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W BA 10 87 _V 1. 0 CONTROLADORES LÓGICOS PROGRAMÁVEIS EM INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 2 Bruno Henrique Oliveira Mulina São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 CONTROLADORES LÓGICOS PROGRAMÁVEIS EM INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Leandro José Cesini da Silva Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Mulina, Bruno Henrique Oliveira Controladores lógicos programáveis em instalações industriais / Bruno Henrique Oliveira Mulina. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 32 p. ISBN 978-65-5356-359-9 1. Instalações industriais. 2. Máquinas elétricas. 3. Lógica programável. I. Título. CDD 333.7932 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O M957c © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Visão geral sobre CLPs. Introdução à linguagem Ladder _____ 07 Lógica programável. Fundamentos de sistemas de controle usando CLPs _________________________________________________ 17 Aplicação de controladores lógicos programáveis em processos industriais ___________________________________________________ 29 Projetos de controladores lógicos programáveis aplicados em acionamento de máquinas elétricas _________________________ 41 CONTROLADORES LÓGICOS PROGRAMÁVEIS EM INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS 5 Apresentação da disciplina Seja bem-vindo à disciplina Controladores lógicos programáveis em instalações industriais! Durante nossas aulas, aprenderemos sobre os controladores lógicos programáveis, os CLPs, equipamentos muito úteis na era atual da industrialização. Graças a eles, é possível levar ao ambiente industrial todas as facilidades providas pela computação. Um CLP é basicamente um computador, com todas as características inerentes a esse dispositivo, porém desenvolvido para controlar aplicações industriais. Ciente disso, fica fácil entender o porquê de esse equipamento ser tão importante na indústria. Imagine que será desenvolvida toda uma linha de produção nova. São muitos equipamentos para serem monitorados, enviando e recebendo comandos a todo instante. Agora, imagine tudo isso feito a partir de dispositivos como contatores temporizados, relés de manutenção de estado e mais uma infinidade de relés e contatores especializados em uma única ação, utilizados apenas para o controle do processo. Qual seria o tamanho do painel de comando necessário para armazenar todos esses componentes? E o volume de fios necessários para ligar tais elementos? E quanto à manutenção? Para tornar esse ambiente mais amigável, temos o CLP. Utilizando um CLP, é possível ligar todos os equipamentos em um único componente, a partir de ferramentas de programação, e integrar as funções necessárias para a realização das tarefas. Desse modo, todo o controle do processo estará concentrado em alguns poucos equipamentos, integrados por meio de ferramentas computacionais, que permitem ao operador ter todas as informações próximas e ao 6 alcance de um computador. Dar manutenção ao sistema ou aplicar ajustes no processo agora é feito por meio de programação. Ao utilizar os CLPs na indústria, não podemos nos esquecer dos especialistas em comandos elétricos, peças-chaves que conhecem detalhes sobre as práticas a serem seguidas para uma ótima operação dos processos industriais. Por esse motivo, o CLP tem como principal linguagem de programação a Ladder, que permite sua programação de maneira semelhante à construção de um diagrama de acionamentos elétricos. Então, ao longo de nossa disciplina, conheceremos os detalhes construtivos do CLP e entenderemos como são os sinais de entradas e saídas, as ligações elétricas e as preocupações envolvidas na conexão de elementos ao CLP. Além da parte física, serão abordados os princípios da programação em Ladder, destacando-se a aplicação de diferentes conceitos no desenvolvimento de programas de automação. Desse modo, você será capaz de utilizar o CLP em suas aplicações, tirando o máximo proveito de suas capacidades e das vantagens trazidas por esse componente. Esperamos que você possa aproveitar os conteúdos apresentados ao longo da disciplina, produzidos a fim de auxiliá-lo nesse assunto tão importante. Bons estudos! 7 Visão geral sobre CLPs. Introdução à linguagem Ladder Autoria: Bruno Henrique Oliveira Mulina Leitura crítica: Leandro Jose Cesini da Silva Objetivos • Compreender o funcionamento do CLP e suas partes. • Aprender sobre os conceitos da linguagem Ladder. • Identificar como o CLP interage com o ambiente industrial por meio de suas entradas e saídas. 8 1. Introdução No início da era industrial, a linha de produção era desenvolvida de maneira a atender à fabricação de um único tipo de produto. O controle do processo realizado por painéis de comandos elétricos era desenvolvido de modo a atender às necessidades daquele momento. Caso houvesse alguma mudança na linha de produção, era necessário refazer por completo o sistema de controle, o que incluía novos painéis elétricos, resultando em grandes paradas na produção. Porém, na década de 1970, as indústrias, principalmente a automobilística, precisavam de algo que permitisse flexibilizar suas linhas de produção, adequando-as rapidamente às mudanças. Foi nesse ambiente que surgiu o Controlador Lógico Programável, ou CLP, como solução para essa nova demanda, e que se mantém como ferramenta- chave dos projetos de controle de processos na indústria. 1.1 O que é um CLP? Pela definição, um Controlador Lógico Programável (CLP) é um aparelho eletrônico programável que permite o armazenamento de instruções necessárias para o desenvolvimento de uma aplicação que, baseada em leituras de entradas e saídas, é capaz de controlar máquinas e processos (PETRUZELLA, 2014). O CLP foi desenvolvido na década de 1970 pela General Motors, de modo a permitir a construção de painéis de comando elétricos que pudessem ser rapidamente reconfigurados, com pouca ou nenhuma modificação física (FRANCHI; CAMARGO, 2009). Para isso, os circuitos de relés dedicados foram substituídos por um sistema computacional, que pudesse ser programado. A Figura 1 compara painéis de comandos com e sem a presença de um CLP. 9 Figura 1 – Comparativo entre painéis de comandos elétricos: a) Sem CLP. b) Com CLP Fonte: adaptada de ChiccoDodiFC/iStock.com/ Shutterstock.com. O CLP traz ao ambiente industrial as vantagens dos sistemas computadorizados, tais como: simplicidade na instalação e configuração, flexibilidade nas aplicações, velocidade de execução, confiabilidade, compatibilidade com sistemas de comunicação e facilidade na verificação de defeitos (FRANCHI; CAMARGO, 2009). Essas vantagens tornam o CLP uma solução versátil e barata para o controle de diferentesprocessos. Outro benefício trazido pelo CLP é a semelhança com os componentes antes usados nos painéis de comando. Essa similaridade ocorre tanto no modo de operação das entradas e saídas quanto em uma das linguagens de programação mais utilizadas (a linguagem Ladder), que usa simbologias e modo de programação semelhantes aos esquemas elétricos. 2. Partes de um CLP Um CLP é composto por uma unidade lógica, módulos de entrada e saída e fonte de alimentação (PETRUZELLA, 2014). 