Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
In sp ira da n a ob ra C as as d e A lfr ed o Vo lp i Atena Apostila do PROFESSOR BIOLOGIA B Aula Caderno 1 1 Terra: o planeta dos seres vivos 2 Células: as unidades estruturais e fundamentais dos seres vivos 3 A composição molecular dos seres vivos Aula Caderno 2 4 A célula realiza trocas de substâncias com o ambiente – Parte I 5 A célula realiza trocas de substâncias com o ambiente – Parte II 6 Como a célula produz moléculas 7 Proteínas especiais – enzimas e anticorpos Aula Caderno 3 8 A energia que mantém e sustenta e os seres vivos 9 O processo da respiração celular produz ATP 10 Como se armazena e processa a informação hereditária 11 O mecanismo da síntese de proteínas: o código genético em ação Aula Caderno 4 12 A continuidade da vida através da divisão da célula 13 Como as células transmitem as informações hereditárias – um mecanismo que é matéria-prima para a evolução biológica 14 Recombinação gênica e gametogênese humana Aula Caderno 5 15 Herança biológica 16 As bases do estudo da Genética: os princípios mendelianos 17 Cálculos de probabilidade na Genética 18 Princípios mendelianos no estudo simultâneo de duas características hereditárias Aula Caderno 6 19 O uso de símbolos na Genética 20 Alelos múltiplos 21 O fator Rh Aula Caderno 7 22 Herança ligada ao sexo nos seres humanos 23 Ambientes e seres vivos em transformação 24 Os fatores que causam a variabilidade Aula Caderno 8 25 Biologia evolutiva 26 Como é estudada a evolução 27 As origens da nossa espécie BIOLOGIA B ATENA 018 1 AULA biologia B aula 1 CURSINHO DA POLI 1 2 2 2 -1 Vocês que se especializam em ciência acharão difícil compreender a religião, a não ser que sintam, como Voltaire, que a harmonia das esferas revela uma inteligência cósmica e a não ser que entendam, como Rousseau, que o homem não vive só do intelecto. Somos partículas tão microscópicas num universo tão imenso, que nenhum de nós está apto a entender o mundo e muito menos a dogmatizá-lo. Sejamos cui- dadosos quanto à maneira pela qual lançamos nossas pobres generalizações contra a infinita variedade, extensão e sutileza do mundo. Will Durant. In Paul Amos Moody. Introdução à evolução. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1975. Imagine a seguinte situação: a agência aeroespa- cial brasileira planeja enviar uma missão ao espaço, e os astronautas devem saber reconhecer possíveis formas de vida nos planetas de outras galáxias. Para ajudá-los, você foi encarregado de descrever, num re- latório, todos os seres vivos conhecidos. As bases para a produção de seu relatório são os seres vivos da Terra, já que não conhecemos outros. Será possível organizar Terra: o planeta dos seres vivos tal compêndio? Como? Diante da atual diversidade de espécies e de seus diferentes hábitos, podemos en- contrar características que nos permitam agrupá-los? E quanto àqueles que se extinguiram e dos quais só temos registros fósseis? Que fenômenos fazem com que um ser seja e permaneça vivo? Como podemos definir a vida? Introdução ao estudo da vida Biologia quer dizer “estudo da vida”. Não é fácil, po- rém, definir vida; tampouco morte. Por isso, seria mais apropriado dizer que a Biologia é a ciência que se preo- cupa em conhecer a vida estudando os seres vivos. Mas há uma enorme variedade de seres vivos. Estima- se que existam 30 milhões de espécies deles em nosso planeta, das quais conhecemos apenas 3 milhões. Os seres vivos podem ser microscópicos ou macroscópicos, podem habitar ambientes aquáticos e terrestres... A diversidade das espécies é conhecida como biodiversidade (conforme trata mais detalhadamente a Biologia A, no caderno 1). C or el S to ck P h ot o Fotografia de satélite da Terra a aproximadamente 33 000 km de distância. A Terra é visivelmente diferente dos outros plane- tas do sistema solar: é azul e verde e um pouco brilhante. O azul é a água; o verde, a vegetação; o brilho, a luz do sol refletida na camada gasosa que envolve o planeta. E tem vida, a qual depende dessas condições. Para a biologia, de modo geral, se existe a biodi- versidade é porque existe diversidade de ambientes. Desertos, florestas temperadas e equatoriais, águas rasas e profundas dos oceanos, rios e lagos, pântanos etc. estão associados a diferentes parâmetros de tempe- A diversidade de espécies é o reflexo da diversidade de ambien- tes terrestres e aquáticos da Terra. 00 16 biologia B • aula 1 2 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -1 ratura, composição dos íons, quantidade de oxigênio e água disponível, tipo do solo ou substrato etc.; tais características podem ser favoráveis ou desfavoráveis à sobrevivência de diferentes seres. A biodiversidade resulta de um longo e lento pro- cesso, conhecido como evolução biológica. Evolução implica modificação. As modificações que acontecem de uma geração para outra são pequenas, mas podem ser transmitidas às ge- rações seguintes. Após milhares de anos, o conjunto das modificações, isto é, das novas características herdadas, resulta em organismos diferentes dos ancestrais. Formulada por Charles Robert Darwin (1809-1882), a ideia da seleção natural descreve o mecanismo pelo qual a evolução pode ser verificada. Para começar a entender a seleção natural, conside- remos o seguinte: 1. alguns indivíduos de uma população (e, portanto, da mesma espécie) herdam novas características, que podem incrementar ou reduzir suas possibilidades de sobrevivência; 2. muitos descendentes são gerados, mas, dado que a disponibilidade de alimentos, de espaço, de água, de oxigênio etc. não comporta a crescente proliferação de indivíduos, instaura-se a luta pela sobrevivência; 3. indivíduos da mesma espécie têm as mesmas neces- sidades, por isso, é grande a competição entre eles; 4. os mais bem sucedidos na competição – ou os adap- tados – têm maiores chances de sobrevivência e de reprodução. O processo evolutivo opera no sentido de reunir os seres vivos cujas variações herdadas possibilitam melhores condições de vida e, logo, maiores chances de sobrevivência. A ideia da seleção natural pode explicar o apareci- mento de toda a biodiversidade, e é fundamental para diversas áreas da biologia como a genética, a citologia e a ecologia. Além disso, provocou grande impacto sobre outras áreas do conhecimento como a paleontologia, a química e até mesmo as ciências ditas humanas, como a sociologia e a história. Por isso tudo, é muito importante compreendê-la. Nosso planeta tem quase 5 bilhões de anos, e a his- tória da vida está relacionada com a história da Terra. As formas de vida mais antigas descobertas são bactérias fósseis das rochas de Pilbara, no polo Norte, com idade estimada de 3,5 bilhões de anos. Quem compõe a cronologia desta história são os geólogos, que para isso têm usado a composição das rochas, a ordem de sua formação e os fósseis que nela se encontram. O tempo geológico se divide em éons, os éons em eras, as eras em períodos e os períodos em épocas. Todas as espécies de seres vivos relacionam-se entre si e com o ambiente, e é certo que tanto os seres vivos quanto o ambiente modificam-se ao longo do tempo, mas perpetua-se uma lon- guíssima jornada de sobrevivência e equilíbrio. Talvez a espécie humana seja a única a afetar seriamente a manutenção desse equilíbrio, destruindo os ambientes naturais e a biodiversidade. Na ilustração esquemática, representa-se a teia alimentar, um exemplo de relação ecológica entre os seres vivos que mantém o sistema em equilíbrio. Principais episódios na história da vida Fo lh a de S . P au lo , 3 0 n ov . 2 00 0. (a d ap ta d o) 4 500 3 500 4 000 3 000 2 700 2 600 1 500 1 200 500 0 Era Paleozoica Era Mesozoica Era Cenozoica Principais episódios na história da vida E ra P ré -C a m b ri são reações endergônicas. energiaenergia degrad ação sí n te se A B + C reação endergônica reação exergônica Esquema das reações endergônica e exergônica. As categorias do metabolismo celular Para facilitar o entendimento do conjunto das reações químicas do metabolismo celular, podemos discriminá-las organizando categorias: METABOLISMO DA CONSTRUÇÃO O metabolismo celular comparado à construção de uma casa. vitamina uso no corpo deficiência principais fontes A (retinol) B2 (riboflavina) B1 (tiamina) B (niacina) B6 (piridoxina) C (ácido ascórbico) D* (calcipherol) E (tocopherol) K (filoquinona) Necessária para o crescimento normal e para o bom funcionamento dos olhos, do nariz, da boca, dos ouvidos e dos pulmões. Previne resfriados e várias infecções. Evita a “cegueira noturna”. Cegueira noturna, xeroftalmia (olhos secos); em crianças, cegueira total Vegetais amarelos (cenoura, abóbora, batata-doce, milho), pêssego, nectarina, apricó, gema de ovo, manteiga, fígado Auxilia a oxidação dos alimentos. Essencial à respiração celular. Mantém a tonalidade saudável da pele. Atua na coordenação motora. Ruptura da mucosa da boca, dos lábios, da língua e das bochechas Folhas (couve, repolho, espinafre etc.), carnes magras, ovos, fermento de padaria, fígado, leite Auxilia na oxidação dos carboidratos. Estimula o apetite. Mantém o tônus muscular e o bom funcionamento do sistema nervoso. Previne o beribéri. Perda de apetite, fadiga muscular, nervosismo, beribéri (problemas cardíacos e neurológicos) Cereais na forma integral e pães, feijão, fígado, carne de porco, ovos, fermento de padaria, vegetais de folha Mantém o tônus nervoso e muscular e o bom funcionamento do aparelho digestivo. Previne a pelagra. Inércia e falta de energia. Nervosismo extremo, distúrbios digestivos (pelagra) Levedo de cerveja, carnes magras, ovos, fígado, leite Auxilia a oxidação dos alimentos. Mantém a pele saudável. Doenças da pele, distúrbios nervosos, inércia e extrema apatia Levedo de cerveja, cereais integrais, fígado, carnes magras, leite Mantém a integridade dos vasos sanguí- neos e a saúde dos dentes. Previne infeções. Inércia e fadiga em adultos, insônia e nervosismo em crianças, sangramento das gengivas, dores nas juntas, dentes alterados, escorbuto Frutas cítricas (limão, lima, laranja), tomate, couve, repolho e outros vegetais de folha, pimentão. Atua no metabolismo do cálcio e do fósforo. Mantém os ossos e os dentes em bom estado. Previne o raquitismo. Problemas nos dentes, ossos fracos, contribui para os sintomas da artrite, raquitismo Óleo de fígado de bacalhau, fígado, gema de ovo Promove a fertilidade. Previne o aborto. Atua no sistema nervoso involuntário, no sistema muscular e nos músculos invo-luntários. Esterilidade do macho, aborto (em ratas) Óleo de germe de trigo, carnes magras, laticínios, alface, óleo de amendoim Atua na coagulação do sangue. Previne hemorragias. Hemorragias Vegetais verdes, tomate, castanha * vitamina sintetizada sob a influência de luz solar biologia B • aula 3 22 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -1 1. o metabolismo de controle – os metabolismos energético e de construção são comandados e con- trolados pelas informações genéticas das células. 2. o metabolismo energético – reações bioquímicas para a liberação, a transformação e o armazenamento da energia nas células. Por exemplo: a respiração celular. 3. o metabolismo de construção – reações bioquímicas para a construção da matéria viva. Inclui, por exemplo, a síntese de substâncias de defesa (os anticorpos) e de substâncias que facilitam as reações do metabo- lismo (as enzimas). Exercícios 1. (Fatec) Um dado preocupante quando se analisa o hábito alimentar da população brasileira, principalmente nos grandes centros urbanos, é que em geral se verifica uma baixa ingestão de alimentos ricos em fibras. As fibras estão presentes em maior quantidade em vários alimentos de origem vegetal, tais como verduras, legumes, frutas e cereais integrais. A ingestão dos alimentos ricos em fibras é importante porque a) estimula a produção de enzimas gástricas. b) facilita a ação da bile na digestão das proteínas. c) fornece a energia necessária às atividades vitais. d) acelera a passagem do bolo fecal pelo intestino. e) permite a absorção da celulose pelo corpo. 2. (Unicamp) Na década de 1970, a imprensa veiculava uma propaganda sobre um fertilizante que dizia conter N, P e K, mais enxofre. Pode-s afirmar que o fertilizante em questão continha em sua formulação, respectivamente, os elementos químicos a) nitrogênio, fósforo, potássio e enxofre, cujo símbolo é S. b) níquel, potássio, criptônio e enxofre, cujo símbolo é Ex. c) nitrogênio, fósforo, potássio e enxofre, cujo símbolo é Ex. d) níquel, potássio, cálcio e enxofre, cujo símbolo é S. Estudo orientado Como aproveitar ao máximo as questões de vestibu- lar que aparecem nos cadernos? Certamente as questões de vestibular selecionadas, assim como as outras que propomos, não estão por acaso nos cadernos de Bio: elas foram organizadas de modo a atender às seguintes finalidades: 1. uma aferição dos conhecimentos assimilados e construídos; 2. a familiarização com o grau de exigência dos exames vestibulares mais concorridos. Para isso, você deve tentar identificar a temática da questão: é mais fácil “abrir uma gaveta em pouco tem- po, do que ter que abrir várias nesse mesmo tempo”. Ao ler a questão, há dúvidas em relação ao que se pede? A questão é de múltipla escolha e você nunca ouviu determinado termo em uma das alternativas? É possível, com o seu conhecimento, identificar uma ou outra alternativa correta (ou excluir as incorretas e “sem sentido”)? As questões de biologia exigirão de você um mínimo de conceitos relativos a estruturas e processos. Figuras, esquemas, tabelas e gráficos são imprescindí-veis para compreender a biologia. Muitas questões pe- dirão que se retirem de seus próprios enunciados as informações necessárias à resolução. Em outros casos, pede-se a elaboração de um esquema ou figura (ou a escolha dentre os oferecidos) que represente um fenômeno ou processo biológico descrito na questão. Por isso, não resolva os exercícios só pelo prazer de “matá-los” ou “acertá-los”. Quantidade nem sempre significa qualidade. Procure compreender o que a questão parece querer avaliar. No final do ano, você estará com a sua percepção muito mais aguçada e bem preparado para os exames. Evite acumular dúvidas. Anote-as e procure os plan- tões. Forme grupos de estudo, eles são muito ricos para a sua vivência e permitem tirar dúvidas de forma mais autônoma. Importante: • cultive o desejo e o prazer de conhecer, de discutir, de buscar informações variadas e tentar transformá-las em conhecimento; • jamais estude para satisfazer os outros, faça-o para você mesmo; • o êxito depende dos seus esforços. exercícios 1. (PUC) A gota é um distúrbio fisiológico que causa dor e inchaço nas articulações, por acúmulo de ácido úrico, um resíduo metabólico nitrogenado. Considerando-se a composição química dos diferentes nutrientes, que tipo de alimento um indivíduo com gota deve evitar? a) O pobre em proteínas. b) O rico em sais de sódio. c) O pobre em gordura. d) O rico em proteínas. e) O rico em gorduras. 2. (Uerj) O papel comum é formado, basicamente, pelo polissacarídeo mais abundante no planeta. Este carboi- drato, nas células vegetais, tem a seguinte função a) revestir as organelas. b) formar a membrana plasmática. c) compor a estrutura da parede celular. d) acumular reserva energética no hialoplasma. biologia B • aula 3 CURSINHO DA POLI 23 2 2 2 -1 3. (Mack SP, adaptado) A respeito dos glicídios, qual alternativa é incorreta? a) Podem constituir estrutura de sustentação de vege- tais, mas nunca de animais. b) Aparecem em moléculas como ATP e DNA. c) Constituem a principal fonte de energia para os seres vivos. d) São produzidos m qualquer processo de nutrição autotrófica. e) Podem se apresentar na forma simples ou como cadeias. roda de leitura A poluição interior Graças à química moderna, os ovos não grudam na frigideira, os desodorantes duram o dia todo e os carros aceleram a até 100 quilômetros por hora em menos de 10 segundos. Tudo tem um preço: as substâncias que impulsionam a vida moderna – de toxinas já estudadas a novos compostos – se acumulam em nosso corpo e ali permanecem durante anos. Meu experimento como cobaia humana está tomando um rumo assustador. Um químico sueco está ao telefone, falando sobre retardantes de fogo, substâncias químicas que, por razões de segurança, são adicionados a todos os produtos que podem entrar em combustão. Encontrados em colchões, tapetes, ga- binetes plásticos de TVs, circuitos eletrônicos e carros, os retardantes de fogo salvam, só nos Estados Unidos, centenas de vidas a cada ano. Mas essas substâncias também acabam indo parar onde não deveriam: no interior do meu corpo. Ake Bergaman, da Universidade de Estocolmo, está me contando que acabou de receber o resultado de um exame que mede em meu sangue os níveis de deter- minados compostos de retardantes chamados éteres difenilpolibromados (PBDEs, polybrominated diphenyl ethers). Em camundongos e ratos, dosagens elevadas de PBDEs alteram o funcionamento da tireoide, causam problemas reprodutivos e neurológicos e prejudicam o desenvolvimento do sistema neurológico. Pouco se sabe sobre seu impacto na saúde humana. “Espero que você não seja paranoico, mas essa con- centração é bem alta”, diz Bergaman, com leve sotaque. O nível em meu sangue de um PBDE particularmente tóxico, encontrado sobretudo em produtos fabricados nos Estados Unidos, é dez vezes mais elevado que a média determinada por um estudo restrito com esta- dunidenses – e mais de 200 vezes da média na Suécia. Na verdade, sou um escritor empenhado numa jor- nada de autodescoberta química. No outono passado, fui submetido a exames para detectar 320 substâncias químicas que poderia ter ingerido juntamente com alimentos e bebidas, com o ar que respiro e através de produtos que entram em contato com a minha pele. Eles incluem substâncias químicas a que posso ter sido exposto décadas atrás, como o DDT e as bifenilas policloradas (PCBs, polychlorinated biphenyls); po- luentes, como chumbo, mercúrio e dioxinas, pesticidas mais recentes; ingredientes de plástico; e os compostos quase milagrosos que nos espreitam a vida moderna como xampus cheirosos, panelas antiaderentes e tecidos resistentes à água e ao fogo. Esse tipo de exame está fora do alcance da maioria das pessoas e poucos laboratórios têm capacidade técnica para detectar doses quase imperceptíveis dessas substâncias. Eu me submeti aos exames para descobrir quais delas se acumulam no corpo de um estadunidense típico ao longo de sua vida e de onde elas poderiam vir. Também estava buscando uma maneira de pensar sobre riscos, benefícios e incertezas – todo o complexo relacio- namento com o mundo moderno representado pelo “fardo” químico que rodopia no interior do nosso corpo. substância ação como evitar PBDEs Impedem incêndios, mas se agarram às pessoas. Já se provou, em labo- ratórios, que causam danos ao desenvolvimento de animais. São comuns em muitos eletrodo- mésticos e tecidos. Não há como evitá-los. FTALATOS Aditivo químico de mil utilidades, tem uma imensa variedade de aplica- ções, desde tornar flexível o vinil até conferir consistência adequada às loções. Em cobaias de laboratório, causaram problemas no desenvolvi- mento sexual dos machos e estudos com seres humanos sugerem que os mesmos efeitos poderiam ocorrer em recém-nascidos. Alguns fabricantes de cosméticos insistem em não usá-los, mas há inúmeras fontes de contaminação. PESTICI- DAS Prejudicam bem mais que as pragas. Alguns, como o DDT, foram proibi- dos. Mas é enorme a lista daqueles que continuam a ser usados contra tudo, desde baratas domésticas até exóticos fungos que devastam plantações. Alguns desses produtos foram associados pelos cientistas à asma. É preciso lavar bem as frutas e ver- duras ou então comprar produtos cultivados sem adubo ou pesticidas. biologia B • aula 3 24 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -1 PFAs Convenientes, mas talvez carcinogênicos. Usados em revestimentos antiaderentes e antichamas, levam anos para ser eliminados do corpo. A empresa 3M deixou de produzi-los depois que se comprovou que o sulfonato de perfluoroctanoíla (PFOS), disseminou-se pelo planeta. Já o ácido perfluoroctanoico (PFOA) ainda é usado em tecidos e antiade- rentes de panelas; altas dosagens podem causar câncer. Presente no ar, na água e nos alimen- tos, é impossível evitá-los. PCBs Há muitos banidos ainda presentes. As bifenilas policloradas (PCBs) foram consideradas substâncias milagrosas. De difícil combustão, eram usadas em refrigeração e isolamento de sistemas elétricos. Mas resistem tempo demais no ambiente e se acumulam nos tecidos de seres humanos e animais. Em cobaias, causaram danos no fígado e câncer. Hoje proibidos, são encontrados em toda parte. Deve-se evitar o consu- mo de peixes e carne de áreas mais contaminadas. DIOXINAS Dejeto industrial, veneno poderoso. São um subproduto de ativida- des e queimas industriais. Elas entram na cadeia alimentar em áreas contaminadas e se acumulam em plantas e gordura animal. Uma sopa contaminada com elas pode ter sido usada para tentar matar o líder ucraniano Victor Yushchenko, que ficou com o rosto desfigurado. Câncer e defeitos congênitos estão entre outros efeitos prováveis. Deixando de consumir carnes e gorduras. BISFENÓIS Hormônios em garrafas plásticas. Os plásticos do tipo policarbonato, usados em algumas garrafas plásticas rígidas, são produzidos com bisfenol A, um estrogênio sintético que, com o tempo, pode se incor- porar a líquidos à medida que o plástico se degrada. Os pesquisadores encontraram indícios de que essas substâncias químicas similares a estrogênio podem ocasionar danos ao sistema reprodutor de fetos de ambos os sexos. Não usando garrafas de plástico rígido. METAIS Letais, mas ocultos da vista de todos. Estão entre os venenos industriais mais comuns. Tintas antigas que contêm chumbo, peixes como o atum acumulam mercúrio, e estruturas externas resistentes podem expor sua família ao arsênico e ao cromo. Os efeitos sobre as crianças podem variar de pequenos atrasos no desenvolvimento até morte. Remova ou recubra pinturas antigas e madeiras tratadas para resistir às intempéries em áreas externas. Grávi- das e crianças devem tomar cuidado ao comer certos peixes. David Ewing Duncan. National Geographic Brasil, out. 2006. ágora Uma simples questão de mudança de hábito? Quem trabalha fora de casa é obrigado a comer na rua devido à pressa e à correria do horário de almoço e consome mais gordura, porque tem mais dificuldade de conseguir fazer uma refeição balanceada. Isabel Gerhardt, Folha de S. Paulo, 13 mai. 2002. A doença é um alerta para mudar o ritmo de vida. Fatores psicossomáticos afetam o corpo, a doença se manifesta, e a pessoa é forçada a dar uma parada obrigatória. O ideal seria que fizéssemos pequenas paradas espontâneas para ver como está a vida, mas quase ninguém faz isso. Gudrum Burkhard, médica antroposófica e terapeuta biográfica. Folha de S. Paulo, 25 jan. 2001. CURSINHO DA POLI 25 2 2 2 -1 gabarito aula 1 1. a 2. a 3. a) Os fósseis colocam em evidência a ancestralidade, isto é, apesar da diversidade de formas de vida atual eles foram precedidos por uma mesma linhagem de organismos. b) Composição química, variabilidade, reprodução ou multiplicação como forma de deixar descenden- tes, necessidade de obtenção ou transformação de energia, código genético. aula 2 1. c 2. b 3. a aula 3 1. d 2. c 3. a orientação didática CURSINHO DA POLI ORIENTAÇÃO DIDÁTICA • 1 Apresentação geral Amigo professor, o ensino de biologia nos últimos tempos tem se preocupado com um aprendizado mais dinâmico, relacionando o cotidiano, a história das ciências, as outras disciplinas e a realidade socioeco- nômica e cultural. As novas propostas e iniciativas (incluídas técnicas e tecnologias) e o entendimento dos sistemas ecológicos e biológicos do nosso planeta e do cosmos opõem-se à memorização e à excessiva carga de conceitos sem o devido entrelaçamento. Um convite à participação O Cursinho da Poli e a equipe de biologia têm procu- rado ações que traduzam uma prática com o compro- misso não só de preparar para os exames vestibulares, mas para o desenvolvimento da consciência, das com- petências, das habilidades, enfim, do que se espera de um cidadão autônomo e responsável pela construção de uma sociedade mais justa. Não esgotamos todas as possibilidades nos cadernos, ao contrário, esperamos suas valiosas sugestões para, juntos, compormos um material que atenda às necessidades de todos nós. Mas esteja certe de que os cadernos foram feitos com muito amor, e esperamos que eles não sejam o ponto de che- gada, mas de partida. A ideia central dos cadernos de biologia Uma das preocupações na concepção dos cadernos de biologia é oferecer oportunidades para os alunos saberem fazer, a partir do domínio de alguns elementos conceituais que ampliem os caminhos do debate, da reflexão e das alternativas na busca de soluções. Pensamos nos alunos trilhando algo semelhante a uma espiral de conceitos / conhecimentos – de base pequena e ápice bem largo. Assim, os tópicos vão sendo desenvolvidos em ordem gradativa e crescente; às vezes se repetem, mas aumenta sua dificuldade e sua complexidade. Em alguns momentos, é necessário transpor obstáculos (exercícios, testes, simulados etc.). A parte avaliativa do processo é muito importante. Nós também temos que informar nossos alunos do caráter pedagógico do erro. Nós, assim como eles, sempre po- demos tirar coisas positivas dos desacertos... A dinâmica das aulas Nos cadernos de biologia, em cada aula são encon- tradas atividades que levam os alunos à reflexão. São perguntas que não têm resposta única, mas que induzem a uma parada momentânea: é o elemento – surpresa da aula, que tenta resgatar as experiências vividas, os conceitos / conteúdos apreendidos até ali e introduzir ou fechar um assunto. Outro aspecto do material é a inserção de boxes para preenchimento. Essa estratégia visa a tirar os alunos da passividade e colocá-los em exercício mental-motor; também contribui para a fixação da matéria, já que exige um tempo para se processarem e acomodarem as informações. Acreditamos que um bom processo de ensino-aprendi- zagem deve mostrar um fato em diferentes perspectivas. Pensando nisso, acrescentamos atividades como textos complementares, indicações de filmes em vídeo e dvd, passeios educativos etc. Para finalizar Finalmente, o Cursinho da Poli e a equipe de biologia colocam-se à inteira disposição do amigo professor e de seus alunos para a troca de experiências que decerto podem ser agregadas ao material. Um abraço, Futema Bibliografia de apoio ABRAMOVICH, Fanny. Quem educa quem?. 9 ed. São Paulo: Summus, 1985. AMERICAN INSTITUTE OF BIOLOGICAL SCIENCES. Biological Sciences Curriculum Study. Biologia das Moléculas ao Homem (texto organizado pelo BSCS, adaptado pela equipe da Funbec, com a colabora- ção dos Centros de Treinamento de Professores de Ciências – Versões Verde, Azul e Amarela. São Paulo: Edart-Funbec, 1974. BARBIERI, Edison. Biodiversidade: capitalismo verde ou ecologia social?. São Paulo: Cidade Nova, 1998. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação – Brasília: MEC/SEF, 1997. CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão cientifica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix-Amaná Key, 1996. CHARLES, C. M. Piaget ao alcance dos professores; trad. Ingeborg Strake. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1975. DAMPIER, Sir William Cecil (1867 – 1952) História da Ciência; trad. De José Reis. 2 ed. São Paulo: Ibrasa, 1986. DELIZOICOV, Demétrio, José André Peres Angotti. Meto- dologia do Ensino de Ciências, 2 ed. São Paulo: Cortez, 1992 (Coleção Magistério 2o Grau. Série Formação do Professor). caderno 1 biologia B biologia B • extensivo 1 2 • ORIENTAÇÃO DIDÁTICA CURSINHO DA POLI GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais – rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Ale- gre: Artmed, 1997. GROSSI, Esther. A coragem de mudar em educação. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. KHUN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1975. KRASILCHIK, Myriam. Prática de Ensino de Biologia. São Paulo: Harbra, 1986. RATHS, L. E.; JONAS, A.; ROTHSTEIN, A. M.; WASSERMANN, S.. Ensinar a Pensar. 2 ed. São Paulo: EPU, 1977. Revistas indicadas Ciência Hoje Ciência Hoje das Crianças Caminhos da Terra Journal of Biological Education (inf. Clare Chattham / Institute of Biology, 20-22 Queensberry Place, London SW7 2DZ, UK) National geographic Brasil – Editora Abril Scientific American Brasil – Editora Duetto Sites Arte e Ciência: www.nationalgeographicbr.com.br Biologia USP: http://www.ib.usp.br Ciência: www.sciam.br Ciência Hoje: http://www.ciencia.org.br Ed. Moderna: http://www.moderna.com.br Educar: http://www.projetoeducar.com.br Nature: http://www..nature.com Science Online: http://www.sciencemag.org Sites de Ciências: http://www.quasar.com.br/ibr/ cienciascanaveral lab/6969/bemvindo.html USP: http://www.usp.br aula 1 Terra: o planeta dos seres vivos Pensamos numa aula inaugural de biologia que introduzisse os principais e grandes temas atuais que estudaremos ao longo do curso, que é permeado pela evolução dos seres vivos. Começamos pelo foco ma- cro, ou seja, situar a vida na Terra; algumas condições necessárias para o surgimento dos seres vivos e suas características básicas, por exemplo, a reprodução. Nessa aula, não só se apresentam os conceitos, mas também suas possíveis relações; por exemplo, o crescimento requer substâncias novas para a célula, o que acontece sob um comando genético. Para ajudar a fixação das ideias iniciais, inserimos algumas ques- tões, mas é recomendado que orientemos os alunos na resolução. gabarito 1. c 2. e aula 2 Células – as unidades estruturais e funda- mentais dos seres vivos Apresentamos os conceitos de procariotos e euca- riotos. É importante que os alunos comecem a conceber a célula como o centro biológico estrutural e funcional dos seres vivos, tomando o cuidado de não reduzir a vida ao plano celular. Por isso, alguns boxes devem potencializar o contexto desta aula e das próximas. gabarito 1. a 2. b aula 3 A composição molecular dos seres vivos Essas aulas dão a oportunidade para iniciar o trabalho com a química dos seres vivos. Partindo de um exemplo concreto, o corpo humano, é possível contextualizar a importância da nutrição. No nosso entender, essas aulas devem motivar os estudos que se seguirão. Não houve a preocupação, nesse momento, de apresentar ampla gama de concei- tos, mas apenas aqueles que são pressupostos para as aulas seguintes. É importante enfatizar e relacionar o uso dos com- postos químicos pelos seres vivos e a maneira como eles são obtidos, além de estimular a reflexão dos estu- dantes sobre a qualidade dos alimentos que ingerem. É interessante promover e orientar uma discussão sobre o assunto, realçando os detalhes, as imagens e os textos, que também complementam a aula. gabarito 1. d 2. d biologia B aula 4 CURSINHO DA POLI 1 2 2 2 -2 00 16 A célula realiza trocas de substâncias com o ambiente – Parte I A atuação da seleção natural deixa pouco lugar à caridade. A maioria das vantagens que poderiam advir da invenção de novas sínteses bioquímicas ter-se-ia per- dido, se os organismos tivessem partilhado os benefícios de suas descobertas com seus competidores. Para evitar que isso ocorresse, foi necessário inventar uma membrana impermeável às moléculas úteis produzidas no interior das células, mas permeável às matérias-primas vindas de fora. ORGEL, Lesli E. As origens da vida, 1985. Nestas aulas, veremos como os nutrientes atra- vessam a membrana da célula e como alguns resíduos do metabolismo são lançados para fora. É muito importante para a vida da célula um am- biente estável e compatível com suas necessidades. Mesmo havendo algum tipo de ajuste adaptativo frente a determinadas condições desfavoráveis, sempre existe um limite de tolerância. Você se lembra da ilustração acima? O que ela re- presenta? Um dos mecanismos que permitem a adaptação da célula às condições do ambiente é promovido pela membrana, que regula e controla a passagem das subs- tâncias, sob rigoroso critério. Assim, uma propriedade importante das membranas celulares é a permeabilidade seletiva: elas são permeá- veis a algumas substâncias e restringem a passagem de outras. Estudaremos agora os mecanismos de transporte através da membrana celular que não envolvem o consumo de energia, denominados transporte passivo. Na sequência, veremos como a célula é capaz de en- globar e bombear determinadas substâncias gastando energia – é o transporte ativo. Processos passivos de transporte através da membrana plasmática Os processos passivos de transporte caracterizam-se pela passagem de substâncias através da membrana celular sem gasto de energia (moléculas de ATP). Por que o sal pode ajudar a conservar alguns alimen- tos por longos períodos? E os doces em compotas, por que se conservam? Qual o mecanismo envolvido na absorção de água pelas raízes dos vegetais? Aventa-se a possibilidade do uso da água do mar para consumo humano após a retirada dos sais por um processo cha- mado de osmose reversa − o que é isso? Buscaremos os conhecimentos necessários para responder a essas questões nas dimensões molecular e microscópica. Houve um tempo em que os alimentos não podiam ser refri- gerados. Para que se conservassem por longos períodos, alguns deles eram salgados, como as carnes de boi (na fotografia), por- co e peixe. Nessas carnes, o sal interfere na osmose, impedindo a sobrevivência e a proliferação das bactérias e dos fungos. Inicialmente, vamos entender os três modelos de transporte passivo. a) a difusão simples Moléculas pequenas e simples – como a água (H 2 O) e os gases oxigênio (O 2 ) e carbônico (CO 2 ) – atravessam M au ríc io M or ae s biologia B • aula 4 2 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 a membrana plasmática por difusão, deslocando-se do local mais concentrado para o menos concentrado. Isso se deve, principalmente, ao constante movimento de espalhamento dessas moléculas. Ilustração esquemática da difusão simples. Neste caso, uma solução de água (solvente) com sal (soluto). Solvente e soluto misturam-se, isto é, as partículas espalham-se da área mais concentrada para a menos concentrada. Após algum tempo, não há mais diferença entre as concentrações de água e de sal em nenhum ponto do sistema: a solução torna-se homogênea. Mesmo assim, as partículas continuam a se movimentar. b) a difusão facilitada As mesmas condições para a ocorrência da difusão simples aplicam-se à difusão facilitada. Nesta, porém, certas proteínas da membrana, conhecidas como permeases, reconhecem quimicamente determinados compostos e facilitam-lhes a passagem. É o caso da glicose e dos aminoácidos, difundidos do meio externo (em maior concentração) para o interior da célula (em menor concentração). c) a osmose A osmose é um caso particular de difusão. Ocorre quando colocamos duas soluções de diferentes con- centrações de soluto separadas por uma membrana biológica. O solvente atravessa a membrana nos dois sentidos; porém, a pressão de difusão que se exerce do meio mais concentrado (diz-se hipertônico; do grego hyper = superior) sobre o meio menos concentrado (diz-se hipotônico; do grego hypo = inferior) é maior, na tentativa físico-química de igualarem-se e manterem-se em equilíbrio as concentrações das soluções (isotonia; do grego isos = igual). Diagrama ilustrativo da osmose. A membrana separa duas soluções de concentrações diferentes: em A, solução menos concentrada de soluto (hipotônica); em B, solução muito concentrada de soluto (hipertônica). A água (solvente) atra- vessa a membrana em maior quantidade e velocidade de A, solução hipotônica, para B, a solução hipertônica. Como consequência da tentativa de igualar as concentrações das soluções, o volume se altera: diminui em A, aumenta em B. No plano celular, a saída ou a entrada de água pode com- prometer a vida. A passagem de solvente pela membrana modifica os volumes das soluções. A diferença entre o volume inicial e o final da solução hipertônica, aquela que “ganha a água”, é chamada pressão osmótica. A consequência da osmose nas células animais não é a mesma para as células vegetais adultas. Vejamos. • nas células animais As células animais, quando mergulhadas em con- centrações hipotônicas, podem sofrer a lise celular, isto é, o excesso de água acaba por romper a membrana. Nas soluções hipertônicas, pode ocorrer saída exces- siva de água. Em ambos os casos, os danos podem ser irreversíveis, provocando a morte da célula. Diagrama ilustrativo da di- fusão facilitada. A = molécula de glicose; B = proteína per- mease específica para a glicose; C = membrana plasmática. A glicose atravessaria a membrana plasmática pelos princípios da difusão; a presença da proteína facilita a entrada. biologia B • aula 4 CURSINHO DA POLI 3 2 2 2 -2 • nas células vegetais A presença da parede celulósica nas células vegetais impede que elas estourem quando imersas em soluções hipotônicas, apesar da entrada de água – porque a pa- rede é pouco elástica e muito resistente. Esse fenômeno é designado turgescência ou turgidez celular. Quando as células vegetais, por algum motivo, estão em soluções muito hipertônicas, a constante perda de água provoca uma forte retração do vacúolo, arrastando o hialoplasma e até despregando a membrana plasmáti- ca da parede celulósica. Esse fenômeno é denominado plasmólise, e, assim como a turgescência, é um processo reversível até certo ponto. Ilustração da osmose em células sanguíneas de rato – no caso, as hemácias. a) Hemácias mergulhadas em solução hiper- tônica perdem muita água e murcham – é a crenação; b) hemácias imersas em água destilada ganham muita água, chegando a estourar – é a hemólise. Ilustração da osmose na célula vegetal. a) A célula imersa em solução hipotônica “ganha” água, aumentando o volume do vacúolo – é a turgescência; devido à parede de celulose, a célula não estoura. b) A célula vegetal mergulhada em solução hipertônica murcha, e a membrana plasmática pode até se desprender da parede de celulose – é a plasmólise (o vacúolo é que perde água, não o citoplasma). c) A célula plasmolisada, quando colocada em meio isotônico, volta à situação de equilí- brio – é a deplasmólise. Voltemos agora àquelas questões iniciais sobre o salgamento das carnes, a absorção da água do solo pelas raízes dos vegetais e a osmose reversa, usando o que aprendemos sobre a osmose. Como vimos, quando duas soluções com diferentes concentrações estão separadas por uma membrana semipermeável, há a passagem de água (ou solvente) da solução hipotônica (menos concentrada) para a solução hipertônica (mais concentrada) – é o fenômeno da os- mose. A consequência é o aumento ou a diminuição do volume. No caso da célula, pode também significar a perda do metabolismo e a morte. Em sistemas não vivos, como tanques experimentais, observa-se após certo tempo um equilíbrio entre as soluções devido à pressão osmótica. No processo de secagem e salgamento das carnes, o ambiente hipertônico impede a sobrevivência e a mul- tiplicação das bactérias e dos fungos vindos do ar que causariam a decomposição; assim, os alimentos permane- cem conservados por algum tempo. No caso da absorção da água, as células de uma área das raízes vegetais, a dos pêlos absorventes, possuem características peculiares: a parede celular é muito permeável, e acredita-se que o citoplasma e o vacúolo tenham uma solução hipertônica em relação ao solo, facilitando a osmose. A água absor- vida passa, por difusão, para os outros tecidos vegetais. A dessalinização da água do mar para a produção de água potável pelo processo da osmose reversa – usando energia eólica – parte do princípio de que, ao aplicar-se uma pressão superior à osmótica, força-se a passagem de água através de uma membrana, e os sais ficam retidos. Esse processo é usado nos Estados Unidos, em Israel e na Arábia Saudita. No Brasil, a adaptação do método às nossas condições pode ser uma alternativa viável para as áreas onde a água é escassa; no entanto, há apenas alguns projetos experimentais em operação no litoral nordestino. Exercícios 1. (Fatec) As figuras a seguir representam três células vegetais que foram imersas em soluções salinas de diferentes concentrações, analisadas ao microscópio e desenhadas. Disponível em: webbed.com.br/geisy. Acesso em: 13 set. 2011. b) a) biologia B • aula 4 4 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 Analisando essas figuras, um estudante concluiu que as células vegetais 1, 2 e 3 estão, respectivamente, flácida (estado normal), túrgida e plasmolisada. Com base nessa conclusão, é correto afirmar que a) a célula 1 foi imersa em uma solução hipertônica. b) a célula 2 foi imersa em uma solução hipotônica. c) a célula 3 foi imersa em uma solução isotônica. d) as células 1 e 3 foram imersas em diferentes soluções hipotônicas. e) as células 1 e 2 foram imersas em diferentes soluções hipertônicas. 2. (Fuvest) A porcentagem em massa de sais no sangue é de aproximadamente 0,9 %. Em um experimento, alguns glóbulos vermelhos de uma amostra de sangue foram colocados e separados em três grupos. Foram preparadas três soluções, identificadas por X, Y e Z, cada qual com uma diferente concentração salina. A cada uma dessas soluções foi adicionado um grupo de glóbulos vermelhos. Para cada solução, acompanhou-se ao longo do tempo o volume de um glóbulo vermelho, como mostra o gráfico a seguir. Com base nos resultados desse experimento, é correto afirmar que a) a porcentagem em massa de sal, na solução Z, é menor do que 0,9%. b) a porcentagem em massa de sal é maior na solução Y do que na solução X. c) a solução Y e a água e a água destilada são soluções isotônicas. d) a solução X e o sangue são isotônicos. e) a adição de mais sal na solução Z fará com que ela e a solução X fiquem isotônicas. Estudo orientado exercícios 1. (Mackenzie) A respeito da membrana plasmática, é correto afirmar que a) as moléculas de fosfolipídios são completamente apolares. b) a fluidez da membrana permite a movimentação das proteínas que fazem parte dessa membrana. c) os canais de transporte permanecem abertos o tem- po todo. d) a difusão facilitada é um processo que independe da participação de proteínas. e) a organização da membrana plasmática é diferente da membrana que forma as organelas celulares. 2. (Fuvest) A figura a seguir representa a célula de uma planta jovem. Considere duas situações: 1) a célula mergulhada em solução hipertônica; 2) a célula mergulhada em solução hipotônica. Dentre as figuras numeradas de I a III, quais representam o aspecto da célula, respectivamente, nas situações 1 e 2? a) I e II. b) I e III. c) II e I. d) III e I. e) III e II. 3. (Enem) Osmose é um processo espontâneo que ocorre em todos os organismos vivos e é essencial à manuten- ção da vida. Uma solução de 0,15 mol/L de NaCl (cloreto de sódio) possui a mesma pressão osmótica das soluções presentes nas células humanas. A imersão de uma célula humana em uma solução de 0,20 mol/L de NaCl tem como consequência a a) adsorção de íons Na+ sobre a superfície da célula. b) transferência de íons Na+ da célula para a solução. c) difusão rápida de íons Na+ para o interior da célula. d) diminuição da concentração das soluções presentes na célula. e) transferência de moléculas de água do interior da célula para a solução. biologia B • aula 4 CURSINHO DA POLI 5 2 2 2 -2 roda de leitura Medicina Ortomolecular − Ciência ou Charlatanismo? A Medicina Ortomolecular é fundamentada em um conceito do início do século XX, após a descoberta de compostos químicos vitais na nutrição: as vitami- nas. Pode-se dizer que o criador do termo foi Linus Pauling, cujos trabalhos formam a base da Química moderna, laureado com dois prêmios Nobel, um de Química e um pela paz, por sua postura pacifista após a Segunda Guerra Mundial. Linus Pauling: químico, cientista e entusiasta da Medicina Ortomolecular. No início dos anos 1940, o químico foi diagnostica- do com uma doença renal e seu médico recomendou uma dieta livre de sal e com suplemento de vitaminas. Como todo bom cientista, Pauling ficou curioso com a recomendação e começou a fazer pesquisas por conta própria. Nos anos seguintes ele apresentou diversas palestras sobre o tema, debatendo hipóteses de que a deficiência ou o excesso de compostos químicos poderiam causar problemas neurológicos. Em 1968, publicou um artigo na revista Science nomeado “Psi- quiatria ortomolecular”, cunhando pela primeira vez o termo, cujo prefixo vem do grego orto, que significa correto, ou seja, “a medida certa de moléculas”. Entre os componentes mais comuns da abordagem ortomolecular estão as vitaminas, essenciais para o funcionamento adequado do corpo e que devem ser adquiridas via alimentação. A vitamina C, por exemplo, é produzida por inúmeros outros animais e plantas, mas não pelo ser humano, que precisa ingerir cerca de 60 mg por dia. A ausência dietética da vitamina C causa lesões nas mucosas e gengivas, associadas a sangramentos, perdas dentárias, e dores nas articulações. Essa doença, chamada escorbuto, era comum nos marinheiros que atravessavam os oceanos no período colonial. Para combatê-la, muitos navios passaram a levar barris carregados de maçãs, que contêm vitamina C, embora naquele tempo ninguém soubesse o que era uma vita- mina, e talvez daí tenha nascido a expressão "an apple a day keeps the doctor away", que em português significa: uma maçã por dia mantém o médico longe. A prática da Medicina Ortomolecular O princípio básico propedêutico ortomolecular é o mesmo de qualquer especialidade clínica: investigar quaisquer anormalidades orgânicas e psíquicas do paciente. O que diferencia a filosofia ortomolecular é a crença de que muitas dessas anormalidades são causadas por desequilíbrios de vitaminas, micronu- trientes e radicais livres. Uma das armas propedêuticas usadas pela prática ortomolecular é, além de exames de sangue de rotina, a análise bioquímica de fios de cabelo em busca de traços de micronutrientes. Análise de micronutrientes do cabelo: polêmico método propedêutico ortomolecular. De acordo com Abram Hoffer, bioquímico e psiquia- tra canadense, pioneiro da Medicina Ortomolecular, essa especialidade não tem o propósito de tratar todas as doenças, nem substitui as terapias-padrão, mas provavelmente é complementar a muitas destas. Entre- tanto, os seus defensores dizem que a suplementação nutricional pode prevenir, tratar e até mesmo curar várias condições clínicas, como: acne, alcoolismo, aler- gias, artrites, autismo, transtorno bipolar, queimaduras, câncer, resfriados, depressão, vício em drogas, overdose de drogas, epilepsia, doenças cardiovasculares, intoxica- ção por metais pesados etc. Vale dizer que as evidências que suportam essas afirmações são bastante fracas. Uma meta-análise realizada pelo Instituto Cochrane em 2012, que utilizou dados de 78 estudos clínicos randomizados com um total de quase 300 mil participantes, 80 mil destes com doenças crônicas, entre grupos de consumo de vitaminas antioxidantes (betacaroteno, vitaminas A, C e E, e selênio) versus placebo ou nada. Surpreendentemente, os resultados mostraram que o grupo de pacientes que tomaram a suplementação teve um risco de morte 3% maior em relação aos que não tomaram, e isso foi demonstrado biologia B • aula 4 6 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 ainda mais no grupo dos pacientes que tomaram be- tacaroteno, vitamina A, selênio e vitamina E, de modo que o trabalho recomenda não realizar suplementação de forma aleatória. Talvez os praticantes da filosofia ortomolecular possam contra-argumentar que cada suplementação deve ser feita especificamente para as necessidades de cada paciente, o que faz sentido, embora ainda não haja evidências concretas. A Medicina Ortomolecular no Brasil No Brasil, a Medicina Ortomolecular é represen- tada pela Associação Brasileira de Medicina Ortomo- lecular e sua proposta é: 1. Identificar, o mais precocemente possível, o estresse oxidativo evidenciado de forma subclí- nica ou clínica nas diferentes fases da vida do indivíduo, ou seja, na gestação, na infância, na adolescência, na adultícia ou na senescência. 