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Mauro Luiz Begnini Natal Junio Pires Revisão técnica Fernanda Ferraz Lima Wilson de Sousa Benjamin Química orgânica I Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube Begnini, Mauro Luiz. B394q Química orgânica I / Mauro Luiz Begnini, Natal Junio Pires. – Uberaba : Universidade de Uberaba, 2017. 160 p. : il. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7777-791-4 1. Química orgânica. 2. Química – Estudo e ensino. I. Pires, Natal Junio. II. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. III. Título. CDD 547 © 2017 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Revisão técnica Fernanda Ferraz Lima Wilson de Sousa Benjamin Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Sobre os autores Mauro Luiz Begnini Doutor em Ciências, concentração em Química Orgânica, pela Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP). Mestre em Química, área de concentração Química Orgânica, pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Graduado em Química Industrial pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e em Farmácia Industrial pela Universidade de Uberaba (Uniube). Gestor do Curso de Engenharia Química da Universidade de Uberaba (Uniube) e professor nos cursos de Engenharia Química, Engenharia Ambiental, licenciatura em Química, Farmácia Industrial e Biomedicina. Natal Junio Pires Doutorado em Educação pela Universidade São Francisco (USF) com período sanduíche na Universidad Pedagogica Nacional (Bogotá/Colômbia) dentro do programa PDSE/2014 do MEC financiado pela CAPES. Mestrado em Química, com ênfase em Química Analítica, pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Graduado em Química (Licenciatura e Bacharelado) pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor nível D401 do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG). Tem experiência na área de Química e Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: biopolítica, governamentalidade na perspectiva foucaultiana, políticas públicas de educação, educação científica, ensino de química, química inorgânica, biocombustíveis e técnicas espectroanalíticas. Apresentação ................................................................................................. IX Capítulo 1 Introdução à química orgânica .......................................................1 1.1 A origem da vida ............................................................................................................4 1.2 Introdução histórica da química orgânica ......................................................................5 1.2.1 Introdução à química orgânica .............................................................................6 1.3 Representação de cadeias carbônicas .........................................................................8 1.4 Hidrocarbonetos ..........................................................................................................13 1.4.1 Alcanos, cicloalcanos e seus derivados .............................................................13 1.4.2 A nomenclatura Iupac dos alcanos .....................................................................14 1.4.3 Alcenos ...............................................................................................................20 1.4.4 Alcinos ................................................................................................................22 1.5 Propriedades físicas dos compostos orgânicos .........................................................24 1.5.1 Interações íon -íon ..............................................................................................25 1.5.2 Íon -íon em compostos orgânicos .......................................................................26 1.5.3 Ligação de hidrogênio em compostos orgânicos ..............................................26 1.5.4 Diplo -dipolo em química orgânica ......................................................................27 1.5.5 Dipolo instantâneo -dipolo induzido em compostos orgânicos ...........................27 1.6 Influência das forças intermoleculares no ponto de fusão, ponto de ebulição e solubilidade..............................................................................................................29 1.7 Aromáticos ...................................................................................................................33 1.8 Haletos de alquila (organohalogenados) .....................................................................39 1.8.1 Nomenclatura dos haletos orgânicos .................................................................39 1.8.2 Haletos orgânicos e o meio ambiente ................................................................40 1.9 Funções oxigenadas ...................................................................................................43 1.9.1 Funções alcoóis, fenóis e éteres .......................................................................43 1.9.2 Nomenclatura dos aldeídos ...............................................................................49 1.9.3 Nomenclatura das cetonas .................................................................................49 1.10 Grupos carboxílicos ...................................................................................................51 1.10.1 Nomenclatura dos ácidos carboxílicos .............................................................51 1.11 Função éster ..............................................................................................................53 1.11.1 Nomenclatura dos ésteres ................................................................................53 Sumário VI UNIUBE 1.12 Grupos funcionais contendo nitrogênio .....................................................................56 1.12.1 Aminas ..............................................................................................................57 1.12.2 Nitrocompostos ................................................................................................59 1.13 Compostos sulfurados ..............................................................................................60 1.14 Organofosforados ......................................................................................................63 1.15 Alguns exemplos de compostos exibindo estruturas mais complexas (funções mistas) ........................................................................................................64 1.16 Principais reações em química orgânica ...................................................................66 1.16.1 Reações de combustão ...................................................................................66 1.16.2 Reações de adição ...........................................................................................66 1.16.3 Reações de substituição ..................................................................................67 1.16.4 Reações de eliminação ....................................................................................67 1.16.5 Reações de esterificação .................................................................................68 1.16.6 Reações de condensação ................................................................................68com a água (polar) e assim todos os hidrocarbonetos são apolares. Entre o grande número de hidrocarbonetos presentes no meio ambiente, quere- mos mencionar especificamente dois grupos de compostos que são de particular interesse para muitos engenheiros químicos e ambientais: os chamados com- postos BTEX (BTEX é uma abreviação para o Benzeno, Tolueno, Etilbenzeno e os três isômeros Xileno), e os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos HPA (em inglês, PAH). 38 UNIUBE Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (PAHs) Naf taleno Antraceno Fenantreno Pireno Benzo[a]pireno Perileno Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (PAHs) Os BTEX são componentes da gasolina, além de serem amplamente utilizados como solventes. Eles são muito comuns no solo e em águas subterrâneas polu- ídas, e em particular devido à alta toxicidade do benzeno têm provocado muita investigação no domínio dos solos e águas freáticas. As principais fontes de HAP no ambiente incluem a combustão de combustíveis fósseis (gasolina, óleo, carvão), os incêndios florestais, (acidental) entradas diretas de óleos minerais, bem como a utilização de cresóis na preservação da madeira. É interessante lembrar que produzimos HAP quando grelhamos bifes ou outras carnes. De uma perspectiva da saúde humana, HAPs têm atraído considerável interesse prin- cipalmente porque alguns deles (por exemplo, o benzo[a]pireno) são potentes cancerígenos. Esta é a principal razão pela qual os HAPs são considerados os mais importantes poluentes do ar. Além disso, devido à sua elevada tendência para a bioacumulação HAPs são também de grande preocupação ecotoxicoló- gicas. Portanto, não surpreende que esses compostos estejam entre os mais investigados poluentes orgânicos. agora é a sua vez 12. Dê a estrutura dos seguintes compostos: a) 2 -fenileptano b) 1,3 -dimetilbenzeno c) 3 -metil -2 -fenilexano d) 1,3,5 -bezenotriol UNIUBE 39 1.8 Haletos de alquila (organoalogenados) Os haletos orgânicos (hidrocarbonetos ligados a flúor, cloro, bromo ou iodo) são muito comuns na natureza e extensamente empregados na indústria mo- derna. Temos, por exemplo, o clorometano, que é liberado para o ambiente por algas marinhas, em queimadas e vulcões. São também empregados como solventes industriais, anestésicos, refrigerantes e pesticidas. Na indústria, o tricloroetileno é empregado na limpeza de chips semicondutores e outros componentes. Cl Cl Cl F C F F C Br Cl H Cl C F Cl F H C H Br H Tricloroetileno (solvente) 2-bromo-2-cloro-1,1,1-trifluoretano Halotano (anestésico de inalação) bromometano (fumigante) diclorodifluorometano (agente refrigerante) 1.8.1 Nomenclatura dos haletos orgânicos A nomenclatura destes compostos pode ser realizada conforme mostramos para os hidrocarbonetos, em que iremos considerar o átomo de halogênio como sendo um substituinte da cadeia principal. Veja os exemplos: Br Br 5-bromo-2,4-dimetileptano 2-bromo-4,5-dimetileptano Cl Cl 2,3-dicloro-4-metilexano Cl Br 1-bromo-3-cloro-4-metilpentano F BrI 1-bromo-3-fluoro-5-iodocicloexano Br 2-bromo-5-metilexano agora é a sua vez 13. Proponha estruturas para os compostos a seguir: a) 2 -cloro -3,3 -dimetilexano 40 UNIUBE b) 3 -bromo -3 -etilpentano c) 1,1 -dibromo -4 -tert -butilcicloexano d) 3,3 -dicloro -2 -metilexano 14. Dê os nomes dos seguintes compostos, segundo a Iupac: Cl Br I Cl CH3 Cl Cl Br CH3 I Cl Cl a) b) c) d) e) f) g) h) 1.8.2 Haletos orgânicos e o meio ambiente Muitos dos produtos químicos orgânicos que são de particular interesse ambiental contêm um ou vários átomos de halogênio, especialmente cloro (Cl), e, em menor medida, flúor (F) e/ou bromo (Br). Embora existam na natureza espécies que produzem haletos orgânicos (por exemplo, o clorometano produzido por algas marinhas), aumentaram drasticamente nas últimas três décadas os problemas relacionados com a ocorrência de compostos halogenados lançados no meio ambiente, devido principalmente a fatores antropogênicos. Há várias razões para as indústrias continuarem a vasta produção de haletos orgânicos. Em primeiro lugar, devido à sua elevada eletronegatividade, especialmente do flúor e cloro, eles formam ligações químicas bastante fortes com carbono. Assim, em muitos casos, a substituição do carbono -hidrogênio por carbono -halogênio aumenta a inércia da molécula (e, portanto, também a sua persistência no ambiente). Por exemplo, muitos agrotóxicos são capazes de inibir enzimas com compostos de flúor, análogos do substrato natural da enzima (por exemplo, eles apresentam um –CF3 em vez de um grupo –CH3). Além disso, devemos observar que ha- logênios (incluindo flúor) presentes nos compostos orgânicos, particularmente UNIUBE 41 quando ligados a átomos de carbono aromáticos, têm uma ligeira tendência a estabelecerem ligações de hidrogênio com compostos tais como a água. É sabido que a presença de halogênios maiores (ou seja, cloro e bromo) numa molécula orgânica torna o composto mais hidrofóbico, o que aumenta a sua tendência para a partição em fases orgânicas, incluindo organismos. Esta é uma razão pela qual numerosos pesticidas contêm um ou vários halogênios, pois acumulando -se no organismo, esses compostos apresentam uma eficiência maior no que diz respeito à sua ação para fins específicos como o de matar esses organismos. De um ponto de vista quantitativo, os principais compostos halogenados usados e liberados para o ambiente são os hidrocarbonetos poli -halogenados, ou seja, compostos que são formados apenas por carbono, hidrogênio e halogênios. Ao escolher o tipo e o número apropriado de halogênios inertes, gases não inflamáveis, líquidos e sólidos exibem propriedades físico -químicas específicas que os tornam aptos para fins específicos. Exemplos importantes incluem os poli -halogenados com um e dois átomos de carbono que são utilizados em enormes quantidades como propulsores de aerossóis, gases refrigerantes, ga- ses de sopro para modelar plástico, anestésicos, e, por último, mas não menos importante, como solventes para diversos fins. Devido à sua alta volatilidade e persistência na troposfera, particularmente o fluoro e clorofluorcarbonos (CFCs e FCs, também chamados de freons) são de grande preocupação devido à sua capacidade de depleção do ozônio estratosférico e potencial aquecimento global. Esta é a razão pela qual esses compostos estão sendo substituídos por hidrofluoro e hidroclorofluorocarbonos (HFC e HCFC, respectivamente), que apresentam um número significativamente menor de residência na atmosférica. Contudo, eles ainda não são a solução definitiva para o problema. Os solventes clorados, incluindo diclorometano, tri e tetracloroeteno e 1,1,1 -tricloroetano, ainda estão entre os principais poluentes subterrâneos. Sob condições aeróbias, esses compostos são muito persistentes, e também são bastante móveis na subsuperfície, o que pode levar à contaminação de lençóis freáticos em grandes extensões. Já em condições anaeróbicas tais hidrocarbo- netos poli -halogenados podem ser reduzidos a compostos menos halogenados por um processo chamado de deshalogenação redutora. Os haletos orgânicos de um e dois átomos de carbono não são, naturalmente, o único grupo de hidro- carbonetos halogenados persistentes, que são de interesse ambiental. Devido ao seu caráter hidrofóbico e tendência para a bioacumulação, uma variedade de hidrocarbonetos aromáticos policlorados ganharam uma péssima reputação. Recentemente, alguns destes clássicos contaminantes ambientais foram uma vez mais objeto de debates importantes, já que alguns desses compostos podem perturbar o equilíbrio hormonal nos organismos. Exemplos de tais compostos incluem as bifenilas policloradas (PCB) e os policloroterfenilos (PCT). 42 UNIUBE 4,4'-(2,2,2-tricloropentano-1,1- dii l)bis(clorobenzeno) DDT Cln Clm Bifenilas policloradas (PCBs) 209 isômeros possí veis "m" e "n" podem var iar de 1 a 5 Clm Clk Cln Trifenilas pol iclor adas(PCTs) 8.149 isômer os possíveis "k" e "n" podem variar de 1 a 5 "m" pode var iar de 1 a 4 Cl Cl CCl3 Cl Cl Cl Cl Cl Cl Hexaclorobenzeno BHC Cl Cl Cl Cl Cl Cl 1,2,3,4,5,6-Hexaclor ocicloexano HCH, 8 isômeros possíveis Existem 209 isômeros possíveis para os PCBs, e 8.149 para os PCTs. Até hoje, estima -se que mais de 1 milhão de toneladas de PCBs e PCTs foram produzidas e que tenham sido utilizadas em ceras, tintas de impressão, tintas e vernizes e como condensador de fluidos dielétricos, transformadores de arrefecimento, fluidos hidráulicos, fluidos de transferência de calor, lubrifi- cantes, plastificantes e retardadores de incêndio. Eles são lançados no meio ambiente durante a produção e armazenamento, e particularmente nos locais de uso. Embora os PCBs e PCTs tenham sido proibidos ou severamente restringidos, pelo menos, em inúmeros países, eles ainda estão espalhados no meio ambiente. Juntamente com outros hidrocarbonetos policlorados (por exemplo, os clássicos pesticidas organoclorados, DDT, HCB, e HCH), eles podem ser detectados em todo o mundo, no fundo do oceano, bem como na neve da região do Ártico, indicando mecanismos poderosos de trans- porte agindo sobre esses produtos químicos. Um grupo de compostos que é estruturalmente relacionado com o PCB, e que causa problemas ambien- tais similares, são as bifenilas polibromadas (PBB), que são utilizadas em grandes quantidades como retardadores de chama. Finalmente, tem -se que grandes quantidades de compostos clorados conhecidos e desconhecidos são formados e lançados no meio ambiente devido à presença de resíduos de cloro na água potável, e nos processos de branqueamento da pasta e do papel na indústria. Espécies importantes neste grupo são, por exemplo, os trihalometanos (CHCl3, CHBrCl2, CHBr2Cl, e CHBr3). UNIUBE 43 agora é a sua vez 15. Os compostos formados pelos elementos cloro, flúor e carbono são industrial- mente conhecidos como CFCs. Foram largamente utilizados em sprays e ainda são empregados em tubulações de geladeira. Alguns exemplos são: a) CFC -11 ou freon -11: CCl3F b) CFC -12 ou freon -12: CCl2F2 c) CFC -13 ou freon -13: CClF3 d) CFC -115 ou freon -115: C2ClF5 Escreva a fórmula estrutural de cada um deles. 1.9 Funções oxigenadas Entre os heteroátomos presentes nos compostos orgânicos naturais e antro- pogênicos, o oxigênio desempenha um papel único, pois ele está presente em um grande número de grupos funcionais importantes. Devido à sua elevada eletronegatividade, o oxigênio forma ligações polares com hidrogênio, carbono, nitrogênio, fósforo e enxofre. Como consequência, esta propriedade tem um impacto significativo sobre as propriedades físico -químicas, bem como sobre a reatividade de determinado composto. A seguir iremos discutir alguns gru- pos funcionais envolvendo unicamente oxigênio. Além dos grupos funcionais contendo o oxigênio como heteroátomo, iremos discutir também compostos que apresentem grupos funcionais exibindo outros heteroátomos (ou seja, N, S, P). Finalmente, devemos observar que, em geral, o oxigênio forma duas ligações e seu estado de oxidação em moléculas orgânicas é geralmente -2, com exceção dos peróxidos (por exemplo, RO -OR), em que o seu estado de oxidação é -1. 1.9.1 Funções alcoóis, fenóis e éteres Comecemos observando as duas funções mais simples contendo oxigênio, isto é, um átomo de oxigênio que forma uma única ligação com um átomo de carbono e um átomo de hidrogênio (álcool), ou com dois átomos de carbono (éter). O primeiro grupo é chamado de grupo hidroxila ou função álcool (R -OH), 44 UNIUBE enquanto no último caso, falamos da função éter (R1–O–R2). Alguns exemplos de compostos industrialmente importantes e/ou de relevância ambiental, contendo essas duas funções orgânica, são apresentados a seguir. Alcoóis (R - OH) e Fenóis (Ar - OH) H3C OH H3C OH HO OH OH OH Clm Metanol Solvente, Combustível e matéria-prima Etanol Solvente, Combustível e matéria-prima Etano-1,2-diol ou Etilenoglicol solvente e anticongelante Fenol Matér ia-prima e germicida Clorofenóis biocidas HO OH H3C CH3 OH OH H3C H3C CH3 CH3 H3C CH3 CH3 O Etóxietano Éter dietílico (solvente) O O 1,4-dioxano (solvente) H3C O CH3 H3C CH3 2-metóxi-metilpropano (MTBE, um aditivo da gasolina) 2,6-di-ter t-butil-4-metilfenol (DBPC, um antioxidante) O CH3 fenil-metil-éter metóxibenzeno Anisol O O O OClmClm ClnCln Cl 1-cloro-2,3-epóxipropano Dibenzo-dioxinas policloradas PCDDs (175 isômeros) Dibenzo-furanos policlorados PCDFs (135 isômeros) 4-nonilfenol Metabólito de surfactantes não iônicos 4,4'-(propano-2,2-diil)difenol Bisfenol A Éteres (R1 - O - R2) 1.9.1.1 Nomenclatura dos alcoóis Oficial (IUPAC): PREFIXO + AN + OL Usual: Álcool + radical + ico CH3 OH MET + AN + OL = Metanol ou Álcool metílico CH3 CH2 OH ET + AN + OL = Etanol ou Álcool etílico CH3 CH2 CH2 OH PROP + AN + OL = Propanol ou Álcool propílico CH3 C OH CH3 H PROP + AN +2OL = Propan -2 -ol ou Álcool isopropílico UNIUBE 45 1.9.1.2 Nomenclatura dos éteres Oficial (IUPAC): Radical alcóxi + Hidrocarboneto Usual: Éter + radical + ico Exemplos: CH3 O CH3 Metóxi – Metano ou Éter Metilico CH3 O CH2 CH3 Metóxi – Etano ou Éter Metil -Etílico H2C O CH2 CH3H3C Etóxi – Etano ou Éter Etílico Ambas as funções álcool e éter têm uma grande influência sobre as proprieda- des físico -químicas e de partição de compostos orgânicos no meio ambiente, devido à capacidade do átomo de oxigênio para fazer ligações de hidrogênio. Devemos, contudo, notar que essa capacidade é muito maior no caso do grupo hidroxila, porque R -OH pode atuar tanto como “doador” de H e como aceptor de H, enquanto R1–O–R2 é apenas aceptor de H. Além disso, dependendo da natureza do R, o grupo R -OH pode sofrer ionização em meio aquoso, ou seja, ele pode agir como um ácido fraco. Este é principalmente o caso dos alcoóis aromáticos, incluindo fenóis, que são substituídos com grupos retirantes de elétrons (eletronegativos). Um exemplo é o biocida pentaclorofenol, que, em solução aquosa de pH 7,0, está presente essencialmente (> 99%) como íon pentaclorofenolato. OH ClCl Cl Cl Cl O ClCl Cl Cl Cl H++ pentaclorofenol íon pentaclorofenolato íon hidrônio responsável pelo caráter ácido Essas espécies possuem propriedades e reatividades muito diferentes quando comparadas com os seus homólogos no estado neutro. Os fenóis, particular- mente aqueles que são substituídos por grupos doadores de densidade eletrô- nica (por exemplo, grupos alquílicos), podem ser oxidados no meio ambiente, 46 UNIUBE conduzindo a uma variedade de produtos. Alguns fenóis que são facilmente oxidados e que formam radicais estáveis são ainda usados como antioxidantes (por exemplo, DBPC) em produtos petrolíferos, borracha, plástico, embalagens alimentares, alimentos para animais, e assim por diante. Com uma produção global anual entre 15 a 20 milhões de toneladas, metanol e metil -tert -butil éter (MTBE) estão entre os principais produtos químicos industriais com elevada produção. Embora o metanol não deva ser considerado como um grave problema ambiental, o MBTE, que é utilizado como aditivo na gasolina para melhorar o processo de combustão, tornou -se um importante poluente no meio aquático, em particular nas águas subterrâneas. O motivo é a significativa hidrossolubilidade de MBTE e sua resistência frente à biodegradação. 1.9.1.3 Fenóis Os compostos fenólicos são utilizados em quantidades muito grandes em uma variedade de processos industriais. Eles também podem ser formados no am- biente por processos de hidroxilação atmosférica ou por processos biológicos. Um exemplo neste último caso é a formação de 4 -nonilfenol a partir da degra- dação microbiana dos éteres de polietileno glicol 4 -nonilfenol que são utilizados como tensoativos não iônicos. Este é um exemplo ilustrativo de que em certas circunstâncias, processos de transformação microbiana podem conduzira com- postos que são de muito maior impacto ao meio ambiente do que o composto inicial. Particularmente no caso do 4 -nonilfenol, foi demonstrado que ele apre- senta atividade endócrino desreguladora. C9H19 O(CH2CH2O)nH "n" pode variar de 5-10 Surfactante de nonilfenol C9H19 OH C9H19 OCH2CH2OH C9H19 O(CH2CH2O)2H+ + Degradação microbiológica em plantas de tratamento de esgoto Intermediár ios de degradação biológica: indesejáveis e persistentes Este é o principal motivo pelo qual em muitos países a utilização de éteres de 4 -nonilfenol polietilenoglicol foi seriamente restringida. Dibenzo -(p) -Dibenzodioxinas e furanos é outro grupo de compostos que temos de abordar, mais especificamente as dibenzo -p -dioxinas (PCDD) e dibenzo- UNIUBE 47 -furano (PCDF). As PCDD e PCDF não são produzidas industrialmente, mas são liberadas no ambiente a partir de diferentes processos de combustão e como resultado de sua ocorrência como subprodutos indesejáveis em várias formula- ções químicas cloradas. Devido ao fato de alguns derivados das PCDD e PCDF serem muito tóxicos (por exemplo, 2,3,7,8 -tetracloro -dibenzo -p -dioxina), foram e ainda são consideráveis os esforços para avaliar as suas fontes geradoras, distribuição e destino no meio ambiente. Da mesma forma que o PCB ou DDT, as PCDD e PCDF são altamente hidrofóbicas e muito persistentes no ambiente. Assim, não é surpreendente que também tenham sido detectados em todos os lugares da Terra. Finalmente, temos que difeniléteres polibromados (PBDE), assim como o PBB, são utilizados como retardadores de chama, e assim são motivo de crescente preocupação ambiental. O O 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina Brm Brn Cl Cl Cl Cl O Difeniléteres polibromados PBDEs agora é a sua vez 16. Dê os nomes oficiais, segundo a Iupac, dos seguintes compostos: OH OH OH OH H3C OH OH CH3 CH2 OH OH OH OH a) b) c) d) e) f) g) h) 17. Escreva as fórmulas estruturais dos seguintes compostos: a) 1,1 -dimetil -etanol b) 6 -metil -heptan -3 -ol c) ciclopentanol d) álcool benzílico 48 UNIUBE 18. Dê a fórmula estrutural dos seguintes fenóis: a) o -isopropil -fenol b) p -isopropil -fenol 19. Dê o nome dos seguintes fenóis: OH OH CH3 OH CH3 CH3 OH CH3 CH3 OH a) b) c) d) e) 20. Escreva as fórmulas estruturais dos seguintes compostos: a) éter dietílico b) metóxi -metano c) metóxi -etano d) metóxi -benzeno 21. Dê o nome Iupac e usual para os seguintes éteres: O O O O a) b) c) d) 1.9.1.4 Aldeídos e cetonas Há uma série de outras funções orgânicas contendo carbono e oxigênio que for- mam uma ligação dupla com o átomo de carbono. Se existir apenas um oxigênio envolvido, dependendo se o átomo de carbono estiver ligado a um hidrogênio ou não, temos o grupo funcional aldeído (R -CHO) ou grupo cetona (R1 -CO -R2), respectivamente. UNIUBE 49 R C H O R1 C R2 O Função aldeído carbono da carbonila é primário e ligado a um átomo de hidrogênio Função cetona carbono da carbonila é secundário e ligado a dois grupos R 1.9.2 Nomenclatura dos aldeídos Oficial (Iupac): PREFIXO + MEIO + AL Exemplos: 2 – Metil - Propanal Etanal Aldeído Acético /Acetaldeido Metanal Aldeído Fórmico / Formol 1.9.3 Nomenclatura das cetonas Oficial (IUPAC): PREFIXO + MEIO + ONA Usual: Radical + Cetona Exemplos: H3C C CH3 O Propanona ou Metil Cetona H3C C CH2 O CH3 Butanona ou Etil -Metil Cetona O Ciclo -hexanona Tal como no caso dos átomos de oxigênio nos éteres, os átomos de oxigênio nos aldeídos e cetonas podem estabelecer ligações de hidrogênio com várias substâncias, o que torna compostos desses dois grupos funcionais solventes adequados para muitos fins (por exemplo, acetaldeído, acetona, 2 -butanona). 