a duas 
ou três frases, e as soluções a um par de slo-
gans. Por isso, há que estar atento e com-
bater todas as formas de demagogia e 
mentiras políticas, de que se alimentam os 
populismos de todas as matizes 
 
 
Conselheiro em segurança internacional. 
Ex-representante especial da ONU
26 DESPORTO Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
ITÁLIA Já lá vão quase dez anos desde que AC Milan e Inter Milão terminaram a Liga italiana nos 
dois primeiros lugares e onze desde que ambos encabeçavam a tabela à 18.ª ronda como agora. 
Depois de nove títulos seguidos estará o ciclo vitorioso bianconero a chegar ao fim?
TEXTO NUNO COELHO
Cerca de 125 quilómetros 
separam Turim e Milão 
mas, em termos futebolís-
ticos, a distância das duas 
cidades do norte industrial e pode-
roso de Itália para o resto do país é 
muito, muito maior. É preciso re-
cuar 20 anos para se encontrar um 
campeão (então a AS Roma, curio-
samente sucedendo à rival Lazio) 
que não tenha saído do trio forma-
do por Juventus, AC Milan e Inter. 
Entre os três somam 72 vitórias na 
Liga italiana (79 se somarmos os 
sete obtidos pelo Torino, agora se-
gundo clube da capital piemontesa 
mas que dominou o calcio nos anos 
40 do século passado, numa trajetó-
Madonnina mia! Clubes 
de Milão ameaçam Juventus
ria que esbarrou na Basílica de Su-
perga quando a equipa regressava a 
casa depois de um jogo no Estádio 
Nacional, frente ao Benfica), com os 
bianconeri a contabilizarem 36 títu-
los, os mesmos que rossoneri e ne-
razzurri juntos (18 cada um). 
Muito deste domínio acentuou-
-se nas últimas temporadas. Tal 
como o Bayern Munique, na Alema-
nha, e o PSG, em França, a Juventus 
chegou a um patamar nunca antes 
atingido e, de uma enfiada, acres-
centou nove triunfos consecutivos 
ao seu palmarés, aproveitando da 
melhor forma a instabilidade que 
reinou nos dois clubes milaneses 
durante esta última década. 
tagem sobre os nerazzurri que fica-
ram em quarto); e em 2017/18 esta-
va em segundo a um ponto do Ná-
poles. 
Mais preocupante é a fraca qua-
lidade de jogo que a equipa exibe 
durante a maior parte dos jogos 
(ainda assim aplicou ao AC Milan a 
sua única derrota) e a dependência 
que tem de Cristiano Ronaldo (o 
português mantém a sua letalida-
de e é mesmo o capocannoniere 
com 15 remates certeiros mas mui-
tas vezes tem de recuar demasiado 
porque a bola não lhe chega e já 
não tem a “explosão” de outrora). 
E, claro, o facto de ter escolhido 
para técnico Andrea Pirlo, um ex-
-jogador extraordinário nado e 
criado em Brescia que vestiu a ca-
misola dos três grandes, mas com 
zero de experiência no banco (ini-
cialmente devia orientar a equipa 
de sub-23 até ser promovido a 
principal oito dias depois), para su-
ceder a Maurizio Sarri, não abre es-
paço para grande otimismo. Até 
porque, além de AC Milan e Inter, a 
Juventus ainda tem pela frente Ná-
poles (orientado por Gennaro 
Gattuso e a AS Roma (de Paulo 
Fonseca), além da espectacular 
Atalanta de Gasperini e a Lazio de 
Simone Inzaghi a morder-lhe os 
calcanhares. 
Importância dos investidores 
Enquanto a Velha Senhora se senta-
va tranquilamente no trono do fu-
tebol italiano até chegar à fase de 
pensar que o título é uma garantia 
automática, em Milão as duas so-
cietà foram-se reconstruindo a par-
tir de investimento estrangeiro, em-
bora nem sempre de forma pacífi-
ca: se o Inter está nas mãos, ou pelo 
menos a maior parte (68,55%), da 
Suning Holding Group, uma em-
presa privada propriedade do mul-
timilionário chinês Jindong Zhang 
– cujo filho, Steven Zhang, é o pre-
sidente do clube desde 2018 –, num 
negócio aprovado na assembleia 
geral extraordinária a 28 de junho 
de 2016, o processo rossonero foi 
mais bem complicado. Em 2017, o 
AC Milan foi comprado por um 
fundo de investimento privado chi-
No entanto, esta temporada tudo 
parece ter mudado. Ao fim de 18 
jornadas, Milan e Inter encabeçam 
a classificação e a Juventus (que nes-
ta quarta-feira ganhou a Supertaça) 
ocupa o quinto lugar, embora com 
um jogo a menos, a dez pontos do 
Milan e a sete do Inter. Não é ainda 
uma distância significativa, é certo 
(sobretudo se vencer a partida em 
atraso com os napolitanos), mas a 
Velha Senhora, durante os seus nove 
anos de reinado, apenas em dois 
não liderava à 18.ª jornada e a verda-
de é que nunca esteve tão longe do 
líder: em 2015/16 era quarta mas 
com menos três pontos que o Inter 
(acabaria por vencer com 24 de van-
Donec lacus quam, 
pellentesque a 
varius ac, sodales 
eget metus. 
Quisque id ligula 
Lukaku é uma das 
estrelas do Inter de 
Milão, autor de 12 golos 
em 17 jogos da liga 
italiana.
M
A
RC
O
 B
ER
TO
RE
LL
O
/A
FP
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 27
Rafael Leão e Zlatan 
Ibrahimovic, uma dupla 
que tem dado que falar 
esta época ao serviço do 
AC Milan.
Polónia anuncia Paulo Sousa 
como novo selecionador
Paulo Sousa é o novo selecio-
nador da Polónia, substi-
tuindo Jerzy Brzeczek, cuja saí-
da do comando técnico foi tor-
nada pública na segunda-feira, 
anunciou a Federação Polaca de 
Futebol (PZPN). “Estou muito 
feliz e orgulhoso por me tornar 
selecionador de futebol da Poló-
nia. A Polónia é um país de fute-
bol. (...) Juntos seremos capazes 
de lutar pelo próximo campeo-
nato da Europa”, disse o técnico 
português. 
Paulo Sousa vai orientar a se-
leção polaca no Euro 2020, adia-
do para 2021 devido à pande-
mia, no qual a Polónia ficou 
integrada no grupo E, em con-
junto com Espanha, Suécia e Es-
lováquia. “A equipa tem grande 
potencial. Tem jogadores de 
grande qualidade. Com uma 
mentalidade ganhadora, disci-
plina, organização e a atitude 
certa, juntos, comigo e o meu 
staff, apoiados por toda a nação, 
seremos fortes”, sustentou o trei-
nador, de 50 anos. 
Sousa, que iniciou a carreira 
nos escalões de formação da se-
leção portuguesa, vai comandar 
pela primeira vez uma seleção 
principal, depois de já ter treina-
do vários clubes mundiais, o úl-
timo dos quais o Bordéus, de 
França, entre março de 2019 e 
agosto de 2020. 
Além de Sousa, e de Fernando 
Santos, na equipa das quinas, 
também Paulo Bento, HélioSousa, Pedro Gonçalves, Luís 
Gonçalves, António Conceição 
e José Peseiro orientam atual-
mente seleções, respetivamen-
te Coreia do Sul, Bahrein, Ango-
la, Moçambique, Camarões e 
Venezuela.
DESAFIO Antigo internacional português vai orientar 
polacos no Europeu e torna-se o oitavo técnico luso 
atualmente ao leme de uma seleção.
M
IG
U
EL
 M
ED
IN
A
/A
FP
nês à Fininvest, empresa com liga-
ções a Silvio Berlusconi. No entan-
to, o fundo liderado por Li Yong -
hong falhou um pagamento de 32 
milhões de euros da dívida que 
contraiu para pagar os 99,92973% 
das ações e o hedge fund norte-
-americano Elliot Management 
Corporation acabou por tomar 
conta do assunto em 2018. Remo-
veu Li Yonghong da presidência e 
promoveu o empresário Paolo Sca-
roni ao posto, comprometendo-se 
a injetar 50 milhões de euros para 
estabilizar a situação financeira do 
clube. 
Já no campo, a partir de 2019, cu-
riosamente, ambos os clubes apos-
taram em antigos jogadores da Ju-
ventus para dirigirem as respetivas 
equipas, depois de anos de instabi-
lidade absoluta. Depois de Massi-
miliano Allegri, o técnico que levou 
a equipa ao último triunfo na Serie 
A (e que conquistaria depois cinco 
dos nove títulos da Juve), o AC Mi-
lan somou sete treinadores (fora o 
interino Mauro Tassotti) até chegar 
a Stefano Pioli, campeão nacional 
e europeu pelos bianconeri como 
jogador e que como técnico osten-
tava no currículo passagens por 
Bolonha, Lazio, Inter e Fiorentina 
Já os nerazzurri não fariam melhor 
(dez treinadores e um interino des-
de José Mourinho, o último cam-
peão) até contratarem a peso de 
ouro (12 milhões anuais) Antonio 
Conte, que além de jogador da Ju-
ve (onde venceu 13 títulos e tam-
bém foi campeão europeu) fora o 
seu técnico nos três títulos iniciais 
da caminhada atual. Mas a contra-
tação de Giuseppe Marotta para o 
cargo de diretor-desportivo, o cére-
bro por trás da construção da Ju-
ventus a partir de 2010, também foi 
um golpe de mestre. 
Velhos e novos leões 
De qualquer forma, não deixa de 
ser surpreendente que o AC Milan 
ocupe neste momento a liderança 
da Serie A, sobretudo para quem 
viu o play-off com o Rio Ave para a 
Liga Europa, onde a equipa quase 
era eliminada. Gastou pouco (cer-
ca de 28 milhões e alguns emprés-
timos) para fazer alguns ajustes na 
equipa da época passada em no-
mes como Tonali, Ante Rebic, Jens 
Petter Hauge, Simon Kjaer, Meïté, 
Brahim Díaz, Kalulu ou o lateral 
português Diogo Dalot. E manteve 
as figuras basilares, como o guar-
da-redes Donnarumma, o central 
e capitão Romagnoli, o lateral-es-
querdo Theo Hernández, o médio 
Hakan Çalhanoglou e, claro, o 
avançado sueco Zlatan Ibrahimo-
vic, que com os dois golos aponta-
dos segunda-feira ao Cagliari che-
gou aos 12 na prova (em oito jo-
gos...) e é, aos 39 anos, o líder da 
equipa em campo com o mau fei-
tio que lhe é característico. 
Também o português Rafael Leão 
tem estado em destaque, justifican-
do os cerca de 30 milhões investi-
dos na sua contratação (a maior dos 
últimos dois anos): o avançado for-
mado no Sporting, já leva cinco go-
los e quatro assistências na liga em 
apenas 13 jogos, quase tantos como 
em toda a época passada (seis go-
los, duas assistências). E agora, com 
a chegada do croata Mario Mad -
zukic para complementar Zlatan na 
frente de ataque, o internacional 
sub-21 poderá assegurar que joga 
onde mais tem rendido, a partir do 
flanco esquerdo. 
Quanto ao Inter, que Fabio Ca-
pello apontou como o principal fa-
vorito ao título, também manteve 
a espinha dorsal do conjunto que 
terminou a um ponto da Juventus 
na época passada. O experiente 
Handanovic na baliza, os centrais 
De Vrij e Sriniar, o inglês Ashley 
Young, o médio Brozovic e a dupla 
de avançados constituída pelo 
possante belga Romelu Lukaku, 
grande figura do conjunto graças 
ao seu poder físico que destrói 
qualquer defesa, e pelo argentino 
Lautaro Martínez. Além disso, gas-
tou perto de cem milhões em re-
forços de qualidade, como o late-
ral Hakimi (ex-Real Madrid), a 
maior parte deles no mercado in-
terno: Barella, Sensi, Pinamonti e 
Kolarov. Para completar, a dupla 
chilena constituída por Arturo Vi-
dal e Alexis Sánchez deu mais um 
toque de experiência à equipa. 
Resta saber se os dois clubes mi-
laneses vão aguentar o ritmo até fi-
nal: Pioli também começou muito 
bem no Inter mas acabou por ba-
quear na fase final e não conti-
nuou; já o Inter tem fama de falhar 
nos momentos decisivos. Perto do 
fim de fevereiro, se o futebol não 
for interrompido entretanto, há 
novo derby della Madoninna (para 
a Taça joga-se outro já dia 25), as-
sim conhecido em homenagem à 
estátua dourada que encima o 
Duomo, a catedral da cidade lom-
barda. E esse pode ser o tira-teimas 
decisivo para saber quem vai ser o 
novo rei do calcio – isto se a Juven-
tus entretanto não se reerguer das 
cinzas. 
Aos 39 anos, Zlatan 
Ibrahimovic é o líder 
do AC Milan em 
campo, decisivo com 
os golos que tem 
marcado (12 em oito 
jogos). O jovem 
português Rafael 
Leão também se tem 
destacado na equipa 
que ao fim de 
18 jornadas lidera 
a liga italiana. 
ANPME – Associação Nacional das PME’s 
 (Pessoa colectiva 504608096)
CONVOCATÓRIA ASSEMBLEIA GERAL ELEITORAL
Nos termos do artigo 24.º dos Estatutos da ANPME, a Direcção da ANPME convoca os associados para uma 
Assembleia Geral Eleitoral, a realizar no próximo dia 8 de Fevereiro, pelas 14 horas, na secção do Porto, sita 
na Rua Júlio Dinis, n.º 210, com a seguinte ordem de trabalhos:
1. Votação dos relatórios e das contas de gerência.
2. Apreciação e votação dos orçamentos e dos programas de ação.
3. Eleição dos corpos gerentes para o quadriénio 2021/2025.
4. Anúncio do resultado das eleições e tomada de posse dos associados eleitos.
5. Outros assuntos de interesse.
As listas candidatas têm de ser apresentadas até às 17 horas do dia 29 de Janeiro de 2021, na referida secção 
da ANPME do Porto ao cuidado do Presidente da Mesa da Assembleia Geral. Só podem concorrer os asso-
ciados com plenos direitos, nos termos e ao abrigo dos artigos 12.º, alínea c) e 21.º dos Estatutos da ANPME.
A Assembleia Geral funcionará nos termos dos artigos 23.º e 25.º e os corpos gerentes serão eleitos nos termos 
do artigo 20.º, dos Estatutos da ANPME, e o ato eleitoral decorrerá das 13 às 16 horas, horário de abertura e 
de encerramento da mesa de voto.
Em 20 de Janeiro de 2021
A Direcção da ANPME
Avisa-se todos os interessados de que se encontra aberto, pelo prazo de 15 dias 
seguidos, a contar de 21 de janeiro de 2021, procedimento concursal público ao 
abrigo do projeto Life IP Azores Natura (LIFE17 IPE/PT/000010) com vista à aquisição 
de Trator pneumático com tração 4X4 + Lamina frontal com tilt + Reboque Florestal 
+ Grua Florestal + Estilhadora + Guincho Florestal, manutenção destes equipamentos, 
formação de 2 operadores, com entrega dos equipamentos e prestação de serviços a 
realizar-se no Município de Nordeste, ilha de São Miguel.
O presente Caderno de Encargos pode ser consultado no site da Sociedade Portuguesa 
para o Estudo das Aves (http://bit.ly/tratorSPEA)
O Director Executivo da SPEA
Domingos Leitão
PROCEDIMENTO CONCURSAL PÚBLICO 
 COM VISTA À AQUISIÇÃO DE BENS E SERVIÇOS 
AO ABRIGO DO PROJETO LIFE IP AZORES NATURA 
(LIFE17 IPE/PT/000010) 
- TRATOR PNEUMÁTICO COM TRAÇÃO 4X4 E RESPETIVOS 
EQUIPAMENTOS
- FORMAÇÃO 2 OPERADORES
- MANUTENÇÃO DOS EQUIPAMENTOS
PUB
28 CULTURA Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
IAN “Em Portugal 
percebi como 
funcionava um país 
democrático”
ENTREVISTA Há mais de uma década violinista na Orquestra Sinfónica 
do Porto Casa da Música, Ianina Khmelik é também IAN, o alter ego 
com que no ano passado editou o disco de estreia a solo, RaiVera, 
do qual lançou agora o single What the Eyes Cannot See.
TEXTO MIGUEL JUDAS
Parecem dois mundos antagóni-
cos, o da pop e o da música erudi-
ta, ou se calhar não, como se com-
prova em RaiVera, o disco de es-
treia de IAN, editado já durante o 
ano passado. IAN é Ianina Khme-lik, uma violinista de 37 anos, nas-
cida na Rússia, mas já com mais de 
metade da vida passada em Portu-
gal, um país que hoje já considera 
o seu. Os mais atentos ao universo 
da música clássica nacional decer-
to reconhecer-lhe-ão o nome, en-
quanto primeira violinista da Or-
questra Sinfónica do Porto Casa da 
Música, mas dificilmente a identi-
ficariam em palco como IAN, o tal 
alter ego com que irrompeu pop 
adentro, com um visual arrojado e 
um universo sonoro onde se cru-
zam trip hop, eletrónica e sonori-
dades sinfónicas contemporâ-
neas. A primeira amostra desta sua 
outra vida foram os EP #1 e #2, am-
bos de 2018, que serviram de en-
saio geral para RaiVera, cujo título 
é “um neologismo” composto pe-
las palavras russas rai (paraíso) e 
vera (fé), mas também um trocadi-
lho com uma outra língua também 
já sua. “Em português o som de rai 
tem uma sonoridade que remete 
para algo diferente, muito mais es-
tridente, como raiva ou raio. Há 
um contraste entre estes dois con-
ceitos que de certa forma me defi-
ne”, começou por afirmar, em jeito 
de apresentação, nesta conversa 
com o DN. 
 