2. Avaliar o indivíduo de maneira global, por meio de uma avaliação clínica (anamnese) mais completa possível e por meio de exames complementares necessários a cada caso. 3. Analisar a bioquímica individual, identifican- do os biomarcadores de estresse oxidativo. A maioria desses biomarcadores fazem parte dos exames solicitados na clínica médica diária. Portanto, deve-se ter o devido conhecimento para poder correlacioná-los com seu significado bioquímico celular/molecular, base da Medici- na Ortomolecular. 4. Considerar as consequências na saúde das inte- rações do homem com o ambiente. Isso envolve local de moradia, de trabalho, a profissão, os hábitos (alimentação, fumo, uso de drogas etc.), os agrotóxicos, a qualidade da água, do ar, do solo, a poluição sonora etc. Nota-se que é uma proposta de cunho clínico bastante louvável, e que a abordagem ortomolecular apresenta-se de forma complementar. Porém, considerando que o Conselho Federal de Medicina (CFM) até o presente momento não considera a Medicina Ortomolecular como uma especialidade médica de comprovação evidente, talvez o mais correto fosse chamá-la de dieta ortomolecular. A resolução do CFM, n. 1 500, de 1998, diz o seguinte: Art. 13 São métodos destituídos de comprovação científica suficiente quanto ao benefício para o ser humano sadio ou doente e, por essa razão, proibidos de divulgação e uso no exercício da Medicina os pro- cedimentos de prática Ortomolecular, diagnósticos ou terapêuticos, que empregam: I. megadoses de vitaminas; II. antioxidantes para melhorar o prognóstico de pacientes com doenças agudas ou em estado crítico; III. quaisquer terapias ditas antienvelhecimento, anticâncer, antiarteriosclerose ou voltadas para pato- logias crônicas degenerativas; IV. EDTA para remoção de metais pesados fora do contexto das intoxicações agudas; V. EDTA como terapia antienvelhecimento, anti- câncer, antiarteriosclerose ou voltadas para patologias crônicas degenerativas; VI. análise de fios de cabelo para caracterizar desequilíbrios bioquímicos; VII. vitaminas antioxidantes ou EDTA para generi- camente “modular o estresse oxidativo”. A formação em Medicina Ortomolecular é outro motivo para polêmica no Brasil, pois não há residên- cias médicas para tal. Porém, é possível encontrar muitas pós-graduações lato sensu por aí, algumas até com aval do Ministério da Educação (MEC). O problema é que, como o CFM não a reconhece como especialidade, o médico que realiza esses cursos não pode se registrar como especialista. Confuso, não? Dessa forma, há muitos médicos de várias especiali- dades, e muitos nutricionistas, que praticam a terapia ortomolecular em seus consultórios, cobrando em torno de R$ 150,00 por consulta, e os suplementos prescritos podem custar até R$ 400. Considerando que a abordagem ortomolecular deve ser holística, que os pacientes devem ser abordados propedeuti- camente por completo, e que muitas das condutas ortomoleculares englobam modificações de hábitos de vida, como dieta e exercícios, essenciais para pre- venção e controle da maioria das doenças, a terapia ortomolecular não é danosa para a maioria das pes- soas se for praticada de forma séria e não destituída do pensamento clínico e científico clássico. O fato de essas práticas serem associadas a terapias de suple- mentação que provavelmente têm efeito placebo na maioria das pessoas é o ponto questionável. Porém, até onde os placebos são aceitáveis como método de terapia é um tópico para outro dia. Considerações finais Embora existam inúmeras referências na literatura científica no papel dos radicais livres no desenvolvimento de diversas doenças, ainda não há comprovação de que o uso de suplementos possa evitá-las, sendo que inclusive em alguns casos o uso de suplementos pode ser danoso. Dessa forma, a prática da Medicina Ortomolecular deve ser vista com olhos críticos, à luz do que prega a Medicina biologia B • aula 4 CURSINHO DA POLI 7 2 2 2 -2 baseada em evidências. Linus Pauling foi um defensor do consumo excessivo de vitamina C, com a hipótese de que isso preveniria desde o resfriado comum até o câncer, mas infelizmente morreu aos 92 anos por um câncer de próstata. SANTANA, M. A Disponível em: . Acesso em: 08 jan. 2016. aula 5 8 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 A membrana plasmática regula a passagem de materiais para dentro e para fora da célula, função que torna possí- vel a célula manter sua integridade estrutural e funcional. Helena Curtis Processos ativos de transporte através da membrana plasmática Muitas vezes, as células precisam fazer com que gran- des blocos de substâncias, fragmentos de células ou mes- mo microrganismos passem do ambiente externo para o interno, ou vice-versa, através da membrana plasmática. Incorporando e eliminando esses materiais, as células eucarióticas atendem basicamente às necessidades de nutrição e de defesa. Mas, além de partículas de tamanhos consideráveis, as células também permitem a transferência de íons. Ambos os processos são casos de transporte ativo. O transporte ativo permite a passagem de compostos através da membrana celular com consumo de energia, isto é, gastando-se as moléculas energéticas, os ATPs. Alguns autores consideram o transporte ativo como a transferência de substâncias extra ou intracitoplasma, por mecanismos de endocitose e exocitose. O mecanismo de endocitose e os lisossomos A endocitose é o processo de incorporação de blocos de macromoléculas, como os hormônios produzidos por determinados tecidos vegetais. Há dois tipos de endocitose: a pinocitose e a fagocitose. a pinocitose Ilustração esquemática do processo de pinocitose de lipídios no meio extracelular. Os lipídios concentram-se ao redor da membrana plasmática que, em seguida, invagina-se, formando vesículas de pinocitose. A fusão das vesículas ajudará na forma- ção dos grãos de vitelo em ovócito de lagosta. O mecanismo da pinocitose (pinein = beber; kytos = célula, em grego) envolve a incorporação de partículas semissólidas ou porções extracitoplasmáticas líquidas, como, por exemplo, gotículas de lipídios. Na pinocitose, dobras da membrana voltam-se em direção ao citoplasma para fazer penetrar as partículas. a fagocitose A fagocitose (phagein = comer, em grego) é o mecanismo pelo qual as células ingerem partículas alimentares sólidas, relativamente grandes, que estão no ambiente externo. Trata-se de um dos principais processos celulares de nutrição, dos protozoários, por exemplo, ou de defesa, como nos glóbulos brancos dos vertebrados. Na fagocitose, projeções da membrana se expandem em direção à partícula alimentar. A fagocitose e os lisossomos: contexto e processo Os lisossomos são organelas especializadas na digestão intracelular. Podemos assim descrever o processo: 1) as partículas incorporadas por fagocitose formam um ou mais vacúolos, os fagossomos; 2) as organelas lisossômicas no hialoplasma são cha- madas, inicialmente, de lisossomos primários, e, ao se fundirem com os vacúolos, de lisossomos secun- dários – porque, nesse momento, liberam as enzimas digestivas e degradam os compostos em unidades menores; a estrutura formada nessa fase é conhecida como vacúolo alimentar; 3) alguns produtos do vacúolo alimentar podem passar para o hialoplasma e ser utilizados pelas células no metabolismo. Os resíduos da digestão intracelular são eliminados da célula por um mecanismo inverso ao descrito acima, conhecido como exocitose, clasmocitose ou defecação celular. Os lisossomos também estão envolvidos em outros processos celulares, chamados autofagia e autólise. autofagia: é o termo usado para indicar a capacidade da célula de eliminar estruturas ou organelas citoplas- máticas desgastadas ou que deixaram de desempenhar suas funções. Esse mecanismo funciona como uma forma de autolimpeza e renovação celular. A célula realiza trocas de substâncias com o ambiente – Parte II biologia B • aula 5 CURSINHO DA POLI 9 2 2 2 -2 autólise: designa o mecanismo da lise (ou destruição da célula) devido ao rompimento da membrana dos lisossomos que verte a carga enzimática, digerindo o hialoplasma. Vamos ler com atenção o texto que se segue. A pneumoconiose, uma doença ocupacional grave causada pela autólise das células pulmonares Toda pessoa respira com o ar partículas de poeira. Estas são captadas e acumuladas pelos macrófagos nos pulmões. O tecido pulmonar não é habitualmente lesado e a função pulmonar não se altera. Infelizmente, porém, existem exceções. A mais importante é o pó de quartzo. O quartzo ocorre em algumas rochas como, por exemplo, no arenito; os trabalhadores de pedreiras ou de minas que lidam com tal material aspiram, com o pó da rocha, também as partículas de quartzo, que podem alcançar os alvéo- los – as menores unidades pulmonares que contêm ar, e nos quais é realizada a troca de oxigênio e de gás carbônico entre o sangue e o ar. A parede dos alvéolos é revestida por macrófagos. Eles recolhem o quartzo e o transportam até a corrente linfática. Lá, novos macrófagos recolhem o quartzo e, por não poder digeri-lo, estimulam cada vez mais a multiplicação dessas células e surgem, então, nódulos em torno dos vasos sanguíneos pulmonares, obliteran- do e impedindo o fluxo sanguíneo; em consequência o paciente morre de insuficiência cardíaca. Os nódulos formados também podem destruir o tecido pulmonar e a troca de gases diminui; tosse, escarro e dispnéia cons- tituem os primeiros sintomas da doença; a enfermidade progride e, após alguns anos, pode causar a morte. Na pneumoconiose (silicose), os cristais de quartzo são aspirados com o ar e através das células alveola- res dos pulmões alcançam as células fagocitárias em torno dos vasos. A corrente sanguínea é estreitada, e podem ser formados nódulos, tornando ineficientes as trocas gasosas; a morte pode ocorrer por insuficiência respiratória. A doença não pode ser detida. Deve ser prevenida: os trabalhadores das minas devem usar máscara protetora e a poeira deve ser removida com aspiradores especiais. Harald Noltenius. Fundamentos biológicos da patologia humana. São Paulo: EPU/Edusp, 1977. Ilustração de uma célula eucariótica fagocitando bactérias e da sua digestão por enzimas dos lisossomos. Estas são sinteti- zadas no retículo endoplasmático rugoso e acondicionadas no aparelho de Golgi. A união do fagossomo, contendo a bactéria, com o lisossomo primário (ou I) produz o lisossomo secundário (ou II), onde ocorre a digestão. As porções não digeridas ou não aproveitadas são eliminadas. Quando uma parte da própria célula é envolta por uma membrana e digerida, dá-se o meca- nismo de autofagia. Por exemplo, na regressão da cauda do girino ou na formação das hemácias dos vertebrados, ilustrados a seguir. Ilustração gráfica mostrando o aumento na concentração de enzimas lisossômicas nas células da cauda de girino durante a sua metamorfose. A regressão da cauda dos girinos ocorre devi- do à autodestruição das células pelas enzimas dos lisossomos. Os materiais da digestão são reutilizados. biologia B • aula 5 10 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 Ilustração simplificada da pneumoconiose, causada pela des- truição dos lisossomos das células pulmonares. O transporte ativo de íons pela membrana plasmática, a bomba de sódio como exemplo C or el S to ck P h ot o O peixe elétrico ou poraquê vive em águas escuras e turvas do rio Amazonas. Utiliza estruturas que emitem corrente elétrica de baixa e alta intensidade para reconhecer o ambiente, atacar presas ou fugir dos predadores. Todos os seres vivos são sensíveis aos estímulos do ambiente. Veja: se, por descuido, você tocar uma chapa metálica muito quente, seu dedo sofrerá uma contração instantânea. Há um peixe, o poraquê, da Amazônia, que localiza suas presas por meio de um campo elétrico. Como os organismos podem “sentir” o ambiente? Uma das explicações conhecidas está no nível celular: a excitabilidade. Em organismos complexos, a excitabilidade celular foi notadamente estudada em células nervosas – os neurônios – de moluscos cefalópodes. Descobriu-se que determinados íons mantêm-se muito mais concentrados no hialoplasma do que nas organelas da célula e vice-versa. Pelas leis físicas, o processo natural seria a manutenção de um equilíbrio na quantidade desses íons, tanto dentro quanto fora das células, através da difusão. Para os pesquisadores, a diferença de concentração iônica só é possível graças ao transporte ativo dos íons, mantidos por proteínas carregadoras da membrana. Esse sistema recebe o nome de bomba iônica. O caso mais co- nhecido é o que ocorre com os íons sódio (Na+) e potássio (K+). Na célula animal, as proteínas carregadoras da membrana e outros sistemas químicos no hialoplasma transferem continuamente, com gasto de energia, os íons potássio (K+) e sódio (Na+) de um ambiente para outro. Da seguinte maneira: todo o íon K+ que se aproxima da membrana é carregado do exterior para o interior da célula, e todo íon Na+ é transferido em sentido contrário. meio intracelular meio extracelular transporte ativo K+ Na+ Representação esquemática do modelo de bomba iônica do só- dio. Com consumo de energia, proteínas carregadoras lançam para fora da célula os íons sódio (Na+), que retornam, atraves- sando a membrana, por difusão; proteínas da célula também prendem todos os íons potássio (K+) do ambiente extracelular, forçando-os a entrar, mas eles escapam por difusão. A bomba de sódio-potássio atua em importantes funções celulares, como a síntese de proteínas. Mas o resultado mais notável desse sistema é a criação e a condução do impulso elétrico nervoso. É assim que podemos, e os outros animais também, perceber os estímulos do ambiente e reagir a eles. Os impulsos elétricos nervosos do cérebro podem ser medidos num equipamento conhecido como eletroence- falograma, capaz de detectar alguns tipos de distúrbios. biologia B • aula 5 CURSINHO DA POLI 11 2 2 2 -2 Ilustração esquemática: A) normalmente, o axônio apresenta um acúmulo de cargas positivas na sua superfície externa. O estímulo nervoso se propaga pelo axônio, promovendo um aumento da permeabilidade, com grande entrada de Na+ e saída discreta de K+. O resultado é a inversão da disposição das cargas, ficando negativo fora e positivo dentro. Após a passagem do estímulo, a permeabilidade da membrana volta ao normal e recompõe-se a situação inicial. B) A transmissão e a passagem do impulso elétrico pelo axônio estimula o lançamento de substâncias químicas, os neurotransmissores, na fibra muscular, ocorrendo a contração. A mente elétrica Há 70 anos era descoberto o eletroencefalograma. Graças à obstinação do psiquiatra alemão Hans Berger (1873-1941), a humanidade compreendeu que a atividade mental estava relacionada à atividade elétrica do cérebro. O eletroencefalograma passaria a ter grande relevância tanto na pesquisa básica quanto na clínica, tornando-se um instrumento de diagnóstico decisivo na identificação de tumores e distúrbios cerebrais. Eletrodos na cabeça do paciente permitem registrar oscilações elétricas da atividade cerebral. Suzana Herculano-Houzel. Ciência Hoje, n. 154, out.1999 . (adaptado) biologia B • aula 5 12 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 Exercício 1. (PUC) O esquema a seguir refere-se às diferentes concentrações dos íons sódio e potássio no meio extra- celular (ME) e no meio intracelular (MI). Essa situação é constatada em vários tipos celulares. Se em uma célula nessa condição iônica for bloqueada a produção de ATP, espera-se que a) ocorra a passagem de toda a quantidade de íons potássio para o meio extracelular. b) ocorra a passagem de toda a quantidade de íons sódio para o meio intracelular. c) as concentrações desses íons se tornem aproxima- damente iguais nos dois meios. d) diminua ainda mais a concentração de potássio no meio extracelular e de sódio no meio intracelular. e) essa situação permaneça inalterada. Estudo orientado exercícios 1. (Unitins) A incorporação de gotículas no citoplasma, por invaginação da membrana plasmática, formando vesículas, denomina-se a) fagocitose. b) clasmocitose. c) endocitose. d) pinocitose. e) plasmólise. 2. (UFRN) Os processos que se relacionam com a ativi- dade da membrana plasmática são a) fotossíntese e respiração. b) fagocitose e pinocitose. c) fotossíntese e fagocitose. d) respiração e pinocitose. e) respiração e fagocitose. roda de leitura Hemodiálise As reações bioquímicas que normalmente ocorrem no corpo humano produzem substâncias chamadas metabólitos (produto do metabolismo das mais diversas substâncias). Os rins ajudam a manter o delicado equilí- brio orgânico necessário à vida, evitando que líquidos e metabólitos se acumulem em níveis críticos. Os resíduos do metabolismo humano são filtrados, concentrados e excretados na urina, enquanto as substâncias úteis como a água, por exemplo, são seletivamente reabsor- vidas. Cerca de 180 litros de sangue são filtrados diaria- mente pelos rins, mas menos de 1% desse volume, cerca de 1,5 litro, é eliminado como urina, contendo a maior parte dos produtos finais do metabolismo. No entanto, os rins estão sujeitos a anormalidades que reduzem a capacidade de retirar as impurezas do sangue. Essas anormalidades causam excessos de pro- dutos do metabolismo final indesejados nos líquidos corporais, bem como a regulação deficiente da com- posição desses líquidos. Isso, entre outras coisas, pode levar à insuficiência renal crônica, que é solucionada em definitivo com um transplante renal. Em função da dificuldade de se fazer um transplante, devido à compatibilidade entre doente e doador, a solução en- contrada é achar um elemento filtrante que obtenha, se não os mesmos resultados do rim humano, pelo menos resultados parecidos, estabelecendo-se assim a diálise. Existem basicamente dois tipos de diálise: • diálise peritoneal: Esse tipo de diálise aproveita a membrana peritoneal que reveste toda a cavidade abdominal do nosso corpo para filtrar o sangue. Essa membrana, se totalmente estendida, teria uma superfície próxima de 2 m², área de filtração suficiente para cumprir a função de limpeza das substâncias retidas pela insuficiência renal termi- nal. Nessa modalidade, não se utiliza filtro artifi- cial nem para o sangue, nem para a água, pois a solução é produzida pela indústria farmacêutica. • hemodiálise: O sangue é removido do corpo para o sistema extracorpóreo (máquina de diálise) através de uma bomba, que o impulsiona para dentro de um filtro/dialisador, também conhecido como rim artificial. Nessa modalidade, utiliza-se filtro artifi- cial tanto para o sangue (vide figura 1) quanto para a água utilizada no tratamento. biologia B • aula 5 CURSINHO DA POLI 13 2 2 2 -2 saída de dialisato fibras capilares entrada de dialisato saída de sangue suporte das fibras carcaça entrada de sangue figura 1 – detalhes internos do filtro dialisador ou filtro capilar, como também é conhecido. Dialisato: solução de diálise composta por água tratada e com- postos químicos utilizados para o tratamento do paciente. A hemodiálise é um sofisticado processo de depu- ração do sangue por meio de uma circulação extracor- pórea (figura 2), em que o mesmo sangue passa por um dialisador e volta ao paciente. Esse processo ocorre em média três vezes por semana e tem duração média de 4 horas; a quantidade removida é de 3 a 6 litros. sangue do paciente infusão de heparina dialisador bomba de sangue bypass medidor de pressão venosa detetor de ar medidor de fluxo do dialisato aquecedor detetor de blood leak medidor de pressão do dialisato bomba do dialisato dreno célula de condutividade bomba de proporção sangue retornando ao paciente clamp concentrado figura 2 – diagrama representativo de uma máquina de hemodiálise. Considerando que cerca de 120 litros de água por sessão, aproximadamente 1 440 litros por mês, entram em contato indireto com o sangue do pa- ciente por filtração extracorpórea, a qualidade da água empregada é um dos fatores determinantes na segurança e eficácia do processo dialítico. Viu-se en- tão a necessidade de criar um sistema de tratamento de água que garantisse parâmetros mínimos para as substâncias encontradas na água. Essas caracterís- ticas podem ser encontradas na Resolução RDC nº 154, de 15 de junho de 2004 (Versão Republicada – 31.05.2006), disponível no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). • O filtro é constituído por dois compartimentos: um por onde circula o sangue e outro por onde passa o dialisato. Esses compartimentos são separados por uma membrana semipermeável (elemento filtrante) e o fluxo de sangue e o dialisato são contrários (criando assim uma contracorrente), permitindo maximizar a diferença de concentração dos solutos em toda a extensão do filtro. • As membranas dos deslisadores são compostas por diferentes substâncias biocompatíveis: celulose, celulose modificada (celulose acrescida de acetato) e substâncias sintéticas (polissulfona etc). Existem diferentes tipos de filtro, cada um com características próprias como, por exemplo, maior ou menor área de superfície. A escolha do dialisador é dada pelo peso do pa- ciente, pela tolerância à retirada de volume e pela dose de diálise necessária. Esses filtros não são descartados a cada sessão, existem alguns critérios de aceitação para reprocessamento regidos pela Resolução RDC no 154/2004. Valcir Trindade de Oliveira Junior é especialista em engenharia clínica, tecnólogo em saúde pela Faculdade de Tecnologia em Saúde de Sorocaba (Fatec), professor do curso de pós-graduação e membro da equipe de engenharia clínica do Hospital Israelita Albert Einstein. 14 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 aula 6 Longe de constituir um conjunto de moléculas interagindo ao acaso, a célula é uma unidade complexa e altamente organizada que realiza suas numerosas reações químicas de maneira rápida e extremamente eficiente. BAKER, Jeffrey J. W.; ALLEN, Garland E. Estudo da Biologia, 1975. O citoplasma e as organelas membrano- sas na produção, no armazenamento e na eliminação de moléculas Como vimos nas aulas anteriores, um ser vivo tem composição química complexa, e muitos compostos desempenham funções específicas para a manutenção do equilíbrio dinâmico do metabolismo celular. Também estudamos alguns processos de trocas de materiais que acontecem entre o ambiente e as células. Mas como es- ses materiais são processados nas células? Quais são seus percursos no metabolismo? Como a célula consegue produzir moléculas complexas e quais são elas? Nestas aulas, faremos uma análise mais detalhada das estruturas celulares e de suas respectivas atividades. Observe a ilustração a seguir: nas redes no citoplasma que, às vezes, o dividem em compartimentos – daí o termo retículo endoplasmático. As pesquisas também identificam, ribossomos aderi- dos ao sistema reticulado, que, neste caso, é chamado de retículo endoplasmático rugoso, granular ou ergastoplasma. Desenho esquemático do sistema de membranas internas – o retículo endoplasmático, a partir da membrana plasmática. Para se distinguir morfologicamente do retículo ru- goso, a rede membranosa sem os ribossomos é chamada de retículo endoplasmático liso ou agranular. Mas ambos – rugoso e liso – aparecem na mesma célula; o que pode variar é a predominância de um ou de outro, indicativa do tipo de atividade celular demandada na de moléculas. Nas células, o retículo endoplasmático desempenha funções de comunicação interna, transporte, armazena- mento e síntese de substâncias. O retículo endoplasmático liso produz lipídios e o retículo rugoso, proteínas. Como a célula produz moléculas Exemplos de importantes moléculas elaboradas pelas células de alguns órgãos humanos. O retículo endoplasmático Os estudos microscópicos das células eucarióticas re- velam um sistema interno tortuoso e bastante elaborado de canais membranosos que estabelecem comunicações desde a parte interna da membrana plasmática até a carioteca. Esses canais compõem uma trama de peque- biologia B • aula 6 CURSINHO DA POLI 15 2 2 2 -2 É oportuno fazer duas considerações: 1) a proprieda- de de síntese do retículo envolve um processo complexo do núcleo e dos ribossomos; 2) os ribossomos também são encontrados livres no citoplasma, sem perder a capacidade de elaboração das moléculas proteicas; é certo que, quando associados ao retículo, permitem a eliminação (secreção) dos produtos para fora das células. O complexo Golgiense No citoplasma de células de vegetais e animais, encontra-se um outro sistema de membranas compará- vel ao retículo liso, porém descontínuo e arranjado como bolsas achatadas, paralelas e compactas. O primeiro a detectar a existência de tais estruturas cito- plasmáticas foi o citologista italiano Camilo Golgi, em 1898. Por meio de exame microscópico, notam-se, nas extremidades do Golgi, pequenas vesículas agrupadas, as quais, acredita-se, desprendem-se após algum tempo, carregadas de substâncias. O aparelho de Golgi também é chamado de sistema golgiense ou dictiossomo, composto de organelas membranosas acha- tadas, dispostas paralelamente no citoplasma. Presume-se que seja originado e diferenciado a partir do retículo endoplasmático. Ainda não está completamente compreendida essa estrutura celular, mas parece que as proteínas produzidas nos ribossomos são levadas pelos canais do retículo ao Golgi, onde são concentradas e empacotadas, sendo distribuídas naquelas pequenas bolsas, ou lançadas diretamente para fora das células. Outras funções do Golgi Descobriu-se que o sistema golgiense participa de outros processos celulares, como a transformação do espermatídeo em espermatozoide, na formação do chamado acrossomo. O aparelho de Golgi participa na formação do acrossomo dos espermatozoides. Nas células vegetais, o Golgi inicia a construção da parede celulósica a partir da lamela média, ao fim da divisão celular. atividade O Golgi participa da formação da lamela média nas células vegetais, como esquematizado nos itens A, B e C. biologia B • aula 6 16 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 Proteínas: as moléculas de construção da matéria viva enzimáticas: aceleram as reações quími- cas (exemplo: amilase salivar). estruturais (ou de construção): participam da estrutura da matéria viva (exemplo: queratina). Como podemos explicar a modificação no cabelo da mulher? O “permanente” é mesmo permanente? Fo to s: M au ric io M or ae s As proteínas são macromoléculas, isto é, moléculas formadas por milhares de unidades de repetição – no caso, os aminoácidos. Antes de as estudarmos com maiores detalhes, vamos conhecer suas principais funções. Para que servem as proteínas? Vimos que, no mundo dos seres vivos, existe uma grande variedade de proteínas, que desempenham inúmeras funções. Mas, de maneira geral, podemos ordená-las conforme suas atividades no metabolismo das células. Observe. pontes de enxofre cadeias de proteína abertura das pontes fechamento das pontes Produtos químicos usados no “permanente” abrem e fecham as ligações químicas, pontes de enxofre da queratina, das moléculas proteicas do cabelo, permitindo moldá-lo como desejado. Porém, o cabelo que nasce, novo, é igual ao anterior, e o “permanente” tem de ser feito novamente. biologia B • aula 6 CURSINHO DA POLI 17 2 2 2 -2 de defesa: neutralizam proteínas estranhas no organismo (exemplo: imunoglobulinas ou anticorpos). de transporte: atuam como carregadores (exemplo: hemoglobina). hormonais: estimulam ou ini- bem determinados conjuntos celulares, os tecidos (exemplo: hormônio do crescimento). toxinas: atuando em células de outros orga- nismos, desequili- bram as atividades do metabolismo, podendo matá-las (exemplo: veneno de serpente). contráteis: des- lizantes, provo- cam a contração e a distensão da célula (exemplo: actina e miosina). Do que são feitas as proteínas? As células dos seres vivos estão em constante pro- cesso de manutenção: crescem, reparam as organelas ineficientes, combatem microrganismos invasores, multiplicam-se. Todas essas atividades requerem a par- ticipação das proteínas, que são formadas por milhares de unidades menores, os aminoácidos (aa). A estrutura química do aminoácido Um aminoácido é formado por um átomo de car- bono ligado a um átomo de hidrogênio (H), um átomo de carbono ligado a uma carboxila (COOH) e um grupo químico denominado radical (R), que pode ser desde um átomo de H até moléculas maiores. Fórmula geral Estrutura química do aminoácido nome estrutura química glicina H H N C H C O H OH alanina valina H H N C H C O C OH HO O C C H H N H H C CH HH H HH H Representação da estrutura química plana de três aminoáci- dos. Note que todos apresentam o carbono central ligado ao grupo carboxila (COOH), ao grupo amina (NH 2 ) e um átomo de hidrogênio. O que diferencia um do outro é o radical. Por exemplo, no aminoácido glicina, o radical é um átomo de hidrogênio; na alanina, CH 3 . átomo de hidrogênio radical carboxila amina H – N | H – C –C H | | R O OH | || biologia B • aula 6 18 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 Os aminoácidos na natureza No mundo dos seres vivos, apenas 20 tipos de ami- noácidos são usados para a construção de uma grande variedade de moléculas proteicas. Os 20 tipos de aminoácidos usados nas proteínas dos seres vivos glicina (Gli) treonina (Tre) alanina (Ala) cisteína (Cis) valina (Val) tirosina (Tir) leucina (Leu) asparagina (Asn) isoleucina (Iso) glutamina (Gln) metionina (Met) ácido Aspártico (Asp) fenilalanina (Fen) ácido Glutâmico (Glu) triptofano (Tri) lisina (Lis) prolina (Pro) arginina (Arg) serina (Ser) histidina (His) Denominam-se aminoácidos naturais aqueles que as células dos seres vivos conseguem sintetizar, e aminoácidos essenciais os que os seres vivos precisam adquirir no ambiente, geralmente por meio da ali- mentação. Os seres humanos, por exemplo, elaboram onze tipos de aminoácidos, havendo a necessidade da ingestão dos outros nove. Daí a importância de a nossa dieta ser bastante variada (carnes, leguminosas, leite e derivados, ovos etc.). Os aminoácidos (aa) dos seres humanos aa essenciais aa naturais ou não essenciais histidina (His) alanina (Ala) isoleucina (Iso) arginina (Arg) leucina (Leu) asparagina (Asn) lisina (Lis) ácido aspártico (Asp) metionina (Met) cisteína (Cis) fenilalanina (Fen) ácido glutâmico (Glu) treonina (Tre) glutamina (Gln) triptofano (Tri) glicina (Gli) valina (Val) prolina (Pro) serina (Ser) tirosina (Tir) As exigências dos diferentes tipos de aminoácidos para as atividades de construção das proteínas variam para cada espécie de ser vivo, isto é, um determinado aminoácido pode ser essencial para uma espécie mas natural para outra. A ligação peptídica A união entre dois aminoácidos ocorre por síntese de desidratação e é chamada de ligação peptídica. Esquema da reação química entre dois aminoácidos através da síntese por desidratação – é a ligação peptídica O plano estrutural das proteínas A estrutura de uma molécula proteica é caracterizada pelo número, pela ordem (sequência) e pelos tipos de aminoácidos que contém. Todas essas informações da proteína são determinadas hereditariamente, isto é, através do comando dos genes (como veremos adiante). Além disso, cria-se um arranjo geométrico que dá forma à proteína, muito importante para as atividades biológicas. Observe o esquema: Representação esquemática dos genes no controle e no comando da síntese das proteínas. Todas as células herdam a bagagem genética. Os genes comandam e controlam a fabri- cação das proteínas, isto é, editam a quantidade, a ordem e os tipos de aminoácidos nas moléculas proteicas, que têm relação com sua forma e sua função no metabolismo celular. ou célula núcleo vegetal animal (contém genes) genes estrutura da proteína função biológica forma da proteína biologia B • aula 6 CURSINHO DA POLI 19 2 2 2 -2 São conhecidos os seguintes planos estruturais das proteínas: estrutura primária: está relacionada com a se- quência dos aminoácidos, determinada pelo código genético. estrutura secundária: relaciona-se com o arranjo tridimensional da estrutura primária, isto é, se ela está enrolada ou dobrada. estrutura terciária: refere-se à maneira como a estrutura secundária se mantém enrolada ou dobrada inúmeras vezes sobre si mesma, assumindo uma forma tridimensional. estrutura quaternária: refere-se a outros polipeptí- deos presos à estrutura terciária. Ilustração das estruturas proteicas. Observe que a quantidade dos aminoácidos determina uma rede de ligações químicas gerando uma forma da molécula. Erros na sequência dos aminoácidos podem gerar proteínas defeituosas Como vimos, o material genético comanda a síntese das proteínas, ordenando o número, a sequência e os tipos de aminoácidos. Porém, podem ocorrer alterações nos genes, chamadas mutações, que produzirão, por conseguinte, proteínas diferentes das originais. Proteínas alteradas também mudam de forma, podendo perder a função biológica. Por exemplo, foi descoberto em pacientes humanos um tipo de anemia, denominado anemia falciforme (= hemácias em forma de foice), com hemoglobinas diferentes das hemácias de pessoas sadias. Após muitas pesquisas, descobriu- -se que ocorreu uma única substituição do aminoácido ácido glutâmico presente na hemoglobina normal pelo aminoácido valina (hemoglobina anormal). Com o auxílio do professor, compare e indique qual aminoácido foi substituído na hemoglobina anormal: Quadro esquemático mostrando que as hemácias com as pro- teínas hemoglobinas normais apresentam a forma ligeiramen- te oval, enquanto as hemácias com as hemoglobinas anormais têm forma de arco ou foice, daí o termo anemia falciforme. A desnaturação das proteínas A forma das proteínas pode mudar pela ação de agentes físicos, como a temperatura e a radiação, ou por agentes químicos, como os meios extremamente ácidos ou básicos. Esses fatores rompem as ligações químicas da molécula proteica, desfazendo a forma quaternária ou terciária, desativando-a. Quando fritamos um ovo, desnaturamos a albumina. Ilustração da desnaturação proteica causada pelo calor, por exemplo, quando fritamos um ovo. No detalhe, representação molecular da proteína perdendo sua forma original por efeito da alta temperatura, que rompe as ligações químicas peptídicas. biologia B • aula 6 20 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 Exercícios 1. (Enem) Na década de 1940, na Região Centro-Oeste, pro- dutores rurais, cujos bois, porcos, aves e cabras estavam morrendo por uma peste desconhecida, fizeram uma promessa, que consistiu em não comer carne e deri- vados até que a peste fosse debelada. Assim, durante três meses, arroz, feijão, verduras e legumes formaram o prato principal desses produtores. O Hoje, 15 out. 2011. Adaptado. Para suprir o déficit nutricional a que os produtores rurais se submeteram durante o período da promessa, foi importante eles terem consumido alimentos ricos em a) vitamina A e E. b) frutose e sacarose. c) aminoácidos naturais. d) aminoácidos essenciais. e) ácidos graxos saturados. 2. (Fuvest) O retículo endoplasmático e o complexo de Golgi são organelas celulares cujas funções estão relacionadas. O complexo de Golgi a) recebe proteínas sintetizadas no retículo endoplas- mático. b) envia proteínas nele sintetizadas para o retículo endoplasmático. c) recebe polissacarídeos sintetizados no retículo en- doplasmático. d) envia polissacarídeos nele sintetizados para o retículo endoplasmático. e) recebe monossacarídeos sintetizados no retículo endoplasmático e o envia polissacarídeos. Estudo orientado exercícios 1. (Fatec) A invenção do microscópio possibilitou várias descobertas e, graças ao surgimento dos microscópios eletrônicos, houve uma revolução no estudo das células. Esses equipamentos permitiram separar os seres vivos em procarióticos e eucarióticos, porque se descobriu que os primeiros, entre outras características, a) possuem núcleo organizado envolto por membrana nuclear. b) possuem material genético disperso pelo citoplasma. c) não possuem núcleo e não têm material genético. d) não possuem clorofila e não se reproduzem. e) possuem parede celular e cloroplastos. 2. (Unicamp) Considere os seguintes componentes celulares: I. parede celular II. membrana nuclear III. membrana plasmática IV. DNA É correto afirmar que a célula de a) fungos e protozoários possuem II e IV. b) bactérias e animais possuem I e II. c) bactérias e protozoários possuem II e IV. d) animais e fungos possuem I e III. roda de leitura Termodinâmica e vida Tudo indica que os avanços das biologias sintética, quântica e sistêmica serão um marco importante no paradigma científico deste século. Parte desse sucesso deve-se à termodinâmica, que, embora tenha surgido há mais de 150 anos, apenas nas últimas cinco dé- cadas teve sua importância reconhecida no estudo dos sistemas biológicos. Como veremos a seguir, essa demora tem a ver com a indisponibilidade de recursos matemáticos, que só começaram a aparecer no final dos anos 1940, com os estudos de Prigogine. D om ín io p úb lic o/ W ik ip éd ia C om m on s Aplicar a termodinâmica aos organismos vivos não foi tra- balho de um cientista só. Schrödinger (à esquerda) lançou as primeiras ideias, mas somente Prigogine (à direita) conseguiu transformá-las em equações. O passo inicial para esse reconhecimento foi dado por Erwin Schrödinger, em 1944, ao publicar seu me- morável livro O que é vida? Suas reflexões dirigiram-se para o aspecto físico da célula viva, incluindo mecânica quântica, termodinâmica e mecânica estatística. A obra influenciou muitos cientistas, incluindo James Dewey Watson, que decidiu investigar os “códigos de instruções hereditárias” sugeridos por Schrödinger e biologia B • aula 6 CURSINHO DA POLI 21 2 2 2 -2 chegou à definição da estrutura molecular do DNA, em colaboração com Francis Crick e Maurice Wilkins. No entanto, foi Ilya Prigogine quem providenciou os recursos operacionais para a aplicação da termodi- nâmica, com o desenvolvimento da termodinâmica dos sistemas dissipativos a partir do final dos anos 1940, pelo qual ganhou o Nobel de Química de 1977. A termodinâmica clássica – aquela habitualmente tratada nos livros da educação básica à universitá- ria – refere-se a sistemas fechados em condições de equilíbrio. Mas os sistemas naturais, como materiais biológicos, constituem sistemas abertos em condições de não equilíbrio. Por isso as ferramentas elaboradas na termodinâmica clássica a n a m il h õ e s d e a n o s origem da Terra solidificação da crosta terrestre origem da vida (?) fóssil procarioto mais antigo acúmulo de oxigênio na atmosfera devido a cianobactérias evidência de primeiros organismos terrestres na África do Sul fóssil eucarioto mais antigo organismo com uma ou mais células que tem núcleo envolvido por membrana algas geralmente unicelulares fotossintéticas organismo unicelular sem membrana nuclear fóssil de organismos terrestres mais antigos plantas colonizam a terra extinção dos dinossauros primeiros humanos biologia B • aula 1 CURSINHO DA POLI 3 2 2 2 -1 Começando a entender os seres vivos Ao contrário dos não-vivos, os seres vivos conseguem fazer uma série de coisas: incorporação de alimentos, eliminação de produtos de excreção, locomoção, re- produção etc. Como dissemos, o objeto de estudo da Biologia são as formas viventes – das quais fazemos parte –, e para entendê-las é preciso conhecer algumas de suas características mais básicas, intrínsecas à própria vida. Vamos lá? Adaptação C or el S to ck P h ot o H an s G el d er b lo m /G et ty Im ag es C or el S to ck P h ot o a c b Seres vivos adaptados em ambientes diferentes: a) vírus HIV (do inglês human immunodeficiency virus, ou vírus da imunode- ficiência humana) adap- tados para se reproduzir dentro das células de defesa (os leucócitos) dos seres humanos; b) cactos do deserto, vegetais adaptados à sobrevivência em ambien- tes de elevada temperatura e falta de água; c) pinguins-imperadores, aves que perderam a capacidade de voar no decurso do processo da evolução, habitantes perma- nentes da Antártica. Estamos adaptados para sobreviver no espaço? C or el S to ck P h ot o Existem seres vivos, como algumas espécies de caran- guejos, que habitam as profundezas abissais dos oceanos (mais de 5 000 m de profundidade), um ambiente per- manentemente escuro, frio e de elevada pressão. Outros são terrestres, mas vivem na ausência de gás oxigênio, o qual inibe seu desenvolvimento, como é o caso de algumas bactérias. Alguns organismos usam a luz do sol para conseguir energia; outros se alimentam daqueles que usam a luz. Algumas espécies sobrevivem em climas frios como o da Antártica, cuja temperatura pode atingir – 80 ºC, e outras moram em regiões tropicais como a floresta Amazônica, sempre muito quente e úmida. Será que o ser vivo, qualquer que seja, pode se acos- tumar aos diferentes ambientes? Como um ser vivo dá origem a outras formas de organismos adaptados? Podemos entender adaptação como qualquer modificação (anatômica, fisiológica, de coloração, de comportamento etc.) que capacita o ser vivo a obter vantagens do ambiente, aumentando suas possibilida- des de reprodução e sobrevivência. Organismos bem adaptados a seu ambiente têm um período de vida mais longo e produzem mais descendentes. Devemos reconhecer dois aspectos diferentes da adaptação: a temporária e a permanente. Na primeira, o organismo se adapta a alguma condição específica do ambiente, mas não transmite essa mudança aos descendentes. Por exemplo: uma árvore pode crescer curvada, em resposta à direção da luz; isso não significa que os descendentes dessa árvore nascerão curvados. Já a adaptação permanente decorre da transmissão de características entre indivíduos de uma mesma es- pécie, por muitas gerações. Em Bornéu, uma ilha isolada do Indo-Pacífico, uma espécie de sapo usa suas membranas interdigitais bem desenvolvidas para planar. Os critérios da seleção natural da ilha favoreceram os sapos com a modificação das patas, e essa característica pode ser transmitida para as gerações seguintes. Crescimento Como pode um ser vivo crescer? C or el S to ck P h ot o Os vegetais e os seres humanos, por exemplo, crescem em altura e em largura. BB1_gaia_2016_P4.indd 3 2/25/16 1:11 PM biologia B • aula 1 4 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -1 O crescimento de um ser vivo caracteriza-se pelo aumento do seu tamanho durante a vida. Os animais, em geral, têm períodos limitados de crescimento; já os vegetais podem crescer durante toda a vida. O período de crescimento pode variar de espécie para espécie – para determinados insetos, por exemplo, leva apenas algumas horas; para os seres humanos, até 20 anos. Analise as situações a seguir: em qual delas, A e/ou B, está ocorrendo o crescimento? células A B O crescimento é o resultado da construção (síntese) de moléculas chamadas estruturais, como as proteínas, em taxa mais rápida do que a taxa em que são degrada- das. A rocha e o cristal também aumentam de tamanho, mas pelo acréscimo ou pela deposição de materiais vindos de fora – não por expansões do conteúdo interno, como ocorre nos seres vivos. No plano celular, o crescimento se dá pelo aumento do tamanho (figura B), como é o caso dos organismos unicelulares, e pelo aumento no número de células (figura A), nos organismos multicelulares. Reprodução a Fá b io C ol om b in i b C or el S to ck P h ot o Os seres vivos perpetuam a vida de sua espécie por meio da reprodução: a) comportamento de acasalamento de mamífe- ros, as lhamas; b) comportamento de acasalamento de insetos, os grilos. Qual será a finalidade biológica da reprodução? Não mais se discute que o aparecimento de um ser vivo se dá por meio de outro ser vivo. Houve uma época em que se acreditava que os seres vivos pudessem surgir de coisas inanimadas – uma rocha, por exemplo. Hoje, sabemos que o mecanismo que permite o surgimento dos descendentes é a reprodução, característica exclu- siva dos seres vivos. Há dois modelos de reprodução: a assexuada e a sexuada. Na assexuada, ocorre a divisão da célula em duas exatamente iguais à progenitora. É muito comum os organismos unicelulares reproduzirem-se assexuada- mente, embora isso também ocorra nos multicelulares em pelo menos alguma fase da vida. A reprodução sexuada resulta da união de duas células chamadas gametas ou germinativas. Os game- tas produzidos por machos e fêmeas de uma mesma espécie são diferentes. O gameta masculino animal, chamado espermatozoide, funde-se com o gameta feminino, chamado óvulo, no processo de fertilização. O resultado é a formação do zigoto, unicelular. O zigoto desenvolve-se num organismo completo por meio de inúmeras divisões celulares, que ulteriormente se dife- renciam para a