50 UNIUBE O CH3 CH3H3C O CH3 O O O O H3C O O H H H H H H Metanal Desinfetante e conservante de tecidosbiológicos Etanal Solvente e matéria-prima Acroleína Matéria-prima para produção de polímeros 2-metil-propanal Isobutiraldeído Solvente Benzaldeído Matéria-prima Propanona acetona Solvente 2-butanona Solvente Fenil-metilcetona Solvente Por outro lado, devido ao fato de esses dois grupos funcionais serem muito reativos, eles acabam se tornando muito importantes como intermediários quí- micos utilizados na indústria. Uma grande variedade de aldeídos simples, tal como o isobutiraldeído, pode ser formada durante o tratamento da água. Uma vez que alguns desses compostos têm um odor extremamente desagradável, a sua formação (por exemplo, como subprodutos de desinfecção de água potável) pode causar consideráveis problemas. agora é a sua vez 22. Dê o nome Iupac dos seguintes compostos: H O H3C CHO H O H O H O H C O H a) b) c) d) e) f) 23. Escreva a fórmula estrutural simplificada de: a) pentanal b) benzaldeído c) 3,5 -dimetil -hexanal UNIUBE 51 24. Dê o nome Iupac dos seguintes compostos: O O CH3 O CH3CH3 CH3 CH3 O CH3CH3 CH3 O O a) b) c) d) e) f) 1.10 Grupos carboxílicos Se oxidarmos os aldeídos, o que é equivalente a substituir o hidrogênio terminal por uma hidroxila (OH), obtemos uma função ácida, a qual denominamos de ácido carboxílico (R -COOH) grupo. 1.10.1 Nomenclatura dos ácidos carboxílicos Oficial (Iupac): PREFIXO + MEIO + OICO Exemplos: Ácido metanoico ou Ácido fórmico Ácido etanoico ou Ácido acético Ácido propanoico 52 UNIUBE O O O O R1 R2 H3C O OH O OH Cl Cl Cl O OH H3C O O CH2 CH3 Cl CH3 O CH3 COOH Ácido 2-(4-cloro-2-metilfenóxi) propanoico Mecoprope O O (O ) n O O O Cl CH3 H3C CH3 Cl CH3 Ácido etanoico Ácido acético Ácido tricloroacético Herbicida Ácido benzoico Conservante e aditivo Ftalatos (plastif icantes) R1 e R2 varia de 1 a 10 Acetato de etila Solvente Preventol B Agente anti-raiz Como o próprio nome implica, ácidos carboxílicos podem sofrer ionização em solução aquosa, ou seja, apresentam a capacidade de liberar íons H+ quando em contato com a água. Dependendo do grupo R, os seus valores de pKa estão na faixa entre 0 e 6. Assim, compostos exibindo um ou vários grupos carbo- xílicos estão presentes em águas naturais, principalmente na forma ionizada (aniônica). Além disso, devemos salientar que a função ácido carboxílico funciona como doadora, assim como receptora de íons H+. Daí, a presença desta função numa molécula orgânica aumenta a solubilidade do composto em água de forma significativa. A presença de tais compostos no meio ambiente pode ser devido à entrada direta (como, por exemplo, de herbicidas como o Mecoprope) ou de- vido a fatores abióticos ou transformações biológicas de outros compostos. Por exemplo, o ácido acético halogenado, incluindo mono -, di - e ácido tricloroacético, bem como ácido trifluoroacético, foram detectados em concentrações elevadas (> 1 µg/L) em águas pluviais. Esses ácidos são considerados, pelo menos em parte, produtos de oxidação atmosférica de alguns dos etanos e etenos clo- rados e/ou fluorados que já vimos anteriormente. Ácidos carboxílicos no meio ambiente também são formados a partir de reações de hidrólise dos derivados carboxílicos, tais como ésteres e amidas. UNIUBE 53 agora é a sua vez 25. Escreva o nome, segundo a Iupac, dos seguintes compostos: H3C C O OH OH O HCOOHOH O 1.11 Função éster Denominamos éster um ácido carboxílico em que substituímos o grupo OH por um grupo OR. Assim, devido à falta de um OH, uma função éster (R1 -COOR2) só pode agir como um aceptor de H+. Dessa forma, os ésteres tendem a serem menos solúveis em água quando comparados com o seu ácido carboxílico de origem. 1.11.1 Nomenclatura dos ésteres Oficial (Iupac): Ácido carboxilico – ICO + ATO de Radical do álcool de origem Exemplos: Metanoato de etila Etanoato de metila – Aroma de frutas Decanoato de etila - UVA A função éster pode ser encontrada em muitos compostos naturais (por exemplo, óleos e gorduras) e em substâncias químicas antropogênicas. Um importante grupo de substâncias químicas produzidas pelo homem, exibindoa função éster, são os ftalatos, que são diésteres de ácido ftálico. Os grupos R1 e R2 denotam grupos de hidrocarbonetos, que na maioria dos casos são constituídos por grupos alquílicos entre um e dez átomos de carbono. A produção global anual 54 UNIUBE de ftalatos, que são utilizados principalmente como plastificantes, é superior a 1 milhão de toneladas. Os ftalatos são onipresentes no meio ambiente, e estão entre os contaminantes mais notórios encontrados nas análises laboratoriais de amostras ambientais. Ésteres são também frequentemente encontrados em compostos utilizados como pesticidas ou, mais genericamente, como biocidas. Em alguns casos, os compostos biologicamente ativos são realmente o ácido carboxílico “livre” (éster hidrolisado). O éster, que apresenta muitas propriedades físico -químicas diferentes, é então utilizado para fornecer os compostos ativos continuamente no local desejado de maneira lenta, através da hidrólise da função éster. Um exemplo é Preventol B2, que é aplicado para evitar a penetração de ra- ízes em materiais de construção, tais como vedantes, isolantes e asfalto. Quando hidrolisado, o Preventol B2 produz um par de enantiômeros(R,S) -mecoprope. O O (O ) n O O O Cl CH3 H3C CH3 Cl CH3 Preventol B Agente antirraiz O O OH Cl CH3 H3C H2O HO( ) n OH2 + Em um estudo sobre a ocorrência e comportamento de pesticidas durante a infiltração das águas subterrâneas proveniente de telhados e enxurrada, ambos os enantiômeros de mecoprope foram detectados em concentrações muito mais elevadas (até 500 µg/L) do que a encontrada em águas de chuva. agora é a sua vez 26. Escreva as fórmulas estruturais dos seguintes ésteres: a) etanoato de pentila (essência de banana) b) etanoato de octila (essência de laranja) UNIUBE 55 c) metanoato de etila (essência de rum) d) etanoato de etila (essência de maçã) 27. Escreva o nome dos ésteres: a) Essência de morango O O b) Essência de abricó O O c) Essência de damasco O O 28. Os ésteres podem ser obtidos por meio da reação entre ácidos e alcoóis. Gene- ricamente temos: R C O O R' H2O+R C O OH H O R'+ Ácido carboxílico Álcool Éster Água Com base nessa informação, equacione as reações a seguir e indique o nome dos ésteres formados. a) ácido acético e metanol c) ácido butanoico e 1 -propanol b) ácido fórmico e etanol d) ácido benzoico e 2 -propanol 56 UNIUBE 1.12 Grupos funcionais contendo nitrogênio Entre os heteroátomos presentes nas moléculas orgânicas, o nitrogênio e o enxofre (que será discutido mais tarde) são bastante interessantes, pois assim como o carbono, eles podem assumir diferentes estados de oxidação. R2 N R3 R4 R1 R1 N R2 R3 R1 N R2 O R3 R C N R2 N R1 R4 N R3 O R2 N R1 O R3 O R1 NH NH R2 N N R1 R2 R N OH H R N O R N O O O N O O R Quaternário de amônio ( -3) Amina ( -3) Amida ( -3) Nitri la ( -3) Ureia ( -3) Carbamato ( -3) Hidrazo ( -2) Azo (-1)Hidroxilamina ( -1) Nitroso (+1) Nitro (+3) Nitrato (+5) Portanto, muitos grupos funcionais contendo nitrogênio e enxofre como heteroá- tomos exibem propriedades e reatividades muito diferentes. O quadro anterior dá uma visão geral dos grupos funcionais mais importantes que contêm o nitrogênio, o carbono e/ou o oxigênio. Como é evidente neste quadro, o nitrogênio forma, geralmente, três, e em alguns casos especiais, quatro ligações, e pode possuir estados de oxidação que vão desde -3 a +5. A seguir são apresentados alguns importantes exemplos de compostos nitrogenados com interesse ambiental. NH2 Atrazina Herbicida N N NNH3C N CH3 Cl CH3 H H Anilina Matéria-prima NN R2 H R1 H Dialquil/aril-p-fenilenodiaminas Antioxidantes Trietilamina Propelente, umectante, anticorrosivo, solvente. N CH3H3C H3C R1 N R2H3C CH3 Sal quaternário de amônio Surfactante catiônico Azobenzeno Pesticida N N Trinitrotolueno TNT Explosivo CH3 N+ O - O N+ O O - N+ O - O2,4-dinitro-o-cresol DNOC, herbicida N+ O - O N+ O O - OH CH3 Nitroglicerina Explosivo H2C HC H2C ONO2 ONO2 ONO2 4-(2-Bromo-4,6-dinitrofenilazo)-5-acetilamino-2-etóxi-N,N-bis(2-acetóxietil)anilina Azul Disperesivo 79, um corante têxtil N O O H3C O O H3C O CH3 NH O CH3 N N N+O O - N+ O O - Br 1-nitropireno Produto da combustão em motores de avião N+ O O - Herbicida UNIUBE 57 NH2 N N NNH3C N CH3 Cl CH3 H H Anilina Matéria-prima NN R2 H R1 H Dialquil/aril-p-fenilenodiaminas Antioxidantes Trietilamina Propelente, umectante, anticorrosivo, solvente. N CH3H3C H3C R1 N R2H3C CH3 Sal quaternário de amônio Surfactante catiônico Azobenzeno Pesticida N N Trinitrotolueno TNT Explosivo CH3 N+ O -O N+ O O- N+ O-O2,4-dinitro-o-cresol DNOC, herbicida N+ O -O N+ O O- OH CH3 Nitroglicerina Explosivo H2C HC H2C ONO2 ONO2 ONO2 4-(2-Bromo-4,6-dinitrofenilazo)-5-acetilamino-2-etóxi-N,N-bis(2-acetóxietil)anilina Azul Disperso 79, um corante têxtil N O O H3C O O H3C O CH3 NH O CH3 N N N+O O- N+ O O- Br 1-nitropireno Produto da combustão em motores de avião N+ O O- 1.12.1 Aminas Os grupos contendo nitrogênio frequentemente apresentam um impacto signi- ficativo nas propriedades e reatividades de produtos químicos com relevância ambiental. Um grupo muito importante é o amino, que está presente em vários compostos naturais (por exemplo, aminoácidos, açúcares aminados) e numero- sos produtos químicos de origem antropogênica. Por exemplo, aminas aromá- ticas, em particular as anilinas, são intermediários importantes para a síntese de numerosos produtos químicos diferentes, dentre os quais se destacam os corantes, fármacos, inseticidas, antioxidantes e outros mais. Além disso, os anéis de benzeno que possuem grupos amino estão presentes em uma grande variedade de moléculas mais complexas. A hidrólise dos vários derivados áci- dos, incluindo os exemplos anteriores, assim como transformações redutivas 58 UNIUBE dos grupos azo -aromático e nitrocompostos, podem levar à liberação de aminas aromáticas no meio ambiente. Do ponto de vista químico, o grupo amino pode influenciar grandemente as propriedades físicas e químicas de um dado composto. Grupos amina podem estabelecer ligações de hidrogênio e funcionar como aceptores de hidrogênio (caráter básico), e em menor extensão como doadores, no caso, apenas as aminas primárias e secundárias. No entanto, em contraste com os grupos OH, que são fracamente ácidos, grupos amino são bases fracas. Assim, em solução aquosa eles podem aceitar um próton (H+), formando assim cátions de amônia alquilada (grupos de hidrocarbonetos não aromáticos) ou arilada (grupos de hidrocarbonetos aromáticos). Isso é particularmente importante para aminas alifáticas (por exemplo, trietilamina), que são bases significativamente mais for- tes em comparação com aminas aromáticas, sendo uma das explicações o fato destas últimas serem menos solúveis em água. Note que para serem utilizadas como tensoativos, algumas aminas são alquiladas a compostos quaternários de amônio, formando -se assim cátions estáveis. 1.12.1.1 Nomenclatura das aminas Nome do(s) radical(is) com terminação il + amina Exemplo: CH3 -NH2 metilamina CH3 -NH -CH3 dimetilamina CH3 -NH -CH2CH3 etil metilamina agora é a sua vez 29. Dê o nome das seguintes aminas: a) CH3 – CH2 – NH2 c) CH3 – NH – CH2 – CH3 b) CH3 – NH – CH3 d) CH3 – CH(CH3) – CH2 – NH2 Tal como alguns grupos fenólicos, grupos amino ligados ao anel benzênico podem sofrer reações de oxidação no meio ambiente. Em alguns casos, essas transformações podem levar à formação de produtos que são de grande preo- UNIUBE 59 cupação. Finalmente, algumas aminas aromáticas que formam radicais estáveis são efetivamente empregadas como antioxidantes. 1.12.2 Nitrocompostos O segundo grupo funcional contendo nitrogênio que iremos conhecer é o grupo nitro. Numerosos produtos químicos sintéticos importantes apresentam um ou váriosgrupos nitro que estão geralmente ligados a um sistema aromático, em especial o anel benzênico. 1.12.2.1 Nomenclatura dos nitrocompostos Nitro + prefixo + infixo + o Exemplo: CH3CH2CH2CH2NO2 nitrobutano CH3CH(CH3)CH2CH2CH2NO2 4 -metilnitropentano NO2 nitrobenzeno Compostos aromáticos exibindo grupos nitro são importantes intermediários em diversos ramos da indústria química, e também estão presentes em vários produtos finais, incluindo explosivos (por exemplo, a TNT), agrotóxicos (por exemplo, DNOC) e corantes (por exemplo, Azul Disperso 79). Além disso, um grande número de nitrocompostos aromáticos é formado fotoquimicamente na atmosfera por reações induzidas por hidrocarbonetos aromáticos envolvendo radicais hidroxila e os óxidos de nitrogênio. Esses compostos também podem ser formados durante a combustão nos motores de veículos. Assim, tais processos de nitração podem conduzir a uma significativa contribuição para o aumento de compostos tóxicos no meio ambiente. A fim de compreender como um grupo nitro afeta as propriedades físicas e quí- micas de um composto, devemos levar em consideração o fato de que o grupo nitro tem um forte caráter retirante de elétrons e que pode deslocalizar elétrons p. Assim, particularmente grupos nitrocompostos aromáticos têm uma grande influência sobre a distribuição eletrônica em uma molécula (ou em partes da molécula). Isso afeta propriedades, tais como a constante de acidez (Ka) de um 60 UNIUBE ácido ou de uma base (neste caso, Kb) ligada a um sistema aromático e a inte- ração específica de compostos aromáticos com grupos doadores de elétrons, como átomos de oxigênio presentes na superfície de argilas minerais. Por outro lado, pelo fato de nos nitrocompostos o nitrogênio apresentar estado de oxida- ção +3, este grupo pode atuar como um oxidante (ou seja, como um aceptor de elétrons). Isso é mais evidente em explosivos (por exemplo, a TNT), em que o grupo nitro funciona como um oxidante interno, garantindo, assim, uma rápida oxidação da molécula que conduz à liberação de uma grande quantidade de energia em um período de tempo muito curto. Finalmente, no ambiente, sob con- dições redutoras, grupos nitro podem ser transformados em compostos nitrosos, hidroxilamina, e, em último caso, grupos amino, obtendo -se produtos que podem ser do mesmo ou maior impacto ambiental do que o nitrocomposto de origem. Isso é particularmente importante, pois pode causar graves problemas no que diz respeito a contaminações do solo e das águas subterrâneas. 1.13 Compostos sulfurados Enxofre em moléculas orgânicas pode assumir diferentes estados de oxidação que vão de -2 a +6. Devido ao fato de o enxofre ser um elemento do terceiro período, ele possui orbitais d, sendo assim capaz de expandir sua camada de valência e acomodar mais elétrons do que os permitidos pela regra do octeto. Assim, como pode ser observado no quadro a seguir, o enxofre poderá conter na camada de valência dez elétrons (por exemplo, sulfóxido – quatro ligações e um par livre) ou mesmo doze elétrons (por exemplo, sulfona, ácido sulfônico e seus derivados), e essa capacidade permite que tais compostos participem de reações de oxirredução que são inacessíveis para os análogos contendo oxigênio. R SH R1 S R2 R1 R2 S R1 S S R2 S R1 R2 O R1 S O O R2 R S O O OH R1 S O O O R2 R1 S O O N R2 R3 O S O O O R2R1 Tiol ou mercaptanas(-2) Dissulfeto(-1) Sulfona(+2) Sulfóxido(0) Ácido sulfônico(+4) Éster de ácido sulfúrico(+6) Tioéters(-2) Tiocarbonílicos(-2) Sulfonamida(+4)Éster de ácido sulfônico(+4) UNIUBE 61 Outras importantes diferenças com relação ao oxigênio são sua menor eletrone- gatividade e sua menor tendência para estabelecer ligações com o hidrogênio. Além disso, quando comparado ao oxigênio, o enxofre forma ligações mais fracas com o carbono e o hidrogênio, fazendo com que mercaptanas tenham caráter ácido para ser mais ácidas quando comparadas aos análogos contendo oxigênio. A seguir temos alguns exemplos de organossulfurados importantes dentro do campo industrial e, consequentemente, para o meio ambiente. SH S SH S NH2 Cl Cl S S S O SO3 - SO3 - SO3 - NH2 SO3 -R R = C10 - C13 -O3S SO3 - R O S O- O O R = C12 - C18 S H2N N O O N N N N N N H S O O O COOH H H Etilmercaptana Dimetilsulfeto Tiofenol Clorotiamida Herbicida Dimetilsulfeto Dimetilsulfóxido p-toluenosulfonato 2-amino-naftaleno-4,8-d issulfonato Corante Sulfonatos de alquilbenzeno lineares (LAS) DSBP, agente enbranquecedor Sulfatos de alcoóis graxos Surfactantes Sulfadiazina M edicamento Sulfometuron Herbicida Entre os compostos exibindo formas mais reduzidas de enxofre ( -1 e -2), as mer- captanas de baixa massa molecular, os dialquilssulfetos e os dialquildissulfetos têm importantes fontes antropogênicas e biogênicas. Por exemplo, o dimetilssulfeto é um dos principais compostos sulfurados presentes no ciclo global. Além disso, 62 UNIUBE tioéteres (R1–S–R2) ou tioéster (R1–CO– SR2) podem ser encontrados em muitos pesticidas. Finalmente, de novo no mundo dos pesticidas, um grupo C = S (por exemplo, clorotiamida) e, sobretudo, uma função P = S é, às vezes, mais desejável em relação a um grupo C = O ou P = O, respectivamente. Essa mudança é feita principalmente com o objetivo de diminuir a toxicidade geral dos compostos. Em alguns casos, o enxofre é enzimaticamente substituído por um átomo de oxigênio no organismo -alvo, aumentando, assim, o efeito tóxico do composto. No que diz respeito aos grupos exibindo átomos de enxofre oxidado, ácidos sulfô- nicos aromáticos, em especial, ácidos benzenossulfônicos e naftalenossulfônicos são os mais importantes. Ácidos sulfônicos possuem valor de pKa extremamente baixos (pKadas propriedades de umedecimento. Além disso, dentro da solução, ao exceder certas concentrações, determinados tensoa- tivos formam agregados, chamados micelas. Assim, tensoativos poderão manter substâncias apolares (hidrofóbicas) solúveis em água, e é por isso que fazem parte de qualquer tipo de detergente. Surfactantes são também amplamente utilizados como umedecedores, agentes dispersantes, emulsificantes e em todos os tipos de produtos de consumo e aplicações industriais. Podemos ver que, como no caso de outros ácidos, existem vários derivados de ácidos sulfônicos e sulfúrico, incluindo ésteres e amidas, que estão presentes em drogas (sulfadiazina) e herbicidas (sulfameturon). 1.14 Organofosforados Embora em princípio o fósforo possa, como o nitrogênio, assumir uma variedade de estados de oxidação (de -3 a +5), em compostos ambientalmente relevan- tes, ele se apresenta principalmente na forma mais oxidada [ou seja, +3 (por exemplo, derivados de ácido fosfônico), e +5 (por exemplo, derivados de ácido fosfórico e ácido tiofosfórico)]. P O H3CO H3CO CCl3 OH P OH OH O P OH OH O OH H3C CH3 O P O F CH3 P O O O O NO2 O P S H3CO H3CO H3C O P S S CH3 S O H3C Fosfonatos Fosfatos e Tiofosfatos Triclorofon Inseticida HEDP, agente complexante Sarin Veneno T rifenilfosfato Retardador de chamas Paration Inseticida, acaricida Disulfoton Inseticida, acaricida 64 UNIUBE Nesses estados de oxidação, P forma, na maioria dos casos, três ligações simples e uma ligação dupla, sendo esta última comumente com um átomo de oxigênio ou um de enxofre. Tal como no caso do enxofre, por ser o fósforo um elemento do terceiro período, ele também consegue expandir sua camada de valência podendo aceitar elétrons adicionais e fazer até cinco ligações químicas. A partir dos exemplos apresentados anteriormente, podemos observar que par- ticularmente os ésteres e tioésteres de ácidos fosfônico, fosfórico e tiofosfórico são utilizados para várias finalidades, tais como produção de plastificantes e/ ou retardadores de chama e como pesticidas, na sua maioria como inseticidas e acaricidas. Os fosfonatos (exibindo uma ligação P–C) contendo diversos grupos de ácido fosfônico são cada vez mais utilizados como agentes quelantes. Alguns derivados de ácido fosfônico são gases extremamente tóxicos para os nervos e, portanto, utilizados como armas químicas (por exemplo, sarin). 1.15 Alguns exemplos de compostos exibindo estruturas mais complexas (funções mistas) Vamos agora a um breve olhar sobre alguns exemplos de compostos que apresentam estruturas mais complexas, tanto no que diz respeito à cadeia de carbono, quanto ao tipo e número de grupos funcionais. Obviamente, avaliar o comportamento ambiental de tais compostos representa um desafio especial, uma vez que as interações eletrônicas e estéricas dos grupos funcionais podem influenciar as propriedades físicas e químicas de um composto de uma forma que não pode ser previsto a priori a partir de um olhar para as várias funções de forma isolada. No entanto, com o conhecimento geral que adquirimos até este ponto do curso, sobre como a forma estrutural das mo- léculas influenciam as propriedades de um composto, devemos ser capazes de nos colocar na posição de atacar também a avaliação de tais produtos químicos “complexos” no meio ambiente. UNIUBE 65 OH CH3 HO H H H H O O H H H O O O NH2 OH O HO I I I I N S HH O N H O CH3 CH3 COOH O HN N N F O COOH OH H3C O H3C OH OCH3 CH3 H3C CH3 O CH3 O O O H3C O OCH3 CH3 OH CH3 O HO N CH3H3C CH3 Etinil Estradiol Anticoncepcional Acetóxi-progesterona Hormônio Tiroxina Hormônio Penicilina V Ciprofloxacina Antibiótico Claritromicina Antibiótico Exemplos de compostos com estruturas um pouco mais complexas que as estruturas da maioria dos produtos químicos, e que vocês irão encontrar em suas vidas profissionais, incluem pesticidas e produtos farmacêuticos. Tais compostos são planejados para serem altamente ativos do ponto de vista biológico. Pesticidas e produtos farmacêuticos são utilizados pela sociedade humana para exercer um efeito biológico desejado em determinado organismo. Obviamente, a partir de um ponto de vista ambiental, esses compostos são particularmente preocupantes quando presentes em locais que possam trazer impactos. Para os pesticidas, isso tem sido reconhecido há muito tempo e, portanto, há uma grande quantidade de informação disponível sobre o compor- tamento ambiental de tais compostos. Em contrapartida, aspectos ambientais relacionados a produtos químicos farmacêuticos, e, em especial, de drogas e hormônios utilizados na alimentação humana e aplicações em veterinária, são apenas um problema emergente. 66 UNIUBE 1.16 Principais reações em química orgânica Durante toda a discussão anterior, em vários momentos fizemos referência às transformações de uma substância em outra. Iremos agora fazer uma dis- cussão sistematizada de algumas das principais reações presentes no campo da química orgânica e que são de grande interesse ambiental. As reações de compostos orgânicos estão entre as classes de reações mais importantes que temos. Elas são empregadas para os mais diversos fins, dentre os quais se destacam a produção de energia, medicamentos, alimentos, bens de consumo e outros. Veremos a seguir uma pequena introdução às reações químicas mais importantes. 1.16.1 Reações de combustão Essas reações são geralmente empregadas para a produção de energia tal como para a movimentação de automotores, usinas de energia e cozimento de alimentos. As reações de combustão podem ser classificadas como completas (produzindo CO2) ou incompletas (quando só há produção de CO ou C). Veja os exemplos a seguir: CH4(g) + 2O2(g) fi CO2(g) + 2H2O(v) (completa) CH4(g) + 1,5O2(g) fi CO(g) + 2H2O(v) (incompleta) CH4(g) + O2(g) fi C(fuligem) + 2H2O(v) (incompleta) agora é a sua vez 30. O etanol (CH3CH2OH) é uma das principais fontes de energia em nosso país. Este combustível reage com o oxigênio (O2) para produzir CO2 ou CO e H2O. Equacione as duas reações em questão de forma balanceada. 1.16.2 Reações de adição Essas reações, como o próprio nome já diz, são reações em que adicionamos um dado reagente a outro. Essas adições geralmente acontecem em substân- cias que apresentem duplas e triplas ligações entre átomos de carbono. Esse processo é que permite, por exemplo, a obtenção de gordura hidrogenada. UNIUBE 67 C C H H H H + X2 C C X X H HH H C CH H + 2X2 C C X X H XX H Alceno Alcino X2 = H2O, Cl2, Br2, H2, HCN etc. 1.16.3 Reações de substituição Nessas reações, um determinado átomo é substituído por outro em uma molé- cula de composto orgânico. Essas reações são particularmente importantes na área de alimentos e medicamentos. Alcano X2 = H2O, Cl2, Br2, H2, HCN etc. C C H H H HH H + X2 C C H X H HH H + HX C C H H Br HH H + H2O C C H H OH HH H + HBr Haleto orgânico Álcool 1.16.4 Reações de eliminação Nesse caso, a estrutura orgânica perde uma parte de sua molécula na forma de molécula de baixa massa molecular (X2), como por exemplo, água (H2O), amônia (NH3), cloreto de hidrogênio (HCl) etc. C C H H H H + X2C C X X H HH H C CH H + 2X2C C X X H XX H Alceno Alcino 68 UNIUBE 1.16.5 Reações de esterificação São reações que ocorrem entre ácido carboxílicos e alcoóis, ou fenóis. São rea- ções muito importantes na indústria de alimentos, medicamentos e materiais (polímeros). R C O O R' H2O+R C O OH H O R'+ Ácido carboxílico Álcool Éster Água Esterificação Hidrólise A reação no sentido inverso é denominada hidrólise, e em termos simples seria a combinação do éster ou poliéster para dar origem ao ácido e ao álcool pre- cursor. 