10 2.1 Unidade lógica A unidade lógica é composta de uma CPU (Unidade Central de Processamento), responsável pela execução das instruções, de um conjunto de memórias necessárias para o armazenamento do software a ser executado e das variáveis de estado do funcionamento do CLP, e de módulos de comunicação, que permitem ao CLP transmitir e receber informações de uma rede de comunicação externa. Por ser uma parte bastante sensível, a unidade lógica contém diversas proteções que tornam o CLP robusto no ambiente industrial. Entre as proteções existentes, estão o isolamento optoelétrico, dois sinais de entrada e saída, a blindagem eletromagnética e a proteção contra poeira e umidade. A memória do CLP é composta de uma memória não volátil, responsável por armazenar o software, e de uma memória volátil, para manipulação dos estados do CLP. O módulo de comunicação possui duas funcionalidades: a gravação do programa e a transmissão dos dados para outros dispositivos. Esse módulo pode assumir diferentes configurações, de acordo com o modelo do CLP, sendo possível incluir uma interface com usuário através de uma tela e botões de interação, e/ou comunicação RS-232, RS-485, USB, Ethernet, ou tecnologias sem fio. 2.2 Módulos de entrada As entradas de um CLP são os pontos de conexão nos quais serão ligados elementos que capturam estados do ambiente. São os pontos em que o CLP realizará a leitura de informações oriundas de, por exemplo, sensores e botoeiras. Devido aos diversos tipos de informações, os CLPs possuem diferentes formatos de leitura, sendo eles: 11 • Digital (ou discreta): recebe informações do tipo “0” ou “1”, podendo os níveis lógicos ser presença ou ausência de tensão, abertura ou fechamento de uma chave, entre outros. • Analógica (ou contínua): realiza a leitura de valores analógicos, como tensão entre 0 e 10 Vcc, -10 e +10 Vcc, ou corrente de 4 a 20 mA. As entradas digitais de um CLP são construídas de modo a ficarem isoladas da unidade lógica. Por isso, um diagrama típico aplicado a cada entrada de sinal é composto de uma ponte retificadora e um circuito de filtragem. Desse modo, o sinal de entrada poderá ser tanto corrente contínua quanto alternada, já que ambos serão retificados e filtrados antes de serem enviados para a entrada do isolador. As entradas de sinal do CLP podem ser vistas como bobinas de um relé, em que, no caso de passagem de corrente, é adotado que o sinal de entrada vale “1”, enquanto na situação sem corrente o sinal lido é “0”. Então, cada entrada de sinal deve ser, obrigatoriamente, um circuito no qual o elemento sensor (uma botoeira, por exemplo) permitirá ou não a passagem de corrente pela entrada de sinal do CLP. Para reduzir o número de conexões, é comum que as entradas possam ter uma conexão em comum. Por isso, é importante verificar se a ligação em uma entrada não gera nenhum curto-circuito com outras entradas. Dito isso, os CLPs podem fornecer dois tipos de entradas: tipo dreno ou tipo fonte. Nas entradas tipo dreno, também chamadas de entradas PNP, a conexão de entrada de sinal deve drenar corrente do circuito no qual o sensor está conectado (a corrente deve entrar pela conexão; o terminal do CLP deve ser o negativo) (Figura 2.a), enquanto nas entradas tipo fonte, ou entradas NPN, a entrada de sinal deve ser a fonte de corrente para o circuito do sensor (a corrente deve sair pela conexão; o terminal do CLP deve ser o positivo da tensão) (Figura 2.b). 12 Figura 2 – Tipos de entradas de dados digitais em um CLP. a) Tipo dreno. b) Tipo fonte Fonte: elaborada pelo autor. A seguir, apresentaremos como são as saídas de dados em um CLP. 2.3 Módulos de saída Os módulos de saída são aqueles que possuem conexões para enviar sinais para os atuadores realizarem alguma tarefa. Assim como nas entradas, existem saídas digitais, que fornecem apenas dois valores (“0” e “1”) e servem para atuadores com apenas dois estados de funcionamento, e saídas analógicas, que fornecem sinais contínuos, variando dentro da escala escolhida (0 a 5 Vcc, 0 a 10 Vcc e outros). Os módulos de saída também são isolados com relação à parte lógica. Porém, dependendo do tipo de carga a ser acionada (corrente contínua ou alternada) e da velocidade de acionamento do atuador, existem três tipos de saídas digitais: saídas a relé, saídas a transistores e saídas a TRIAC. A Figura 3 mostra o esquema de cada saída. É importante perceber que, independentemente do tipo de saída, nenhum sinal de saída é alimentado diretamente com a fonte do CLP. 13 Figura 3 – Tipos de saídas digitais em um CLP. a) Relé. b) Transistor. c) TRIAC Fonte: elaborada pelo autor. A saída digital a relé (Figura 3.a) é indicada para acionar cargas de corrente contínua e alternada, provendo uma saída mais robusta e de maior capacidade, mas não é indicada para acionamentos frequentes, já que a vida útil do relé é reduzida (150 mil a 300 mil acionamentos), e sua velocidade de atuação é baixa. A saída digital a transistor (Figura 3.b) é aplicada unicamente para corrente contínua, não sendo indicada para sinais de corrente elevada, acima de 1 A. A velocidade de chaveamento é elevada, e a vida útil desse tipo de saída é maior em comparação à saída a relé (cerca de 30 vezes maior que a saída a relé). A saída digital a TRIAC (Figura 3.c) é recomendada para acionamento de cargas alternadas. Assim como a saída digital a transistor, tem uma velocidade de acionamento alta, vida útil cerca de 30 vezes maior que a saída a relé, e aciona cargas de no máximo 1 A. 3. Linguagem de programação Ladder Uma vez que o CLP é uma ferramenta programável, é necessário transcrever a ideia de controle dos processos por meio de uma sequência de instruções, ou seja, desenvolver um programa. 14 Para a programação de CLPs, a norma IEC 61131-3 (PLCOPEN, [s.d.]) define um conjunto de linguagens de programação classificadas em dois grupos: as linguagens gráficas e as listas de instruções. Entre as linguagens gráficas está a Ladder, desenvolvida com base nos mesmos esquemas usados para descrever os comandos elétricos. Assim, a migração entre as duas tecnologias foi mais fácil (PETRUZELLA, 2014). Por isso, é comum que um programa em Ladder seja referido como diagrama de contatos. Inclusive, ao programar em Ladder, a memória de programa pode ser vista como uma matriz de contatos, em que cada funcionalidade (entradas, saídas, temporizadores) está relacionada a um contato, abrindo ou fechando o circuito no qual ele está conectado. A linguagem Ladder busca descrever o funcionamento do CLP a partir da avaliação de variáveis que podem ser analisadas como relés, abrindo e fechando contatos, permitindo ou não a passagem de corrente elétrica, no caso de entradas, ou ativando e desativando relés, no caso das saídas. Dada essa descrição inicial, torna-se mais clara a compreensão de como é realizada a programação na linguagem Ladder. Um programa em Ladder consiste em um diagrama construído entre duas linhas verticais, em que a linha da esquerda representa a alimentação positiva de uma fonte virtual, enquanto a linha da direita representa a referência da fonte. Isso é importante, pois a “execução” do programa ocorrerá sempre da esquerda para a direita, assim como a passagem da corrente elétrica. Ligando as duas linhas verticais estão os “circuitos” lógicos a serem aplicados pelo CLP. Ao longo de cada lógica, um sinal de entrada permitirá ou não a passagem da corrente virtual,enquanto as variáveis de saída serão ligadas ou não a partir da corrente que trafega pelo circuito. A Figura 4 apresenta um diagrama de exemplo e os símbolos básicos. 15 Figura 4 – Diagrama Ladder. a) Diagrama. b) Símbolos básicos Fonte: elaborada pelo autor. Em um diagrama Ladder, as variáveis de entrada estarão localizadas à esquerda do circuito, enquanto as saídas, à direita (as variáveis de entrada permitem ou não a passagem de corrente para as saídas). As entradas serão sempre identificadas pela letra “I”, enquanto as saídas, pela letra “O”. Outro ponto a ser destacado é a impossibilidade de haver duas saídas em série em um único circuito. Caso existam duas saídas, elas deverão estar em paralelo. Na programação Ladder, as entradas e saídas são dados armazenados na memória. Então, as saídas podem ser usadas como valores de entrada. Por isso, tem-se O0000 indicada como entrada. A variável de entrada I0000 é normalmente fechada, ou seja, quando a entrada real for “0”, será possível a passagem de corrente no circuito virtual, e o contrário ocorrerá caso a entrada real seja “1”. A variável I0001 é normalmente aberta, permitindo a passagem de corrente apenas se a variável de entrada for “1”. A saída O0000 será ativa caso seja possível a corrente passar entre as linhas verticais através do circuito desenhado para ela. Antes de iniciar a programação, é importante conhecer o fluxo de execução dos programas em um CLP. Um CLP realiza suas tarefas com base no processo de varredura (scan). Essa varredura ocorre em loop, tendo três etapas: ele inicia realizando a varredura das entradas, na qual ele lerá todas as entradas; depois, a varredura de programa, 16 quando ele realizará as operações; e, por último, a varredura de saída, quando o CLP ativará ou não as saídas a partir da lógica programada. Esse processo todo demora entre 1 e 20 milissegundos. Conhecer o processo de varredura é extremamente importante para que o usuário não cometa erros, como imaginar que a mudança em uma variável de entrada é identificada imediatamente ou que a mudança em uma variável na memória ocorre no mesmo instante em que ela foi manipulada. Neste Tema, foram apresentadas as bases para a utilização dos CLPs, indicando pontos importantes para projeto e desenvolvimento de soluções usando essa ferramenta, inclusive com a apresentação de uma ferramenta de programação. Mas é importante destacar que esse é somente o ponto de partida! Existem particularidades entre modelos e fabricantes, e o usuário deve estar ciente dessas diferenças. Referências FRANCHI, C. M.; CAMARGO, V. L. A. Controladores Lógicos Programáveis: Sistemas Discretos e Analógicos. 