formação dos diferentes tecidos e órgãos que o compõem. Os gametas carregam um programa genético diferente dos pais por causa de um fenômeno de re- combinação dos genes (crossing-over) que garante aos descendentes a herança de um importante patrimônio contendo as informações de adaptabilidade e de cres- cimento, dentre inúmeras outras. Por ora, não podemos confundir sexo com re- produção. Biologicamente, o sexo é definido como a separação das funções masculina e feminina em indivíduos diferentes. biologia B • aula 1 CURSINHO DA POLI 5 2 2 2 -1 Variação biológica Fo to s: C or el S to ck P h ot o A variação biológica entre diferentes organismos e numa mes- ma população, isto é, grupo de indivíduos da mesma espécie. Dois indivíduos nunca são idênticos. Mesmo os gê- meos humanos formados por uma única fecundação, conhecidos como monozigóticos ou idênticos, apresen- tam diferenças em alguns aspectos. Como já dissemos, os descendentes herdam de seus pais um conjunto de importantes informações, chamado patrimônio genético – uma combinação aleatória das características dos genitores, as quais podem ou não se expressar nos filhos; por isso não somos 100% do pai ou 100% da mãe. Essa combinação dos genes ao acaso produz a variação, isto é, as diferenças. Outro fator são as mudanças nos genes, conhecidas como mutações. Ambas favorecem o processo da evolução, porque podem ser transmitidas. Também se reconhece a variação provocada nos organis- mos pelo ambiente, mas esta não pode ser transmitida. Podemos identificar a variação ou variabilidade normalmente não podem ser usadas nos sistemas biológicos. A segunda lei da termodinâmica diz que os sistemas em equilíbrio evoluem para um estado no qual a energia é mínima e a entropia é máxima. Veja- mos. A entropia é um conceito de difícil compreensão. Na linguagem popular, ela é associada à desordem, mas na linguagem científica pode ser associada à indisponibilidade de energia – ou seja, quanto maior a entropia, menos energia disponível – ou à quantidade de microestados em que um sistema pode se encontrar. Observe o exemplo simples apresentado na figura a seguir. Trata-se de duas moléculas gasosas em um recipiente com dois compartimentos. No Estado 1, as duas moléculas ficam restritas a um dos lados. Esse é o estado de entropia mínima, o mais organizado, pois sabemos precisamente em qual compartimento as mo- léculas se encontram. Ao abrir a comporta que separa os dois compartimentos, o sistema passa para o Estado 2, com três possíveis configurações, ou microestados. As duas moléculas podem permanecer em um dos lados, ou uma molécula fica em um dos lados e a outra no lado oposto. A entropia desse estado é maior, pois tem três possíveis microestados. Podemos também dizer que é o estado mais desorganizado, pois não podemos saber em qual microestado o sistema se encontra. C ar lo s A lb er to d os S an to s O Estado 1 representa um estado de entropia mínima. No Estado 2, observa-se um estado de entropia maior, pois admite maior variedade de microestados. O paradoxo observado por Schrödinger foi que os sistemas vivos tendem para estados de maior ordem, ou seja, de menor entropia, em aparente contradição com a segunda lei da termodinâmica. Os seres vivos são sistemas altamente organizados. Como isso é possível? Ordem no caos A saída imediata para o encaminhamento da solução é o reconhecimento de que os sistemas vivos não obedecem à termodinâmica clássica, a que deno- minamos de equilíbrio. Eles não são sistemas fechados, mas abertos, e trocam matéria e energia com seu meio ambiente. É aí que está o início da explicação. Mas Schrödinger ainda não sabia como transformar isso em equações: esse conhecimento veio com os traba- lhos de Prigogine. Mas o primeiro, o “pai da mecânica quântica ondulatória”, adiantou reflexões que logo depois foram utilizadas pelo segundo, o “poeta da termodinâmica”. A tendência dos sistemas que obedecem à termo- dinâmica clássica é a morte rápida, quando a energia é mínima e a entropia é máxima. Agora, como os organismos vivos evitam isso ao longo de um grande período? Para alguns seres humanos esse período pode passar de um século. Como diz Schrödinger, a resposta óbvia é: comendo, bebendo e respirando. O termo técnico disso é metabolismo, que significa troca. Troca do quê? O que nosso corpo recebe para evitar o aumento de entropia que o levaria à morte? A resposta de Schrödinger foi ousada e muito combatida por uma parte da comunidade científica: os seres vivos extraem entropia negativa do meio ambiente. Ou seja, os organismos se alimentam na verdade de entropia negativa, para não deixar sua entropia interna se aproximar do máximo. Prigogine transformou os sistemas em equações, com a criação da termodinâmica de não equilíbrio, a termodinâmica aplicável aos sistemas dissipativos, como os seres vivos e todos os materiais biológicos. Sistemas que trocam matéria e energia com o meio ambiente, e evoluem de modo irreversível, do nasci- mento à morte. A teoria de Prigogine começa com a definição da entropia total, constituída de dois termos: a entropia interna, cujo crescimento é sempre igual ou maior do que zero, e a entropia transferida do meio ambiente, cujo crescimento pode assumir qualquer valor, maior, igual ou menor que zero, de modo que a entropia total sempre cresce. Reconhecimento tardio Embora tenha sido criada no final dos anos 1940, a teoria de Prigogine só foi extensivamente usada em biologia B • aula 6 22 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 estudos biológicos a partir dos anos 1990, um compor- tamento muito similar ao apresentado pelos artigos contendo, ao mesmo tempo, os termos "biologia" e "física". O desafio que esta realidade coloca para profes- sores de Biologia, Física e Química é a elaboração da correspondente transposição didática para disciplinas universitárias básicas. Até que ponto, e de que modo, é possível tratar o tema em cursos básicos? Pelo que se sabe dos currículos nacionais, estamos um tanto longe disso. As disciplinas básicas oferecidas pela Física limitam-se à termodinâmica de equilíbrio. Raramente os departamentos de Química oferecem cursos espe- cíficos sobre termodinâmica – geralmente, o tema é incluído em disciplinas como físico-química. Da mes- ma forma, nos cursos de Biologia, o tema ora aparece na biofísica, ora na bioquímica. Portanto, se quisermos que os avanços científicos oriundos da termodinâmica de não equilíbrio tenham reflexos na formação de profissionais das Ciências da Natureza, precisamos de uma abordagem didática interdisciplinar já nos cursos universitários básicos. Carlos Alberto dos Santos. CURSINHO DA POLI 23 2 2 2 -2 aula 7 Os seres vivos são capazes de realizar sínteses complexas com alta eficiência e uma precisão de quase 100%. Isso é possível devido à ocorrência no organismo, de catalisado- res muito específicos – as enzimas. A Biologia e o Homem. KRASILCHIK, M. São Paulo: Edusp, 2001. As enzimas Vimos que a vida é mantida por uma série de reações químicas chamadas metabolismo. Mas, para que essas reações possam acontecer num intervalo de tempo compatível com as exigências das células, são necessários compostos que facilitem os encontros moleculares, de sín- tese ou de degradação. Esses compostos são as enzimas. As enzimas diminuem a energia de ativação, isto é, a energia inicial necessária para ocorrer a reação química celular. Observe o gráfico a seguir. energia reação catalisada sem enzima reação catalisada com enzima produtosestágio final estágio inicial reagentes sequência da reação Representação gráfica de uma determinada reação química sem e com a participação da enzima. As enzimas também são conhecidas como biocata- lisadoras, isto é, são proteínas que atuam nas reações bioquímicas, “aumentando” a velocidade dos encontros. Durante essas reações, as enzimas não mudam a sua estrutura molecular. As enzimas atuam com especificidade Para explicar a ação específica das enzimas sobre determinados compostos químicos, os substratos, usa- -se o modelo chave-fechadura. O modelo chave-fechadura permite compreender a alta especificidade enzimática: só a enzima com a estru- tura adequada é capaz de combinar-se a determinado substrato e acelerar a reação bioquímica. Representação ilustrativa da especificidade da enzima sacarase sobre o substrato sacarose. Os principais fatores que influenciam a atividade das enzimas a temperatura O aumento do calor favorece os encontros molecu- lares e a atividade enzimática. Todavia, existem limites para a atuação das enzimas. Nos seres humanos, por exemplo, o limite está em torno de 40o C; acima desse valor, as enzimas perdem a função, isto é,desnaturam-se. Observe, no gráfico a seguir, a ação das enzimas humanas e das enzimas de bactérias de fontes termais. O modelo chave-fechadura temperatura ótima para as enzimas humanas temperatura ótima para as enzimas de bactérias muito resistentes ao calor (bactérias que vivem em fontes de águas termais) temperatura (ºC) 0 20 40 60 8070 100 ve lo ci d ad e d a re aç ão 35+– +– Proteínas especiais – enzimas e anticorpos Representação da especificidade da enzima proposta no modelo chave-fecha- dura; o cadeado só pode ser aberto por determinada chave. biologia B • aula 7 24 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 potencial hidrogeniônico (pH) O grau de acidez ou de alcalinidade de uma solução, o pH, também influencia a ação das enzimas. Observe, no gráfico a seguir, a ação de duas enzimas digestivas humanas em diferentes situações de pH. Exemplos de efeito do pH na velocidade de reações catalisadas por enzimas. O pH pode desfazer as ligações químicas entre as cadeias polipeptídicas das enzimas, que perdem sua função. Os anticorpos Quando, por algum motivo, as barreiras mecânicas de defesa de um organismo deixam passar corpos microscó- picos estranhos, desencadeiam-se processos de proteção contra a invasão. Essa defesa é realizada por um complexo sistema, denominado sistema imunitário. Uma das estratégias de ação do sistema imunitário é o ataque direto e a destruição dos agentes invasores pelas células de defesa, os macrófagos e os neutrófilos, que, como já vimos, realizam a fagocitose. A outra ocor- re quando “pedaços” ou partes dos invasores perma- necem no sangue do organismo invadido, acionando células chamadas linfócitos na produção e na liberação dos anticorpos ou gamaglobulinas, as proteínas de de- fesa, que também são lançados na corrente sanguínea. Importante Anticorpos são proteínas de defesa ou imunitárias. Os anticorpos atuam neutralizando os antígenos (proteínas estranhas). Às vezes, essas reações químicas formam aglutinações, como acontece, por exemplo, nos casos de incompatibilidade entre grupos sanguíneos humanos, como veremos nos próximos cadernos. Lembre-se ANTICORPOS X ANTÍGENOS (proteínas de defesa (proteínas estranhas) de um organismo) No sistema imunitário dos seres humanos, os lin- fócitos do tipo T são responsáveis por dar o alarme, produzindo um sinal químico. O sinal é captado por outros linfócitos, os do tipo B, que começam a sintetizar e a liberar os anticorpos. Observe o esquema a seguir. Sequência esquemática da ação do sistema imunitário: 1) células vigilantes, os linfócitos T, reconhecem proteínas estra- nhas no organismo (antígenos) e acionam um alarme químico; 2) o alarme ativa os linfócitos B, começando o processo de produção e liberação dos anticorpos na tentativa de neutrali- zar os antígenos. Os vírus HIV, causadores da aids, parasitam e destroem os linfócitos T. As moléculas proteicas dos anticorpos têm estrutura altamente específica para o reconhecimento e o comba- te de antígenos também específicos, modelo semelhante ao chave-fechadura das enzimas. Será possível transferir anticorpos prontos de um organismo para outro, com a finalidade de combater os antígenos? Como? pH ótimo para a pepsina pH ótimo para a tripsina 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 pH ve lo ci d ad e d a re aç ão Exemplos de efeito do pH na velocidade de reações catalisadas por enzimas 4. neutralização 2. alarme linfócitos T 1. reconhecimento antígenos linfócitos B 3. produção anticorpos biologia B • aula 7 CURSINHO DA POLI 25 2 2 2 -2 Fa b io C ol om b in i A imunização No século XIX, cientistas ocidentais aperfeiçoaram uma prática de intervenção médica para prevenir e defender o organismo humano contra alguns agentes infecciosos, através da injeção dos próprios microrganis- mos atenuados (enfraquecidos), ou partes deles, o que ficou conhecido como vacina. Fotografia mostrando a vacinação contra o vírus da gripe em idoso acima de 60 anos. A partir daí, as pessoas vacinadas ficam imunes ou imunizadas a agentes infecciosos. A memória imunitária Ao ser acionados, os linfócitos tipo B podem gravar uma mensagem molecular do antígeno, criando uma espécie de memória bioquímica celular. Os linfócitos que têm a “memória” tornam-se, então, vigilantes do sistema imunitário, podendo colocar em funcionamento a produção dos anticorpos num curto intervalo de tempo e em maior quantidade. Esse é o prin- cípio da resposta imunitária secundária, mais rápida que a resposta primária (feita quando do primeiro contato com o antígeno). Observe, a seguir, o gráfico que mostra as respostas imunitárias primária e secundária. Gráfico mostrando as respostas imunitárias sob determinados antígenos. a) resposta primária, lenta e de baixa produção de anticorpos; b) resposta secundária, muito rápida e de alta produção de anticorpos. Este é o princípio da vacinação: criar condições bioquímicas para que os organismos consigam rea- gir satisfatoriamente contra agentes causadores de doenças. A campanha de vacinação destina-se sensibilizar a sociedade para a importância da proteção imunitária. D el fim M ar tin s/ Pu ls ar D el fim M ar tin s/ Pu ls ar tempo co n ce n tr aç ão d e an ti co rp os a) b) A vacinação, por induzir as memórias imunitárias primária e secundária (após as doses de reforço), é cha- mada de imunização ativa e tem o caráter de medida preventiva. BCG* DPT** e poliomielite DPT e poliomielite DPT e poliomielite Sarampo DPT, poliomielite, sarampo, caxumba e rubéola DPT e poliomielite dT*** 1 mês* 2 meses 4 meses 6 meses 9 meses 15 meses 5 ou 6 anos 15 anos* idade vacinas * BCG – previne contra tubertuculose ** DTP (tríplice bacteriana) – previne contra difteria, tétano e coqueluche *** dt (dupla bacteriana) – previne contra difteria e tétano Fotografia da aranha-marrom, Loxosceles sp, cujo veneno (proteína tóxica) pode causar grave inflamação e lesar os tecidos próximos da picada. O atendimento deve ser imediato e o tratamento é feito com o soro antiloxoscélico, produzido no Instituto Butantã. biologia B • aula 7 26 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 Na ausência de anticorpos para combater de imedia- to proteínas tóxicas, por exemplo, o veneno de algumas espécies de serpentes ou aranhas, foi criado o soro imu- ne, isto é, a purificação e a concentração de anticorpos produzidos num organismo mas introduzidos em outro, com o objetivo de neutralizar o antígeno. A administração do soro imune não induz à criação da memória imunitária e é chamada imunização passiva; é uma medida profilática (curativa). Exercício 1. (Enem) Embora sejam produzidos e utilizados em situações distintas, os imunobiológicos I e II atuam de forma se- melhante aos humanos e equinos, pois a) conferem imunidade passiva. b) transferem célula de defesa. c) suprimem resposta imunológica. d) estimulam a produção de anticorpos. e) desencadeiam a produção de antígenos. Estudo orientado exercícios 1. (Enem) A contaminação pelo vírus da rubéola é especialmen- te preocupante em grávidas, devido à síndrome da rubé- ola congênita (SRC), que pode levar ao risco de aborto e a malformações congênitas. Devido a campanhas de vacinação específica, nas últimas décadas houve uma grande diminuição de casos de rubéola entre as mulhe- res, e, a partir de 2008, as campanhas se intensificaram e têm dado maior enfoque à vacinação de homens jovens. BRASIL. Brasil livre da rubéola: campanha nacional de vacinação para eliminação da rubéola. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Adaptado. Considerando a preocupação com a ocorrência da SRC, as campanhas passaram a dar enfoque à vacinação dos homens, porque eles a) ficam mais expostos a esses vírus. b) transmitem os vírus às mulheres gestantes. c) passam a infecção diretamente para o feto. d) transferem imunidade às parceiras grávidas. e) são mais susceptíveis a esse vírus que as mulheres. 2. (Fuvest) Um camundongo recebeu uma injeção de proteína A e, quatro semanas depois, outra injeção de igual dose da proteína A, juntamente com uma dose da proteína B. no gráfico a seguir, as curvas X, Y e Z mostram as concentrações de anticorpos contra essas proteínas medidas no plasma sanguíneo, durante oito semanas. PUMES, W. K.; SADAVA, G.; ORIANS, G. H.; HELLER, H. C. Life. The Science of Biology. Sinauer Associates, Inc. W. H. Freeman & Comp, 6. ed., 2001.Adaptado. As curvas a) X e Z representam as concentrações de anticorpos contra a proteína A, produzidos pelos linfócitos, res- pectivamente, nas respostas imunológicas primárias e secundárias. b) X e Y representam as concentrações de anticorpos contra a proteína A, produzidos pelos linfócitos, res- pectivamente, nas respostas imunológicas primárias e secundárias. c) X e Z representam as concentrações de anticorpos contra a proteína A, produzidos pelos macrófagos, respectivamente, nas respostas imunológicas pri- márias e secundárias. d) Y e Z representam as concentrações de anticorpos contra a proteína B, produzidos pelos linfócitos, res- pectivamente, nas respostas imunológicas primárias e secundárias. e) Y e Z representam as concentrações de anticorpos contra a proteína B, produzidos pelos macrófagos, respectivamente, nas respostas imunológicas pri- márias e secundárias. biologia B • aula 7 CURSINHO DA POLI 27 2 2 2 -2 3. (Enem) Milhares de pessoas estavam morrendo de varíola humana no final do século XVIII. Em 1796, o médico Edward Jenner (1749-1823) inoculou em um menino de 8 anos o pus extraído de feridas de vacas contami- nadas com o vírus da varíola bovina, que causa uma doença branda em humanos. O garoto contraiu uma infecção benigna e, dez dias depois, estava recuperado. Meses depois, Jenner inoculou no mesmo menino o pus varioloso humano, que causava muitas mortes. O menino não adoeceu. Adaptado de: bbc.co.uk. Acesso em: 5 dez. 2012. Considerando o resultado do experimento, qual a con- tribuição desse médico para a saúde humana? a) A prevenção de diversas doenças infectocontagiosas em todo o mundo. b) A compreensão de que os vírus podem se multiplicar em matéria orgânica. c) O tratamento para muitas enfermidades que acome- tem milhões de pessoas. d) O estabelecimento da ética na utilização de crianças em modelos experimentais. e) A explicação de que alguns vírus de animais podem ser transmitidos para os humanos. roda de leitura Doenças por príons A descoberta dos príons mudou a ideia de que somente organismos vivos são responsáveis por do- enças infecciosas. As encefalopatias espongiformes – doenças neurológicas que levam à demência, distúr- bios motores e outras disfunções – são causadas por mudanças na conformação na proteína príon celular, existentes no cérebro. A forma modificada, chamada simplesmente de príon, pode ser transmitida e, uma vez no cérebro, altera a proteína normal e forma agre- gados insolúveis. Estudos nessa área vêm ajudando a esclarecer como a proteína alterada se propaga, como evoluem essas encefalopatias e quais as funções da proteína normal. Até recentemente, acreditava-se que as doenças infecciosas só podiam ser causadas por microrga- nismos que contêm ácidos nucleicos (DNA ou RNA), como vírus, bactérias e protozoários. A descoberta de que certas proteínas – chamadas príons, sigla derivada da denominação proteinaceous infectious particle (partícula infecciosa proteinácea) – podiam ser agentes infecciosos abalou esse conceito clássico. A pesquisa sobre essas proteínas rendeu até agora dois prêmios Nobel, além de uma feroz polêmica sobre essa propriedade de proteínas e do conceito novo de “doenças de conformação de proteínas”. Após a Segunda Grande Guerra, médicos esta- dunidenses descobriram, em uma região remota de Papua-Nova Guiné, país da Oceania, uma doença ca- racterizada por distúrbios de movimentos, que atingia grande parte da tribo dos Fore e era chamada por eles de kuru. Com a ajuda de antropólogos, constataram que a doença estava associada a hábitos de caniba- lismo ritual, em que os familiares devoravam partes do corpo de parentes mortos, incluindo o cérebro. O estadunidense Daniel Carleton Gajdusek (que ganhou o Nobel de Medicina em 1976) e outros pesquisadores concluíram que a doença, chamada pelos nativos de kuru, era transmitida através dessa prática. De fato, a doença praticamente desapareceu com o fim do canibalismo ritual entre os Fore. Descobriu-se que doenças semelhantes podiam ser transmitidas para animais de laboratório, de camundongos a chimpanzés, injetando-se em seu cérebro extratos do cérebro de portadores de kuru, ou de portadores de outras doenças do grupo das “encefalopatias espongiformes”. Conhecidas antes da descoberta do kuru, tais doenças levam à degeneração do cérebro, dando ao tecido cerebral um aspecto es- ponjoso visível ao microscópio. Seus sintomas clínicos são demência, distúrbios motores, insônia ou outras disfunções cerebrais. Existem várias formas, algumas das quais atingem os humanos (a mais comum é a do- ença de Creutzfeldt-Jacob) e outras afetam diferentes animais, entre eles bois (encefalopatia espongiforme bovina, mais conhecida como “doença da vaca louca”) e carneiros (scrapie). Novo agente infeccioso O que mais intrigava os pesquisadores dessas do- enças era que o possível agente transmissor mostrava extrema resistência a todos os métodos conhecidos de destruição de vírus e bactérias. Contrariando a teoria de que essas encefalopatias seriam transmitidas por um vírus, o bioquímico estadunidense Stanley Prusiner (ga- nhador do Nobel em 1997) e outros cientistas concluíram que a transmissão devia-se a uma partícula composta apenas por proteína, e deram a ela o nome príon. Essa conclusão iniciou uma polêmica que dura até hoje, pois se julgava que a capacidade de produzir infecções seria exclusiva de seres vivos. No entanto, a maior parte dos cientistas aceita hoje a hipótese de que os príons são constituídos essencialmente por proteínas. Outra surpresa apareceu quando se constatou que o único componente sempre presente em materiais infecciosos (que, injetados em animais de laboratório, biologia B • aula 7 28 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 causam encefalopatias espongiformes) é uma prote- ína normal do organismo, abundante no cérebro e encontrada em outros órgãos. Mas como uma proteína normal do organismo pode causar ou transmitir uma doença? A resposta está em sua “conformação” – distri- buição espacial dos aminoácidos que a compõem. A proteína príon celular contém principalmente sequências de aminoácidos do tipo alfa-hélice, ou seja, arranjados de forma helicoidal no espaço. Já na forma patogênica (a que causa doença) predominam sequências com outro tipo de estrutura, conhecida como “folha beta pregueada”. O interessante é que a sequência de aminoácidos é a mesma nas formas normal e patogênica: a diferença está apenas na conformação da proteína. A forma patogênica tem tendência a se agregar, for- mando partículas insolúveis e muito resistentes a enzimas proteolíticas (que degradam proteínas). Os agregados insolúveis depositam-se no cérebro e, de forma ainda não esclarecida, produzem as encefalopatias espongiformes. Essas encefalopatias, agora também conhecidas como “doenças por príon”, tornaram-se protótipos de uma classe de doenças, ditas “de conformação de proteínas”. Outros exemplos, como a doença de Alzheimer, associada à deposição de um peptídeo (fragmento de proteína) cuja conformação também favorece a formação de agrega- dos insolúveis no tecido cerebral. Após a instalação da forma patogênica no tecido cerebral, a mudança de conformação das moléculas da proteína príon celular vai aos poucos alimentando os agregados, que tomam conta desse tecido e levam à doença. Essa propriedade permite que os príons se multipliquem mesmo sem conter DNA. Risco para a saúde pública Apesar do fim do canibalismo ritual entre os Fore, outras formas de infecção por príons persistem. Constatou-se, por exemplo, transmissão de príons por transplantes de membrana meníngea, chamada dura- -máter, durante neurocirurgias. A provável incidência futura de encefalopatias es- pongiformes devido à ingestão de carne contaminada ainda é debatida. Essa nova forma de doença, porém, já é importante questão de saúde pública em vários países europeus. No Brasil, não há registro de casos da doença da vaca louca, mas a vigilância sanitária é essencial, em vista dos indícios de que a transmissão entre espécies pode atingir o homem. Existem ainda formas hereditárias de doenças por príons. Acredita-se que certas mutações na proteína príon celular a tornam suscetível a mudanças espon- tâneas de conformação, favorecendo o surgimento da forma patogênica. A doença, nesse caso, não depen- deria de transmissão. Esse modelo seria responsável por vários casos de encefalopatias espongiformes em certas famílias onde existem aquelas mutações. Tais características das doenças por príons têm extraordi- nária importância do ponto de vista biológico, pois se trata do único tipo conhecido de doença que pode ser tanto infecciosa quanto hereditária, por causa de um mesmo agente patogênico. Conhecer melhor para combater As doenças por príons trazem novos desafios para várias disciplinas científicas. Para a medicina, constituem não só um novo conceito de doença, mas também um difícil problema de tratamento. Ainda não está claro de que forma a acumulação de príons causa a doença, nem sua relação com a degeneração do tecido cerebral. O papel da perda da proteína príon celular conti- nua em discussão, pois suas funções normais ainda estão sendo esclarecidas. Estudos recentes indicam que essa proteína pode estar ligada a mecanismos de proteção celular, de transporte de cobre e resistência a radicais livres de oxigênio, de regulação da excitabi- lidade cerebral, de memória, de inflamação e outros. No momento, pouco se pode fazer pelos porta- dores dessas encefalopatias, já que os tratamentos disponíveis não levam à cura. Entretanto, descobertas recentes de que certos fármacos são capazes de desa- gregar príons têm levado a ensaios clínicos, trazendo esperanças. Surpreendentemente, demonstrou-se que a quinacrina, muito usada para prevenir e tratar a malária, impede a agregação de príons em culturas in vitro. Outra chance está na clorpromazina, medica- mento antipsicótico usado para tratar a esquizofrenia que também evita a agregação de príons em culturas de células. Em outra linha de pesquisa, estão sendo realizados ensaios de imunoterapia experimental com anticorpos capazes de deter o processo de transforma- ção da proteína príon celular na forma patogênica. Há um longo caminho a percorrer, mas existe a expectativa crescente de que o desafio das encefalo- patias espongiformes, hoje ainda incuráveis e inex- ploravelmente fatais, possa ser vencido pela pesquisa experimental nos próximos anos. LINDEN, Rafael. Revista Ciência Hoje, jul. 2003. pesquisar e ler Uma leitura que promove o contexto do que foi estudado nestas aulas, principalmente o tema da imunização, é O Fim da Pólio – A campanha mundial para a erradicação da doença, texto de Siddarth Dube biologia B • aula 7 CURSINHO DA POLI 29 2 2 2 -2 e fotografias de Sebastião Salgado (São Paulo: Com- panhia das Letras, 2003). Descreve o combate contra o vírus da poliomielite, que afeta especialmente crianças, tornando-as paralíticas. A batalha envolve a mobilização e o trabalho articulado de organizações não governa- mentais, governos, entidades internacionais e voluntá- rios, pessoas de todas as idades, profissões e formações. Os resultados, em curto espaço de tempo, são impressio- nantes, ainda que não se tenha chegado à erradicação da doença. Por exemplo, em 1988, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ) lançaram a campanha mundial para a eliminação da pólio, a doença era endêmica em 125 países, provocando 350 mil vítimas a cada ano. Em 2001, a poliomielite estava restrita a dez países e o nú- mero de casos havia caído para menos de 2 mil ao ano. Além de pôr em evidência os esforços de um humanismo comprometido com a vida e de superação de um com- plexo de inferioridade em relação aos países socialmente mais desenvolvidos, temos as imagens captadas por Sebastião Salgado em regiões como África, Índia e Pa- quistão, de uma beleza plástica e uma mensagem clara de esperança. Vale reproduzir aqui um trecho do prefácio, escrito pelo secretário geral da ONU, Kofi Annan: “o vírus continuar a existir é, em si mesmo, uma condenação, pois essa é uma doença plenamente evitável. Proteger uma criança da pólio é tão fácil quanto protegê-la da chuva: trata-se de colocá-la sob o equivalente médico de um guarda-chuva – nesse caso, uma vacina facilmente ad- ministrável que foi desenvolvida há quase meio século”. Em Por dentro do Sistema Imunitário (São Paulo: Atual, 1994, Projeto Ciência), Paulo Cunha aborda de maneira clara a organização e o funcionamento de um sofistica- do sistema celular de defesa dos seres humanos contra proteínas e microrganismos invasores ou, conforme o autor, nossos inimigos naturais. A obra traz um relato em ordem cronológica da descoberta da vacina e discute a autoimunidade, a rejeição de órgãos transplantados, as alergias e a dificuldade de obtenção de uma vacina contra o vírus HIV, causador da aids. Logo de saída, no capítulo 1, o autor discute o sábio provérbio “prevenir é melhor do que remediar”. passear O Instituto Butantan inaugurou recentemente (final de 2003) o Museu de Microbiologia, com a exposição temática O Mundo Escondido dos Micróbios. O acer- vo permanente é composto por painéis informativos, modelos tridimensionais e gigantes de bactérias, ví- rus e protozoários. Expõe microscópios e registra sua história até o momento atual, de grande sofisticação e aperfeiçoamento. Os visitantes também têm acesso a computadores que possibilitam uma viagem interativa sobre o assunto, com simulações do desenvolvimento de algumas doenças infecciosas no organismo huma- no e da ação das vacinas (o programa foi criado pelo Laboratório de Informática da Faculdade de Medicina da USP). O Museu está aberto para visitação de terça a domingo, das 9h00 às 16h30, na Av. Vital Brasil, 1 500. O telefone é 2627-9300 / São Paulo. Conheça também o site www.butantan.gov.br . ágora Acredita-se que a quantidade de estrelas existentes no céu seja enormemente superior ao número de estre- las que podemos enxergar. Observe um copo com água do mar: quantos organismos vivos se pode distinguir a olho nu? Não muitos, provavelmente. Mas, com o em- prego das sofisticadas técnicas microscópicas atuais, torna-se visível uma imensa variedade de seres. Previna-se do vírus. Não das pessoas. Use camisinha. Cartaz do Ministério da Saúde / Governo Federal, no Dia Mundial da Luta Contra a Aids – 1o de dezembro O que os olhos não veem, o organismo não sente? biologia B • aula 7 30 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -2 gabarito aula 4 1. b 2. d 3. e aula 5 1. d 2. b aula 6 1. b 2. a aula 7 1. b 2. a 3. a orientação didática CURSINHO DA POLI ORIENTAÇÃO DIDÁTICA • 1 2 2 2 -2 biologia B caderno 2 aula 4: A célula realiza trocas de substâncias com o ambiente – Parte I Nessas aulas, trabalhamos a fisiologia da membrana plasmática: o transporte do tipo passivo e o transporte ativo. Para o transporte passivo, é interessante começar a aula fazendo emergir problemas: Por que as folhas da salada temperada murcham? Por que a carne salgada ou o charque pode permanecer sem refrigeração por longo tempo? A partir do cotidiano dos estudantes e a observação dos fenômenos, construa o entendimento conceitual dos mecanismos que permitem à célula trocar substâncias atravessando a membrana sem gasto de energia. Nossa prática de sala de aula tem mostrado que a osmose é um assunto que traz dificuldades, por isso, é bom retomar alguns conceitos básicos da Físico- -Química: nesse caso, as soluções. Para o transporte ativo, fazer uma abordagem mostrando que as células dos seres vivos têm a ne- cessidade de englobar macromoléculas e até mesmo outras células ou organismos invasores, por exemplo, as bactérias. Assim, num primeiro momento, introduza os processos da pinocitose e da fagocitose e, então, os conceitos. Nessa mesma abordagem, trabalhe com os estudantes o transporte de íons na formação e na condução do impulso elétrico nervoso, por exemplo. As muitas ilustrações visam melhorar o enten- dimento da passagem das substâncias através da membrana. Chame a atenção para isso, motive os alunos para explorar mais as figuras, tabelas e gráficos, valorizando os processos e a interpretação dos fenô- menos celulares para a manutenção da vida. Se quiser, resolva um exercício de aula logo após discutir os pontos teóricos: dá sentido ao aprendizado. gabarito 1. b 2. b aula 5: A célula realiza trocas de substâncias com o ambiente – Parte II gabarito 1. c aula 6: Como a célula produz moléculas O eixo principal dessas aulas é entender que as células de um organismo produzem substâncias para as mais diversas atividades: de defesa, de crescimento, de transporte, de ação sobre outras células ou tecidos etc. Mas pensamos que convém começar o assunto na escala macroscópica e relacioná-lo com a realidade dos estudantes, por exemplo, no caso das enzimas digestivas ou do hormônio do crescimento. Daí, partir para o plano microscópico: a morfologia e a fisiologia das estruturas membranosas da célula. Melhor não se prender muito nos detalhes dessas organelas, mas trabalhar as relações de integração e sua origem. Por exemplo, a carioteca na promoção do retículo endo- plasmático, que, por sua vez, relaciona-se com o com- plexo golgiense, que forma as vesículas de secreção. Mostrar e enfatizar que o interior da célula mantém intrincada rede de relações funcionais. Por fim, trabalhe com os alunos a estrutura química das proteínas e sua importância para os seres vivos. gabarito 1. d 2. a aula 7: Proteínas especiais – enzimas e anti- corpos O foco dessa aula é aprofundar o conhecimento de duas classes de proteínas, as enzimas e os anticorpos. Os estudantes devem estar seguros que compreen- deram a importância e o funcionamento das enzimas, pois o metabolismo celular demanda especificidade e velocidade para as inúmeras reações bioquímicas que garantem a vida. O mesmo vale para os anticorpos e para o sistema imune humano. É necessário que os alunos entendam as respostas primárias e secundárias da imunização ativa e possam conhecer a importância da produção das vacinas e dos soros. Discuta com os estudantes o exercício proposto para a sala de aula e motive-os a fazerem os exercícios sugeridos para casa. gabarito 1. d biologia B aula 8 CURSINHO DA POLI 1 2 2 2 -3 A energia que mantém e sustenta os seres vivos Se devemos ser os timoneiros adequados des- te planeta, precisamos saber como e por que ele funciona do modo como o faz. Peter H. Haven, Ray F. Evert, Susan E. Eichhorn. Biologia Vegetal, 2001. A fonte de energia para os processos da vida, aqui na Terra, é a luz do Sol, que entra nos sistemas biológicos por obra de células capazes de convertê-la em energia química. Esse processo é conhecido como fotossíntese. A fotossíntese desempenha um importante papel no funcionamento e na sobrevivência de qualquer ecossistema. Menos de 1% de toda a energia luminosa que alcança o nosso planeta é capturada e convertida em energia química. M au ric io M or ae s A vida tem no Sol sua principal fonte de energia. Calcula-se que a quantidade de energia solar que chega na Terra é de 13 × 1023 calorias por ano. Cerca de 30% dessa energia é imediata- mente refletida para o espaço na forma de luz. 20% é absorvida pela atmosfera terrestre. Grande parte dos 50% restantes é absorvida pelo nosso planeta e convertida em calor. O calor serve para evaporar a água dos oceanos, produzindo as nuvens, que ocasionam chuva e neve. A combinação de outros fatores e a energia solar gera movi- mentos do ar e da água dos oceanos, agindo de forma a estabelecer os padrões climáticos na superfície da Terra. Menos de 1% dessa energia solar é transformada em energia química no processo da fotossíntese e pode, então, ser assimilada pelos demais seres vivos. O processo da fotossíntese resulta na produção de moléculas orgânicas altamente energéticas, os car- boidratos, alimento de muitos organismos. Antes de conhecer melhor a fotossíntese, convém examinar os princípios gerais das reações químicas que governam as transformações de energia. Podemos dizer, em linhas gerais, que o organismo começa a construir a matéria viva quando substâncias vindas de fora, como os alimentos, são desmontadas em peças pequenas para, mais adiante, ser remontadas con- forme as necessidades celulares e do organismo como um todo. Por exemplo, o crescimento, a cicatrização de um ferimento, a produção de sangue etc. Como já foi dito no caderno 2, o conjunto das inúmeras reações químicas (ou bioquímicas) do ser vivo, mantendo e sustentando a vida, é chamado metabolismo. Podemos considerar metabolismo tanto as atividades químicas de uma célula como o somatório das atividades celulares do organismo inteiro. O metabolismo celular envolve reações de degrada- ção e síntese de moléculas. Diferentemente do que ocorre em um laboratório de química, essas reações acontecem sequencialmente, isto é, os produtos formados são pronta- mente usados como reagentes na etapa seguinte e assim sucessivamente, até a formação do produto final. Por isso, credita-se muita eficiência ao metabolismo dos seres vivos – economia de energia e resíduos moleculares pequenos. + + degradação glicose proteína, componente 1 proteína, componente 2 proteína, componente 3 proteína completa proteína parcialmente completa composto intermediário 1 composto intermediário 2 composto intermediário 3 produtos finais H2O CO2 síntese composto altamente energético Esquema da relação entre a degradação e a síntese, envolvendo o uso da energia. Por exemplo, a degradação da glicose acontece numa sequência de eventos. A energia liberada é armazenada e transportada por um composto energético para ser subsequen- temente usada na construção de proteínas. As reações químicas que liberam energia são cha- madas reações exergônicas, e as que absorvem energia, reações endergônicas. 00 16 biologia B • aula 8 2 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -3 Tais reações podem ser comparadas a uma colina energética: as reações exergônicas ocorrem no sentido da descida; as endergônicas, no sentido da subida. Por exemplo, uma pedra que rola colina abaixo libera ener- gia, e uma pedra movimentando-se colina acima exige suprimento de energia. Ilustração da analogia entre as reações químicas exergônicas e endergônicas. A reação química produtora de energia é a pedra rolando colina abaixo (quando atingir a base da colina, terá menos energia potencial do que quando estava no topo). Para se deslocar de volta ao topo da colina, a pedra precisará consumir a mesma soma de energia que liberou ao rolar (naturalmente, considera-se pouco provável a absorção dessa energia pela pedra para voltar ao topo). Molécula de ATP, a moeda energética dos seres vivos Na fotossíntese, a energia da luz é usada para a construção de substâncias. As principais são os carboidratos, que servem como a base alimentar de muitos organismos, os herbívoros, que por sua vez serão comidos por outros, os carnívoros. Uma parte da energia inicial do processo da fotossíntese vai sendo transferida para os seres vivos, e a outra parte é perdida sob a forma de calor. St oc k Ph ot os A energia química dos alimentos sendo trans- formada em movimento. Os alimentos armazenam quantidade de energia elevada (“pedra colina acima”) e, durante sua degrada- ção (“pedra colina abaixo”), vai ocorrendo o desprendi- mento dessa energia que, na célula, é usada em sínteses macromoleculares, transporte de matéria e movimento. Contudo, a energia liberada pela reação de quebra do alimento não pode ser usada de imediato e não convém perdê-la. Ela precisa ser armazenada em moléculas espe- ciais – a principal é o ATP (adenosina tri-fosfato). Ilustração esquemática do ciclo energético envolvendo o ATP e seus usos pela célula a partir da degradação da glicose. A molécula de ATP é uma ligação entre moléculas de adenina, ribose e três grupos fosfatos. Observe: A estrutura molecular do ATP e a sua representação esquemáti- ca (no detalhe). A molécula de ATP cumpre nos seres vivos as funções de armazenamento e transporte de energia para usos exatos e em velocidade adequada. Os dois últimos fosfatos apresentam ligações de “alta energia”. Quando ocorre seu desprendimento, libera-se uma energia equivalente a 8 000 calorias por mol de ATP (para cada fosfato), que é usada no trabalho celular. A energia pode se apresentar nos seres vivos sob duas formas distintas: as reservas (por exemplo, lipídios e carboidratos) e as moléculas de ATP. Os depósitos de lipídios e de carboidratos representam um acúmulo de energia sob forma estável e concentrada. Já o ATP é um composto instável e facilmente acessível. Por isso, podemos comparar as reservas com dinheiro no banco, e as moléculas de ATP, com moedas no bolso. O dinheiro no banco é estável e pode ser acumulado. As moedas no bolso são dinheiro prontamente utilizável. A seguir, veremos como a energia luminosa é trans- formada em energia química na síntese dos carboidratos pelos vegetais. biologia B • aula 8 CURSINHO DA POLI 3 2 2 2 -3 A transformação da energia luminosa em energia química: o processo da fotossíntese Há aproximadamente 360 anos, estudos pioneiros sobre a alimentação dos vegetais resultaram na compreensão de todo o processo da fotossíntese, identificando os compostos – luz, gás carbônico e água – que possibilitaram a construção de uma equação química global: (energia) gás carbônico água glicose oxigênio água (6) CO2 (12) H2O+ (1) C6H12O6 + (6) O2 (6) H2O+ luz equação química da fotossíntese: A equação química não reflete os eventos fotossintéticos que acontecem nos vegetais com clorofila, como veremos a seguir. Vamos relembrar nossa “colina energética” (reações químicas exergônicas e endergônicas) e também propor, para um melhor entendimento deste tópico, o enunciado da primeira lei da termodinâmica: a energia pode ser transformada, mas não pode ser criada ou destruída (exceto para a fissão atômica, onde certa quantidade de massa é convertida em energia). A fotossíntese é um processo complexo – embora seu princípio fundamental seja simples –, constituído por suces- sivas reações metabólicas nas quais se processa a transformação da energia luminosa em química para construir os carboidratos, podendo essa energia ser usada para as necessidades da célula e dos outros seres vivos que se alimentam direta ou indiretamente das plantas. Nos vegetais, a fotossíntese acontece em organelas membranosas mergulhadas no citoplasma. Trata-se dos clo- roplastos, que têm, geralmente, forma elíptica, com aproximadamente 12 µm de diâmetro e 1 a 2 µm de espessura. Os estudos da ultraestrutura do cloroplasto mostraram que ele está envolvido por uma dupla camada de membranas externas e numerosas membranas internas que se arranjam em bolsas achatadas chamadas tilacoides. A organização dos tilacoides forma estruturas que lembram pilhas de moedas. Cada pilha é designada por granum (que quer dizer grão, em latim; no plural, grana). Nos tilacoides, encontram-se moléculas de clorofi la, arrumadas de forma a capturar a luz solar com muita eficiência. Desenho esquemático das estruturas envolvidas no processo da fotossíntese. No plano macroscópico, a folha. No plano microscópico, as células da epiderme foliar evidenciando os cloroplastos e a sua organização interna. No plano molecular, a molécula de clorofila – a mais comum chamada de clorofila a – arrumada de maneira a captar a energia luminosa. biologia B • aula 8 4 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -3 Visão geral do processo fotossintético Podemos dividir a fotossíntese em 2 fases: a fotoquí- mica e a química. Esquema da fotossíntese I - fase fotoquímica clorofila água cíclica acíclica e- ADP ATP NADP NADPH2 II- fase química luz fotofosforilação fotólise O2 H+ água CO2 CO2 tilacoide estroma célula vegetal - cloroplasto ciclo das pentoses carboidratos Esquema das reações químicas das fases da fotossíntese na folha de um vegetal, o órgão-sede. Note que na fase fotoquí- mica os ingredientes luz e água são usados para formar ATP e extrair os hidrogênios, que serão aproveitados na fase seguinte, a química. O gás oxigênio liberado provém da hidrólise (melhor fotólise) da água. Na etapa química, o carbono retirado do gás carbônico combina-se com os hidrogênios na construção da glicose e de outras substâncias. a fase fotoquímica Nessa fase são exigidos os seguintes “ingredientes”: luz solar, água e clorofilas. A luz, ao incidir sobre as folhas dos vegetais, excita as moléculas de clorofila, que passam, então, seus elétrons para outros orbitais ou níveis energéticos. A transferência desses elétrons por aceptores e transportadores libera energia para a formação de moléculas de ATP. Esse even- to é chamado fotofosforilação, isto é, adição de fosfato (ADP + Pi1 → ATP) na presença de luz. Bioquimicamente, reconhecem-se a fotofosforilação cíclica e a acíclica. Ao mesmo tempo, a luz e as enzimas agem sobre as moléculas de água, que são quebradas, fornecendo elétrons (e-), prótons de hidrogênio (H+) e átomos de oxigênio – que, unidos dois a dois, formam o gás oxigênio (O 2 ). Esse passo metabólico da fotossíntese é denomina- do fólise da água. Os elétrons são usados na fotofosforilação acíclica; o hidrogênio é captado por moléculas de NADP – a mesma da respiração, acrescida de fósforo (P) – e levado para a fase seguinte; o gás oxigênio é liberado para a atmosfera. A fase fotoquímica também recebe a designação fase de claro ou luminosa porque, como percebemos, a luz é imprescindível para “ativar” as moléculas de clorofila e de água. a fase química Na fase química, estão postos os elementos neces- sários para a síntese dos carboidratos, principalmente a glicose. 