Como é que alguém com uma car-
reira feita na música sinfónica faz 
esta transição para a pop? 
A pop sempre esteve presente na 
minha vida e, embora quase todo 
o meu percurso tenha sido feito 
no universo clássico, sempre tive 
um fascínio enorme pelo outro 
lado da música e pelos palcos 
grandes. O primeiro concerto a 
que assisti foi dos Take That, em 
Hamburgo, tinha para aí 12 anos. 
Mais tarde vi também os Red Hot 
Chilli Peppers, que me marcaram 
imenso. Mesmo na música que 
ouvia sempre fui muito variada, 
tanto gostava de Wu Tang Clan 
como de Sex Pistols, por exemplo. 
Mas gostar de pop é diferente de 
fazer. Quando é que essa vontade 
despertou? 
Já fazia este tipo de música há 
muito tempo, mas se calhar nun-
ca tinha tido coragem para a mos-
trar, porque é um grande desafio 
estar sozinha num palco, a comu-
nicar com o público. Pelo menos 
a mim parecia-me, porque en-
quanto violinista não preciso de 
abrir a boca para estabelecer essa 
comunicação. O maior desafio 
neste projeto foi mesmo o de con-
seguir comunicar, conseguir dizer 
aquilo que sinto, através da mi-
nha música. Comecei a criar os te-
mas deste disco já há muito tem-
po, o tema Vera, por exemplo, foi 
composto já há muitos anos, 
quando participei num concurso 
que tinha o Ryuichi Sakamoto 
como jurado. Consegui chegar até 
à final, mas cheguei atrasada à úl-
tima audição e ele ficou furioso, 
apesar de ter adorado a música 
[risos], como me disse mais tarde. 
Os seus colegas da Orquestra Sin-
fónica do Porto Casa da Música 
reagiram bem a esta faceta mais 
pop? 
Muito bem, até porque sempre 
quis que eles, de alguma forma, fi-
zessem também parte deste pro-
jeto. Muitas das minhas influên-
cias vêm da música contemporâ-
nea, sobretudo ao nível das textu-
ras sonoras, do uso da voz, da es-
tética do palco. Há toda uma 
bagagem trazida da orquestra que 
transpus também para a IAN. 
E depois há relação pessoal, ado-
ro os meus companheiros de or-
questra. Apesar de sermos tantos 
e tão diferentes entre nós, nas na-
cionalidades, nas personalidades 
e até nas religiões, acabamos por 
funcionar como uma grande fa-
mília, especialmente nos mo-
mentos menos bons. E foi por isso 
que fiz questão de incluir as suas 
vozes, em várias línguas, no meu 
espetáculo. 
Como é que veio viver Portugal? 
Vim para cá com 15 anos, era 
muito nova e foi uma mudança 
muito drástica. Mas foram cir-
cunstâncias felizes as que me 
trouxeram até Portugal. Alguns 
membros da minha família esta-
vam ligados ao governo soviético, 
acompanhei de perto a peres-
troika e tudo o que o regime tinha 
de bom e de mau. A Rússia vivia 
naquela altura um período de 
grande instabilidade e a maior 
surpresa que senti, quando che-
guei cá, foi perceber como funcio-
nava um país democrático. A li-
berdade de poder dizer o que eu 
queria, o facto de não haver cen-
sura, ter as portas abertas para o 
mundo, poder viajar livremente, 
tudo isso foi uma dádiva e fiquei 
muito feliz por ter vindo para cá. 
É claro que a adaptação não foi 
propriamente fácil, até porque 
aterrei cá no 9.º ano, a meio das 
cantigas de amigo e das cantigas 
de amor [risos], mas as pessoas 
são muito acolhedoras, e eu tam-
bém fiz um esforço para me inte-
grar, o que tornou tudo muito 
mais fácil. Apesar de ter nascido 
na Rússia, hoje sinto que Portugal 
é o meu país. 
1983 
Nasceu em Moscovo, onde iniciou 
os estudos musicais aos 5 anos. 
 
1995 
Conquistou o 2.º Prémio no 
Concurso para Jovens Músicos 
de Moscovo e no ano seguinte 
foi estudar para a Alemanha. 
 
1999 
Veio viver para Portugal para fugir 
à instabilidade política e social 
que então se vivia na Rússia, 
continuando os estudos na Escola 
Profissional de Música de Espinho, 
onde o seu tutor, também russo, 
dava aulas. 
 
2006 
Concluiu a licenciatura em Violino 
na Escola Superior de Música 
e das Artes do Espetáculo do 
Instituto Politécnico do Porto. 
 
2008 
Presta pela primeira vez provas 
na Orquestra Sinfónica do Porto, 
na qual é atualmente primeira 
violinista. 
 
2018 
Lança as primeiras músicas como 
IAN, nos EP #1 e #2, tendo já antes 
colaborado com nomes da pop 
portuguesa como The Gift, 
Pedro Abrunhosa ou GNR. 
 