1.16.6 Reações de condensação São reações em que duas ou mais moléculas de compostos orgânicos se li- gam, com perdade moléculas de baixa massa molecular. Muito importantes na produção de polímeros diversos. De certa forma, as reações de esterificação podem ser pensadas como reações de condensação também. + H2OCH3 CH2 O H CH3CH2OH+ CH3 CH2 O CH2 CH3 Etanol Éter dietílicoEtanol 1.16.7 Reações de oxidação e redução em química orgânica Várias das reações que abordamos anteriormente podem ser classificadas como reações de oxidação ou redução. Em química orgânica não é tão simples perceber, a partir da verificação somente do número de oxidação (Nox) se uma molécula sofreu oxidação ou redução. No entanto, uma regra bastante difundida e que consegue resolver a grande maioria dos casos é: Oxidação: ganho de oxigênio ou perda de hidrogênio. Redução: perda de oxigênio ou ganho de hidrogênio. UNIUBE 69 OH O C6H12O C6H10O C O H C O OH C7H6O C7H6O2 Cicloexanol Cicloexanona Benzaldeído Ácido benzoico Oxidação Redução Oxidação Redução Observe que o cicloexanol possui doze átomos de hidrogênio enquanto a cicloe- xanona possui apenas dez átomos de hidrogênio. Dessa forma, ao ser transfor- mado em ciclohexanona, o cicloexanol sofreu oxidação. No caso do benzaldeído, os átomos de hidrogênio permanecem os mesmos nos dois casos, porém no ácido benzoico temos um átomo de oxigênio a mais. Portanto, podemos concluir que o benzaldeído, ao ser transformado em ácido benzoico, sofreu oxidação. Observe que o processo inverso é de redução, conforme consta na definição dada anteriormente. agora é a sua vez 31. Uma reação muito comum empregada em laboratório para determinação de glicose é a sua conversão em ácido glucônico e peróxido de hidrogênio (H2O2), conforme apresenta a reação a seguir: CC OH H C H OH C OH H C OH H HOH2C O H Glicose CC OH H C H OH C OH H C OH H HOH2C O OH Ácido glucônico O2 H2O+ + H2O2+ Diga se nesta reação a glicose sofre oxidação ou redução. Faça o mesmo para a molécula de água (H2O), explicando seu raciocínio em ambos os casos. 70 UNIUBE 1.17 Conclusão A Química Orgânica é o estudo dos compostos de carbono. Este átomo é tetravalente, ou seja, para adquirir estabilidade, faz quatro ligações. Átomos de carbono podem formar entre si ligações simples (C–C), duplas (C=C) e triplas (C=C). Os tipos mais simples de compostos orgânicos são os hidrocarbonetos, que são constituídos por ligações apenas entre carbono e hidrogênio. Os hidrocarbonetos se dividem em alcanos, alcenos, alcinos e hidrocarbonetos aromáticos, tendo como principal característica a quantidade de ligações entre os átomos de carbono e a cadeia fechada, que os difere dos demais. Existem ainda outras funções que são caracterizadas por conterem oxigênio – são os álcoois, fenóis, éteres, ácidos carboxílicos, ésteres e cetonas. Algumas funções são características por conterem nitrogênio, são as chamadas funções nitrogenadas, como as aminas e amidas. Por fim, ainda temos as substâncias que possuem funções mistas, ou seja, na sua composição existe mais de uma função orgânica. Por meio das reações orgânicas podemos obter vários produtos que facilita o dia a dia, como os detergentes e medicamentos, dentre outros. Por meio de algumas reações específicas, também é possível obter, a partir de uma função orgânica, outra diferente. Os aldeídos e cetonas podem ser produzidos pela oxidação de alguns alcoóis, por exemplo, os alcenos e alcinos sofrem reações de adição. Alguns outros tipos de reações orgânicas são de grande importância, como as de substituição, condensação e hidrólise, dentre outras. Referências ALLINGER, N. L. et al. Química orgânica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1978. BARBOSA, L. C. A. Introdução à química orgânica. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2004. BRESLOW, R. Mecanismos de reações orgânicas: uma introdução. 2. ed. São Paulo: Edart, 1973. CLAPP, L. B. Química do grupo OH. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 1969. MORRISON, R. T.; BOYD, R. N. Química orgânica. 13. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1996. SOLOMONS, T. W. G. Química orgânica. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1996. STOCK, L. M. Reações de substituição aromáticas. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 1969. Mauro Luiz Begnini Introdução Nesta unidade será abordada a química dos hidrocarbonetos insa- turados, como os alcenos e os hidrocarboneto saturados, deno- minados de cicloalcanos. O estudo dessa classe de compostos permitirá a compreensão de suas propriedades e a nomenclatura oficial para os com- postos insaturados. O estudo da possibilidade de isomeria geométrica em compostos insaturados e cicloalcanos possibilita a interpretação das diferentes propriedades dos isô- meros geométricos. Cabe ressaltar que as discussões sobre os con- ceitos trabalhados não se esgotam nesta unidade, perpassando as outras unidades temáticas do curso. Assim, o estudo de química dos hidrocarbonetos insaturados possibilita a compreensão de suas propriedades em função de suas características. Em unidades posteriores passaremos a estudar as reações químicas desses compostos, buscando levar ao educador e ao educando os conhecimentos necessários para o desenvolvimento de habilidades cognitivas acerca dos assuntos abordados. O estudo dos hidrocarbonetos insaturados: nomenclatura, propriedades e isomeria geométrica Capítulo 2 Hidrocarboneto Compostos orgânicos formados apenas por átomos de carbono e hidrogênio. Podem ser saturados e insa- turados. Hidrocarboneto saturado Composto formado apenas por carbono e hidrogênio, contém so- mente ligações simples. Hidrocarboneto insaturado Composto formado apenas por carbono e hidrogênio, contém liga- ções duplas e/ou triplas (insaturações). 72 UNIUBE Objetivos Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • analisar moléculas orgânicas; • nomear os compostos insaturados; • identificar hidrocarbonetos insaturados; • reconhecer a isomeria geométrica em compostos; • estabelecer a isomeria geométrica em composto s insaturados e cicloalcanos. Esquema O que veremos neste capítulo: • hidrocarbonetos saturados e insaturados; • a química dos alcenos; • nomenclatura dos alcenos; • a isomeria geométrica em alcenos; • regras para a nomenclatura cis e trans; • o sistema (E) e (Z) para alcenos; • isomeria geométrica em compostos cíclicos. 2.1 Hidrocarbonetos saturados e insaturados Como já comentado e discutido em unidades passadas, muitos compostos que existem na natureza são formados apenas por átomos de carbono e hidrogênio, sendo chamados de hidrocarbonetos. relembrando Hidrocarbonetos são os compostos formados apenas por átomos de carbono e hi- drogênio. UNIUBE 73 Os hidrocarbonetos podem ser constituídos por átomos de carbono saturados (ligados somente por ligações simples) ou insaturados (ligados a ligações duplas e/ou triplas). A seguir estão representadas algumas estruturas de hidrocarbonetos insaturados existentes em nosso cotidiano. Esses compostos, representados acima, demonstram a importância dos hi- drocarbonetos insaturados em nosso cotidiano. Veja: • alcenos: hidrocarbonetos contendo átomos de carbonos insaturados. • alcadienos: mais que uma insaturação. • enoínos: compostos contendo ligações duplas e triplas. • hidrocarbonetos aromáticos: derivados do núcleo benzênico. O primeiro deles, ß -caroteno, pertence a uma classe de compostos chamados de carotenoides, e é o responsável pela coloração laranja de muitos legumes, como a cenoura, o pimentão, bem como em grãos, como os grãos de milho. 74 UNIUBE Esses produtos comestíveis que possuem ß -caroteno são fontes de vitamina A, pois quando ingeridos, o mesmo é convertido em vitamina A (retinol). Outros compostos, como o feromônio de atração sexual de diversas espécies de insetos, também são hidrocarbonetos insaturados. Esses compostos são exalados pelos insetos para que exista a comunicação química na mesma es- pécie, e entre as espécies. Veja que, nessa estrutura química, aparece aisomeria geométrica bem definida, a qual é fundamental para as propriedades dos compostos. Esse tipo de isomeria será bastante trabalhado nesta unidade. Já o eteno, também chamado de etileno, é um gás usado na fabricação de polímeros (plásticos) como o polietileno. Como você pode perceber, a classe dos alcenos é vasta de exemplos e, portanto, possui uma grande aplicação em nosso cotidiano. Uma outra classe de hidrocarbonetos insaturados é a dos derivados do benzeno. Eles também são chamados de hidrocarbonetos aromáticos, pois possuem liga- ções simples e duplas alternadas na estrutura cíclica. Esses tipos de estruturas aparecem em muitos compostos com atividades biológicas. Como você pode perceber, entre os muitos compostos, de origem natural ou sintética em nosso cotidiano, podemos citar o etileno (hormônio responsável pela maturação das frutas) e o retinol (vitamina A, importante na manutenção da visão e da pele). importante! Todos esses compostos possuem uma particularidade: são completamente insolúveis em água. Agora que fizemos uma pequena introdução sobre o mundo dos hidrocarbone- tos insaturados, vamos iniciar nosso estudo pela química de um dos membros dessa classe, os alcenos. Feromônio Substâncias orgânicas exaladas por espécies de animais e peixes que são utilizadas para a comunicação química entre os insetos da mesma espécie e também em espécies diferentes. UNIUBE 75 2.2 A química dos alcenos Os alcenos, também chamados de alquenos ou olefinas, são compostos fre- quentemente encontrados não somente como moléculas simples e pequenas, mas também como moléculas mais complexas. A característica dessa classe de hidrocarboneto é a presença de uma ligação dupla entre dois átomos de carbonos (C=C), o que os diferencia dos alcanos. Assim, pode -se dizer que um alceno ou alcino (uma ligação tripla) possui muita semelhança nas propriedades físicas e químicas (com algumas diferenças apli- cadas que serão vistas em outras unidades), quando comparado a um alcano (com cadeia carbônica e massa molecular comparável), tais como: • ponto de ebulição; • densidade; • solubilidade; • polaridade. Alcenos ou alcinos de até quatro átomos de carbono (exceto o 2 -butino) são gases à temperatura ambiente. Sendo relativamente apolares, alcenos e alcinos, assim como os alcanos, dissolvem -se em solventes orgânicos apolares. Os hidrocarbonetos, de modo geral, possuem densidade em torno de 0,7 g/mL, ou seja, são menos densos que a água. O que diferencia um alceno de um alcano são as propriedades químicas, ou seja, a sua reatividade, a qual é determinada pela presença de uma ligação pi (π), mais fraca que as ligações sigmas (σ) dos alcanos. 76 UNIUBE Como podemos observar na figura acima, os alcenos possuem ao menos dois átomos de carbono com hibridização do tipo sp2 (visto no terceiro volume da primeira etapa), com geometria trigonal plana. Outra ferramenta importante no estudo dos hidrocarbonetos é o uso da fórmula geral para predizer o número de hidrogênios em um composto, a partir do número de átomos de carbono presentes em sua estrutura. Algumas fórmulas gerais estão apresentadas na tabela abaixo: Hidrocarboneto Fórmula geral Alcanos CnH2n + 2 Alcenos e cicloalcanos CnH2n Alcinos e cicloalquenos CnH2n - 2 Enoinos e dienos CnH2n - 4 Qual seria a fórmula molecular de um alcano acíclico com oito átomos de carbono? Bem, como n = 8 e a fórmula geral de um alcano é CnH2n+2, então o número de hidrogênios é: 2 x 8 + 2 = 18. Então a fórmula para o alcano de oito carbonos é: C8H18. Dessa maneira, conseguimos escrever a fórmula molecular dos hidrocarbonetos com base na fórmula geral de cada espécie. 2.2.1 Nomenclatura de alcenos A nomenclatura de alcenos é bastante simples e segue, praticamente, as mesmas regras para a nomenclatura de alcanos, apresentando apenas uma diferença. importante! A diferença fundamental consiste na presença de insaturações que devem, obriga- toriamente, fazer parte da cadeia principal. UNIUBE 77 Dessa maneira, a numeração da cadeia principal deve ser feita a partir da extremidade mais próxima da insaturação, de modo que esta apresente os menores valores possíveis, e os radicais devem ser escritos na ordem alfabética dos seus respectivos nomes. Abaixo estão relacionados alguns exemplos e a forma como podemos nomear esses compostos. Dando nome aos compostos: A cadeia principal deve conter a dupla ligação, característica dos alcenos, e apresentar o maior número possível de átomos de carbonos em sequência. Assim temos: Cadeia principal: hepteno (sete átomos de carbono) Posição da dupla ligação: carbono 2 Radicais: metil, metil e metil: trimetil terc -butil ou t -butil 78 UNIUBE Posições dos radicais: metil = C4 metil = C5 metil = C5 terc -butil = C3 Dessa maneira, o nome para esse composto fica: 3 -terc -butil -4,5,5 -trimetil -2 -hepteno (O prefixo terc - é desconsiderado na ordem alfabética) Verifique que os prefixos (di -, tri -) não fazem parte do nome e não influenciam a ordem alfabética do nome dos radicais. Essa sistemática de nomenclatura vem sendo adotada há muito tempo. No entanto, a Iupac (International Union of Pure and Applied Chemistry), mais recente- mente introduziu uma nova metodologia para indicar a ligação dupla. Alguns livros já trazem esse tipo de numeração. Para o composto anterior, o nome ficaria da seguinte maneira: 3 -terc -butil -4,5,5 -trimetil -hept -2 -eno Ou seja, o número que indica a posição da ligação dupla vem entre o prefixo que indica o número de carbonos da cadeia principal (hept = sete átomos de carbono) e o sufixo que indica a função orgânica (eno = alceno). 2.2.2 A isomeria geométrica em alcenos O fato de alcenos apresentarem uma ou mais ligações duplas torna a molécula bastante rígida, permitindo que exista a isomeria geométrica, cis e trans, para esse tipo de composto. Já nos alcanos, isso não é possível devido à livre rotação dos carbonos tipo sp3. importante! Com exceção apenas para os cicloalcanos, que são moléculas bastante rígidas e que permitem esse tipo de nomenclatura diferenciada. UNIUBE 79 As nomenclaturas cis (mesmo lado) e trans (lados opostos) somente serão possíveis quando, além da presença de uma ligação dupla, cada um dos átomos dos carbonos da dupla ligação possuir dois grupamentos ou ligantes diferentes entre si. Considere as duas substâncias abaixo: Observe que, quando as estruturas químicas são escritas em um mesmo plano (na sua forma plana), não é possível verificar diferença entre as duas espécies e, inclusive, o nome de cada uma delas será o mesmo, 2 -buteno ou but- -2 -eno. No entanto devido ao fato de ser um alceno (contém uma ligação dupla), o mesmo se apresenta na forma de uma molécula bastante rígida, fazendo com que existam as duas estruturas, na forma de dois isômeros geométricos: um cis e outro trans. Isômeros geométricos São compostos que possuem a mesma fórmula molecular, apresentam os mesmos radicais, mas diferem na disposição geométrica dos grupos ligados aos carbonos da dupla ligação de um alceno ou a um cicloalcano. 80 UNIUBE Para resolver essa questão existem algumas regras que são bastante úteis. Vamos a elas! 2.2.3 Regras para nomenclatura cis e trans A denominação cis ou trans é adequada apenas para moléculas dissubstituí- das, ou seja, que apresentem apenas dois tipos de substituintes. No exemplo anterior (H3C), existem apenas dois substituintes, um sendo o hidrogênio (H) e o outro grupo metil (– CH3). Quando os dois grupos metila estiverem do mesmo lado da dupla ligação, temos o isômero cis. E quando estiverem em lados opostos, tem -se a isomeria trans. Isso pode ser feito tranquilamente para qualquer sistema dissubstituído, se- gundo as condições estabelecidas no exemplo anterior. Outra situação a considerar é quando estivermos trabalhando com moléculas tris- substituídas ou tetrassubtituídas. Nesse caso, em vez de utilizar a nomenclaturacis -trans, usa -se a denominação E - Z. O fato é que a questão de estabelecer prioridades dos grupamentos é realizada apenas para o sistema de nomenclatura E - Z, fato este necessário quando se tem os carbonos de: • uma dupla ligação; • trissubstituídos (três substituintes diferentes); • ou tretrassubstituídos (quatro substituintes deferentes). Nesse ponto, faz -se necessário estabelecer a prioridade dos grupamentos para que se tenha uma denominação adequada para essas moléculas. Dessa forma, recomendamos uma revisão desse tópico de isomeria, segundo as colocações: UNIUBE 81 1 Analise separadamente cada carbono sp2 da dupla ligação. Estabeleça uma escala de prioridade para os dois grupamentos ligados aos dois carbonos da ligação dupla. 2 Note que um dos carbonos e os átomos estão ligados diretamente ao carbono da dupla ligação. Terá maior prioridade o átomo diretamente ligado ao carbono e que contenha a maior massa atômica. No início, quando começou a realizar esse tipo de prioridade, realmente recomendava -se que essa fosse estabelecida com base na massa atômica do elemento. Mas, ultimamente, tem -se realizado a questão de prioridade com base no número atômico do elemento, pois ocorrem algumas inversões de massa atômica, quando o número atômico cresce. Exemplos são Telúrio (Z = 52 e massa atômica = 127,6 u) e lodo (Z = 53 e massa atômica = 126,9 u); outro exemplo são os metais Cobalto (Z = 27 e massa atômica = 58,93 u) e Níquel (Z = 28 e massa atômica = 58,69 u). Observamos então que o número atômico é mais aquedado para se estabelecer a prioridade, conforme recomendado nos livros publicados mais recentemente. 3 Caso os átomos ligados diretamente tenham o mesmo número atômico, ou seja, a mesma prioridade, analise os átomos subsequentes e estabeleça uma ordem de prioridade para os dois radicais. 4 Se um átomo está ligado duplamente com outro átomo, o sistema de prioridade trata como se estivesse usando ligações simples a dois daqueles átomos. Caso um esteja ligado triplamente com outro átomo, o sistema de prioridades trata como se ele estivesse ligado a três do mesmo átomo. 5 No caso de isótopos (átomos com o mesmo número atômico, mas diferente número de massa), o número de massa é usado para determinar a prioridade relativa. 6 Observe: se os grupamentos com maior prioridade estiverem do mesmo lado da ligação dupla, este composto terá isometria geométrica do tipo cis; se estiverem em lados opostos, o composto será trans. Analisando outro exemplo, verificamos que os isômeros geométricos possuem propriedades físicas e químicas diferentes. Isso evidencia novamente a presença de duas substâncias com características diferentes em função da diferença estrutural dos compostos. Veja, no exemplo a seguir, as propriedades físico -químicas dos isômeros geo- métricos do 1,2 -dicloroeteno. 82 UNIUBE Fórmula molecular: C2H2Cl2 Fórmula molecular: C2H2Cl2 Massa molar: 97 g/mol Massa molar: 97 g/mol Ponto de ebulição: 60 oC Ponto de ebulição: 48 oC Densidade: (20 oC): 1,26 g/cm3 Densidade: (20 oC): 1,26 g/cm3 Observe que as propriedades de cada isômero são diferentes em função da diferença estrutural dos mesmos. Assim, podemos considerar dois isômeros geométricos como dois compostos diferentes. Agora que conhecemos as diferenças nos isômeros geométricos e as regras para a nomenclatura, vamos trabalhar com alguns exemplos. Vamos analisar estes exemplos! Na letra a: • Primeiro carbono da ligação dupla possui dois grupamentos ligados a ele, um átomo de hidrogênio e um radical metila. Para saber se o composto é cis ou trans, observe os átomos dos grupamentos que estão ligados diretamente aos carbonos sp2 da ligação dupla. Um dos grupamentos possui o átomo de hidrogênio ligado diretamente ao átomo de carbono da ligação dupla, enquanto o radical metila contém o átomo de carbono do grupo –CH3 ligado diretamente UNIUBE 83 ao carbono da ligação dupla. Assim sendo, o carbono com número atômico 6 possui prioridade sobre o hidrogênio, com número atômico igual a 1. Assim o grupamento metila tem prioridade sobre o radical hidrogênio. • Para o segundo carbono da ligação dupla, vamos fazer a mesma análise. De um lado, temos o átomo de iodo, e do outro, o átomo de hidrogênio. O iodo, tendo número atômico maior, tem prioridade sobre o hidrogênio. Finalmente, os dois grupamentos que têm maior prioridade estão do mesmo lado da ligação dupla, assim o composto a da figura acima possui isomeria geométrica (Z) ou cis. Dessa maneira, podemos fazer a análise para os outros compostos. Por exem- plo, o composto da letra c: • Um dos carbonos da ligação dupla está ligado diretamente a um átomo de cloro e um de hidrogênio, em que o cloro tem prioridade por ter maior número atômico. O outro carbono da ligação dupla tem um grupamento –OH (possui o átomo de oxigênio ligado diretamente ao carbono da ligação dupla) e uma cadeia de carbonos (em que possui um carbono ligado diretamente ao carbono da ligação dupla). Como o oxigênio tem peso atômico maior que o carbono, o grupamento –OH tem prioridade sobre a cadeia de carbonos. Assim, como os dois grupamentos que têm maior prioridade estão do mesmo lado, isso caracteriza um isômero geométrico (Z) ou cis. agora é a sua vez 1. Faça a interpretação para a isomeria geométrica para os outros dois compostos da figura anterior (letras b e d). E quando os radicais contiverem somente carbonos ligados aos carbonos da ligação dupla, como é feita a análise? Inicialmente, é importante considerar que a prioridade é estabelecida pelo átomo diretamente ligado ao carbono da ligação dupla. Assim sendo, vamos aos exemplos. Os compostos a e b possuem em cada carbono da ligação dupla um grupamento metila e um átomo de hidrogênio. Como o átomo de carbono do grupamento metila possui maior prioridade sobre o átomo de hidrogênio, os radicais metilas têm prioridade sobre os átomos de hidrogênio. Desse modo, o composto a é cis e o b é trans. 84 UNIUBE Agora, para os compostos c e d, a interpretação é um pouco mais detalhada. Veja o composto c: • um dos carbonos da ligação dupla possui o grupamento metila e hidrogênio, o metila tendo prioridade. O outro átomo de carbono da ligação dupla possui o grupamento metila e etila. Nesses dois grupamentos temos o átomo de carbono nos dois ligados ao carbono da ligação dupla. Assim, não temos como estabelecer a regra de prioridade somente olhando o átomo diretamente ligado. Dessa maneira, devemos observar os átomos subsequentes que es- tão ligados a esses átomos de carbono. Veja que no grupamento metila, o átomo de carbono tem três átomos de hidrogênio ligados nele, enquanto no etila existem dois átomos de hidrogênio e um átomo de carbono, tendo as- sim prioridade deste grupamento sobre o metila. Assim o composto c possui isomeria geométrica Z. Dessa maneira, temos uma pequena regra útil para a escolha de prioridades: importante! Quando o grupamento a ser analisado contiver somente carbono e hidrogênio em cadeia normal (sem ramificação), terá prioridade o de maior cadeia carbônica. A análise para o composto d é também mais detalhada. • Um dos carbonos da ligação dupla deste composto contém os grupamentos metila e etila, tendo o etila prioridade, conforme discutido para o composto c. O outro carbono da ligação dupla contém os grupamentos propila e isopropila. Assim a análise mostra que os dois grupamentos possuem o átomo de carbono ligado diretamente ao carbono da ligação dupla, não podendo estabelecer a ordem de prioridade somente com essa análise. Assim, no grupamento etila, temos, subsequentemente, dois átomos de hidrogênio e um de carbono ligado ao carbono, enquanto no grupamento isopropila temos, subsequentemente, um átomo de hidrogênio e dois carbonos. Abaixo está colocada essa interpretação na figura. UNIUBE 85 Podemos observar que o radical isopropila tem prioridade sobre o radical propila. E uma nova regra pode ser escrita para auxiliar aprioridade: importante! Quando o grupamento a ser analisado contiver somente carbono e hidrogênios, e com um radical normal e um com ramificações, o radical com ramificações tem prioridade sobre o de cadeia normal. Assim, podemos estabelecer a isomeria geométrica para cada ligação dupla em compostos contendo insaturações. agora é a sua vez 2. Procure encontrar a isomeria geométrica para o b -caroteno, retinol e o feromônio encontrados no início desta unidade. 2.2.4 O sistema (E) e (Z) para alcenos Aprendemos a aplicar a nomenclatura cis e trans para alcenos em função do sistema rígido que confere a ligação dupla desses compostos. No entanto, um sistema mais novo é baseado também nas prioridades dos grupamentos, estabelecida por Cahn -Ingold -Prelog – três químicos. Esse sistema, chamado de sistema (E) e (Z), pode ser aplicado a qualquer tipo de alceno que contenha isomeria geométrica. Observe: se os grupamentos com maior prioridade estiverem do mesmo lado da ligação dupla, este composto terá isomeria geométrica do tipo cis, ou também chamado de (Z), da palavra alemã zusammem, que significa junto. Se os dois grupos de maior prioridade estiverem em lados opostos da ligação du- pla, o alceno é designado de (E), da palavra alemã entgegen, que significa oposto. importante! Desse modo, um alceno cis pode ser também chamado de (Z), e um alceno trans é chamado de (E). 