1. Pi: notação química de fosfato inorgânico. A fotofosforilação acíclica clorofila B clorofila A elétron excitado elétron excitado transporte de elétrons transporte de elétrons energia liberada pelo bombeamento de H+ aceptor de elétrons fótons H2O ATP sintetase do ATP Luz fótons Luz e- e- e- e- e- e- e- H+ e- e- e- NADP2 água elétrons O2 gás oxigênio fotólise da água excitação eletrônica excitação eletrônica NADP ADP + P Ilustração esquemática: na fotofosforilação ací- clica, a luz excita os elé- trons, que passam por uma cadeia de acepto- res e transportadores. A energia liberada no processo de bombe- amento de H+ pelas membranas internas também é usada para a síntese de ATP. Contudo, esse processo funciona acoplado à reação da fotólise da água, que re- põe os elétrons perdidos pela clorofila e fornece íons H+ ao NADP. biologia B • aula 8 CURSINHO DA POLI 5 2 2 2 -3 A fotofosforilação cíclica e- e- e- e- clorofila elétron excitado excitação eletrônica transporte de elétrons níveis de energia energia liberada a partir do bombeamento de H+ aceptor de elétrons fótons ADP + P ATP sintetase do ATP Luz Ilustração esquemática: na fotofosforilação cíclica, a luz excita os elétrons, que passam por uma cadeia de aceptores e transpor- tadores. A energia liberada no processo é usada para regenerar moléculas de ATP. Note que na fase anterior foram formados e estão disponíveis, energia, sob a forma de moléculas de ATP, e hidrogênios (no aceptor e transportador NADPH+), que serão usados num ciclo chamado ciclo das pentoses ou de Kalvin-Benson, em homenagem a seus descobridores. É nesse ciclo que o gás carbônico (CO 2 ) participa das reações, contribuindo com o carbono (C). No ciclo das pentoses, além dos carboidratos, são sintetizados alguns aminoácidos, vitaminas e partes de lipídios. A fase química também é chamada fase de escuro, mas atenção: essas reações não acontecem durante a noi- te, como o nome pode sugerir. Justifica-se a designação porque todas as reações do maquinário bioquímico nessa fase não demandam participação da energia luminosa. Luz e fotossíntese Ao atravessar um prisma, a luz “branca” é decomposta em cores, indicando que nela existem diferentes comprimentos de onda e energia (o assunto será tratado com maiores detalhes nos cadernos de Física, fique atento e faça as devidas relações), conforme a ilustração a seguir. 700 760 (nm) 650600560500470430400390 comprimentos de onda em manômetros 10-5 10-3 10-1 101 103 105 107 109 infra- vermelho ultra- violeta raios gama raios X radar prisma luz branca violeta anil azul verde amarelo laranja vermelho A luz solar é uma forma de energia radiante composta por vários comprimentos de onda. biologia B • aula 8 6 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -3 Você acha que a qualidade da luz pode, então, inter- ferir no processo fotossintético dos vegetais? Observe a seguir um esquema de experimento. (UFRJ-modificado) Com o objetivo de estudar a ação da luz na fotossíntese, montou-se a seguinte expe- riência: Em um pequeno aquário foi colocada uma célula de alga verde Spirogyra. Dentro do aquário foram introduzidas também bactérias móveis, aeróbicas, que são atraídas para as áreas onde exista oxigênio em abundância. O aquário foi, então, iluminado por um feixe de luz branca que passava por um prisma antes de chegar à alga; a luz branca, ao passar pelo prisma, decompôs-se nas cores básicas, de modo que cada região da célula foi iluminada por uma cor diferente, como mostra o resultado abaixo. azul azul verde verde amarelo amarelo vermelho bactérias bactérias cloroplastos Spirogyra vermelho 400 450 500 550 comprimento de onda da luz (nm) 600 650 700 luz Ilustração esquemática de experimento para verificar a relação dos diferentes comprimentos de onda da luz com a taxa de fotossíntese. Depois de certo tempo, as bactérias que só sobrevi- vem em ambientes aeróbicos, isto é, com o gás oxigênio, deslocam-se para os espectros de luz azul e vermelha. Isso demonstra que as atividades da fotossíntese estão nesses comprimentos de onda, 400-460 e 650-700 na- nômetros, respectivamente. Começamos a compreender que os pigmentos fotossintetizantes – as moléculas de clorofila – têm a propriedade de absorver determinados comprimentos de onda, refletindo os demais. Chamamos de espectro de ação da luz os diferentes comprimentos de onda em função da taxa em que ocorre a fotossíntese. taxa de fotossíntese (liberação de O2) comprimento de onda da luz 400 500 600 700 azul vermelho Gráfico que relaciona a taxa de liberação do gás oxigênio da fo- tossíntese em função do comprimento de onda da luz. As maiores quantidades do gás produzido e liberado no ambiente situam-se nos comprimentos de onda do azul e do vermelho. Os fatores que limitam a fotossíntese A fotossíntese é afetada por diversos fatores, dentre os quais se destacam a temperatura e o gás carbônico. a temperatura: acima de 45º, ocorre a diminuição da fotossíntese e também de outras reações bioquímicas vitais, porque as moléculas proteicas da clorofila e as enzimas são desnaturadas. taxa relativa de fotossíntese TºC10 20 30 40 50 O processo da fotossíntese envolve inúmeras reações químicas das quais participam as enzimas. A contínua elevação da temperatura aumenta os choques moleculares, e a velocidade do processo tam- bém aumenta até certo ponto; acima dos 45o – como já foi visto em aulas anteriores –, desnaturam-se as proteínas enzimáticas e a fotossíntese cessa. A concentração de gás carbônico (CO 2 ): no ambiente natural, a baixa concentração desse gás – aproximada- mente 0,03% do volume da atmosfera – limita a taxa máxima da fotossíntese. Em condições ideais de água, luz, temperatura e CO 2 (até cerca de 0,3% no vegetal), observa-se um aumento progressivo da fotossíntese. biologia B • aula 8 CURSINHO DA POLI 7 2 2 2 -3 taxa relativa de fotossíntese concentração de CO2 (no ambiente) CO2 (0,3%) A fotossíntese precisa fixar o gás carbônico para produzir a glicose. Aumentando-se a disponibilidade desse gás no am- biente, a velocidade da reação aumenta. O inverso também é verdadeiro. No gráfico, observa-se a estabilização do processo após determinado intervalo de tempo porque outros fatores – não o CO 2 – o estão limitando. Outros processos que transformam a energia nas células Além da fotossíntese, existem outros mecanismos energéticos no mundo dos seres vivos, realizados prin- cipalmente por algumas poucas espécies de bactérias. Esses mecanismos energéticos bacterianos possibi- litam a sobrevivência e o desenvolvimento de muitos outros seres vivos. Por exemplo, nas águas dos oceanos profundos, a mais de 4 000 metros, comunidades de bactérias quimiossintetizantes são a base da pirâmide alimentar, sustentando variada fauna de organismos até recentemente desconhecidos. Além da fotossíntese, são as seguintes as equações químicas globais que possibilitam a produção dos car- boidratos (por exemplo, a glicose): (+ bacterio- clorofila) gás carbônico gás sulfídrico glicose enxofre água (6) CO2 (12) H2S+ (1) C6H12O6 + (12) S (6) H2O+ luz (energia) equação química da fotossíntese bacteriana: Em vegetais, algas e cianobactérias, a fotossíntese combina o gás carbônico (CO 2 ) com os hidrogênios da água para formar a glicose. Mas existem alguns tipos de bactérias, as sulfobactérias, que usam o gás sulfídrico (H 2 S), e não a água, como fonte de hidrogênios. Antes de ser excretado, o enxofre acumula-se temporariamente no citoplasma dessas bactérias. O pigmento usado na fotossíntese bacteriana, semelhante à clorofila, é deno- minado bacterioclorofila. energia gás sulfídrico oxigênio enxofre água (2) H2S O2+ (2) S (2) H2O+ gás carbônico água águaglicose (6) CO2 (6) H2O+ (1) C6H12O6 (6) O2+ equação química da quimiossíntese: Na quimiossíntese, a energia não provém da luz, mas de uma reação de oxidação – no caso, do gás sulfídrico. Exercícios 1. (Fuvest) Considere a situação hipotética de lançamen- to, em um ecossistema, de uma determinada quantidade de gás carbônico, com marcação radioativa no carbono. Com o passar do tempo esse gás se dispersaria pelo ambiente e seria incorporado por seres vivos. Considere as seguintes moléculas: I. Moléculas de glicose sintetizadas pelos produtores. II. Moléculas de gás carbônico produzidas pelos consu- midores a partir da oxidação da glicose sintetizadas pelos produtores. IV. Moléculas orgânicas sintetizadas pelos decompositores. Carbono radioativo poderia ser encontrado nas molé- culas descritas em a) I, apenas. b) I e II, apenas. c) I, II e III, apenas. d) III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 2. (UFPI) Analise as duas reações a seguir: Reação I Luz C18O2 + H2O → (CH2O)n + 18O2 Clorofila Reação II Luz CO2 + H2 18O2 → (CH2O)n + 18O2 Clorofila Por meio da análise das reações mostradas podemos afirmar que a) a reação I está correta, confirmando que o O 2 é pro- veniente do CO 2 . b) a reação II está correta, confirmando que o O 2 é pro- veniente do H 2 O. biologia B • aula 8 8 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -3 c) as reações I e II estão corretas, pois o O 2 provém tanto do CO 2 como de H 2 O. d) as reações I e II não fornecem informações suficientes para concluir a origem do O 2 liberado. e) as reações I e II estão erradas, pois o O 2 liberado é proveniente da molécula de clorofila. Estudo orientado exercícios 1. (PUC) Suponha que se queira manter animais aquá- ticos herbívoros em um aquário. Para garantir a sobre- vivência desses animais durante certo tempo, seria aconselhável adicionar ao ambiente a) plantas aquáticas e algas que, além de servirem de alimento para os animais, forneceriam oxigênio ao meio, caso fosse iluminado. b) plantas aquáticas e algas que, além de servirem de alimento para os animais, forneceriam oxigênio ao meio, mesmo que esse não fosse iluminado. c) fungos e bactérias que, além de servirem de alimento para os animais, forneceriam gás carbônico ao meio, caso esse fosse iluminado. d) fungos e bactérias que, além de servirem de alimento para os animais, forneceriam gás carbônico ao meio, mesmo que esse não fosse iluminado. e) zooplâncton que, além de servir de alimento para os animais, forneceria oxigênio ao meio, caso esse fosse iluminado. 2. (Mackenzie) O processo de fotossíntese é considerado em duas etapas: a fotoquímica ou fase de claro e a quí- mica ou fase de escuro. Na primeira NÃO ocorre a) produção de ATP. b) produção de NADPH 2 . c) produção de O 2 . d) fotólise da água. e) redução do CO 2. 3. (Unesp) Sobre o processo de fotossíntese, é correto afirmar que a) o CO 2 é fonte de carbono para a síntese de matéria orgânica e fonte de O 2 para a atmosfera. b) a água é a fonte de H+ para a síntese de NADPH 2 e de O 2 para a atmosfera. c) o NADPH 2 é fonte de energia para a conversão do CO 2 em matéria orgânica. d) o ATP é doador de energia para a quebra da molécula de água, que por sua vez fornece O 2 para a atmosfera. e) a conversão do CO 2 em matéria orgânica produz energia que é acumulada em ATP. roda de leitura O carpete (verde) do Sol Se para os insetos herbívoros suas plantas-hos- pedeiras representam alimento, refúgio ou local para reprodução, para os vegetais a presença desses animais significa um problema, por reduzir suas chances de sobrevivência. Nessa relação assimétrica e conflituosa, as plantas tentam escapar da interação enquanto os insetos desenvolvem mecanismos de contra-ataque. Essa “corrida armamentista” evolutiva acabou favo- recendo a propagação de especialistas – herbívoros cujos ataques ficaram restritos a espécies vegetais aparentadas. Mas por que esses insetos vorazes não co- mem suas hospedeiras até esgotá-las? Perguntas como essa movem a pesquisa ecológica contemporânea. O combustível que gratuita e generosamente movimenta a economia da natureza é a energia solar. Plantas e outros organismos fotossintetizantes crescem com o Sol, e uma parcela preciosa desse crescimento (a produção primária líquida) sustenta os sistemas vivos em nosso planeta – incluindo os agroecossistemas, de onde extraímos ou podemos extrair comida. São os produtos da fotossíntese que for- mam a base das teias alimentares e todos os grandes ecossistemas, mesmo aqueles que prosperam onde os raios de Sol nunca chegam, como ocorre em cavernas profundas e no assoalho oceânico. É certo que muitos animais nunca se alimentam de folhas, frutos, raízes ou de qualquer outra estrutura de origem vegetal, mas mesmo os consumidores estri- tamente carnívoros dependem de presas ou de hospe- deiros que se alimentam de plantas. Se os produtores, por alguma razão, começassem a desaparecer, as teias alimentares sucumbiriam com eles, os consu- midores (herbívoros e carnívoros) logo morreriam de fome e desapareceriam. A exuberância da vida na Terra voltaria a ser protagonizada exclusivamente por grumos de microrganismos quimiossintetizantes. O consumo de tecidos vegetais vivos – herbivoria – é um processo ecológico fundamental, mas isso não significa que as plantas vivam, cresçam e prosperem para alimentar seus consumidores. Para os herbívoros, suas plantas-hospedeiras podem representar, além de alimento, um refúgio temporário ou mesmo um lugar para se estabelecer e criar os filhos – alguns insetos di- minutos, por exemplo, são capazes de encontrar tudo de que necessitam para viver debaixo de uma única folha. Para as plantas, no entanto, a presença de herbívoros representa um problema, pois a ação deles tende a reduzir as chances de sobrevivência e reprodução dos indivíduos atacados, principal- mente em certas fases da vida, mesmo quando biologia B • aula 8 CURSINHO DA POLI 9 2 2 2 -3 os danos aparentes não são muito grandes. Uma plântula que teve partes de suas folhas comidas, por exemplo, pode deixar de crescer no ritmo de antes, ficando definitivamente para trás na corrida com as plântulas vizinhas pelos escassos raios de Sol que atingem o chão da floresta. A relação entre plantas e animais herbívoros é, assim, assimétrica e conflituosa, cheia de truques e armadilhas. Em certo sentido, podemos dizer que as plantas estão tentando escapar da interação: a evolução aprimorou ao longo das gerações defesas que de alguma forma dificultam ou impedem a ação dos herbívoros; estes, por sua vez, tentam manter as plantas sob controle, desenvolvendo mecanismos de contra-ataque que de algum modo contornem as barreiras impostas pelas plantas. Mesmo dispondo de sistemas de defesa (espinhos, baixa concentração de nutrientes, acumulação de com- postos químicos repelentes, tóxicos ou indigestos), ne- nhuma planta está livre ou 100% imune aos herbívoros; para isso, ela teria que evitar todos os diferentes tipos de ataque a que está exposta. Por sua vez, os herbívoros não são capazes de atacar e se alimentar de qualquer planta; para isso, teriam que superar barreiras muito diversas, impostas por inúmeras e diferentes espécies vegetais – em poucos hectares de floresta tropical, por exemplo, convivem ervas, arbustos, árvores e trepadei- ras de centenas de espécies. Cada novo sistema de defesa que surge funciona como um filtro, com o qual as plantas se livram de alguns herbívoros, mas não de todos. Ao longo da história evolutiva, essa “corrida armamentista” de certa forma favoreceu a propagação de especialistas – herbívoros cujos ataques ficaram restritos a plantas de espécies aparentadas (em geral, integrantes de um mesmo gênero ou de uma mesma família botânica)–, o que por sua vez gerou um aumento no número de espécies (vegetais e animais) envolvidas nessa trama de interações. Como resultado, cada planta tende a ter a sua própria carga de herbívoros especializados; bem diferente, por exemplo, da carga de herbívoros das plan- tas não aparentadas que estão crescendo a seu lado. Se são tão numerosos e vorazes, por que os insetos herbívoros simplesmente não comem suas plantas- -hospedeiras até esgotá-las (como, aliás, costumam fazer nas áreas de cultivos)? Como é possível que florestas e outras paisagens naturais, que recobrem a Terra como um “carpete verde do Sol”, permaneçam verdes, se há dentro delas tantas bocas a devorá-las? Questões gerais como essas sintetizam uma série de perguntas mais específicas e detalhadas que, ao longo das últimas décadas, movimentaram uma das áreas mais ativas e excitantes da pesquisa ecológica contem- porânea: o estudo de populações de insetos herbívoros. De um ponto de vista ecológico, os insetos herbí- voros cumprem papéis fundamentais. Primeiro, são os principais consumidores da produção primária terrestre; e, segundo, porque são atacados e servem de alimento para um amplo e variado elenco de inimigos naturais, incluindo muitas outras espécies de insetos (predadores e parasitóides, por exemplo). COSTA, Felipe A. P. L. , revista Ciência Hoje, jun. 2003. Adaptado. pesquisar e ler A luz e a vida das plantas, de Jean M. Whatley e Frederick R. Whatley, amplia a discussão desta aula. Exa- mina a natureza da luz e os pigmentos vegetais que, cap- turando essa energia, promovem o desenvolvimento da planta. Um capítulo é dedicado a sugestões de trabalhos práticos, por exemplo, a construção de um solarímetro – instrumento que mede indiretamente a intensidade de luz; experiências de germinação das sementes e do fenômeno do estiolamento, quando os vegetais ficam privados da luz solar. Na perspectiva ambiental, descreve a luz como importante fator dos ecossistemas terrestres e aquáticos. (São Paulo: Editora Pedagógica e Universi- tária e Edusp, 1982.) passear Discutimos a conversão, no plano celular, da energia da luz solar em energia química, no processo desig- nado por fotossíntese. Então, por que não conhecer melhor os seres vivos fotossintetizantes, tão importantes para a manutenção da vida? Convide amigos e paren- tes para uma visita ao Jardim Botânico e ao acervo do Museu de Botânica do Instituto de Botânica de São Paulo, na Av. Miguel Estéfano, 3031/3687, Água Funda. Telefones: 5073.6300 / 5073.9963. Se tiver acesso à Internet, o site é: www.ibot.sp.gov. br. Há um ônibus que sai da estação Saúde do Metrô e passa em frente ao Instituto. O ingresso é de R$ 2,00 – até o aceptor final, que é o O 2 ; este ativa-se (1/2 O 2 –) e combi- na-se com o hidrogênio (2H+), formando água (H 2 O). Pesquisas mostraram que, em pontos específicos da cadeia, são regeneradas 36 moléculas de ATP por molécula de glicose consumida. Por isso, a cadeia trans- portadora de elétrons é considerada a mais energética das fases da respiração celular. biologia B • aula 9 CURSINHO DA POLI 13 2 2 2 -3 Relação entre a fotossíntese e a respiração celular Desenho esquemático do rendimento energético da mitocôndria: é alto quando o comparamos com o de uma locomotiva. ATP ATP NADH2 FADH2 citocromo b citocromo c citocromo a citocromo a3 O2 1 2 2e- 2e- 2e- 2e- H2O 2H+ SINTETASE ATP ou2H+ Esquema da cadeia transportadora de elétrons, que ocorre nas cristas da mitocôndria. Os elétrons são transferidos para os cito- cromos até o oxigênio, que, reduzido, reage com o hidrogênio formando água, o produto final da respiração celular. Ênfase deve ser dada no entendimento da função do gás oxigênio – produzido na fotossíntese, combina-se com os hidrogênios retirados da molécula de glicose, tornando-os metabolicamente menos reativos. Os cloroplastos, nas folhas e nas algas, captam a energia lumi- nosa, convertendo água (H 2 O) e gás carbônico (CO 2 ) em moléculas orgânicas e eliminando o gás oxigênio (O 2 ), um subproduto do processo conhecido como fotossíntese. As mitocôndrias fazem o inverso: fragmentam as moléculas orgânicas com consumo do O 2 , para usar a energia liberada nas tarefas biológicas que mantêm a vida; esse processo denomina-se respiração celular. velocidade da reação intensidade da luz respiração fotossíntese Gráfico de dois processos fisiológicos celulares, a fotossíntese e a respiração, em função da luz. Aumentando-se a intensidade luminosa, nota-se o aumento da velocidade da fotossíntese. A respiração celular não depende da luz, por isso, no gráfico, a velocidade da respiração mostra-se constante. A fotossíntese, como vimos, depende da qualidade da luz. O que acontece com o vegetal quando se aumen- ta ou se diminui a intensidade luminosa? E a respiração, depende da luz? Observe a seguir. Até determinado ponto, aumentando-se a luz, há aumento da taxa da fotossíntese. A respiração, no entanto, é um processo que independe da luz. O rendimento energético da respiração celular A reação de oxidação da glicose, medida no calorí- metro, desprende uma energia equivalente a 690 000 cal/mol. Como você deve estar lembrado, a saída de um grupo fosfato da molécula de ATP libera energia de 8 000 cal/mol; então, o rendimento energético da respiração celular é 38 ATP × 8 000 cal/mol = 304 000 cal/mol. Portanto, a célula consegue extrair aproximadamente 46% da energia da glicose. Os 54% restantes são dissi- pados em calor, que, como você estudará nos próximos cadernos de Bio A, mantém a temperatura corpórea de organismos homeotérmicos, como o nosso. Se considerarmos que a locomotiva, máquina in- ventada pelo homem, tem rendimento energético de apenas 8% do que lhe é fornecido, constatamos que as células aeróbicas têm um rendimento bastante alto. biologia B • aula 9 14 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -3 Podemos perceber, no gráfico, que existe um ponto onde a taxa de fotossíntese iguala-se à da res- piração: é o chamado ponto de compensação fótico (PC), fotótico ou luminoso. O ponto de compensação fótico é uma relação que se faz entre a fotossíntese e a respiração celular, indicando que numa certa intensidade de luz, todo o gás oxigênio (O 2 ) produzido por fotossíntese é con- sumido pela respiração, e todo o gás carbônico (CO 2 ) produzido por respiração é consumido pela fotos- síntese. Esquematicamente, temos: F = fotossíntese R = respiração Se existe uma relação entre luz, fotossíntese e res- piração, existirão situações nas quais a fotossíntese é maior ou menor do que a respiração celular? Em quais condições esses eventos podem acontecer? Novamente, analise o gráfico: CO2 F R= O2 luz Gráfico que apresenta o chamado ponto de compensação fótico ou luminoso. O ponto é determinado quando, numa certa inten- sidade de luz, a velocidade relativa da fotossíntese iguala-se à velocidade relativa da respiração. velocidade da reação intensidade da luz respiração fotossíntesePC F R F RF R a) b) c) a) Amanhecer: a energia dos primeiros raios luminosos é suficiente para o início do processo da fotossíntese. b) Meio-dia: a intensida- de da energia solar é forte (descontando-se as nuvens), coroando todas as formas vegetais; nessa situação, a velocidade relativa da fotossíntese supera a da respiração. c) Noite: na ausência de luz, a fotossíntese cessa. Nem todas as espécies vegetais atingem ao mesmo tempo o ponto de compensação fótico. As plantas com baixo reque- rimento de luz, ditas “de sombra” ou umbrófilas, atingem o ponto de compensação antes daquelas que precisam de muita luminosidade, chamadas “de sol” ou heliófilas. No gráfico, F 1 ) tipo de vegetal umbrófilo e F 2 ) tipo de vegetal heliófilo. velocidade da reação intensidade luminosa respiração vegetais heliófilos vegetais umbrófilos F1 F2 Interpretando o gráfico acima, preencha os espaços com os símbolos (maior que). Indi- que os gases envolvidos nos processos do metabolismo energético: Reveja o conceito de ponto de compensação fótico e identifique no gráfico, em F 1 ou F 2 , respectivamente, qual dos dois tipos de vegetais alcança primeiro o P.C.: vegetais de “sombra” (umbrófilos) – por exemplo, a samambaia – ou vegetais de “sol” (heliófilos) – por exemplo, o ipê. A origem das mitocôndrias e dos cloroplastos Sobre a origem das mitocôndrias e dos cloroplastos das células eucarióticas, também conhecida como Teoria Endossimbiótica, leia o que diz a professora Sônia Lopes, da Universidade de São Paulo (USP), em seu livro: Supõe-se que os primeiros eucariontes eram ana- eróbios e que tinham por hábito englobar bactérias como alimento. Em algum momento da evolução desses organismos, algumas dessas bactérias, que já tinham a capacidade de realizar a respiração, eram mantidas no citoplasma dos eucariontes sem ser degradadas. Essas bactérias teriam sido mantidas por dar vantagens aos eucariontes, uma vez que rea- lizavam para eles a respiração. A respiração é um processo de liberação de energia dos alimentos muito mais eficiente que a fermentação. Para a bactéria, essa condição também era vantajosa, pois recebia proteção e nutrientes dos eucariontes. Essa relação simbiótica com benefícios para ambos os indivíduos (mutualismo) teria se perpetuado, e essas bactérias teriam dado origem às atuais mitocôndrias. Algum tempo depois de estabelecida essa relação simbiótica, alguns eucariontes iniciaram outra rela- ção simbiótica, desta vez com cianobactérias. Estas realizavam a fotossíntese para o eucarionte e dele recebiam proteção. Essa relação mostrou-se tão vantajosa que se perpetuou, e essas cianobactérias teriam dado origem aos atuais cloroplastos. Existem fortes evidências a favor dessa hipótese. A mais importante delas refere-se ao fato de que os atuais cloroplastos e mitocôndrias são as únicas organelas citoplasmáticas que possuem seu próprio ácido nuclei- co, sendo capazes de se dividir independentemente do comando do material genético da célula. LOPES, Sônia. Bio. São Paulo: Scipione, 1998. biologia B • aula 9 CURSINHO DA POLI 15 2 2 2 -3 Outros processos que formam energia nas células Além do processo da respiração celular, existem outros mecanismos energéticos capazes de formar ATP a partir da quebra da molécula de glicose no mundo dos seres vivos, realizados principalmente por alguns poucos grupos de bactérias e de fungos. Trata-se da fermentação e da respiração anaeróbia. Contudo, levando-se em conta a eficiência, isto é, a produção de moléculas de ATP, o rendimento é baixo, quando comparado com a respiração. A seguir, vamos examinar as equações dentro da espécie e entre as espécies. Observe as foto- grafias a seguir. Fo to s: C or el S to ck P h ot o A variação biológica, grosso modo, é a diversidade de seres vivos, produto da chamada evolução biológica e das manifes- tações das combinações e/ou das mutações vantajosas que ga- rantem um melhor ajustamento dos organismos às exigências do ambiente. Composição química Os seres vivos são formados por cerca de 75% de água, e 50% do peso seco restante é carbono, às vezes com um pouco de silício. A crosta da Terra, ao contrário, compõe-se de mais de 20% de silício e 0,1% ou menos de carbono. Apesar do número restrito de elementos químicos encontrados nos seres vivos, as moléculas são muito diferentes em estrutura e função, porque o carbono é capaz de formar diversas cadeias e anéis moleculares – por exemplo, os açúcares, os nucleotídios, os ami- noácidos e os ácidos graxos – que se associam para formar moléculas gigantes (ou macromoléculas) como polissacarídeos, ácidos nucleicos, proteínas e lipídios. Os sistemas não-vivos são incapazes de formar esses compostos orgânicos, isto é, que apresentam o carbono com ligações entre o hidrogênio e o oxigênio. Todos os seres vivos – uma bactéria, um elefante, qualquer um – apresentam composição química bas- tante semelhante. Além disso, são capazes de desmontar compostos químicos de elevado peso molecular, como as gorduras, e reorganizá-los de outra maneira, conforme as suas necessidades – isto é, apresentam metabolismo. Então, os principais átomos que fazem parte dos seres vivos são o carbono, o hidrogênio, o oxigênio, o nitrogênio, o fósforo e o enxofre, também conhecidos pelas iniciais C, H, O, N, P, S. biologia B • aula 1 6 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -1 Exercícios 1. (Unicamp) A preservação da biodiversidade ocupa hoje um lugar importante na agenda ambiental de diversos países. Qual das afirmações abaixo é correta? a) A diversidade de espécies diminui com o aumento da produtividade do ecossistema. b) A diversidade de espécies diminui com o aumento da heterogeneidade espacial do ecossistema. c) A diversidade de espécies diminui com o aumento da latitude. d) A diversidade de espécies em recifes de coral é a menor entre os ecossistemas marinhos. 2. (UERN) Os vírus, as bactérias, os protozoários e os fungos têm em comum a(o) a) mesmo tipo de nutrição. b) mesma organização celular. c) capacidade de produzir toxinas. d) presença de envoltório lipoproteico. e) presença de moléculas autorreplicativas. Estudo orientado exercícios 1. (Ufac) A palavra gametas está ligada a) a produção de células nas gônadas. b) ao tipo de reprodução de forma assexuada. c) a manutenção da diversidade de vida nos fungos, apenas. d) ao modelo fisiológico de equilíbrio hídrico nos peixes marinhos. e) aos hormônios produzidos e secretados pela hipófise. 2. (Unesp) “Depois de mortos, somos todos comidos pelo bicho da terra.” Essa é uma expressão popular que você já deve ter ouvido. O termo “bicho da terra” corresponde a a) decompositores. b) consumidores primários. c) consumidores secundários. d) consumidores terciários. e) consumidores quaternários. 3. (Unicamp) Os fósseis são uma evidência de que nosso planeta foi habitado por organismos que já não existem atualmente, mas que apresentam semelhanças com organismos que o habitam hoje. a) Por que espécies diferentes apresentam semelhanças anatômicas, fisiológicas e bioquímicas? b) Cite quatro características que todos os seres vivos têm em comum. roda de leitura O homem no espaço: conhecimento e incerteza A vida na Terra é objeto da biologia. É ela também que torna o nosso planeta interessante, pois, sem ela, nem sequer existiríamos. Até agora, ela é a única vida de que temos conhecimento. Os livros-texto de astronomia nos ensinam que o Universo teve início há uns 13 bilhões de anos. Desde então, ele tem evoluído do simples para o complexo. As forças fundamentais da natureza (gravitacional, eletromagnética, nuclear fraca e nuclear forte), possivelmente unificadas no início, logo teriam se desmembrado conforme o Universo se expandia e se resfriava. Essas forças explicam: a conversão da energia primordial em partículas que formam o hidrogênio e o hélio; a agregação desses elementos leves para formar galáxias e estrelas; a síntese nas estrelas dos elementos pesados a partir dos leves; a segregação destes últimos em planetas rochosos como a Terra e a acumulação de gás enriquecido com elementos pesados em nuvens moleculares, algumas das quais podem conter os mo- nômeros (aminoácidos, bases nitrogenadas, açúcares etc.) que formam os polímeros complexos da vida na Terra (ácidos nucleicos e proteínas); e, finalmente, a evolução da vida na Terra até o surgimento do Homo sapiens, capaz de criar cultura, ciência e tecnologia. A vida na Terra se insere, portanto, na evolução natural do Cosmo para uma crescente complexidade. [...] A ideia de uma vida fora da Terra é um corolário da evolução cósmica. Depois de errar, pensando que a Terra era o centro do Universo, um local singular e privilegiado, o homem aprendeu que habita um nicho prosaico que pode se reproduzir em outros lugares do Universo. Afinal, a matéria que aqui está tem os mesmos elementos químicos dos astros mais distantes. As leis físicas que vigoram aqui também vigoram lá. Não há razão aparente para a evolução cósmica convergir única e exclusivamente para a vida na Terra. Assim é que se fundamenta a nova disciplina chamada exobiologia ou bioastrologia. Seu objetivo é estudar na Terra e no Universo a origem, a evolução e a dis- tribuição da vida e das moléculas a ela relacionadas, dando especial atenção à influência do ambiente físico-químico e dos processos astrofísicos nos pro- cessos vitais em potenciais nichos de vida. O fato de a União Astronômica Internacional ter criado em 1979 uma comissão devotada a essa disciplina (Comissão 51) confere normalmente a ela status de disciplina or- todoxa. De certa forma, assim como no final do século XIX a astrofísica se firmava como uma proposta que biologia B • aula 1 CURSINHO DA POLI 7 2 2 2 -1 transformava o Universo num laboratório de física, a astrobiologia hoje tenta se firmar transformando o Universo num imenso laboratório de biologia. [...] Para a astrobiologia como programa de pesquisa, é importante que ambos os lados da controvérsia dependam crucialmente de testes experimentais. Até mesmo os céticos precisam de testes empíricos. A propalada pesquisa SETI (Search for Extraterrestrial Inteligence) é apenas uma entre as várias alternativas de verificação experimental. Ela se baseia na recepção de sinais coerentes em ondas de rádio. Recentemente, teve início a construção de um sistema OSETI (Optical SETI), que objetiva detectar pulsos coerentes de laser. O solo de Marte tem sido cada vez mais estudado in loco desde que as Landers das duas Vikings realizaram experimentos em 1976 visando detectar vida. Em 1996, o debate sobre a vida em Marte foi exacerbado pelo anúncio da descoberta, no meteorito ALH84001, de um conjunto de compostos e estruturas que sugeriam origem biológica. Esse meteorito é um fragmento de quase 2 kg da crosta de Marte coletado na Antártica, onde teria caído há 13 mil anos. Ele teria resultado de uma colisão desse planeta com algum objeto cósmico há 16 milhões de anos. Até hoje, não ficou comprova- da a origem biológica desses indícios, mas cresce a convicção de que os cristais de magnetita teriam sido biomineralizados há 3,9 bilhões de anos, portanto, antes dos primeiros microfósseis terrestres. Também soubemos recentemente do perturbador anúncio da descoberta por pesquisadores russos de microrga- nismos fossilizados em rochas trazidas pelas missões Luna na década de 1970. A atmosfera do satélite Titã, o único com atmosfera substancial no Sistema Solar, será investigada em 2004 com interesse exobiológico durante a descida da sonda Huygens, quando a missão Cassini estiver sendo químicas globais. a fermentação alcoólica energia (ATP) gás carbônico glicose álcool etílico (2) CO2+C6H12O6 (2) C2H5OH + Percebe-se que, na fermentação, a glicose é degra- dada parcialmente – e sem o uso do gás oxigênio – para a obtenção de energia. Os resíduos produzidos na fer- mentação alcoólica são o álcool e o gás carbônico. A fermentação já era conhecida na Antiguidade – existe inclusive um relato desse processo na Bíblia: Noé cultivou uvas e com elas fabricou vinho. Atualmente, os processos fermentativos contam com alta sofisticação tecnológica. São usados principalmente nas indústrias que produzem álcool (combustíveis e bebidas) e na panificação. Algumas bactérias e também células dos animais são capazes de realizar a fermentação chamada láctica, quan- do há necessidade de muita energia, mas a concentração do gás oxigênio é baixa. Nessa situação, o acúmulo do ácido láctico no ambiente intracelular provoca o abai- xamento do pH e, como já foi visto, pode desnaturar as proteínas. Uma das causas de dor e cãibras após intenso esforço físico nos humanos é a fermentação láctica, conforme a equação química que se segue. a fermentação láctica glicose ácido láctico C6H12O6 CH3CH – COOH energia (ATP)+ | OH a respiração anaeróbia energia (ATP) gás carbônico glicose (6) CO2 água (6) H2O nitrato (4) NO3 nitrogênio (2) N2++C6H12O6 + + Na respiração anaeróbia, o oxigênio é substituído pelo nitrato. Veremos na frente A de Biologia que a respiração anaeróbia, promovida pelas bactérias, cumpre um importante papel no chamado ciclo do nitrogênio. Exercícios 1. (Fatec) Os esquemas a seguir evidenciam três maneiras diferentes por meio das quais a glicose pode ser utilizada como fonte de energia necessária à manutenção da vida. Esquema 1 glicose glicólise ácido pirúvico etanol, CO2 e ATP fermentação Esquema 2 glicose glicólise ácido pirúvico ácido láctico e ATP fermentação Esquema 3 glicose glicólise ácido pirúvico H2O, CO2 e ATP ciclo de Krebs cadeia respiratória Assinale a alternativa correta sobre esses esquemas. a) Os esquemas 1 e 3 ocorrem em ambientes totalmen- te anaeróbios para a produção de pães e bolos. biologia B • aula 9 16 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -3 b) O esquema 1 exibe a fermentação alcoólica realizada nas mitocôndrias de leveduras com consumo de oxigênio. c) O esquema 2 revela um processo aeróbio realizado nas mitocôndrias de lactobacilos e de células mus- culares humanas. d) O esquema 3 demonstra um processo aeróbio em que o gás oxigênio atua como agente oxidante de moléculas orgânicas. e) Os esquemas 1, 2 e 3 evidenciam processos aeróbios de obtenção de energia que ocorrem em plantas e animais em geral. 2. (PUC) Em uma célula vegetal, o gás carbônico liberado a partir de reações que ocorrem em uma organela (I) é utilizado em reações que ocorrem em outra organela (II). Nessa afirmação a organela indicada por I é a) a mitocôndria e o gás carbônico liberado são usados na organela II para a realização da respiração celular. b) a mitocôndria e o gás carbônico liberado são usados na organela II para a realização da fotossíntese. c) o cloroplasto e o gás carbônico liberado são utilizados na organela II para a realização da respiração celular. d) o cloroplasto e o gás carbônico liberado são utiliza- dos na organela II para a realização da fotossíntese. e) o cloroplasto e a indicada por II, a mitocôndria, onde ocorrem, respectivamente, a respiração celular e a fotossíntese. Estudo orientado exercícios 1. (Enem 2012) Há milhares de anos o homem faz uso da biotecnologia para a produção de alimentos como pães, cervejas e vinhos. Na fabricação de pães, por exemplo, são usados fungos unicelulares, chamados de leveduras, que são comercializados como fermento biológico. Eles são usados para promover o crescimento da massa, deixando-a leve e macia. O crescimento da massa do pão pelo processo citado é resultante da a) liberação de gás carbônico. b) formação de ácido láctico. c) formação de água. d) produção de ATP. e) liberação de calor. 2. (Unesp 2013) Um vaso com uma planta de folhas verdes foi colocado sobre uma mesa, no centro de um quarto totalmente vedado, de modo a impedir a entrada da luz externa, e ali permaneceu por 24 horas. Durante as 12 primeiras horas (período I), a planta foi ilu- minada com luz verde de comprimento de uma onda na faixa de 500 a 550 nm. Nas 12 horas seguintes (período II), a planta foi iluminada com luz laranja avermelhada, de comprimento de onda na faixa de 650 a 700 nm. Considerando a incidência da luz sobre a planta e a taxa fotossintética, é correto afirmar que, aos olhos de um observador não daltônico que estivesse no quarto, as folhas da planta se apresentariam a) de cor verde no período I e enegrecidas no período II, e a taxa de fotossíntese seria maior no período II e reduzida ou nulo no período I. b) enegrecidas no período I e de cor vermelha no perí- odo II, e a taxa de fotossíntese seria maior no período I e reduzida ou nula no período II. c) enegrecidas no período I e enegrecidas no período II, e em ambos os períodos a planta não realizaria fotossíntese, mas apenas respiração. d) de cor verde no período I e de cor vermelha no perí- odo II, e a taxa de fotossíntese seria maior no período I do que no período II. e) de cor verde no período I e de cor verde no período II, e a taxa de fotossíntese seria a mesma em ambos os períodos. 3. (Fuvest 2013) A lei 7678 de 1988 define que “vinho é a bebida obtida pela fermentação alcoólica do mosto simples de uva sã, fresca e madura”. Na produção de vinho, são utilizadas leveduras anaeróbicas facultativas. Os pequenos produtores adicionam essas leveduras ao mosto (uvas esmagadas, suco e cascas) com os tanques abertos, para que elas se reproduzam mais rapidamente. Posteriormente, os tanques são hermeticamente fecha- dos. Nessas condições, pode-se afirmar, corretamente, que a) o vinho se forma somente após o fechamento dos tanques, pois, na fase anterior, os produtos de ação das leveduras são a água e o gás carbônico. b) o vinho começa a ser formado já com os tanques abertos, pois o produto da ação das leveduras, nessa fase, é utilizado depois como substrato para a fer- mentação. c) a fermentação ocorre principalmente durante a reprodução das leveduras, pois esses organismos necessitam de grande aporte de energia para sua multiplicação. d) a fermentação só é possível se, antes, houver um processo de respiração aeróbia que forneça energia para as etapas posteriores, que são anaeróbias. e) o vinho se forma somente quando os tanques voltam a ser abertos, após a fermentação se completar, para que as leveduras realizem respiração aeróbia. biologia B • aula 9 CURSINHO DA POLI 17 2 2 2 -3 roda de leitura Bactérias vivem sem oxigênio e sem luz do Sol Definir quais são as condições básicas para manter a vida na Terra é uma tarefa cada vez mais complexa. Há tempos se sabe da existência de organismos extre- mófilos, capazes de sobreviver em ambientes inóspitos e improváveis – pelo menos aos humanos. Mas uma nova descoberta acaba de levar a vida um pouco mais longe. No caso, para baixo. Um grupo formado por pesquisadores de diversos países encontrou, em escavações numa mina de ouro na África do Sul, bactérias vivendo em rochas a 2,8 mil metros de profundidade. Se parasse por aqui, já seria uma notável descoberta, mas a história continua. Trata-se da primeira comunidade microbial até hoje descoberta que depende exclusivamente de hidrogênio e enxofre produzido geologicamente. Mais: os organismos encontrados, pertencentes ao filo Firmicutes, são completamente independentes da energia derivada da luz solar. De onde retiram energia para se manter? Da conversão de moléculas de água por minerais radioativos como urânio e tório. Se esse cenário parece estranho às formas de vida superficiais ou aquáticas, o mesmo não ocorre para as bactérias agora descobertas. Segundo o estudo, publi- cado na edição de 20 de outubro da revista Science, os microrganismos estão no interior do planeta há dezenas de milhões de anos. “São bactérias realmente únicas, no mais puro sentido da palavra”, disse Li-Hung Lin, da Universidade Nacional de Taiwan, primeiro autor do artigo. “Essa descoberta mostra que conhecemos surpreendentemente muito pouco a respeito da origem, da evolução e dos limites da vida na Terra”, disse outra autora, Lisa Pratt, da Universida- de de Indiana, em comunicado da instituição. A descoberta tem diversas implicações. Uma ime- diata é a expansão da bioesfera terrestre, ou seja, da camada em que ocorre vida no planeta. Outra é que se formas de vida encontram maneiras de sobreviver em situações tão extremas na Terra, o mesmo – ou ainda mais – poderia ocorrer em outros planetas, como Marte. Em 1996, um estudo apontou a existência de bacté- rias no meteorito ALH84001, encontrado 12 anos antes na Antártica e que teria sido lançado de Marte por um impacto de outro meteorito no planeta. Também pu- blicado na Science, o artigo escrito por David McKay, da Nasa, e colaboradores provocou muita polêmica. Apesar de os autores serem categóricos em afirmar que não se trata de organismos terrestres, outros aponta- ram que o meteorito teria sido contaminado na Terra. Agência Fapesp, 24 out. 2006. aula 10 18 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -3 No DNA de uma única semente de lírio, há capacidade suficiente para armazenar informações correspondentes a 60 exemplares das Páginas Amarelas. Em certas espé- cies de amebas, o DNA contém tanta informação quanto 30 000 listas telefônicas de uma cidade com cerca de 5 milhões de habitantes. Frei Betto, A obra do artista, 2001. Os estudos bioquímicos e genéticos indicam que to- dos os processos do metabolismo, do desenvolvimento e da função da célula vêm do material hereditário ou genético, armazenado e transportado pelos cromosso- mos do núcleo eucariótico e do nucleoide procariótico. O controle do funcionamento celular é efetuado através da síntese de proteínas. Admite-se que as informações genéticas aparecem sob a forma de um código e se acumulam seletivamente, permitindo que as sucessivas gerações possam se bene- ficiar com os aperfeiçoamentos introduzidos durante a evolução dos seres vivos. Um fato que corrobora essa hipótese é que a quantidade de material genético, no caso, o ácido desoxirribonucleico (DNA), tende a refle- tir a complexidade estrutural e funcional dos diversos organismos. Observe o diagrama abaixo. Relação da quantidade de DNA em diferentes seres vivos Convém retomar rapidamente algumas informações sobre os cromossomos, antes da análise de suas pro- priedades e estrutura química. Podemos entender os estados morfológicos do nú- cleo eucariótico em dois momentos da vida da célula: antes e durante sua divisão. Como se armazena e processa a informação hereditária Os componentes nucleares durante a divisão da célula Representação do aspecto do núcleo da célula dos eucarióticos, ilustrado em três dimensões 100101,00,010,01 109108107106105 nucleotídeos do DNA por célula quantidade de DNA das células (mamíferos = 100%) mamíferos anfíbios peixes ósseos peixes cartilaginosos algas bactérias protozoários equinodermas celenterados répteis Diagrama da quantidade de DNA X nucleotídeos. Experimen- tos mostraram que há relação entre a quantidade de DNA e a complexidade estrutural e funcional das células de diferentes organismos. Fotografia de cromossomos humanos. O processo de formação consiste inicialmente na duplicação dos fios de cromatina, que se mantêm ainda presos pelo centrômero; em seguida, começa uma intensa espiralização. Bi op h ot o A ss oc ia te s/ Sc ie n ce P h ot o Li b ra ry Os componentes nucleares antes da divisão da célula carioteca: membrana protetora da cromatina. Apre- senta poros que facilitam o intercâmbio de substân- cias com o ambiente do citoplasma; nucleoplasma (ou cariolinfa): equivale à solução coloidal do citoplasma, onde está imersa a cromatina; nucléolo: apresenta-se como um corpúsculo denso, destacado da cromatina. É rico num tipo de ácido ribo- nucleico denominado RNA-ribossômico (RNA-r); cromatina: conjunto dos filamentos moleculares do DNA, os genes. biologia B • aula 10 CURSINHO DA POLI 19 2 2 2 -3 reproduz, duplicando toda a carga genética e distribuin- do-a às células-filhas – processo equitativo na mitose e reduzido pela metade na meiose –; segundo, produzindo cópias de trechos das informações armazenadas do DNA sob a forma de outras moléculas, denominadas ácido ribonucleico (RNA). Grosso modo, esse RNA dirige a síntese das proteínas no citoplasma, regulando, por meio delas, a forma e o funcionamento da célula. Um dos postulados centrais da Biologia é que a informação genética guardada no DNA pode ser duplicada (repli- cação) e transcrita sob a forma de RNA, que se traduz como proteína. Observe o esquema abaixo. proteína(s)DNA DNA RNA duplicação (replicação) transcrição transcrição reversa tradução Raramente o DNA não atua como material genético informacional primário. Em alguns tipos de vírus, por exemplo, o RNA se duplica diretamente e atua sobre a síntese de proteínas. Nestas aulas, discutiremos a duplicação e a trans- crição do DNA. A tradução e o código genético serão estudados nas aulas seguintes. A análise do DNA revelou que seu esqueleto químico é formado por uma unidade denominada nucleotídeo. O que é um nucleotídeo? O nucleotídeo é formado quimicamente por: 1 molécula de ácido fosfórico + 1 açúcar de 5 carbonos (pentose) + 1 molécula de base nitrogenada Estrutura química do nucleotídeo de DNAEstrutura química do nucleotídeo de DNA NH2 C C CC C C O O PO C C C C N NN N H H H H HH H H H OH OH OH fosfatodesoxirriboseadenina Representação esquemática fosfato pentose base nitrogenada Representação esquemática Ilustração da estrutura de um nucleotídeo Ilustração esquemática do núcleo eucariótico. Em destaque: a) fios de cromatina condensados: são os cromossomos, consti- tuídos quimicamente de ácido desoxirribonucleico (DNA); b) os genes, trechos ou segmentos capazes de comandar a síntese de proteínas. cromossomos: apresentam-se como corpúsculos in- dividualizados, bastante compactos, em forma de bastão, visíveis até mesmo num microscópio óptico comum. A ordem e a distância entre os genes nos cromos- somos podem ser determinadas experimentalmente. Veremos alguns exemplos disso nos próximos cadernos, quando estudarmos o linkage e os mapas gênicos, tópi- cos da genética moderna. O conhecimento acumulado indica que são os genes os responsáveis pelas funções celulares, pois há relação entre alterações cromossômicas visíveis e determinadas deficiências bioquímicas, como a incapacidade de sin- tetizar certa proteína. A natureza química do material genético Os cromossomos consistem principalmente de ácido desoxirribonucleico (DNA) e proteínas. Um outro tipo de ácido nucleico, o ácido ribonucleico (RNA), também exis- te em pequenas concentrações no núcleo e em quan- tidades muito maiores no citoplasma. O DNA também pode ser encontrado fora do núcleo, especificamente nas mitocôndrias e nos cloroplastos, demonstrando que tais organelas têm autonomia metabólica. Os cromossomos transmitem a informação gené- tica em dois momentos: primeiro, quando a célula se biologia B • aula 10 2 2 2 -3 20 CURSINHO DA POLI Importante: DNA: a pentose é a desoxirribose. RNA: a pentose é a ribose. As bases nitrogenadas dos nucleotídeos são clas- sificadas em bases púricas, a adenina (A) e a guanina (G), e em bases pirimídicas, a timina (T), a citosina (C) e a uracila (U). A estrutura química das bases nitrogenadas púricas (adenina e guanina) e pirimídicas (timina, citosina e uracila) Os três componentes do RNA são muito semelhan- tes aos nucleotídeos que formam o DNA. O açúcar desoxirribose é substituído por outro parecido, a ribose, e uma das quatro bases, a timina (T), é substituída pela uracila (U). Importante: A timina é exclusiva do DNA. A uracila é exclusiva do RNA. Os ácidos nucleicos foram descobertos pelo pes- quisador F. Meischer, em 1897, mas seu significado biológico não se tornou evidente até 1920, quando F. Griffith, trabalhando com bactérias, identificou os ácidos nucleicos como sendo o material genético. Muitos ou- tros cientistas, e seus valiosos estudos, seguiram-se a ele, até que em 1962 o geneticista estadunidense J. Watson (1928) e o físico inglês F. Crick (1916) ganharam o Prê- mio Nobel de Medicina pelo acréscimo de importantes conhecimentos acerca do material genético através da estrutura do DNA. Watson e Crick idealizaram em 1953 a estrutura molecular do DNA como um longo filamento duplo e torcido. Segundo o modelo tridimensional, aceito até hoje, os ácidos fosfóricos localizam-se na periferia da molécula do DNA, unidos às pentoses desoxirriboses, e mais internamente estão as bases nitrogenadas, que se mantêm ligadas entre si pelas pontes de hidrogênio. Dados químicos mostraram que a adenina-timina e guanina-citosina são os pares possíveis e que as ba- ses de um filamento determinam a sequência no par correspondente. Assim, se as bases de um filamento estiverem arrumadas na ordem GTAAGCT, o filamento complementar será CATTCGA. Observe o esquema abaixo. bases púricas bases pirimídicas Timina (T) Uracila (U) Citosina (C) Adenina (A) Guanina (G) O C N NN HN C CC H2N CH H O C N HN C CHC CH3 O H NH2 C N NN N C CHC CH H O C N HN CH CHC O H O NH2 C N N CH CHC H Representação do DNA. a) Modelo tridimensional da dupla fita torcida em hélice, proposto por Watson e Crick. b) Estrutura plana do DNA: externamente estão os ácidos fos- fóricos, ligados às desoxirriboses, e mais internamente as bases nitrogenadas, pareadas na ordem A-T e G-C que se mantêm presas por pontes de hidrogênio. representação plana de DNA modelo de DNA biologia B • aula 10 CURSINHO DA POLI 21 2 2 2 -3 Regra do pareamento das bases nitrogenadas do DNA As bases nitrogenadas púricas e pirimídicas de cada fita do DNA mantêm-se unidas por pontes de hidrogê- nio, obedecendo a seguinte ordem: a adenina (A) – de um dos lados do filamento – liga-se à timina (T) – no filamento oposto e complementar. Da mesma forma, a guanina (G) liga-se à citosina (C). A ligação entre as bases nitrogenadas e as pontes de hidrogê- nio, apontada pela seta Regra do pareamento das bases nitrogenadas do DNA: A – T G – C A relação é de uma base púrica (A ou G) para uma base pirimídica (T ou C), isto é, 1:1. Atenção: a base nitrogenada uracila é exclusiva da molécula do RNA, portanto, não aparece no DNA. (FUVEST) A tabela mostra a composição das bases nitrogenadas púricas, adenina e guanina, no DNA do homem e do boi. adenina guanina homem 30,4% ? boi ? 