2019 
Edita o álbum de estreia RaiVera.
PERFIL
De Moscovo ao Porto, 
da erudita ao pop 
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 29
Morreu Jean Graton, 
o criador de Michel Vaillant
Oautor francês de 
banda desenhada 
Jean Graton, cria-
dor da personagem 
Michel Vaillant, morreu on-
tem aos 97 anos em Bruxelas, 
revelou a editora Dupuis. 
“Jean Graton foi o último 
‘monstro sagrado’ da época de 
ouro da banda desenhada 
franco-belga”, ao lado de no-
mes como Franquin, Albert 
Uderzo e René Goscinny, lem-
brou a editora. Num comuni-
cado citado pelo jornal Le 
Monde, a Dupuis saudou uma 
“obra única e admirável que 
apaixonou várias gerações de 
pequenos e grandes leitores 
de banda desenhada”. 
Nascido em Nantes em 
1923, Jean Graton conjugou 
duas paixões ao longo da vida 
– arte e desporto –, vertendo-
-as para as pranchas da banda 
desenhada, ao criar em 1957 o 
piloto de Fórmula 1 Michel 
Vaillant, protagonista de uma 
série de histórias em quadra-
dinhos. 
A editora Dupuis descreve 
Graton como “um verdadeiro 
embaixador do desporto mo-
torizado”, cuja obra e paixão 
influenciaram gerações de lei-
tores e criaram um universo 
que ainda hoje “brilha nas li-
vrarias”. 
Graton iniciou o percurso 
profissional em Bruxelas em 
finais dos anos de 1940, a de-
senhar caricaturas e publici-
dade no Le Journal des Sports. 
A entrada na banda dese-
nhada deu-se na revista Spi-
rou, tendo colaborado depois 
na revista Tintin, na qual, a 12 
de junho de 1957, apareceu 
pela primeira vez Michel 
Vaillant. 
Inspirador de vocações 
A propósito do trabalho de 
Graton na construção desta 
personagem e do universo au-
tomobilístico, no portal Lam-
biek, dedicado à banda dese-
nhada, lê-se que o autor fran-
cês procurava ser rigoroso 
sobre este desporto e fazia bas-
tante pesquisa, incluindo idas 
a corridas e encontros com pi-
lotos. E dessa paixão nasceram 
grandes amizades. O autor 
não só inspirou jornalistas e 
pilotos, por exemplo Alain 
Prost, como se tornou muito 
amigo de Jacky Icks e de outras 
personalidades do meio. 
“Jean Graton participou em 
corridas em quase todo o 
mundo, fazendo amizade 
com os pilotos, chefes de equi-
pa e diretores de circuito, acu-
mulando milhares de fotos e 
documentos que conferem ao 
seu trabalho prestígio e auten-
ticidade”, justifica a editora 
Dupuis. 
Em 1982, Jean Graton con-
seguiu a titularidade legal da 
sua obra e criou a própria edi-
tora, Studio Graton, com a 
participação do filho, Philippe 
Graton, que se tornou, entre-
tanto, argumentista das histó-
rias de Michel Vaillant. Refor-
mou-se em 2004, altura em 
que já tinham sido editados 
cerca de 70 álbuns da série 
com o piloto. A série, que con-
ta com vários álbuns editadosem Portugal, seria retomada 
em 2012, com novos desenha-
dores e o argumentista Phi-
lippe Graton. DN/LUSA
BANDA DESENHADA Graton conjugou a paixões 
por arte e o desporto, vertendo-as para as pranchas 
da BD, ao criar em 1957 o piloto de Fórmula 1.
Jean Graton ao lado da sua criação: o piloto de F1 Michel Vaillant.
H
ER
W
IG
 V
ER
G
U
LT
 /
 B
EL
G
A
 /
 A
FP
“Fiz questão de incluir 
as vozes [dos meus 
colegas da Orquestra 
Sinfónica do Porto 
Casa da Música], 
em várias línguas, 
no meu espetáculo.” 
Veio com a sua família? 
Não, vim mesmo sozinha, por op-
ção dos meus pais, em especial da 
minha mãe, que queria um futuro 
mais seguro para mim. 
E porquê Portugal? 
Porque tínhamos alguns conheci-
mentos cá, como o meu tutor, que 
tinha estudado no Conservatório 
de Moscovo e era na altura profes-
sor na Escola Profissional de Mú-
sica de Espinho, onde estudei an-
tes de me mudar para o Porto. 
Os primeiros concertos de apre-
sentação do disco foram adiados 
para março. Como é que está a vi-
ver estes tempos tão estranhos 
para os artistas? 
Com muita fé e esperança, mas 
este segundo confinamento está a 
custar-me um pouco mais, confes-
so. Esforçámo-nos tanto para 
mostrar que a cultura era segura e 
agora voltámos ao mesmo, é mui-
to triste. Pessoalmente gostava 
muito de poder trabalhar, apesar 
de continuara a criar em casa, em-
bora não seja o mesmo. Tenho a 
sorte de fazer parte daquela mino-
ria de músicos que continuam a 
receber um ordenado, mas como a 
Casa da Música vai estar fechada 
até meio de fevereiro, se calhar de-
víamos começar a atuar por strea-
ming. É uma situação muito difícil 
para todos, especialmente para os 
técnicos, mas é algo a nível mun-
dial. Ainda assim tenho esperança 
de que passe rapidamente, porque 
tenho muitos planos para este ano. 
Como definiria a sua música? 
Pensei muito nisso antes de lançar 
o álbum, porque é uma música 
que condensa vários estilos. Tem 
eletrónica, tem trip hop, que é tal-
vez a minha maior referência, por-
que adoro o Tricky, mas também 
tem melodias mais clássicas, por-
que costumo compor ao violino. 
Não sei, talvez seja algo como pop 
contemporâneo, é o termo que me 
parece mais apropriado. 
30 VIVER Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
Afeira de tecnologia CES 
deste 2021 não foi exce-
ção. Mais uma vez, foi à gi-
gante Samsung que cou-
be o papel de “cumprir a quota” de 
trazer ao evento robôs que, prome-
tem, um dia poderemos ter em nos-
sas casas para nos fazer praticamen-
te todas as tarefas domésticas. 
Um deles é comum: um aspira-
dor automático que também fun-
ciona como câmara de videovigi-
lância. O JetBot 90 AI+ vem equipa-
do com um sistema LIDAR (uma 
espécie de radar, mas que funciona 
por meio de laser), o que lhe permi-
te “ler” o espaço que o rodeia com 
mais eficácia e, supostamente, evi-
tar bater em superfícies frágeis 
como vasos, por exemplo. Mas não 
deixa de ser um já velho e conheci-
do aspirador robô. E, das novidades 
do género, o único que será comer-
cializado. 
Os outros dois mostrados na feira 
– que decorreu neste mês de forma 
virtual, por causa da covid – são ape-
nas protótipos. 
Um, o Bot Handy, já se aproxima 
um pouco mais do sonho do robô 
doméstico sonhado pela dupla 
Hanna-Barbera na década de 
1960 para o que seria o futuro, na 
série Os Jetsons. Não é exatamen-
te uma Rosie, a empregada do-
méstica robótica que fazia tudo 
em casa, deixando o tempo total-
mente livre para Jane Jetson fazer, 
basicamente, nada, mas aproxi-
ma-se um pouco. Pelo menos a 
julgar pelos vídeos divulgados 
pela Samsung. 
Afinal, o Bot Handy – com uma 
base que faz lembrar um aspirador 
e um único braço articulado – é ca-
paz de servir um copo de vinho, car-
regar a máquina de lavar louça e, 
claro, responder a ordens básicas do 
tipo “traz-me ali o tablet”. 
O outro pequeno robô que mar-
cou presença pela Samsung foi o 
Bot Care, que já tinha sido mostra-
do em 2019. Trata-se de um “assis-
tente pessoal” que pretende ser 
mais um companheiro doméstico 
digital com um display superior 
que comunica com o dono. O obje-
tivo é lembrar compromissos ou li-
gar automaticamente o seu “mes-
tre e senhor” a reuniões de Zoom, 
por exemplo, indo ao seu encontro 
onde quer que este se esteja na 
casa. Mais uma vez, não há qual-
Estamos em 2021, 
onde está Rosie, 
a robô doméstica 
dos Jetsons? 
ROBÓTICA A Samsung mostrou três robôs, 
há um de cozinha para milionários, mas o resto 
é para fazer à mão. Ainda estamos longe de ficar 
sem as aborrecidas tarefas domésticas. 
TEXTO RICARDO SIMÕES FERREIRA
É caro ou o leitor é que está a ganhar 
pouco? 
Ao comum dos mortais resta...? 
Pode argumentar-se que o êxito das 
máquinas como a Bimby e apare-
lhos semelhantes revela bem que 
existe um apetite da parte dos con-
sumidores por máquinas que facili-
tem a vida doméstica, em particular 
na cozinha. Mas uma rápida inspe-
ção do mercado revela igualmente 
que a oferta não tem praticamente 
variado nos últimos anos. 
Duas tecnologias surgiram mais 
ou menos recentemente que serão 
de realçar, não tanto por serem faci-
litadoras de tarefas domésticas, mas 
mais por utilizarem soluções tecno-
lógicas para cozinhar de formas, ale-
gadamente, mais saudáveis. 
Uma é a solução sous-vide, que 
tem na Anova Culinary o best-seller 
do género. Basicamente: colocam-
-se todos os ingredientes a cozinhar 
juntos num saco de plástico próprio, 
sela-se o mesmo, retirando o ar, e ati-
ra-se para dentro de uma panela 
com água. Coloca-se a varinha de 
sous-vide lá dentro, escolhe-se o pro-
grama apropriado na app e vai-se à 
nossa vida. Quando estiver pronto, o 
telemóvel avisa. 
Cada varinha da Anova custa en-
tre 200 e 400 euros e quem já provou 
a comida garante que o resultado até 
surpreende. 
A segunda tecnologia digna de nota 
são as máquinas Air Fryer, que utili-
zam, em aparelhos de reduzidas di-
mensões, sistemas de convecção de 
ar que fazem circular pequenas quan-
tidades de óleo para fritar (tornando 
assim os fritos mais saudáveis). As 
mesmas máquinas podem ainda gre-
lhar e cozer (basta pôr água em vez de 
óleo). Os preços variam muito. 
Nada, absolutamente nada, que se 
compare à Rosie dos Jetsons. Mas 
também, onde é que estão os ambi-
cionados carros voadores, as escolas 
flutuantes e as passadeiras rolantes 
nos passeios? A vida nos desenhos 
animados é muito mais engraçada. 
dedicada – e fixa, não se desloca –, 
promete ser capaz de executar as 
principais tarefas desta divisão da 
casa, desde a culinária à lavagem da 
louça. 
Como? Basicamente, o robô con-
siste em dois braços articulados de 
precisão industrial, presos sobre os 
balcões de uma cozinha costumiza-
da. O software incorporado inclui 
cinco mil receitas, o sistema de inte-
ligência artificial promete reconhe-
cer ingredientes, panelas, tachos, 
utensílios e demais “ferramentas” 
necessárias para a cozinha. 
O seu criador, o matemático e 
cientista informático russo Mark 
Oleynik, promete comida de quali-
dade de restaurante ao toque de um 
botão na app. 
Claro que toda esta sofisticação 
tem um preço. De momento, o mo-
delo-base ronda os 250 mil euros. 
quer previsão anunciada para o tér-
mino do seu desenvolvimento. 
Há um robô de cozinha que faz 
tudo... por um grande preço 
Pronto a entrar na casa de quem te-
nha uma carteira recheada está o 
robô de cozinha da Moley Robotics. 
Apesar de se tratar de uma máquina 
Uma das 
varinhas, 
ou cookers, 
da Anova, 
para cozinhar 
sous vide.
A robô doméstica da família do futuro 
da dupla Hanna-Barbera, um sonho 
longe de se tornar realidade.
A Samsung apresentou três pequenos robôs, o pequeno 
aspiradorJetbot, o Bot Handy (à direita), que supostamente é capaz 
de carregar uma máquina da louça, e o Bot Care, um companheiro 
digital que comunica através do ecrã na parte superior.
O robô de cozinha da Moley 
promete fazer tudo, até lavar 
os tachos e panelas no fim. 
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 HUMOR E PASSATEMPOS 31 
Horizontais:1. Aprovar ou eleger por meio de voto. Fêmea do bode. 2. Planta gramínea. Que acontece 
uma vez por ano. 3. (...) Eanes, foi o primeiro navegador a dobrar o Cabo Bojador, em 1434. 
Casa onde se vende ou fabrica pão. 4. Chouriça temperada com alhos. Engenheiro 
(abreviatura). 5. Burro. Ínsula. 6. Prefixo (duas vezes). Símbolo de miliampere. Cálcio 
(símbolo químico). Atmosfera. 7. Porção da circunferência. Lenda. 8. Espaço de 24 horas. 
Tolo. 9. Disparate. Uma dezena. 10. Mancha. Regime especial de alimentação. 11. Debruar. 
Montar. 
Verticais: 
1. Grande onda. Peça metálica que faz tocar o sino. 2. Curral de ovelhas. Dar as cores do arco-
-íris a. 3. Peça, geralmente de barro cozido, que serve para a cobertura de edifícios. Lugar onde 
se alojam ou criam cães. 4. Suspiro. Cálculo a olho. A primeira mulher, segundo a Bíblia. 5. 
Pilhagem. Inferior. 6. Argola. Oceano. 7. Qualquer de entre dois ou mais. Emboscada preparada 
para acometer ou atrair alguém. 8. Nome feminino. Embarcação de recreio. Seguir até. 9. Tecido 
grosseiro de lã. Disciplina. 10. Soberana. Alvo (figurado). 11. Inundar. Desdita.
PALAVRAS CRUZADAS
Palavras Cruzadas 
Horizontais: 
1. Votar. Cabra. 2. Aveia. Anual. 3. Gil. 
Padaria. 4. Alheira. Eng. 5. Asno. Ilha. 6. 
Bi. Ma. Ca. Ar. 7. Arco. Mito. 8. Dia. 
Palerma. 9. Asneira. Dez. 10. Laivo. 
Dieta. 11. Orlar. Armar. 
Verticais: 
1. Vaga. Badalo. 2. Ovil. Irisar. 3. Telha. 
Canil. 4. Ai. Esmo. Eva. 5. Rapina. Pior. 
6. Aro. Mar. 7. Cada. Cilada. 8. Ana. 
Iate. Ir. 9. Burel. Ordem. 10. Rainha. 
Meta. 11. Alagar. Azar.
SUDOKU
SOLUÇÕES
O que tem de novo o “novo” Diário de Notícias
O ESSENCIAL DA INFORMAÇÃO, TODOS OS DIAS EM BANCA
CARTOON POR RAFAEL COSTA
ÚLTIMA
Conselho de Administração José Pedro Soeiro (presidente), Afonso Camões, Domingos de Andrade, Guilherme Pinheiro, Kevin Ho, Philipe Yip Data Protection Officer António 
Santos Propriedade Global Notícias Media Group, SA; Matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Almada. Capital social: 28 571 441,25 euros. NIPC: 502535369. Sede: Rua 
Gonçalo Cristóvão,195-219 – 4049-011 Porto. Tel.: 222 096 100. Fax: 222 096 200 Filial: Rua Tomás da Fonseca, Torre E, 3.º – 1600-209 Lisboa. Tel.: 213 187 500. Fax: 213 187 501 Marketing 
e Comunicação Carla Ascenção e Patrícia Lourenço Direção Comercial Frederico Almeida Dias e Pedro Veiga Fernandes Detentores de mais de 5% do capital social: KNJ Global 
Holdings Limited – 35,25%; José Pedro Carvalho Reis Soeiro – 24,5%; Olivemedia, Unipessoal, Lda. – 19,25%; Páginas Civilizadas, Lda. – 10,5%; Grandes Notícias, Lda. – 10,5% Impressão 
Gráfica Funchalense (Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, 50, Morelena – 2715-029 Pero Pinheiro); Naveprinter (EN, 14 (km 7,05) – Lugar da Pinta, 4471-909 Maia) Distribuição 
VASP; Registado na ERC com o n.º 101326. Depósito legal 121 052/98 Assinaturas 707 200 508. Custo das chamadas da rede fixa 0,10 €/minuto e da rede móvel 0,25€/minuto, sendo 
ambas taxadas ao segundo após o primeiro minuto. Valores sujeitos a IVA. Dias úteis, das 07h00 às 18h00. Fax: 229 417 679. E-mail: apoiocliente@noticiasdirect.pt
Nos últimos dias, tomámos co-
nhecimento de factos graves que 
são atentatórios do Estado de di-
reito democrático. Tanto mais 
quando somos um Estado que se afirma 
como uma República soberana, baseada 
na dignidade da pessoa humana e na von-
tade popular e empenhada na construção 
de uma sociedade livre, justa e solidária 
(art.º 1.º CRP), e que se quer um Estado de 
direito democrático, baseado na sobera-
nia popular, no pluralismo de expressão e 
organização política democráticas, no res-
peito e na garantia de efetivação dos direi-
tos e liberdades fundamentais e na sepa-
ração e interdependência de poderes (art.º 
2.º CRP). 
Ora, numa sociedade livre e num Estado 
de direito democrático, instituído há qua-
se meio século, tornou-se agora público, 
graças à liberdade de informação da im-
prensa, que jornalistas foram objeto de in-
quirições sobre as suas fontes de informa-
ção, vítimas de seguimentos policiais, vigi-
lâncias, fotografias e filmagens por forças 
policiais, as suas mensagens telefónicas fo-
ram objeto de acesso intrusivo e transcritas 
para um processo criminal, e até a um dos 
visados o sigilo bancário lhe foi levantado. 
Tudo feito sem sequer ter passado pelo cri-
vo de um magistrado judicial, no caso um 
juiz de Instrução Criminal, a quem compe-
tiria, pelo menos segundo a lei, ser o juiz 
das garantias dos cidadãos objeto de tal in-
vestigação criminal. 
Tudo isto um cenário que facilmente se 
imaginaria num Estado autocrático, mas 
que se diria impensável num Estado euro-
peu ocidental, com a Constituição e a lei 
que vigoram e com os pergaminhos na 
consagração e defesa dos direitos funda-
mentais como se afirma Portugal. 
A liberdade de expressão, a garantia de 
sigilo profissional e a garantia de indepen-
dência dos jornalistas (art.º 6.º do Estatuto 
do Jornalista), bem como a proibição de 
subordinação da dita liberdade de expres-
são a qualquer tipo ou forma de censura, 
são pilares fundamentais da constitucio-
nalmente consagrada liberdade de im-
prensa (art.º 38.º CRP). Liberdade de im-
prensa que passa, expressamente, pelo di-
reito a manter sigilo absoluto sobre as 
fontes jornalísticas. 
Por isso é estatutariamente garantido 
(art.º 11.º EJ) que “os jornalistas não são 
obrigados a revelar as suas fontes de infor-
mação, não sendo o seu silêncio passível de 
qualquer sanção, direta ou indireta”. Mas 
não só: “As autoridades judiciárias perante 
as quais os jornalistas sejam chamados a 
depor devem informá-los previamente, 
sob pena de nulidade, sobre o conteúdo e 
a extensão do direito à não revelação das 
fontes de informação” – tudo isto apenas 
em sede de processo penal. 
Numa garantia extrema deste mesmo di-
reito a manter sigilo absoluto sobre as fon-
tes, estabelece a lei que “no caso de ser or-
denada a revelação das fontes nos termos 
da lei processual penal, o tribunal deve es-
pecificar o âmbito dos factos sobre os quais 
o jornalista está obrigado a prestar depoi-
mento”, o que bem mostra que tem de ser 
um juiz a ordenar a dita revelação de fon-
tes, e não um qualquer agente do MP. Re-
corde-se que até as sessões de julgamento, 
que são por regra públicas sob pena de nu-
lidade, poderão ser realizadas sem assis-
tência de público, se estiver em causa a re-
velação das fontes de informação no âmbi-
to de um processo criminal. Sem direito de 
sigilo das fontes, não há informação livre, e 
não havendo informação livre, não há de-
mocracia. 
Perante todo o relatado, a intenção dos 
subscritores é lançar um alerta destinado a 
evitar que esteja em curso um subtil ataque 
à liberdade de imprensa, e, assim, um ata-
que ao Estado de direito democrático e ao 
regular funcionamento das instituições de-
mocráticas. 
Podendo estar em causa, como parece 
estar, uma sucessão de situações de clara 
violação da liberdade de imprensa ou, pelo 
menos, de tentativa de condicionamento 
da mesma, sob a capa de se investigar a 
prática de quaisquer concretos alegados 
crimes, os defensores do Estado de direito 
não podem calar. 
É certo, e desejável, que a polícia vigie, 
policie e evite a prática de crimes nas ruas. 
Mas a utilização de meios agressivos de in-
vestigação criminal (usando a arma penal 
do Estado para seguir, fotografar, filmar, 
aceder a mensagens profissionais, quebrar 
o segredo bancário e tentar obter acesso 
ilegítimo a fontes dos jornalistas) não 
constitui uma vigilância social do espaço 
público. Ao invés, são meios apenas ad-
missíveis se e quando existam suspeitas 
reais e efetivas da prática de crimes graves, 
não podendo ser vistos como meios nor-
mais de “policiamento” da sociedade, sob 
pena de se instalar um clima de medo ge-
neralizado por parte de todos os cidadãos, 
em especial dos responsáveis por informar 
a sociedade (como o são os jornalistas), o 
que culmina necessariamente no seu 
amedrontamento, coação ou mesmoins-
trumentalização. 
Por isso é condição de um Estado de di-
reito democrático e livre uma imprensa li-
vre e independente. Tal como não é admis-
sível, a nenhum título, a espionagem priva-
da, também não pode ser admissível o MP 
investigar fora das regras constitucionais e 
legais vigentes, travestindo de lícito e ad-
missível o que desde a raiz é ilícito e inad-
missível. 
A coerência impõe que só quem pode le-
galmente investigar, investigue, mas im-
põe também que o faça por meios lícitos, e 
no quadro jurídico estrito legalmente pre-
visto, que deve ser literal ou mesmo restri-
tivamente interpretado, sob pena de se es-
tar a alargar por via administrativa ou in-
terpretativa aquilo que são restrições 
ilegítimas e não previstas a direitos, liber-
dades e garantias dos cidadãos. O que ob-
viamente não é tolerado pelo sistema jurí-
dico-constitucional e processual-penal 
português, por fazer perigar gravemente o 
regular funcionamento das instituições 
democráticas. 
Lisboa, 21 de Janeiro de 2021 
 