86 UNIUBE Veja os exemplos abaixo: Veja outros exemplos interessantes: Nos dois compostos acima, um dos carbonos sp2 está ligado em ambos os casos ao cloro e ao carbono do grupo CH2Cl. O cloro tem o número atômico maior do que o carbono, assim o cloro apresenta maior prioridade. Os átomos ligados ao outro carbono sp2 são o carbono do grupo CH sp2 [são o carbono do grupo CH2OH e do grupo CH(CH3)2], de modo que ocorre um “empate” nesse ponto. O carbono do grupo CH2OH está ligado a O, a H e a outro H, e o carbono do grupo CH(CH3)2 está ligado a C, a outro C e a H. Desses seis átomos, O tem maior número atômico. Sendo assim, o grupo CH2OH apresenta maior prioridade que o grupo CH(CH3)2. UNIUBE 87 importante! Observe que não se pode somar os números atômicos; deve -se apenas usar o átomo que possua o maior número atômico. Por meio desse sistema podemos nomear todos os alcenos, dos mais simples aos mais complexos, inclusive encontrar a isomeria de compostos insaturados conjugados. Abaixo são colocados dois sistemas insaturados conjugados (die- nos), em que fizemos omissão dos hidrogênios, escrevendo apenas o esqueleto carbônico. Veja os exemplos: O nome das substâncias vem precedido pela isomeria geométrica das ligações duplas que são determinadas pela análise de acordo com a prioridade dos grupos. agora é a sua vez 3. Dê o nome, juntamente com a isomeria geométrica, para os seguintes compostos: 88 UNIUBE O conhecimento da nomenclatura cis e trans, assim como o sistema (Z) e (E) dos sistemas insaturados, é importante para a compreensão das pro- priedades dos compostos. A diferença entre dois isômeros geométricos faz com que os dois compostos tenham propriedades físicas e químicas diferentes. Veja o exemplo: feromônio sexual da mosca doméstica composto sem atividade biológica Analisando as duas estruturas acima, observamos que elas são idênticas, ape- nas tendo a diferença na isomeria geométrica, ou seja, a estrutura de uma é o isômero geométrico da outra. O composto da letra a é um composto exalado pela mosca doméstica, como um atrativo sexual. Esse composto é sintetizado e utilizado como atrativo em armadilhas biológicas. Já seu isômero geométrico acima não possui atividade biológica. Isso evidencia que determinados compostos possuem diferentes propriedades físicas e químicas em função apenas da diferença na isomeria geométrica. Outro exemplo bastante interessante é apresentado abaixo: UNIUBE 89 Vamos analisar esses compostos? • uma vez que os átomos ligados ao carbono sp2 são ambos carbonos, acontece uma igualdade de prioridade. Vamos ao desempate: • o primeiro carbono do grupo CH2CH3 está ligado a C, a H e a outro H. O pri- meiro carbono do grupo CH=CH2 está ligado a H e duplamente a C. Assim, é considerado como se estivesse ligado a C, a outro C e a H; • um carbono é cancelado nos dois grupos, restando dois H no grupo CH2CH3; • o carbono tem prioridade sobre o hidrogênio, logo o grupo CH=CH2 apresenta maior prioridade que CH2CH3; • os dois átomos ligados ao outro carbono sp2 são carbonos, havendo outro empate; • o carbono da ligação tripla é considerado como se estivesse ligado a três átomos de carbono; • outro está ligado a O, a H e a outro H; • desses átomos, o oxigênio apresenta o maior número atômico, de modo que o grupo CH2OH tem prioridade sobre o grupamento que contém a ligação tripla. Continuando, a isomeria geométrica também está presente em compostos inorgânicos, como por exemplo, o composto de fórmula molecular Pt(NH3)2Cl2. Esse composto se apresenta na forma de um quadrado planar, conforme figura apresentada a seguir. Dessa maneira, existem dois tipos de compostos, em que somente o composto que possui os dois átomos de cloro no mesmo lado é que apresenta atividade quimioterápica, enquanto seu isômero, que possui os átomos de cloro em po- sições opostas, não apresenta essa atividade. Essa é mais uma aplicação da isomeria geométrica, também na química inorgânica. 90 UNIUBE 2.3 Isomeria geométrica em compostos cíclicos Acabamos de ver que o fato de alcenos serem moléculas rígidas, ou seja, de não terem liberdade de rotação ao redor da dupla ligação C=C permite, dependendo dos grupamentos nos carbonos, a existência de isômeros geométricos. A presença de um ciclo em uma molécula pode também dar origem a isômeros geométricos cis e trans, uma vez que, na ligação dupla, o ciclo não permite livre rotação ao redor da ligação C -C. Considere, como exemplo desse tipo de situação, o 1,2 -dimetil -ciclo -butano a seguir. A nomenclatura é encontrada de modo análogo ao caso da isomeria geométrica em compostos com ligação dupla. Neste caso não basta somente a presença do ciclo para que haja isomeria geométrica, mas também há a necessidade de que pelo menos dois dos carbonos do ciclo apresentem grupamentos diferentes um do outro. UNIUBE 91 Veja a figura a seguir: Compostos cíclicos apresentam isomeria geométrica e isso faz com que os isô- meros tenham propriedades físicas e químicas diferentes. Outro tipo de isomeria que veremos em unidades posteriores é a isomeria espacial ou óptica, a qual possui vasta aplicação na indústria de fármacos e medicamentos. Isso será visto mais adiante em outras unidades de estudo do curso. 2.4 Conclusão Os alcenos são hidrocarbonetos alifáticos que contêm ligações duplas (insatura- ções). Esta dupla ligação caracteriza o grupo funcional que veremos no capítulo adiante, e que é o centro de reatividade dos alcenos. A fórmula geral para os alcenos é CnH2n+2 e na nomenclatura possui como identificador o sufixo “eno”. Portanto, uma molécula do tipo H2C=CH2 receberia o nome, segundo a Iupac, de eteno – o prefixo “et” é devido à quantidade de carbonos na molécula. Como os alcenos contêm menos hidrogênios do que o número máximo permitido, são chamados de insaturados, e já os alcanos, por terem todos os hidrogênios, são ditos saturados. Como as ligações duplas não permitem que estas substâncias “girem”, ou seja, a rotação em volta da insaturação é restrita, estes compostos podem existir na forma de isômeros cis e trans. O isômero cis apresenta os hidrogênios no mesmo lado da ligação dupla e o isômero trans possui os hidrogênios em lados opostos da ligação dupla. O isômero Z apresenta os grupos de maior prioridade no mesmo lado da ligação dupla e o isômero E apresenta os grupos de maior prioridade em lados opostos da ligação dupla. Essas prioridades dependem do número atômico dos átomos ligados diretamente aos carbonos do tipo sp2. 92 UNIUBE Mauro1.16.7 Reações de oxidação e redução em química orgânica ...................................68 1.7 Conclusão....................................................................................................................70 Capítulo 2 O estudo dos hidrocarbonetos insaturados: nomenclatura, propriedades e isomeria geométrica .............................................71 2.1 Hidrocarbonetos saturados e insaturados ...................................................................72 2.2 A química dos alcenos ...............................................................................................75 2.2.1 Nomenclatura de alcenos ...................................................................................76 2.2.2 A isomeria geométrica em alcenos ...................................................................78 2.2.3 Regras para nomenclatura cis e trans ...............................................................80 2.2.4 O sistema (E) e (Z) para alcenos .......................................................................85 2.3 Isomeria geométrica em compostos cíclicos ...............................................................90 2.4 Conclusão....................................................................................................................91 Capítulo 3 O estudo das principais reações de obtenção e de adição a alcenos ..................................................................93 3.1 Obtenção de alcenos ................................................................................................94 3.1.1 Eliminação de água (desidratação) de alcoóis ...................................................95 3.1.2 Reações de eliminação de halogenidretos (HCl, HBr e HI) de haletos orgânicos ......................................................................................... 95 3.1.3 Reações de eliminação de halogênio de di -haletos vicinais ..............................96 3.2 Como os alcenos reagem............................................................................................97 3.3 Reações de adição de hidrogênio ou reação de hidrogenação catalítica .............100 3.4 Reações de adição eletrofílicas .............................................................................102 3.4.1 Adição de haletos de hidrogênio ..................................................................102 3.5 Estabilidade de carbocátions .................................................................................105 UNIUBE VII 3.6 Reações de adição de água e alcoóis a alcenos .................................................107 3.7 O efeito peróxido .....................................................................................................109 3.8 Reações de adição de halogênios ........................................................................110 3.9 Reações de polimerização ...................................................................................... 111 3.10 Reação de alcenos ..................................................................................................112 3.10.1 Adição de haletos de hidrogênio ....................................................................112 3.10.2 Adição de água e de álcoois ..........................................................................115 3.10.3 Rearranjo de carbocátions .............................................................................118 3.10.4 Adição de halogênios .....................................................................................120 3.11 Conclusão ................................................................................................................123 Capítulo 4 O estudo dos compostos aromáticos e derivados do benzeno .................................................................125 4.1 O descobrimento do anel benzênico .........................................................................126 4.1.1 A estrutura do benzeno: a ressonância, o sonho que virou realidade ..............129 4.2 A classificação dos hidrocarbonetos aromáticos .......................................................133 4.2.1 Aromáticos mononucleares ou monocíclicos ..................................................133 4.2.2 Aromáticos polinucleares ou policíclicos ..........................................................135 4.3 Nomenclaturas dos derivados do benzeno ...............................................................136 4.4 Compostos aromáticos heterocíclicos .......................................................................141 4.5 A regra de Hückel de aromaticidade: a regra dos (4n + 2) elétrons p .......................142 4.6 A preparação de compostos aromáticos ...................................................................143 4.7 A toxicidade do benzeno e dos compostos aromáticos .............................................146 4.8 Curiosidade: a descoberta dos fulerenos ..................................................................147 4.9 Conclusão..................................................................................................................148 Apresentação Prezado(a) aluno(a). Estamos iniciando nosso estudo sobre a química orgânica e, ao final desse estudo, você perceberá o quão importante são as substâncias orgânicas para o nosso cotidiano, já que estas podem servir de matéria-prima de partida para a síntese de várias outras. No primeiro capitulo, “Introdução à química orgânica”, abordaremos conceitos sobre as principais funções orgânicas existentes, sua nomenclatura e propriedades físico-químicas. Além disso, veremos também as principais reações químicas na química orgânica, já que estas são empregadas para vários fins, como por exemplo, a produção de energia, medicamentos, alimentos, etc. No segundo capitulo, intitulado “O estudo dos hidrocarbonetos insaturados: nomenclatura, propriedades e isomeria geométrica”, focaremos no estudo dos alcenos, que são hidrocarbonetos insaturados capazes de formarem isômeros. O estudo desses compostos possibilitará a compreensão de suas diferentes propriedades em função dos isômeros gerados. “O estudo das principais reações de obtenção e de adição a alcenos” é o título do terceiro capitulo. Nele, ainda destacando os alcenos, abordaremos as principais reações de obtenção dos alcenos, juntamente com as principais reações de adição nucleofílica. Todo esse destaque a essa classe de compostos se dá devido à versatilidade de transformar os alcenos em outros compostos por meio das reações que serão apresentadas. Isso faz com que os alcenos sejam uma das principais matérias-primas dentro da indústria química. Para finalizar, no quarto capitulo, iremos trabalhar com os compostos aromáticos e derivados do benzeno. Esse estudo é relevante pois a família dos compostos aromáticos é tão numerosa que faz com que se torne muito importante para a química orgânica. O que se espera quando falamos em aromaticidade é que a estrutura orgânica apresente um anel benzênico, mas você verá, ao final do estudo desse material, que nem sempre será assim. X UNIUBE Como você poderá perceber, este livro apresenta uma série de informações importantes que, se bem assimiladas, certamente muito irão contribuir para a sua formação profissional. Espera-se que, a partir delas, você queira ampliar seus conhecimentos de química orgânica, em pesquisas e leituras pessoais que irá buscar por conta própria. Bons estudos! xxxxxxxxx Introdução xxxxxx Objetivos • xxxxxx Leitura do texto literário: metodologia da leitura crítica Capítulo 1 Natal Junio Pires Introdução Química orgânica e a sociedade Por muitas décadas, a sociedade humana tem propositadamente liberado numerosos produtos químicos orgânicos sintéticos para o ambiente, como forma de controlar organismos indesejáveis tais como ervas daninhas, pragas, roedores e agentes patogênicos. Por exemplo, o DDT foi empregado há mais de 50 anos para controlar mosquitosLuiz Begnini Introdução Nesta unidade de estudo serão abordadas as principais metodologias de obtenção de alcenos, juntamente com as principais reações de adição eletrofílicas a alcenos. Além disso, vamos verificar que existem reações de adição que são seletivas, ou seja, que acontecem, preferencialmente, em determinado local na estrutura do alceno. Caro(a) aluno(a), você vai poder verificar que os alcenos são compos- tos muito versáteis, pois possibilitam serem transformados em outros compostos por meio de reações químicas diversas. Isso faz com que seja uma das principais matérias -primas dentro da indústria química e farmacêutica de modo geral. Assim, o estudo das principais reações de transformação de alcenos demonstra a importância dessa classe de compostos no cotidiano. Objetivos Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • estudar as principais metodologias de obtenção de alcenos; • compreender a reatividade dos alcenos; • analisar e pensar as reações de adição a alcenos; • reconhecer a formação de um carbocátion; • compreender a estabilidade de um carbocátion; • identificar a seletividade em reações de adição a alcenos; • aplicar as reações de adição no cotidiano. O estudo das principais reações de obtenção e de adição a alcenos Capítulo 3 94 UNIUBE Esquema O que veremos neste capítulo: • a obtenção de alcenos; • eliminação de água (desidratação) de alcoóis; • reações de eliminação de halogenidretos (HCl, HBr e HI) de haletos orgânicos; • reações de eliminação de halogênio de di -haletos vicinais; • como os alcenos reagem (eletrófilo e nucleófilo); • reações de adição de hidrogênio ou reação de hidrogenação catalítica; • reações de adição eletrofílicas; • reações de adição de água e alcoóis a alcenos; • reações de adição de halogênios; • reações de polimerização. 3.1 Obtenção de alcenos Quando falamos em alcenos, de modo geral estamos falando da indústria pe- troquímica, que se torna cada dia mais importante em nossa sociedade. Essa indústria parte da nafta, que é a fração de destilação do petróleo correspondente a um tipo de gasolina bruta e, por meio do cracking e de outros processos, trans- forma essa nafta em alcenos, os quais podem ser transformados em um grande número de compostos químicos para uso em diferentes processos, visando sempre buscar o avanço tecnológico e a melhoria da qualidade de vida. Além da nafta como fonte de alcenos, estes podem ser preparados através de outros compostos por meio de reações de eliminação de átomos ou grupos de átomos, situados em carbonos vizinhos através de diferentes reações químicas. Na indústria petroquímica, os alcenos podem ser obtidos pela desidrogenação dos alcanos. Veja a reação de obtenção do eteno a partir do etano: Alcenos também podem ser obtidos em laboratório por meio de outras reações químicas, que veremos a seguir: UNIUBE 95 3.1.1 Eliminação de água (desidratação) de alcoóis Essa reação é realizada com sucesso pelo aquecimento do álcool líquido em presença de pequena quantidade de ácido sulfúrico (H2SO4) concentrado ou pela passagem de vapor do álcool sobre Al2O3 (óxido de alumínio), que atua como catalisador. Veja a reação de obtenção do eteno a partir do etanol. Quando a reação é realizada com alcoóis superiores, existirá a possibilidade de formação de mais compostos, sendo predominante o produto de reação que contenha a ligação dupla mais ramificada. Essa generalização é conhecida como regra de Saytzeff. Veja o exemplo: 3.1.2 Reações de eliminação de halogenidretos (HCl, HBr e HI) de haletos orgânicos Para a realização desse tipo de reação, utiliza -se hidróxido de potássio em solução alcoólica para retirar um hidrogênio ácido de uma molécula orgânica. Veja a reação a seguir: Essa reação é o inverso da hidratação de alcenos para a obtenção de alcoóis. Veremos isso ainda nesse capítulo! 96 UNIUBE 3.1.3 Reações de eliminação de halogênio de di - haletos vicinais A reação química entre um di -haleto vicinal (vizinho) com um metal eletropositivo, como o zinco, consegue arrancar um halogênio (eletronegativo) de uma molé- cula orgânica e levar à formação do alceno correspondente e um sal inorgânico. O alceno mais substituído, ou seja, a dupla que contiver mais substituinte é formada em proporção. Representamos acima a reação de obtenção do eteno a partir do tratamento do 1.2 -dibromo -etano com zinco. A maior fonte de alcenos a serem utilizados em muitas aplicações em nosso cotidiano, como na produção de polímeros sintéticos (veremos em unidades posteriores), ocorre através de reações de craqueamento da nafta na indústria petroquímica. Depois do estudo das principais metodologias de obtenção de alcenos, passa- remos a estudar algumas reações desses compostos para a obtenção de novos produtos. agora é a sua vez 1. Sugerimos que você pesquise textos que falem a respeito do petróleo e destilação fracionada. Você pode começar procurando em livros de química de ensino médio ou na Internet. Leia - os com atenção! Após a leitura, construa um texto, de 10 a 15 linhas, explicando como é feito o fracio- namento do petróleo e a que corresponde cada fração obtida. Vamos lá? UNIUBE 97 3.2 Como os alcenos reagem importante! Caro(a) aluno(a), muitas reações não serão tratadas neste roteiro, pois não é nossa intenção explorar e esgotar os conteúdos, mas sim sugerir obras e referências que poderão ser consultadas para complementar seus estudos. Inicialmente, é importante ressaltar que existem muitas reações que podem acontecer com um alceno. Isso se deve ao fato de que a ligação dupla C=C é um sítio bastante reativo. Veja o quadro simplificado a seguir, que demonstra a grande versatilidade sinté- tica dos alcenos, em função do grande número de transformações que podem sofrer por meio de diversas reações. Quadro 1: Principais reações de alcenos 98 UNIUBE Existem muitas substâncias orgânicas de origem natural ou sintética. Se tivéssemos que memorizar como cada uma delas reage, teríamos uma experiência bastante frus- trante em estudar química orgânica. Felizmente, as subs- tâncias orgânicas são divididas em famílias que possuem um comportamento de reação semelhante entre elas. Isso é determinado pela presença de um grupamento funcional que caracteriza a família. Você está começando a se familiarizar com os grupamen- tos funcionais. Os primeiros a serem estudados foram os alcenos, que contêm uma ligação dupla carbono -carbono. Todas as substâncias que contiverem uma ligação dupla carbono -carbono reagem de maneira semelhante, seja uma molécula simples, como o eteno, ou mais complexa, como o colesterol. A seguir está representada a reação de adição do ácido bromídrico ao eteno e ao colesterol. Observe que as reações somente ocorrem na dupla carbono - carbono, levando à formação de um composto saturado que contém o átomo de bromo na estrutura. Observe que não é suficiente saber que uma substância com uma ligação dupla carbono carbono reage com ácido bromídrico (HBr) para levar a formação de um produto com a adição de H e Br nos carbonos insaturados. É necessário entender por que a substância reage com determinadas espécies, como o HBr. Grupamento funcional (função orgânica) É a unidade estrutural que age como o centro da reatividade da molécula. Por exemplo, independente do tamanho da molécula, simples ou complexa, o que caracteriza a estrutura é o grupo funcional. UNIUBE 99 Essencialmente, a química orgânica discute a interação entre átomos ou molé- culas ricas em elétrons e átomos ou moléculas pobres (deficientes) de elétrons. importante! Então, é importante saber uma regra bastante simples e muito útil: Átomos ou moléculas ricos em elétrons são atraídos por átomos ou molé- culas pobres em elétrons. Ou ainda: Sítios pobres em elétrons atraem sítios ricos em elétrons. Assim sendo, cada vez que você for estudar um grupo funcional em química orgânica, lembre - se dessa regra simplespara compreender as reações possí- veis para cada função orgânica. Portanto, para entender como um grupamento reage, devemos primeiro reconhecer o que são átomos e moléculas, ricos e deficientes de elétrons. A seguir são apresentadas algumas definições importantes. a) Eletrófilo: a palavra eletrófilo significa “gostar de elétrons” (phile é um sufixo em grego que designa “gostar”). Assim, podemos conceituar eletrófilo como um átomo ou molécula deficiente de elétrons. Um eletrófilo pode ter um átomo que aceite um par de elétrons, ou pode ter um átomo com um elétron desemparelhado, e, assim, precisar de um elétron para completar seu octeto. A seguir podemos visualizar alguns exemplos de eletrófilos. 100 UNIUBE importante! É importante salientar que neste roteiro iremos apenas estudar as reações de adição de eletrófilos às ligações duplas de alcenos, sem nos preocupar com a velocidade de adição, tampouco com o mecanismo da reação. Em roteiros posteriores, quando você já tiver um bom contato com a cinética de uma reação química, ou seja, a velocidade com que uma reação ocorre, iremos detalhar e explorar os mecanismos das reações de adição com maiores detalhes. b) Nucleófilo: ao contrário de eletrófilo, um átomo (ou molécula) rico em elétrons é chamado de nucleófilo, o qual possui um par de elétrons que pode compartilhar. Existem nucleófilos neutros e carregados negativamente. Uma vez que um nucleófilo possui elétrons para compartilhar e um eletrófilo está querendo elétrons, os dois sofrem atração. Assim sendo, um nucleófilo reage com um eletrófilo. As espécies acima são nucleófilos porque possuem pares de elétrons não compartilhados (para compartilhar). Após essa pequena introdução sobre espécies eletrofílicas e nucleofílicas, podemos começar nosso estudo sobre reações de alcenos. Tendo em vista que a ligação pi (p) do alceno (sobreposição lateral de orbitais) é mais fraca que a ligação sigma (σ) correspondente, várias reações de adição a alcenos são possíveis. É importante perceber aqui que a ligação dupla do alceno caracteriza um “sítio de reação” com uma grande densidade de elétrons. Assim, alcenos reagem com espécies eletrofílicas, ou seja, deficiente de elétrons. 3.3 Reações de adição de hidrogênio ou reação de hidrogenação catalítica Quando gás hidrogênio (H2) é colocado em contato com um alceno não acontece nenhum tipo de reação, pois o gás hidrogênio não possui reatividade suficiente para a reação ocorrer. A reação de hidrogenação somente acontece quando se utiliza um catalisador metálico, que pode ser níquel (Ni), platina (Pt) ou paládio UNIUBE 101 (Pd), sendo assim chamada de reação de hidrogenação catalítica. O produto da reação de adição de hidrogênio a um alceno é um alcano. Veja alguns exemplos: A hidrogenação catalítica transforma um alceno em um alcano. Sabemos que um catalisador aumenta a velocidade de uma reação, pois diminui a energia de ati- vação, sem que o mesmo seja consumido. Dessa forma, uma reação muito lenta para uma aplicação prática passa a ser possível com o uso de um catalisador. Na hidrogenação catalítica, os metais Ni, Pt e Pd conseguem catalisar a reação devido à capacidade que possuem em adsorver (aderir à superfície do metal) tanto o gás hidrogênio, como o alceno. Dessa forma, tanto o gás hidrogênio como o alceno ficam aderidos à superfície do metal, provocando o enfraquecimento das ligações de suas moléculas, facilitando para que a reação aconteça. Essa reação é bastante aplicada na transformação de um óleo de soja (insatu- rado) em margarina (saturado) por meio de uma reação de hidrogenação ca- talítica. Por isso a margarina é chamada de gordura vegetal hidrogenada, pois é um óleo que sofreu uma reação de hidrogenação (veremos isso em maiores detalhes quando estudarmos os conteúdos de bioquímica). agora é a sua vez 102 UNIUBE 2. Em livros de ensino médio você vai encontrar textos sobre óleos e gorduras. Pro- cure nesses textos a estrutura química que caracteriza os triacilgliceróis (triglicérides). Após a leitura, você será capaz de identificar o composto triglicerídio saturado e insaturado. Então, construa um texto, de 10 a 15 linhas, explicando qual a diferença entre um triglicerídio saturado e um insaturado. 3.4 Reações de adição eletrofílicas Um alceno simples, como o 2 - buteno, sofre reação de adição eletrofílica com vários eletrófilos, levando à formação de compostos saturados. A seguir, vamos estudar as principais reações de adição eletrofílicas que alcenos podem sofrer. 