27,0% Quais são as porcentagens que faltam para o homem e para o boi? Justifique. As funções do DNA O DNA coordena e controla as atividades da célula fornecendo informações para a construção de moléculas proteicas. O comando do DNA envolve os seguintes processos: 1) duplicação (ou replicação) – o DNA sintetiza outros DNAs; 2) transcrição – o DNA transcreve o outro ácido nucleico, o RNA; 3) tradução – o RNA transcrito traduz a informação do DNA para a elaboração das proteínas. Observe o esquema abaixo: A duplicação do DNA Watson e Crick propuseram em seu modelo do DNA um mecanismo pelo qual a duplicação pode ocorrer segundo os critérios da complementaridade dos dois filamentos e da especificidade do pareamento das bases. Dessa maneira, os dois filamentos (aos quais chamaremos Paulo e Ângela) se separam, disponibili- zando ligações de hidrogênio para o pareamento de bases complementares. O filamento Paulo forma uma molécula complementar à de Ângela, e vice-versa. O resultado são duas moléculas-filhas que têm a mesma sequência de bases da molécula original. Esse modelo de duplicação é chamado semiconservativo, porque um dos filamentos da molécula original está conservado pontes de hidrogênio pontes de hidrogênio timina citosina adenina guanina O O O H H H H H H H N N N NN N N N N N N N HCH3 O H H H H N N N H carioteca citoplasma célula eucariótica Legenda: 1 = autoduplicação 2 = transcrição 3 = tradução núcleo DNA DNA RNA PROTEÍNA 2 3 1 biologia B • aula 10 2 2 2 -3 22 CURSINHO DA POLI na molécula-filha. Observe a sequência esquemática da duplicação do DNA, abaixo. Com o auxílio do professor, preencha o esquema da duplicação do DNA, a partir das bases nitrogenadas dadas: segmento de DNA fita 1 fita 2 A T T C G T A T T C G T T A A G C A T A A G C A A T T C G T T A A G C A DNA DNA fita 2fita 1 fita 1 fita 2 fitas novas Esquema da duplicação do DNA Importante: Não esqueça a regra de pareamento entre as bases nitrogenadas do DNA: A – T G – C Por que a duplicação do DNA é dita semiconserva- -tiva? Qual é a importância biológica da duplicação do DNA? A enzima DNA-polimerase vai rompendo as pontes de hidro- gênio entre as bases nitrogenadas, que mantêm unida a dupla cadeia nucleotídica (1). Por sua vez, a enzima DNA-ligase vem catalisando as reações de ligação das bases nitrogenadas, vindas do citoplasma, sobre as fitas soltas do DNA que, então, vão se encaixando (2). Ao final, duas novas moléculas de DNA são formadas (3) a partir da cópia de uma. biologia B • aula 10 CURSINHO DA POLI 23 2 2 2 -3 A transcrição do DNA para RNA O DNA também sintetiza (transcreve) o RNA, que serve de molde bioquímico. As principais diferenças do RNA em relação ao DNA são: a pentose é a ribose, a base nitrogenada timina é substituída pela uracila e o RNA é um segmento único, simples. O RNA é transcrito apenas por uma das fitas de DNA. A descoberta do DNA: o princípio transformador de Griffith Frederick Griffith, bacteriologista, fazia em 1928 experimentos para desenvolver vacinas contra as bacté- rias causadoras da pneumonia, chamadas pneumococos. Naquele tempo, ainda não se haviam desenvolvidos os antibióticos. Griffith sabia que os pneumococos patogênicos (causadores da doença) eram envolvidos por capas gelatinosas, as cápsulas. Num dos muitos testes, ele injetou em camundon- gos, simultaneamente, bactérias patogênicas, mas mortas pelo calor, e bactérias não patogênicas vivas. Esperava que ambas as amostras injetadas fossem inócuas; contu- do, o resultado foi a morte de todos os camundongos. A posterior análise dos corpos desses camundongos revelou a presença de bactérias vivas com cápsulas, isto é, as causadoras da pneumonia. Teriam ressuscitado as bactérias mortas pelo calor ou alguma coisa se transferiu para as bactérias vivas, não patogênicas? Alguns anos mais tarde, após numerosas análises bioquímicas, Griffith revelou que o princípio (ou fator) transformador, como era chamado até então, responsá- vel pela transmissão da característica hereditária era a molécula de ácido desoxirribonucleico (ou DNA). Tabela dos três tipos de RNA: RNA mensageiro (RNA-m), RNA transportador (RNA-t) e RNA ribossômico (RNA-r). Para maiores detalhes, leia o quadro. transcriçãotipos de RNA atividades esquema Seleciona e ordena os aa para a formação de proteínas; cada aa* é codificado por uma trinca de bases do RNAm chamada de códon; os códons do RNAm e os aa constituem o código genético RNA mensageiro (RNAm) RNA transportador (RNAt) RNA ribossônico (RNAr) Trasporta os aa até os ribossomos; une-se ao códon do RNAm por meio de uma trinca de bases nitrogenadas chamada anticódon, que se encontra em uma de suas pontas Sedia a síntese proteica Realizada por trechos do DNA Relizada por áreas determinadas dos cromossomos Realizada por segmentos específicos do DNA, chamados regiões organizadoras do nucléolo (nas células procarióticas, não há a formação de nucléolos) fita única linear fita única dobrada fita única dobrada que recebe várias proteínas especiais *aa = aminoácidos Esquema da transcrição de seg- mento do DNA para RNA. Uma das fitas da molécula do DNA serve de molde para a produção do RNA. Note que a adenina do DNA forma par com a uracila do RNA. biologia B • aula 10 2 2 2 -3 24 CURSINHO DA POLI Os transgênicos O termo transgênico refere-se ao organismo que tem gene(s) de outra(s) espécie(s), manipulado através da biotecnologia e da engenharia genética. Hoje são conhecidas espécies transgênicas vegetais e animais. Por exemplo, bactérias, camundongos e ovelhas que receberam genes humanos. A técnica Em linhas bem gerais, inicialmente identificam-se e selecionam-se os genes de interesse e, a seguir, emprega- -se uma técnica para sua multiplicação – primeiro, os genes devem ser “cortados”, utilizando-se uma enzima chamada de restrição, que reage com sequências de bases nitrogenadas específicas; depois, os genes que se quer transferir são ligados a moléculas do DNA bac- teriano, chamadas plasmídeos, que atuam como vetores para transportá-los até os núcleos das células, cultivadas em solução especial. Os genes em atividade induzem a fabricação de proteínas. Algumas aplicações • Aumento da produtividade de vegetais de importân- cia alimentar, tornando-os resistentes ao ataque de parasitas e predadores; • produção de substâncias úteis para os seres humanos a partir de bactérias, fungos, vegetais ou animais gene- ticamente modificados. É o caso da insulina humana produzida por bactérias; • possibilidade do uso de órgãos de animais transgê- nicos para transplantes em seres humanos, assim diminuindo os riscos de rejeição. As controvérsias A manipulação e a transferência de genes de um organismo para outro são recentes, mas as pesquisas sobre os efeitos dos transgênicos na saúde humana e, principalmente, no ambiente não ocorrem na mesma velocidade. Apesar disso, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a área cultivada com semen- tes modificadas geneticamente aumentou, em todo o mundo, desde 1996. No Brasil, as leis pertinentes à biotecnologia e à en- genharia genética, que também envolve os transgênicos, regulamentam normas de biossegurança e foram criadas em 1995. A Justiça Federal entendeu que ainda não estão muito claras as consequências do uso dos alimentos ge- neticamente modificados; por isso, como medida de pre- venção, decidiu suspender a comercialização dos grãos transgênicos, até que se obtenham mais resultados. É certo que outros fatores também colaboraram para tal decisão: por exemplo, a definição da competência sobre os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e Relatórios de Impacto Ambiental (Rima) – ou a Comissão Técnica Na- cional de Biossegurança (CTNBio) ou o Instituto Brasileiro de Recursos Naturais e da Amazônia Legal (Ibama), ou ainda, possivelmente, organizações da sociedade civil. Contudo, em 2003, pressionado principalmente por agricultores e alguns políticos do Rio do Grande do Sul, o governo federal liberou o plantio e a colheita de uma safra da soja transgênica, através de medida provisória. Exercícios 1. (Enem) Para a identificação de um rapaz vítima de aci- dente, fragmentos de tecidos foram retirados e submetidos à extração de DNA nuclear, para comparação com o DNA disponível dos possíveis familiares (pai, avô materno, avó materna, filho e filha). Como o teste com o DNA nuclear não foi conclusivo, os peritos optaram por usar também DNA mitocondrial, para dirimir dúvidas. Para identificar o corpo, os peritos devem verificar se há homologia entre o DNA mitocondrial do rapaz e o DNA mitocondrial do(a) a) pai. b) filho. c) filha. d) avó materna. e) avô materno. 2. (Fuvest 2014) Observe a figura abaixo que representa o emparelhamento de duas bases nitrogenadas. Indique a alternativa que relaciona corretamente a(s) molécula(s) que se encontram parcialmente representada(s) e o tipo de ligação química apontada pela seta. Molécula(s) Tipo de ligação química a) Exclusivamente DNA Ligação de hidrogênio b) Exclusivamente RNA Ligação covalente apolar c) DNA ou RNA Ligação de hidrogênio d) Exclusivamente DNA Ligação covalente apolar e) Exclusivamente RNA Ligação iônica biologia B • aula 10 CURSINHO DA POLI 25 2 2 2 -3 Estudo orientado exercícios 1. (Enem) Cinco casais alegavam ser os pais de um bebê. A confirmação da paternidade foi obtida pelo exame de DNA. O resultado do teste está esquematizado na figu- ra, em que cada casal apresenta um padrão com duas bandas de DNA (faixas, uma para o suposto pai e outra para a suposta mãe), comparadas à do bebê. Que casal pode ser considerado pais biológicos do bebê? a) 1. b) 2. c) 3. d) 4. e) 5. 2. (Enem 2014) Na década de 1990, células do cordão umbilical de recém-nascidos humanos começaram a ser guardadas por criopreservação, uma vez que apre- sentam alto potencial terapêutico em consequência de suas características peculiares. O poder terapêutico dessas células baseia-se em sua capacidade de a) multiplicação lenta. b) comunicação entre células. c) adesão a diferentes tecidos. d) diferenciação em células especializadas. e) reconhecimento de células semelhantes. roda de leitura O DNA do racismo Como as raças foram inventadas e agora nosso dever é desinventá-las Parece existir uma noção generalizada de que o conceito de raças humanas e sua indesejável conse- quência, o racismo, são tão velhos como a humanida- de. Há mesmo quem pense neles como parte essencial da “natureza humana”. Isso não é verdade. Pelo con- trário, as raças e o racismo são uma invenção recente na história da humanidade. Nas civilizações antigas, não são encontradas evidências inequívocas da existência de racismo (que não deve ser confundido com rivalidade entre comunidades). É certo que havia escravidão na Grécia, em Roma, no mundo árabe e em outras re- giões. Mas os escravos eram geralmente prisioneiros de guerra, e não havia de maneira alguma a ideia de que eles fossem “naturalmente” inferiores a seus senhores. A escravidão era mais conjuntural que es- trutural – se o resultado da guerra tivesse sido outro, os papéis de senhor e escravo estariam invertidos. A emergência do racismo e a cristalização do conceito de raças coincidiram historicamente com dois fenômenos da era moderna: o início do tráfico de escravos da África para as Américas e o esvanecimento do tradicional espírito religioso em favor de interpreta- ções científicas da natureza. Diversidade humana Antes de prosseguir, proponho ao leitor um simples experimento. Dirija-se a um local onde haja grande número de pessoas – uma sala de aula, um restau- rante, o saguão de um edifício comercial ou mesmo a calçada de uma rua movimentada. Agora, observe cuidadosamente as pessoas ao redor. Deverá saltar aos olhos que somos todos muito parecidos e, ao mesmo tempo, muito diferentes. Real- mente, podemos ver grandes similaridades no plano corporal, na postura ereta, na pele fina e na falta rela- tiva de pelos, características da espécie humana que nos distinguem dos outros primatas. Por outro lado, serão evidentes as extraordinárias variações morfológicas entre as diferentes pessoas: sexo, idade, altura, peso, massa muscular e distribui- ção de gordura corporal, comprimento, cor e textura dos cabelos (ou ausência deles), cor e formato dos olhos, formatos do nariz e lábios, cor da pele etc. Essas variações são quantitativas, contínuas, graduais. A priori, não existe absolutamente nenhuma razão para valorizar mais uma ou outra dessas características no exercício de perscrutação. Mas logo se descobre que nem todos os traços têm a mesma relevância. Alguns são mais importantes, por exemplo, quando reparamos que algumas pes- soas, geralmente do sexo oposto, são mais atraentes que outras. Além disso, há características que podem nos fornecer informações sobre a origem geográfica ancestral das pessoas: uma pele negra pode nos levar biologia B • aula 10 2 2 2 -3 26 CURSINHO DA POLI de escravos da África para as colônias americanas foi uma atividade de enorme lucratividade para as nações envolvidas (Inglaterra, Portugal, Espanha e Holanda, entre outras) e teve expressivo impacto econômico. Não é nenhum exagero afirmar que o tráfico de escravos financiou a Revolução Industrial na Europa. Desde então, o conceito das diferenças biológicas das “raças” se infiltrou paulatinamente em nossa cul- tura, assumindo quase uma qualidade de elemento fundamental indispensável da mesma. Estava criado o solo fértil onde germinariam as calamitosas ideo- logias do nazismo e do apartheid. O genial poeta Chico Buarque de Holanda su- gere na canção Apesar de você: “Você que inventou a tristeza, / Ora, tenha a fineza / De desinventar...”. Parafraseando-o, podemos dizer que, se a cultura ocidental inventou o racismo e as raças, temos agora, o dever de desesinventá-los. Sérgio Danilo Pena. CiênciaHoje online, 11 jul. 2008. pesquisar e ler Não há dúvida de que o deciframento do código ge- nético (Projeto Genoma) avançou nas ciências biológicas e pode até mesmo ser considerado um marco histórico para o século XXI. Mas o biólogo Richard Lewontin, em A tripla hélice – gene, organismo e ambiente (São Paulo: Companhia das Letras, 2001), relativiza a importân- cia do sequenciamento do DNA e propõe uma nova abordagem para as relações entre organismo e meio. Segundo o autor, os organismos não são determinados simplesmente pelas interações entre genes e ambiente, mas também por outros eventos aleatórios que a ciência não é capaz de controlar. ver e ouvir O domínio de um saber amplia a nossa base de argumentação sobre os limites da ciência e provoca uma atitude reflexiva. O tema destas aulas é explorado de maneira instigante no ótimo filme GATTACA (dir. An- drew Niccol, EUA, 1997). No longa-metragem ficcional, autoridades detêm o conhecimento e o domínio tecno- lógico das informações do DNA de todos os indivíduos de uma sociedade, passando então a classificá-los e controlá-los, segregando os pouco interessantes, os chamados não válidos, para determinadas atividades dirigidas política e cientificamente. A trama central é a determinação de um não válido de participar de uma expedição planetária, um intenso desejo que pretende realizar a todo e qualquer custo; para isso, porém, ele a inferir que a pessoa tem ancestrais africanos, olhos puxados evocam ancestralidade oriental etc. Mas isso é tudo: não há absolutamente mais nada que possamos captar à flor da pele. Pense bem. Como é possível que ter ancestrais na África faça o todo de uma pessoa diferente de quem tem ancestrais na Ásia ou na Europa? O que tem a pigmentação da pele, o formato e a cor dos olhos ou a textura do cabelo a ver com as qualidades humanas singulares que determinam uma individualidade existencial? Systema Naturae (Sistema da Natureza), de 1767 Homo sapiens europaeus: branco, sério, forte Homo sapiens asiaticus: amarelo, melancólico, avaro Homo sapiens afer: negro, impassível, preguiçoso Homo sapines americanus: vermelho, mal-humorado, violento Classificação da humanidade feita pelo naturalista sueco Carl Linnaeus (1707-1778). Ele apresentou pela primeira vez na esfera científica uma divisão taxonômica da espécie humana. Esse é o exemplo do absurdo da perspectiva essencialista ou tipológica de raças humanas. A associação fixa de características físicas e psicoló- gicas, que incrivelmente ainda persiste na atualidade, não faz absolutamente nenhum sentido do ponto de vista genético e biológico! O genoma humano tem cerca de 20 mil genes, e sabemos que poucas dúzias deles controlam a pigmentação da pele e a aparência física dos humanos. Está 100% estabelecido que esses genes não têm nenhuma influência sobre qualquer traço comportamental ou intelectual. O que veio primeiro: as raças ou o racismo? O filósofo francês Voltaire (1694-1778), contempo- râneo de Linnaeus, afirmou em suas Cartas Filosófi- cas, publicadas em 1733: A raça negra é uma espécie humana tão dife- rente da nossa quanto a raça de cachorros spaniel é dos galgos [...]. A lã negra nas suas cabeças e em outras partes do corpo não se parece em nada com o nosso cabelo; e pode se dizer que a sua compreensão, mesmo que não seja de natureza diferente da nossa, é pelo menos muito inferior. Repare o leitor em um detalhe de suma impor- tância: o texto de Voltaire, escrito em 1733 e já de cunho gritantemente racista, apareceu 34 anos antes da divisão da humanidade feita por Linnaeus! Em ou- tras palavras: o racismo não decorreu da invenção das raças; ele a precedeu! Linnaeus e seus seguidores não inventaram o racismo, mas infelizmente o reforçaram e legitimaram, fornecendo um modelo “científico” para sua reificação. Por que e como aconteceu isso? Uma investigação etiológica do racismo nos leva, como ferquentemente acontece, ao vil metal. O tráfico biologia B • aula 10 CURSINHO DA POLI 27 2 2 2 -3 precisa superar toda a rigidez do sistema fiscalizador e de controle, além dos seus limites físicos e emocionais, pois tem que contrariar até seu DNA, sua marca genética. A competência da direção, que soube editar momentos de emoção, suspense, romance e introspecção das perso- nagens no dimensionamento das questões relativas às regras impostas pelas autoridades, obcecados com a per- feição genética, nos prende até um final que surpreende, apesar de previsível. O próprio título do filme mostra uma combinação das letras das bases nitrogenadas do DNA. senha aula 11 28 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -3 O que acontece aos corpos se os genes agirem sozinhos? Stephen Jay Gould, A galinha e seus dentes – reflexões sobre a história natural, 1992 Sabemos que uma das atividades do metabolismo celular é a renovação de substâncias. Entre elas, estão as proteínas. Formadas por combinações de aminoácidos, as proteínas têm duas funções principais: consti-tuem a estrutura da célula e catalisam enzimaticamente as reações químicas. O mecanismo da síntese de proteínas: o código genético em ação Ilustração esquemática do mecanismo da síntese proteica. Primeiro, a transcrição: cópias da informação do DNA para o RNA, que recebem a designação de RNA-mensageiro (RNA-m); segundo, os RNA-m migram para o citoplasma e vão orientar a síntese proteica; terceiro, participam, agora, além do RNA-m, o RNA-ribossômico (RNA-r) e o RNA-transportador (RNA-t). Abordagem ilustrada de dois planos: do organismo e da molé- cula proteica. A vida da borboleta está relacionada com o seu material genético, herdado das muitas gerações ascendentes, que interage com o ambiente no sentido de selecionar e pro- mover as melhorias da carga genética, tornando a borboleta mais apta para a sobrevivência. biologia B • aula 11 CURSINHO DA POLI 29 2 2 2 -3 Já vimos que os ribossomos, o retículo endoplasmá- tico e o complexo de Golgi participam do processo de montagem das proteínas. Nestas aulas, nos concentra- remos no mecanismo de produção proteica, isto é, em como as informações contidas nos cromossomos pas- sam para o citoplasma e comandam o sequenciamento, sem erro, dos aminoácidos. O mecanismo da síntese proteica pode ser compara- do à tradução de uma linguagem em código para outra. Os ácidos nucleicos (DNA e RNA) são formados por nu- cleotídeos, e as proteínas, por aminoácidos; é necessário, portanto, converter uma sequência de nucleotídeos em uma sequência de aminoácidos. A compreensão dessas sequências foi chamada código genético. Como vimos, a informação do DNA se dispõe linear- mente, em segmentos ou trechos de tamanho variável. Cada segmento recebe o nome de gene. Pesquisas recentes mostraram que, além dos genes que contêm a informação para a síntese proteica, existem outros, relacionados a processos reguladores e de função ainda desconhecida. O mecanismo da síntese proteica é complexo. Para melhor compreendê-lo, acompanhe a sequência a seguir, que ilustra os principais eventos relacionados à construção de uma proteína. sentido do deslocamento RNA-m ribossomos Os ribossomos prendem-se aos RNA-m (que carregam as men- sagens para a síntese das proteínas). aa aa aa aa aa aa aa aa aa aa aa aa aa RNA-m aa = aminoácido aa À medida que os RNA-t, trazendo os aminoácidos, ligam-se no sítio ativo dos ribossomos, estes vão deslizando sobre os RNA- m. Os aminoácidos vão formando uma longa cadeia através das ligações peptídicas. 3 4 Uma das fitas da cadeia dupla do DNA é transcrita para as moléculas de RNA (RNA-m, RNA-t ou RNA-r). Os RNA atravessam a carioteca e migram para o citoplasma. 1 2 RNA-m citoplasmanúcleo carioteca DNA ribossomo RNA-t aa aa aa aaaa aa aa aa aa aa aa aa aa aa aa aa molécula protéica RNA-m Agora, os polipeptídeos formados desligam-se dos RNA. No iní- cio da formação das proteínas, os ribossomos podem aderir ao retículo endoplasmático ou continuar soltos no hialoplasma. O que determina a adesão ou não do ribossomo ao retículo é a presença ou a ausência da chamada sequência sinal da proteína. A sequência sinal faz com que os ribossomos grudem no retículo e sintetizem aquelas proteínas que serão eliminadas pelas células como, por exemplo, as enzimas digestivas. Sem a sequência sinal, os ribossomos permanecem livres, elaboran- do as proteínas que atuam no hialoplasma celular como, por exemplo, as mioglobinas (proteínas respiratórias das células musculares). 5 biologia B • aula 11 30 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -3 O código genético Cada RNA-t prende-se ao RNA-m devido à justapo- sição de 3 nucleotídeos. A trinca de nucleotídeos do RNA-m foi designada códon e liga-se ao anticódon, a trinca de nucleotídeos do RNA-t. t-RNA movimento dos ribossomos m-RNA ribossomo cadeias de proteínas em crescimento proteína completa Ilustração esquemática dos polissomos. Foi observado que, para as proteínas que precisam ser produzidas muito rapidamente, vários ribossomos podem estar aderidos numa só fita do RNA-m. Nas células de bactérias, os RNA-m, antes mesmo de desprenderem do DNA, iniciam o processo da síntese de proteínas. Os polissomos ou polirribossomos Com frequência, as células precisam produzir pro- teínas muito rapidamente. Vários ribossomos podem ser encontrados aderidos a um único filamento de RNA-m, formando os chamados polissomos ou polirribos- somos. Observe a ilustração esquemática a seguir. Experimentos com RNA-m sintético em tubos de ensaio demonstraram que o código envolve 3 nucleotí- deos para a síntese de 1 aminoácido. Com a ligação de 3 nucleotídeos a outros 3 (dos quatro existentes: adenina, guanina, uracila e citosina), obtêm-se 64 combinações diferentes, mais do que suficientes para codificar os 20 tipos de aminoácidos que podem participar da constru- ção de uma molécula de proteína. Contudo, três dessas combinações (UAA, UAG e UGA) são o término da molé- cula proteica, isto é, não correspondem a aminoácidos. Consulte a tabela abaixo. O mecanismo da transformação de uma sequência de nucleotídeos em uma sequência de aminoácidos chama-se tradução. (fita 1) AAA TGT CGG (fita 2) TTT ACA GCC DNA (dupla fita) RNA-m AAA UGU CGG (3 códons) RNA-t UUU ACA GCC (3 anti-códons) aa aa aa Transcrição do trecho da fita 2 Exemplos de códons e anticódons do RNA-m e do RNA-t, respectivamente primeira posição no códon terceira posição no códon segunda posição no códon U C A G uracila (U) leucina leucina leucina leucina prolina prolina prolina prolina histidina histidina glutamina glutamina arginina arginina arginina arginina U C A G isoleucina isoleucina isoleucina isoleucina treonina treonina treonina treonina asparagina asparagina lisina lisina serina serina arginina arginina U C A G valina valina valina valina alanina alanina alanina alanina ácido aspártico ácido aspártico ácido glutâmico ácido glutâmico glicina glicina glicina glicina U C A G citosina (C) adenina (A) guanina (G) fenilalanina fenilalanina leucina leucina serina serina serina serina tirosina tirosina fim fim cisteína cisteína fim triptófano U C A G Tabela do código genético. As bases da coluna da esquerda ocupam a 1a posição da trinca. As bases das colunas centrais preenchem a 2a posição, e as bases da coluna da direita ocupam a 3a posição no códon do RNA-m. Assim, as trincas formadas sintetizam aminoáci- dos específicos. Por exemplo, UUU corresponde à fenilalanina; UUA, ao aminoácido leucina. biologia B • aula 11 CURSINHO DA POLI 31 2 2 2 -3 A biotecnologia moderna, uma aplicação prática do conhecimento da ação gênica As pesquisas sobre a ação dos genes levaram ao desenvolvimento de técnicas e tecnologias que pro- piciaram resultados satisfatórios. Alguns produtos que permitem maior longevidade, como a insulina e a vacina contra o vírus causador da hepatite do tipo B, foram obtidos a partir do cultivo de linhagens de bactérias geneticamente modificadas. O princípio dessas técnicas é o da clonagem, que, como vimos nas aulas anteriores, pode ser assim resu- mido: selecionam-se organismos – vegetais, animais ou bactérias; isola-se e corta-se o DNA de interesse, usando a enzima de restrição; transfere-se esse DNA para bactérias, no caso os plasmídeos; os plasmídeos se reproduzem nas bactérias receptoras do DNA. Observe o esquema o seguir. multiplicação nova seleção de bactérias DNA produção de proteínas desejadas RNA (células receptoras com DNA enxertado) (célula receptora: plasmídeo de bactéria) (célula doadora) transferência cultivo Esquema de mutação gênica quando da duplicação do DNA. No caso, a substituição de uma base nitrogenada, a timina, por outra, a guanina, pode especificar a mudança de um aminoá- cido, alterando a forma e a função da proteína. A A C T T T A A C DNA – molécula d u p lic aç ão d o D N A proteína alterada T T G especifica Asparagina seqüência alterada "erro" especifica Treonina T G G A A C As mutações gênicas: erros de cópia do DNA Entende-se por mutações as alterações no material genético causadas espontaneamente ou induzidas pelos chamados agentes mutagênicos. Os agentes mutagênicos são identificados pelos estudiosos em categorias principais: 1) substâncias quí- micas sintéticas (inseticidas, fungicidas, corantes etc.); 2) substâncias químicas naturais em altas concentrações (cafeína, álcool, derivados do petróleo etc.); 3) radiações energéticas (raios-X, raio-gama, ultravioleta etc.); 4) ação direta de outros organismos sobre os genes (bactérias e vírus). Qualquer que seja o evento mutacional, ele deve necessariamente atingir o núcleo das células. Os efeitos da mutação gênica dependem de algumas circunstâncias, mas principalmente das células que fo- ram afetadas: se somáticas ou gaméticas. Por exemplo, altas doses de radiação nas células somáticas induzem a parada da divisão celular, e qualquer quantidade nas células gonadais produz gametas com mutações que podem afetar os descendentes. Quando o núcleo celular é atingido pelos processos de mutação, a molécula do DNA, ao duplicar-se, altera a sequência de bases nitrogenadas do nucleotídeo. Observe o esquema a seguir. As mutações podem ser vantajosas para os orga- nismos de uma população quando os capacitam a viver melhor no ambiente; do contrário, podem ser desvantajosas. Trata-se de mecanismos muito impor- tantes para os processos da evolução biológica, como veremos adiante, porque são os únicos que promovem o aparecimento de novos conjuntos gênicos a partir dos preexistentes. Exercícios 1. (Enem) A estratégia de obtenção de plantas transgê- nicas pela inserção de transgenes em cloroplastos, em substituição à transgenia clássica de inserção do transge- ne no núcleo da célula hospedeira, resultou no aumento quantitativo da produção de proteínas recombinantes com diversas finalidades biotecnológicas. O mesmo tipo de estratégia poderia ser utilizada para produzir proteínas recombinantes em células de organismos eucarióticos não fotossintetizantes, como as leveduras, que são usadas na produção comercial de várias proteínas recombinantes e que podem ser cultivadas em grandes fermentadores. Considerando a estratégia metodológica descrita, qual organela celular poderia ser utilizada para a inserção de transgenes em leveduras? a) Lisossomo. b) Mitocôndria. c) Peroxissomo. d) Complexo golgiense. e) Retículo endoplasmático. 2. (Enem) Em um laboratório de genética experimental, observou-se que determinada bactéria continha um gene que conferia resistência a pragas específicas de plantas. Em vista disso, os pesquisadores procederam de acordo com a figura. biologia B • aula 11 32 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -3 Adaptado de: http://ciencia.hsw.uol.com.br. Acesso em: 22 nov. 2013. Do ponto de vista biotecnológico, como a planta repre- sentada na figura é classificada? a) Clone. b) Híbrida. c) Mutante. d) Adaptada. e) Transgênica. Estudo orientado Exercícios 1. (Fuvest) Uma mutação responsável por uma doença sanguínea foi identificada em uma família. Abaixo es- tão representadas sequências de bases nitrogenadas, normal e mutante: nelas estão destacados o sítio de início da tradução e a base alterada. O ácido nucleico representado acima e o número de aminoácidos codificados pela sequência de bases, entre o sítio de início da tradução e a mutação, estão correta- mente indicados em a) DNA; 8. b) DNA; 24. c) DNA; 12. d) RNA; 8. e) RNA; 24. 2. (Enem) Os vegetais biossintetizam determinadas substâncias (por exemplo, alcaloides e flavonoides), cuja estrutura química e concentração variam em um mesmo organismo em diferentes épocas do ano e es- tágios de desenvolvimento. Muitas dessas substâncias são produzidas para a adaptação do organismo às va- riações ambientais (radiação UV, temperatura, parasitas, herbívoros, estímulo a polinizadores etc.) ou fisiológicas (crescimento, envelhecimento etc.). A variação qualitativa e quantitativa na produção dessas substâncias durante um ano são possíveis porque o material genético do indivíduo a) sofre constantes recombinações para adaptar-se. b) muda ao longo do ano e em diferentes fases da vida. c) cria novos genes para biossíntese de substâncias específicas. d) altera a sequência de bases nitrogenadas para criar novas substâncias. e) possui genes transcritos diferentemente de acordo com cada necessidade. 3. (Enem) O milho transgênico é produzido a partir da manipulação do milho original, com a transferência, para este, de um gene de interesse retirado de outro organismo de espécie diferente. A característica de interesse será manifestada em de- corrência a) do incremento do DNA a partir da duplicação do gene transferido. b) da transcrição do RNA transportador a partir do gene transferido. c) da expressão de proteínas sintetizadas a partir do DNA não hibridizado. d) da síntese de carboidratos a partir da ativação do DNA do milho original. e) da tradução do RNA mensageiro sintetizado a partir do DNA recombinante. 4. (Fuvest) Louis Pasteur realizou experimentos pioneiros em microbiologia. Para tornar estéril um meio de cultura, o qual poderia estar contaminado com agentes causa- dores de doenças, Pasteur mergulhava o recipiente que o continha em um banho de água aquecida à ebulição e à qual adicionava cloreto de sódio. Com a adição do cloreto de sódio, a temperatura de ebulição da água do banho, com relação à da água pura, era......... O aquecimento do meio de cultura pro- vocava........... As lacunas podem ser preenchidas corretamente, nessa ordem, por a) menor, rompimento da membrana celular das bac- térias presentes. b) maior, desnaturação das proteínas das bactérias presentes. biologia B • aula 11 CURSINHO DA POLI 33 2 2 2 -3 c) menor, alterações no DNA dos vírus e das bactérias. d) a mesma, desnaturação das proteínas das bactérias. e) maior, rompimento da membrana celular dos vírus. roda de leitura O genoma oculto No momento em que pensavam ter compreen- dido quase toda a configuração do DNA, cientistas estão descobrindo que existem nos cromossomos duas extensas, porém bem escondidas, camadas de informação que afetam a hereditariedade, o desen- volvimento e a saúde. Há cerca de 20 anos, os astrônomos se convence- ram de que as galáxias distantes moviam-se aleato- riamente, segundo as leis da gravidade e a estrutura dos objetos celestiais visíveis. Aos poucos, eles foram obrigados a concluir que o Universo não é tão vazio quanto parece e que, de fato, deve ser dominado por algum tipo de matéria escura. Apesar de não saber em que consiste ou como funciona, os cientistas puderam, por seus efeitos, observá-la. A busca pela compreensão da matéria escura significou revisar velhas teorias, mas isso deu novo impulso à astrofísica e à cosmologia. Uma revelação semelhante está sendo desvelada na genética molecular. Este ano [2003], os biólogos celebraram o 50o aniversário da descoberta da dupla hélice e o Projeto Genoma Humano anunciou sua conclusão do “rascunho final” do sequenciamento de DNA do Homo sapiens. Os cientistas tornaram-se, cla- ramente, mestres em DNA de laboratório. Mas, quando comparam o DNA de parentes de espécies distantes e observam de perto como os cromossomos funcionam nas células vivas, constatam, cada vez mais, efeitos que as teorias atuais não podem explicar. Pesquisadores têm divulgado novas evidências contradizendo as noções convencionais de que os ge- nes, aquelas regiões do DNA que codificam proteínas, são a única fonte da hereditariedade e o projeto acaba- do da vida. Tanto quanto a matéria escura influencia o destino de galáxias, partes escuras do genoma exercem controle sobre o desenvolvimento e as características de todos os organismos, de bactérias a humanos. O genoma abriga muitos outros atores além dos genes codificadores de proteínas. A extensão desse genoma oculto ainda não está clara, mas existem pelo menos duas camadas de informação além dos genes tradicionalmente conhe- cidos. Uma delas entrelaça as longas sequências não codificadoras do DNA que interrompem e separam os genes. Apesar de ter sido consideradas irrelevantes por não produzir proteínas, muitas dessas regiões se mantiveram basicamente intactas durante milhões de anos. Isso sugere que elas desempenham uma função indispensável. E, de fato, um grande número é transcri- to em uma variedade de RNAs, que realizam um leque de funções muito maior do que se poderia imaginar. Alguns cientistas suspeitam que muito do que faz uma pessoa ou espécie diferir da próxima são variações nas joias escondidas do DNA “refugo”. Acima e além da sequência de DNA, há uma outra camada muito mais maleável de informações nos cromossomos. Marcas “epigenéticas”, embutidas em uma mistura proteica e química que envolve, sustenta e adere ao DNA, operam por códigos ocultos e engrena- gens misteriosas. Diferentemente dos genes, as marcas epigenéticas são armazenadas, apagadas e reescritas durante o percurso. Enquanto as mutações duram toda uma vida, os erros epigenéticos – envolvidos com uma lista crescente de defeitos de nascença, câncer e outras doenças – podem ser reversíveis com drogas. Os perigos do paradigma A elaboração de uma teoria detalhada que expli- que como o DNA, o RNA e o mecanismo epigenético podem todos se ajustar num sistema autorregulador e sincronizado deve levar anos, talvez décadas. Mas não restam dúvidas de que uma nova teoria será necessária para substituir o paradigma que embasa a genética molecular desde a década de 1950. O paradigma central, como normalmente pro- posto, é bastante simples: o DNA produz RNA, o RNA produz proteína, e as proteínas fazem quase todo o trabalho genuíno da biologia. A informação está armazenada nas escadas torcidas do DNA, especifica- mente nas bases químicas (classificadas como A, T, G, e C), que se juntam aos pares para formar os degraus da escada. Um gene é simplesmente uma sequência específica de bases de um dos lados da escada que expressa uma proteína. “Quando afirmamos que um genoma humano contém cerca de 27 mil genes, referimo-nos a genes que codificam proteínas,” salienta Michel Georges, geneticista da Université de Liège, Bélgica. Apesar de esse número ainda ser uma suposição – as estimativas variam de 20 mil a 40 mil –, ele parece confirmar a ausência de uma correspondência clara entre a com- plexidade de uma espécie e o número de genes em seu genoma. Em organismos superiores, os genes “são fragmen- tados em sequências codificadoras de proteínas, nor- malmente separadas por extensas áreas de sequências não codificadoras”, explica John S. Mattick, da Univer- sity of Queensland, Brisbane, Austrália. Na verdade, os segmentos codificadores de proteínas correspondem a menos de 2% do DNA dos cromossomos humanos. Cerca de 3 bilhões de pares de bases presentes em biologia B • aula 11 34 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -3 praticamente cada célula encontram-se ali por outra razão qualquer. Ainda assim, os íntrons no interior dos genes e dos longos espaços do DNA intergênico foram imediatamente tachados de refugo evolutivo. Conclusão precipitada Essa conclusão foi muito precipitada. “Nós cons- tatamos cada vez mais a existência de uma grande coleção de genes que, apesar de não codificar uma proteína, são evidentemente funcionais ao produzir apenas RNA”, explica Georges. O termo “gene” sempre foi vagamente definido, e esses que só produzem RNA confundem mais ainda seu significado. Claes Wah- lestedt, do Karolinska Institute, Suécia, afirma que a tendência é não falarmos mais de “genes”, mas nos referirmos a qualquer segmento que é transcrito (para RNA) como uma “unidade de transcrição”. Baseados nas análises detalhadas do genoma do camundongo, “estimamos que deve haver entre 70 mil e 100 mil”, anunciou Wahlestedt, do International Congress of Genetics, em Melbourne. “Metade disso facilmente poderia ser não codificador.” Se isso for verdade, então, para cada sequência de DNA que gera uma proteína, uma outra funciona apenas por formas ativas de RNA – formas que não seriam proje- tos intermediários para proteínas, mas que alteraram diretamente o comportamento das células. O que é verdadeiro para o camundongo é também, provavelmente, para humanos e outros animais. Um grupo de cientistas do National Human Genome Rese- arch Institute (NHGRI) comparou porções de genomas de humanos, vacas, cães, porcos, ratos e outras sete espécies. A análise por computador trouxe à tona 1 194 segmentos que apresentam apenas pequenas altera- ções em várias espécies, uma forte indicação de que as sequências contribuem para o bom estado evolutivo da espécie. Para surpresa dos pesquisadores, só 244 segmentos se localizavam dentro da região codifica- dora de proteína do DNA. Dois terços das sequências preservadas se constituíam de íntrons, e o restante estava disperso entre o “refugo” DNA intergênico. “Acredito que isso irá se tornar uma história clássica da ortodoxia arruinando, por um quarto de século, nes- se caso, a análise objetiva dos fatos”, comenta Mattick. A falha em reconhecer tudo o que isso implica, particu- larmente quanto à possibilidade de a intervenção das sequências não codificadoras poder estar transmitindo informações paralelas na forma de moléculas de RNA, pode muito bem ser considerada um dos maiores erros na história da biologia molecular. W. Way Gibbs, Scientific American Brasil, dez. 2003. (adaptado) Atividade: Identificando pessoas pelo DNA Nesta atividade, você aplicará os princípios da identificação de pessoas pelo DNA na solução de duas questões judiciais. Em uma delas, identificará um crimi- noso entre três suspeitos e, em outra, descobrirá quem é o pai de uma criança. A seguir, estão representados segmentos de DNA de cinco pessoas (P-1 a P-5). Cada uma tem dois segmentos, correspondentes a um par de cromossomos homólogos (Ca e Cb). 