 
André Veríssimo Diretor do Negócios 
António José Teixeira Diretor de Informação 
da RTP-TV 
Anselmo Crespo Diretor de Informação da TVI 
Bernardo Ribeiro Diretor do Record 
Domingos Andrade Diretor da TSF 
e diretor editorial do GMG 
Eduardo Dâmaso Diretor da Sábado 
Inês Cardoso Diretora do Jornal de Notícias 
João Paulo Baltazar Diretor de Informação 
da Antena 1 
João Vieira Pereira Diretor do Expresso 
José Manuel Fernandes Publisher 
do Observador 
José Manuel Ribeiro Diretor do Jogo 
Luísa Meireles Diretora de Informação da Lusa 
Mafalda Anjos Diretora da Visão 
Manuel Carvalho Diretor do Público 
Mário Ramires Diretor do Nascer do Sol e do i 
Octávio Ribeiro Diretor-geral editorial 
da Cofina Media 
Pedro Leal Diretor de Informação da Rádio 
Renascença 
Ricardo Costa Diretor de Informação da SIC 
Rosália Amorim Diretora do Diário de Notícias 
Vítor Serpa Diretor de A Bola
Em defesa de uma 
comunicação social livre
MEDIA Na sequência das investigações do MP a quatro jornalistas, diretores dos 
principais órgãos de comunicação social em Portugal subscrevem uma carta aberta.
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras 
anunciou ontem que já pagou a 
indemnização aos herdeiros de Ihor 
Homeniuk, cidadão ucraniano morto em 
março no aeroporto de Lisboa após 
sofrer agressões por parte de inspetores 
do SEF. “A informação sobre o 
pagamento da indemnização, no valor 
de 712 950 euros, já foi comunicada ao 
advogado da família”, pode ler-se em 
nota enviada às redações. “Este 
pagamento do Estado decorre ao abrigo 
do mecanismo extrajudicial, de adesão 
voluntária, ágil e simples, destinado à 
determinação e ao pagamento célere da 
referida indemnização por perdas e 
danos, não patrimoniais e patrimoniais, 
aprovado pela Resolução do Conselho 
de Ministros, de 14 de dezembro”, 
escreve o Ministério da Administração 
Interna na nota. “O valor da indemnização 
foi fixado pela provedora de Justiça e 
aceite pelos familiares da vítima”.
BREVES
Viúva de Ihor já 
recebeu indemnização
“Colmatar o fosso digital entre homens e 
mulheres – participação das mulheres na 
economia digital” é o título do relatório 
ontem aprovado em sessão plenária no 
Parlamento Europeu. Da autoria da 
eurodeputada do PSD Maria da Graça 
Carvalho, nele são apresentadas 
diferentes propostas, da educação ao 
mercado de trabalho e aos media, para 
que sejam ultrapassadas as atuais 
assimetrias de género no acesso às 
chamadas tecnologias da informação e 
da comunicação (TIC). 
No relatório, a antiga ministra da Ciência, 
Inovação e Ensino Superior identifica as 
principais causas, nomeadamente 
culturais, para o menor envolvimento das 
mulheres nas TIC, que levam a que estas 
representem só 17% dos inscritos em 
cursos e uma percentagem semelhante 
dos profissionais do setor na UE. Maria 
da Graça Carvalho, que é membro da 
Comissão dos Direitos das Mulheres e da 
Igualdade dos Géneros, sublinha que 
esta é “uma questão de justiça social” 
para as mulheres. “A desigualdade no 
digital aumenta o fosso salarial, com 
consequências negativas também nas 
reformas, sendo um dos grandes 
problemas dos nossos dias os baixos 
rendimentos das mulheres aposentadas”, 
alertou a responsável. 
Mais mulheres 
na economia digital 
da Europaoutubro (três pontos percen-
tuais no total), chega às vésperas da 
eleição com um resultado estimado 
de 59,7% e 44 pontos acima da so-
cialista Ana Gomes, que também 
perdeu dois pontos nestes quatro 
meses, mas estacionou nos 15,4%. 
A ex-eurodeputada é a favorita 
para ficar no segundo lugar, uma 
vez que o principal concorrente, An-
dré Ventura fica a pouco mais de 
cinco pontos (9,7% nesta última 
sondagem). Mas o favoritismo fica 
um pouco tremido quando se per-
cebe que o candidato da direita ra-
dical apresenta uma tendência de 
subida, conseguindo mais dois 
pontos do que em dezembro. E tem 
com uma outra “vitória” à vista: nes-
te momento, vale mais do que a 
soma dos dois candidatos mais à es-
querda. 
Comunistas e bloquistas 
O comunista João Ferreira é um dos 
candidatos cujo resultado é mais 
difícil de antecipar, uma vez que a 
tendência foi sempre de cresci-
mento, até agora, com travões a 
fundo e uma queda para os 5% em 
janeiro. Ainda assim, pode aspirar a 
ficar à frente da rival bloquista, uma 
vez que Marisa Matias continua em 
trajetória descendente (4,3%). 
É fundamental ter em conta, no en-
tanto, que a recolha dos inquéritos 
só parcialmente coincide com o 
inusitado insulto de Ventura – o epi-
sódio do batom vermelho –, que se 
tornou um tema central da última 
semana de campanha da eurode-
putada do BE. 
Mais para o fundo da tabela, o li-
beral Tiago Mayan parece ter bene-
ficiado, em janeiro, da exposição 
mediática que conseguiu com os 
sucessivos frente-a-frente nas tele-
visões: depois de três meses a arras-
tar-se com resultados à volta do 
ponto percentual, aparece agora 
com 3,3%. Só com os resultados de 
domingo será possível confirmar 
que esse crescendo se transformou 
numa tendência. 
É uma situação algo semelhante 
à de Vitorino Silva (Tino de Rans), 
que esteve praticamente ausente 
até esta última sondagem, que lhe 
atribui 1,5% (em 2016, conseguiu 
3,28%), claramente catapultado pe-
los debates e pelo acompanhamen-
to diário das televisões ao candida-
to confinado. A noite eleitoral con-
firmará, ou não, o ressurgimento. 
Socialistas com Marcelo 
Uma das melhores garantias de 
uma eleição à primeira volta para 
Marcelo Rebelo de Sousa, e com 
um resultado robusto, é o continua-
do e massivo apoio dos eleitores so-
cialistas, visível ao longo dos últi-
mos quatro meses e novamente 
confirmado por esta última sonda-
gem: são mais de dois terços os que 
preferem renovar o mandato ao 
atual inquilino de Belém (63,6%). 
Soma-se um apoio ainda maior en-
tre os eleitores sociais-democratas 
(74,1%), garantindo uma vantagem 
esmagadora no chamado “bloco 
central”, crucial para vencer elei-
ções em Portugal. 
A sua principal adversária, Ana 
Gomes, não só não tem o apoio for-
mal do PS, como não consegue 
mais do que três em cada dez eleito-
res socialistas, ainda que se revele 
capaz de pescar em águas bloquis-
tas e comunistas. À sua esquerda, 
João Ferreira segura dois terços do 
eleitorado da CDU, e Marisa Ferrei-
ra pouco mais de metade dos eleito-
res do BE. E ambos revelam capaci-
dade mínima de alargamento da 
sua base de apoio para além do par-
tido de origem. 
André Ventura, que também é lí-
der do Chega, é muito mais eficaz 
do que qualquer dos seus adversá-
rios (Marcelo incluído) a segurar os 
eleitores do partido de origem, mas 
fica limitado a essa base, com uma 
notável exceção: poderá conquistar 
um em cada dez eleitores do PSD. 
O mesmo sucede com a base de 
apoio do liberal Tiago Mayan, em-
bora em números bastante mais re-
duzidos. 
Inclinações de género 
Marcelo Rebelo de Sousa e André 
Ventura não pertencem apenas a 
direitas diferentes. Estão também 
separados por uma fronteira de gé-
nero bastante vincada. 
O atual residente de Belém é o 
candidato com maior desequilíbrio 
absoluto no que diz respeito ao gé-
nero, com vantagem para o apoio 
feminino: representam 68,9%, mui-
to acima da média e com mais 19 
pontos percentuais do que os ho-
mens. 
Ao contrário, a marca registada de 
André Ventura (como a do Chega) é 
o domínio da testosterona: 14,3% de 
apoio entre os eleitores homens, ou 
seja, quase o triplo, ou mais nove 
pontos percentuais do que entre as 
mulheres. 
Em quase todos os restantes can-
didatos, o suporte masculino é 
maioritário, ainda que em nada se 
aproxime do que se passa com o lí-
der da direita radical. A exceção é 
Marisa Matias, a única em que há 
um equilíbrio quase total entre ho-
mens e mulheres. 
rafael@jn.pt
Norte marcelista 
É no norte que Marcelo tem a sua 
praça-forte. Ao contrário, é aqui 
que Ana Gomes tem o seu pior 
resultado. O norte é também a 
região mais generosa para André 
Ventura. 
 
LIsboa esquerdista 
Os dois candidatos mais à 
esquerda – o comunista João 
Ferreira e a bloquista Marisa 
Matias – atingem o pico em 
Lisboa. Aliás, os seus resultados 
globais dependem em larga 
medida desta região do país. 
 