3.4.1 Adição de haletos de hidrogênio Quando um alceno sofre a reação de adição de um haleto de hidrogênio (HF, HCl, HBr ou HI), o produto da reação será um haleto de alquila. Veja a seguir alguns exemplos de reações de adição de haletos de hidrogênio a alcenos. As reações de adição a alcenos, como as que acabamos de ver, podem ser interpretadas em duas etapas: UNIUBE 103 importante! Essa etapa é a mais lenta da reação de adição. • A primeira etapa da reação acontece com a adição do próton (eletrófilo) ao alceno (nucleófilo) para formar uma espécie intermediária chamada de car- bocátion. Carbocátion é a espécie intermediária (carbono com apenas três ligações e com carga positiva) e é muito instável. • A segunda etapa ocorre com a adição rápida do íon haleto negativo (nucleófilo) ao carbocátion carregado com carga positiva (um eletrófilo). Veja a reação de adição de HBr a um alceno de caráter geral descrita a seguir. Observe que nos exemplos citados, todos os alcenos são simétricos, ou seja, os dois carbonos do tipo sp2 possuem os mesmos substituintes, tendo assim um centro de simetria. Isso faz com que a adição do eletrófilo aconteça em um dos carbonos da ligação dupla e o nucleófilo no outro, não tendo diferença alguma na adição, pois sempre o produto final será o mesmo. Veja, a seguir, um exemplo de reação de adição em que o alceno contém subs- tituintes diferentes e que podem originar produtos diferentes – a reação de adição do HBr ao 2 -metil - propeno. Essa questão pode ser respondida se fizermos uma análise do mecanismo da reação, ou seja, como a reação de adição acontece. Observe que inicialmente acontece a adição do íon H+ (proveniente do HBr) ao alceno. Isso leva a possibilidade de formação de dois carbocátions intermediá- rios, dependendo em qual carbono sp2 o mesmo se adiciona. Os intermediários que podem se formar são os cátions terc - butila ou o isoproprila. O que determina qual dos dois carbocátions irá se formar preferencialmente 104 UNIUBE depende da velocidade de formação do carbocátion, sendo que se reflete na estabilidade do mesmo, pois é essa etapa que determina a velocidade da reação. Observa -se experimentalmente, pela análise do produto final, que se forma um único produto, o brometo de terc -butila. Assim sendo, o carbocátion formado é o terc -butila somente, pois o mesmo reage posteriormente com o ânion brometo para formar o brometo de terc - butila como único produto da reação. Observe o esquema a seguir: importante! Regra de Markonikov: na adição de HX a uma ligação dupla C=C, o átomo de hi- drogênio se adiciona ao carbono da dupla ligação que contenha o maior número de hidrogênios, ou seja, o H se adiciona ao carbono mais hidrogenado. O estudo de Markovnikov nos ajuda a entender a seletividade da adição de HX a alcenos. A seletividade na adição é explicada de forma complementar pelo estudo da estabilidade dos carbocátions intermediários. Depois dessa reação, você deve estar se perguntando: por que isso acontece? Então vamos entender a estabilidade dos carbocátions. UNIUBE 105 3.5 Estabilidade de carbocátions Os carbocátions são classificados de acordo com o número de substituintes que estão ligados ao carbono com a carga positiva. Assim sendo, carbocátion pri- mário, tem apenas um substituinte alquila ligado ao carbono com carga positiva carbocátion secundário tem dois substituintes ligados e carbocátion terciário temtrês substituintes ligados ao carbono com carga positiva. A estabilidade do carbocátion aumenta com a quantidade de substituintes ligados ao carbono com carga positiva. Assim, carbocátions terciários são mais estáveis que secundários, que são mais estáveis que primários. Essa estabilidade, no entanto, é relativa, pois carbocátions são espécies instáveis e reagem rapida- mente com espécies nucleofílicas para gerar produtos estáveis. A figura a seguir representa a estabilidade relativa dos carbocátions. Dessa maneira, podemos escrever a seguinte observação: importante! Quanto maior o número de grupamentos alquila ligado ao carbono com carga positiva, maior é a estabilidade do carbocátion e preferencialmente será formado e determinará o produto formado na reação. Esse efeito é observado devido ao fato de que os grupamentos alquila diminuem a concentração de carga positiva no carbono, aumentando assim a estabilidade do carbocátion por meio de um efeito chamado de hiperconjugação. Esse efeito causa uma dispersão da carga positiva sobre mais de um átomo através da deslocalização de elétrons pela sobreposição do orbital ligante sigma (a) com um orbital p vazio do carbono. 106 UNIUBE É importante salientar aqui que existem rearranjos de carbocátions, com migração de átomos de hidrogênios ou radicais intramoleculares, buscando maior estabilidade dessas espécies. Nesse sentido, indicamos abaixo uma referência bastante completa para leitura complementar sobre este assunto, a fim de possibilitar um estudo mais aprofundado sobre a estabilidade de carbocátions. agora é a sua vez 3. Com base em tudo que falamos nesta unidade, nas indicações de leituras obri- gatórias e complementares, construa um texto, entre 10 e 15 linhas, fazendo uma análise comparativa entre a Regra de Markovnikov e a Estabilidade de Carbocátions, evidenciando o fato de uma complementar a outra. Como você deve estar observando, nesta unidade são discutidas várias rea- ções de adição a alcenos. No entanto, todas possuem semelhanças, ou seja, ocorrem por mecanismos similares, pois possuem alguns fatores em comum: a disponibilidade dos elétrons p contidos na ligação dupla carbono - carbono que são atraídos por um eletrófilo. Dessa maneira, cada reação de adição a alcenos inicia com a adição de um eletrófilo a um dos carbonos sp2 do alceno e finaliza com a adição de um nu- cleófilo ao outro carbono sp2. Assim sendo, ocorre a quebra da ligação π, e o carbono sp2 forma novas ligações s com o eletrófilo e o nucleófilo. Veja a reação geral a seguir. Radicais São substituintes que estão ligados à cadeia de carbonos, chamada de cadeia principal. UNIUBE 107 3.6 Reações de adição de água e alcoóis a alcenos O simples contato da água ou de alcoóis com alcenos não nos permite observar nenhuma reação. Isso ocorre porque não há eletrófilo presente para iniciar o processo de reação. No entanto, se um ácido (por exemplo, H2SO4 ou HCl) for adicionado à solução, uma reação de adição poderá ocorrer porque o ácido fornece um eletrófilo, pro- porcionando como produto um álcool (quando adicionamos água a um alceno) ou um éter (quando adicionamos álcool a um alceno). Observe que a reação começa com a ação do catalisador (meio ácido) que, em presença da água. fornece o íon hidrônio ou hidroxônio. Veja abaixo alguns exemplos de reações de adição de água e alcoóis a alcenos: 108 UNIUBE É importante perceber e salientar aqui que o produto de adição a qualquer alceno segue sempre a regra de Markovnikov ou a estabilidade de carbocá- tion. Na adição de água ou de alcoóis, isso também é observado. Apenas será exceção quando em presença de peróxidos, que será discutido mais adiante nesta unidade. importante! Entender uma reação depende de compreender como ela acontece, ou seja, o me- canismo da reação. A seguir está representado o mecanismo de adição de água em meio ácido ao propeno. A reação de adição de alcoóis a alcenos ocorre de maneira semelhante e seu mecanismo de reação é idêntico ao discutido para a reação de adição de água na formação de alcoóis. Como foi comentado sobre a produção de eteno pela indústria petroquímica, é interessante lembrar que, no Brasil, o álcool comum (etanol) é obtido a partir da cana -de - açúcar, mas em países ricos em petróleo, o etanol pode ser preparado a partir da reação de hidratação do acetileno, em meio ácido, com o uso de altas pressões e temperatura. Veja a reação: UNIUBE 109 3.7 O efeito peróxido Após a descoberta de Markovnikov para a adição de haletos de hidrogênios a alcenos, a qual gerou a Regra de Markovnikov pela estabilidade de carbocátions, alguns estudos demonstraram que, às vezes, a adição de HBr não seguia essa regra. Em 1933, o russo Morris Karash e o americano Frank Mayo descobriram que a adição de HBr seguiria um caminho contrário à regra se houvesse a presença de pequena quantidade de peróxidos orgânicos (R O O R) ou se a reação fosse realizada em presença de luz. Realmente a presença de peróxidos ficou conhecida como efeito peróxido e somente acontece com HBr na presença de peróxidos orgânicos e de luz, pois estes atuam em conjunto e modificam o mecanismo de reação. Veja o exemplo a seguir. A adição de HCl ou HI não fornece produtos de adição anti Markovnikov com alcenos, pois nos dois casos uma das etapas das reações de propagação é endotérmica (absorve calo r), e consequentemente tão lenta que a reação não prossegue. Entretanto, outros reagentes, como os tióis (R SH), fornecem reações de adição a alcenos via radicais, levando à formação de tioéteres (R S R). 110 UNIUBE Veja o exemplo a seguir: 3.8 Reações de adição de halogênios Os halogênios, principalmente I2 e Br2, reagem com alcenos através de reações de adição, levando à formação de di - haletos vicinais, assim chamados pois os átomos de halogênio se adicionam aos carbonos vizinhos. Veja a reação geral a seguir: Observe que na reação acima não há a necessidade da adição de catalisador para que o alceno absorva os átomos de halogênios. Veja a seguir como acon- tece a adição dos halogênios à dupla ligação do alceno. Observe que quando os elétrons p da molécula do eteno (ou outro alceno) se aproximam de uma molécula de Br2 (ou qualquer halogênio), um dos átomos do halogênio aceitará o par de elétrons e liberará os elétrons compartilhados para o outro átomo de halogênio. Assim, em uma reação de adição eletrofílica a alcenos, Br2 se comportará como se fosse Br+ e Br -, e Cl2 se comportará como Cl+ e Cl -. As halogenações a alcenos sempre fornecem o intermediário chamado de íon halônio, que no caso acima foi específico para o bromo, assim chamado de íon bromônio. UNIUBE 111 Esse tipo de reação é bastante utilizado como um teste químico de caracterização de alcenos. Algumas gotas da substância que se deseja testar à presença de ligação dupla C=C são adicionadas a uma solução de iodo ou bromo em tetra- cloreto de carbono, que possui uma coloração alaranjada, devido à presença do bromo ou do iodo. A reação de adição do halogênio (bromo ou iodo) à ligação dupla consome o halogênio da solução e ela perde a cor. Assim, dizemos que o teste da solução de halogênio (iodo ou bromo) dá resultado positivo quando acontece a descoloração da cor alaranjada característica do reagente. O teste positivo indica a presença de insaturação C=C. Assim, podemos entender que: Quando o teste da solução de iodo ou bromo é positivo, ou seja, quando ocorre descoloração, isso indica a presença de insaturações C=C na substância que está sendo testada. 3.9 Reações de polimerização Muitas coisas belas da natureza estão ligadas ao fato de ela gerar a comple- xidade a partir da simplicidade, ao unir pequenas moléculas produzindo outras, bem maiores, as chamadas macromoléculas ou polímeros. As proteínas, polímeros d e aminoácidos, os polissacarídeos, polímeros de monossacarídeos são os exemplos mais significativos de polímeros. No entanto, os polímerosnão existem apenas nos seres vivos. Eles podem ser adquiridos em supermercados, pois estão presentes em roupas, plásticos e em um grande número de materiais de nosso dia a dia. Os polímeros sintéticos são as substâncias que modificaram o mundo no século XX. Na tentativa de imitar a natureza produzindo um material sintético que tivesse semelhança com a borracha natural, os químicos conseguiram, na década de 1930, por meio de reações de adição, unir várias moléculas de eteno (etileno), criando um composto de alta massa molecular chamado de polímero. O reagente recebe o nome de monômero e a reação é conhecida como polimerização. Veja, a seguir, a reação geral. 112 UNIUBE A reação de polimerização pode ser compreendida utilizando um exemplo bastante simples. Use a sua imaginação da seguinte maneira: pense em uma pérola, ela seria um monômero e um colar de pérolas seria o resultado de uma reação de polimerização. Assim acontece com a formação dos polímeros. A reação de polimerização é, na verdade, uma reação de adição na qual tomam parte muitas moléculas do alceno (n é um número muito grande, geralmente por volta de 100 mil). As moléculas começam a se unir sucessivamente umas às outras em uma se- quência que pode ser comparada à queda de peças de dominó colocadas em fila. O polietileno assim obtido possui muitas aplicações em nossa vida cotidiana, sendo, por exemplo, utilizado para fabricar muitos brinquedos e sacos plásticos em compras em supermercado e também em sacos de lixo. 3.10 Reações de alcenos 3.10.1 Adição de haletos de hidrogênio A adição de um haleto de hidrogênio (HF, HCl, HBr ou HI) a um alceno é cha- mada de reação de adição eletrofílica. Reação geral de adição de haleto de hidrogênio (HX) a alceno: Mecanismo de reação de haleto de hidrogênio a alceno: Os haletos de hidrogênio têm a ligação H-X muito polarizada e dessa forma podem facilmente reagir com a ligação dupla C=C. Primeiramente, a reação envolve a adição do próton H+ à ligação dupla, levando à formação de um carbocátion. UNIUBE 113 Na segunda etapa, o carbocátion carregado positivamente reage com o ânion X–, levando à formação do produto. Exemplo de adição de haleto de hidrogênio a alceno: Nessa reação entre but-2-eno e HBr, o próton é o eletrófilo adicionado a um dos carbonos sp2 e o íon haleto é o nucleófilo adicionado ao outro carbono sp2, e o produto da reação é um haleto de alquila, o 2-bromobutano. Como o alceno da reação do exemplo anterior tem o mesmo substituinte em ambos os carbonos sp2, não importa em qual carbono sp2 o eletrófilo se liga, pois o produto será o mesmo. No entanto nem sempre o alceno possui os mesmos substituintes em ambos os carbonos sp2 e, nesse caso, a reação de adição pode resultar em produtos diferentes. Exemplo de adição de haleto de hidrogênio a alceno que pode resultar em dois produtos diferentes: A primeira etapa de reação é a adição do íon H+ ao carbono sp2, levando à formação do cátion de terc-butila ou do cátion isobutila. O que determinará qual carbocátion irá se formar será a velocidade de formação do carbocátion, ou seja, o carbocátion que se formar mais rapidamente será o produto preferencial na primeira etapa e, consequentemente, o produto final da reação. Logo o produto da reação entre 2-metilpropeno e HCl é o cloreto de terc-butila. O único cátion formado é o terc-butila, que reage com o ânion cloreto, formando o cloreto de terc-butila. Observe o esquema a seguir: 114 UNIUBE Cl– Cl– O cátion terc-butila é o cátion mais estável devido aos três grupos alquila ligados ao carbono sp2 com a carga positiva. As três metilas ajudam a estabilizar a carga positiva por meio da doação de densidade eletrônica por efeito indutivo. No caso do cátion iso-butila são apenas dois grupos alquila doando densidade eletrônica para estabilizar a carga positiva no átomo de carbono. Problema 1[1] Qual alceno de partida você usaria para preparar o seguinte haleto de alquila? Estratégia de solução Primeiramente, observe o produto e identifique os grupos funcionais que ele contém. O produto é um cloreto de alquila terciário, que pode ser preparado pela reação de um alceno com o HCl. O átomo de carbono ligado ao –Cl no produto deve ser um dos carbonos da ligação dupla no reagente. Assim, existem três possibilidades, das quais qualquer uma delas poderia fornecer o produto desejado: UNIUBE 115 Fonte: adaptada de McMurry (2014, p. 185) 3.10.2 Adição de água e de álcoois Quando a água ou álcool são adicionados a um alceno, não ocorre reação, pois não há eletrófilo presente para ela ocorrer. Dessa forma, a reação só ocorrerá se um ácido for adicionado à solução, pois este fornecerá um eletrófilo (H+). 3.10.2.1 Adição de água a alcenos O processo de adição de água a um alceno para produção de álcool é chamado de hidratação. Neste processo é adicionado um ácido forte, que se dissocia em água e fornece o íon hidrônio. Reação geral de adição de água a alceno catalisada por ácido: A hidratação de um alceno é uma reação catalisada por ácido, ou seja, o ácido atua como catalisador, aumentando a velocidade de formação do produto. Essa reação possui um mecanismo similar ao da adição de HX e também segue a regra de Markovnikov. 116 UNIUBE Mecanismo de adição de água a alceno: Na reação de adição de água a alceno, a primeira etapa é lenta e envolve a protonação da dupla ligação de um alceno com formação de um carbocátion. Em seguida, ocorre o ataque nucleofílico da água ao carbocátion. E, por fim, tem-se a etapa de desprotonação do álcool. Conforme o mecanismo demonstrado, o ácido atua como catalisador, sendo consumido na primeira etapa e regenerado na última. Ainda as setas duplas demonstradas nas etapas indicam que as transformações envolvem equilíbrio. Dessa forma, a adição de água ao alceno envolve um equilíbrio. Exemplo de adição de água a alceno: Assim, a reação de hidratação de um alceno é o reverso da reação de desidratação de um álcool. UNIUBE 117 No exemplo apresentado, o produto final apresenta o grupo hidroxila ligado ao carbono, mas substituído do alceno original porque o carbocátion que sofre o ataque nucleofílico do par de elétrons do oxigênio é mais estável nessa posição. 3.10.2.2 Adição de álcool a alcenos Os álcoois reagem com os alcenos da mesma forma que a água, e também requerem a catálise de um ácido. O produto de reação é um éter. Reação geral de adição de álcool a alceno catalisada por ácido: Mecanismo de adição de álcool a alceno: Assim, como na adição de água ao alceno, a adição de álcool ao alceno também envolve um equilíbrio e segue a regra de Markovnikov. 118 UNIUBE A primeira etapa é lenta e envolve a protonação das duplas ligações de um alceno com formação de um carbocátion. Em seguida, ocorre o ataque nucleofílico do álcool ao carbocátion. E, por fim, tem-se a etapa de desprotonação do éter. Exemplo de adição de álcool a alceno: 3.10.3 Rearranjo de carbocátions Algumas reações de adição eletrofílica fornecem produtos inesperados, que não resultariam de uma adição de um eletrófilo ao carbono sp2, ligado ao maior número de hidrogênios, e adição de um nucleófilo no outro carbono sp2. No ano de 1930, F. C. Whitmore, da Pennsylvania State University, verificou que os rearranjos estruturais ocorrem durante a reação do HX ao alceno, ou seja, o rearranjo de carbocátions intermediários resulta em um produto inesperado. No entanto não são todos os carbocátions que se rearranjam. Eles somente se rearranjam quando se tornam mais estáveis como resultado do rearranjo. Por exemplo, a reação do HBr com o 3-metil-1-buteno, que produz 2-bromo-3- metilbutano e 2-bromo-2-metilbutano (produto inesperado). Exemplo de rearranjo de carbocátion: Como a formação do 2-cloro-2-metilbutano pode ser explicada? Whitmore sugere que o carbocátion intermediário sofre rearranjo. Assim o carbocátion secundário, formado pela protonação do 3-metil-1-buteno, rearranja-se a um carbocátionterciário mais estável pelo deslocamento do hidreto (deslocamento do átomo de hidrogênio e seu par de elétrons) para o carbono adjacente carregado positivamente, gerando um carbocátion terciário mais estável. UNIUBE 119 Mecanismo de rearranjo de carbocátion: O rearranjo do carbocátion também pode ocorrer pelo deslocamento de um grupo alquila com seu par de elétrons. Por exemplo, a reação do HCl com o 3,3-dimetil- 1-buteno, que produz 3-cloro-2,2-dimetilbutano e 2-cloro-2,3-dimetilbutano (produto inesperado). Exemplo de rearranjo de carbocátion: Mecanismo de rearranjo de carbocátion: Observe as similaridades entre os dois rearranjos de carbocátions: em ambos, um grupo (:H- ou :CH3 -) se move para o carbono adjacente carregado positi- vamente, levando consigo seu par de elétrons. Ainda, na reação anterior, dois haletos de alquila são formados, um da adição do nucleófilo a um carbocátion não rearranjado e um da adição a um carbocátion rearranjado. 120 UNIUBE 3.10.4 Adição de halogênios A adição de halogênios como o brometo (Br2) e o cloreto (Cl2) ao alceno produz 1,2-dialetos, por meio do processo denominado halogenação. Reação geral de adição de halogênio (X2) a alceno: Mecanismo de reação de adição de halogênio a alceno: Nesta reação, de adição de halogênio a alceno, os dois átomos do halogênio não são adicionados à ligação dupla carbono-carbono simultaneamente. Inicialmente, o mecanismo da reação envolve a polarização da ligação X-X pela ligação p do alceno, com a formação subsequente de um intermediário íon halônio e de um íon haleto. Em seguida, o íon haleto é adicionado ao íon halônio. UNIUBE 121 Observe que, na formação do intermediário cíclico, considera-se que um dos pares de elétrons não ligantes do halogênio sobrepõe-se ao orbital p do carbono sp2. Ainda, como não é formado carbocátion quando X2 se adiciona a um alceno, não ocorrem rearranjos de carbocátions, ou seja, o esqueleto de carbono não rearranja. Exemplos de adição de halogênio a alceno: Geralmente, as reações de adição de halogênios a alcenos são efetuadas misturando-os em um solvente inerte, como o diclorometano (CH2Cl2). Esse solvente é capaz de dissolver os dois reagentes, não participando do processo de reação. Exemplo de adição de halogênio a alceno, utilizando diclorometano como solvente inerte: Se, na adição dos halogênios Br2 ou Cl2 a um alceno, for utilizada a água como solvente, observar-se-á a formação de haloidrinas, mais especificamente bromoidrina ou cloroidrina. A haloidrina é uma molécula orgânica, constituída de um grupamento halogênio e um grupamento OH. 122 UNIUBE Exemplos de adição de halogênio a alceno, utilizando a água como solvente: Mecanismo da adição de halogênio a alceno e água: 1ª etapa: 2ª etapa: O mecanismo da reação de adição de halogênio e água é análogo ao descrito para a adição de halogênios. Na primeira etapa, ocorre a formação do íon halônio mais íon brometo. UNIUBE 123 Na segunda etapa, a água atua como nucleófilo, por estar em maior quantidade que o íon brometo. A água ataca preferencialmente o átomo de carbono mais substituído, pois a carga parcial positiva é maior neste carbono. Além da água, podem ser utilizados nesta reação outros eletrófilos como o metanol (CH3OH), em que, neste caso, ao invés de álcoois, formam-se éteres halogenados. Exemplo de adição de halogênio a alceno e metanol: REFERÊNCIA McMURRY, J. Química Orgânica. v. 1. São Paulo: Cengage Learning, 2014. 3.11 Conclusão Os alcenos, também conhecidos como olefinas, são mais reativos que os alcanos, devido à presença de uma ligação π. São substâncias apolares, possuindo pontos de fusão e ebulição baixos. Uma reação importante dos alcenos utilizada na indústria para a fabricação de margarina é a hidrogenação catalítica, que consiste na reação do alceno com gás hidrogênio, catalisada por um dos metais, níquel (Ni), paládio (Pd) ou platina (Pt). O óleo natural (insaturado) é catalisado e transformado em gordura saturada (margarina). Temos ainda outras reações de adição a alcenos por haletos de hidrogênio, água ou ácido sulfúrico, chamadas de Regra de Markovnikov, em que o hidrogênio é adicionado no carbono insaturado (ligação dupla) que contenha o maior número de hidrogênios, ou seja, o carbono mais hidrogenado. 124 UNIUBE Mauro Luiz Begnini Introdução Os primeiros hidrocarbonetos aromáticos e seus derivados foram encontrados em cascas de árvores, óleos de baleia e, posteriormente, nos destilados de hulha e carvão mineral. Receberam o nome de aromáticos, pois possuíam um odor agradável. Em seguida, descobriu -se que esses compostos tinham a semelhança de possuírem o anel benzênico em sua estrutura química, que passou a ser considerada a estrutura fundamental da família dos compostos chamados de aromáticos. Os compostos aromáticos provenientes do benzeno têm uma grande estabili- dade, não sendo uma característica somente dos compostos do benzeno, mas da maioria dos com- postos aromáticos. Essa certa estabilidade se deve à ressonância que é estabelecida na estrutura dos compostos. Muitos alunos consideram o estudo dos compostos aromáticos com- plicado, mas, na verdade, com um pouco de dedicação e uma leitura adequada deste material, você poderá compreender facilmente o es- tudo proposto por este capítulo. Para isso, ao final, você encontrará o texto “Aromaticidade: reações de benzeno”, o qual estará indicando várias leituras importantes, no decorrer de nossa explicação referente ao assunto estudado. E então, vamos seguir viagem na estrada do conhecimento? O estudo dos compostos aromáticos e derivados do benzeno Capítulo 4 Aromáticos São classificados como aromáticos os compostos que seguem a regra de Hückel, ou seja, compostos cíclicos, de anéis planos, con- tendo 4n + 2 elétrons p, sendo n um número inteiro. 126 UNIUBE Objetivos Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • identificar compostos aromáticos, principalmente os hidrocar- bonetos; • compreender a regra de aromaticidade de Hückel; • introduzir as principais reações de substituições eletrofílicas a compostos que contenham o anel benzênico em sua estrutura; • verificar que os compostos aromáticos possuem algumas seme- lhanças com os alcenos; • aprender sobre a influência de um anel aromático nas proprie- dades de um composto; • entender a estabilidade adicional de um composto que contenha o anel benzênico em sua estrutura. Esquema O que veremos neste capítulo: • descobrimento do anel benzênico; • a estrutura do benzeno: a ressonância, o sonho que virou rea- lidade; • classificação de hidrocarbonetos aromáticos; • nomenclatura dos derivados de benzeno; • a regra de Hückel de aromaticidade: a regra dos 4n + 2 elé- trons p; • preparação de compostos aromáticos; • a toxicidade do benzeno e dos compostos aromáticos; • curiosidade: a descoberta dos fulerenos. 4.1 O descobrimento do anel benzênico Atualmente a “família” dos compostos aromáticos é tão numerosa e possui uma importância tão grande que existe um espaço, dentro da química orgânica, em que se estuda a química dos compostos aromáticos. A seguir estão representa- dos alguns compostos aromáticos significativos em nosso dia a dia. UNIUBE 127 A história nos conta que a descoberta do benzeno e a “montagem” de sua es- trutura química foi uma mistura de ciência e sonhos que viraram realidade. Esse hidrocarboneto, composto químico que contém apenas carbonos e hidro- gênios em sua estrutura, conhecido por benzeno, foi isolado pela primeira vez em 1825 de uma mancha de óleo. Essa mancha oleosa era resultante da queima de gás usado em uma lamparina. A análise da fuligem foi realizada por Michael Faraday. Este viria a ficar famoso, inclusive recebendo o Prêmio Nobel pelos trabalhos em conjunto com Maxwell na unificação das teorias da Eletricidade e do Magnetismo. A partir da descoberta, Faraday fez vários testes com esse novo composto e descobriu queele tinha o mesmo número de átomos de carbono e hidrogênio, e, portanto, o chamou de “hidrogênio carburetado”. Na época, alguns químicos sugeriram que o nome do novo composto fosse mudado para “pheno”, do grego phainen, que quer dizer brilho ou brilhar, já que o com- posto havia sido achado nos resíduos do gás utilizado para iluminação. Esse nome, no entanto, não foi aceito, mas é interessante observar que a derivação fenil ou fenila é utilizada, atualmente, por químicos de todo o mundo, tendo como significado o radical C6H5 , que cor- responde ao anel benzênico na forma de um radical em uma cadeia de carbonos. Posteriormente, o benzeno foi isolado da resina balsâ- mica de algumas árvores, conhecidas por “benzoína”. Anel benzênico Molécula cíclica de fórmula molecular C6H6, hexagonal, regular e que apresenta ligações duplas e simples alternadas, tendo “por cima” e “por baixo” do plano do anel uma alta densidade de elétrons, caracterizando os orbitais p das ligações duplas alternadas. 