3. ed. São Paulo: Érica, 2021. PETRUZELLA, F. D. Controladores Lógicos Programáveis. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. PLCOPEN. IEC 61131-3: a norma para programação. PLCopen.org, [s.d.]. Disponível em: https://plcopen.org/sites/default/files/downloads/intro_iec_march04_ portuguese.pdf. Acesso em: 29 set. 2022. SILVEIRA, P. R.; SANTOS, W. E. Automação e Controle Discreto. 9. ed. São Paulo: Érica, 1998. https://plcopen.org/sites/default/files/downloads/intro_iec_march04_portuguese.pdf https://plcopen.org/sites/default/files/downloads/intro_iec_march04_portuguese.pdf 17 Lógica programável. Fundamentos de sistemas de controle usando CLPs Autoria: Bruno Henrique Oliveira Mulina Leitura crítica: Leandro Jose Cesini da Silva Objetivos • Compreender os princípios da álgebra booleana. • Conhecer técnicas para a construção de programas Ladder a partir do comportamento desejado do CLP. • Compreender os conceitos iniciais de sistemas de controle. 18 1. Álgebra booleana em Ladder Ao programar um CLP em linguagem Ladder, o usuário tem como elemento de programação a matriz de relés internos. Por esse motivo, a lógica de programação em um software em Ladder é baseada na abertura ou no fechamento desses relés, permitindo ou não a passagem de uma corrente virtual. Observando desse modo, o programa em linguagem Ladder é feito manipulando variáveis binárias, que assumem apenas dois estados. Por esse motivo, é importante ao desenvolvedor conhecer a álgebra booleana, suas operações e seus teoremas, facilitando a implementação de soluções usando Ladder. 1.1 O que é álgebra booleana? A lógica booleana foi criada em 1854 pelo matemático George Boole, sendo um conjunto de operadores e axiomas que permitiram manipular variáveis que assumissem apenas dois valores (também chamadas de variáveis binárias), como verdadeiro e falso ou, conforme usualmente denotado, “0” e “1”. Para entender os preceitos da álgebra booleana, considere o exemplo: para ser aprovado, um aluno precisa atingir uma nota e uma presença mínimas. Traduzindo para variáveis binárias, a nota do aluno é verdadeira (ou “1”), caso ele atinja ou supere a nota mínima, ou falsa (ou “0”), no caso contrário. O mesmo raciocínio vale para a frequência. O aluno somente será aprovado (saída verdadeira ou “1”) se a nota e a frequência forem verdadeiras. Quaisquer combinações que envolvam uma variável falsa reprovam o aluno (saída falsa ou “0”). Ao desenvolver uma solução na linguagem Ladder, a lógica aplicada considera a presença de uma corrente virtual percorrendo os relés internos. Dito isso, um relé aberto assume valor falso, já que não permite a 19 passagem da corrente, enquanto um relé fechado assume valor verdadeiro, com a corrente percorrendo o elemento. Ou seja, o programa é construído através do relacionamento entre variáveis binárias (os relés internos). A fim de auxiliar no desenvolvimento de programas em Ladder, serão apresentados alguns conceitos propostos pela álgebra booleana. 1.2 Operações booleanas A álgebra booleana possui três operações básicas: “OU”, “E” e “NÃO”. A partir da associação das operações básicas, é possível desenvolver expressões booleanas. Ao estudar uma operação ou expressão booleana, pode-se construir uma Tabela Verdade, apresentando os resultados obtidos para cada combinação de valores de entradas. Antes de iniciar a construção do programa, sempre desenvolva a Tabela Verdade, pois será de grande ajuda no seu desenvolvimento. 1.2.1 Operação “OU” A simbologia e a Tabela Verdade da operação “OU” com duas entradas (A e B) podem ser vistas na Figura 1, na qual é possível observar também um trecho de programa em Ladder implementando a lógica “OU” com duas entradas. Figura 1 – Operação booleana “OU”: a) Simbologia; b) Tabela Verdade; c) Ladder Fonte: elaborada pelo autor. 20 A operação “OU” (OR, em inglês), também chamada de soma lógica, define que a saída será 1 se pelo menos uma das entradas valer 1. Na linguagem Ladder, a lógica “OU” assume uma montagem paralela dos relés de entrada. Isso porque a corrente percorre o circuito se pelo menos um relé estiver fechado. 1.2.2 Operação “E” A simbologia e a Tabela Verdade da operação “E” com duas entradas (A e B) podem ser vistas na Figura 2, além de um trecho em Ladder com essa operação. Figura 2 – Operação booleana “E”: a) Simbologia; b) Tabela Verdade; c) Ladder Fonte: elaborada pelo autor. A operação “E” (AND, em inglês), também chamada de produto ou multiplicação lógico, define que a saída será 1 se todas as entradas valerem 1. Na linguagem Ladder, a lógica “E” assume uma montagem dos relés em série. Isso porque a corrente percorre o circuito se todos os relés da linha estiverem fechados. 1.2.3 Operação “NÃO” A simbologia e a Tabela Verdade da operação “NÃO” podem ser vistas na Figura 3, juntamente com um trecho de programa em Ladder implementando a lógica “NÃO”. 21 Figura 3 – Operação booleana “NÃO”: a) Simbologia; b) Tabela Verdade; c) Ladder Fonte: elaborada pelo autor. A operação “NÃO” (NOT, em inglês), também chamada de complemento, define que a saída será invertida com relação ao valor da entrada. Essa lógica é obtida utilizando uma chave operação inversa à desejada. Assim, quando houver corrente na entrada real, não haverácorrente virtual no Ladder. 1.2.4 Operação “OU-EXCLUSIVO” A operação “OU-EXCLUSIVO” (XOR, em inglês) define que a saída será 1 quando apenas uma entrada estiver em 1, mas não as duas simultaneamente. Em breve, construiremos o circuito utilizando as técnicas de determinação das expressões booleanas, como o mapa de Karnaugh ou termos normais (FRANCHI; CAMARGO, 2008) 2. Técnicas de determinação das expressões booleanas Um programa em Ladder pode ser escrito utilizando técnicas de determinação de expressões booleanas, as quais são aplicadas quando são conhecidas as saídas em função do valor das entradas, mas não necessariamente se conhece a expressão. 22 Entre as técnicas existentes para determinação das expressões booleanas, existem duas que podem ser estendidas para a programação Ladder: soma de produtos e mapa de Veitch-Karnaugh (FRANCHI; CAMARGO, 2008). É importante destacar que as técnicas indicadas determinam a expressão para uma saída apenas. Caso sejam necessárias mais saídas, o processo deverá ser repetido para cada uma delas. 2.1 Soma de produtos A soma de produtos é uma técnica na qual, a partir da Tabela Verdade, são escritas expressões produto para cada linha em que a saída vale “1”. Essas expressões são escritas com base na variável de entrada. Se a variável naquela linha vale “1”, a entrada é normal. Caso a variável seja “0”, a entrada aparecerá negada. Após a definição de todas as expressões, elas são somadas em uma única saída. Retomando a operação XOR, sua Tabela Verdade possui duas linhas com saída “1”. Escrevendo as expressões de cada linha e somando-as, tem-se como resultado o trecho de código em Ladder mostrado na Figura 4. Figura 4 – Tabela Verdade e soma de produtos para a operação XOR Fonte: elaborada pelo autor. 