Porto liberal 
A exemplo do partido de origem, 
o liberal Tiago Mayan Gonçalves 
tem o seu melhor resultado na 
Área Metropolitana do Porto. 
Outra característica comum: 
quanto maior o rendimento do 
eleitor, maior o apoio.
REGIÕES 
O trabalho de campo desta 
sondagem decorreu entre os dias 
9 e 15 de janeiro, na véspera do 
período de grande crescimento 
dos números da pandemia para os 
níveis atuais. A preocupação dos 
eleitores com a sua saúde e a dos 
seus compatriotas foi um dado 
evidente da nossa sondagem. 
Assim, é muito provável que a 
abstenção seja superior ao valor 
modelado. A abstenção afetará de 
forma desigual as diferentes 
candidaturas, mas não cremos 
que o quadro geral sofra tão 
grande transformação que os 
resultados fiquem fora da margem 
de erro da sondagem. Deixamos 
este alerta aos leitores desta 
sondagem para o atual contexto 
de aumento da incerteza, 
verdadeiramente, sem paralelo na 
nossa história recente. 
HUGO MOURO 
AXIMAGE
Contexto 
de incerteza
ESCLARECIMENTO
Mais perverso pode ser o efeito 
na posição relativa dos restantes 
candidatos. Ana Gomes é a se-
gunda candidata que mais de-
pende do eleitorado sénior (mar-
cava 19%), enquanto André Ven-
tura tem neste escalão o seu pior 
resultado (6,2%). Se a abstenção 
disparar neste segmento etário e 
se combinarmos esse facto com a 
tendência atual de descida de 
Ana Gomes e de subida de André 
Ventura, é maior a probabilidade 
de o líder do Chega alcançar o se-
gundo lugar. 
Na luta particular de João Ferrei-
ra e Marisa Matias pelo quarto lu-
gar, é o comunista quem tem mais 
a perder se abstenção entre os elei-
tores mais velhos se aprofundar. 
O seu apoio entre os dois escalões 
mais velhos está em média dois 
pontos percentuais acima do que 
consegue nos dois mais novos. No 
caso da bloquista, é exatamente ao 
contrário: o apoio é bem maior nos 
18/34 anos do que na faixa dos 65 
ou mais anos (uma diferença de 
quase sete pontos percentuais).
6 EM FOCO Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
23 anos de testes 
e nenhum resultado. 
Porque não avança 
o voto eletrónico? 
ELEIÇÕES O último teste-piloto ao voto eletrónico, em 2019, custou ao 
Estado quase 1,5 milhões de euros e foi o quinto desde 1997. O relatório 
entregue ao Parlamento confirmou que tinha sido um sucesso, mas até 
agora nenhum partido propôs o seu alargamento ao resto do país. 
TEXTO VALENTINA MARCELINO
As longas filas para o voto 
antecipado para as presi-
denciais, agravadas pela 
pandemia, no passado 
domingo, evidenciaram a necessi-
dade de sistemas mais modernos 
de votação. O voto eletrónico é um 
deles, também defendido como 
importante instrumento de com-
bate à abstenção, atraindo os mais 
jovens e facilitando a participação 
dos emigrantes nos atos eleitorais 
nacionais. Um dos seus assumidos 
defensores é o próprio Presidente 
da República, Marcelo Rebelo de 
Sousa, que reconhece ser “ultrami-
noritário” a favor da sua introdução 
em Portugal. “Nós para votarmos 
não aceitamos o digital, é uma coi-
sa verdadeiramente do arco-da-ve-
lha. De repente, temos uns atavis-
mos, uns conservadorismos,uns 
ultraconservadorismos incom-
preensíveis, para pioneiros”, criti-
cou numa entrevista nesta semana 
ao Lusojornal, após destacar que 
Portugal tem sido o palco da cimei-
ra tecnológica Web Summit. 
E a verdade é que o voto eletróni-
co continua a gerar desconfianças. 
Nos últimos 23 anos foram feitos 
testes em cinco atos eleitorais, em 
1997, 2001, 2004, 2005 e 2019, e a 
Comissão Nacional de Eleições 
(CNE) certifica que “a implementa-
ção de soluções de voto eletrónico 
visa, sobretudo, conferir maior ce-
leridade às operações de votação e 
apuramento, melhorar toda a ges-
tão do próprio processo com vista 
a atingir ganhos de eficiência e, ao 
mesmo tempo, manter ou aumen-
tar as garantias de segurança e cre-
dibilidade de todo o processo”. 
Afiança a CNE no seu site que 
“não pode descurar-se o facto de a 
consagração do voto eletrónico 
contribuir para que o cidadão elei-
tor exerça o seu direito de sufrágio 
de modo mais eficaz e cómodo, 
procurando, assim, combater algu-
mas causas do abstencionismo 
que, no caso português, se têm vin-
do a evidenciar em alguns atos elei-
torais”. 
“É como ir ao multibanco” 
No último teste-piloto, nas eleições 
europeias de 2019, eleitores do dis-
trito de Évora puderam experi-
mentar as novas tecnologias ao ser-
viço da democracia. “É tão fácil. Fui 
à mesa, entreguei o Cartão de Cida-
dão e deram-me o cartão de voto. 
Depois fui à máquina e fiz como se 
fosse no multibanco. Votei e não 
me enganei, porque a máquina 
pede confirmação”, contou à TSF 
um desses eleitores. 
Este teste-piloto custou 1,45 mi-
lhões de euros, financiados pelo 
Ministério da Administração Inter-
na (MAI), e orelatório de avaliação 
da experiência feita em Évora para 
o voto eletrónico presencial garan-
te segurança aos eleitores e conclui 
que deveria ser estendido futura-
mente a outros atos eleitorais. Se 
houvesse dúvidas quanto à vanta-
gem deste sistema para fazer descer 
a abstenção, os números de adesão 
dos eleitores neste teste ajudam a 
dissipá-las. “Em termos relativos, as 
mesas com voto eletrónico tiveram 
em média mais 97% de eleitores do 
que as mesas de voto tradicional”, é 
salientado no relatório. 
Nas conclusões deste documen-
to é ainda referida a garantia de se-
gurança do sistema (auditado pela 
Unidade Nacional de Combate ao 
Cibercrime e a Criminalidade Tec-
nológica (UNC3T) da Polícia Judi-
ciária, pelo Centro Operacional de 
Segurança Informática (COSI) do 
MAI e pela Universidade do Minho, 
além da “fiabilidade do sistema” e 
da maior celeridade no apuramen-
to dos resultados (logo que as urnas 
fecham). A estas vantagens, assina-
ladas neste relatório, junta-se tam-
bém a da desmaterialização dos 
cadernos eleitorais, que permitiu 
“aos eleitores deste círculo eleitoral 
exercerem o seu direito de voto em 
mobilidade”, com uma “grande 
aceitação por parte dos membros 
de mesa, dada a facilidade do seu 
manuseamento e a rapidez e segu-
rança na identificação do eleitor” – 
e a possibilidade de “evitar a im-
tos públicos), quase um milhão e 
meio de euros à Meo, à Portugal 
Telecom e À Indra pelo projeto, se 
“considera o voto eletrónico im-
portante e prioritário”, e porque, 
tendo havido já tantos testes, com 
sucesso, não se concretizou ainda, 
remete para o Parlamento. “O rela-
tório de avaliação deste projeto-pi-
loto foi entregue à Assembleia da 
República em julho de 2019, ca-
bendo à Assembleia da República 
determinar, para futuro, o alarga-
mento desta possibilidade”, res-
ponde fonte oficial. 
Na gaveta do Parlamento 
Questionado ainda o gabinete de 
Eduardo sobre qual é o plano para 
a implementação do voto eletróni-
co, se há problemas ainda a resol-
ver que não foram identificados no 
teste de Évora ou nos anteriores, 
não responde. Não explica tam-
bém por que, apesar do sucesso do 
teste em Évora, no relatório de ati-
vidades de 2019 da secretaria-geral 
do MAI, que coordena esta área 
eleitoral, a única referência que 
existe ao voto eletrónico é desen-
volver um “manual de apoio ao 
voto eletrónico e publicar nos sites 
da CNE e do SGMAI”, o qual nem 
sequer é visível nas respetivas pági-
nas da internet. 
O MAI respondeu, ainda assim, à 
questão sobre qual o destino dado 
a todo o equipamento utilizado em 
“Não pode descurar-se 
o facto de a 
consagração do voto 
electrónico contribuir 
para que o cidadão 
eleitor exerça o seu 
direito de sufrágio de 
modo mais eficaz e 
cómodo, procurando, 
assim, combater 
algumas causas do 
abstencionismo.”
Comissão Nacional de Eleições 
“A única vantagem 
do voto eletrónico 
presencial é a rapidez 
na contagem dos 
votos. Quanto ao voto 
eletrónico à distância, 
não há como garantir 
que é o próprio que 
vota, além do risco de 
haver um ciberataque 
que pudesse alterar os 
resultados.”
António Filipe, PCP 
pressão de 643 mil folhas de papel 
A4 (3,2 toneladas)”. 
Mas quando se pergunta ao ga-
binete do ministro da Administra-
ção Interna, Eduardo Cabrita, que 
autorizou este teste e pagou, se-
gundo se pode consultar no por-
tal Base.gov (que regista os contra-
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 7
Quanto as cadernos eleitorais 
desmaterializados, salienta a mes-
ma fonte oficial, “na sequência das 
alterações introduzidas pela Lei 
Orgânica n.º 4/2020, de 11 de no-
vembro, os cadernos eleitorais des-
materializados vão ser usados, pela 
primeira vez, na votação dos por-
tugueses residentes no estrangeiro 
das Eleições para o Presidente da 
República de 2021”. 
De acordo ainda com o MAI, o 
relatório de avaliação sobre o teste 
em Évora foi enviado ao Parlamen-
to logo em julho de 2019 e reenca-
minhado à comissão de Assuntos 
Constitucionais de Direitos Liber-
dades e Garantias. A introdução do 
voto eletrónico exige uma maioria 
de dois terços dos deputados para 
alterar a lei eleitoral e a Constitui-
ção, que determinam que os votos 
sejam presenciais. 
O sucesso de Évora não motivou 
nenhuma proposta por parte dos 
partidos. “O grande salto qualitati-
vo seria mesmo o voto eletrónico à 
distância”, salienta Luís Marques 
Guedes, presidente desta comis-
são, assinalando que no caso do 
teste em Évora, “apesar de ser voto 
eletrónico, exigia na mesma a pre-
sença dos eleitores”. Este deputa-
do do PSD salienta que “nas atuais 
circunstâncias da pandemia fica 
cada vez mais claro que a obrigato-
riedade do voto presencial, como 
é o caso dos emigrantes que têm 
nas eleições. Passados quase 50 
anos de maturidade democrática 
em Portugal, é tempo de evoluir 
para essa agilização”. 
Por seu lado, Pedro Delgado Al-
ves, deputado do PS da mesma co-
missão parlamentar, sobre o teste 
ao voto eletrónico presencial de 
Évora, entende que “perante atos 
eleitorais como elevada seguran-
ça e fiabilidade como os nossos 
têm sido ao longo de 40 anos, há 
que ter um consenso amplo e a 
certeza de que as vantagens que se 
podem obter (e que correspon-
dem, na maioria, a maior celerida-
de da contagem) justificam as al-
terações e investimento elevado a 
realizar em meios”. “Tudo o que 
não seja presencial não garante a 
fiabilidade desejável porque não 
garante quem efetivamente vo-
tou”, frisa. 
Do PCP, o deputado António Fi-
lipe manifesta também reticências. 
Em relação ao voto eletrónico pre-
sencial, como foi o testado nas eu-
ropeias de 2019 em Évora, aponta 
como “única vantagem deste siste-
ma, usado em países como o Brasil 
e a Venezuela, a rapidez na conta-
gem dos votos”, sendo um equipa-
mento “muito caro”. Quanto ao 
voto eletrónico à distância, “não há 
como garantir que é o próprio que 
vota, além do risco de haver um ci-
berataque que pudesse alterar os 
resultados”.
Na UE, 
só a Estónia 
adotou 
o sistema 
Na União Europeia (UE) o voto 
eletrónico tem vindo a ser 
adotado em alguns países, a várias 
velocidades e em modalidades di-
ferentes. O Estado membro que foi 
mais longe é a Estónia, país onde 
está localizado o centro de excelên-
cia de cibersegurança da NATO e 
onde os eleitores podem votar pela 
internet. Na UE, a tecnologia em 
eleições podee tem sido utilizada 
em quatro áreas: registo dos votan-
tes (cadernos eleitorais), o que 
acontece, por exemplo em Portu-
gal, na votação propriamente dita, 
na contagem dos votos e na difu-
são dos resultados. A Estónia tem 
tecnologia nas quatro áreas. A 
França também, mas de forma 
mista, digital e papel. Outros países 
têm digital apenas em algumas das 
quatro áreas: Portugal, Espanha, 
Hungria, Itália, Reino Unido, entre 
outros. Fora da UE, países como 
Brasil, Canadá, Venezuela, Para-
guai, Suíça e EUA também utilizam 
esta tecnologia em eleições – este 
último com o voto por correspon-
dência a ganhar destaque nas re-
centes eleições presidenciais, por 
causa da pandemia. O Conselho da 
Europa continua a ser a única orga-
nização da UE que estabeleceu pa-
drões intergovernamentais no 
campo do voto eletrónico. Consi-
dera que “o direito de voto está na 
base da democracia e que, conse-
quentemente, todos os canais de 
votação, incluindo o e-vote, devem 
respeitar os princípios das eleições 
democráticas e dos referendos”. 
Em junho de 2017 fez várias reco-
mendações aos Estados membros 
na introdução desta tecnologia, 
entre as quais “respeitar todos os 
princípios de eleições e referendos 
democráticos e avaliar e combater 
os riscos através de medidas ade-
quadas, em particular no que se re-
fere aos riscos específicos do canal 
de votação eletrónica”. A UE assi-
nala que “o uso de tecnologias de 
informação e comunicação pelos 
Estados membros nas eleições au-
mentou consideravelmente nos úl-
timos anos e que alguns países “já 
usam ou estão a considerar usar o 
voto eletrónico para vários fins, in-
cluindo permitir que os eleitores 
votem de um local diferente da as-
sembleia de voto no distrito de vo-
tação; facilitar o voto aos seus na-
cionais residentes no estrangeiro, 
alargar o acesso ao processo de vo-
tação para os eleitores com defi-
ciência, aumentar a participação 
dos eleitores, fornecendo canais de 
votação adicionais”.
de ir aos respetivos consulados, é 
incompreensível”, recordando 
“várias propostas do PSD para que 
o voto dos emigrantes nas presi-
denciais fosse como nas legislati-
vas (por correspondência)”. “Esta 
rigidez constitucional e legislativa 
não favorece a maior participação 
“Nas atuais 
circunstâncias 
da pandemia, fica 
cada vez mais claro 
que a obrigatoriedade 
do voto presencial, 
como é o caso dos 
emigrantes que têm 
de ir aos respetivos 
consulados, 
é incompreensível.”
Luís Marques Guedes, PSD 
”Tudo o que não seja 
presencial não garante 
a fiabilidade desejável 
porque não garante, 
efetivamente, 
quem votou”
Pedro Delgado Alves, PS 
Évora, que custou 1,45 milhões de 
euros: “Os computadores e equipa-
mentos de comunicações utiliza-
dos no projeto-piloto em Évora fo-
ram distribuídos pelas forças de se-
gurança. Os equipamentos de 
votação eletrónica utilizados foram 
alugados para aquele ato.” 
Nem as longas filas de espera 
em várias mesas de voto por 
todo o país impediram que 
votassem antecipadamente 
cerca de 198 mil eleitores, no 
passado domingo. Segundo o 
Ministério da Administração 
Interna, este valor corresponde 
a mais de 80% do total de 
inscritos na modalidade de voto 
antecipado em mobilidade para 
as eleições para o Presidente da 
República. De acordo com os 
dados reportados pelas câmaras 
municipais à Administração 
Eleitoral, votaram 197 903 
eleitores nos 308 concelhos do 
continente e das regiões 
autónomas dos Açores e da 
Madeira. O número de inscritos 
era de 246 880 eleitores, um 
recorde absoluto. Recorde-se 
que esta modalidade de voto 
antecipado se tinha realizado, 
nos dois últimos atos eleitorais, 
apenas nas capitais de distrito e 
nas ilhas das regiões 
autónomas. Nesta eleição, foi 
alargada a todos os concelhos. 
Nas eleições para a Assembleia 
da República de 2019, votaram 
antecipadamente 50 638 
pessoas. 
Votaram 80% 
dos inscritos 
no voto antecipado
8 EM FOCO Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
PE
D
RO
 P
IN
A
/R
TP
/L
U
SA
Sob suspeita de estar infetado com covid-19, Marcelo Rebelo de Sousa participou no debate televisivo entre todos os candidatos por videoconferência, a partir de casa. 
PA
U
LO
 N
O
VA
IS
/L
U
SA