128 UNIUBE Mitscherlich, que fez a descoberta, decidiu chamar o composto de benzina, mas outros químicos da época o criticaram, porque o nome dava a impressão de se tratar de um composto da família dos alcaloides, como a quinina, por exemplo. Os alemães trataram então de chamá - lo de benzol, mas isso dava a impressão de que o composto era da família dos alcoóis, como o etanol. A briga para dar nome ao composto acabou ficando mesmo do lado dos ingleses e dos franceses, que nomearam o composto como “benzeno”. Em 1834, o conhecido químico alemão Eilhardt Mitscherlich, da Universidade de Berlim, que isolou o benzeno anteriormente, sintetizou -o através do aque- cimento do ácido benzoico com óxido de cálcio. Em seguida, usando medidas de densidade de vapor, Mitscherlich mostrou que esse composto apresentava a fórmula molecular C6H6. Até então, os químicos da época sabiam somente que se tratava de um hidro- carboneto que continha o mesmo número de átomos de carbono e hidrogênio, ou seja, a fórmula C6H6. No entanto, permanecia ainda um enigma, pois não sabiam como esses átomos estavam ligados ou dispostos para formar a estrutura química do benzeno atual. parada obrigatória No texto indicado ao final do capítulo, faça a leitura da parte introdutória para com- plementar os seus estudos! Naquela época, a questão que intrigava os cientistas era o fato de o benzeno possuir o mesmo número de átomos de carbono e de hidrogênio. Assim, eles intensificaram seus estudos e pesquisas para descobrir como esses átomos estavam ligados e qual a fórmula estrutural do composto. Inicialmente se suspeitava que ele possuísse a estrutura de um polieno, ou seja, um composto com as duplas ligações conjugadas, como no butadieno ou no hexatrieno, como as estruturas a seguir: UNIUBE 129 4.1.1 A estrutura do benzeno: a ressonância, o sonho que virou realidade No ano de 1865, Kekulé teve um sonho enquanto dormia diante de uma lareira. Esse sonho foi descrito por ele mesmo: Meu olho mental podia agora distinguir grandes estruturas com as mais variadas conformações; longas filas, algumas vezes comprimidas umas com as outras, todas girando e se enrolando como cobras. Mas, olhe! O que é aquilo? Uma das cobras mordeu o seu próprio rabo! Por meio desse sonho, Kekulé sugeriu para o benzeno a estrutura de ciclohexa- trieno (uma estrutura cíclica de seis carbonos, com três ligações duplas) para o benzeno. Em seguida, ele mesmo modificou sua teoria, incluindo a existência de dois ciclo -hexatrienos que estão em equilíbrio rápido através de duas estruturas de ressonância. Veja a seguir: Observe que a diferença entre uma estrutura e outra está na deslocalização das ligações duplas, caracterizando assim o movimento dos elétrons ao longo do anel chamado de ressonância. Essa estrutura conseguiu, afinal, explicar o comportamento químico do benzeno. Observe que as três ligações duplas (isto é, três pares de elétrons p), podem se movimentar com muita facilidade, originando várias formas eletrônicas. Observe o esquema a seguir, que nos dá uma ideia da movimentação ou “pas- seio” dos elétrons p ao longo do anel benzênico; siga esse “passeio” acompa- nhando as setas que indicam o movimento dos elétrons ao longo do anel. 130 UNIUBE Assim se pode estabelecer o conceito de ressonância para um composto. Ressonância: É a existência de várias disposições dos elétrons dentro de uma molécula, sem que haja mudança na posição dos átomos. A existência da ressonância no anel benzênico faz com que esse anel seja muito estável, isto é, resiste à ação de muitos reagentes. Isso será objeto de estudo posterior. No entanto, apenas como exemplo, pode - se dizer que enquanto o ciclo - hexeno pode ser facilmente transformado em ciclo - hexano através de uma reação de hidrogenação catalítica, conforme a seguir: kJ/mol o benzeno, por ser aromático e possuir estruturas de ressonância, só irá reagir em condições drásticas. Veja a seguir: kJ/mol O fato de só reagir em condições drásticas já demonstra que o anel benzênico é estável. Além disso, se apenas uma ligação dupla do ciclo - hexeno libera 120 kJ/mol de energia, as três ligações duplas do benzeno deveriam liberar três vezes esse valor, ou seja, 360 kJ/mol; no entanto, isso não é observado, sendo que libera apenas 208 kJ/ mol, indicando que o nível energético do benzeno é menor do que o esperado, isto é, o benzeno é mais estável que o esperado. Na análise do gráfico a seguir pode - se ver a diferença entre o nível teórico de 360 kJ/mol e o nível real de 208 kJ/mol, exigida pela hidrogenação das três liga- ções duplas do benzeno, isto é, 360 – 208 = 152 kJ/mol. É a chamada energia de ressonância do benzeno e reflete a grande estabilidade do anel. UNIUBE 131 152 kJ/mol 360 kJ/mol-208 kJ/mol -120 kJ/mol Na época, no entanto, outros químicos sugeriram estruturas bastante diferentes para o benzeno, como o centroide ou o prismano, a seguir, que foram conside- radas e avaliadas pelos cientistas: centroide prismano Atualmente sabe - se que o benzeno é, realmente, hexagonal, com as liga- ções carbono -carbono de comprimento menor do que uma ligação simples carbono -carbono, mas maior do que uma ligação dupla carbono -carbono. O motivo dessa diferença é que cada carbono possui um orbital atômico do tipo p que se entrelaça com os mesmos orbitais dos outros carbonos, formando um orbital molecular “deslocalizado” por toda a molécula. Resumindo, você pode concluir que: 132 UNIUBE Plano Hexagona Regular Apresenta uma alta densidade de elétrons “por cima” e “por baixo” do plano, orbitais π das ligações duplas alternadas. Anel benzênico é: A estrutura molecular a seguir nos mostra a sobreposição dos orbitais “p”, que resulta na estabilidade adicional do benzeno e dos compostos aromáticos. Veja a representação: Conheça a representação clássica das estruturas do benzeno conhecidas e utilizadas atualmente. É interessante observar que as duplas ligações no anel aromático estão alter- nadas com ligações simples, caracterizando uma relativa facilidade de deslo- calização dos elétrons das ligações duplas do anel por toda a sua extensão, levando a uma estabilidade adicional chamada de ressonância, que será vista posteriormente. UNIUBE 133 Você sabia que o carbono grafite conduz eletricidade mesmo sendo um ametal? Nesse caso, quem explica a condução de corrente elétrica pela grafite é o fato de a ressonância presente levar a uma movimentação de elétrons, e elétrons livres para se movimentarem levam à condução de corrente elétrica. SAIBA MAIS 4.2 A classificação dos hidrocarbonetos aromáticos Os hidrocarbonetos aromáticos podem ser classificados de acordo com o número de anéis aromáticos. 4.2.1 Aromáticos mononucleares ou monocíclicos São os hidrocarbonetos aromáticos que contêm apenas um anel aromático. São subdivididos em: • benzênicos com ramificações saturadas; • benzênicos com ramificaçõesinsaturadas. Veremos cada um deles detalhadamente. Benzênicos com ramificações saturadas: Possuem ramificações saturadas, cujos átomos de carbono contêm hibridização do tipo sp3. Esse grupo é, sem dúvida, o mais importante. Veja as representações: 134 UNIUBE Podem-se afirmar que esses hidrocarbonetos benzênicos são aromáticos mo- nocíclicos, com ramificações saturadas. Assim, esses compostos obedecem à fórmula geral CnH2n 6, isso quando “n”, que corresponde ao número de carbonos, for maior ou igual a 6. Veja alguns exemplos a seguir. Propriedades De uma maneira geral, os derivados benzênicos mais simples são líquidos tóxicos de cheiro aromático. Possuem características apolares e, portanto, in- solúveis em água, mas solúveis em solventes orgânicos. Geralmente possuem maior densidade quando comparados aos ciclo alcanos correspondentes (cíclicos saturados), devido ao fato de possuirem anéis mais “empacotados”. Compare os exemplos a seguir: UNIUBE 135 Observe que, a partir da fórmula C8H10, o número de isômeros aumenta pela mudança de posição das ramificações ou pelo alongamento das mesmas. Benzênicos com ramificações insaturadas: Esses compostos podem possuir ligações duplas ou triplas como insaturações na cadeia. A representação desses compostos é: 4.2.2 Aromáticos polinucleares ou policíclicos São os hidrocarbonetos aromáticos que contêm mais de um anel aromático. São subdivididos em: • núcleos isolados; • núcleos condensados. Núcleos isolados: Acontecem quando existem dois ou mais anéis aromáticos e estes estão ligados de maneira isolada. Veja a seguir alguns exemplos: Núcleos condensados: Esse tipo de estrutura contém os anéis aromáticos condensados um ao outro. Veja estes exemplos: 136 UNIUBE A nomenclatura dessas espécies pode ser visualizada para os derivados do naftaleno, conforme os exemplos seguintes: Naftaleno a ‑naftol ou b ‑naftol 1 ‑naftol ou 2 ‑naftol De acordo com a teoria de ressonância, uma molécula de naftaleno pode ser um híbrido das três estruturas de Kekulé. Uma dessas estruturas, a mais importante, está representada na figura acima. Como pode ser observada, a numeração dos carbonos para os anéis conden- sados como no naftaleno é iniciada por um dos anéis e depois pelo outro. Cada posição é enumerada, sendo que o carbono 1 pode também ser chamado de carbono a, assim como o 2 pode ser chamado de b. Existem dois átomos de carbono (C4a e C8a) no naftaleno que são comuns a ambos os anéis. Diz - se que esses dois átomos estão em pontos de união do anel. Eles dirigem todas as suas ligações em direção a outros átomos de carbono e não contêm átomos de hidrogênio. 4.3 Nomenclaturas dos derivados do benzeno Você sabe que existem dois sistemas para nomear os derivados do benzeno monossubstituídos? Para certos compostos, a palavra benzeno é o nome de origem e o substituinte é indicado por prefixo. Veja os exemplos a seguir: UNIUBE 137 Em outros compostos, porém, os substituintes e o anel benzênico contribuem, em conjunto, para formar um novo nome de origem. Para você entender o que acabamos de expor, relacionamos alguns exemplos no quadro seguinte: Quadro 1: Nomes usuais de alguns compostos aromáticos Composto Conhecido como Metilbenzeno Tolueno Hidroxibenzeno Fenol Aminobenzeno Anilina Agora, observe, a fórmula estrutural dos compostos citados. Quando dois substituintes estão presentes no anel aromático, suas posições relativas são indicadas pelos prefixos orto (carbonos vizinhos), meta (carbonos intercalados) e para (em posições opostas). Esses prefixos são, normalmente, abreviados por o , m e p . Ou ainda, os substi- tuintes podem também ser indicados por números relacionados às suas posições relativas. Em sequência, citamos exemplos derivados de diclorobenzenos. 1,2 ‑diclorobenzeno 1,3 ‑diclorobenzeno 1,4 ‑diclorobenzeno (p ‑diclorobenzeno) (m ‑diclorobenzeno) (p ‑diclorobenzeno) 138 UNIUBE Observe como as posições do anel aromático são designadas em relação a um radical substituinte no anel. As posições orto, meta e para são relativas à posição do radical substituinte no anel aromático. Quando se tem derivados de ácidos benzoicos com o grupamento nitro, a no- menclatura segue de acordo com os exemplos a seguir: Ácido 2 ‑nitrobenzoico Ácido 2 ‑nitrobenzoico Ácido 2 ‑nitrobenzoico (ácido o ‑nitrobenzoico) (ácido m ‑nitrobenzoico) (ácido p ‑nitrobenzoico) E quando existirem mais de dois grupamentos ligados ao anel aromático? Como fica a nomenclatura? Quando mais de dois grupos estiverem presentes no anel benzênico, suas posições devem ser indicadas por meio de números. Exemplificando, seguem dois exemplos para sua compreensão. Atente para os dois exemplos a seguir. Observe que, no exemplo “b”, a nume- ração correta é quando temos os números 1, 2 e 4 para os substituintes em vez de 1, 3 e 4. Isso faz com que os grupamentos tenham os menores números para os carbonos contendo os átomos de bromo como substituintes. UNIUBE 139 A numeração do anel benzênico é feita de forma a resultar a seguinte regra: os carbonos ligados aos substituintes devem possuir os menores números. No caso de um composto que contém mais de dois substituintes e estes são diferentes, temos outra situação. Eles devem ser listados em ordem alfabética do nome dos radicais substituintes Quando um dos substituintes é um dos que, tomados junto com o anel benzênico, resulta em um novo nome de origem, considera -se que o substituinte está na posição 1 e o novo nome de origem é determinado. Veja os exemplos a seguir: Outra situação ocorre quando o grupamento C6H5 é nomeado como um subs- tituinte, assim o mesmo é chamado de fenila. Assim sendo, um hidrocarboneto composto de uma cadeia saturada e um anel benzênico é normalmente nomeado com um derivado de uma unidade funcional maior, que é estabelecido com base em uma ordem de prioridade de grupos funcionais. No entanto, se a cadeia é insaturada, o composto pode ser nomeado como um derivado dessa cadeia, independente do tamanho do anel. 1,2,3 ‑triclorobenzeno 1,2,4 ‑tribromobenzeno (não 1,3,4 ‑tribromobenzeno 140 UNIUBE Observe a seguir alguns exemplos: Depois de tantos compostos e seus diferentes nomes, é importante fazer uma parada para entender a diferenciação entre dois substituintes bastante usados. Veja os exemplos: PARADA PARA REFLEXÃO Observe que o radical fenila é apenas o anel benzênico na forma de substi- tuinte em uma cadeia de carbonos, enquanto que no substituinte benzila se observa, além do anel benzênico, um carbono ligado ao anel benzênico e à cadeia de carbonos. Dessa maneira, é possível entender a nomenclatura para os compostos das letras c e d acima. UNIUBE 141 4.4 Compostos aromáticos heterocíclicos A grande maioria dos compostos aromáticos discutidos até o momento possui somente átomos de carbono no anel. Esses aromáticos são chamados de compostos aromáticos homocíclicos. No entanto, em muitos compostos aromáticos estão pre- sentes outros átomos no anel aromático e estes são chamados de compostos aromáticos heterocíclicos. As moléculas heterocíclicas são muito encontradas na natureza. Dentre alguns, os compostos heterocíclicos que contêm nitrogênio, oxigênio ou enxofre são os mais comuns Apresentamos, a seguir, alguns compostos heterocíclicos: Observe que os nomes dos heterocíclicos aromáticos não apresentam uma nomenclatura segundo a Iupac. Verifique que os nomes são usuais. Compostos aromáticos homocíclicos São compostos que possuem somente átomos de carbono no anel aromático. Compostos aromáticos heterocíclicos São compostos que possuem, além do carbono, outros átomos no anel aromático, como oxigênio, nitrogênio e enxofre. Esses átomos são chamados de heteroátomos. 142 UNIUBE importante! A numeração dos átomos que compõem o anel heterocíclo é feita iniciando sempre pelo heteroátomo ou, se tiverem dois, eles são numerados de uma maneira tal que os dois tenham a menor numeraçãopossível, como no caso da pirimidina e da purina, que são bases nitrogenadas do DNA 4.5 A regra de Hückel de aromaticidade: a regra dos (4n + 2) elétrons p No ano de 1931, o físico alemão Erich Hückel realizou uma série de cálculos matemáticos sobre a estrutura do benzeno. A partir desses cálculos estabeleceu uma regra para a aromaticidade de compostos. A regra de Hückel é aplicada a compostos formados por um anel plano e em que cada átomo possua um orbital p, tal como o benzeno. Em outras palavras, os anéis monocíclicos planos com 2, 6, 10, 14,... elétrons deslocalizados devem ser aromáticos. Para generalizar a ideia de “aromaticidade”, pode - se dizer que: possuem caráter aromático todos os compostos cíclicos, de anéis planos, contendo 4n + 2 elétrons p, sendo n um número inteiro. Observe os exemplos a seguir, considerando que cada ligação dupla é formada por dois elétrons p: Observe que em todos os casos acima citados, “n” é igual a um número inteiro e, portanto, o composto é aromático. UNIUBE 143 No entanto, existem compostos que não são aromáticos, mesmo possuíndo ligações duplas e simples alternadas. Esses compostos não obedecem à regra 4n + 2, pois “n” não é um número inteiro. Veja os exemplos a seguir: 4.6 A preparação de compostos aromáticos A metodologia mais antiga para a obtenção de hidrocar- bonetos aromáticos é a partir da hulha. Dessa maneira, vamos iniciar esse assunto falando um pouco sobre os carvões minerais. Os carvões minerais são encontrados no subsolo e resul- tam da decomposição e transformação de árvores que tenham ficado soterradas durante milhões de anos. Pela ação de microrganismos e, posteriormente, pela ação de pressão e temperaturas elevadas, os vegetais soterrados vão perdendo umidade, oxigênio, nitrogênio e produzindo um carvão cada vez mais puro, isto é, mais rico em carbono. Hulha Carvão que possui em torno de 80% a 90% de carbono, encontrado no subsolo, resultante da decomposição e transformação de árvores que tenham ficadas soterradas durante milhões de anos. Você sabia que a hulha é o carvão que possui em torno de 80% a 90% de carbono e tem um alto poder calorífico? A hulha ou carvão de pedra é o carvão fóssil mais abundante e mais importante. SAIBA MAIS 144 UNIUBE Uma vez extraída, a hulha é aquecida em retortas, na ausência de ar (pois em presença de ar pegaria fogo), por meio de um processo denominado destilação seca ou pirólise. Dessa destilação seca resultam quatro frações. Veja a seguir: Gás da Hulha Mistura de H2, CH4, CO etc. Usada como combustível ou fonte de H2. Águas amoniacais Solução de NH4OH e seus sais; reagindo com H2SO4 produz (NH4)SO4, usado como adubo. HULHA Alcatrão de hulha Líquido oleoso, escuro, insolúvel em água formado oela mistura de muitos compostos orgânicos, principalmente aromáticos. Carvão de coque É o produto principal e é usado como redutor emm metalurgia (diserurgia). Uma das frações da destilação seca da hulha, o alcatrão da hulha, é então sub- metida a uma destilação fracionada, produzindo diversas frações de compostos aromáticos. Veja o quadro a seguir. Pirólise Processo de destilação seca no qual um composto é aquecido na ausência de ar. UNIUBE 145 A metodologia de obtenção de compostos aromáticos utilizando a destilação ou pirólise do carvão da hulha, seguida por uma destilação fracionada na ausência de oxigênio, é um dos métodos mais antigos, mas é até hoje bastante utilizado. Por meio da destilação do alcatrão da hulha pode - se obter grande quantidade de compostos aromáticos. Além de serem obtidos nas indústrias de carvão mineral (via carboquímica), os hidrocarbonetos aromáticos são também obtidos pela indústria do petróleo (via petroquímica). Assim se consegue a obtenção dos aromáticos mais simples, como benzeno, tolueno e xileno, a partir do fracionamento do petróleo. Esses processos de obtenção de aromáticos a partir do petróleo são conheci- dos como ciclização, reformação ou reforming, e consistem no aquecimento de frações de petróleo a cerca de 500 °C e na presença de catalisadores como, SiO2 e Al2O3. Utilizando esses procedimentos, pode -se converter alcanos em compostos aromáticos. Veja os exemplos a seguir: Uma vez obtidos, os hidrocarbonetos aromáticos são utilizados em indústrias químicas, onde servem de matéria -prima para a obtenção de novos produtos químicos. Atualmente isso é muito importante, pois possibilita a produção de explosivos, corantes, detergentes, inseticidas etc. Existem metodologias de obtenção de compostos aromáticos em laboratório que serão discutidas em capítulo posterior, quando passaremos a estudar as principais reações de que os compostos aromáticos participam. 146 UNIUBE 4.7 A toxicidade do benzeno e dos compostos aromáticos O benzeno possui um cheiro agradável, mas é bastante tóxico ao homem, ata- cando os tecidos que formam as células do sangue. Em ambientes fechados, onde o ar se encontra bastante saturado por benzeno, um adulto morre em um prazo de cinco a dez minutos. Em ambientes não tão contaminados, as pessoas sentem dor de cabeça, podendo ficar confusas e até inconscientes. Esses sintomas desaparecem quando a pessoa volta a respirar ar puro. Comer ou beber alimentos contaminados pode provocar diarreia, vômitos, aumento dos batimentos cardíacos, coma e, consequentemente, morte. O benzeno causa alterações genéticas, afeta a fertilidade humana e causa leucemia. Devido ao fato de o benzeno estar contido em muitos produtos em nosso cotidiano ou ser matéria prima de muitos outros, por meio de transformações químicas, é praticamente impossível não fazer uso dele em nossas vidas. Dessa maneira, o que podemos fazer é ter cuidado em manusear os materiais que o contêm. No entanto, a química consegue, através de diversas reações, transformar o benzeno em muitos outros compostos e estes adquirem propriedades diferen- tes do benzeno, tendo então uma grande aplicação em nosso dia a dia. Veja o interessante exemplo a seguir. Observe no esquema anterior que a matéria inicial é o benzeno, um composto bastante tóxico, com propriedades carcinogênicas e que, ao final, pode -se obter o ácido acetilsalícílico, ou seja, o princípio ativo da aspirina. UNIUBE 147 É interessante relatar que em todo o esquema os compostos são aromáticos, mas que a simples introdução de substituintes diferentes altera as propriedades dos compostos, começando por um veneno (benzeno) e transformando-o em um medicamento em potencial (ácido acetilsalícílico). Assim, observa -se que nem todo composto aromático possui propriedades tóxicas, e que a toxicidade ou não está relacionada com os substituintes que nele estão ligados. 4.8 Curiosidade: a descoberta dos fulerenos O primeiro fulereno sintético foi obtido em 1990 por Wofgang Kratschmer, Donal Huffman e colaboradores. Eles descreveram a primeira síntese do C60, uma molécula que tem a forma de uma bola de futebol e é denominada buckmins- terfulereno. Esse composto foi obtido pelo aquecimento da grafite (carvão grafite) numa atmosfera inerte, levando à obtenção de um novo composto da classe dos aromáticos, os fulerenos. Os fulerenos são moléculas estruturadas na forma de gaiolas, ou seja, elas têm a forma fechada, constituída por uma rede formada por pentágonos e hexágonos, fechando assim a ‘esfera’. Cada carbono de um fulereno está hibridizado em sp² e forma ligações sigma com três outros átomos de carbono, restando um elétron de cada carbono, que fica deslocalizado num sistema de orbitais moleculares que atribui à molécula o caráter aromático. Veja a molécula abaixo. buckminster -fulereno 148 UNIUBE 4.9 Conclusão Vimos neste capítulo a descoberta dos compostos aromáticos, e como a resso- nância explica a estabilidade existente neles. Classificados como hidrocarbone- tos, estudamos a sua classificação quanto ao número de núcleos e a presençade heteroátomos no anel aromático. Em seguida abordamos a nomenclatura oficial segundo a IUPAC e as nomen- claturas usuais. Entendemos ainda, utilizando a regra de Hückel, quando um composto pode ser considerado aromático ou não, de acordo com o cálculo 4n + 2 elétrons p. Apesar de estudar detalhadamente em próximos capítulos, introduzimos alguns conceitos reacionais característicos desses compostos e suas principais reações de obtenção, abordando algumas propriedades físico -químicas. Anotações ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________trans- missores da malária. A aplicação deste inseticida foi tão bem -sucedida na redução da incidência da malária, que fez até com que o DDT fosse denominado uma das “grandes necessidades da vida”. Do mesmo modo, outros biocidas como o pentaclorofenol (PCP, um moluscida para contro- lar esquistossomose e um desinfetante industrial) ou tributil de estanho (usado em tintas para inibir incrustação de organismos marinhos em cascos de barcos) revelaram -se soluções extremamente eficazes para os problemas da humanidade causados por outros organismos. Em todos esses casos, introduzimos intencionalmente produtos químicos orgânicos em nosso ambiente. Entretanto, muitos outros produtos químicos permitiram à nossa socie- dade realizar grandes avanços técnicos. Por exemplo, aprendemos a extrair hidrocarbonetos fósseis das profundezas do solo, e a utilizá -los para o aquecimento, como combustíveis para transporte, e matérias- -primas sintéticas. Da mesma forma, compostos sintéticos como te- traetilchumbo, solventes clorados, freons, metil tert -butil éter (MTBE), bifenila policloradas (PCB) e muitos outros, permitiram -nos desenvolver produtos e executar os processos industriais com maior eficiência e segurança. No entanto, tornou -se bastante evidente que, mesmo que sejam cuidadosas as aplicações, sempre resultam em certo nível de liberação desses compostos para o ambiente. Introdução à química orgânica Capítulo 1 2 UNIUBE Em retrospectiva, não é surpreendente ver que uma grande parte desses produtos químicos sintéticos tem causado muitos problemas. Verificou -se que os produtos biocidas que se destinavam a combater organismos -alvo especiais também prejudicaram organismos inofen- sivos. Por exemplo, logo após a primeira utilização do DDT, descobriu- -se que ele afetava peixes como a truta. Além disso, observou -se que produtos químicos utilizados em uma localidade geográfica foram amplamente dispersados de modo a serem encontrados em tecidos de várias plantas e animais. Considerando essas primeiras colocações, e a atual sociedade, que aumenta gradativamente a utilização de materiais, energia, espaço, e sendo acompanhada por uma crescente utilização de substâncias orgânicas antropogênicas, parece óbvio que a contaminação da água, do solo e do ar com esses compostos continuará a ser uma questão importante no que se refere à proteção do ambiente. Note que o que denominamos substâncias químicas antropogênicas são aquelas intro- duzidas no ambiente, principal ou exclusivamente como consequência da atividade humana. Embora alguns desses produtos químicos não sejam de preocupação ambiental, muitos compostos são continuamente introduzidos no am- biente em grandes quantidades (por exemplo, solventes, detergentes, tintas e vernizes, aditivos em plásticos e têxteis, produtos químicos utilizados para a construção, herbicidas, inseticidas e fungicidas). Além disso, existem muitos compostos biologicamente ativos, tais como hor- mônios e antibióticos utilizados em aplicações humanas e veterinárias, que podem trazer preocupações quando introduzidos em determinado ecossistema, mesmo em quantidades comparativamente baixas. Assim, além dos problemas relacionados aos acidentes e à gestão de resíduos, uma grande missão para o presente e o futuro engloba a identificação e eventual substituição desses produtos químicos sintéticos amplamente utilizados, que podem apresentar perigo inesperado para nós. Além disso, os novos produtos químicos devem ser ambientalmente compa- tíveis, e devemos assegurar que esses compostos não perturbem pro- cessos ecológicos importantes, assim como os ciclos dos ecossistemas. Todas essas tarefas requerem conhecimentos de (1) como os processos governam o transporte e a transformação de substâncias químicas antropogênicas no ambiente, e (2) os efeitos de tais produtos químicos sobre os organismos (incluindo o homem) e ecossistemas inteiros. UNIUBE 3 Para desempenhar tais tarefas devemos ter um bom conhecimento das propriedades físicas e químicas desses compostos orgânicos. É com esse propósito que o convidamos a conhecer um pouco mais a respeito desse campo da ciência, e adquirir um embasamento para poder opinar e interferir nesses processos, para que tenhamos como realizar uma gestão ambiental com vistas a atingir o tão sonhado desenvolvimento sustentável. Objetivos Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • compreender a importância da Química Orgânica em nossas vidas; • entender por que o átomo de carbono apresenta tamanha ver- satilidade; • montar e compreender fórmulas estruturais de moléculas orgâ- nicas; • interpretar o conceito de hibridização em átomos de carbono, assim como sua consequência; • dar nomes segundo a Iupac (International Union of Pure and Applied Chemistry), a compostos orgânicos; • escrever a fórmula estrutural de um composto a partir de seu nome oficial; • entender a importância dos alcanos como fonte de energia; • tornar -se crítico com relação à poluição causada pela má utiliza- ção de recursos naturais e apresentar alternativas para resolver ou diminuir tais problemas. Esquema O que veremos neste capítulo: • a origem da vida; • introdução à Química Orgânica; • representação de cadeias carbônicas; • hidrocarbonetos; • propriedades físicas dos compostos orgânicos; • interações nas moléculas orgânicas; • compostos aromáticos e haletos de alquila; • nomenclatura das funções oxigenadas; 4 UNIUBE • nomenclatura dos grupos funcionais que contêm nitrogênio; • compostos sulfurados e organofosforados; • funções mistas e principais reações em Química Orgânica. 