22 21 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 N ú m er o d e p ar es d e b as es p o r fr ag m en to P-1 P-2 P-3 P-4 P-5 José Mariano Amabis e Gilberto Rodrigues Martho, Temas de Biologia. São Paulo: Moderna, 1995. N0 1. Leia as orientações e tente resolver a atividade proposta. As sequências de bases dos homólogos podem ser ligeiramente desiguais em função da diferença entre os genes alelos. O primeiro passo para a análise do DNA é cortá-lo com uma enzima de restrição hipotética que, nesse exemplo, reconhece a sequência de dois pares de bases C – G adjacentes (dois C em uma cadeia e dois G na outra). Para facilitar, essas “sequências de corte” estão desta- cadas no DNA. Localize, nos dois segmentos de DNA de cada pessoa, todas as sequências de corte. Marque-as a lápis com um traço horizontal, de modo a separar um par C – G do par C – G adjacente. O passo seguinte é organizar os fragmentos obtidos por ordem de tamanho. Para isso, conte o número de pares de bases de cada fragmento e preencha o gráfico, biologia B • aula 11 CURSINHO DA POLI 35 2 2 2 -3 na parte inferior esquerda da figura. Cada coluna do gráfico simula o padrão eletroforético de uma pessoa, onde os fragmentos de DNA se distribuem em faixas por ordem de tamanho. A título de exemplo, a coluna corres- pondente ao padrão da pessoa P-5 já está preenchida. CA P-1 P-2 P-3 P-4 P-5 CA CA CA 1 19 12 17 18 1 1 15 4 12 21 10 1 4 CACB CB CB CBCB C G-C C G C G G CG C C- C G C G C G C G C G C G C G G C G C C G C G C G C G G C C-G C-G C-G C-G C-G C-G G-C G-C C-G C-G G-C G-C C G C G C-G C-G C G C G C G -G -G -G G C G-C -C G-C C-G C-G C-G C-G C-G C-G C-G G-C G-C C G C G G-C G C G C G C C G C G G C G-C G-C C-G C-G C-G C-G G-C G-C C-G C-G G-C G-C C G C G C G C G C G C G C G C G C G C G G C G C C G C G C G C G G C C G -G C G -G -G C G - G-C C-G C-G C-G C-G C-G C-G C-G C-G G-C G-C C-G C-G G-C G-C C-G C-G C-G C-G C-G C-G C-G C-G G-C G-C C-G C-G G-C G-C G - - - - - - - - - - - - - - A-T T-A T-A A-T A-T A-T T-A C-G G-C C-G T-A A-T G-C A-T T-A T-A A-T G-C A-T G-C T-A A-T A-T G-C T-A A-T T-A A-T G-C A-T T-A C-G G-C A-T A-T T-A G-C A-T A-T T-A G-C C-G A-T T-A T-A A-T C-G T-A A-T C-G A-T T-A - - - - - C C - - - A-T T-A T-A A-T A-T A-T T-A C-G G-C C-G T-A A-T G-C A-T T-A T-A A-T G-C A-T A-T T-A A-T A-T G-C T-A A-T T-A A-T G-C A-T T-A C-G G-C A-T A-T T-A G-C A-T T-A C-G A-T T-A G-C C-G A-T T-A T-A A-T C-G T-A G-C C-G A-T T-A - - - - - - - - - - A-T T-A T-A A-T A-T A-T T-A C-G G-C C-G T-A A-T G-C T-A C-G A-T T-A T-A A-T G-C A-T A-T T-A A-T T-A C-G T-A A-T T-A A-T G-C A-T T-A C-G G-C A-T A-T T-A G-C A-T T-A C-G A-T T-A G-C C-G A-T T-A T-A A-T C-G T-A G-C C-G A-T T-A - - - - - - - - - - - - - - - A-T T-A T-A A-T A-T A-T T-A C-G G-C C-G T-A A-T G-C A-T T-A T-A A-T G-C A-T A-T T-A A-T A-T G-C T-A A-T T-A A-T G-C A-T T-A C-G G-C A-T A-T T-A G-C A-T A-T T-A G-C C-G A-T T-A T-A A-T C-G T-A A-T C-G A-T T-A - - C C - C-G C-G A-T T-A T-A A-T A-T A-T T-A C-G G-C C-G T-A A-T G-C T-A C-G A-T T-A T-A A-T G-C A-T A-T T-A A-T A-T G-C T-A A-T T-A G-C A-T A-T G-C A-T T-A C-G G-C A-T A-T T-A G-C A-T A-T T-A G-C C-G A-T T-A C-G T-A T-A A-T C-G T-A G-C C-G A-T T-A A-T T-A T-A A-T A-T A-T T-A C-G G-C C-G T-A A-T G-C A-T T-A T-A A-T G-C A-T A-T T-A A-T A-T G-C T-A C-G T-A A-T T-A A-T G-C A-T T-A C-G G-C A-T A-T T-A G-C A-T T-A C-G A-T T-A G-C C-G A-T T-A T-A A-T C-G T-A G-C C-G A-T T-A A-T T-A T-A A-T A-T A-T T-A C-G G-C C-G T-A A-T G-C T-A A-T T-A T-A A-T G-C A-T G-C T-A A-T A-T G-C T-A A-T T-A G-C A-T A-T G-C A-T T-A C-G G-C A-T A-T T-A G-C A-T A-T T-A G-C C-G A-T T-A C-G T-A T-A A-T C-G T-A A-T C-G A-T T-A A-T T-A T-A A-T A-T A-T T-A C-G G-C C-G T-A A-T G-C T-A C-G A-T T-A T-A A-T G-C A-T G-C T-A A-T A-T G-C T-A A-T T-A A-T G-C A-T T-A C-G G-C A-T A-T T-A G-C A-T A-T T-A G-C C-G A-T T-A C-G T-A T-A A-T C-G T-A G-C C-G A-T T-A A-T T-A T-A A-T A-T A-T T-A C-G G-C C-G T-A A-T G-C T-A C-G A-T T-A T-A A-T G-C A-T A-T T-A A-T A-T G-C T-A A-T T-A A-T G-C A-T T-A C-G G-C A-T A-T T-A G-C A-T A-T T-A G-C C-G A-T T-A C-G T-A T-A A-T C-G T-A G-C C-G A-T T-A A-T T-A T-A A-T A-T A-T T-A C-G G-C C-G T-A A-T G-C A-T T-A T-A A-T G-C A-T A-T T-A A-T A-T G-C T-A A-T T-A A-T G-C A-T T-A C-G G-C A-T A-T T-A G-C A-T T-A C-G A-T T-A G-C C-G A-T T-A T-A A-T C-G T-A G-C C-G A-T T-A A seguir, responda às questões. Quem é o criminoso? Restos de pele encontrados sob as unhas de uma pessoa assassinada foram submetidos ao teste de DNA, revelando o padrão eletroforético P-5. Três pessoas, P-1, P-2 e P-3, suspeitas do crime, também foram submetidas ao teste de DNA. Qual é a provável culpada? Quem é o pai da criança? Dois homens, P-1 e P-2, disputam a paternidade de uma criança, P-4, filha da mulher P-3. Com base no teste de DNA dos quatro implicados, quem é o provável pai da criança? pesquisar e ler Vimos nestas aulas os conhecimentos mais recen- tes sobre a estrutura e a função dos genes. O trabalho ordenado dessas informações promoveu as chamadas técnicas de manipulação e transferência de genes entre alguns organismos, mas é preciso refletir e discutir os aspectos inerentes à vida, à saúde e à morte dos seres humanos. É o que propõem Marco Segre e Cláudio Cohen no livro Bioética (São Paulo: Edusp, 2001), que pontua, como gostam de dizer os autores, a ética do ser contrastando com a moral do dever ser. Os pesquisa- dores também destacam a importância de se criar uma bioética fincada no desenvolvimento da personalidade, passando, antes de tudo, pela autonomia do indivíduo, que ajustará, consequentemente, suas necessidades às de seus parceiros na sociedade em que vive. navegar Se você tem acesso à internet, visite o site www.odnavaiaescola.com/pghfilme.html. Os assuntos estudados neste caderno sobre o DNA e suas proprie- dades (duplicação, replicação e tradução) são tratados numa animação que se projeta em três dimensões. Use esse recurso como ferramenta auxiliar na apreensão das bases teóricas desse conhecimento e na resolução dos exercícios – e, é claro, divirta-se. ágora Francis-Collins, diretor do Projeto Genoma Hu- mano, prevê que em 20 anos homem interferirá no patrimônio genético. Folha de S. Paulo, 9 fev. 2001. Estudo do DNA reacende falsa esperança de que os genes expliquem essência da natureza humana. Folha de S. Paulo, 25 fev. 2001. A receita do humano está em seus genes? 36 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -3 gabarito aula 8 1. a 2. e 3. b aula 9 1. a 2. a 3. a aula 10 1. c 2. d aula 11 1. d 2. e 3. e 4. b orientação didática CURSINHO DA POLI ORIENTAÇÃO DIDÁTICA • 1 2 2 2 -3 Apresentação geral Caro(a) professor(a), O ensino de Biologia nos últimos tempos tem se preocupado com um aprendizado mais dinâmico, rela- cionando o cotidiano, a história das ciências, as outras disciplinas e a realidade socioeconômica e cultural. As novas propostas e iniciativas (incluídas técnicas e tecnologias) e o entendimento dos sistemas ecológicos e biológicos do nosso planeta e do cosmos opõem-se à memorização e à excessiva carga de conceitos sem o devido entrelaçamento. Um convite à participação O Cursinho da Poli e a equipe de Biologia têm procura- do ações que traduzam uma prática com o compromisso não só de preparar para os exames vestibulares, mas para o desenvolvimento da consciência, das competências, das habilidades, enfim, do que se espera de um cidadão autônomo e responsável pela construção de uma socie- dade mais justa. Não esgotamos todas as possibilidades nos cadernos, ao contrário, esperamos suas valiosas sugestões para, juntos, compormos um material que atenda às necessidades de todos nós. Mas esteja certo de que foram feitos com muito amor, e esperamos que eles não sejam o ponto de chegada, mas de partida. A ideia central dos cadernos de Biologia Uma das preocupações na concepção dos cadernos de Biologia é oferecer oportunidades para os alunos estudarem com base no domínio de alguns elemen- tos conceituais que ampliem os caminhos do debate, da reflexão e das alternativas na busca de soluções. Pensamos nos alunos trilhando algo semelhante a uma espiral de conceitos / conhecimentos – de base pequena e ápice bem largo. Assim, os tópicos vão sendo desenvolvidos em ordem gradativa e crescente; às vezes se repetem, mas aumentam sua dificuldade e sua com- plexidade. Em alguns momentos, é necessário transpor obstáculos (exercícios, testes, simulados etc.). A parte avaliativa do processo é muito importante. Nós tam- bém temos que informar nossos alunos sobre o caráter pedagógico do erro. Nós, assim como eles, sempre po- demos tirar coisas positivas dos desacertos... A dinâmica das aulas Nos cadernos de Biologia, em cada aula são encon- tradas atividades que levam os alunos à reflexão. São perguntas que não têm resposta única, mas que induzem a uma parada momentânea: é o elemento-surpresa da aula, que tenta resgatar as experiências vividas, os conceitos / conteúdos apreendidos até ali e introduzir ou fechar um assunto. Outro aspecto do material é a inserção de boxes para preenchimento. Essa estratégia visa a tirar os alunos da passividade e colocá-los em exercício mental-motor; também contribui para a fixação da matéria, já que exige um tempo para se processarem e acomodarem as informações. Acreditamos que um bom processo de ensino-aprendi- zagem deve mostrar um fato em diferentes perspectivas. Pensando nisso, acrescentamos atividades como textos complementares, indicações de filmes em vídeo e dvd, passeios educativos etc. Para finalizar Finalmente, o Cursinho da Poli e a equipe de Biologia colocam-se à inteira disposição do amigo professor e de seus alunos para a troca de experiências que decerto podem ser agregadas ao material. Um abraço, Futema Bibliografia de apoio ABRAMOVICH, Fanny. Quem educa quem?. 9. ed. São Paulo: Summus, 1985. AMERICAN INSTITUTE OF BIOLOGICAL SCIENCES. Biological Sciences Curriculum Study. Biologia das Moléculas ao Homem (texto organizado pelo BSCS, adaptado pela equipe da Funbec, com a colabora- ção dos Centros de Treinamento de Professores de Ciências – Versões Verde, Azul e Amarela.). São Paulo: Edart-Funbec, 1974. BARBIERI, Edison. Biodiversidade: capitalismo verde ou ecologia social?. São Paulo: Cidade Nova, 1998. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação – Brasília: MEC/ SEF, 1997. CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix-Amaná Key, 1996. CHARLES, C. M. Piaget ao alcance dos professores; trad. Ingeborg Strake. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1975. DAMPIER, Sir William Cecil (1867 – 1952) História da Ciência; trad. de José Reis. 2. ed. São Paulo: Ibrasa, 1986. DELIZOICOV, Demétrio, José André Peres Angotti. Meto- dologia do Ensino de Ciências, 2. ed. São Paulo: Cortez, 1992 (Coleção Magistério 2o Grau. Série Formação do Professor). caderno 3 biologia B biologia B • extensivo 1 2 • ORIENTAÇÃO DIDÁTICA CURSINHO DA POLI 2 2 2 -3 GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais – rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Ale- gre: Artmed, 1997. GROSSI, Esther. A coragem de mudar em educação. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. KHUN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1975. KRASILCHIK, Myriam. Prática de Ensino de Biologia. São Paulo: Harbra, 1986. RATHS, L. E.; JONAS, A.; ROTHSTEIN, A. M.; WASSERMANN, S.. Ensinar a Pensar. 2. ed. São Paulo: EPU, 1977. Revistas indicadas Ciência Hoje Ciência Hoje das Crianças Caminhos da Terra Journal of Biological Education (inf. Clare Chattham / Institute of Biology, 20-22 Queensberry Place, London SW7 2DZ, UK) National Geographic Brasil – Editora Abril Scientific American Brasil – Editora Duetto Sites Arte e Ciência: www.nationalgeographicbr.com.br Biologia USP: http://www.ib.usp.br Ciência: www.sciam.br Ciência Hoje: http://www.ciencia.org.br Ed. Moderna: http://www.moderna.com.br Educar: http://www.projetoeducar.com.br Nature: http://www.nature.com Science Online: http://www.sciencemag.org Sites de Ciências: http://www.quasar.com.br/ibr/ cienciascanaveral lab/6969/bemvindo.html USP: http://www.usp.br aula 8 A energia que mantém e sustenta os seres vivos O assunto carboidratos tratado em aulas anteriores abriu a perspectiva de trabalhar os processos biológi- cos da fotossíntese e da respiração celular. Nessa aula, vamos discutir a fotossíntese como importante fenô- meno que modificou a atmosfera da Terra, alterando os rumos da evolução biológica com o surgimento dos organismos aeróbios. Num primeiro momento, é melhor evitar a trama das complexas reações químicas, que gera ansiedade e afugenta os alunos. Partimos da equação química – já conhecida dos estudantes; depois, desenhamos no quadro a folha para mostrar que é o órgão-sede do processo e explorar, então, a célula e o cloroplasto, em corte, dando evidência às lamelas e ao estroma. Vale uma síntese das etapas fotoquímica e química, alertando os alunos para os termos "fase de claro e fase de escuro" utilizados em alguns exames. A resolução comentada das tarefas é imprescindível para a construção do conhecimento e da autonomia. Convém explorar o entendimento do ATP como a moe- da energética utilizada pelos seres vivos, conforme proposto, o que ajudará quando tratarmos da respiração celular. Construído o conhecimento do processo da fotos- síntese, podemos avançar na discussão tomando como base o eixo evolutivo, isto é, trabalhando a fotossíntese bacteriana e a quimiossíntese, fenômenos que também promovem a síntese de carboidratos, mas usam recursos diferentes do ambiente, comparados aos vegetais. gabarito 1. e 2. b aula 9 O processo da respiração celular produz ATP Começamos o estudo da respiração celular a partir da equação química; desenvolvemos o assunto no plano microscópico – representando a mitocôndria, e no plano molecular, destacando as fases da glicólise, o ciclo de Krebs e a cadeia transportadora de elétrons. Muitos alunos têm dificuldade de compreender essas passagens; se for o caso, retome-as, mas cuidado com o excesso de profundidade; lembre que no programa da Fuvest não são pedidos detalhes dos processos. O entendimento deve ser mais panorâmico, enfatizando que a glicose é moída em etapas das quais se retira a energia que forma o ATP. Usando a equação química transcrita no quadro, chame a atenção para a participação do gás oxigênio no processo da respiração celular (como o aceptor final dos íons de hidrogênio) e a consequente formação da água. Compare a respiração com outros processos ener- géticos como a fermentação e a respiração anaeróbica, conforme o texto da aula. A relação entre os fenômenos da fotossíntese e da respiração, trabalhados a partir da análise de gráficos, é a oportunidade para avançar no entendimento das importantes reações químicas que mantêm os seres vivos e de seus desdobramentos. biologia B • extensivo 1 CURSINHO DA POLI ORIENTAÇÃO DIDÁTICA • 3 2 2 2 -3 gabarito 1. d 2. b aula 10 Como se armazena e processa a informação hereditária Nessas aulas, trabalhamos a natureza química do material genético, o ácido nucleico do tipo desoxirri- bonucleico, o DNA (ou ADN). Antes, retomamos o que foi estudado nas aulas anteriores sobre a estrutura do núcleo eucariótico, os filamentos de cromatina e dos cromossomos, integrando os assuntos. Logo de início, apresenta-se um gráfico da quanti- dade do DNA nos diferentes grupos de organismos. Ele ajuda os alunos a refletirem sobre a base química do longo processo evolutivo. Soma-se, assim, aos tópicos estudados na Bio A, que trata mais especificamente da classificação, das estruturas anatômicas e fisiológicas dos seres vivos. Trabalhe o conhecimento das funções do DNA – a replicação e a transcrição (a tradução será vista nas duas aulas seguintes) – pelo comentário à resolução dos exercícios de sala de aula. Com paciência, dê aos estu- dantes o tempo necessário para o domínio do assunto, estimulando a autoestima e a confiança. No plano da história da Ciência, apresenta-se um texto sobre a descoberta do material hereditário por F. Griffith pesquisando bactérias. O texto mais o conteúdo das aulas permitem pensar a evolução biotecnológica para compreender melhor os transgênicos, tratados no final. Para completar o debate, vale indicar a roda de leitura, sobre o Projeto Genoma Humano. gabarito 1. d 2. a aula 11 O mecanismo da síntese de proteínas: o código genético em ação Ficaram para estas aulas a ação do DNA na tradução das proteínas e o código genético envolvido. Em aulas anteriores, foram estudadas as estruturas membranosas do citoplasma na construção e no armazenamento das proteínas: ribossomos, retículo endoplasmático, Golgi. Vamos ver agora como as proteínas são montadas, traduzindo-se numa linguagem, isto é, de nucleotídeos passam a aminoácidos, sob o comando do DNA. Comece as aulas com problematizações: ajuda na contextualização – por exemplo, se uma célula, após a fertilização, dá origem a bilhões delas na formação de um novo ser humano, por que as células musculares não conduzem o impulso elétrico nervoso ou produzem pelos? Partindo desse ponto de vista, podemos trabalhar o entendimento biomolecular e a dinâmica metabólica, mas sem preocupação com os detalhes, que podem ser encontrados no texto de aula. gabarito 1. d 2. e biologia B aula 12 CURSINHO DA POLI 1 2 2 2 -4 00 16 Seguir o processo das células se dividindo é testemu- nhar um dos mais dramáticos fenômenos biológicos. Carl P. Swanson, A célula, 1972. Os seres vivos crescem produzindo novas células por um período de tempo. Por exemplo, uma árvore pode ter seu tempo de crescimento a cada primavera, com as células se dividindo nas extremidades dos galhos e das raízes e abaixo da casca. Esse processo leva à expansão em comprimento e contribui para o aumento da circunferência do vegetal. C o re l S to ck P h o to O crescimento dos seres vivos resulta do aumento do número de células e da construção da matéria viva, as proteínas. Num mamífero, podemos encontrar atividade per- manente de divisão celular na pele e nas regiões dos ossos. Já as células nervosas têm pouca ou nenhuma capacidade de divisão – quando se perdem, não podem ser substituídas; embora possam ser experimentalmen- te induzidas à divisão, segundo especialistas. Qual das células, A ou B, está crescendo pelo aumen- to do número? Que mecanismos possibilitam a divisão das células? As informações hereditárias contidas nas células-filhas são idênticas às da célula que as gerou? A B cé lu la s Quadro esquemático do crescimento celular. Em A, o cresci- mento é promovido pelo aumento do número das células; em B, o crescimento da célula é devido ao aumento do tamanho. A continuidade da vida através da divisão da célula Quantas células, aproximadamente, você acha que o corpo humano tem? a) 10 b) 105 (100 mil) c) 108 (100 milhões) d) 1014 (100 trilhões) Se arriscou um palpite na alternativa d (100 000 000 000 000 células), acertou. Os seres vivos de células eucarióticas compartilham basicamente do mesmo processo de divisão celular que permite a continuidade da vida. É comum, ainda, entendermos a divisão celular num sentido mais restrito, identificando-a apenas com a mito- se. Mas convém dar ênfase aos processos de divisão da célula que integram um ciclo: a duplicação (intérfase) e a distribuição (mitose) do conteúdo nuclear, e a divisão do citoplasma (citocinese). Os principais eventos da divisão da célula se passam no núcleo. Assim, a mitose é um conjunto de passos no qual uma célula produz duas células-filhas, assegurando a exata reprodução da quantidade e da qualidade da informação hereditária contida no núcleo. A união dos gametas dá início à formação de um novo organis- mo, após as sucessivas divisões celulares. realizada em Saturno. Este novo milênio começa com a expectativa de que, ainda nas primeiras décadas, serão detectados planetas extras- solares semelhantes à Terra. Fora do Brasil, as pesquisas exobiológicas vêm tomando corpo nos últimos anos, em laboratórios dedicados ao tema. Já há um curso de pós-graduação nessa área oferecido pela Universidade de Washing- ton, em Seatle. Explorando a interdisciplinaridade da exobiologia, programas de ensino básico vêm sendo implantados e desenvolvidos. Aqui no Brasil, porém, esse assunto está ausente nos programas de pes- quisa e pós-graduação em astronomia. As possíveis razões desse estado de coisas foram objeto de uma comunicação feita no ano passado, num encontro SETI realizado no Museu de Astronomia e Ciências Afins, no Rio de Janeiro. A comunicação intitulada “A strategy for SETI in Brasil” pode ser encontrada em HTTP://www.toucan.iwarp.com/meeting.htm. A es- quiva ou a aversão ao tema é certamente catalisada pela reputação justificadamente depreciativa de um certo tipo de ufologia. Mas a interdisciplinaridade da exobiologia também desafia a atual tendência espe- cializante e compartimentada da atividade acadêmica nas nossas universidades. [...] Oscar Toshiaki Matsuura. Vida Extraterrestre, capítulo 13. In: O que é vida? Para entender a biologia do século XXI. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000, p. 273. Mauro J. Cavalcanti. http://toucan.iwarp.com pesquisar e ler A evolução da vida, de Catherine Jarman, faz um panorama geral da diversidade e da evolução da vida, numa sequência didática: primeiro, as células; depois, os animais invertebrados, os vertebrados e, no final, os vegetais. Aborda algumas teorias antigas, pontuando o processo histórico do pensamento da evolução. De muito proveito para o nosso curso é a relação que se estabelece com a citologia (o estudo da célula) e a genética (estudo da herança biológica). O livro tem ape- nas 155 páginas e muitas ilustrações coloridas. O formato pocket book (livro de bolso) facilita seu manuseio: você pode levá-lo a um piquenique, sem sobrecarregar a mochila. (São Paulo: Melhoramentos / Edusp, 1974. Série Prisma - o conhecimento em cores.) Nestas aulas, trabalhamos temas importantes da diver- sidade biológica na perspectiva da evolução, mas não foi possível aprofundar questões ambientais ou ecológicas. O livro Nosso planeta está morrendo – a extinção das espécies, de Jon Erickson, proporciona um melhor entendimento da importância da conservação dos ambientes naturais para a preservação das espécies. Além disso, contribui para abrir e fomentar a discussão referente às primeiras aulas de biologia A. São quase 250 páginas, com algumas fotografias e ilustrações esquemáticas que ajudam na interpretação do texto. No final, há um glossário e uma lista de leituras complementares. (São Paulo: McGraw-Hill, 1992.) navegar www.biota.org.br Disponibiliza o programa de pesquisas em carac- terização, conservação e uso sustentável da biodivesi- dade, com ênfase no estado de São Paulo. O resultado é a articulação da comunidade científica em torno das premissas da convenção sobre a diversidade biológica, assinada durante a Eco-92. biologia B • aula 1 8 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -1 www.museuvirtual.unb.br O Museu Virtual de Ciências e Tecnologia da Univer- sidade de Brasília promove o acesso democratizado das culturas artística, científica e tecnológica, despertando o interesse pelo conhecimento. ágora Optamos por explorar a investigação espacial na Roda de leitura não só para conhecer a capacidade de sofisticação do saber científico e tecnológico acumulado, mas também pela possibilidade de encontrar manifes- tações da vida ainda não conhecidas pela humanidade. Esse ramo de pesquisa denominado exobiologia vem crescendo muito nos países desenvolvidos. Uma das questões que se coloca é: estamos sós no Universo? A resposta é que não sabemos e, provavelmente, nunca saberemos. Paul Amos Moody. Introdução à Evolução. Tradução Silvia Lobato Paraense Walty. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1975. A descoberta de liquens em minúsculos poros da parte inferior de rochas da Antártida levou a conjec- turas de que idênticas formas de vida poderiam ser encontradas em Marte. As coletas de amostra de solo realizadas pelas sondas Viking no final da década de 1970 indicaram que o planeta já pode ter abrigado organismos vivos. Jon Erickson. Nosso planeta está morrendo – a extinção das espécies, a biodiversidade. Trad. José Carlos Barbosa dos Santos. São Paulo: Mokron, McGraw-Hill, 1992. A ausência de sinais de civilizações extraterrestres não prova que elas não estejam lá, que não tenham estado ou que não venham a estar um dia, mas é profundamente incômoda, como as sereias de [Franz] Kafka, que “têm uma arma ainda mais fatal que seu canto, que é seu silêncio.” Eduardo Dornelles Barcelos e Jorge Alberto Quillfeldt. Revista Scientific American (edição Brasil), dez. 2003. senha Todos os seres vivos têm demandas comuns cuja satisfação é necessária à sobrevivência e à continuida- de da espécie. Podemos identificar sistemas funcionais gerais que garantem aos mais diferentes organismos a aquisição desses recursos? CURSINHO DA POLI 9 2 2 2 -1 2 2 2 -1 aula 2 A célula como componente do corpo não é só uma unidade visivelmente demarcada, mas uma unidade de vida centrada em si mesma. Dirige sua própria vida [...] A célula é uma unidade de vida, e nossa vida, que por sua vez é uma vida unitária, consiste totalmente de vidas celulares. Erwin Schrödinger. O que é vida? Aspecto físico da célula viva. Seguido de mente e matéria e fragmentos autobiográficos. São Paulo: Unesp, 1997. Com exceção dos vírus, todos os seres vivos são constituídos por unidades básicas chamadas células. Nos organismos multicelulares, as células arranjam- se hierarquicamente para formar os tecidos. Por exem- plo, os meristemas de crescimento, nos vegetais, e os ossos, nos animais. Os tecidos, por sua vez, reúnem-se para formar órgãos como a raiz, num vegetal, ou o esque- leto, num animal. Os órgãos, trabalhando em conjunto, formam os sistemas ou aparelhos do corpo (sistemas de transporte da seiva bruta e elaborada, no vegetal, ou o sistema locomotor e muscular, no animal). Todos juntos compõem o ser vivo. A responsabilidade funcional das células diz respeito à fotossíntese, à respiração, à excre- ção, à reprodução etc. Para conhecer os mecanismos que sustentam e man- têm a vida dos seres vivos, é necessário compreender a unidade que os compõe e seu ambiente. Por isso, neste caderno e nos demais, estudaremos a célula. Os padrões celulares Com o aprimoramento das técnicas microscópicas, identificaram-se padrões na organização estrutural das células. Elas foram separadas em procarióticas (do grego pro = primeiro, primitivo e carion = núcleo) e eucarióticas (do grego eu = verdadeiro e carion = núcleo). O principal critério para distinguir células procarió- ticas de eucarióticas é a presença ou a ausência de uma película que envolve o material genético, a membrana nuclear ou carioteca (do grego teca = que guarda ou protege). Ainda não é hora de estudar com profundidade a estrutura e o funcionamento celular. Por enquanto, vamos comparar células procarióticas e eucarióticas para aprender a reconhecê-las e, aos poucos, nos iremos familiarizando com alguns conceitos. Todas as células têm características comuns. Por exemplo, precisam obter alimento, produzir energia e construir proteínas, substâncias essenciais à vida. Além disso, devem coordenar todas essas atividades. Para qualquer padrão celular, as estruturas mínimas são: 1. membrana plasmática: o envoltório limitante da célula; regula as trocas de substâncias entre o meio interno e o externo. 2. hialoplasma ou citoplasma: o interior celular, for- mado por uma solução (mistura) de substâncias, por exemplo, água, sais minerais, Mesmo após cessar o crescimento do organismo, diversos tipos de célula continuam a se dividir, substituindo as que morrem. A diversificação das células originando tecidos é conhecida como diferenciação celular. biologia B • aula 12 2 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -4 No nível molecular, a duplicação do DNA correspon- de à reprodução da quantidade e da qualidade da infor- mação genética; já a distribuição requer modificações morfológicas nos fios cromatínicos que, como vimos, se transformam nos cromossomos. membrana plasmática carioteca cromatina cromossomos duplicados separação dos braços dos cromossomos (cromátides) divisão citoplasmática células-filhas célula-mãe citoplasma esquema básico da mitose Quadro apresentando o resumo da divisão da célula e o processo da distribuição da carga cromossômica às células- -filhas. Observe que, após a duplicação dos cromossomos, as cromátides se separam, dirigindo-se para lados opostos. O evento da síntese do DNA: a intérfase A intérfase é o evento do processo que antecede a repartição do material genético entre as células-filhas. Esse evento muito importante caracteriza-se pela du- plicação do conteúdo nuclear, isto é, os fios cromatínicos tornam-se duplos. Por meio de estudos citoquímicos e de microscopia avançada, os pesquisadores puderam identificar na intérfase os seguintes períodos: • período G1 (G de gap, em inglês, intervalo): conhecido como pós-mitótico e pré-sintético de DNA; • período S (S de síntese): período de intensa atividade celular no qual é sintetizado o DNA (duplicação); • período G2: conhecido como pós-sintético e pré- -mitótico. Experimentos demonstraram que na intérfase as ati- vidades metabólicas da célula diminuem, especialmente a transcrição (síntese de RNA) e a produção proteica. O evento da distribuição do conteúdo nu- clear: a mitose A mitose é o evento do processo em que acontece a distribuição do material nuclear às células-filhas. Com fins de análise e também didáticos, a mitose é subdividida em fases, mas é natural que o processo seja contínuo. Fases da mitose e suas principais ocorrências em célula animal (acompanhe as ilustrações durante a leitura): prófase (pro = primeiramente; fasis = aparição, em grego): esquemas 1, 2 e 3 – os fios cromatínicos estão dupli- cados e em atividade de condensamento por espiralização. Observa-se o desaparecimento do nucléolo e da carioteca. Nessa fase, acontecem a duplicação e o afastamento dos pares de centríolos que, acredita-se, fazem aparecer as fibras do áster e do fuso acromático. (Nos vegetais, forma- -se o fuso mas não se observam os centríolos). biologia B • aula 12 CURSINHO DA POLI 3 2 2 2 -4 metáfase (meta = mais adiante, em grego): esque- mas 4 e 5 – os cromossomos (duplicados), bem visíveis nesse momento, atingem o máximo condensamento; encontram-se presos às fibras do fuso pelo centrômero no plano equatorial da célula. anáfase: esquema 6 – com a duplicação dos cen- trômeros, os braços dos cromossomos – as cromátides – começam a deslizar pelas fibras do fuso, dirigindo-se aos polos opostos da célula. telófase (telos = fim, em grego): esquemas 7 e 8 – cada conjunto cromossômico chega a um polo. As fibras do fuso tornam-se muito curtas e desaparecem, assim como as fibras do áster. Sabe-se que nesse momento os cromossomos iniciam um processo de desespirali- zação e, ao final dessa fase, não são mais visíveis. Outro fenômeno é a reconstituição da carioteca e do nucléolo. A célula começa a se dividir com uma progressiva inva- ginação da membrana plasmática, que estrangulará o citoplasma, acabando por clivá-la – é a citocinese. célula com 2 cromossomos célula com 2 cromossomos célula (tipo) revestimento do intestino de rato raiz vegetal ósseas (precursoras) mitose 1 2 a 6 3 G1 9 5 a 15 25 S 7 10 a 30 8 G2 1 a 5 3 a 9 3 Fonte: L. C. U. Junqueira & J. Carneiro. Biologia Celular e Molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983. Duração, em horas, da mitose e dos períodos da intérfase O evento da divisão do citoplasma: a citocinese A citocinese é a fase da divisão do citoplasma que já foi parcialmente abordada na telófase da mitose: na célula animal, forma-se uma dobra ou invaginação da membrana plasmática chamada sulco de divisão. Ao final dessa fase, todos os componentes citoplasmáticos são distribuídos para as células-filhas em partes aproximadamente iguais. A citocinese das células vegetais difere da citocinese das células animais porque suas paredes são bastante rígidas. Nesse caso, surge uma placa celular formada pela fusão do aparelho de Golgi que, posteriormente, dará origem a uma nova parede e clivará o citoplasma em dois. A citocinese das células vegetais difere da citocinese das células animais. O aparelho de Golgi deposita compostos químicos denominados pectatos (1 e 2), que iniciam a formação de uma parede (2 e 3). Esta dividirá a célula em duas. biologia B • aula 12 4 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -4 Para diferenciar citocinese em vegetais e animais, costuma-se dizer que nas células animais ocorre um “estrangulamento”, dividindo-as em duas, de fora para dentro (divisão centrípeta). Em vegetais, a divisão do citoplasma se dá de dentro para fora (divisão centrífuga). Análise comparativa: quantidade de DNA versus aspecto do cromossomo no processo da divisão celular prófase e metáfase anáfase e telófase tempo intérfase mitose intérfase te o r d e D N A 4n 2n G1 G1 G2 S 1) Gráfico do processo mitótico 2) Diagrama do aspecto morfológico da cromatina no processo mitótico O núcleo eucariótico em divisão: 1) Gráfico evidenciando a quantidade de DNA. Inicialmente, no núcleo interfásico, a fase G 1 corresponde ao estoque diploide de cro- mossomos, um valor arbitrário atribuído de x; na fase S, de síntese, a quantidade de DNA dobra, então passa a ser de 2x; na G 2 , o estoque de cromossomos está duplicado. Subsequentemente, ocorre a par- tição dos cromossomos, é a mitose; as células-filhas contêm núcleos com o valor do estoque diploide, isto é, cada célula contêm x de DNA. 2) Diagrama mostrando os aspectos morfológicos do ciclo de espiralização de um fio de cromatina (x de DNA). Na prófase, o cromossomo é formado por duas cromátides unidas ainda pelo centrômero (2x de DNA). Na metáfase, o cromossomo está dupli- cado e muito espiralizado. Na anáfase, o centrômero divide-se e as cromátides (ou cromossomos-filhos) separam-se e dirigem-se aos polos opostos. Na telófase, os cromossomos desespiralizam- -se (valor de x do DNA, novamente). Obtenção de cultura de células: a clonagem A biotecnologia trabalha com materiais e métodos envolvidos na manipulação das informações genéticas ou hereditárias dos seres vivos gerando os chamados transgênicos e alimentando a possibilidade de aumentar a longevidade dos seres humanos. Sejam quais forem os objetivos da biotecnologia, é necessário antes de tudo multiplicar o número de célu- las, quer dizer, induzi-las ao processo de divisão celular. Os primeiros experimentos datam dos anos 1950, e foram feitos com vegetais. O interesse na nutrição das plantas levou ao conhecimento de substâncias simples, mas essenciais a seu crescimento e desenvolvimento. Células indiferenciadas foram, então, isoladas e culti- vadas em ambientes propícios (água, sais minerais e hormônios) até a obtenção de células diferenciadas capazes de formar os vários tecidos vegetais e chegar até plântulas inteiras! Submetidas à luz solar, eram plantadas em grandes áreas de terra. Após uma década e meia de domínio da clonagem vegetal, e estimuladas pelos resultados, as pesquisas concentraram-se na possibilidade da clonagem animal. O fato mais espetacular ocorreu em 1996, com o anúncio da ovelha Dolly. Cientistas escoceses, coordenados por Ian Wilmut, transferiram o núcleo de uma célula diferen- ciada da glândula mamária de uma ovelha adulta para o zigoto (ou ovo) de outra ovelha. O ovo, implantado no útero de uma terceira ovelha usada no experimento, após as sucessivas divisões mitóticas, deu origem a um animal que apresentava a mesma carga genética – ge- noma – do núcleo doador. Nos dias de hoje, as discussões e os debates assu- mem inúmeras dimensões, porque perpassam todos os segmentos da sociedade, diante da possibilidade de clonar os seres humanos, transferindo o núcleo adulto para ovos. Fatores que inibem o ciclo celular Como vimos, o ciclo celular envolve dois processos principais: a duplicação do DNA, na intérfase, e a repar- tição dos cromossomos entre as duas células-filhas, na mitose. Assim, alguns fatores físicos e químicos podem atuar num ou noutro desses fenômenos, impedindo o desenrolar normal do ciclo celular. Dentre os fatores físicos, o que merece atenção no momento, porque faz parte da nossa vida cotidiana, são os raios-X. Dependendo da intensidade e da duração dessa radiação, ela atinge os tecidos e rompe drastica- mente as ligações moleculares do DNA, cessando sua duplicação. Algumas substâncias químicas atuam nas proteínas formadoras do fuso acromático, impossibilitando a biologia B • aula 12 CURSINHO DA POLI 5 2 2 2 -4 orientação e a migração dos cromossomos. Por exem- plo, a vimblastina, a iperita (ou gás mostarda, usado em combates) e a mais conhecida, a colchicina. Todas elas despolimerizam as proteínas do fuso. O uso controlado dos agentes físicos e químicos que inibem o ciclo celular integra os tratamentos dos tumores malignos, conhecidos como radioterapia e quimioterapia. Mas, infelizmente, a radiação e as drogas chegam às células sadias, por isso ocorrem queda dos cabelos, problemas estomacais e de pele. O significado da mitose A mitose é parte de um processo de crescimento organizado e de sobrevivência dos seres vivos. A divisão da célula por mitose permite a entrada de novas subs- tâncias e evita o envelhecimento. exercícios 1. (Fuvest-SP) Na figura a seguir está representado o ci- clo celular. Na fase S ocorre a síntese do DNA, na fase M ocorre a mitose, e dela resultam novas células, indicadas no esquema pelas letras C. Considerando que, em G1, existe um par de alelos Bb, quantos representantes de cada alelo existirão ao final de S e de G2 e em cada C? a) 4, 4 e 4. b) 4, 4 e 2. c) 4, 2 e 1. d) 2, 2 e 2. e) 2, 2 e 1. 2. (Fuvest-SP) Analise os eventos mitóticos relacionados abaixo. I. Desaparecimento da membrana nuclear. II. Divisão dos centrômeros. III. Migração dos cromossomos para os polos do fuso. IV. Posicionamento dos cromossomos na região me- diana dos fusos. Qual das alternativas indica corretamente sua ordem temporal? a) IV – I - II – III. b) I – IV – III – II. c) I – II – IV – III. d) I – IV – II – III. e) IV – I – III – II. Estudo orientado exercícios 1. (Enem) Na década de 1990, células do cordão umbilical de recém-nascidos humanos começaram a ser guar- dadas por criopreservação, uma vez que apresentam alto potencial terapêutico em consequência de suas características peculiares. O poder terapêutico dessas células baseia-se em sua capacidade de a) multiplicação lenta. b) comunicação entre células. c) adesão a diferentes tecidos. d) diferenciação em células especializadas. e) reconhecimento de células semelhantes. 2. (Fuvest-SP) A sequência de fotografias abaixo mostra uma célula em intérfase e outras em etapas da mitose, até a formação de novas células. Disponível em: http://coofarm.fmns.rug.nl/celbiologie/gal- lery. Acesso em: 1o mar. 2001. Adaptado. Considerando que o conjunto haploide de cromossomos corresponde à quantidade N de DNA, a quantidade de DNA das células indicadas pelos números 1, 2, 3 e 4 é, respectivamente, a) N, 2N, 2N e N. b) N, 2N, N e N/2. c) 2N, 4N, 2N e N. d) 2N, 4N, 4N e 2N. e) 2N, 4N, 2N e 2N. biologia B • aula 12 6 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -4 3. (Fazu-MG) Entre as frases abaixo, em relação à divisão celular por mitose, uma é incorreta. Aponte-a. a) Na metáfase, todos os cromossomos, cada um com duas cromátides, encontram-se no equador da célula em maior grau de condensação. b) A célula-mãe dá origem a duas células-filhas com metade do número de cromossomos. c) É um processo muito importante para o crescimento dos organismos. d) Ocorre nas células somáticas, tanto de animais como de vegetais. e) As células0filhas são idênticas às células-mãe. roda de leitura O maior desastre da história da Medicina A simples menção à talidomida causa medo em muitas pessoas até hoje, embora 50 anos tenham se passado desde que essa droga causou o maior desastre da história da medicina. Apesar de esse triste episódio ter ocorrido há tanto tempo, só agora a ciência começa a desvendar os mistérios associados ao uso indevido desse composto. A talidomida (C 13 H 10 N 2 O 4 ) foi originalmente desen- volvida em 1957 pela companhia farmacêutica alemã Chemie-Grunenthal. Estudos realizados na época indicaram que a talidomida era um medicamento que apresentava baixo risco de intoxicação, sendo considerado seguro e com poucos efeitos colaterais e podendo inclusive ser adquirido sem a necessidade de prescrição médica. Além disso, os testes indicavam que essa droga po- deria ser empregada no tratamento de uma infinidade de problemas, desde irritabilidade e baixa concentração até ansiedade, insônia, hipertireoidismo e doenças in- fecciosas. Contudo, seu uso se popularizou como droga efetiva para o combate aos enjoos matinais que ocorrem frequentemente no início da gravidez (de 4 a 10 semanas). O emprego da talidomida disseminou-se, e essa droga passou a ser utilizada em 46 países, alcançando rapidamente níveis de venda extraordinários. Só na Alemanha, por exemplo, foram vendidas quase 15 toneladas de caixas de talidomida só em 1961. Entretanto, inexplicavelmente, a avaliação da talidomida realizada na época não teve abrangência suficiente, pois não foram feitos testes de teratogeni- cidade, ou seja, possibilidade de desenvolvimento de anomalias que levassem a malformações fetais. E, após algum tempo, essa falha mostrou seus resultados. O primeiro caso conhecido de malformação congêni- ta relacionada ao consumo de talidomida foi registrado na Alemanha logo após o início de sua comercialização e afetou, coincidentemente, o filho de um trabalhador da própria Chemie-Grunenthal. Nos anos seguintes, os casos de anomalias relacionadas com esse fármaco multiplicaram-se e, em 1961, ficou claro que a talidomida estava associada ao aumento significativo do número de defeitos teratogênicos em recém-nascidos. Essas deformidades caracterizam-se por defeitos no desenvolvimento dos ossos longos dos membros superiores e inferiores. Contudo, a talidomida também está associada a problemas oculares e auditivos – como microftalmia e síndrome dos olhos de gato ou coloboma –, anomalias genitais, neuropatias perifé- ricas e defeitos nos órgãos internos, particularmente rins, pulmões, intestino e coração. Estima-se que mais de 10 mil crianças tenham sido afetadas pelo uso da talidomida. Um número elevado e incalculável de abortos também pode ter sido cau- sado pela droga. Pesquisas realizadas posteriormente indicaram que esse fármaco não é mutagênico e não causa defeitos hereditários. Mecanismos de ação da talidomida A compreensão dos mecanismos de ação da tali- domida é dificultada devido à bioquímica complexa e às ações múltiplas dessa droga. A talidomida tem dois anéis amida e é considerada um derivado do ácido glutâmico. Em condições fisiológicas, existem duas formas de talidomida com estruturas espaciais diferentes (isômeros), que apresentam propriedades biológicas diferenciadas. A talidomida pode apresentar duas estruturas diferentes, com propriedades biológicas diferentes também. imagem: Ben Mills Uma dessas formas, conhecida como isômero S(-), é responsável pelos efeitos teratogênicos da talidomi- da, enquanto a outra, o isômero R(+), parece atuar como sedativo. Contudo, devido à capacidade que essas duas variantes de talidomida têm de se converter uma na outra, não é possível, por exemplo, utilizar terapeuticamente apenas o isômero R(+). Para ser ativada, a talidomida precisa ser quebrada por diversas enzimas do grupo citocromo P450, o que biologia B • aula 12 CURSINHO DA POLI 7 2 2 2 -4 gera cerca de 20 subprodutos metabólicos. Apesar de haver indícios de que esses compostos estão associados a diversos eventos fisiológicos, ainda se conhece muito pouco sobre eles. A taxa de mortalidade das crianças expostas à talidomida durante seu desenvolvimento embrionário é muito elevada – maior que 40% antes do primeiro ano de vida –, devido principalmente a defeitos no coração e nos rins. Cerca de 90% das crianças sobre- viventes apresentam defeitos no desenvolvimento dos membros. Prejuízos à formação dos membros A formação dos membros é um processo complexo e que ocorre quando o plano corporal já está estabele- cido e os principais órgãos e tecidos já estão formados. Na espécie humana, o desenvolvimento dos membros se estende entre a 4a (dia 23) e a 9a semanas (dia 55) após a fertilização e ocorre das regiões proximais (úme- ro e fêmur) para as porções distais (dígitos). Defeitos nos membros são verificados em mães expostas à talidomida entre o 20o e o 36o dias após a fertilização (ou entre o 34o e o 50o dias após o último ciclo menstrual). A ingestão de um único comprimido de talidomida durante esse período é suficiente para causar defeitos no feto. Exposições à talidomida antes do desenvolvimento dos membros resultam em defeitos maiores, enquanto o uso da droga em um período posterior pode ter consequências menos drásticas, afetando apenas a formação dos dedos, por exemplo. fo to : N at io n al C an ce r In st it u te Foto de 1962, de um bebê com defeitos nos membros decorrentes do uso de talidomida durante o desenvolvi- mento embrionário. O processo de desenvolvimento embrionário dos membros é altamente regulado e apresenta uma série de eventos que podem ser afetados pela ação da talidomida, originando diversos defeitos congênitos que vão desde a perda total dos membros (amelia), passando por seu encurtamento (focomelia), até a perda de dedos. Na maioria dos pacientes, a talidomida afeta ambos os braços e, em algumas pessoas, braços e pernas são igualmente atingidos. Anomalias apenas nos membros inferiores são mais raras, talvez porque estes se desenvolvam posteriormente. Mas por que a talidomida afeta apenas a forma- ção dos membros e alguns órgãos específicos e não apresenta uma ação mais disseminada sobre o orga- nismo? E por que essa droga é efetiva apenas durante uma etapa do desenvolvimento embrionário? Algu- mas pistas obtidas recentemente podem ajudar na compreensão da ação da talidomida no organismo. A talidomida destrói vasos sanguíneos imaturos e impede a extensão de vasos já formados, dois fatores devastadores para tecidos em crescimento acelerado e que precisam formar e ampliar sua irrigação san- guínea para nutrir as células em mitose. Esse é o caso dos braços e das pernas durante a 