EP
A
/M
A
RI
O
 C
RU
Z
 P
ED
RO
 R
O
C
H
A
/G
LO
BA
L 
IM
AG
EN
S
Marcelo saiu pouco, mas não deixou os afetos em casa.
A fila para o voto 
antecipado em 
Lisboa, na Cidade 
Universitária. 
João Ferreira viajou na Linha do Vouga, em defesa da ferrovia.
Tiago Mayan foi 
correr à beira Tejo, 
junto ao Palácio 
de Belém.
N
U
N
O
 F
O
X
/L
U
SA
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 9
Nem arruadas, nem comícios, nem multidões, 
nem beijinhos, nem selfies: acabou a mais insólita 
das campanhas eleitorais.
TEXTO SUSETE FRANCISCO
Termina nesta sexta-feira a campanha elei-
toral mais insólita e atípica de sempre: 
sem arruadas, sem comícios, sem banhos de 
multidão. Às vezes, até sem candidato. Não 
houve beijinhos nem selfies, ouviram-se in-
sultos – pouco comuns na política portugue-
sa –, que transformaram o batom vermelho 
em mensagem política. Houve um protesto 
violento (outra raridade). E um tema central 
inevitável e omnipresente: a pandemia. 
Com as ações de rua crescentemente limi-
tadas – o confinamento apanhou a campa-
nha a meio –, o confronto político centrou-se, 
sobretudo, nos debates televisivos que opu-
seram todos os candidatos. E que foram pal-
co para as notórias convergências das três 
candidaturas da esquerda – Ana Gomes, Ma-
risa Matias e João Ferreira – e as ainda mais 
notórias divergências de todos os candidatos 
com André Ventura. Nomeadamente os do 
espaço político da direita, Marcelo Rebelo de 
Sousa e Tiago Mayan. 
Recandidato ao cargo, que todas as sonda-
gens dão como vencedor folgado, Marcelo 
pouca campanha fez para lá dos debates e 
entrevistas – saiu pela primeira vez à rua ape-
nas ao sexto dia. Uma atitude que esteve na 
mira de Ana Gomes, que do início ao final 
acusou o recandidato de desvalorizar as elei-
ções. Ontem, foi o próprio Marcelo a afirmar-
-se preocupado, apontando como “quase 
inevitável” uma segunda volta caso a absten-
ção atinja os 70%. E foi dizendo que “ter uma 
segunda volta com uma epidemia como esta, 
com mais três semanas de campanha, é uma 
exigência acrescida”. 
Ana Gomes, que concorre sem o apoio do 
PS – a cúpula dos socialistas está, em larga 
medida, ao lado de Marcelo –, fez mira per-
manente ao atual Presidente da República, 
criticando o que fez (a viabilização do gover-
no dos Açores) e sobretudo o que não fez. 
Ainda à esquerda, Marisa Matias (uma repe-
tente que há cinco anos recolheu 10,2% dos 
votos) e João Ferreira levaram para a campa-
nha presidencial as principais bandeiras do 
Bloco de Esquerda e do PCP. Tal como Tiago 
Mayan Gonçalves, candidato da Iniciativa 
Liberal, que saltou do anonimato para agi-
tar a a bandeira dos liberais. Tanto (ou mais) 
que os candidatos, são também os partidos 
que medem forças no ato eleitoral deste do-
mingo. O mesmo (em versão “o partido sou 
eu”) é válido para André Ventura, que fez 
uma campanha a disparar em todas as dire-
ções, mais do que uma vez a resvalar para o 
insulto, e mede forças neste domingo com a 
esquerda em geral e Ana Gomes em particu-
lar. Por último, Vitorino Silva, o autodenomi-
nado candidato “do povo”, que “como o 
povo” foi para casa no dia do confinamento, 
e se apresenta pela segunda vez às urnas nas 
presidenciais (e da última vez saiu com 150 
mil votos). 
Vitorino Silva foi ao Hospital de São João, no Porto, doar sangue. Ana Gomes num gesto que se transformou num protesto contra Ventura.
Marisa Matias com Pilar del Río, num comício virtual no Capitólio. André Ventura cumprimenta Marine Le Pen... com o braço esquerdo.
ES
TE
LA
 S
IL
VA
/L
U
SA
JO
SÉ
 S
EN
A
 G
O
U
LÃ
O
/L
U
SA
TI
AG
O
 P
ET
IN
G
A
/L
U
SA
D
IA
N
A
 Q
U
IN
TE
LA
 /
 G
LO
BA
L 
IM
AG
EN
S
10 POLÍTICA Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
Desgaste do governo. 
“Não se pode fazeracordos com os vírus, 
que não têm afetos”
PANDEMIA Analistas políticos consideram que o governo, o Presidente 
e até os partidos vão sair mal na fotografia desta pandemia, perante 
portugueses que deixaram de “ter medo da autoridade do Estado” e que 
dão sinais de “desconfiança” nas instituições.
TEXTO PAULA SÁ 
Asituação dramática da 
pandemia em Portugal, 
com o número recorde de 
infeções por covid e de 
mortos a ser batido todos os dias, vai 
afetar seriamente a relação do país 
com o executivo? Os analistas polí-
ticos e sociais, embora ainda com 
dúvidas sobre o impacto das novas 
medidas de confinamento e dos 
avanços e recuos entre o Natal e a 
data presente, entendem que sim, 
sobretudo ao nível da confiança dos 
cidadãos nos seus governantes. 
“A autoridade do Estado foi cla-
ramente posta em causa”, diz ao 
DN António Costa Pinto, o que re-
mete para o facto de as pessoas não 
estarem a respeitar as medidas de 
confinamento decretadas pelo go-
verno. “No primeiro confinamen-
to, o medo associado à autoridade 
do Estado funcionou. Agora já não 
funcionou”, afirma o politólogo. 
E sublinha que “não vale a pena 
culpar a sociedade, ainda para 
mais numa sociedade como a nos-
sa, onde o negacionismo é escas-
so”. A resposta da sociedade a esta 
nova fase da pandemia deriva de 
outro fator: “Existe a perceção de 
que os decisores políticos não 
atuaram com base em evidência 
científica e ainda que não imple-
mentaram as decisões.” 
O professor universitário Viriato 
Soromenho-Marques é ainda mais 
taxativo sobre as consequências 
desta última fase de resposta à cri-
se de saúde pública, em que critica 
fortemente “todos os erros cometi-
dos” e para os quais “têm de existir 
responsáveis”. “Temos uma crise 
sanitária, uma crise económica, 
que vai causar imenso sofrimento, 
e uma crise de confiança no gover-
no e nas instituições. É um pacote 
muito duro. A casmurrice vai sair 
muito cara”, considera. 
Viriato Soromenho-Marques faz 
o historial do que considera terem 
sido os erros capitais e que condu-
ziram a esta terceira vaga agressiva 
de covid. É incompreensível, diz, 
que se tenha tido uma política de 
abertura no Natal, em que os nú-
meros de infetados e de mortos já 
era elevado, e quando todas as evi-
dências internas e externas apon-
tavam no sentido contrário. “Como 
se o Natal fosse um direito constitu-
cional! Os governos existem para 
cuidar da vida das pessoas, não 
para as festividades do Natal.” 
Os políticos profissionais, como 
António Costa, frisa, “estão habi-
tuados a fazer acordos, mas não se 
consegue fazer acordos com os ví-
rus, que não têm afetos, e são eles 
que ditam o que vamos fazer”. 
E como académico que é vai aos 
dados que foram tornados públi-
cos, a 11 de dezembro, em dois es-
tudos, um do Instituto de Saúde 
Pública da Universidade do Porto e 
outro do Instituto Superior Técnico 
da de Lisboa, em que ambos apon-
tavam para a perda de mais 1500 vi-
das com um abrandamento das 
medidas do estado de emergência 
no período das festas. “António 
Costa sabia disto, a oposição sabia 
disto, o Presidente sabia disto. Esti-
vemos a jogar um desporto radical 
com o vírus, quando avançamos e 
ainda com todo o sistema escolar a 
funcionar”, afirma Viriato Sorome-
nho-Marques, que recorda que as 
escolas abertas representam 25 % 
da população em circulação. 
Recorda que o maior crescimen-
to das infeções se deu nas faixas etá-
rias entre os 13 e os 20 anos. “Esta-
mos numa situação de guerra, e 
numa situação destas não podemos 
mandar os nossos estudantes para 
locais onde vão ser alvo de bombar-
deamento do inimigo”, diz momen-
tos antes de o primeiro-ministro, 
saído do Conselho de Ministros, 
anunciar que as escolas e as univer-
sidades fecham durante 15 dias. E 
António Costa assumiu o recuo na 
decisão de manter os estabeleci-
mentos de ensino a funcionar com 
António Costa e Marcelo 
Rebelo de Sousa têm 
estado em sintonia na 
gestão da pandemia.
Retrato destes dias
Desconfinar no Natal 
A 5 de dezembro, António Costa 
anunciou que no Natal os 
portugueses iam descomprimir das 
medidas do estado de emergência, 
com liberdade de circulação entre 
concelhos e sem restrições a 
reuniões familiares. No Ano Novo o 
aperto foi maior, mas ainda assim 
foi permitida a circulação na via 
pública até às 23.00 de dia 31.
Aperto no Ano Novo 
“Temos de cortar completamente 
as celebrações do Ano Novo.” Foi 
assim que António Costa recuou 
nas celebrações e pôs todo o país 
em confinamento, mesmo os 
concelhos de baixo risco de 
infeção. Neste dia, e seguindo a 
tendência, a DGS registava mais 
4320 infetados e mais 87 mortos 
por covid-19.
Costa confinado em São Bento 
A 19 de dezembro, o primeiro-
-ministro ficou em isolamento 
profilático na residência oficial, em 
São Bento, até ao dia 29 do 
mesmo mês. António Costa foi 
considerado contacto com 
exposição de alto risco depois de 
ter estado com o presidente 
francês, que estava infetado, 
embora tenha testado negativo. 
Vacinação arranca 
No dia 27 de dezembro arrancou o 
processo de vacinação contra a 
covid-19. Os primeiros vacinados 
foram profissionais da saúde, 
auxiliares, médicos, enfermeiros e 
técnicos de diagnóstico e 
terapêutica. Nessa altura a DGS 
registava, e porque se tratava de 
um domingo, 1577 novos infetados 
e 63 mortos. 
Presidência da UE e vacinação 
O tema da vacinação foi o foco no 
arranque formal da presidência 
portuguesa da União Europeia, 
a 5 de janeiro. No CCB, e ao lado 
de Charles Michel, presidente do 
Conselho Europeu, Costa avisa 
que o processo vai ser “demorado” 
e durar todo o ano de 2021. Neste 
dia houve mais 4956 casos de 
infeção no país e 90 mortos. 
Soromenho-Marques 
faz um paralelo 
dramático: “Até final 
de fevereiro, vamos ter 
mortos em número 
igual ou superior a 
todos os mortos na 
Guerra Colonial.” 
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 11
a maior prevalência da nova varian-
te inglesa do vírus e que atinge as ca-
madas mais jovens da população. 
Viriato Soromenho-Marques faz 
um paralelo dramático do que irá 
acontecer até ao final do mês de fe-
vereiro dada a dimensão da pande-
mia. “Vamos ter mortos em núme-
ro igual ou superior a todos os mor-
tos na Guerra Colonial”. 
“Não podemos deixar passar isto 
e dizer ‘obrigadinho’. Quando isto 
abrandar não poderá ser esqueci-
do por que estão a morrer muitas 
pessoas e outras a sofrer. Não há 
um só responsável.” O professor 
universitário inclui no lote dos res-
ponsáveis o governo, primeiro-mi-
nistro, Presidente da República e 
até os partidos. 
O comentador político Pedro 
Marques Lopes acredita que a po-
lítica de gestão da pandemia terá 
“efeitos políticos demolidores” 
para o governo num futuro próxi-
mo. Até pelo efeito da “tremenda” 
crise económica que vai gerar. “As 
pessoas já não estão tolerantes e 
sentem que as coisas não estão a 
ser bem geridas”, diz. Mas afasta a 
possibilidade de um julgamento 
mais duro com o governo ditar 
uma crise política séria. “Espero 
que sobre algum pingo de cons-
ciência nos decisores políticos. Se 
com uma crise desta dimensão sa-
nitária e a brutal crise económica 
juntássemos uma política, era de 
internar os decisores políticos.” 
Até quando o apoio? 
A politóloga Sofia Serra Silva, in-
vestigadora da Universidade Nova, 
corrobora da perspetiva de Mar-
ques Lopes: “Não creio que as pos-
síveis fragilidades, a existir, na ima-
gem do governo acarretem uma 
potencial crise política. Quer o BE 
e o PCP nas suas últimas interven-
ções têm adotado uma abordagem 
de procurar soluções e debater es-
sas mesmas soluções numa lógica, 
sobretudo, de cooperação e não de 
conflito ou contestação. Para além 
disso, há um consenso generaliza-
do de que uma crise política sobre-
posta a uma crise pandémica é to-
talmente desnecessária e contra-
producente.” 
Sofia Serra Silva recorda que a 
ciência política tem indicado um 
fenómeno interessante , conheci-
do como “rally around the flag”, 
que sugere que em tempos de 
crise, quandoum país está amea-
çado, como tem acontecido com a 
situação pandémica, os cidadãos 
unem-se em torno dos seus líderes. 
O que se traduz em aumentos de 
popularidade dos líderes políticos 
e dos níveis de confiança e de apoio 
depositado pelos cidadãos naque-
les que estão liderar a resposta à 
ameaça existente. 
“A questão é saber se esse apoio 
nos primeiros tempos se mantém 
ao longo do tempo. O que sabe-
mos é que esse apoio não dura 
para sempre e que a sua duração 
depende de vários fatores, nomea-
damente da resposta, mais ou me-
nos eficiente, dos líderes políticos 
à situação pandémica”, diz a inves-
tigadora. “Resta, portanto, saber o 
efeito das últimas medidas e o im-
passe recente na tomada de deci-
são relativamente às restrições 
existentes durante o confinamen-
to e sobre o encerramento das es-
colas.” 
Na sua opinião, todos os recentes 
impasses na tomada de decisões 
“podem deixar, possivelmente, 
marcas na imagem do governo.”
53 exceções à emergência 
A 13 de janeiro, o governo aprova 
novas medidas para mais um 
período de estado de emergência. 
As medidas de confinamento têm 
53 exceções, entre as quais as 
escolas e universidades abertas e 
são permitidas as missas. Neste 
dia, já as autoridades de saúde 
davam conta de 10 556 novas 
infeções e mais 156 mortos. 
Aperto nas medidas 
Cinco dias após as novas medidas, 
o primeiro-ministro pediu, em tom 
dramático, ao país para respeitar o 
confinamento perante os números 
avassaladores da pandemia. 
Apertou a malha das medidas, 
entre as quais a proibição da 
venda ao postigo, mas não fechou 
as escolas. A DGS reportava 6702 
casos e 167 mortos.
Escolas encerram 
Depois de um coro de críticas da 
oposição, de muitos apelos de 
todos os setores, incluindo Ordem 
dos Médicos e Fenprof, o governo 
aprovou ontem o encerramento de 
todos os graus de ensino por 15 
dias para travar a disseminação da 
nova variante inglesa do vírus. Dia 
de recorde de infeções, 13 544, e 
de mortos, 221. 
(N
AT
AC
H
A
/C
A
RD
O
SO
 /
 G
LO
BA
L 
IM
AG
EN
S)
Há 702 doentes 
nos cuidados 
intensivos 
Portugal registou ontem 
mais 221 mortes (novo má-
ximo, depois dos 219 óbi-
tos do dia anterior) e 13 544 
casos de covid-19 (menos 1103 do 
que os registados na véspera). 
De acordo com os dados do bo-
letim epidemiológico da Direção-
-Geral da Saúde, o número de hos-
pitalizados e de doentes em cuida-
dos intensivos mantém uma 
tendência de crescimento. Estão 
agora nos hospitais 5630 doentes 
infetados com o novo coronavírus, 
mais 137 do que no dia anterior, 
dos quais 702 estão em unidades 
de cuidados intensivos – um acrés-
cimo de 21 pessoas em 24 horas. 
Nesta altura há 151 226 casos ati-
vos de covid-19 no país. No dia de 
ontem foram dadas como recupe-
radas 5873 pessoas. 
No total contabilizam-se 595 149 
infetados em Portugal, desde mar-
ço do ano passado, 434 237 foram 
dados como recuperados. Já mor-
reram em Portugal 9686 pessoas 
em consequência da covid-19. 
A região de Lisboa e Vale do Tejo 
continua a registar o maior núme-
ro de novos casos – 5401 – e tam-
bém de óbitos: 85 nas últimas 24 
horas. A norte houve 4510 novos 
casos e 53 mortos. 
Segundo os dados do boletim da 
Direção-Geral da Saúde, a região 
Centro ultrapassou o Norte em nú-
mero de mortos: 59. Quanto aos 
novos casos, foram 2539. 
No que respeita às faixas etárias 
há mais um óbito a registar entre os 
30 e os 39 anos e outro entre os 40 e 
os 49 anos. No grupo etário entre os 
50 e os 59 anos há a registar oito 
mortes. Nas últimas 24 horas mor-
reram 145 pessoas com mais de 80 