1.1 A origem da vida Na verdade, as substâncias ditas orgânicas são muito anteriores à presença do ser humano na Terra. Acredita -se que as moléculas orgânicas primitivas, formadas há cerca de 3,5 bilhões de anos, deram origem aos primeiros seres unicelulares em nosso planeta. Uma das teorias que se baseiam nessa ideia é a de Stanley Miller, que efetuou a experiência relatada a seguir. Depois de manter o aparelho (Figura 1) em funcionamento por alguns dias, Mil- ler verificou que a água acumulada na sua base continha moléculas orgânicas semelhantes às das proteínas dos seres vivos atuais. Além de sua importância na origem da vida, os compostos orgânicos constituem, até hoje, a parte fundamental de todo o ciclo da vida existente na Terra. Figura 1: Esquema da experiência de Stanley Miller. UNIUBE 5 1.2 Introdução histórica da química orgânica No final do século XVIII e no início do século XIX, os químicos começaram a se dedicar ao estudo das substâncias encontradas em organismos vivos, puri- ficando, isolando e identificando tais substâncias. No século XVIII, Carl Wilhelm Scheele (1742 -1784) conseguiu isolar o ácido tartárico da uva, o ácido cítrico do limão, o ácido lático do leite, a glicerina da gordura, a ureia da urina, entre outros. Por isso, Torbern Olof Bergman (1735 -1784), em 1777, definiu a Química Orgânica como sendo a química dos compostos existentes em organismos vi- vos, vegetais e animais, enquanto a Química Inorgânica era a química do reino mineral. Antoine Laurent de Lavoisier (1743 -1794) conseguiu analisar vários compostos orgânicos e concluiu que todos continham carbono. Em 1807, Jöns Jakob Berzelius (1779 -1848) sugeriu que os seres vivos tinham uma força vital capaz de produzir os compostos orgânicos, ou seja, ele dizia que os compostos orgânicos jamais poderiam ser sintetizados em laboratório. Essa teoria logo começou a se mostrar incorreta, quando em 1828 Wöhler efetuou a seguinte reação: NH4CNO O C NH2 NH2 ∆ Cianato de amônio ( inorgânico) Ureia (orgânico) A partir de um composto mineral (cianato de amônio), Wöhler chegou a um com- posto orgânico (ureia, presente na urina dos animais). Começava assim a queda da Teoria da Força Vital. Nos anos seguintes, muitas outras substâncias orgânicas foram sintetizadas. Em 1845, Adolphe Wilhelm Hermann Kolbe (1818 -1884) con-seguiu realizar a síntese de um composto orgânico (ácido acético) a partir de seus elementos. Desse modo, já na metade do século XIX os químicos começaram a acreditar na possibilidade de síntese de qualquer composto orgânico, derrubando a Teoria da Força Vital. Em 1858 Kekulé propôs o conceito, usado até hoje, em que a Química Orgânica é a Química dos compostos do carbono. importante! Existem algumas substâncias que, embora contenham carbono, não são conside- radas substâncias orgânicas. As mais importantes são a grafite (C(graf)), o diamante (C(diam)), o monóxido de carbono (CO), o dióxido de carbono (CO2), o ácido carbônico 6 UNIUBE (H2CO3), o ácido cianídrico (HCN) e os carbonatos e cianetos (sais derivados do ácido carbônico e do ácido cianídrico), como, por exemplo, Na2CO3, CaCO3 e NaCN. Boa parte dessas substâncias já era conhecida e estudada antes mesmo que surgisse a Química Orgânica. Suas propriedades se assemelham muito mais às das substâncias inorgânicas (aquelas que não contêm carbono) do que às das orgânicas e, assim, os químicos as consideram como sendo inorgânicas. Contudo, muitas delas apare- cerão nos próximos capítulos, pois tam bém são de grande importância no estudo da Química Orgânica. 1.2.1 Introdução à química orgânica No estudo dos compostos orgânicos é bastante comum surgir uma série de de- nominações que podem levar você a ficar um pouco perdido. Sendo assim, apre- sentamos a seguir um resumo que poderá lhe ajudar em muito nesta jornada. O átomo de carbono é tetravalente, ou seja, ele faz apenas quatro ligações químicas para atingir a estabilidade. Observe a estrutura do metano (CH4). H C H H H As quatro valências do carbono são idênticas entre si, e desse modo as estruturas a seguir referem -se a um único composto, conhecido como clorometano. H C H H Cl Cl C H H H H C H Cl H H C Cl H H O carbono forma múltiplas ligações, podendo estas serem simples, duplas ou triplas. Essas ligações se dão pela sobreposição dos orbitais híbridos spx (onde “x” pode ser 1, 2 ou 3), em diferentes extensões, o que irá então caracterizar o(s) tipo(s) de ligação(ões) realizada(s) pelo(s) átomo(s) de carbono. UNIUBE 7 Quadro 1: Hibridação do carbono Nome da ligação Hibridação Tipo da ligação Exemplo Simples sp3 Sigma ( s ) Dupla sp2 3 Sigma ( s ) e 1 Pi ( p ) Tripla sp 2 Sigma ( s ) e 2 Pi ( p ) Duas Duplas sp 2 Sigma ( s ) e 2 Pi ( p ) Nas suas ligações químicas os átomos de carbono podem apresentar diferentes disposições espaciais (geometria molecular), dependendo do tipo de hibridação do composto. São apenas três geometrias possíveis para os átomos de carbono, ou seja, tais geometrias dependem dos três estados de hibridação apresentados anteriormente. Observe o quadro a seguir: Quadro 2: Geometria das moléculas Ligações no C Tipo de ligação Hibridização Ângulos adjacentes Geometria C 4 s sp3 109o 28’ Tetraédrica C 3 s 1 p sp2 120o Trigonal plana C C 2 s 2 p sp 180o Linear C σ σ σ σ pσ σσ C σ p p σC σ p C p σ s s s s s s s p s s p p pp ss 8 UNIUBE Dependendo do número de átomos de carbono que se liga a outro numa cadeia podemos classificá -los como sendo primário, secundário, terciário ou quaternário. Sendo assim, teremos um: • Carbono primário (P) quando ele estiver ligado a um ou nenhum outro átomo de carbono. • Carbono secundário (S) quando ele estiver ligado a dois outros átomos de carbono. • Carbono terciário (T) quando ele estiver ligado a três outros átomos de carbono. • Carbono quaternário (Q) quando ele estiver ligado a quatro outros átomos de carbono. Observe a estrutura a seguir e veja como podemos fazer tal classificação em uma cadeia orgânica. C C CC C O C C C C C C C C C P T S Q P P P P P P PS S T Cadeias carbônicas podem ser consideradas saturadas (compostas de carbonos que apresentem apenas ligações simples) ou insaturadas (compostas de pelo menos um átomo de carbono que apresente ligação dupla ou tripla). 1.3 Representação de cadeias carbônicas Cadeias carbônicas podem ser representadas de várias formas e devemos ter um domínio completo sobre elas para não cometermos equívocos e/ou interpre- tações indevidas. A mais simples das representações é a fórmula molecular, que nos fornece o número de átomos que compõem cada molécula. Por exemplo: • C2H6O Esta fórmula indica que a molécula do composto possui dois átomos de carbono, seis átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio. UNIUBE 9 • C8H18 Esta fórmula indica que a molécula do composto possui 8 átomos de carbono e 18 átomos de hidrogênio. No entanto, a fórmula molecular no campo da química orgânica nos dá pouca informação, assim precisamos na maioria das vezes empregarmos o que deno- minamos fórmula estrutural, para que se tenha uma descrição mais adequada do composto em questão. Observe a seguir para você ter uma ideia da utilidade da fórmula estrutural. C2H6O C2H6O Mesma fórmula molecular Etanol Éter dimetí lico C C O C O C H H H H H H H HH H HH H H C C C C C CC C C C C C C C C C C8H18 C8H18 Mesma fórmula molecular 2,2,4-trimetilpentano octano H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H Observe que a fórmula molecular nada nos informa sobre a disposição dos átomos no composto, e podemos em muitos casos ter para determinados com- postos a mesma fórmula molecular, porém fórmulas estruturais diferentes. A essa particularidade denominamos isomeria, ou seja, o etanol, muito empregado como combustível, em bebidas e como agente de assepsia, é isômero do éter dimetílico, utilizado em sprays nas áreas de pintura, cosmética e agricultura, substituindo compostos nocivos ao meio ambiente à base de cloro e flúor. Da mesma forma, dizemos que 2,2,4 -trimetilpentano (isooctano) é isômero do oc- tano, sendo estes dois isômeros os principais constituintes da gasolina. 10 UNIUBE Temos também o que denominamos fórmula condensada, que é uma simplifi- cação conveniente das fórmulas apresentas anteriormente. H3C CH2 OH H3C O CH3 Etanol Éter dimetí lico Etanol Éter dimetílico H3C C CH2 CH CH3 CH3CH3 CH3 H3C CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3 2,2,4-trimetilpentano octano 2,2,4 -trimetilpentano octano Consideremos a fórmula do octano, a qual podemos simplificar mais ainda. Observe que o grupo (–CH2– ) se repete 6 vezes na estrutura, e daí podemos representá -la da seguinte forma: CH3(CH2)6CH3 Existe, no entanto, uma representação mais abreviada da fórmula de um com- posto orgânico que é denominada fórmula de linhas ou bastão. Nessa represen- tação, átomos de carbonos são representados por linhas em ziguezague e os átomos de hidrogênio são omitidos. Átomos diferentes de carbono e hidrogênio deverão ser representados na estrutura. OH Etanol 2,2,4-tr imetilpentano octano etanol 2,2,4 -trimetilpentano octano Observe alguns exemplos a seguir: CH2 CH2 CH2CH2 CH3CH3 CH3 CH CH2 CH3 CH3 CH2 CH2 CH2 H3C C CH2 CH CH3 CH3CH3 CH3 H3C CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3 2,2,4-trimetilpentano octano UNIUBE 11 CH3 C CH O CH2 O Essa representação facilita enormemente quando trabalhamos com moléculas complexas como, por exemplo, o colesterol e o fenatil (narcótico e analgésico – 50 a 100 vezes mais potente que a morfina – usados em medicina), representados a seguir: HO N N O Colesterol (um precursor hormonal) Fenatil (analsgésico) HO N N O Colesterol (um precursor hormonal) Fenatil (analsgésico)Colesterol (um percursor hormonal) Fenatil (analgésico) importante! Neste tipo de fórmula, os hidrogênios não são representados, e sua quantidade cor- responde ao número de ligações necessárias para completar a tetravalência (quatro ligações) do carbono. exemplificando! Exemplo 1 Obtenha, a partir de sua fórmula de linha, a fórmula molecular do eugenol, óleo de cravo -da -índia, muito empregado como anestésico por dentistas. O HO Solução: O primeiro passo é determinar o númerode átomos de carbono presentes na estrutura, conforme assinalado a seguir. Observe que todos os pontos pretos representam um átomo de carbono. 12 UNIUBE O HO Observe que a terminação das linhas que acabam sobre os átomos diferentes de carbono não representa átomos de carbono. Isso é válido para todos os outros elementos (N, S, P etc.). Na estrutura em questão temos dez átomos de carbono. Vamos agora contar os átomos de hidrogênio. Conforme já colocamos, o carbono é tetravalente (faz quatro ligações) e, sendo assim, em cada uma das bolas pretas iremos contar quantas ligações o átomo carbono (bolinha preta) está fazendo. Se você contar três ligações, tem -se um átomo de hidrogênio subentendido. Se você contar duas ligações, temos dois átomos de hidrogênios subentendidos. Caso seja uma ligação, teremos três átomos de hidrogênio e sendo quatro ligações, então não se tem nenhum hidrogênio subentendido. O HO H H H H H H HH H H H Sendo assim, temos um total de 12 átomos de hidrogênio na estrutura em questão. Finalmente vamos contar os átomos de oxigênio, que neste caso são dois. Logo, a fórmula molecular do eugenol é C10H12O2 agora é a sua vez 1. Determine a fórmula molecular do ácido acetilsalicílico, princípio ativo da Aspirina, cuja fórmula é apresentada a seguir: O O OH O UNIUBE 13 2. O naftaleno, substância (tóxica!) comercializada sob o nome de naftalina e usada por algumas pessoas para evitar que traças e baratas se instalem em guarda -roupas, apresenta a seguinte fórmula estrutural: Dê a sua fórmula molecular. 3. Determine as fórmulas estruturais e moleculares de uma substância que não apre- senta anéis na sua estrutura e é formada por hidrogênios, cinco carbonos primários, um carbono quaternário e um carbono terciário 1.4 Hidrocarbonetos Hidrocarbonetos são compostos que contêm apenas átomos de carbono e hi- drogênio e podem ser classificados como segue, dependendo do tipo de ligação química existente na molécula. Hidrocarbonetos Alcanos CnH2n+2 CH4 Apenas ligações simples Hibridação sp3 Alcenos CnH2n C2H4 Uma ou mais ligações duplas Hibridação sp2 Arenos CnHn C6H6 Anel benzênico Hibridação sp2 para todos os carbonos Alcinos CnH2n-2 C2H2 Uma ou mais ligações triplas Hibridação sp 1.4.1 Alcanos, cicloalcanos e seus derivados Hidrocarbonetos que apresentem apenas ligações simples são classificados como alcanos. Os átomos de carbono da molécula são arranjados em cadeias (alcanos) ou em ciclos (cicloalcanos). Todos os alcanos têm fórmula geral CnH2n+2 e são denominados hidrocarbonetos saturados. Hidrocarbonetos sa- turados contêm apenas ligações simples, e são comumente referidos como alcanos alifáticos ou acíclicos (alcanos sem ciclo). Desse modo, a família dos alcanos é caracterizada pela presença de átomos de carbono com geome- 14 UNIUBE tria tetraédrica (hibridização sp3). Metano (CH4) e etano (C2H6) são os dois primeiros membros da família dos alcanos. 1.4.2 A nomenclatura Iupac dos alcanos Quando agrupamos ou classificamos produtos químicos orgânicos de interesse ambiental em categorias, em vez de tomar uma abordagem estritamente es- trutural, o fazemos com base em algumas propriedades físicas, químicas e/ou baseados na fonte ou utilização desses produtos. Termos como “compostos orgânicos voláteis (COV)”, compostos hidrofóbicos, “tensoativos”, “solventes”, plastificantes, “pesticidas” (herbicidas, inseticidas, fungicidas etc.), corantes e pigmentos orgânicos, óleo mineral ou derivado do petróleo são muito comuns na literatura. Usar tais categorias de compostos, sem dúvida, tem o seu valor prático. No entanto, temos de estar cientes de que cada um desses grupos de produtos químicos normalmente engloba compostos com estruturas muito diferentes. Dessa forma, o comportamento dos produtos químicos em qualquer grupo pode variar amplamente. Sendo assim, vamos agora abordar esses compostos do ponto de vista estrutural, de forma que possamos agrupá -los por características similares, o que permitirá que eles sejam nomeados siste- maticamente. Em geral, compostos orgânicos são dados por nomes sistemáticos, pelo emprego da regra: Prefixo + infixo + sufixo Onde o prefixo indica quantos substituintes estão presentes, infixo indica quantos átomos de carbono temos na cadeia mais longa (principal) e o sufixo indica o grupo funcional do composto. Nomes usuais, assim como nomes sistemáticos, são usados para os alcanos e seus derivados. Entretanto, é re- comendável usar os nomes sistemáticos ou nomenclatura Iupac (International Union of Pure and Applied Chemistry), que pode ser empregada a partir de um conjunto de regras simples. Com esse conjunto de regras, cada composto deverá apresentar um nome di- ferente e, dada a sua fórmula estrutural, devemos propor o seu nome oficial. O quadro a seguir apresenta algumas considerações com relação às partes que são utilizadas para se obter os nomes de compostos orgânicos. UNIUBE 15 Quadro 3: Prefixos e sufixos utilizados na nomenclatura dos compostos orgânicos Prefixo Infixo Sufixo Número de carbonos Tipo de ligações entre carbonos Função orgânica 1–MET 2–ET 3–PROP 4–BUT 5–PENT 6–HEX 7–HEPT 8–OCT 9–NON 10–DEC 11–UNDEC 12–DODEC 13–TRIDEC 14–TETRADEC 15–PENTADEC 16–HEXADEC 17–HEPTADEC 18–OCTADEC 19–NONADEC 20–ICOSA só ligações simples - AN 1 ligação dupla - EN 2 ligações duplas - DIEN 3 ligações simples - TRIEN 1 ligação tripla - IN 2 ligações triplas - DIIN 3 ligações triplas - TRIIN O HIDROCARBONETO OL ÁLCOOL AL ALDEÍDO ONA CETONA ÓICOÁCIDO CARBOXÍLICO Sendo assim, a nomenclatura dos alcanos pode ser realizada da seguinte forma: H C H H H H C H H C H H H H C H H C H H C H H H C H H CH C H H C H H H H H M e t a n o E t a n o P r o p a n o B u t a n o 1 carbono só ligação simples hidrocarboneto 2 carbonos só ligação simples hidrocarboneto 3 carbonos só ligação simples hidrocarboneto 4 carbonos só ligação simples hidrocarboneto Como você pode observar, todos os alcanos obedecem à fórmula geral CnH2n+2, onde n é o número de átomos de carbono. Assim, por exemplo, para o hexano 16 UNIUBE temos n = 6 átomos de carbono e, consequentemente, 2n + 2 = 2 * 6 + 2 = 14 átomos de hidrogênio. Logo, a fórmula molecular do hexano é C6H14. Entretanto, os alcanos podem apresentar o que denominamos ramificações ligadas à sua cadeia carbônica. Para darmos nomes a alcanos ramificados, vamos ver alguns dos grupos substituintes que teremos de identificar junto à cadeia principal. Um grupo derivado de um alcano pela remoção de um hidro- gênio é conhecido como grupo alquil, por exemplo, o grupo metila (CH3 – ) do metano (CH4) e o grupo etila (CH3CH2 – ) do etano (CH3CH3). H3C CH2H3C CH2H3C CH2 CHH3C CH3 CH2H3C CH2 CH2 CH2H3C CH CH3 CH H3C H3C CH2 CH3C CH3 CH3 H2C CH CH3 CH3 CH3 metil etil n-propil iso(sec)propil n-butil sec-butil iso-butil tert-butil vinil fenil o-toluil m-toluil p-toluil 1-naftil 2-naftil Agora vejamos as principais regras que deveremos seguir para dar nome aos alcanos ramificados. Nomeia -se um alcano ramificado acíclico considerando a cadeia mais longa como a principal, cujo nome será o mesmo do alcano com igual número de átomos de carbono. Os nomes dos grupos substituintes precedem o nome da cadeia principal. Por exemplo, os dois compostos representados a seguir são denominados metilpentano; todavia, o grupo metila ocupa posições diferentes na cadeia principal (destacada em negrito) de cada um deles. 2-metilpentano 3-metilpentano UNIUBE 17 Para diferenciar os dois compostos, a cadeia principal deve ser numerada a partir de uma das extremidades, e a posição do grupo, indicada por um alga- rismo arábico antes do seu nome. Essa numeração deve ser feita de modo que o grupo receba o menor número. 2-metilpentano 3-metilpentano 1 2 3 4 5 5432 1 Quando uma série de grupos estiver presente na cadeia principal, o sentido da numeração a ser escolhidoserá o que fornecer a menor sequência de números, independentemente da natureza dos grupos. 1 2345 3,4,6-trimetiloctano (numeração correta) 67 8 1 2 3 4 5 6 7 8 3,5,6-trimetiloctano (numeração incorreta) No exemplo anterior, numerando a cadeia principal da extremidade direita para a esquerda, obtém -se a sequência de números 3, 4, 6 e, procedendo à numeração pela extremidade oposta, a sequência obtida é 3, 5, 6. Comparando as duas sequências, vê -se que em ambos os casos o primeiro número é 3, já o segundo é 4 na primeira e 5 na segunda sequência. Como houve diferença nesse ponto, não há necessidade de comparar os números restantes. Numera -se, então, a cadeia principal a partir da sua extremidade direita. A repetição de um grupo é indicada pela adição do prefixo multiplicador corres- pondente (di, tri, tetra, penta etc.). Quando um mesmo grupo aparece duas vezes no mesmo carbono, como no exemplo a seguir (dois grupos metil no carbono 2), o número desse carbono deve ser repetido na sequência de números. 1 2345 2,2,4-trimetilpentano 18 UNIUBE Quando diferentes grupos estão ligados à cadeia principal, a citação deles deve ser feita em ordem alfabética. Observe no exemplo a seguir que os grupamentos simples são ordenados alfabeticamente, desconsiderando -se os prefixos multiplicadores di, tri, tetra etc. Nesse caso, etil é citado antes de dimetil. 541 2 3 6 7 8 3-etil-2,3-dimetil-5-propiloctano Os prefixos sec e tert são termos numéricos e também não fazem parte do nome. Portanto, para fins de citação em ordem alfabética, o nome do grupo tert -butil começa com a letra b, e não com t. Os prefixos iso e neo fazem parte do nome dos grupos; logo, isobutil é iniciado pela letra i e não por b. 5 4 1 23678 6-tert-butil-2-metilnonano 9 Grupos ramificados univalentes, derivados de alcanos, são nomeados considerando -se cadeia principal a que possuir o maior número de átomos de carbono e iniciando a sua numeração a partir do carbono que apresentar a valência livre. 5 4 1236789 H3C CH2 CH2 CH CH2 CH2 CH3 CH2 CH CH3 CH2 CH2 CH2 10 7-etil-4-metildecil(a) UNIUBE 19 Para fins de ordenação alfabética, o nome inicia -se com a primeira letra do nome completo das ramificações. Observe no exemplo a seguir que o nome do grupo complexo inicia -se com a letra d, e não m. 5 4 1 2 3678910 5-(2,2-dimetilpropil)-6-etilundecano 11 1 2 3 5 -(2,2 -dimetilpropil) -6 -etilundecano Havendo grupos diferentes em posições equivalentes da cadeia, o menor nú- mero será atribuído ao grupo primeiramente citado no nome, de acordo com a ordem alfabética. 5 4 1 23678 9 10 3-etil-8-metildecano Os nomes dos alcanos monocíclicos (conhecidos como cicloalcanos) são forma- dos acrescendo -se o prefixo ciclo ao nome do alcano não ramificado de mesmo número de átomos de carbono. ciclopropano ciclobutano ciclopentano cicloexano cicloepatano Os nomes dos alcanos cíclicos ramificados são formados obedecendo -se às mesmas regras (menores números e ordem alfabética para os grupos substi- tuintes) utilizadas para citação das ramificações em alcanos. 20 UNIUBE 1,2-dimetilciclopentano 1-etil-3-metilcicloexano CH3 CH3 CH3 H3C CH2 metilciclobutano CH31 23 4 5 6 agora é a sua vez 4. Proponha estruturas correspondentes aos seguintes nomes IUPAC. a) 3,4 -dimetilnonano b) 3 -etil -4,4 -dimetileptano c) 2,2 -dimetil -4 -propiloctano d) 2,2,4 -trimetil -pentano 5. Explique por que os nomes dos compostos a seguir estão incorretos e em seguida proponha nomes corretos (Iupac) para eles. a) 2,2 -dimetil -6 -etileptano b) 4 -etil -5,5 -dimetilpentano c) 3 -etil -4,4 -dimetilexano d) 2 -isopropil -4 -metileptano e) 5,5,6 -trimetiloctano 1.4.3 Alcenos Alcenos são hidrocarbonetos acíclicos que apresentam uma ou mais duplas ligações. Os alcenos são encontrados em vários organismos, tanto vegetais quanto animais, e, sendo assim, vários deles apresentam atividade biológica. Um UNIUBE 21 exemplo é o eteno, o alceno mais simples, que atua como hormônio responsável por induzir o amadurecimento de frutas. H2C CH2 Etenoeteno De acordo com as regras Iupac, os nomes dos alcenos não ramificados são for- mados a partir dos nomes dos alcanos correspondentes, trocando -se a terminação ano por eno (uma ligação dupla), adieno (duas ligações duplas), atrieno (três ligações duplas) etc. As posições das duplas ligações são indicadas por números colocados imediatamente antes dos sufixos eno, dieno etc. A numeração da cadeia é feita a partir da extremidade que fornece a menor sequência de números. 1 2 3 4 5 1 1 1 1 2 2 2 23 3 3 34 4 5 propeno but-1-eno but-2-eno pent-2-eno penta-1,3-dieno No caso dos alcenos ramificados, a cadeia principal é a mais longa e a que contém o maior número possível de ligações duplas. Nesse caso, as ramifica- ções, ou grupos substituintes, são localizadas na cadeia principal da mesma maneira descrita para os alcanos. No entanto, para efeito de numeração da cadeia, prevalece a regra da exemplificação precedente. Observe no caso do 4 -metilpent -2 -eno que, na numeração da cadeia principal, o mais importante é a posição da ligação dupla, e não a do grupo substituinte. Apenas no caso de empate é que as posições dos grupos substituintes serão consideradas. 