4a e a 9a semanas de desenvolvimento embrionário. Alterações no padrão de expressão de alguns genes envolvidos com a sinalização celular, como aqueles que expressam os fatores de crescimento de fibroblastos Fgf8 e Fgf10 (associados com elevações da morte ce- lular programada ou apoptose das células dos tecidos dos membros em desenvolvimento), também parecem estar envolvidas na ação da talidomida durante o período embrionário. Há indícios de que, durante as semanas em que a talidomida causa seus efeitos nocivos sobre os mem- bros em desenvolvimento, a maior parte dos tecidos do organismo apresenta vasos sanguíneos mais maduros e, portanto, são menos afetados pela ação desse fármaco. Se essa teoria estiver correta, também ficará esclarecido por que a adição dessa droga em um período prévio causa defeitos disseminados e contribui para uma mortalidade elevada e por que exposições posteriores são menos lesivas. A “redescoberta” da talidomida Como o mundo dá voltas, a talidomida voltou ao receituário médico recentemente – apesar de ter sido banida em 1962 –, sendo empregada como medica- mento sedativo, anti-inflamatório e hipnótico e no combate a hanseníase, doença de Crohn, Aids e alguns tipos de câncer. Apesar dos seus terríveis efeitos colaterais, a talido- mida é inegavelmente um composto promissor para o combate de diversas enfermidades. Por isso, a ciência tem se dedicado nos últimos anos a criar compostos sintéticos que tenham as funções da talidomida, mas não seus efeitos nocivos. Mais de cem substâncias sintéticas estrutural- mente similares à talidomida, como a lenalidomida, têm sido produzidas. Algumas dessas têm sido uti- lizadas no combate a alguns tipos de câncer, como o mieloma múltiplo. Outro desses análogos, conhe- biologia B • aula 12 8 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -4 cido como CPS49, também é utilizado na terapia antitumoral, devido a sua capacidade de impedir a formação de vasos sanguíneos em tecidos-alvo. À medida que a ciência entenda melhor os meca- nismos de ação da talidomida, poderão ser criados medicamentos baseados em análogos sintéticos da talidomida que sejam realmente seguros e extrema- mente úteis para o combate de uma série de doenças. Assim, poderemos novamente nos render aos encan- tos dessa velha senhora, evitando a sua cólera. Jerry Carvalho Borges, Departamento de Medicina Veterinária Universidade Federal de Lavras. Ciência Hoje on-line, publicado em 31 dez. 2009, atualizado em 4 jan. 2010. ver e ouvir Blade Runner, o caçador de androides (direção: Ridley Scott,1991) marcou época no início dos anos 1990. Logo tornou-se cult. No ano de 2020, numa Los Angeles superpovoada, o ambiente natural degrada- do, a Terra em decadência, um policial é destacado para capturar – e eliminar – os replicantes, cópias idênticas de seres humanos criadas por poderosas indústrias de engenharia genética. Os replicantes são produzidos para atender às necessidades hu- manas, que vão da satisfação sexual até atividades profissionais envolvendo perigo de vida. Eles são pro- gramados para determinado tempo de permanência na Terra e não apresentam sentimentos, tipicamente humanos – por exemplo, não choram. Mas volta e meia alguns dão problema, porque não seguem o programa; é o caso de um grupo que se rebela e reivindica vida mais longa do seu criador. A trilha sonora (extra-ordinária!) de Vangelis complementa a atmosfera futurista do filme. ágora O que significa a palavra clone? Clone é uma palavra usada há muito tempo em biologia para designar indivíduos que se originam de outros por reprodução assexuada [mitoses]. Bernardo Beiguelmam. Ciência Hoje, n. 137, abr. 1998. (adaptado) Por que se desejaria clonar uma pessoa? A seita religiosa The second coming project (O projeto da segunda visita) anunciou que pretende clonar Jesus e promover seu retorno ao mundo. Para isso pedirá autorização ao Vaticano para retirar um pedaço do Santo Sudário – manto que teria coberto Jesus e estaria impregnado com seu sangue. De posse de uma amostra do manto, a seita pretende colher o DNA de Jesus e implantá-lo no útero de uma voluntária que seja virgem. Revista IstoÉ, 29 nov. 2000. Apesar da oposição de grupos religiosos, o Parla- mento britânico aprovou [23 jan. 2001] a “clonagem terapêutica” de embriões humanos. Para esfriar o debate ético, os lordes ingleses exigiram que os clones sejam usados só em prol da medicina. A in- tenção é gerar bebês usando o código genético de um paciente que sofre de câncer, por exemplo. Antes de o embrião completar 14 dias, suas células seriam retiradas para produzir tecidos nervosos ou órgãos para transplante, como coração, rim e medula, com o mesmo DNA do paciente e, portanto, menos risco de rejeição. Revista IstoÉ, 31 jan. 2001. O ser humano é o resultado de uma compilação de três aspectos: genéticos, psicológicos e sociais. Por isso, alterar apenas um deles, no caso, o genético, não vai ser suficiente para mudar o indivíduo, a não ser na parte plástica. Dante de Rose Júnior. Revista da Coordenadoria de Comunicação Social da USP, 23 fev. 2001. Uma empresa [Clonaid] ligada a uma seita que acredita que a vida na Terra foi criada por extraterres- tres anunciou o nascimento do primeiro ser humano clonado, uma menina, que está sendo chamada de Eva. A Clonaid foi criada pela seita Movimento Raeliano, que afirma que a clonagem é a chave para a vida eterna. Salvador Nogueira, Folha de S. Paulo, 28 dez. 2002. aula 13 CURSINHO DA POLI 9 2 2 2 -4 Ilustração do processo de divisão celular que reduz o número cromossômico quando da formação dos gametas; se isso não ocorresse, seu número dobraria a cada geração. Nascer, reproduzir-se para não morrer, morrer para que os outros, por sua vez, se reproduzam; o drama da vida em três atos. Jacques Ruffié. O sexo e a morte. São Paulo: Nova Fronteira, 1988 Numa população, os indivíduos multiplicam-se, isto é, reproduzem-se, dando continuidade à espécie. Em alguns organismos unicelulares como a ameba, a divisão celular (estudada na aula passada) atende à necessidade de perpetuação da espécie, pois leva continuamente à formação de novos indivíduos descendentes de um só genitor. Esse processo também é chamado reprodução assexual. Entretanto, muitos organismos unicelulares (inclusi- ve as amebas) e todos os multicelulares reproduzem-se sexualmente, produzindo células sexuais ou gametas – óvulos e espermatozoides, por exemplo –, que se unem para formar uma célula nova, chamada ovo ou zigoto, a partir da qual um novo indivíduo se desenvolve, com a contribuição genética de dois genitores. Torna-se evidente que, em uma população gerada por reprodução sexual, o número de cromossomos não pode aumentar indefinidamente. Algum mecanismo compensatório deve haver para reduzir essa quantidade nos gametas, porque sabemos que as células de indiví- duos da mesma espécie têm o número cromossômico constante. O processo que reduz à metade o número de cromossomos recebe o nome de meiose (meion = menor). Como as células transmitem as informações hereditárias – um mecanismo que é matéria-prima para a evolução biológica A meiose A meiose é normalmente dividida em fases conse- cutivas, mais ou menos semelhantes às da mitose. Con- tudo, a prófase é mais longa e complexa. As inovações introduzidas nessa fase afetam as células resultantes quanto à informação hereditária. a b c d e f g h i j k l fases da meiose Representação diagramática das divisões meiose I (a até e - prófase; f -metáfase; g - anáfase; h e i - telófase e diacinese) e meiose II (j - prófase; k - metáfase; l - telófase) Como vimos, a meiose se constitui de uma duplica- ção dos cromossomos e duas divisões do citoplasma, respectivamente designadas meiose I e II. prófase I – os cromossomos estão em forma de fios, mas já se encontram duplicados. Reconhecem-se cinco eventos distintos nessa fase, que veremos mais adiante. metáfase I – cada cromossomo se orienta sobre o fuso, dispondo-se voltado para um dos polos da célula. Os centrômeros estão ligados a uma única fibra do fuso, ao contrário da mitose. anáfase I – os cromossomos, que estavam parea- dos na fase anterior, começam a deslizar sobre as fibras do fuso e serão distribuídos às células-filhas. telófase I – os cromossomos se desenrolam, forma- -se a carioteca e a célula é dividida ao meio (citoci- nese). biologia B • aula 13 10 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -4 mitose e meiose cromátides-irmãs 1 2 3 4 1 2 3 4 5 formação de duas células com o mesmo número de cromossomos da célula-mãe formação de quatro células com metade do número de cromossomos da célula-mãe cromossomos duplicados, prontos para distribuírem-se pelas células-filhas células com cromossomos duplicados cromossomos homólogos cromossomos homólogos células com cromossomos não duplicados separação dos cromossomos homólogos separação das cromátides irmãs separação das cromátides irmãs pareamento dos homólogos mitose meiose intérfase intérfase ou intercinese – entre uma divisão e outra do citoplasma na meiose, pode ou não ocorrer essa fase. Contudo, em qualquer caso, os cromossomos perma- necem essencialmente não modificados, ou seja, não ocorre outra duplicação cromossômica! prófase II – semelhante à da mitose, com novo reiní- cio da espiralização e encurtamento dos cromossomos. Observa-se a duplicação dos centríolos e a formação das fibras do fuso. metáfase II – os cromossomos se unem às fibras do fuso acromático, estando as cromátides voltadas para um dos polos. anáfase II – separação dos centrômeros, iniciando o movimento dos cromossomos em direção aos polos. telófase II – os núcleos formados se reorganizam e acontece a divisão do citoplasma (nas duas células da primeira divisão), que dá origem a quatro células haploides. Observando o quadro comparativo das duas divisões celulares, tente responder: 1. Na mitose, assim como na meiose, quantas duplica- ções dos cromossomos e citocineses ocorrem? 2. Ainda com relação à meiose, explique o que acon- tece com as células e com os cromossomos na passa- gem da figura 4 para a 5. O número de cromossomos aumentou, diminuiu ou manteve-se igual ao da figura 1? biologia B • aula 13 CURSINHO DA POLI 11 2 2 2 -4 A prófase I com detalhes • leptóteno (leptos = fino, delgado, em gre- go): evento que dá início à meiose. Os cromos- somos ainda estão em forma de fios, mas já se encontram duplicados. • zigóteno (zygon = em- parelhamento, em gre- go): os fios cromatínicos de origem paterna e materna ficam pareados – esse evento é chama- do sinapse. A sinapse procede inicialmente em um ou mais pontos e, depois, ao longo do comprimento dos fios. • paquíteno (pachy = grosso, em grego): início da separação dos fios que estavam pareados. Eles continuam a encur- tar e a se espessar pelo enrolamento; são mais prontamente identifi- cados como cromosso- mos. • diplóteno (diploos = duplo, em grego): os cro- mossomos são visíveis e constituídos por duas cromátides. A separação dos cromossomos pa- reados ainda não está completa – permanece, em um ou mais pontos ao longo dos cromosso- mos, o contato chamado de quiasma (chiasma = em forma de X, em grego). Cada quiasma é o resultado de uma troca de pedaços (trechos) de um cromossomo de origem paterna com outro de origem materna, fe- nômeno de grande importância genética e evolutiva, conhecido como crossing-over ou permuta. • diacinese (dia = atra- vés, cinesis = movimen- to, em grego): os cro- mossomos homólogos afastam-se. Ocorre o desaparecimento do nu- cléolo e o rompimento da carioteca. Os estudos mostram, nesse evento, o encurtamento gradual dos cromossomos e a formação das fibras do áster e do acromático. Depois, inicia-se a metáfase I, dando continuidade ao processo. O significado da meiose a) leitõezinhos, b) marrequinhos e c) bêbes humanos. A meiose promove a variação biológica. Os descendentes, apesar de se parecerem, têm diferenças morfológicas e/ou fisiológicas, devido à recombinação dos genes. Por exemplo, na pigmentação da pele ou dos pelos, no comprimento do corpo etc. Como vimos no caderno 1, a seleção natural atua sobre essa variação. No momento da fusão nuclear, as células haploides vão, portanto, conter uma mistura de cromossomos paternos e maternos. O zigoto formado deverá então se desenvolver, originando um organismo multicelu- lar. Numa determinada fase da vida, este começará a formar seus gametas e, conforme a representação diagramática da meiose, os 2 pares de cromossomos envolvidos produzirão 4 combinações possíveis. Se fossem 3 pares de cromossomos, seriam 8 as combina- ções; com 4 pares de cromossomos, teríamos 16 com- binações possíveis; 5 pares de cromossomos dariam 32 combinações; e assim sucessivamente, de acordo com um modelo matemático expresso por 2n. A expressão significa que podemos determinar as possibilidades de leptóteno zigóteno diacinese paquíteno diplóteno C o re l S to ck P h o to C o re l S to ck P h o to a) b) c) G et ty Im ag es biologia B • aula 13 12 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -4 combinações cromossômicas nos gametas elevando o número de pares de cromossomos (n) na base 2. Observe a tabela a seguir. pares de cromossomos numa célula 2 3 4 5 6 . . . n combinações possíveis 4 (22) 8 (23) 16 (24) 32 (25) 64 (26) . . . 2n Exemplo: Calcule, para a espécie humana, o número de combina- ções possíveis entre os cromossomos paternos e mater- nos nos gametas. Lembre-se de que a nossa espécie tem 23 pares de cromossomos. Resposta = __________ combinações. O resultado encontrado deve ter sido 8.388.608. Isso quer dizer que um único espermatozoide ou um único óvulo tem reduzidas chances de conter apenas cromossomos paternos ou maternos! A representação gráfica da meiose 2X X X 2 quantidade de DNA tempo Representação gráfica da quantidade de DNA nos eventos da meiose. a) Partindo-se de uma dada quantidade de DNA – um valor arbitrário igual a x, por exemplo –, é na intérfase que o material genético duplica-se e assume o valor de 2x de DNA; b) na primeira divisão meiótica, ocorre a repartição do material genético, metade dele numa célula e a outra metade noutra célula, mas as cromátides-irmãs ainda se mantêm presas pelo centrômero – por isso, o gráfico marca o valor de x de DNA; c) com a separação das cromátides-irmãs e a divisão do citoplasma formando ao todo quatro células com a carga genética diminuída, a quantidade de DNA cai pela metade, isto é, x/2. exercícios 1. (Fuvest-SP) Considere os eventos abaixo, que podem ocorrer na mitose ou na meiose: I. Emparelhamento dos cromossomos homólogos duplicados. II. Alinhamento dos cromossomos no plano equatorial da célula. III. Permutação de segmentos entre os cromossomos homólogos. IV. Divisão dos centrômeros resultando na separação das cromátides-irmãs. No processo de multiplicação celular para reparação de tecidos, os eventos relacionados à distribuição equitativa do material genético entre as células resultantes estão indicados em a) I e III, apenas. b) II e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) I e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 2. (Uerj) A partir de um ovo fertilizado de sapo até a for- mação do girino ocorre uma série de divisões celulares. A distribuição percentual dos tipos de divisão celular nessa situação é a) 100% mitose. b) 100% meiose. c) 50% meiose e 50% mitose. d) 75% mitose e 25% meiose. Estudo orientado exercícios 1. (Mack-SP) No ciclo de vida dos vegetais, há duas fases: a gametofítica, que produz gametas; e a esporofítica, que produz esporos. A esse respeito, é correto afirmar que a) os gametas são formados por meiose e os esporos são formados por mitose. b) os gametas são formados por mitose e os esporos são formados por meiose. c) tanto os gametas quanto os esporos são formados por meiose. d) tanto os gametas quanto os esporos são formados por mitose. e) os gametas são células haploides e os esporos são células diploides. biologia B • aula 13 CURSINHO DA POLI 13 2 2 2 -4 2. (Uepa) A célula diploide é aquela em que a) existem dois cromossomos não homólogos. b) o cariótipo é formado por dois conjuntos haploides. c) o cariótipo é formado por dois conjuntos diploides. d) cada cromossomo apresenta dois centrômeros. 3. (Fatec-SP) O manuseio de equipamentos de radiologia envolve riscos à saúde, e o tecnólogo que atua nessa área segue uma série de normas de biossegurança para evitar a exposição desnecessária à radiação ioni- zante. Esse tipo de radiação pode danificar suas células, levando-as até a se reproduzir de modo desordenado e descontrolado, gerando inúmeras novas células por meio do mesmo processo de divisão celular que ocorre nas células somáticas. Desse modo, basta que uma única célula do corpo se danifique e se torne cancerígena para que surja um tumor. Isso ocorre porque a célula cancerígena inicial divide-se por a) mitose, gerando células com o mesmo número de cromossomos e a mesma capacidade de duplicação. b) mitose, gerando células com metade do número de cromossomos, porém ainda com capacidade de duplicação. c) mitose, gerando células com o dobro do número de cromossomos e uma capacidade ainda maior de duplicação. d) meiose, gerando células com o mesmo número de cromossomos e a mesma capacidade de duplicação. e) meiose, gerando células com metade do número de cromossomos, porém ainda com capacidade de duplicação. roda de leitura Em busca de mais anos de vida Experimento com proteína ligada à divisão celular prolonga a vida de camundongos e os protege contra o câncer. Ste- vens Rehen comemora o feito na sua coluna. Afinal, quem não gostaria de ter acesso a esses benefícios? Envelhecer é inevitável, mas, cá entre nós, inde- pendentemente de sua crença ou religião, quem não gostaria de viver mais? Por séculos a humanidade busca o elixir da juven- tude. Teve gente que já acreditou até que banho com sangue de jovens virgens prolongaria eternamente a vida, mas como diria um colega meu: “só a ciência salva!” Um estudo publicado por cientistas dos Estados Unidos na revista Nature Cell Biology sugere que uma proteína originalmente associada à divisão celular pode estender a expectativa de vida em mamíferos. Mas como? Vamos por partes. Durante a divisão de uma célula, o material genético compactado sob a forma de cro- mossomos precisa ser duplicado e distribuído em partes iguais entre as duas células que estão sendo geradas. Para que a distribuição dos cromossomos ocorra sem erros, os mamíferos desenvolveram um mecanis- mo de vigilância, chamado de ‘checkpoint mitótico’. BubR1 é um dos componentes desse ponto de checa- gem e ajuda a orquestrar a separação dos cromosso- mos durante a mitose. Mutações em BubR1 foram associadas a uma do- ença rara, conhecida como síndrome da aneuploidia variada em mosaico, cujos pacientes possuem células com números alterados de cromossomos (fenômeno conhecido como aneuploidia; daí o nome da doença), predisposição à formação de tumores e várias carac- terísticas associadas ao envelhecimento, incluindo expectativa de vida curta, crescimento reduzido, atraso mental, catarata etc. Camundongos mutantes que produzem baixas quantidades dessa proteína também possuem célu- las com diferentes números de cromossomos, curta expectativa de vida, retardo no crescimento, catarata, sarcopenia (perda de massa e força muscular), perda de gordura subcutânea e outras características asso- ciadas ao envelhecimento. Essas informações, aliadas ao fato de que a pro- dução de BubR1 diminui com a idade, levantaram a hipótese de que a ausência de BubR1 poderia contri- buir para o envelhecimento biológico. Integridade genômica Para testar essa hipótese, a equipe de Jan M. van Deursen nos Estados Unidos criou camundongos capazes de produzir grandes quantidades de BubR1. Essa superexpressão de BubR1 não causou alterações nos pontos de checagem do ciclo celular. Não foi ob- servado, por exemplo, aumento da taxa de aneuploidia espontânea nesses animais. Por outro lado, quando os animais eram expostos a agentes capazes de induzir cânceres de pulmão e pele, apenas 33% deles desenvolveram tumores. No grupo controle (animais com níveis normais de BubR1), todos, ou seja 100%, ficaram doentes. Nos animais, demonstraram que taxas de aneu- ploidia associadas ao envelhecimento também esta- vam reduzidas. Esses resultados sugerem que a proteção antitumo- ral por níveis elevados de BubR1 estaria relacionada à preservação da integridade genômica e à manutenção de mecanismos de checagem mitóticos mais eficazes. De volta aos camundongos, aqueles que produ- ziam grandes quantidades de BubR1 desenvolveram biologia B • aula 13 14 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -4 menos tumores e, consistente com essa redução, apre- sentaram aumento da longevidade. Poderes restritos Para testar se BubR1 teria efeitos antienvelheci- mento independentes de sua capacidade protetora contra o câncer, diversos parâmetros associados à expectativa de vida foram analisados, incluindo perda de massa muscular. Entre 3 e 24 meses de idade, animais comuns tive- ram redução de diâmetro e peso de suas fibras mus- culares em torno de 35%, já aqueles que produziam grandes quantidades de BubR1 estavam protegidos da atrofia observada. Além disso, animais com superexpressão de BubR1 superaram os outros em testes ergométricos, validando a preservação da função muscular e da função car- díaca, sugerindo que BubR1 impediria a entrada em senescência celular. Por outro lado, osteoporose e catarata, desordens também relacionadas com a idade, não foram rever- tidas pela superexpressão de BubR1, indicando que seu efeito antienvelhecimento é restrito a células e tecidos específicos. Em resumo, os dados sugerem que a expressão alta de BubR1 protege contra o câncer, atenua a deteriora- ção relacionada com a idade de tecidos específicos e prolonga a vida de camundongos, muito provavelmen- te por atenuar a instabilidade cromossômica. Figura 1: O estudo sugere que a alta expressão de BubR1 (na imagem) protege contra o câncer, atenua a deterioração rela- cionada com a idade de tecidos específicos e prolonga a vida de camundongos, fazendo da proteína um alvo promissor no desenvolvimento de novos tratamentos de cânceres humanos. É possível que os efeitos benéficos de BubR1 tam- bém ocorram independentemente de seu papel na divisão celular. Isso porque essa proteína é conhecida por estar implicada em outras funções além da mito- se. Estudos recentes sugerem inclusive que proteínas controladas por BubR1 regulam processos biológicos importantes em outras etapas da vida de uma célula, como sua diferenciação. Portanto, BubR1 é mais um alvo promissor no desenvolvimento de novos tratamentos de um amplo espectro de cânceres humanos, cujo surgimento, como sabemos, pode estar associado ao processo natural de envelhecimento. REHEN, Stevens. Em busca de mais anos de vida. Instituto de Ciências Biomédicas – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Adaptado de: cienciahoje.uol.com.br/colunas/ bioconexoes/em-busca-de-mais-anos-de-vida. Acesso em: 18 dez. 2015 aula 14 CURSINHO DA POLI 15 2 2 2 -4 A principal consequência da meiose, sem dúvida, é o surgimento da diversidade entre os indivíduos que são produzidos na reprodução sexuada da espécie. Lynn Margullis, evolucionista. Quando consideramos a ocorrência das permutas na prófase da meiose I, a distribuição da carga genética paterna e materna aos filhos é ainda mais complicada. O importante é termos a noção, neste momento, de que a ocorrência da permuta altera o conjunto de genes que os cromossomos tinham antes de entrar na meiose e, portanto, os gametas são geneticamente diferentes uns dos outros. A B A B A B A B A b a B a b A B a b a b a b a b A B A B a b a b A B A B a b a b A B A b a B a b A B a b A B a b A B a b A b a B ou zigóteno diplóteno diacinese diplóteno diacinese paquíteno gametas gametas recombinantes cromossomos homólogos pareados esquema da permuta sem permuta com permuta Quando ocorre o emparelhamento dos cromossomos homó- logos na prófase I, os genes podem se recombinar através da permuta. Esse fenômeno aumenta ainda mais as possibilida- des de os gametas apresentarem novas misturas genéticas que, transmitidas aos descendentes, tornam os indivíduos tão variados. Os gametas, ao fundir seus núcleos, produzem indiví- duos que exibem variação. É nessa situação que a seleção da natureza (seleção natural) age na população dos seres vivos, conduzindo a evolução, selecionando indivíduos mais adaptados ou ajustados ao ambiente. Consequências da meiose Nos animais, a meiose leva à formação de células chamadas gametas, germinativas ou sexuais – o óvulo e o espermatozoide, as únicas células que carregam um conjunto de cromossomos reduzido à metade. Nos vegetais, os produtos da meiose podem ser os gametas – usados na reprodução sexual – ou os es- poros – usados na reprodução assexual, dependendo da espécie e do ciclo de vida (que você estudará com detalhes na Bio A). De qualquer forma, gametas e espo- ros carregam um conjunto haploide de cromossomos característico da espécie. A seguir, representamos esquematicamente os pro- dutos da meiose animal e da vegetal. linhagem somática linhagem germinativa espermatogônias (2n) espermatócito I espermatócitos II ovócito I primeiro corpúsculo polar segundo corpúsculo polar ovogônias (2n) ovócito II ovótide espermátides óvulo espermatozoides espermatozoide (n) óvulo (n) gametogênese animal m e i o s e an áf as e I an áf as e II gametogênese animal Ilustração comparativa da formação dos gametas masculinos e femininos – à esquerda, a espermatogênese; à direita, a ovulogênese. Recombinação gênica e gametogênese humana biologia B • aula 14 16 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -4 gametogênese vegetal (em angiospermas) Nas angiospermas, os gametas masculinos, contidos nos grãos de pólen, são chamados de células espermáticas. gametogênese vegetal (em angiospermas) A flor é o órgão sexual das angiospermas. No desenho, uma flor hermafrodita. Estames e anteras constituem o aparelho mas- culino. Estigma, estilete e ovário integram o aparelho feminino. A meiose acontece nas anteras (masc.) e nos ovários (fem.), produzindo as células sexuais. Nas angiospermas, os gametas femininos são chamados de oosferas. O termo óvulo nos vegetais não se refere ao gameta, mas à estrutura (esporângio feminino) que o forma. Alterações cromossômicas Poderíamos começar outra aula sobre o tema alterações cromossômicas, devido à sua importância e ao vasto material publicado a respeito. Contudo, neste momento, o objetivo é conhecermos um pouco do comportamento anômalo dos cromossomos durante a distribuição para as células-filhas, principalmente na meiose. biologia B • aula 14 CURSINHO DA POLI 17 2 2 2 -4 esquema A gametogênese anormal: alterações numéricas cromossomos célula 2n = 2 metáfase I (pareamento dos homólogos) anáfase e telófase I (separação dos homólogos e citocinese) gametas normais gametas anormais cromossomos duplicados 1 2 3 4 (n = 0) (n = 2)(n = 1) (n = 1) Sequência ilustrada de eventos necessários para visualizar os cromossomos humanos e preparar o chamado cariótipo, exame que serve para detectar possíveis alterações genéticas a partir do estudo dos cromossomos. Como podemos observar os cromossomos humanos? preparação para a observação de cromossomos A B a b B A B a a b b A cromossomos homólogos, indicando os genes alelos A B a b A B a A B a b b perda e ligação de segmento cromossômico cromossomos duplicados; note que um deles está com um pedaço a mais e o outro, com pedaço a menos. gametas anormais (portadores de um pedaço extra de cromossomo) gametas anormais (devido à falta de pedaço cromossômico) esquema B gametogênese anormal: alterações estruturais 1 3 4 2 Análises detalhadas do cariótipo humano revelaram eventos relativamente raros, mas responsáveis por graves distúrbios. Identificou-se que os cromossomos estão suscetíveis a fratu- ras e, portanto, perda dos genes. Outro fenômeno é a fratura cromossômica e a solda do segmento perdido em outro cromos- somo que, assim, sofre aumento em seu conjunto gênico. Estudos do comportamento dos cromossomos durante o processo da meiose revelaram a possibilidade de ocorrência da chamada não disjunção cromossômica. Na anáfase II, as cromátides deve- riam soltar-se e migrar para lados opostos antes que o citoplasma fosse partido em dois, mas o atraso resulta em gametas anormais: com cromossomos a menos ou cromossomos a mais. Não são totalmente conhecidas ainda as causas da não disjunção. Seguem dois esquemas da gametogênese animal, que trazem informações referentes à desorganização cromossômica. biologia B • aula 14 18 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -4 Conforme você bem notou, os esquemas representam uma ocorrência anormal durante a distribuição dos cromos- somos na meiose. No caso A, o fenômeno que aconteceu na anáfase II é denominado tecnicamente não disjunção cromossômica; no caso B, ocorreu uma fratura com perda de segmento cromossômico, mas uma ligação em outro, durante a prófase I (não confundir com o crossing-over) – fenômeno conhecido como translocação cromossômica. Consequentemente, produzem-se gametas com carga cromossômica e genética alterada. Na maioria dos casos, a fecundação não ocorre, pela própria inviabilidade das células anormais; 10% dos encontros gaméticos, no mínimo, estimam os especialistas, resultam em aborto do embrião, devido à incompatibilidade genômica, para a espécie, na síntese de importantes proteínas, mas em outros poucos casos pode gerar indivíduos portadores de anomalias, identificáveis visualmente – mais facilmente a partir da infância – e por testes laboratoriais. A manifestação dos distúrbios originados pelas alte- rações cromossômicas, sejam elas numéricas (como no esquema A) ou estruturais (esquema B), é conhecida como síndrome. Um exemplo é a síndrome de Down, na qual os indivíduos receberam um cromossomo a mais, o 21. Exercícios exercícios 1. (Fuvest-SP) Em determinada espécie animal, o número diploide de cromossomos é 22. Nos espermatozoides, nos óvulos e nas células epidérmicas dessa espécie, serão encontrados, respectivamente, a) 22, 22 e 44 cromossomos. b) 22, 22 e 22 cromossomos. c) 11, 11 e 22 cromossomos. d) 44, 44 e 22 cromossomos. e) 11, 22 e 22 cromossomos. 2. (Fuvest-SP) Na gametogênese humana a) espermatócitos e ovócitos secundários, formados na primeira divisão meiótica, têm quantidade de DNA igual à de espermatogônias e ovogônias, respectivamente. b) espermátides haploides, formadas ao final da segunda divisão meiótica, sofrem divisão mitótica no processo de amadurecimento para originar espermatozoides. c) espermatogônias e ovogônias dividem-se por mi- tose e originam, respectivamente, espermatócitos e ovócitos primários, que entram em divisão meiótica, a partir da puberdade. d) ovogônias dividem-se por mitose e originam ovó- citos primários, que entram em meiose, logo após o nascimento. e) espermatócitos e ovócitos primários originam o mesmo número de gametas, no final da segunda divisão meiótica. Estudo orientado exercícios 1. (Ufac) A palavra gametas está ligada a) à produção de células nas gônadas. b) ao tipo de reprodução de forma assexuada. c) à manutenção da diversidade de vida nos fungos, apenas. d) ao modelo fisiológico de equilíbrio hídrico nos peixes marinhos. e) aos hormônios produzidos e secretados pela hipófise. 2. (Unesp) Método de contracepção definitiva começa a se popularizar no país Consagrado nos Estados Unidos há quase uma década, o Essure é um procedimento feito em ambu- latório, que dispensa cortes. O Essure consiste de dois dispositivos metálicos com 4 centímetros, instalado no início das tubas uterinas por meio de um equipa- mento bem fino, que é introduzido no canal vaginal. Em algumas semanas, as paredes das tubas recobrem os microimplantes, obstruindo as tubas e fazendo do Essure um método contraceptivo permanente. SPONCHIATO, Diego. Revista Saúde, maio de 2012 (adaptado). Considerando o modo pelo qual o dispositivo mencio- nado no texto leva à contracepção, é correto afirmar que ele impede a) a locomoção do espermatozoide da vagina para o útero, e deste para as tubas uterinas, com resultado análogo ao provocado pelos cremes espermicidas. b) que o embrião seja conduzido da tuba uterina até o útero, com resultado análogo ao provocado pela camisinha feminina, o Femidom. c) a implantação do embrião no endométrio, caso o óvulo tenha sido fecundado com resultado análogo ao provocado pelo dispositivo intrauterino, o DIU. d) que ocorra a ovulação, com resultado análogo ao provocado pela pílula anticoncepcional hormonal. e) que o espermatozoide chegue ao ovócito, com re- sultado análogo ao provocado pela laqueadura. 3. (Unesp) Um casal procurou ajuda médica, pois há anos desejava gerar filhos e não obtinha sucesso. Os exames apontaram que a mulher era reprodutivamente normal. Com relação ao homem, o exame revelou que a espermatogênese era comprometida por uma alteração cromossômica, embora seu fenótipo e desempenho biologia B • aula 14 CURSINHO DA POLI 19 2 2 2 -4 sexual fossem normais. Por causa dessa alteração, não ocorria o pareamento dos cromossomos homólogos, a meiose não avançava além do zigóteno e os espermató- citos I degeneravam. Desse modo, pode-se inferir que a análise do esperma desse homem revelará a) secreções da próstata e das glândulas seminais, mas não haverá espermatozoides, em razão de não se completar a prófase I. b) sêmen composto por espermátides, mas não por esper- matozoides, em razão de não se completar a esperma- togênese pela falta de segregação cromossômica. c) espermatozoides sem cromossomos, em função da não segregação cromossômica, e sem mobilidade, em razão de o sêmen não ter secreções da próstata e das glândulas seminais. d) uma secreção mucosa lubrificante, eliminada pelas glândulas bulbouretrais, além de espermatogônias anucleadas, em razão da não formação da telófase I. e) secreções das glândulas do sistema genital mascu- lino, assim como espermatozoides com 2N cromos- somos, em razão da não segregação das cromátides na anáfase II. roda de leitura Uma doce batalha entre os sexos A necessidade de atrair a atenção do sexo oposto molda grande parte de nossas atitudes. Afinal de con- tas, quem nunca colocou aquela roupa ou perfume especial para se fazer notar? Essa necessidade não é exclusiva de nossa espécie e é conhecida há bastante tempo, tendo sido inclusi- ve estudada pelo naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882). Darwin propôs uma teoria, denominada seleção sexual, para tentar explicar como certas ca- racterísticas animais podem ser modeladas evoluti- vamente pela competição para atrair o sexo oposto. Essa competição tem sido tradicionalmente estudada entre os integrantes do sexo masculino, nos quais ela se expressa por meio de uma série de comportamentos e características morfológicas. Entre os exemplos clássicos do “arsenal” empregado pelos machos em suas conquistas sexuais, estão ornamentos como jubas, caudas, chifres, caninos proeminentes e colorações extravagantes. Além disso, condutas mas- culinas como cantos e outras vocalizações, exibições comportamentais e disputas territoriais estão também associadas à atração de fêmeas. Indivíduos portadores de características e com- portamentos mais exuberantes conseguem obter um maior sucesso reprodutivo, pois se acasalam com mais frequência e produzem uma prole mais numerosa. Contudo, essas características morfológicas e compor- tamentais podem, muitas vezes, representar riscos para a sobrevivência ou custos energéticos mais elevados para seus portadores. Mas qual é o papel desempenhado pelas fêmeas na atração sexual? Há evidências de que as fêmeas selecionam ativamente seus parceiros sexuais, con- tudo, ainda não se conhecem as implicações de tais escolhas. Em alguns casos, as fêmeas obtêm benefícios diretos, como alimentação, cuidado paternal e acesso a territórios de melhor qualidade. Porém, em outras si- tuações, quando as fêmeas recebem pouco ou nenhum auxílio dos machos para criar a prole ou se proteger, as vantagens obtidas são desconhecidas. Esses tópicos são de grande interesse para os ecó- logos, porém ainda há pouco conhecimento da base genética associada às divergências no comportamen- to sexual de machos e fêmeas. Apesar de esse enigma ainda estar longe de ser solucionado pela ciência, nos últimos anos os pesquisadores têm procurado res- postas nas moléculas diretamente relacionadas com a diferença entre os sexos: os cromossomos sexuais. Os cromossomos X e Y Em mamíferos, os machos têm dois cromossomos sexuais diferentes (XY) e são, portanto, heterogamé- ticos. O sexo é determinado pelo cromossomo Y, que é herdado exclusivamente da linhagem masculina. Apesar de sua importância, o cromossomo Y represen- ta apenas 0,38% do genoma humano e é assim deno- minado porque se assemelha a uma letra Y quando analisado sob microscopia. Raciocínio idêntico pode ser aplicado ao cromossomo X. O cromossomo Y tem duas regiões similares ou homólogas ao cromossomo X, que são responsáveis pelo pareamento dessas moléculas durante a divisão celular. Essas regiões, chamadas pseudoautossômicas (PAR1 e PAR2), estão localizadas nas extremidades do braço longo e do braço curto do cromossomo Y. Contudo, cerca de 95% do cromossomo Y não se recombinam com o cromossomo X. Essa região, co- nhecida como NRY (do termo inglês non-recombining region), tem genes em um estado individualizado ou haploide, que, por isso, são transmitidos diretamente entre os pais e seus filhos do sexo masculino. Por vários anos, acreditou-se que o cromossomo Y fosse similar a um “deserto” que conduzia apenas um gene, conhecido como SRY (do termo inglês sex determining region), relacionado com a determina- ção do sexo. Porém, pesquisas recentes revelaram que o cromossomo Y é bem mais rico: nos homens, por exemplo, ele tem 86 genes – a maior parte presente em NRY –, que codificam 23 proteínas, muitas das quais biologia B • aula 14 20 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -4 produzem características distintivas do sexo masculino ou holândricas. Alguns genes identificados na região NRY estão associados à manutenção da fisiologia celular. Con- tudo, nessa região existem 10 genes expressos apenas nos testículos e que estão envolvidos com o controle da produção e da diferenciação de espermatozoides. Pacientes que têm deleções ou mutações em NRY apresentam um número reduzido ou uma ausência total de espermatozoides em seu sêmen. Os genes na região NRY são expressos em cópias múltiplas. Esse padrão de ocorrência aumenta a efici- ência da espermatogênese e diminui a influência de deleções ou mutações sobre esse processo. Esse tipo de arranjo também permite que esses genes apresentem diferenças em suas sequências e criem combinações de variantes gênicas ou alelos para cada indivíduo. Contudo, ainda não está definido claramente se existe uma relação entre a composição da região NRY e um maior sucesso em termos de seleção sexual. Outros genes do cromossomo Y estão associados ao controle do desenvolvimento embrionário, da esta- tura e do crescimento de dentes. Em várias espécies de mamíferos, embriões XY desenvolvem-se mais rapida- mente até a metade da gestação do que embriões XX. Isso se reflete em um número maior de blastômeros e somitos, além de maior peso e tamanho corporal ou da cabeça. Esses processos parecem ser controlados por um único gene, denominado controlador do de- senvolvimento do cromossomo Y ou GCY (do termo inglês growth control Y). Os genes presentes em NRY influenciam aspectos envolvidos na seleção sexual na vida adulta. Alguns exemplos são os genes associados a um maior tama- nho corporal e ao desenvolvimento de dentes, fatores importantes em processos de disputa territorial e pela atenção de fêmeas. Mas como essas descobertas sobre a biologia do cromossomo Y estão relacionadas à seleção sexual? Influências sobre a seleção sexual As características presentes em NRY se comportarão de forma diferenciada em comparação com genes au- tossômicos (não sexuais). Fatores codificados nos autos- somos só serão disseminados se forem benéficos para ambos os sexos ou quando os benefícios para um sexo forem maiores do que as desvantagens para o outro. Como não existe recombinação para os genes pre- sentes em NRY, as características por eles codificadas são passadas de forma inalterada entre indivíduos do sexo masculino em um grupo familiar. Genes benéficos para os machos mas prejudiciais para as fêmeas se acumularão no cromossomo Y e serão transmitidos apenas para os filhos e não para as filhas, nas quais eles poderiam ser selecionados negativamente. Algumas dessas características transmitidas aos machos podem ter, contudo, efeitos negativos sobre as fêmeas, que terão custos fisiológicos e energéticos maiores para cuidar de uma prole com genes asso- ciados com maior tamanho corporal e outras carac- terísticas competitivas. Mas esse custo pode ser visto como uma espécie de “investimento” feito pelas fêmeas para as gerações futuras, que assim se tornarão mais fortes e resistentes. Provavelmente, essas relações entre genes nos cro- mossomos sexuais e o processo de seleção sexual só serão mais bem compreendidas à medida que forem realizadas pesquisas capazes de unir a ecologia com aspectos da biologia molecular, no momento algo tão raro quanto estabelecer uma trégua na batalha entre os sexos. Jerry Carvalho Borges Departamento de Medicina Veterinária Universidade Federal de Lavras. Ciência Hoje on-line, publicado em 31 nov. 2009, atualizado em 10 dez. 2009. pesquisar e ler Um novo olhar sobre a reprodução nos traz Richard Dawkins, em O gene egoísta (Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1989), elaborando sofisticada e polêmica tese do comportamento social pautada na seleção na- tural e na adaptação (Charles Darwin) e nos processos da genética clássica e moderna (de Mendel até Hugo DeVries). Na leitura da obra, abre-se uma nova oportu- nidade para um mergulho nos assuntos estudados até aqui: biologia molecular, estrutura e funcionamento da célula, informação hereditária e como ela é processada. Mas, como acontece com algumas boas leituras, pode- mos discordar das ideias e buscar fazer contrapontos com outros textos. Em linhas bem gerais, Dawkins de- fende que a história evolutiva dos genes centrou-se na arte da sobrevivência – projetou os mais diferentes seres vivos; está no nosso corpo e mente – e determina, assim, alguns tipos de comportamentos (escravagismo entre populações de formigas, pequenos peixes limpadores de dentes de peixes que devem se controlar para não comer “o dentista”, abelhas camicases que, ao picar intrusos, morrem etc.). Portanto, preservar os genes é a única razão da existência. Para o autor, “o homem é máquina para os genes, um veículo-robô programado para preservar seus genes egoístas”. gabarito CURSINHO DA POLI 21 2 2 2 -4 aula 12 1. d 2. d 3. b aula 13 1. b 2. b 3. a aula 14 1. a 2. e 3. a aula 15 biologia B CURSINHO DA POLI 1 2 2 2 -5 00 16 Herança biológica [...] A meta máxima do êxtase terreno, Que é o de ver, quando da tumba me erguer, Minha arte florescendo em paz, Entre os que vierem depois de mim. Gregor Johann Mendel1 A reprodução sexual, uma das características básicas dos seres vivos (exceto os vírus e as bactérias), segue um modelo na transmissão das informações hereditárias (de pais para filhos), que é um dos objetos de estudo da Genética. Genética é a ciência que procura entender as características hereditárias (ou genéticas) dos seres vivos. Nesses estudos, destacam-se três linhas: 1. A natureza, química e física, do material genético. 2. O mecanismo de transmissão do material genético. 3. A ação do material genético. 