anos. 
Variante britânica ganha 
terreno em Portugal 
Segundo avançou ontem o primei-
ro-ministro, António Costa na 
conferência de imprensa após o 
Conselho de Ministros em que foi 
decidido o encerramento das es-
colas nas próximas duas semanas, 
a variante inglesa do novo corona-
vírus está rapidamente a ganhar 
terreno – tinha uma prevalência de 
8% na semana passada em Portu-
gal, nesta semana está nos 20% e 
pode vir a atingir os 60%. A minis-
tra da Saúde, Marta Temido, tam-
bém já tinha avançado o mesmo 
número em entrevista à RTP3, na 
noite de quarta-feira, afirmando 
que a nova variante do coronaví-
rus “pode atingir os 60% de inci-
dência em novos casos dentro de 
mais uma semana, até ao final do 
mês”, no que é “uma aceleração da 
transmissão”. Recorde-se que o 
número de novos contágios atin-
giu um pico de 14 647 casos na úl-
tima quarta-feira, passando assim 
a barreira dos 14 mil casos que al-
guns epidemiologistas já estavam 
a antecipar – mas com as previsões 
a apontarem para a última sema-
na do mês. 
No programa Grande Entrevista 
da estação pública, a ministra da 
Saúde falou ainda na pressão que 
está a ser vivida pelos profissionais 
de saúde em vários hospitais do 
país. “Os profissionais de saúde 
têm-nos levado a acreditar que 
conseguem sempre fazer mais um 
pouco, mas neste momento sinto 
que estamos muito próximo do li-
mite e que há situações em que es-
tamos no limite”, afirmou Marta 
Temido. 
BOLETIM Portugal atingiu ontem um novo máximo 
no número de mortes: 221 óbitos em 24 horas. Internados 
em UCI passaram pela primeira vez a barreira dos 700.
221
Mortes O número de 
óbitos em 24 horas atingiu 
um novo máximo, 
somando mais duas 
mortes às registadas no 
dia anterior. Em números 
globais, já morreram em 
Portugal 9686 pessoas 
com covid-19.
13 544
Contágios O número de 
novos casos decaiu 
ontem, depois de ter 
atingido um pico de 14 647 
contágios no dia anterior. 
No total contabilizam-se 
595 149 infetados em 
Portugal. Atualmente há 
151 226 casos ativos.
12 POLÍTICA Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
que “tem de ter um rumo mais cer-
to”. Rio concluiu a conferência de 
imprensa apelando à participação 
de todos nas presidenciais (“vão vo-
tar no domingo, é uma eleição mui-
to importante, as pessoas têm de fa-
zer esse sacrifício”), pedindo o voto 
em Marcelo, e pedindo também 
veementemente aos portugueses 
para que cumpram as regras do 
confinamento, visto que “a situação 
de Portugal não é muito diferente 
de uma situação de guerra”. 
À direita do PSD, o CDS afirmou, 
através de Telmo Correia (líder par-
lamentar), esta “era uma decisão 
que era inevitável, incontornável” 
e até “uma decisão positiva”. 
Contudo, tal como Rui Rio, Tel-
mo Correia também salientou as 
mudanças de posição do governo 
– e o facto de, ainda na terça-feira, 
Escolas fechadas. Ministro tem 15 
dias para resolver ensino à distância 
COVID-19 Alegando com os efeitos da nova variante inglesa do SARS-CoV-2, o governo decretou o encerramento total 
de todos os níveis de ensino. E sem aulas à distância. Dirigente escolares pressionam regresso da formação online.
Exatamente uma semana 
depois de ter sido publica-
do o decreto do governo 
que determinou um regres-
so ao “dever geral de recolhimento” 
mantendo-se todos os níveis de en-
sino abertos, o governo decide exa-
tamente o contrário: fecham todas 
as escolas, das creches às universi-
dades, ATL incluídos. E mais: não 
haverá, desta vez, ensino à distân-
cia. Serão, para todos os efeitos, fé-
rias de emergência de, pelo menos, 
quinze dias. Findo este período o 
governo reavaliará. Esta paragem 
será compensada retirando dias às 
pausas letivas e acrescentando uma 
semana ao ano letivo. 
O que parece estar a desenvol-
ver-se, no entanto, são pressões 
para que findos estes quinze dias as 
escolas permaneçam fechadas – 
mas com ensino online. Ouviram-
-se exigências nesse sentido das es-
colas privadas e também da Asso-
ciação Nacional de Dirigentes 
Escolares. Em conferência de im-
prensa, o ministro da Educação ad-
mitiu que o ensino à distância será 
ponderado após este encerramen-
to de 15 dias. Assegurou ao mesmo 
tempo que “há mais de 300 mil 
computadores nas escolas”. 
António Costa, que anunciou a 
medida depois de mais uma reu-
nião do Conselho de Ministros, jus-
tificou-a com a incidência da cha-
mada variante inglesa do SARS-
-CoV-2. “Nós adotamos as medidasem função dos dados que existem. 
Não dos dados que existiram nem 
dos dados que imagino que ve-
nham a existir. Tivemos de adotar as 
medidas que se impõem para evitar 
um crescimento desta dinâmica.” 
Dito de outra forma: o primeiro-
-ministro recusa ter atuado pres-
sionado pelo coro quase unânime 
na sociedade civil – começando 
pelas organizações dos professores 
e passando pelas organizações de 
médicos e pelos especialistas em 
epidemiologia ouvidos na quarta-
-feira à noite pelas ministras da 
Saúde e da Presidência e pelos mi-
nistros da Educação e do Ensino 
Superior. O boletim da Direção-
-Geral da Saúde revelou ontem um 
novo recorde de mortos em 24 ho-
ras: 221. Foram registados 13 544 
novos infetados. 
O governo foi ao encontro do 
que o PSD exigia – mas o PSD rea-
giu endurecendo o tom das críticas 
ao governo. Em causa, o facto de as 
aulas presenciais não terem sido 
substituídas por aulas à distância. 
“Isto é um desgoverno”, disse, em 
conferência de imprensa, o líder 
dos sociais-democratas, Rui Rio, 
sublinhando como o governo pas-
sou numa semana de uma decisão 
para outra exatamente oposta – e 
pegando também nas hesitações 
do executivo acerca dos ATL (pri-
meiro manteve-os fechados, de-
pois reabriu e logo a seguir fechou-
-os outra vez). 
“Há momentos em que é preciso 
dar um abanão para ver se o gover-
no entra na linha”, disse ainda o lí-
der do PSD, afirmando que o gover-
no “assim não pode continuar” e 
TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES e PAULO RIBEIRO PINTO (DINHEIRO VIVO)
“Há uma semana, 
os dados que existiam 
é que esta estirpe 
[britânica] tinha 
uma prevalência 
reduzida. Nesta 
semana, teve um 
crescimento muito 
significativo.”
António Costa 
Primeiro-ministro 
PORTUGAL
ESPANHA
FRANÇA
ITÁLIA
REINO 
UNIDO
IRLANDA
BÉLGICA
ALEMANHA
NORUEGA
SUÉCIA
DINAMARCA
POLÓNIA
BIELORRÚSSIA
LETÓNIA
LITUÂNIA
ESTÓNIA
FINLÂNDIA
UCRÂNIA
MOLDÁVIA
ROMÉNIA
BULGÁRIA
GRÉCIA
TURQUIA
SÉRVIA
HUNGRIA
ESLOVÁQUIA
ÁUSTRIA
HOLANDA
ISLÂNDIA
LUXEMBURGO
CROÁCIA
ALBÂNIA
Diário de Notícias Sexta-feira 22/1/2021 13
na Assembleia da República, Antó-
nio Costa ter defendido, de forma 
“quase arrogante”, que as escolas 
deveriam manter-se abertas. “A 
preocupação que nos fica é que o 
governo está completamente des-
norteado”, afirmou o líder parla-
mentar dos centristas. 
Segundo o anunciado, as escolas 
só ficarão abertas para os filhos até 
12 anos de profissionais de setores 
essenciais (pessoal hospitalar, po-
lícias, etc.). E os alunos beneficiá-
rios da ação social escolar conti-
nuarão a beneficiar disso, com re-
feições nas escolas. 
Já os pais obrigados a faltar ao 
trabalho por terem filhos agora em 
casa (até aos 12 anos) serão pagos a 
66% (um apoio idêntico ao do pri-
meiro confinamento). As ativida-
des para crianças com necessida-
des educativas especiais também 
não serão interrompidas. O Conse-
lho de Ministros decidiu ainda o 
encerramento das Lojas de Cida-
dão, mantendo-se o atendimento 
por marcação noutros serviços pú-
blicos, e a suspensão nos tribunais 
de todos os prazos não urgentes. 
António Costa justificou o facto 
de ter sido tentado, até ao limite, 
manter as escolas abertas afirman-
do que “a interrupção de atividades 
letivas é profundamente danosa 
para o processo de aprendizagem” 
– e “não é suscetível de compensa-
ção”. “Não há dinheiro que pague o 
dano que esta medida causa no 
processo de desenvolvimento de 
uma criança, ou na perturbação do 
seu processo de aprendizagem. Se 
isto já foi mau no ano letivo ante-
rior, dois anos letivos sucessivos 
com problemas provocados por in-
terrupções no processo de apren-
dizagem tem danos muito acresci-
dos”, acrescentou. 
“Quisemos evitar, mas não po-
demos evitar face à alteração do ví-
rus. Apesar de os especialistas dize-
rem que aparentemente este vírus 
não afeta mais a saúde, dizem que 
parece ter mais carga viral e tem 
uma velocidade de transmissão 
muito superior. O risco de espalhar 
este vírus na sociedade aumentou”, 
afirmou ainda. E isto salientando, 
pelo meio, repetidamente, que “as 
escolas não foram nem são o prin-
cipal foco de transmissão”. 
Segundo salientou, a intenção 
do governo é que a interrupção da 
atividade letiva “seja de curta dura-
ção e que tenha a sua devida com-
pensação no calendário escolar, 
seja no Carnaval ou na Páscoa, ou 
na interrupção de verão”. 
Candidatos apoiam 
Entre as candidaturas presiden-
ciais, Ana Gomes disse que as me-
didas eram expectáveis. “Como eu 
tinha antecipado, penso que estas 
medidas eram de esperar. Com-
preendo que o governo as tenha de-
cretado tendo em atenção a pro-
gressão assustadora da pandemia e 
a necessidade de intervir rapida-
mente para achatar a curva e dimi-
nuir a pressão na linha da frente dos 
hospitais”, afirmou aos jornalistas. 
Já Marisa Matias, candidata 
apoiada pelo Bloco de Esquerda, 
considerou que “todas as medidas 
que nos permitam salvar vidas são 
absolutamente necessárias, sem-
pre tive de acordo com elas”. Contu-
do, sublinhou em simultâneo, que 
“a par dessas medidas”, o governo 
deve disponibilizar “os apoios que 
são necessários para que as pessoas 
possam manter a sua vida, com di-
gnidade e com o mínimo de con-
forto a que têm direito”. 
Missas também fecham 
A questão dos apoios às famílias es-
teve no centro das preocupações 
manifestadas pelo candidato do 
PCP. “Eu acho que era importante 
que o governo ponderasse essa de-
cisão, não me parece adequada 
uma penalização das famílias que 
tenham de ficar sem um terço do 
vencimento”, disse João Ferreira. 
Entretanto, a Conferência Epis-
copal Portuguesa decidiu também 
um novo encerramento das mis-
sas presenciais – no sábado já não 
poderão ser celebradas. Na quin-
ta-feira da semana passada, a hie-
rarquia da Igreja Católica já tinha 
determinado a suspensão ou o 
adiamento das celebrações de ba-
tismos, crismas e matrimónios, 
tendo em conta a “gravíssima si-
tuação” da pandemia.
A partir de hoje e, pelo me-
nos nos próximos 15 dias, 
mais de 170 mil pais vão 
ficar em casa para acom-
panhar os filhos que ficam sem au-
las. A medida foi anunciada ontem 
pelo primeiro-ministro depois de 
o governo ter decidido encerrar as 
escolas de todos os níveis de ensi-
no na tentativa de travar a propaga-
ção da covid-19. 
Tomando por referência o mês 
de março do ano passado, quando 
as escolas também foram encerra-
das, 172 274 trabalhadores benefi-
ciaram do chamado apoio excecio-
nal à família. 
De acordo com os dados dispo-
nibilizados pelo Ministério do Tra-
balho, Solidariedade e Segurança 
Social (MTSSS) referentes a março 
de 2021, a esmagadora maioria 
(87%) dos beneficiários deste 
apoio eram trabalhadores por 
conta de outrem (149 796), 12% 
eram trabalhadores independen-
tes e 1,4% trabalhadores de serviço 
doméstico. 
Nesse primeiro mês em que vi-
gorou o apoio excecional à família, 
a medida custou cerca de 14 mi-
lhões de euros. O DN/Dinheiro 
Vivo questionou o gabinete da mi-
nistra do Trabalho, mas não obteve 
um valor previsto para este novo 
confinamento geral. 
O apoio durou até ao final do ano 
letivo, abrangendo cerca de 200 mil 
pessoas, isto porque a prestação 
poderia ser alternada entre os pais. 
Milhões de alunos 
Só para os alunos até aos 12 anos, 
ou seja, pré-escolar e ensino bási-
co, estamos a falar de cerca de 1,2 
milhões de crianças que vão ficar 
em casa nos próximos 15 dias e que 
precisam de acompanhamento de 
um dos pais. 
De acordo com os dados mais re-
centes do Ministério da Educação, 
referentes ao ano letivo 2018-2019, 
no pré-escolar estavam inscritas 
cerca de 244 mil crianças, no ensi-
no básico cerca de 970 mil alunos. 
No secundário encontravam-se 
inscritos perto de 400 mil alunos. 
Estes dados dizem respeito ao en-
sino público e privado. 
Ao contrário do que aconteceu 
durante o encerramento das esco-
las no ano passado, nos próximos 
15 dias não haverá ensino à distân-
cia, sendo este período recuperado 
mais tarde. 
Independentes com um terço 
“O apoio seráatribuído nos moldes 
em que foi atribuído em 2020”, refe-
Mais de 170 mil em casa 
com os filhos sem aulas 
APOIO Trabalhadores por conta de outrem recebem 66% do salário. Período para calcular 
vencimento ainda a definir para independentes, que recebem um terço dos rendimentos. 
TEXTO MARIA CAETANO e PAULO RIBEIRO PINTO 
re o MTSSS em resposta ao DN/Di-
nheiro Vivo. E, por isso, clarificou o 
Instituto de Segurança Social na sua 
página ainda ontem, dará direito ao 
pagamento de dois terços do salá-
rio-base dos trabalhadores por 
conta de outrem, até um máximo 
de 1995 euros, e assegurando um 
mínimo de 665 euros, tal como em 
março do ano passado. O encargo 
foi então repartido entre Segurança 
Social e empregadores, no caso dos 
trabalhadores por conta de outrem. 
O mesmo apoio está também 
aberto a trabalhadores indepen-
dentes e do serviço doméstico. No 
caso dos primeiros, estes terão di-
reito a um apoio correspondente “a 
um terço da base de incidência 
contributiva”, esclarece o MTSSS. O 
valor será de um mínimo de 438,81 
euros, com um teto de 1097 euros. 
Mas o período de referência dos 
rendimentos ainda será esclareci-
do no decreto-lei. 
Já os trabalhadores domésticos 
deverão ter, tal como na primave-
ra, direito a dois terços da remune-
ração registada num período ain-
da a determinar no decreto-lei já 
aprovado pelo governo. Aqui, tam-
bém, repartidos entre a Segurança 
Social e empregadores, à partida. 
O apoio vai permanecer vedado 
a progenitores quando um deles 
esteja em regime de teletrabalho. 
“Não são abrangidas as situações 
em que é possível a prestação de 
trabalho em regime de teletraba-
lho”, esclareceu a Segurança Social. 
“Caso um dos progenitores se en-
contre em teletrabalho, o outro 
não poderá receber este apoio”, re-
forçou. 
A Segurança Social disponibili-
zou já ontem o modelo da declara-
ção que os trabalhadores por con-
ta de outrem terão de remeter às 
entidades empregadoras, que de-
pois comunicam com a Segurança 
Social e asseguram os pagamentos. 
Apesar de implicar encargos 
também para os empregadores, o 
apoio ao salário dos pais não terá 
sido discutido na última reunião 
da concertação social, na quarta-
-feira, segundo indicaram ontem 
ao DN/Dinheiro Vivo a UGT e a 
CGTP. Até à hora de fecho desta 
edição, não foi possível obter uma 
reação das confederações patro-
nais que têm assento na concerta-
ção social. 
maria.s.caetano@dinheirovivo.pt 
paulo.pinto@dinheirovivo.pt
Escolas 
Encerramento total, das creches 
às universidades, passando pelos 
ATL. Não há sequer aulas online. 
Serão 15 dias (pelo menos) de 
férias de emergência, período 
que será compensado mais tarde. 
As escolas só permanecerão 
abertas para crianças até 12 anos 
filhas de profissionais dos setores 
essenciais e para servir refeições 
aos beneficiários da ação social 
escolar. As atividades de 
necessidades educativas especiais 
também funcionarão. 
 