2.2 Mapa de Veitch-Karnaugh O mapa de Veitch-Karnaugh é uma técnica amplamente usada em sistemas digitais, que consiste na construção de um mapa a partir dos 23 resultados expressos na Tabela Verdade. Franchi e Camargo (2008) detalham a técnica, mostrando as etapas a serem seguidas nela. Para ilustrar, será construído um programa Ladder para acender uma lâmpada quando pelo menos duas das três botoeiras forem acionadas. A Figura 5 mostra as etapas de tal projeto. Figura 5 – Etapas de desenvolvimento de uma solução Ladder: a) Tabela Verdade; b) Mapa de Karnaugh; c) Ladder Fonte: elaborada pelo autor. 3. Contato de selo É comum nas aplicações de acionamentos elétricos que as botoeiras e outros tipos de entradas sejam do tipo pulsada, retornando ao estado natural após a retirada do estímulo de acionamento. Para manter o circuito funcionando, o programador precisa desenvolver um circuito de contato de selo. Em Ladder, um contato de selo é feito utilizando a bobina de saída em paralelo com a botoeira pulsada. Uma vez ativada a saída, a corrente virtual terá um novo trajeto para manter a saída alimentada. A Figura 6 apresenta um trecho de programa para acionamento de um motor, 24 com uma botoeira de partida, uma de parada e outra para paradas de emergência. Figura 6 – Circuito de selo para controle de partida e parada de um motor Fonte: elaborada pelo autor. No caso da Figura 6, ao ser dada partida pressionando a botoeira I02, a bobina Q01 realimentará o circuito, permitindo a passagem de corrente mesmo com a botoeira de partida I02 em aberto. Para desligar a saída é necessário interromper a corrente, seja com a botoeira de parada i01, seja com a botoeira de emergência (i03). 4. Sistemas de controle Para garantir que os processos ocorram corretamente, é comum que sejam utilizados sistemas de controle de processos. Um sistema de controle deve ser capaz de perceber o ambiente, processar suas informações e tomar uma decisão, além de atuar no processo no qual ele está inserido. Para isso, um sistema de controle conta com as seguintes partes (FRANCHI, 2021): • Sensores: capazes de mensurar entidades do ambiente e fornecer sinais elétricos proporcionais às medidas realizadas. • Condicionamento de sinais: realiza o tratamento dos sinais dos sensores, de modo que os sinais sejam recebidos pelos controladores. 25 • Controlador: a partir dos dados do ambiente fornecidos pelos sensores, o controlador deve ser capaz de fornecer dados de saída para comando dos atuadores. Um controlador pode conter interface homem-máquina e de comunicação. • Atuadores: responsáveis por intervir no ambiente a partir das decisões tomadas pelo controlador. São os componentes que realizam as ações. A relação entre estes componentes e o modo como eles operam permitirão diferentes tipos de controle, que serão apresentados a seguir. 4.1 Tipos de sistemas de controle De acordo com o tipo de processo a ser controlado, o CLP deve prover diferentes tipos de controle, que podem ser classificados conforme sua estrutura de controle e o tipo de atuação sobre o processo. 4.1.1 Classificação conforme estrutura Dependendo da escala do processo a ser controlado, um CLP pode controlar um processo de maneira independente ou associado a outros CLPs, podendo assim ser classificado em individual, centralizado e distribuído (PETRUZELLA, 2014): • O controle individual é realizado por meio de um CLP, sem interação com outros equipamentos. É usual em processos simples, tendo uma interação direta com o operador por meio de uma interface homem-máquina (IHM). • O controle centralizado é feito através de um único CLP capaz de controlar diferentes processos de forma simultânea. Este tipo de controle pode reduzir custos, mas a falha desse equipamento impacta diversos processos. 26 • Os sistemas de controle distribuído (DCS) utilizam CLPs com capacidade de se comunicarem com outros dispositivos por meio de redes de dados. Com isso, podemos agregar as vantagens das estruturas anteriores, porém com a interação humana realizada por meio de redes de comunicação. 5. Classificação conforme modo de controle De acordo com o modo em que os sistemas de controle atuarão no processo, pode-se diferenciá-los em sistemas de controle discreto, ou controle ON-OFF, e sistemas de controle contínuo, também chamados de controle PID (PETRUZELLA, 2014): • O controle ON-OFF é realizado comparando as informações vindas dos sensores com um valor de referência, e, caso necessário, o sistema ligará ou desligará os componentes de atuação. É um controle de ação binária, sem ajustes precisos no modo de atuação. • O controle proporcional integrativo derivativo PID realiza um controle contínuo do processo, ajustando a saída de forma proporcional ao erro entre os valores lidos pelos sensores e um valor de referência. Os valores de saída são função dessa diferença e de uma função resposta do processo controlado. A Figura 7 mostra a diferença no modo de atuação e resultados obtidos pelos tipos de controladores em um sistema de aquecimento imediatamente após ligado. 27 Figura 7 – Saída dos atuadores e entidade controlada: a) ON-OFF; b) PID Fonte: elaborada pelo autor. 6. Classificação conforme tipo de malha O controle de um processo pode ocorrer com ou sem informações sobre o próprio processo. Essa característica define os controles em malha aberta e em malha fechada: • O controle em malha aberta ocorre sem que o controlador tenha informações sobre o processo, atuando “às cegas”. Esse tipo de controle é feito sem que se saiba se os comandos de atuação estão gerando o resultado desejado ou se houve alguma interferência que está afetando o processo. • O controle em malha fechada possui uma realimentação do processo, ou seja, o controlador conhece as condições atuais do processo e, assim, atua de maneira mais condizente com essas condições. É um controle mais robusto, pois é capaz de corrigir perturbações no processo. A Figura 8 mostra os diagramas de blocos de um controlador em malha aberta e de um controlador em malha fechada. 28 Figura 8 – Sistemas de controle: a) Malha aberta; b) Malha fechada Fonte: elaboradapelo autor. Ao longo deste Tema, foram apresentados os conceitos da álgebra booleana com suas portas lógicas básicas, e vimos como elas são implementadas em linguagem Ladder. Foram apresentadas técnicas para obter as relações entre as entradas e saídas desejadas e construir o programa de forma mais eficiente. Também foram vistos os princípios sobre os sistemas de controle. É muito importante conhecer o processo que será automatizado, para que o leitor possa escolher o método mais indicado a ele. Referências FRANCHI, C. M.; CAMARGO, V. L. A. Controladores Lógicos Programáveis: Sistemas Discretos e Analógicos. 3. ed. São Paulo: Érica, 2021. PETRUZELLA, F. D. Controladores Lógicos Programáveis. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. SILVEIRA, P. R.; SANTOS, W. E. Automação e Controle Discreto. 9. ed. São Paulo: Érica, 1998. 29 Aplicação de controladores lógicos programáveis em processos industriais Autoria: Bruno Henrique Oliveira Mulina Leitura crítica: Leandro Jose Cesini da Silva Objetivos • Conhecer os conceitos sobre os sistemas de controle com CLPs. • Compreender as funções auxiliares para a programação de um CLP. • Entender os princípios de controle e intertravamento em processos. 30 1. Introdução Ao desenvolver uma aplicação de controle usando os controladores lógicos programáveis (CLP) e a linguagem de programação Ladder, é necessário conhecer de que modo é possível organizar os contatores e a lógica booleana para resolver os problemas industriais. Por exemplo, ao ligar um motor de grande porte, muitas empresas ainda utilizam a partida estrela-triângulo. Para que ela ocorra, o motor é ligado com uma configuração, e, após um tempo, a configuração é alterada. Então, como colocar tempo nos controles feitos por CLPs? Para isso, seria necessário um temporizador ou um cronômetro dentro do CLP. Por esse motivo, neste Tema serão apresentados os conceitos sobre a aplicação dos CLPs no ambiente industrial, indicando os principais pontos a serem levados em consideração ao projetar um sistema de controle baseado em CLPs, como técnicas adicionais aos contatores e conceitos sobre intertravamentos. 