1 2 345 1 12 2 3 34 4 5 2-metil-pent-2-eno 4-metil-pent-2-eno 4-hexilhepta-1,4-dieno 5 6 7 Os nomes dos alcenos cíclicos não ramificados são formados acrescentando -se o prefixo ciclo aos nomes dos hidrocarbonetos acíclicos (não cíclicos) corres- pondentes. A numeração do ciclo é feita de modo que os carbonos das ligações duplas recebam os menores números possíveis. No caso dos alcenos cíclicos ramificados, os substituintes são citados de acordo com as normas estabeleci- das anteriormente. 22 UNIUBE Cl ciclopenteno cicloexeno cicloexa-1,3-dieno 3-clorocicloepteno agora é a sua vez 6. Proponha estruturas correspondentes aos seguintes nomes Iupac. a) 2 -metil -hexa -1,5 -dieno b) 3 -etil -2,2 -dimetil -hept -3 -eno c) 2,3,3 -trimetil -octa -1,4,6 -trieno d) 3,4 -diisopropil -2,5 -dimetil -hex -3 -eno 7. Explique por que os nomes dos compostos a seguir estão incorretos e em seguida proponha nomes corretos (Iupac) para eles. a) hex -4 -eno b) 2 -metil -cicloexeno c) 1,2 -dimetil -ciclopenteno 1.4.4 Alcinos São hidrocarbonetos que apresentam ligação tripla entre átomos de carbono. O alcino mais simples é o etino, muito empregado em maçaricos para fazer soldas devido às altas temperaturas conseguidas em sua queima. etino C C HH UNIUBE 23 O nome de um alcino não ramificado é formado a partir do nome do alcano correspondente, substituindo -se a terminação ano por ino, adiino, atriino etc. quando o composto apresenta uma, duas, três etc. ligações triplas, respectiva- mente. Esses sufixos são antecedidos por números que indicam a posição das ligações triplas, sendo a numeração feita a partir da extremidade que fornece a menor sequência de números. 1 2 3 4 432 1 1 2 3 4 567 but-2-ino hex-1-ino hepta-3,6-diino Num sistema mais antigo de nomenclatura (não recomendado pela IUPAC), os alcinos podiam ser nomeados com se fossem derivados do acetileno (Etino). Desse modo, o but -2 -ino corresponderia ao dimetilacetileno. Já os alcinos ramificados podem ser nomeados de forma análoga à nomenclatura dos alcenos. 43 2 1 1 234 5 6 3-metilpent-1-ino 10-etil-9-metiltrideca-1,4,7,12-tetraino 5 7 89101112 13 Alcinos cíclicos insaturados são nomeados de maneira análoga aos alcenos cíclicos, bastando trocar a terminação eno por ino. cicloexino ciclononino cicloexino ciclononino 24 UNIUBE agora é a sua vez 8. Proponha estruturas correspondentes aos seguintes nomes Iupac: a) 3,3 -dimetil -oct -4 -ino b) 2,2,5,5 -tetrametil -hex -3 -ino c) 3 -sec -butil -hept -1 -ino d) 3 -etil -5 -metil -deca -1,6,8 -triino 9. Explique por que os nomes dos compostos a seguir estão incorretos e em seguida proponha nomes corretos (Iupac) para eles. a)1 -etil -5,5 -dimetil -hex -1 -ino b) 2 -isopropil -5 -metil -oct -7 -ino 1.5 Propriedades físicas dos compostos orgânicos As propriedades físicas mais importantes relacionadas aos compostos orgânicos são o ponto de fusão, o ponto de ebulição e a solubilidade em um particular solvente. Todas essas propriedades dependem das forças de interação entre as moléculas. As forças intermoleculares atrativas resultam de uma carga efetiva ou carga parcial sobre uma molécula interagindo com uma carga efetiva ou parcial sobre outra molécula. A atração entre uma carga positiva e uma carga negativa será tão forte quanto maior for a magnitude da carga e menor a distância entre elas. Vários tipos de interações carga -carga são importantes, conforme apresentado pelo esquema a seguir: δ− δ+ δ+ δ− δ+ RR C O R R C O_ _ Na+ Cl- Cl- Cl-Na+ Na+ Na+ H O H I I CH3 CH3 δ+ δ− δ+ H O H δ+ δ+ δ+ δ− δ− δ− δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ− δ− δ− δ− δ− δ− δ− δ− δ− δ+ CH3 CH3 δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ− δ− δ− δ− δ− δ− δ− δ− H O H CH3 H O δ+ δ+ δ+ δ− δ− Interação íon-íon: muito forte e é chamada de ligação iônica. Interação íon-dipolo: moderadamente forte. Interação dipolo-dipolo: é relativamente fraca. Interação dipolo-dipolo induzido: o dipolo da molécula de água induz o dipolo na molécula de iodo (I2). Interação muito fraca. Interação dipolo instantâneo-dipolo induzido: distribuições de cargas flutuantes em uma molécula induzem o aparecimento de um dipolo em em outra molécula. Por isso a denominação dipolo induzido. Este é o tipo de interação mais fraca que se tem. Interação por ligação (ponte) de hidrogênio: o hidrogênio deve estar ligado a um átomo de F, O ou N. Este hidrogênio deverá interagir com um átomo de F, O ou N sobre a outra molécula. Desse modo o hidrogênio deverá ficar sempre entre dois destes três átomos (F, O ou N), de modo a caracterizar a ligação de hidrogênio. Esta é uma interação relativamente forte. UNIUBE 25 δ− δ+ δ+ δ− δ+ RR C O R R C O_ _ Na+ Cl- Cl- Cl-Na+ Na+ Na+ H O H I I CH3 CH3 δ+ δ− δ+ H O H δ+ δ+ δ+ δ− δ− δ− δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ− δ− δ− δ− δ− δ− δ− δ− δ− δ+ CH3 CH3 δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ− δ− δ− δ− δ− δ− δ− δ− H O H CH3 H O δ+ δ+ δ+ δ− δ− Interação íon-íon: muito forte e é chamada de ligação iônica. Interação íon-dipolo: moderadamente forte. Interação dipolo-dipolo: é relativamente fraca. Interação dipolo-dipolo induzido: o dipolo da molécula de água induz o dipolo na molécula de iodo (I2). Interação muito fraca. Interação dipolo instantâneo-dipolo induzido: distribuições de cargas flutuantes em uma molécula induzem o aparecimento de um dipolo em em outra molécula. Por isso a denominação dipolo induzido. Este é o tipo de interação mais fraca que se tem. Interação por ligação (ponte) de hidrogênio: o hidrogênio deve estar ligado a um átomo de F, O ou N. Este hidrogênio deverá interagir com um átomo de F, O ou N sobre a outra molécula. Desse modo o hidrogênio deverá ficar sempre entre dois destes três átomos (F, O ou N), de modo a caracterizar a ligação de hidrogênio. Esta é uma interação relativamente forte. 1.5.1 Interações íon -íon São as mais fortes do conjunto anterior, pois envolvem interações entre cargas efetivas. Por exemplo, a grande força eletrostática que mantém os íons Na+ e Cl - unidos no cristal de sal de cozinha é de 788 kJ/mol, e uma ligação covalente normal tem uma energia de aproximadamente 416 kJ/mol. Devido à grande energia que deve ser fornecida para separar os íons, os compostos iônicos têm elevados pontos de fusão e ebulição. Por exemplo, o NaCl (ligação iônica) funde a 801 oC, enquanto CH3Cl (substância com ligações covalentes) funde a -98 oC. Em decorrência da menor quantidade de carga envolvida numa interação entre um íon e uma molécula polar, a magnitude da atração íon -dipolo resultante é muito menor do que a atração íon -íon. A magnitude da interação continua a diminuir quando a quantidade de carga envolvida diminui. Portanto, a atração entre duas moléculas polares (dipolo -dipolo) é mais fraca do que uma interação de um íon com uma molécula polar. A atração entre uma molécula apolar e uma molécula polar (dipolo induzido -dipolo) é menor ainda. A atração entre moléculas apolares (dipolo instantâneo -dipolo induzido ou força de London) é a mais fraca de todas, porém a força de London total em uma molécula grande pode ter um efeito importante sobre as suas propriedades físicas. Um exemplo é que a água (interação dipolo -dipolo) é líquida à temperatura ambiente, enquanto a parafina (interação dipolo instantâneo -dipolo induzido) é sólida a esta temperatura, porém o tamanho da última molécula é grande em relação à primeira. Estas três últimas interações são às vezes denominadas de forças de Van der Waals e variam de aproximadamente 20 a 2 kJ/mol. 26 UNIUBE Outro tipo muito importante de interação presente em algumas moléculas orgâni- cas é a ligação de hidrogênio. A ligação ilustrada anteriormente é um tipo especial de atração dipolo -dipolo. Nas ligações de hidrogênio, um átomo de hidrogênio está ligado a um dos três átomos mais eletronegativos da tabela periódica (F, O ou N). Este átomo de hidrogênio (parcialmente positivo) é atraído pela porção negativa de outra molécula, sendo esta parte negativa um átomo de F, O ou N. A força da ligação de hidrogênio é comumente por volta de 12 a 34 kJ/mol. Devido ao fato de as ligações C – H serem poucos polares, esses hidrogênios não estabelecem ligações de hidrogênio. 1.5.2 Íon -íon em compostos orgânicos Ligação iônica (interação íon -íon) ocorre entre espécies que apresentam cargas opostas e envolvem interação eletrostática entre essas duas cargas opostas. Os grupos funcionais mais comuns e que mais facilmente se ionizam são as aminas, os ácidos carboxílicos e os fenóis em menor extensão. R N H H R N H H H -H+ +H+ R C OH O R C O O +H+ -H+ OH O +H+ -H+ Amina Íon amônio Ácido carboxílico Íon carboxilato Fenol Íon fenolato Ligação iônica é possível entre moléculas contendo íon amônio e íon carboxilato. Algumas moléculas importantes contêm ambos os grupos – são os aminoácidos. Ambos os grupos estão ionizados para formar uma estrutura conhecida como zwitterion (uma molécula neutra que contém uma carga efetiva positiva e uma carga efetiva negativa dentro da própria molécula) e a interação íon -íon pode ocorrer entre as moléculas. O CH3N O O CH3N O O CH3N O 1.5.3 Ligação de hidrogênio em compostos orgânicos Irá ocorrer quando moléculas contenham um átomo de hidrogênio ligado a um heteroátomo como oxigênio ou nitrogênio (o flúor jamais será um heteroátomo. Por quê?). Os grupos funcionais que comumente apresentam ligações de hidro- UNIUBE 27 gênio são os alcoóis, fenóis, ácidos carboxílicos, amidas e aminas. Nitrogênio e oxigênio são mais eletronegativos do que o hidrogênio. Como resultado, o heteroátomo apresenta uma carga parcial negativa e o hidrogênio uma carga parcial positiva. Daí o hidrogênio parcialmente positivo interagirá com o hetero- átomo (parcialmente negativo) de outra molécula. 1.5.4 Diplo -dipolo em química orgânica Esta interação é estabelecida entre moléculas que tenham ligações polarizadas. Um dos grupos funcionais que fazem tal interação é o grupo carbonila (C = O). A ligação polarizada faz com que surja uma carga parcial negativa sobre o átomo mais eletronegativo da ligação e uma carga parcial positiva sobre o átomo menos eletronegativo da ligação. Isso resulta em um momento de dipolo que pode ser representado por uma seta conforme ilustrado na figura. Na interação, essas moléculas alinham seus momentos de dipolo em direções opostas. 1.5.5 Dipolo instantâneo -dipolo induzido em compostos orgânicos Este tipo de interação é muito comum entre os compostos orgânicos, principal- mente entre os hidrocarbonetos (alcanos, alcinos, alcenos, compostos aromáti- cos). Outras moléculas que fazem interação predominantementedesse tipo são as gorduras, sendo que estas não se dissolvem em água, e dessa forma são denominadas hidrofóbicas (aversão à água). Moléculas hidrofóbicas se dissolvem facilmente em solventes apolares e em algumas situações essas interações são denominadas interações hidrofóbicas. 28 UNIUBE exemplificando! Exemplo 2 Que tipos de interações existem entre cada um dos compostos a seguir? a) CH3CH2CH3 b) CH3OCH3 c) CaCl2 d) CH3OH Solução: a) Neste caso temos um hidrocarboneto, e todo hidrocarboneto é apolar e, portanto, o tipo de interação existente é dipolo instantâneo -dipolo induzido. b) Aqui temos o oxigênio como heteroátomo, o que faz com que tenhamos um dipolo na molécula e daí a interação é do tipo dipolo -dipolo. (Observe que neste caso não temos interação do tipo ligação de hidrogênio, pois todos os hidrogênios estão ligados ao carbono e não ao oxigênio ou flúor ou nitrogênio.) c) Aqui tem um composto formado pelos íons Ca2+ e Cl - e, portanto, o tipo de intera- ção é íon -íon. d) Neste caso, temos uma molécula na qual o oxigênio está ligado a um átomo de hidrogênio e, portanto, temos interação do tipo ligação de hidrogênio. agora é a sua vez 10. O esquema a seguir apresenta um tipo de interação muito importante para a con- formação de proteínas. Com base na representação, diga que tipo de interação está representado nesta figura. UNIUBE 29 1.6 Influência das forças intermoleculares no ponto de fusão, ponto de ebulição e solubilidade As moléculas de um sólido cristalino estão em um arranjo regular que lhes per- mite ficarem muito próximas umas das outras. Para ocasionar a fusão do sólido, calor deve ser fornecido para aumentar as vibrações das moléculas e afastá -las parcialmente, permitindo que elas se movimentem mais livremente, e assim a substância se torne líquida, mas mantendo ainda certa interação com as molé- culas vizinhas. Quanto mais forte for a interação entre as partículas, maior será o ponto de fusão. Portanto, compostos iônicos se fundem a temperaturas mais altas do que compostos polares, e estes se fundem a temperaturas mais altas do que compostos apolares. Os pontos de fusão tanto de compostos polares quanto apolares aumentam com o aumento da massa molecular, pois moléculas maiores possuem maior extensão de interação. Finalmente, a forma do composto afeta drasticamente o seu ponto de fusão. Moléculas mais simétricas permitem melhores interações e, consequentemente, apresentam maiores pontos de fusão. Observe o quadro a seguir: Quadro 4: Ponto de fusão de compostos orgânicos e inorgânicos Composto Ponto de fusão (oC) Comentários NaCl 801 Compostos iônicos apresentam altos pontos de fusão. LiF 842 Íons menores ficam mais próximos. CH3CH2CH3 propano -190 Compostos apolares de baixa massa molecular apresentam baixos pontos de fusão. CH3CH2CH2CH2CH3 pentano -130 Pontos de fusão aumentam com o aumento da massa molecular. CH3 C CH3CH3 CH3 -71 Este isômero do pentano tem uma forma esférica que lhe permite melhor compactação no cristal e, portanto, apresenta maior ponto de fusão. CH3 CH2 CH2 C H O -99 Este composto tem aproximadamente a mesma massa do pentano, porém, a interação dipolo -dipolo faz com que este tenha maior ponto de fusão. 30 UNIUBE O composto conhecido como cubano, um dos isômeros de compostos com fórmula C8H8, tem seus oito átomos de carbono nos vértices de um cubo. Este é um exemplo de como a forma de um composto influencia o seu ponto de fu- são. Octano, por sua vez, é um hidrocarboneto de fórmula C8H18, cuja cadeia é normal (sem ramificações) e apresenta ponto de fusão igual a -57 oC. Devido à simetria do cubano, ele empacota melhor do que o octano no cristal, e como consequência seu ponto de fusão é bem maior (131 oC). Cubano pf = 131 oC Octano pf = -57oC Explique se você espera que o CH3Br tenha maior ponto de fusão do que o KBr. Na fase líquida, moléculas estão mais livres para se movimentarem, embora interajam com as moléculas vizinhas. Para fazer uma molécula passar para vapor, deve ser fornecida energia suficiente para vencer as forças intermo- leculares entre as moléculas no estado líquido. Dessa forma, assim como no caso do ponto de fusão, quanto maior a força de interação, maior será o ponto de ebulição. Entretanto, a influência da forma da molécula sobre o ponto de ebulição é bem diferente de sua influência sobre o ponto de fusão. Como o estado líquido é bem desordenado, compostos simétricos não irão apresentar maiores pontos de ebulição. Sendo assim, moléculas com cadeias mais longas e com mesma massa que cadeias mais compactas terão maior superfície de contato, e, portanto, uma maior extensão de interação. Deste modo moléculas de cadeia mais longas apresentarão pontos de ebulição ligeiramente maiores do que aquelas mais compactas e com mesma massa molecular. A presença de ligações de hidrogênio tem um efeito muito maior sobre o ponto de ebulição do que aquele apresentado no ponto de fusão. Observe o quadro a seguir: UNIUBE 31 Quadro 5: Ponto de ebulição de compostos orgânicos e inorgânicos Composto Ponto de ebulição (oC) Comentários NaCl 1413 Compostos iônicos apresentam altos pontos de ebulição. LiF 1676 Íons menores ficam mais próximos. CH3CH2CH3 propano -42 Compostos apolares de baixa massa molecular apresentam baixos pontos de ebulição. CH3CH2CH2CH2CH3 pentano 36 Pontos de ebulição aumentam com o aumento da massa molecular. CH3 C CH3CH3 CH3 10 Embora este isômero seja mais simétrico, neste caso a cadeia do pentano permite maior extensão de interação e como consequência teremos um menor ponto de ebulição, pois tem -se menor extensão de interação. CH3 CH2 CH2 C H O 76 Este composto tem aproximadamente a mesma massa do pentano, porém a interação dipolo -dipolo faz com que este tenha maior ponto de ebulição. CH3CH2CH2CH2OH 117 O butan -1 -ol ferve a uma temperatura bem maior que o composto anterior. Isso decorre do fato de neste composto termos a presença de interação por ligação de hidrogênio. Qual dos compostos você esperaria ser mais solúvel em água? Explique. O OH O OH 32 UNIUBE Quando um composto se dissolve em um dado solvente, suas moléculas ficam separadas. Essas moléculas se misturam então com as moléculas do solvente, separando também as moléculas do solvente. Portanto, a energia neste caso é gasta para separar tanto as moléculas do soluto quanto do solvente. No entanto, alguma energia deverá também ser liberada em decorrência da interação entre soluto e solvente. Na maioria das vezes, a energia liberada é menor do que a energia necessária para vencer as forças entre soluto -soluto e aquela entre solvente -solvente. No fim, energia deve ser fornecida ao sistema – isto é, o processo é endotérmico: a variação de entalpia é positiva (DH>0). Por que então a solução se forma espontaneamente, se temos de gastar energia? Você deve se lembrar do curso de química tecnológica que a espontaneidade de um processo qualquer não deverá jamais levar em conta apenas a entalpia (DH), mas também a entropia (DS), que de maneira simples mede o grau de desordem do sistema. Um processo que aumenta a desordem (DS>0) é favo- recido. Embora a maioria das soluções seja desfavorecida pela variação de entalpia (DH>0), a solução resultante apresenta uma desordem maior que se considerarmos o soluto e o solvente separadamente (favorecido pela entropia, DS>0). Portanto, contanto que o processo não seja endotérmico demais, a varia- ção de entropia fará com que o soluto se dissolva no solvente. Caso o processo seja muito endotérmico, devemos examinar o soluto e o solvente. Se as forças atrativas entre soluto -soluto ou aquelas entre solvente -solvente forem conside- ravelmente maiores do que a atração entre soluto -solvente, o processo será excessivamente endotérmico e a solução não se formará. Em outras palavras, as novas interações na solução deverão ser comparáveis àquelas existentesantes da mistura. Isso significa que soluto e solvente devem ter forças atrativas semelhantes, para que, uma vez misturados, as novas forças atrativas possam substituir as antigas com magnitude similar. Geralmente ouvimos essa condição como sendo “semelhante dissolve semelhante”, que significa que as polaridades do soluto e solvente devem ser similares. Cloreto de sódio (NaCl) se dissolve bem em água (H2O), um solvente consi- deravelmente polar. Embora as interações entre as moléculas de água e os íons sejam bem mais fracas do que aquelas existentes no cristal do cloreto de sódio, elas são fortes o suficiente para fazer com que a dissolução do NaCl em água seja apenas ligeiramente endotérmica, e então a variação de entropia é que possibilita tal dissolução. Já quando tentamos dissolver NaCl em pentano (CH3CH2CH2CH2CH3), não conseguimos, pois as interações entre as moléculas de pentano e os íons do NaCl são tão fracas em comparação à força entre os íons Na+ e Cl -, que se torna praticamente impossível a separação desses dois íons usando tal solvente, pois o processo é tão endotérmico que a variação de entropia não é suficiente para contornar tal inconveniente. UNIUBE 33 Se água e pentano são colocados em contato, eles não se misturam e formam por isso um sistema com duas fases, pois a interação entre as moléculas de água e pentano é muito menor que a interação entre as moléculas de água, e assim dizemos que o pentano é hidrofóbico. O etanol (CH3CH2OH) tem uma parte apolar (CH3CH2) e uma parte polar (hidrofílica – OH). Os efeitos dessas duas partes estão em competição, mas nesse caso a parte hidrofílica vence a parte hidrofóbica, e o etanol se mistura com a água em todas as proporções. Como podemos esperar, a parte hidrofóbica de uma molécula pode aumentar e assim o composto se tornar menos solúvel em água. Nesse sentido, butan -1 -ol é mesmo menos solúvel em água (7,4 g/100 mL) e hexan -1 -ol, é menos solúvel ainda (0,6 g/100 mL). Muitos compostos orgânicos apresentam uma grande parte hidrofóbica e são essencialmente insolúveis em água. Entretanto, eles são as vezes solúveis em solventes menos polares, tais como o etanol, o éter dietílico e o diclorometano. Um exemplo é o caso do etanol ser adicionado à gasolina (C8H18 – apolar), porém, se adicionarmos água à gasolina, praticamente todo o etanol se transfere para a fase aquosa, pois a interação água -etanol é mais forte (ligação de hidrogênio) do que a interação etanol -gasolina (essencialmente dipolo instantâneo -dipolo induzido). agora é a sua vez 11. Qual dos dois isômeros a seguir você espera ter maior ponto de ebulição? Ex- plique. CH3CH2CH2OH ou CH3CH2OCH3 1.7 Aromáticos Em 1825 o cientista inglês Michael Faraday isolou, a partir de um resíduo oleoso acumulado nos tanques que transportavam um gás comprimido utilizado na ilu- minação pública de Londres, a substância que hoje conhecemos como sendo o benzeno. Esse e outros compostos que apresentam propriedades químicas semelhantes foram denominados aromáticos. A designação foi dada inicialmente com base puramente no cheiro dessas substâncias, isoladas de resinas de plan- tas aromáticas. Dos compostos aromáticos, o benzeno (também vulgarmente chamado de benzina ou benzol) é o mais simples. Sua fórmula é apresentada a seguir, juntamente com outros compostos aromáticos importantes: 34 UNIUBE CH3 CH3 Benzeno Tolueno Naftaleno Antraceno Fenantreno Os compostos apresentados não seguem normas de nomenclatura, tendo cada um nome próprio. Nos exemplos anteriores observe que foram colocadas duas formas de apresentação das moléculas desses compostos. Isso se deve ao fato de que no anel aromático existe um conjunto de ligações alternado em duplas e simples. Isso possibilita a ocorrência de um fenômeno denominado ressonância, que pode ser entendido como o movimento incessante das duplas ligações no anel aromático, conforme evidenciado na figura a seguir: Duas estruturas equivalentes para o benzeno Híbrido de ressonância representando a mistura das duas formas contribuintes Assim como os hidrocarbonetos aromáticos possuem nomes característicos, que não seguem regras comuns de nomenclatura, seus radicais também possuem nomes próprios. Os dois mais comuns são: Fenil Benzil CH2 Preste bastante atenção a um detalhe: o substituinte proveniente do benzeno é o fenil, enquanto o substituinte que vem do tolueno é o benzil. Os hidrocarbonetos aromáticos ramificados possuem sistemática de nomencla- tura bem peculiar. Se forem derivados do benzeno, seguem a regra dos menores números, com algumas particularidades. Já aqueles que forem provenientes do UNIUBE 35 naftaleno possuem sistema simples para indicar uma ramificação e numeração caso os anéis possuam dois ou mais substituintes. vinilbenzeno (estireno) CH3 metilbenzeno (tolueno) OH hidróxibenzeno Quando houver apenas dois substituintes no anel benzênico podemos numerar cada carbono do anel de 1 a 6, e o nome sairá das seguintes denominações: Quadro 6: Prefixos utilizados na nomenclatura dos compostos orgânicos Prefixo Posições dos radicais orto - ou o - 1 e 2 meta - ou m - 1 e 3 para - ou p - 1 e 4 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH31,2-dimetilbenzeno o-dimetilbenzeno o-xileno 1,3-dimetilbenzeno m-dimetilbenzeno m-xileno 1,4-dimetilbenzeno p-dimetilbenzeno p-xileno A nomenclatura de derivados do naftaleno será realizada com as letras gregas a e b quando houver apenas um grupo substituinte, e quando houver dois ou 36 UNIUBE mais substituintes, teremos de empregar a numeração, conforme apresentado nas estruturas a seguir: 8 6 1 45 7 3 2 CH3 1-etil-5-metilnaftaleno CH3 2-etil-1-metilnaftaleno CH3 1,6-dimetilnaftaleno CH3 Chegamos assim ao fim da descrição daqueles que chamamos de hidro- carbonetos. Eles são os esqueletos primordiais dos quais derivam todas as outras funções orgânicas. Com relação à nomenclatura dos outros grupos funcionais, só iremos mudar o sufixo de acordo com a função orgânica em questão. UNIUBE 37 saiba mais Hidrocarbonetos e o meio ambiente Hidrocarbonetos estão espalhados por toda parte no meio ambiente. Hidrocar- bonetos naturais vão deste o metano até os b -carotenos, além de muitos outros de cadeias ramificadas, olefínicos, cíclicos, e hidrocarbonetos aromáticos que são encontrados em combustíveis fósseis, ou sintéticos que derivam do proces- samento de combustíveis fósseis. Com uma produção global anual de derivados do petróleo (por exemplo, gasolina, querosene, óleos etc.) estimada em cerca de 3 mil milhões de toneladas, não deve ser surpresa que a produção, transporte, processamento, armazenamento, utilização e eliminação desses hidrocarbo- netos tragam grandes problemas ao meio ambiente. Esses produtos químicos orgânicos são liberados para a atmosfera nas bombas de gasolina durante o abastecimento de nossos carros, ou são jogados em nossas ruas, decorrente dos vazamentos comuns nos automotores. No mesmo sentido, temos o naufrá- gio de navios petroleiros e rupturas de poços de petróleo que contribuem para o espalhamento desses poluentes no meio ambiente. Além disso, embora os vários hidrocarbonetos compartilhem uma origem comum na complexa mistura que é o petróleo, certamente não se comportam da mesma maneira no meio ambiente. Alguns componentes apresentam tendência para evaporar, enquanto outros são sólidos; alguns hidrocarbonetos de petróleo são não reativos (“metano é a bola de bilhar da química orgânica”), alguns são atóxicos, enquanto outros são famosos por sua carcinogenicidade. Assim, o petróleo tem motivado uma grande parte da investigação ambiental na química orgânica e os componentes individuais são um bom exemplo do porquê as estruturas químicas desses compostos devem ser conhecidas tal qual fizemos no estudo anterior. Uma das particularidades mais marcantes de todos os hidrocarbonetos é a sua característica hidrofóbica, ou seja, não apresenta interação (não se mistura)