Tribunais 
O Conselho de Ministros decidiu a 
suspensão nos tribunais de todos 
os prazos não urgentes, o que se 
traduzirá numa proposta que ainda 
terá de ser votada no Parlamento. 
 
Lojas de cidadão 
Foi decretado o encerramento das 
Lojas de Cidadão, mantendo-se o 
atendimento presencial mediante 
marcação, na rede de balcões dos 
diferentes serviços, bem como a 
prestação desses serviços através 
dos meios digitais e dos centros 
de contacto.
As medidas 
decididas ontem 
Apenas os pais de filhos menores de 12 anos podem pedir apoio.
RU
I M
A
N
U
EL
 F
O
N
SE
C
A
/G
LO
BA
L 
IM
AG
EN
S
“Não são abrangidas 
as situações em que 
é possível o 
teletrabalho” e só um 
dos pais pode receber 
o apoio de cada vez, 
esclarece o governo. 
14 POLÍTICA Sexta-feira 22/1/2021 Diário de Notícias
Areeleição de Marcelo Re-
belo de Sousa como Pre-
sidente da República “é a 
escolha certa e quase ób-
via”. Quem o diz é Augusto Mateus, 
que não estranha a mobilização de 
apoios ao atual Presidente mesmo 
entre quem tem cores políticas di-
ferentes. “Não é questão de ser so-
cialista ou liberal ou outra coisa 
qualquer. É uma questão de equilí-
brio e da importância do PR no re-
gime semipresidencialista, não em 
tudo mas no que é fundamental. 
Os portugueses gostam desse po-
der compensatório, do equilíbrio 
que dá” – e que faz especial sentido 
neste momento. 
Num contexto de crise diferente 
de qualquer outra que tenhamos 
vivido, o antigo ministro de Antó-
nio Guterres defende uma respos-
ta da saúde livre de ideologias e que 
integre todos os atores – público, 
privado e social – e lembra que à 
medida que esta crise se agrava ou 
se arrasta no tempo o governo per-
de a simpatia dos portugueses. 
Pelo que sublinha: “Nós precisa-
mos é de medidas úteis e justas, 
não de soluções simpáticas. E pre-
cisamos dos apoios certos e que 
haja rigor e transparência na co-
municação, que não tem havido.” 
Sem podermos recorrer às solu-
ções conhecidas por se tratar de 
uma crise fundamentalmente di-
ferente e geradora de desigualda-
de, e que se tem enfrentado com 
“navegação ultra à vista”, gerando 
“extrema incerteza” – e com ela re-
ceio e oportunismo –, Augusto 
Mateus defende ser essencial de-
senhar medidas assertivas e que 
tratem todos por igual “pelas fun-
ções que exercem na sociedade”, 
pesadas as devidas diferenças. “O 
trabalhador assalariado e o inde-
pendente têm de ter iguais condi-
ções, temos de ter princípios mui-
to mais ativos e automáticos de 
partilha da dor”, explica. Como o 
lay-off simplificado, repartindo os 
custos em três partes iguais: em-
presa, trabalhadores e Estado en-
quanto representante da socieda-
de. “Teria sido importante que to-
dos países se alinhassem nisto 
perante quebras de procura bru-
tais ou fecho de atividade.” Porque 
o problema não é financeiro, de 
quantidade de dinheiro, mas do 
tratamento que se lhe dá, provo-
cando sentimento em alguns de 
estarem a ser maltratados e não 
verem a sua dor partilhada. 
“Há uma profunda desigualdade 
empresarial, setorial, regional, etc. 
dos problemas e com uma enorme 
amplitude de variação também a 
nível social. Temos profundíssima 
desigualdade entre assalariados e 
independentes, atividades sobre 
criatividade e cultura, de que disse-
mos o melhor e que estão debaixo 
de água e outras comuns que estão 
bem melhor. A incerteza e a desi-
gualdade nos impactos da pande-
mia exigem de governos e cidadãos 
um comportamento inteiramente 
novo. Não se pode tentar resolver 
problemas que tínhamos antes de 
resolver o de saúde pública ou arris-
camos criar profundas injustiças.” 
A esse nível, Augusto Mateus la-
menta erros básicos de gestão. 
“Ninguém estava preparado para 
isto e não há culpa de governos – 
por piores que sejam –, mas preci-
samos de lucidez e isso tem faltado 
em muitos aspetos.” A começar 
pela necessidade de pôr todos os 
serviços de saúde a funcionar em 
conjunto, para prestar serviço uni-
versal, rápido e com qualidade. Fa-
ria sentido a requisição civil? Ma-
teus é perentório: “Não! Não faz ne-
nhum sentido. O que é preciso é 
gerir a saúde com racionalidade. 
A sociedade portuguesa está con-
sensualizada no que Marcelo tem 
expresso – apesar de atacado pelos 
outros candidatos: temos agentes 
privados, públicos e sociais e temos 
de garantir que existe um SNS pú-
blico para todas as pessoas serem 
iguais na doença, mas temos mui-
to a ganhar com a especialização e 
complementaridade de outro tipo 
de serviços.” E lembra que a vacina 
só foi possível “porque houve gran-
de colaboração entre atores: incen-
tivos fortíssimos públicos e mobi-
lização de conhecimento privado”. 
Para uma saúde melhor e livre de 
ideologia, a funcionar para servir os 
portugueses, defende um conheci-
mento aprofundado dos custos de 
referência, como há nos medica-
mentos. “Se uma entidade conse-
gue suportar melhor certos custos, 
pode beneficiar disso, se suporta 
pior é prejudicada. Os preços na 
saúde são fundamentais para a co-
laboração e já devia haver planos 
de combate a pandemias e de oti-
mização de recursos

Mais conteúdos dessa disciplina

Mais conteúdos dessa disciplina