1.1 O que é um sistema? Um sistema é uma combinação de entidades integradas que executam uma tarefa única, a qual não pode ser realizada de forma individual (PETRUZELLA, 2014). Essas entidades permitem que, a partir de um conjunto de entradas, seja gerado um conjunto de saídas. De acordo com o modo de atuação de um sistema, ele pode ser definido como um sistema de variáveis contínuas (SVC) ou um sistema a eventos discretos (SED). Um sistema contínuo é aquele em que o sistema realiza alguma ação com base no domínio do tempo. De um modo simples, é um sistema que não depende de gatilhos para processar as entradas, sendo as variáveis manipuladas de forma contínua e através de modelos matemáticos em função do tempo. 31 Já o sistema a eventos discretos é um sistema no qual qualquer ação a ser realizada precisa ser disparada a partir da mudança nos estados das variáveis de entrada. As informações manipuladas em um SED são discretas e possuem um número limitado de possibilidades. Por isso, em SED, o valor das variáveis em um dado momento é chamado de estado. Em um SED também é possível aplicar modelos matemáticos, mas é mais comum aplicar expressões booleanas (MIYAGI, 2015). Por exemplo, a temperatura em um corpo é vista como um SVC, já que o corpo responde à variação da temperatura em função do tempo. Já acender uma lâmpada é um SED, uma vez que o estado da lâmpada muda apenas quando existe um evento no interruptor. 1.2 Sistemas de controle Um sistema de controle é um conjunto de técnicas e componentes aplicados em um processo de modo a controlar os valores das entidades de saída em função dos dados fornecidos como referência (entradas) (MIYAGI, 2015). O controlador deve fornecer sinais de comando para que atuadores interajam com o processo a ser controlado, também chamado de objeto de controle, atingindo a condição desejada. A Figura 1 mostra o diagrama de blocos referente ao sistema de controle e sua interação com o objeto de controle. Figura 1 – Esquema de um sistema de controle Fonte: elaborada pelo autor. No diagrama da Figura 1, um sinal de comando é enviado por meio de dispositivos de comando, que podem ser interfaces IHM ou 32 comunicação com redes de computadores. Essas mesmas interfaces servem para fornecer dados, comportando-se como dispositivos de monitoração. O dispositivo de controle é um CLP (ou um conjunto de CLPs) capaz de processar as informações de comandos externos e dados de detecção do objeto de controle. Os dispositivos de atuação são os componentes que manipularão as entidades físicas, que terão como resposta real o comportamento apresentado pelo objeto de controle. Para fornecer ao controlador o estado do objeto de controle, dispositivos de detecção (sensores) convertem o valor da entidade em valores discretos. É importante destacar que na Figura 1 estamos tratando os elementos de forma independente, mas eles podem estar integrados em um único equipamento. Dentro dos sistemas de controle, é importante destacar quais são os componentes mais usados e seu papel no sistema. O Quadro 1 resume os dispositivos mais usados em um sistema de controle SED (MIYAGI, 2015). Quadro 1 – Classificação e dispositivos usados em SEDs Classificação Dispositivos Comando Botoeiras, chaves rotativas, seccionadoras Atuação Contatores, solenoides, válvulas atuadoras Detecção Chaves fim de curso, termostatos, pressostatos, potenciômetros Monitoração Lâmpadas, alarmes, displays, registradores Controle CLPs, comandos elétricos, temporizadores Fonte: elaborado pelo autor. Uma análise mais detalhada sobre os dispositivos de atuação e de detecção é apresentada por Petruzella (2019), destacando os tipos e as aplicações para os diferentes dispositivos. Mesmo que muitos CLPs possuam entradas e saídas analógicas, a manipulação desses dados é feita por blocos adicionais, funcionando de forma sincronizada com os ciclos de scan do controlador ou com temporizadores. 33 1.3 Modelagem de sistemas Com base na resposta ao longo do tempo, um objeto de controle pode ser instantâneo ou dinâmico. Um sistema instantâneo é aquele no qual a resposta ocorre no mesmo instante em que recebeu um estímulo de entrada. Já em um sistema dinâmico, a resposta ao estímulo se estende ao longo do tempo, sendo função da entrada atual, mas também de entradas anteriores. Ao modelar o objeto de controle e os processos de controle, é aplicada a modelagem discreta. Uma modelagem discreta é realizada considerando que as ações ocorrem a cada período T, e não de forma contínua. O período T deve ser foco de atenção, já que, se mal modelado, o sistema pode não funcionar corretamente. Essa modelagem é feita a partir do estudo das transformadas de Laplace. A modelagem também deve levar em consideração o atraso de execução do CLP e da resposta do sistema. Estes atrasos se devem ao modo de funcionamento do CLP e à inercia do sistema. Por exemplo, considere o movimento de um objeto em uma esteira. Se a modelagem considerar períodos T pequenos, a reposta tende a ser exata. Para períodos muito grandes, o sistema de controle não responderá em tempo hábil, levando o sistema à instabilidade. O movimento provido pelo motor da esteira também não é imediato (tanto na aceleração quanto na frenagem), e, por isso, se não levado em consideração, pode jogar as caixas para fora da esteira. 1.4 Tipos de controles Nos sistemas de controle é possível distinguir duas classes de controle automático, uma baseada no tipo de variáveis manipuladas e outra fundamentada no tipo de controle aplicado (MIYAGI, 2015). Com relação ao tipo de variável manipulada, um controle pode ser quantitativo, quando manipula valores das variáveis analógicas, ou qualitativo, quando manipula estados das variáveis (quantidade finita de possibilidades de valores). 34 Comrelação ao tipo, o controle de SVC é um controle quantitativo, que envolve modelos em malha fechada, com controladores PID e afins. Por sua vez, o controle de SED é um controle qualitativo, manipulando muitas vezes variáveis binárias, e com isso aplicando lógica booleana nos modelos de controle. Sob o ponto de vista da implementação, os controles podem ser do tipo sequencial ou programável. No controle sequencial, cada processo é controlado a partir da implementação de um circuito elétrico a relés, desenvolvido exclusivamente para cada processo. Com isso, é um controle de implementação e atualizações complexas. Já no controle programável existe um sistema computadorizado no qual os procedimentos são definidos por meio de softwares que são armazenados em uma memória. 1.5 Sistemas de automação Um sistema de automação é um conjunto de componentes capazes de controlar de forma automática os processos. São sistemas distribuídos, organizados de maneira hierárquica conforme sua interação com o objeto de controle. A Figura 2 destaca a hierarquia e os componentes de um sistema de automação distribuído. Figura 2 – Estrutura de um sistema de automação Fonte: elaborada pelo autor. 35 O controle distribuído, muitas vezes também chamado de controlador de eventos discretos, é um SED, e atua como o concentrador e controlador das informações de todo o processo. Esse controlador, por meio de uma interface de rede para transmissão de dados em alta velocidade, transmite os comandos a serem executados pelos dispositivos de controle e recebe informações sobre as condições do objeto de controle, fornecidas pelos componentes de detecção. Os dispositivos de controle, presentes no nível mais baixo da hierarquia, manipulam diretamente as entidades físicas do sistema e, por isso, na maioria das vezes, sistemas SVC. Nesse nível da hierarquia estão instalados CLPs de baixo custo, comumente chamados de relés programáveis. Para impor as condições desejadas, os dispositivos de atuação são capazes de alterar as variáveis físicas do sistema. Esses dispositivos fornecem potência para que possam ser transformadas variações do objeto de controle, podendo ser, por exemplo, contatores ou inversores de frequência. É importante ter em mente que em um sistema distribuído existem componentes dedicados para cada etapa do controle. Por esse motivo, em um sistema distribuído é comum que existam sistemas dedicados para a leitura e detecção de estados da planta. 1.6 Controlador programável na indústria Agora que foram apresentados os conceitos gerais sobre a automação na indústria, será dada maior atenção à utilização dos CLPs no ambiente industrial. Um controlador programável é uma das bases da Indústria 4.0, já que permite integrar ao ambiente industrial os avanços tecnológicos promovidos na área da computação. 36 Por serem sistemas do tipo SED, as variáveis envolvidas nesse tipo de sistemas são discretas e quase sempre binárias. Por isso, a programação pode ser feita com base nos conceitos da álgebra booleana. Nesse caso, a modelagem do sistema de controle pode ser feita a partir de teoremas booleanos. É importante destacar que, ao desenvolver um programa para um controlador, deve-se ter em mente que os processos são executados de forma assíncrona e de forma paralela (não sequencial). Por esse motivo, a programação deve levar em conta a possibilidade de chaveamento entre estados em uma ordem não estabelecida. Assim, é preciso considerar diferentes condições de entradas, programando a ação tomada, e considerar a aplicação de intertravamentos. Por causa do paralelismo entre processos, também deve-se considerar a possibilidade de atuação simultânea das entradas. O controle desse tipo de ocorrência pode ser mais complexo, já que a definição de qual ocorrência será avaliada primeiro dependerá de características dos componentes utilizados. Uma dica neste ponto é levar em conta o intertravamento de não simultaneidade, evitando, por exemplo, que o acionamento de duas botoeiras coloque o processo em uma condição de risco. É necessário atentar ao tipo de resposta que o objeto de controle fornece quando recebe algum estímulo, principalmente se o modelo for dinâmico e existir um atraso entre o envio de um comando e a resposta do sistema. É importante também considerar a possibilidade de mudanças temporárias (quando o controle deve retornar a um estado anterior ao chaveamento) ou permanentes (após o tratamento do chaveamento, novos procedimentos devem ser executados). Para auxiliar na solução das questões indicadas, os controladores programáveis possuem blocos funcionais extras, como blocos de testes 37 condicionais, contagem e aritmética, memorização, temporização, entre outros. É importante ressaltar que as saídas de um CLP controlam um ou mais processos (ou etapas do processo). Por isso, é possível dizer que a saída de um CLP é um processo. Assim, afirmar que um processo se mantém funcionando em um CLP é o mesmo que dizer que uma saída se mantém ativa. 1.7 Técnicas de processamento Ao longo deste Tema foram apresentadas diversas considerações sobre o projeto de controle. A partir delas, o projetista deve avaliar cada situação e associar diferentes soluções disponíveis nos controladores programáveis. Antes de tratar das técnicas, é importante ressaltar que não existe uma regra absoluta. É preciso, antes de “sair programando”, ter clareza sobre as necessidades do projeto. Por exemplo, considere um sistema de partida de um motor elétrico de grande porte. O projetista pode modelar o sistema, buscando estimar o momento correto de aplicar carga. Ou, a partir de algum estudo ou experiência, pode colocar um atraso entre a partida do motor e a aplicação de carga no motor. Na maioria dos casos, será vista a implementação da segunda opção. Em um controlador programável, a primeira forma de processamento das informações a ser verificada é a própria álgebra booleana (SILVEIRA; SANTOS, 1998). A partir dos valores das variáveis, o controle é descrito por meio de uma expressão lógica. Dessa maneira, o controle é realizado através da associação de operações AND, OR e NOT. A aplicação pura da álgebra booleana é particularmente eficiente em sistemas instantâneos, tendo a saída relação apenas com o estado atual. Mas ela pode ser melhorada com a adição de outras técnicas de processamento. 38 Existem situações em que é necessária a manutenção de um estado, mesmo que o estímulo seja retirado. Para esses casos, é necessário um elemento de memória. Nos controladores programáveis, esse comportamento é obtido por meio de contatos que retenham seu estado de set ou reset. Por exemplo, ao apertar um botão para ligar um motor, a saída deve reter a condição de ligado até que seja pressionado outro botão de parada. Isso pode ser feito através de um elemento de memória. Há ainda, entre os elementos de processamento presentes em controladores programáveis, os que operam a partir da mudança de estado ou por borda (borda de subida, quando de 0 para 1, ou borda de descida, de 1 para 0) (SILVEIRA; SANTOS, 1998). Elementos desse tipo são utilizados para realizar uma ação apenas durante o ciclo de scan em que foi identificada a borda. Outros elementos de processamento comuns aos controladores programáveis são os temporizadores e contadores. Eles são elementos que implementam alguma ação envolvida com o tempo. Essa ação pode consistir em gerar um atraso na realização de uma próxima ação ou em determinar por quanto tempo uma ação será mantida, entre outros modos de temporização, tendo sido alguns deles apresentados em Petruzella (2014). Com relação ao atraso em uma ação, ele permite, por exemplo, omitir uma sequência rápida de comandos oriunda de ruídos eletromagnéticos e/ou mecânicos. 1.8 Intertravamento Durante o processo de controle, algumas condições devem ser evitadas ou mantidas, mesmo com a ocorrência de mudança nas entradas do controle. O intertravamentopermite que essas condições sejam atingidas por meio da interação entre componentes de atuação. O intertravamento tem como principal objetivo evitar condições de 39 operação que possam provocar condições de operação irregulares ou que causem danos ou acidentes (MIYAGI, 2015). Ao dizer que o intertravamento pode ser usado para manter determinada condição, o leitor pode imaginar unicamente elementos de memória. O intertravamento pode se comportar como uma memória, mas as memórias são algo que apenas armazena valores, e podem ser usadas para intertravamento (SILVEIRA; SANTOS, 1998). No caso do intertravamento, a atuação de um elemento serve como realimentação para definir o estado de funcionamento de outro elemento. Os tipos mais comuns de intertravamentos são (MIYAGI, 2015): • Intertravamento de partida: as condições devem ser atingidas antes de se permitir o início do processo. Pode-se dizer que se trata de uma verificação do sistema antes do início propriamente dito, já que o processo só é iniciado se a condição de intertravamento for atingida. • Intertravamento de funcionamento: as condições de intertravamento são válidas durante todo o funcionamento do equipamento (desde a partida), sendo o funcionamento interrompido por meio de condições externas (um botão de parada ou algo com mesma funcionalidade). Um exemplo é o circuito de selo usado para ligar e desligar sistemas. • Intertravamento temporizado: o intertravamento é feito com o sinal de saída de um temporizador. É usado para situações nas quais o processo possui uma inércia muito grande, e por isso deve-se aguardar antes de realizar a próxima ação (mesmo que o comando para a próxima ação exista), como na partida ou reversão de motores elétricos, ou omitir novos comandos por determinado momento. 40 • Intertravamento de não simultaneamente: evita que certas ações sejam realizadas simultaneamente. É uma operação do tipo “OU-EXCLUSIVO” entre processos. • Intertravamento de sequência: estabelece uma sequência de procedimentos a serem seguidos, bloqueando qualquer ação fora da ordem estabelecida. Este tipo de travamento utiliza o conceito de máquinas de estado, que delimita, por exemplo, os estados de entrada em um processo baseado na ação anterior. • Intertravamento de processo: parecido com o intertravamento de sequência, mas estabelece também condições de início e final de cada procedimento a ser seguido. Ao longo deste Tema, foram apresentadas as preocupações no desenvolvimento e na aplicação de um controlador programável em indústrias. Os apontamentos realizados permitirão decidir sobre as melhores soluções para o desenvolvimento e a implementação do sistema de controle (PETRUZELLA, 2014). Vale ressaltar sempre que, antes de trazer soluções “prontas”, o leitor deve ter ciência de que cada situação requer abordagens diferentes. Referências MIYAGI, P. E. Controle programável: Fundamentos do controle de sistemas a eventos discretos. 5. ed. São Paulo: Blucher, 2015. PETRUZELLA, F. D. Controladores Lógicos Programáveis. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. SILVEIRA, P. R.; SANTOS, W. E. Automação e Controle Discreto. 9. ed. São Paulo: Érica, 1998. 41 Projetos de controladores lógicos programáveis aplicados em acionamento de máquinas elétricas Autoria: Bruno Henrique Oliveira Mulina Leitura crítica: Leandro Jose Cesini da Silva Objetivos • Apresentar resumidamente os tipos de motores elétricos usados na indústria. • Conhecer os tipos mais comuns de acionamentos de motores de corrente alternada. • Destacar as preocupações no desenvolvimento de um sistema de acionamento de máquinas elétricas. 42 1. Máquinas elétricas na indústria O termo máquinas elétricas, no ambiente industrial, comumente se refere aos motores elétricos. Essas máquinas servem para promover movimento nos processos, e por isso estão presentes em diferentes setores da indústria. Existem outros tipos de máquinas elétricas, como os transformadores, mas eles são objetos de estudo em áreas voltadas à transmissão e qualidade de energia elétrica. Devido a suas características e aplicações, os motores elétricos possuem diferentes aspectos envolvendo seu acionamento, seja na partida, na manutenção do movimento ou na frenagem. Com isso, uma série de técnicas de acionamento foram desenvolvidas para garantir a melhor operação dessas máquinas. Neste Tema, são abordadas as principais características dos motores elétricos, como os tipos de alimentação utilizados e modos de controle. Importa destacar que os estudos terão como foco as características de acionamento dessas máquinas, e não aspectos construtivos. 1.1 Tipos de motores da indústria Sob o ponto de vista da alimentação, os motores elétricos podem ser classificados em: motores de corrente contínua, motores de corrente alternada monofásicos e trifásicos, motores sem escova e servomotores (FRANCHI, 2014). Em cada uma dessas classificações existem subdivisões conforme características construtivas. Por isso, é importante aprender sobre os motores para que seja possível determinar o melhor modelo e o tipo de acionamento específico. Motores de corrente contínua possuem como vantagem a facilidade no controle de sua velocidade. Porém, apresentam como desvantagens custo e volume superiores quando comparados a motores de corrente 43 alternada, além de requererem maior manutenção. Por esse motivo, com o advento do inversor de frequência, esse tipo de motor caiu em desuso. Os motores sem escova contam com alta densidade de potência e possuem alimentação fornecida através de pulsos aplicados nas suas bobinas. Por esse motivo, dependem de drivers de potência específicos para eles. Existem motores sem escova projetados para altas velocidades (chamados motores brushless), para potência e para precisão e torque (os motores de passo). Os servomotores são sistemas de atuação em que um motor tem sua operação controlada por meio de um sistema eletrônico, garantindo a realização da operação conforme requerida pelo controlador programável. No servomotor, existe uma malha de realimentação entre a variável de saída do servomotor (velocidade, posição e torque) e o sistema de potência do motor. Motores de corrente alternada são os usados na maioria das aplicações industriais. É uma categoria de motores bastante ampla, permitindo abranger praticamente todas as aplicações industriais. Os motores de corrente alternada costumam ser controlados a partir de uma combinação de variação de potência e de frequência da alimentação. Por isso, são motores que possuem um controle relativamente complexo. Mas, mesmo assim, os benefícios na aplicação desses motores superam as dificuldades, já que possuem como vantagens baixo custo em manutenção, montagem e fabricação, e simplicidade em relação aos outros motores. Uma vez apresentados os motores mais utilizados na indústria, serão expostos detalhes no modo de acionamento deles, dando destaque ao papel do controlador programável nesse processo. 44 1.2 Acionamento dos motores elétricos Ao desenvolver o acionamento dos motores elétricos, é importante considerar as características de operação durante a partida e operação. Quando se desenvolve um sistema de acionamento, deve-se dar atenção maior à partida do motor, momento no qual o motor consome uma quantidade de energia superior à de operação nominal. Um acionamento mal projetado sobrecarrega a rede de alimentação e pode gerar danos aos outros equipamentos (FRANCHI, 2014). Utilizar um CLP para o acionamento das máquinas elétricas requer que sejam destacados dois pontos. Primeiramente, o CLP deve apenas controlar o processo, e não fornecer potência diretamente aos componentes, sendo as saídas do CLP usadas para acionar um elemento de potência, como contatores ou drivers de potência. A exceção a essa regra são as saídas para sinalização. O segundo ponto se refere à proteção do sistema. O CLP deve assumir um papel secundário na proteção,tendo no circuito elétrico medidas de segurança como disjuntores, fusíveis, relés térmicos ou de falta de fase. Petruzella (2013) apresenta quais são os elementos de proteção e como devem ser aplicados nos acionamentos elétricos. 1.3 Acionamento de motores de corrente contínua, brushless e de servomotores Como os motores elétricos de corrente contínua e motores brushless operam com uma forma de tensão diferente da fornecida pela rede elétrica, eles são acionados por meio de drivers específicos. Estes drivers são capazes de converter a tensão alternada em contínua, que é fornecida às bobinas do motor no formato necessário por meio de um sistema eletrônico. Nesses casos, o CLP apenas envia um comando para que tais drivers realizem as ações necessárias. Esse comando pode ser via saída analógica, enviando sinais de tensão ou corrente proporcionais à 45 velocidade desejada, por trem de pulsos, PWM (modulação por largura de pulso) ou através de comunicação Modbus. 1.4 Acionamento de motores de corrente alternada Os motores de indução, devido ao tipo de alimentação, não precisam necessariamente de um controle específico para eles, como ocorre no caso dos motores de corrente contínua. Por esse motivo, podem ser conectados diretamente à rede elétrica, caso seja de interesse. Porém, dependendo das características do motor, é necessário controlar sua partida. Caso seja necessário (ou de interesse), é possível controlar a velocidade, utilizando preferencialmente equipamentos como os inversores de frequência. Serão expostos a seguir os acionamentos mais comuns na indústria. Os códigos Ladder apresentados devem ser vistos como referências, podendo ser diferentes de acordo com o desenvolvedor e a plataforma utilizados. 1.4.1 Partida direta A partida direta é realizada conectando diretamente o motor à rede elétrica, sem nenhum controle da potência de partida ou da velocidade de operação. Por esse motivo, o motor possui máxima aceleração possível, resultando em uma corrente de partida muito elevada (cerca de 3 a 6 vezes a corrente nominal), sendo permitida apenas para motores com potência inferior a 7,5 CV (FRANCHI, 2014). A partida direta é realizada por meio de um ou dois contatores (caso seja necessária a reversão do motor). A Figura 1 mostra o esquema do painel elétrico usado para a partida direta com reversão. No circuito estão presentes os fusíveis F1, os contatores K1 e K2, o relé térmico F2 e o motor M. No programa desenvolvido, I01 e I02 são as entradas para direção do motor, I03 é a entrada da botoeira de parada, Q01 atua no contator K1 e Q02 atua no contator K2. 46 Figura 1 – Partida direta com reversão: a) Diagrama elétrico; b) Ladder Fonte: elaborada pelo autor. Ao acionar um motor por meio da partida direta com reversão (mostrada na Figura 1b), é importante atentar ao intertravamento, evitando que K1 e K2 sejam acionados ao mesmo tempo, e ao atraso na partida do motor, evitando que o motor tenha rotação invertida quando estiver em máxima velocidade. As memórias M1 e M2 são usadas em substituição dos circuitos de selo. Como dito, a partida direta sobrecarrega as linhas de fornecimento de energia elétrica durante a partida do motor. Então, deve-se evitar que vários motores sejam ligados simultaneamente. Para controlar a partida de vários motores, pode-se criar um atraso entre cada partida. Assim, os picos de corrente, ocasionados pelas partidas dos motores, estarão defasados, sobrecarregando menos a rede de alimentação. 47 1.4.2 Partida estrela-triângulo Esse tipo de partida é aplicado em motores trifásicos que permitem acesso aos terminais de todas as bobinas (motores de seis terminais). A ideia é iniciar o motor com a configuração estrela, e depois alterar a configuração das bobinas para triângulo (ou delta). Com isso, como a tensão de linha permanece a mesma, a tensão em cada fase da configuração estrela é menor, e consequentemente a corrente é menor. Dado um intervalo de tempo, as bobinas do motor são conectadas em triângulo, com as bobinas recebendo a tensão nominal e assim operando com a potência correta. Com isso, a corrente de partida é reduzida, minimizando o estresse sofrido pelos componentes de alimentação (GEORGINI, 2009). A Figura 2 mostra o esquema elétrico e programa em Ladder para essa partida. Figura 2 – Partida estrela-triângulo: a) Diagrama elétrico; b) Ladder Fonte: elaborada pelo autor. No esquema, temos Q03 como a saída que energiza o contator 01, que se mantém energizado durante todo o funcionamento do motor. Ao 48 mesmo tempo, a saída que ativa a memória M03 é usada para estender a linha de comando, por conta da limitação de elementos por linha. A memória M03 ativa a saída Q01, conectada ao contator C1, responsável pela ligação em estrela do motor. Quando a entrada I01 retorna a “zero”, o temporizador T01 é energizado. Após dez segundos, o temporizador volta ao nível “0”, desativando a saída Q01. Ao desativar a saída Q01, tem-se uma borda de descida (elemento D) que habilita a memória M02, a qual servirá para habilitar a saída Q02, que energiza o contator C2, o qual altera a configuração do motor para triângulo. 1.4.3 Partida soft-starter As soft-starters são equipamentos eletrônicos que permitem a partida suave de motores elétricos trifásicos. Esses componentes funcionam por meio do corte da senoide de alimentação do motor, controlando a potência a partir da amplitude da alimentação enviada ao motor, sem alterar a frequência. Além do controle da partida e frenagem, as soft- starters integram rotinas de proteção ao motor, sendo uma solução quase completa para o acionamento de motores de corrente alternada (FRANCHI, 2014). Para utilizar uma soft-starter, é necessário primeiramente configurar os parâmetros de acionamento do motor, como as rampas de aceleração, frenagem e tensão mínima de partida. Esses parâmetros dependem do motor, e na grande maioria dos casos são inseridos na soft-starter através de uma IHM ou redes Modbus. Para usar a soft-starter para apenas um motor, pode-se utilizar o diagrama elétrico e programa Ladder indicado para a partida direta, com os comandos sendo enviados à soft-starter, indicando a partida, frenagem ou inversão de rotação. Como a soft-starter atua apenas na partida, ela pode ser compartilhada para acionar diversos motores. Para isso, a partir do momento em que um motor atinge sua operação nominal, ele é 49 conectado diretamente à rede, e a soft-starter é desconectada desse motor e conectada em um próximo. A Figura 3 mostra o esquema para partida de dois motores usando uma única soft-starter, sem inversão da rotação. Figura 3 – Partida com soft-starter de dois motores: a) Diagrama elétrico; b) Ladder Fonte: elaborada pelo autor. Na Figura 3, são mostrados os contatores K1 a K4, que estão conectados às saídas Q01 a Q04 do CLP, e a soft-starter Q1. O acionamento ocorre com todos os contatores abertos, com exceção de K1. A soft-starter recebe o comando do CLP para dar partida no motor M1. Após o tempo da rampa de subida, o contator K2 é ligado e K1 é desligado, desconectando a soft-starter do motor 1. A soft-starter recebe o comando 50 de frenagem do motor (para “religar” quando passar para o motor 2). O contator K3 é ligado, e a soft-starter inicia o acionamento do motor M2. Após a partida do motor, K4 é ligado e K3 é desligado, conectando o motor M2 diretamente à rede. O programa pode ser alterado caso a soft-starter tenha uma saída que permita informar ao CLP que o processo de acionamento se encerrou. Nesse caso, em vez dos temporizadores, o controle é feito por meio do sinal fornecido pela soft-starter a uma entrada do CLP. Dependendo da soft-starter, o controle de partida ou frenagem pode ser feito apenas por meio de um único sinal, sendo “1” para ligar (partida e operação) e “0” para desligar. Esse foi o controle implementado no Ladder apresentado, mas existem soft-starters que necessitam de doissinais de controle distintos, um para partida e outro para frenagem. 1.4.4 Partida com inversor de frequência O inversor de frequência é um componente de acionamento que permite total controle sobre o funcionamento dos motores. Sua construção possibilita controlar a partida e frenagem, além da velocidade de rotação do motor. Para isso, o inversor de frequência gera a senoide de alimentação do motor, independentemente da frequência da rede de alimentação (PETRUZELLA, 2013). Devido às tecnologias envolvidas, é um equipamento de custo elevado. Porém, avaliando o conjunto motor de corrente alternada e inversor de frequência, seu custo é menor quando comparado aos motores de corrente contínua e drivers de acionamento de mesma potência. Os inversores de frequência normalmente são programados localmente por meio de uma IHM ou interface com um computador. Nessa programação são definidas características de operação, como rampa de aceleração e frenagem, proteções e tipos de interfaces durante a operação. De acordo com as configurações realizadas no inversor de frequência, 51 durante o acionamento do motor, o CLP deve enviar comandos simples, como ligar ou desligar motor e aumento ou diminuição da velocidade, seja por meio de sinais analógicos, seja por sequência de pulsos. O inversor de frequência pode ser usado para controlar a operação de um único motor. A Figura 4 mostra o esquema elétrico para ligação do CLP ao inversor de frequência. Figura 4 – Partida com inversor de frequência: a) Diagrama elétrico; b) Ladder Fonte: elaborada pelo autor. Na Figura 4, a entrada I01 recebe o comando para que o motor gire em um sentido (enviando comando ao inversor via saída Q01), enquanto a entrada I02 recebe e envia o comando para a rotação no sentido inverso. Perceba o intertravamento impedindo que se envie dois comandos ao mesmo tempo. Para mudar a rotação, primeiro é necessário retirar o sinal de comando (via comando recebido na entrada I03), e depois enviar um novo comando de rotação. O timer T01 impede que um comando 52 de acionamento seja enviado durante o processo de desaceleração do motor. Esse bloqueio está presente no inversor, porém pode-se aplicar redundância no controle. Neste Tema, foram apresentadas algumas informações referentes ao acionamento de máquinas elétricas em ambiente industrial, com foco em motores de corrente alternada. A partir dos esquemas elétricos apresentados, juntamente com os códigos Ladder para controle, o leitor poderá expandir os conhecimentos para necessidades específicas no ambiente industrial. Referências FRANCHI, C. M. Sistemas de Acionamento Elétrico. São Paulo: Saraiva, 2014. GEORGINI, J. M. Automação Aplicada: Descrição e Implementação de Sistemas Sequenciais com PLCs. São Paulo: Saraiva, 2009. PETRUZELLA, F. D. Motores elétricos e acionamentos (Tekne). Porto Alegre: Grupo A, 2013. 53 Sumário Apresentação da disciplina Visão geral sobre CLPs. Introdução à linguagem Ladder Objetivos 1. Introdução 2. Partes de um CLP 3. Linguagem de programação Ladder Referências Lógica programável. Fundamentos de sistemas de controle usando CLPs Objetivos 1. Álgebra booleana em Ladder 2. Técnicas de determinação das expressões booleanas 3. Contato de selo 4. Sistemas de controle 5. Classificação conforme modo de controle 6. Classificação conforme tipo de malha Referências Aplicação de controladores lógicos programáveis em processos industriais Objetivos 1. Introdução Referências Projetos de controladores lógicos programáveis aplicados em acionamento de máquinas elétricas Objetivos 1. Máquinas elétricas na indústria Referências