1. Trecho de um poema que Mendel escreveu ainda criança, por volta de 1834-35. Apud Helena Curtis, Biologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1977. Representação diagramática das três principais linhas de estudo – bases da compreensão – da herança biológica (ou genética): a) natureza química do material genético, o DNA; b) mecanismo da transmissão das informações hereditárias através da meiose; c) resultado da ação do material hereditário na produção de proteínas. a) b) c) D el fim M ar tin s/ Pu ls ar Indivíduos da mesma espécie, ao se reproduzirem sexualmente, são capazes de produzir descendentes férteis pelo fato de compartilharem um patrimônio genético semelhante, produto de milhares de anos de evolução biológica. a) gado; b) ovinos; c) seres humanos; d) galináceos e e) germinação da planta de feijão. b) e) a) d)c) e) biologia B • aula 15 2 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -5 A compreensão dos fenômenos de que se ocupa a Genética permite fazer uma previsão das futuras gerações quanto aos aspectos da hereditariedade e da variedade biológica. Os descendentes herdam de seus pais não as características biológicas da espécie, mas as informações necessárias para produzi-las. Conceitos importantes usados na Genética Cromossomos homólogos A célula-ovo ou zigoto – que dará origem a um novo ser – contém dois conjuntos de cromossomos, um de origem paterna e o outro, materna. Diz-se que a célula é diploide. Os cromossomos herdados têm mesmo tama- nho, mesma posição relativa do centrômero e portam genes para as mesmas manifestações hereditárias. Portanto, cromossomos homólogos têm semelhança morfológica e equivalência dos genes. Lócus gênico É o local que cada gene ocupa no cromossomo. A posição dos genes no cromossomo é invariável para as características de cada espécie. Isso mostra que a mudança de lugar do gene provoca alterações genéticas, as chamadas mutações. Genes alelos Como vimos, genes são trechos ou segmen- tos informacionais, cons- tantes nos cromosso- mos, capazes de coman- dar a síntese proteica. A principal substância química dos genes é o DNA. Genes alelos estão no mesmo lócus dos cromosso- mos homólogos, mas podem se apresentar em versões diferentes. Por exemplo: na planta conhecida como boca- -de-leão, um gene determina a cor branca das flores e outro determina a cor vermelha; na mosquinha-da-fruta, um gene determina asas alongadas (também designa- das selvagens) e outro determina asas rudimentares (chamadas vestigiais). Genoma Cada espécie de ser vivo tem um conjunto completo de genes que a caracteriza: o genoma. O número de genes varia entre as espécies. Por exemplo, o genoma da bactéria Xylella fastidiosa (causadora da doença amare- linho da laranja) tem 2 800 genes; o genoma do verme Caenorhabditis elegans, 18 400 genes, aproximadamente; na espécie humana, Homo sapiens sapiens, o tamanho do genoma está entre 30 e 50 mil genes. Genótipo A origem do termo é grega: genos = originar e typos = característico. O genótipo é formado por várias subunidades, os genes, que determinam a natureza do fenótipo. O ge- nótipo é transmitido de uma geração a outra. Fenótipo Vem das palavras gregas pheno = evidente e typos = característico. O fenótipo compõe-se das numerosas características (morfológicas, fisiológicas, microscópicas, de natureza química etc.) de um organismo. É através do fenótipo que reconhecemos as seme- lhanças e as diferenças entre os seres vivos. Cabe acrescentar que o fenótipo pode responder ao ambiente, desde o da natureza até o do citoplasma, do corpo, do organismo etc. Por exemplo, o escurecimento da pele, nos seres humanos, sob a ação da luz solar. Mas nem todos respondem a essa capacidade, por- que são geneticamente diferentes. Devemos lembrar que os des- cendentes não herdam fenótipos, mas a capacidade de produzi-los. Br uc e Ay re s/ G et ty Im ag es homólogos homólogos cromossomos duplicados não homólogos posição do gene posição do gene homólogos A a z Z cromossomos duplicados biologia B • aula 15 CURSINHO DA POLI 3 2 2 2 -5 Outros termos Homozigoto (ou puro) O termo homozigoto designa um organismo que apresenta os genes alelos idênticos. Certamente, o indivíduo homozigoto para determi- nada característica produz apenas um tipo de gameta. Por exemplo, o indivíduo homozigoto: AA – produz gametas A (100%) ou aa – produz gametas a (100%) Ilustração de cromossomos homólogos com genes alelos iguais. Heterozigoto (ou híbrido) Um organismo que tem dois alelos diferentes do gene é denominado heterozigoto. Por exemplo, o indivíduo heterozigoto: Aa – produz gametas A (50%) e a (50%) Ilustração de cromossomos homólogos com alelos diferentes. Simbologia para os genes dominantes e recessivos Convencionou-se utilizar a primeira letra do caráter recessivo para a resolução dos problemas em Genética. A letra maiúscula indica o gene dominante e a letra minúscula, o recessivo. Às vezes, usa-se o sinal + para indicar a presença e o sinal – para a ausência do caráter em estudo. Exemplo 1 caráter dominante: A caráter recessivo: a Exemplo 2, em mosca-da-fruta caráter dominante: asas alongadas (selvagem) + caráter recessivo: asas rudimentares (vestigiais) – No estudo da Genética, é importante compreender mais dois termos: 1. penetrância – refere-se à capacidade de manifes- tação de um gene. 2. expressividade – um gene dominante que se expressa em todos os seus portadores tem 100% de penetrância; aquele que se expressa só em metade dos portadores tem 50% de penetrância, e assim por diante. Então, a manifestação de um gene (a penetrância) – mesmo de um caráter dominante – pode ser variável, porque depende de sua interação com os outros genes do indivíduo e com o ambiente. homólogos A A homólogos aa ou homólogos A a É aquele que se manifesta tanto em homozigose quanto em heterozigose. É importante lembrar que ainda há quem guar- de um conceito equivocado, pensando que o alelo dominante inibe a ação do outro, o gene recessivo. As pesquisas têm demonstrado que o caráter dito recessivo é aquele que não se expressa nunca. A característica recessiva, então, resulta da ausência da expressão do gene. gene (recessivo) enzima atividade/caráter (caráter) recessivo É aquele que não se expressa. Por exemplo: (caráter) dominante biologia B • aula 15 4 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -5 Relação entre a meiose e a genética Vamos recordar brevemente o processo da divisão celular meiótica, importante ferramenta para o enten- dimento da Genética. O processo para a formação de células especiais, os gametas ou células germinativas dos organismos que se reproduzem sexuadamente, envolve a repartição dos cromossomos e, portanto, da carga genética, reduzida pela metade. Esse evento é chamado de meiose. Pouco antes da meiose, na intérfase, todos os cromossomos homólogos estão duplicados. A meiose envolve duas divisões citoplasmáticas sucessivas: na primeira, os cro- mossomos homólogos duplicados emparelham-se, quer dizer, dispõem-se lado a lado; em seguida, separam-se, movendo-se para os polos opostos. Na segunda divisão, as células formadas carregam apenas um representante de cada par de cromossomos, ainda duplicados. Subse- quentemente, o centrômero se divide e os braços dos cromossomos (as cromátides) se separa, dirigindo-se para polos opostos. O resultado da meiose é a formação de quatro células – os gametas, cada um com metade do número de cromossomos que tinha a célula original. Quadro-resumo da meiose, enfatizando o comportamento dos cromossomos e genes. a) Célula diploide heterozigótica: em um par de cromossomos homólogos, estão inscritos genes alelos di- ferentes, A e a. No fim da intérfase, cada cromossomo tem duas cromátides-irmãs. Na metáfase I, os cromossomos homólogos ficam emparelhados. b) Na telófase I, o citoplasma se divide, separando (segregando) os homólogos e também os genes alelos. c) Os produtos da meiose são quatro células haploides que carregam os genes alelos em proporções diferentes, no caso, 50% A e 50% a. Se a fecundação acontecer – por exemplo, se um dos gametas com o gene a fecundar outro gameta com o gene A –, a célula-ovo originada tem constituição cromossômica e de genes restabelecida para a espécie. Exercícios 1. (Uel) Na Genética, uma expressão bastante conhecida diz que fenótipo é o genótipo mais o ambiente. Essa expressão significa que a) o ambiente altera o genótipo do indivíduo, visando a sua adaptação. b) o genótipo do indivíduo é o resultado da ação do ambiente sobre seu fenótipo. c) o fenótipo do indivíduo é o resultado da expressão do seu genótipo em um dado ambiente. d) o genótipo do indivíduo pode variar como resultado da expressão do seu fenótipo em diferentes ambien- tes. e) o fenótipo do indivíduo é invariável e resulta da expressão de seu genótipo, qualquer que seja o ambiente. 2. (Fuvest) Dois grupos de mudas obtidas a partir de um mesmo clone de plantas verdes foram colocados em ambientes diferentes, um claro e outro escuro. De- pois de alguns dias, as plantas que ficaram no escuro estavam estioladas, o que significa que os dois grupos apresentavam a) genótipos e fenótipos iguais. b) genótipos e fenótipos diferentes. c) genótipos variados em cada grupo. d) o mesmo genótipo e fenótipos diferentes. e) o mesmo fenótipo e genótipos diferentes. Estudo orientado exercícios 1. (Fatec-SP) Eduardo e Mônica decidiram recorrer a um procedimento de útero em substituição (ou barriga de aluguel) para gerar um filho. Desse modo, um óvulo de Mônica foi fecundado in vitro por um espermatozoide de Eduardo e o embrião foi posteriormente implantado no útero de outra mulher, definida como receptora. Nessas condições, as características genéticas da criança gerada serão determinadas pelas características genéticas a) de Eduardo, de Mônica e da receptora. b) de Eduardo e da receptora, apenas. c) de Eduardo e de Mônica, apenas. d) da receptora, apenas. e) de Mônica, apenas. 2. (Unesp) Um casal procurou ajuda médica, pois há anos desejava gerar filhos e não obtinha sucesso. Os exames apontaram que a mulher era reprodutivamente normal. Com relação ao homem, o exame revelou que a genes alelos homólogos Veja no esquema um par de cromossomos homólogos com os genes alelos. Os cromossomos homólogos separam-se no final da meiose I. Quando da separação dos homólogos, os genes alelos também se separam, na formação dos gametas. A A a a A a ovo ou zigoto A A A a a A a fecundação a) b) c) homólogos A A a a biologia B • aula 15 CURSINHO DA POLI 5 2 2 2 -5 espermatogênese era comprometida por uma alteração cromossômica, embora seu fenótipo e desempenho sexual fossem normais. Por causa dessa alteração, não ocorria o pareamento dos cromossomos homólogos, a meiose não avançava além do zigóteno e os espermató- citos I degeneravam. Desse modo, é correto afirmar que a análise do esperma desse homem revelará a) secreções da próstata e das glândulas seminais, mas não haverá espermatozoides, em razão de não se completar a prófase I. b) sêmen composto por espermátides, mas não por esper- matozoides, em razão de não se completar a esperma- togênese pela falta de segregação cromossômica. c) espermatozoides sem cromossomos, em função da não segregação cromossômica, e sem mobilidade, em razão de o sêmen não ter secreções da próstata e das glândulas seminais. d) uma secreção mucosa lubrificante, eliminada pelas glândulas bulbouretrais, além de espermatogônias anucleadas, em razão da não formação da telófase I. e) secreções das glândulas do sistema genital mascu- lino, assim como espermatozoides com 2N cromos- somos, em razão da não segregação das cromátides na anáfase II. 3. (Unesp) Método de contracepção definitiva começa a se popularizar no país Consagrado nos Estados Unidos há quase uma década, o Essure é um procedimento feito em ambu- latório, que dispensa cortes. O Essure consiste de dois dispositivos metálicos com 4 centímetros, instalado no início das tubas uterinas por meio de um equipa- mento bem fino, que é introduzido no canal vaginal. Em algumas semanas, as paredes das tubas recobrem os microimplantes, obstruindo as tubas e fazendo do Essure um método contraceptivo permanente. Diego Sponchiato, Revista Saúde, maio de 2012 (adaptado). Considerando o modo pelo qual o dispositivo mencio- nado no texto leva à contracepção, é correto afirmar que ele impede a) a locomoção do espermatozoide da vagina para o útero, e deste para as tubas uterinas, com resultado análogo ao provocado pelos cremes espermicidas. b) que o embrião seja conduzido da tuba uterina até o útero, com resultado análogo ao provocado pela camisinha feminina, o Femidom. c) a implantação do embrião no endométrio, caso o óvulo tenha sido fecundado com resultado análogo ao provocado pelo dispositivo intrauterino, o DIU. d) que ocorra a ovulação, com resultado análogo ao provocado pela pílula anticoncepcional hormonal. e) que o espermatozoide chegue ao ovócito, com re- sultado análogo ao provocado pela laqueadura. 4. (Uece) Os termos a seguir fazem parte da nomencla- tura genética básica. Assinale as alternativas que trazem o significado correto de cada um desses termos e dê a soma ao final. (01) Gene é sinônimo de molécula de DNA. (02) Genótipo é a constituição genética de um indivíduo. (04) Dominante é um dos membros do par de alelos que se manifesta inibindo a expressão do outro. (08) Fenótipo é a expressão do gene em determinado ambiente. (16) Genoma é o conjunto de todos os alelos de um indivíduo. Resultado: 01 + 02 + 08 + 16 = 27 5. (Enem) Não é de hoje que o homem cria artificialmente variedade de peixes por meio da hibridação. Essa é uma técnica muito usada pelos cientistas e pelos piscicultores porque os híbridos resultantes, em geral, apresentam maior valor comercial do que a média de ambas as espécies parentais, além de reduzir a sobrepesca no ambiente natural. Terra da Gente, ano 4, n. 47, mar. 2008 (adaptado). Sem controle, esses animais podem invadir rios e lagos naturais, se reproduzir e a) originar uma nova espécie poliploide. b) substituir geneticamente a espécie natural. c) ocupar o primeiro nível trófico no hábitat aquático. d) impedir a interação biológica entre as espécies pa- rentais. e) produzir descendentes com o código genético mo- dificado. roda de leitura Genética molecular A genética molecular tem as suas fundações na ge- nética clássica, mas dá um enfoque maior à estrutura e à função dos genes ao nível molecular. Ela emprega os métodos quer da genética clássica (por exemplo, a hi- bridação) quer da biologia molecular. É assim chamada para se poder distinguir de outros ramos da genética, como a ecologia genética e a genética populacional. Uma área importante dentro da genética molecular é aquela que usa a informação molecular para determi- biologia B • aula 15 6 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -5 nar os padrões de descendência e daí avaliar a correta classificação científica dos organismos: chamada sis- temática molecular. O estudo das características herdadas e que não es- tão estritamente associadas a mudanças na sequência do DNA é chamado de epigenética. Alguns autores defendem que a vida pode ser definida, em termos moleculares, como o conjunto de estratégias que os polinucleotídeos de RNA usaram e continuam a usar para se perpetuar. Essa definição baseia-se em trabalho dirigido para conhecer a origem da vida, estando associada à hipótese do RNA. Forward genetics (genes responsáveis por determinado fenótipo) Uma das primeiras ferramentas a ser utilizadas pelos geneticistas moleculares foi a de rastrear os genes. O objetivo desta técnica é identificar o gene responsável por um determinado fenótipo. Muitas vezes, usa-se um agente mutagênico para acelerar esse processo. Uma vez isolados os organismos mutantes, torna-se possível iden- tificar molecularmente o gene responsável pela mutação. Reverse genetics (genética reversa é descobrir a função de um gene) Embora rastrear os genes da forward genetics seja eficaz, podemos usar uma abordagem mais direta: determinar o fenótipo resultante da mutação de um determinado gene. A isto se chama reverse genetics. Em alguns organismos, tais como leveduras e ratinhos, é pos- sível induzir uma deleção em um gene específico, criando um gene-nocaute. Uma alternativa possível é induzir deleções aleatórias no DNA e selecionar posteriormente as deleções em genes de interesse, usar interferência de RNA e criar organismos transgênicos em que vai haver uma sobre-expressão do gene de interesse. Brasil Escola. Disponível em: brasilescola.uol.com.br/biologia/genetica- -molecular.htm. açúcares, proteínas etc. é o lugar onde ocorrem reações químicas importan- tes para a vida celular. 3. ribossomos: estruturas granulares imersas no cito- plasma que participam da produção das proteínas de que as células necessitam. 4. cromatina: o material genético ou hereditário, tam- bém localizado no citoplasma, disposto em fios ou filamentos. A cromatina coordena todas as atividades da célula e tem a capacidade de se duplicar. As estruturas mínimas para qualquer padrão celu- lar aproximam-se bastante daquelas encontradas nas bactérias. Comparando os padrões celulares A célula procariótica da bactéria, estruturalmente a mais simples As bactérias têm organização estrutural celular sim- ples, com todos os elementos indispensáveis a qualquer célula. Dizemos tratar-se da estrutura celular mais simples porque dela não constam, além da carioteca (que só apa- rece nas células eucarióticas), sistemas membranosos e outras estruturas citoplasmáticas chamadas organelas. As bactérias têm uma particularidade: uma rede en- volvente, externa à membrana plasmática, denominada parede bacteriana ou membrana esquelética, cuja função é dar proteção mecânica. Células: as unidades estruturais e fundamentais dos seres vivos Células procarióticas das bactérias, estrutu- ralmente as mais simples. Dimensão aproximada: 1,5 µm. biologia B • aula 2 10 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -1 2 2 2 -1 Células eucarióticas, estruturalmente as mais complexas. Observe a riqueza dos detalhes citoplasmáticos, as organelas. Dimensão aproximada de 80 µm. A estrutura geral de uma célula eucariótica A seguir, isolamos e listamos os principais componen- tes da célula eucariótica, cujo funcionamento depende da integração dessas partes. Apesar de todo o avanço científico e tecnológico, ainda há muito o que aprender sobre as células. Leia o texto abaixo. Os vírus, seres vivos acelulares A gripe acomete os seres humanos desde as mais antigas civilizações. Você já ficou gripado, apresentando sintomas como calafrios, dores musculares, mal-estar e coriza? Provavelmente sim. A gripe é causada por um tipo de vírus que infecta nossas células e se reproduz dentro delas, liberando substâncias nocivas a nosso organismo. Os vírus diferem de todos os outros seres vivos, porque não são formados pelas estruturas mínimas celulares, mas por duas substâncias: proteínas e ácidos nucleicos. As proteínas, nesse caso chamadas capsídeos, envolvem e protegem o material genético, isto é, os ácidos nucleicos, que podem ser moléculas de ácido desoxirribonucleico (DNA) ou de ácido ribonucleico (RNA); nunca as duas num mesmo vírus. Acredita-se que os vírus se tenham originado de células que se tornaram parasitas intracelulares obri- gatórios e sofreram simplificação estrutural durante a evolução biológica. Os vírus só manifestam características de seres vivos na reprodução. Nesse aspecto, devemos considerar: primeiro, a necessidade da duplicação do conteúdo genético; segundo, a da síntese proteica do capsídeo. Portanto, os vírus dependem do aparelho estrutural e funcional da célula hospedeira. Tomemos, a título de exemplo, a multiplicação viral da gripe. Inicialmente, os vírus inalados aderem às células As células eucarióticas animal e vegetal, estruturalmente as mais complexas As células eucarióticas têm carioteca e organização estrutural complexa. São ricas em detalhes citoplasmá- ticos, formados por elementos membranosos e pelas organelas. Estas geralmente têm formas e funções de- finidas, relacionadas à manutenção da eficiência celular, como veremos mais adiante. Retículo endoplasmático: cavidade delimi- tada pela membrana plasmática. O retículo é classificado como granular (ou rugoso ou ergastoplasma), quando está aderido aos ribossomos. Quando não há ribossomos, o retículo é denominado agranular (ou liso). 4 funções: transporte, armazenamento e síntese de substâncias Aparelho de Golgi: é um conjunto de mem- branas em forma de sáculos achatados que se comunica com o retículo. 4 funções: concentrar os materiais elabo- rados no retículo e eliminá-los Lisossomo: é uma organela membranosa arredondada, originada no brotamento do Golgi, cheia de enzimas digestivas. 4 funções: digestão de alimentos vindos de fora da célula e eliminação de organelas velhas Mitocôndria: é uma bolsa membranosa em forma de bastonete. 4 função: respiração celular, isto é, liberação de energia através da degradação de subs- tâncias (sobretudo dos açúcares) com uso do gás oxigênio Centríolos: são pequenas estruturas tubu- lares não membranosas do hialoplasma (de vegetais que produzem frutos – as angiospermas). 4 função: participar da divisão celular Cloroplasto: é uma organela membranosa presente somente nas células vegetais. 4 função: transformar energia lumino- sa em energia química na produção de substâncias como os açúcares e o gás oxigênio – processo conhecido por fotos- síntese Vacúolo: é uma estrutura membranosa atu- ante em vários processos. Há, por exemplo, vacúolos de digestão, vacúolos de contração (ou pulsação), vacúolos de suco celular e vacúolos de eliminação. Parede celulósica: é um revestimento externo à membrana plasmática, exclusivo das células vegetais. É formada por uma substância denominada celulose. 4 função: proteção mecânica biologia B • aula 2 CURSINHO DA POLI 11 2 2 2 -1 2 2 2 -1 hospedeiras, por exemplo, do nariz ou da garganta. Então, atravessam a membrana celular e, no citoplasma, os cap- sídeos serão digeridos. Livres, os RNAs virais começam a construção de novos RNAs, idênticos a eles, e também de moléculas de RNA capazes de elaborar o capsídeo, usando as enzimas e os elementos químicos da célula infectada. O surgimento da nova população viral dentro da célula hospedeira é feito pela associação do capsídeo com as moléculas do RNA que, uma vez libertas, podem atacar outras células sadias. Algumas das células que hospedam o vírus da gripe acabam morrendo. Ilustração artística de vírus que parasita bactérias: trata-se de um bacteriófago. Exercícios 1. (Unicamp) Considere os seguintes componentes celulares: I – parede celular. II – membrana nuclear. III – membrana plasmática. IV – DNA É correto afirmar que as células de a) fungos e protozoários possuem II e IV. b) bactérias e animais possuem I e II. c) bactérias e protozoários possuem II e IV. d) animais e fungos possuem I e III. 2. (Mackenzie) Em comum, as células de cianobactérias, algas e plantas têm a) parede celulósica. b) pigmento clorofila. c) cloroplasto. d) núcleo organizado. e) pigmentos carotenóides. Estudo orientado exercícios 1. (Unicamp − modificado) São estruturas encontradas em vegetais a) parede celular, grana, mitocôndria, glândula sebácea, DNA. b) mitocôndria, carioteca, axônio, núcleo, estroma. c) mitocôndria, vacúolo, tilacoide, cromossomos. d) dendrito, cloroplasto, DNA, endométrio. 2. (Unesp) A figura representa os esquemas de duas células. Porém, o ilustrador cometeu um engano ao identificar as estruturas celulares. É correto afirmar que a) II é uma célula vegetal e o engano está na identifi- cação do complexo golgiense nesta célula, uma vez que este aparece nas células animais, mas não em células vegetais. b) II é uma célula animal e o engano está na identifica- ção do vacúolo em ambas as células, além de este ser característico de células vegetais, mas não de animais. c) II é uma célula animal e o engano está na identifica- ção dos centríolos nesta célula, uma vez que estes são característicos de células vegetais, mas não de animais. d) I é uma célula animal e o engano está na identificação das mitocôndrias em ambas as células, além de estas ocorrerem em células animais, mas não em células vegetais. e) I é uma célula vegetal e o engano está na identifi- cação da membrana plasmática, nesta célula, uma vez que esta ocorre em células animais, mas não em células vegetais. biologia B • aula 2 12 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -1 2 2 2 -1 Acesso em: 16 maio 2016. pesquisar e ler A adaptação biológica é a capacidade do organismo em se ajustar, dentro de certos limites, a determinada condição ambiental – a temperatura, a falta de água, a pressão etc. –, em busca da sobrevivência. O livro Genéti- ca e adaptação, de E. B. Ford (São Paulo: Editora Pedagógi- ca e Universitária e EDUSP, 1980), fundamenta o aspecto essencial da adaptação: as taxas de alteração genética. Se a evolução dos animais e dos vegetais é produto da seleção natural sobre a variabilidade genética, exige-se tanto uma variabilidade herdável imensa como uma estabilidade hereditária, que possa manter as qualidades que lhe sejam úteis. Como qualidades opostas – varia- bilidade e estabilidade genética – se mantêm, podendo dirigir a evolução? A obra mostra que isso é possível se entendermos que a unidade transmitida dos genitores aos descendentes encontra-se nos cromossomos, que podem ser recombinados de infinitas maneiras, graças à segregação. O autor faz emergir inúmeros trabalhos científicos analisando-os cuidadosamente, embora de forma resumida. Também dedica um capítulo à adapta- ção genética do homem, apresentando aspectos funda- mentais da evolução humana, por exemplo, a produção de apenas um embrião em cada concepção, para livrá-lo da competição intrauterina e, assim, permitir um tempo mais longo de desenvolvimento. O controle genético sobre esse fato é a velocidade de crescimento do corpo e da quantidade de óvulo liberada num certo intervalo de tempo pelo ovário. ver e ouvir Mendel e a Genética Série de documentários da Didak Vídeos (São Paulo, 1999). Mostra gravações no “jardim de Mendel”, em Brno, Tchecoslováquia, repetindo as experiências com ervilhas, que se tornaram a base da genética: dominância e recessividade, disjunção dos caracteres e segregação. Também estão relacionadas pesquisas posteriores de geneticistas como Correns, De Vries, Morgan e Muller. navegar Museu Gregor Mendel: www.mendel-museum.org. aula 16 CURSINHO DA POLI 7 2 2 2 -5 Gregor J. Mendel evidenciou a des- continuidade das características ao longo das gerações, o que suplantou a teoria da herança por mistura. Disponível em: biologiaviva.xpg.com.br/ mendelismo.htm. Acesso em : 23 jan. 2016. As bases do estudo de Genética: os princípios mendelianos Gregor Johann Mendel (1822-1884) formou-se em História Natural entre os anos de 1851 e 1853, na Universidade de Viena; e retornou à cidade de Brno ( Tchecoslováquia), onde era padre. Além de ser na- turalista, adquiriu ótima formação matemática, ini- ciando nessa época seus experimentos com ervilhas. Os cruzamentos experimentais de Mendel no estudo da transmissão de uma característica Mendel realizou experimentos com cruzamentos de ervilhas, Pisum sativum, analisando os pais e os descen- dentes quanto a uma determinada característica. Por exemplo, a textura da casca da semente, lisa ou rugosa. caráter das sementes Diagrama ilustrado de um dos cruzamentos experimentais de Mendel. a) Mendel denominou geração parental ou pais (P) as plantas de ervilhas cruzantes – método da fecunda- ção cruzada – que produziam sementes lisas e sementes As bases do estudo da Genética: os princípios mendelianos rugosas. Mendel conhecia a ascendência dessas plantas, considerando que elas eram puras. b) Os descendentes do cruzamento P (liso x rugoso) foram chamados de 1a geração ou F 1 . Nesse caso, o resultado obtido foram plantas que pro- duziam apenas sementes lisas (100%). Mendel permitiu que as plantas F 1 se reproduzissem sem sua interferência, através da autofecundação. c) Mendel analisou os descendentes de F 1 , contando-os e verificando os fenótipos, concluindo que para cada três sementes lisas uma era rugosa – a proporção era de 3:1. Mendel repetiu esse cruzamento várias vezes, obtendo sempre o mesmo resultado – 3:1. A explicação • cada caráter (nesse caso, liso ou rugoso) é determinado por um par de fatores; • na formação dos gametas, os fatores separam-se; • no encontro dos gametas (fecundação), os fatores unem-se de novo, ao acaso. A explicação de Mendel pode ser considerada como um exemplo de modelo de hipótese partindo da obser- vação de experimentos controlados. Esquematicamente, temos: caráter das sementes a) (fecundação cruzada) geração parental (P) RR x rr (linhagem pura) (liso) (rugoso) (linhagem pura) b) (autofecundação) gametas R r encontro gamético (F 1 ) Rr x Rr (híbrido) (100% liso) c) gametas R ou r R ou r RR ou Rr ou Rr ou rr encontros gaméticos possíveis (F 2 ) (proporção 25% [RR] + 50% [Rr] = 75% [R_] ; 25% [rr]) Diagrama ilustrado da interpretação de Mendel para o cruza- mento descrito acima. a) Mendel designou letras para os fatores (genes) envolvidos no estudo. Em minúsculo, a letra inicial da característica dita “recessiva”; em maiúsculo, a “dominante”. Cada característica é determinada por um par de fatores, no esquema temos: RR (liso) x rr (rugoso). b) Como o caráter “semente rugosa” não apareceu, foi dito recessivo, em oposição à semente lisa, dominante. Sem conhecer a meiose, Mendel supôs que os fatores (genes) se separam (segregam) na formação dos gametas. Assim, a planta RR só produz gametas com o fator R e a planta rr pro- duz gametas com o fator r; quando cruzadas, os descendentes herdam o R e o r dos pais; as plantas não são mais “puras” para o caráter e foram chamadas de híbridas, Rr (hoje heterozigotas). c) Mendel permitiu que as plantas que produziam sementes lisas Rr se autofecundassem. Elas eram capazes de formar gametas com o fator R (50%) e r (50%). Os encontros gaméticos previstos por Mendel – 1/4 RR, 1/2 Rr e 1/4 rr – coincidiram com os resulta- dos obtidos nos cruzamentos experimentais, isto é, 3:1. Re p ro d uç ão /A E Gregor Mendel, considera- do o fundador da Genética. biologia B • aula 16 8 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -5 Mendel chamou de fatores o que hoje denomina- mos genes. O enunciado da 1a lei de Mendel: lei da segregação As análises dos cruzamentos experimentais de Gregor Mendel no estudo de uma característica concluíram que: os fatores (genes) segregam-se (separam-se) entre si na formação dos gametas. Essa afirmação ficou conhecida como lei da segregação dos fatores ou primeira lei de Mendel. Atualmente, os estudos da herança biológica envol- vendo apenas um par de alelos são classificados como herança monogênica ou monoibridismo. Outros exemplos de herança monogênica Muito antes dos cruzamentos experimentais de Mendel, a ideia mais corrente sobre a herança biológica era a da fusão das características dos pais. Um dos fatos que representava considerável apoio a essa tese era o casamento entre negros e brancos, que produzia des- cendentes mulatos. Daí o impacto e a mudança de con- cepção sobre a hereditariedade, e a enorme importância dos princípios mendelianos, que podem ser estendidos para qualquer organismo, vegetal ou animal. Contudo, cabe a ressalva de que nem todas as carac- terísticas são herdadas de modo simples, e nem sempre uma característica é completamente dominante sobre a outra (o que não foi previsto por Mendel), como veremos mais adiante. Por ora, seguem outros exemplos nos quais está envolvido apenas um par de genes. • herança do tipo da asa em mosca-da-fruta Em certa espécie de mosca, pequena, conhecida como mosca-da-fruta, a Drosophila melanogaster, os indivíduos têm asas alongadas, que os pesquisadores chamam de selvagens. As moscas criadas em laboratório podem apresentar asas que diferem da selvagem. Em geral, essas asas são rudimentos conhecidos como asa vestigial, uma característica mutante. Cruzando-se moscas homozigotas de asas selva- gens com moscas homozigotas de asas vestigiais, todos os descendentes têm asas do tipo selvagem. Cruzando-se esses descendentes entre si, surgem descendentes de roda de leitura Vida: podemos conceituá-la? Estamos cercados por vida. Os seres vivos estão espalhados por todo o planeta Terra, podendo habitar os ambientes mais inóspitos como desertos ou regiões polares. No dia a dia, podemos deparar vários organis- mos, dos mais diversos tamanhos e formas. Mesmo nas grandes cidades, onde os problemas decorrentes da poluição e do desmatamento têm ge- rado o desaparecimento de muitas plantas e animais, ainda existem diferentes árvores, insetos, pássaros, pequenos mamíferos etc. Na verdade, nem é preciso sair de casa para encontrar seres vivos. Quem nunca acordou com o zumbido de um mosquito ou encontrou o açucareiro povoado por formigas? E nós, afinal? Não somos também seres vivos? A vida é um fenômeno intrigante. Inicialmente, não parece ser um grande enigma; afinal, de modo geral, é muito fácil distinguir um organismo vivo de um não vivo – peixes e formigas estão vivos, enquan- to velas, cristais e nuvens não estão. No entanto, essa questão se torna mais difícil quando tentamos classificar casos limítrofes como os vírus ou a sopa bioquímica envolvendo fragmentos de RNA dos laboratórios de genética: casos limítrofes como os vírus levantam a questão geral de se a vida é preta ou branca, como parece à primeira vista, ou se ela também tem tons de cinza. A grande diversidade de seres vivos encontrada na Terra nos leva a questionar qual ou quais propriedades esses organismos teriam em comum. Para dificultar ainda mais as coisas, é preciso levar em consideração que, quando a vida surgiu no planeta, ela apresen- tava formas transientes, anteriores ao surgimento das células. Outro aspecto que se deve ter em conta é a possibilidade de existirem formas extraterrestres de vida. Alguns cientistas – como Matsuura, por exemplo – acreditam que o caráter do planeta Terra não é excepcional, mas apenas um dentre os vários possíveis nichos de vida no Universo (essa concepção é conhecida como princípio da mediocridade). Outros consideram possível a existência de diferentes tipos de vida baseados não no carbono, mas no silício, apesar de este apresentar ligações químicas mais fracas que as do carbono e ter suas cadeias rompidas em presença de água. Existe ainda o estudo da Vida Artificial, que é relativamente novo e interdisciplinar, procurando, a partir do uso da computação e da robótica, bem como da manipulação gênica e de outros métodos da biotecnologia, construir formas completamente novas e genuínas de vida, para compreender o que 3. (Enem) Uma indústria está escolhendo uma linhagem de microalgas que otimize a secreção de polímeros comestíveis, os quais são obtidos do meio de cultura de crescimento. Na figura podem ser observadas as proporções de algumas organelas presentes no citoplasma de cada linhagem. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Q u an ti d ad e d e o rg an el as Perfil celular das linhagens de microalgas Linhagem I Linhagem II Linhagem III Linhagem IV Linhagem V 20 20 50 10 20 35 40 5 20 15 35 30 20 35 15 30 20 40 20 20 Núcleo Retículo endoplasmático Complexo golgiense Mitocôndrias Qual é a melhor linhagem para se conseguir maior rendimento de polímeros secretados no meio de cultura? a) I. b) II. c) III. d) IV. e) V. biologia B • aula 2 CURSINHO DA POLI 13 2 2 2 -1 2 2 2 -1 seria verdadeiro em termos universais acerca da vida e o que seriam simplesmente aspectos particulares ou contingentes. Assim, seria insatisfatório estudar e definir vida com base apenas nas formas encontradas atualmente no nosso planeta. Para que um conceito abranja todos os seres vivos, é preciso considerar as formas encontradas no passado, além de incluir o estudo da Vida Artificial, ou seja, não só a “vida-como- -nós-a-conhecemos” em seus espécimes terrestres, mas também a “vida-como-ela-poderia-ser” . Por essa dificuldade de definir vida e pela tendên- cia experimentalista que hoje predomina na biologia, originou-se entre os biólogos uma atitude cética a respeito da conceituação de vida. Grande parte deles passou a ignorar essa questão, seja por considerá-la muito difícil, seja por acreditar que uma definição de vida não teria nenhuma importância prática para a ciência. Essa posição tomada por boa parte dos bió- logos – que, por definição, são os estudiosos da vida – causa espanto. Afinal, era de esperar que eles fossem os primeiros a procurar definir de forma clara seu ob- jeto de investigação. No entanto, a visão atual sobre a definição de vida no campo da biologia não reflete essa expectativa natural, como destaca Mark Bedau: Havia um tempo em que a natureza da vida dizia respeito aos filósofos – pense em Aristóteles e Kant –, mas a maioria dos filósofos atualmente ignora essa questão, talvez porque ela pareça ser “científica” demais. Ao mesmo tempo, enquanto alguns biólogos fazem comentários a respeito da vida, o campo da biologia apresenta poucas discussões sérias e cor- roboradas da questão em geral, talvez porque esse tópico pareça “filosófico” demais. Mayr, por exemplo, afirma que os esforços para definir vida são fúteis, na medida em que está inteira- mente claro que não há substância, objeto ou força especial que possa ser identificada com a vida. Ele acrescenta, no entanto, que o processo da vida poderia ser definido e compreendido, visto que existe uma dife- rença real entre os seres vivos e os objetos inanimados. Existiriam características comuns a todos os processos vivos e inexistentes nos processos inanimados. A forma como Mayr aborda o problema da definição de vida, colocando o agrupamento de características comuns aos processos vivos como a única maneira de diferenciá-los dos processos inanimados, é uma atitu- de comum entre os biólogos, tendo sido denominada por Emmeche visão tradicional sobre a definição de vida. Na tentativa de encontrar definições para a vida, alguns cientistas formularam listas buscando destacar as características que seriam comuns a to- dos os seres vivos. Essas características serviriam para agrupar os seres vivos e, assim, distingui-los dos não vivos. Muitas listas foram criadas, como a de Crick, que apresentava aspectos como autorreprodução, evo- lução e metabolismo; a de Farmer e Belin, que citava oito características comuns aos seres vivos: processo, autorreprodução, armazenamento de informações, metabolismo, interações funcionais com o ambiente, estabilidade sob perturbações e capacidade de evoluir; e a de Mayr, que também listou oito características: organização complexa e adaptativa; singularidade química, no sentido das propriedades extraordinárias observadas nas macromoléculas normalmente encon- tradas em seres vivos, mas não na matéria inanimada; qualidade (onde Mayr faz um contraste entre o mundo físico como um mundo de quantificação e o mundo biológico como um mundo de qualidades, diferenças individuais, sistemas de comunicação, interações em ecossistemas etc.); individualidade e variabilidade; presença de um programa genético; natureza histó- rica; seleção natural; e indeterminação (incluindo a emergência de qualidades genuinamente novas no curso da evolução biológica). A tentativa de caracterizar a vida por meio de listas de características é cercada por problemas de solução difícil ou até mesmo impossível. Um deles diz respeito ao número e ao tipo das propriedades que devem ser incluídas numa lista de condições ne- cessárias e suficientes para a vida. De todas as listas possíveis de propriedades, qual seria a mais correta? Como poderíamos garantir que uma propriedade essencial não foi deixada de fora? Ou que não foi incluída uma propriedade dispensável? Não temos como responder a essas perguntas, pelo simples fato de que não podemos ter acesso à essência da vida, àquilo que define essencialmente um sistema como vivo. E há ainda o problema das chamadas “formas limítrofes” como os vírus e outras estruturas moleculares que apresentam, ao mesmo tempo, propriedades características da matéria bruta e de seres vivos. O próprio Mayr, por exemplo, reconheceu que sua lista provavelmente seria incompleta e um pouco redundante. Na verdade, todas as caracteriza- ções da vida produzidas por meio de listas tendem a ser incompletas ou redundantes; afinal, não basta fornecer uma lista de propriedades definidoras de vida; é preciso relacionar essas características e enquadrá-las em algum paradigma específico da biologia. Deve-se atentar, então, para o modo como os conceitos adquirem significado num paradigma: Em um paradigma, os conceitos são definidos em termos de outros conceitos, ou seja, eles não ad- quirem significado de maneira isolada e tampouco por meio de uma relação entre o ato de definir (isto é, de dar um significado particular a um conceito) e a realidade. Ao contrário, definir um conceito implica biologia B • aula 2 14 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -1 2 2 2 -1 inseri-lo numa rede de conceitos que se sustentam mutuamente e conferem significado uns aos outros. Essa rede de conceitos não pretende capturar a realidade essencial do que está sendo definido (por exemplo, a vida). O que acontece é que o conceito que está sendo definido adquire um significado es- pecífico em virtude de suas conexões com os demais conceitos na rede. Mark Bedau exemplifica a necessidade de buscar causas para as características comuns aos seres vivos num trecho muito interessante de seu artigo “The Na- ture of Life”, no qual faz uma analogia entre uma lista de características para a vida e uma síndrome médica. A lista deve se referir a algo como uma síndrome médica – uma coleção de sintomas para os quais não existe causa. Mas, quando médicos descobrem a coexistência das características de uma lista de sintomas, eles buscam uma causa subjacente. Quando o conceito de “vida” adquire significado no contexto de um paradigma, é importante verificar se as características dos seres vivos, antes meros tópi- cos de uma lista incompleta, passam a ser explicadas por meio de causas subjacentes, tornando-se, assim, significativas no contexto daquele paradigma. Claus Emmeche propõe os seguintes requisitos básicos para uma definição satisfatória de vida: (i) uma definição deve ser universal e coerente com a compreensão dos sistemas vivos na ciência moder- na; (ii) ser estruturada de modo a proporcionar uma compreensão clara e uma transmissão fácil de seu conteúdo no meio científico; e (iii) estar inserida num paradigma específico, de modo a apresentar uma sólida base teórica. Para que uma definição de vida seja considerada universal, é preciso que apresente conceitos genéricos, capazes de abranger todas as possíveis formas de vida, e não apenas a vida da maneira como a conhecemos na Terra – baseada em carbono, DNA, proteínas etc. A coerência dos conceitos de vida com os conceitos já existentes nas áreas da biologia, física e química modernas é essencial; afinal, essa definição deve fazer parte da ciência e, para isso, precisa ser compatível com ela. Além de apresentar base científica, uma definição de vida precisa ser bem organizada, com conceitos claros e bem definidos, de forma que possam ser fa- cilmente transmitidos e compreendidos por todos. E, finalmente, o fato de estar inserida num paradigma específico evita que ela se torne mais uma lista de características; afinal, as características apresentadas serão apenas aquelas que se mostram relevantes à luz do paradigma. Na medida em que a tarefa de definir “vida” é entendida em termos da explicitação das rela- ções desse conceito com os demais conceitos incluídos num paradigma (ou paradigmas) da biologia teórica, observando-se os requisitos discutidos acima, torna-se mais fácil levar a cabo essa tarefa, em comparação com a simples proposição de listas de características. Assim, é possível contrapor-se à visão comum no campo da biologia de que definir vida é muito difícil e provavelmente inútil para o crescimento do conheci- mento biológico. Como propõem Emmeche e El-Hani: Na medida em que não se estão buscando as propriedades essenciais dos sistemas vivos, não se trata de descobrir alguma força ou substância especial que caracterize a vida e tampouco de pro- por um conjunto de propriedades cruciais para a classificação de um sistema como vivo, mas apenas de identificar propriedades que deem significado ao conceito “vida” à luz de uma rede paradigmática de conceitos. Ao deixar-se de lado o procedimento de listar ca- racterísticas, concebendo-se a tentativa de definir vida em termos das relações desse conceito com os demais conceitos que são parte de um ou mais paradigmas da biologia, pode-se perceber que não só é possível definir vida como já existem na biologia pelo menos três definições teoricamente satisfatórias, à luz dos requisitos apresentados acima. Essas definições são encontradas na teoria da autopoiese, na biologia evolutiva neodarwinista e na biossemiótica. Marina de Lima Tavares. A Terra é viva? Hipótese Gaia e defini- ções de vida. Salvador, 2000. (adaptado) pesquisar e ler Em Vida: experiência inacabada, Salvador Edward Luria se propõe descrever o processo histórico da vida, do qual também fazemos parte, abordando os genes e as células, a herança biológica e a questão da energia, até chegar ao homem e sua mente. “Que é o homem?”, pergunta Pascal, citado por Luria. E responde: “Um nada em face do infinito, um infinito em face do nada.” (Trad. de Ana Mazur Spira. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1979.) Já vimos que não é fácil definir a vida. Mas podemos definir a morte? Esse é o intuito de José Luiz de Sousa Maranhão em O que é morte, livro que aborda de forma crítica e provocante questões como a abreviação e o prolongamento da vida humana e as principais concep- ções filosóficas a respeito do morrer. Discute-se também como a morte pode mascarar as injustiças sociais numa sociedade capitalista. No final, você encontra indicações de leitura e aprofundamento sobre o tema. (Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1999. ) biologia B • aula 2 CURSINHO DA POLI 15 2 2 2 -1 2 2 2 -1 navegar http://cienciahoje.uol.com.br Projeto de divulgação científica vinculado à SBPC (So- ciedade Brasileira para o Progresso da Ciência), oferece um panorama da produção intelectual e tecnológica de universidades, institutos e centros de pesquisa nacionais e dos avanços da ciência internacional. www.scielo.br Biblioteca eletrônica que abrange coleções selecio- nadas de periódicos científicos brasileiros (Scientific eletronic library on-line). biologia B • aula 1 16 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -1 aula 3 A composição molecular dos seres vivos Um homem é constituído por aproximadamente sete oc- tilhões (7 x 1027) de átomos, agrupados em cerca de dez trilhões (1013) de células. Essa aglomeração de células e átomos tem algumas propriedades assombrosas: é viva, experimenta alegria e sofrimento, discrimina entre o belo e o feio, distingue o bem do mal. Theodosius Dobzhansky, 1973. Como vimos no caderno anterior, há pouco mais de 100 elementos químicos da Terra identificados e conhe- cidos. Desses elementos, só quatro constituem mais de 95% de toda matéria viva. São o carbono (C), o hidrogênio (H), o oxigênio (O) e o nitrogênio (N), que, combinados com outros dois, o fósforo (P) e o enxofre (S), formam as principais moléculas dos seres vivos (uma maneira de memorizá-los é a sigla CHONPS). Embora haja uma grande variedade de compostos, resultado das combinações moleculares, apenas alguns ocorrem em grande quantidade nos organismos. Pode- mos reconhecer cinco: a água; os hidratos de carbono, que se combinam para formar os carboidratos ou açú- cares; os aminoácidos, que se combinam para formar as proteínas; os nucleotídeos, que cumprem a função da transferência de energia (a molécula de ATP) e que, combinados, formam também os ácidos nucleicos e os lipídios, incluindo as gorduras e as ceras. Uma das características que distinguem os seres vivos é a capacidade de manter a composição química constante, e isso não quer dizer que se trata de uma mistura, mas de estruturas moleculares altamente or- ganizadas. Essa organização demanda energia no nível celular, e a interação dos processos que mantêm tal ordem pode desorganizar o ser vivo, levando-o à morte. O estudo dos organismos através de suas moléculas e dos processos químicos (síntese e degração das subs- tâncias) revela que são similares. Por exemplo, seja numa bactéria, num cajueiro ou num homem, a transmissão da bagagem hereditária e a transformação da energia (respiração celular) seguem o mesmo princípio, como veremos mais adiante. Isso também indica o quanto existe em comum na biodiversidade, o que oferece apoio à ideia de que todos os seres vivos descendem de um ancestral comum. A água O que aconteceria com o seu corpo se ficasse sem água? Você já deve ter ouvido falar que o ser humano pode ficar até 30 dias sem comer, mas não passa 20 dias sem beber água. Por quê? Porque a maioria das reações bioquímicas do metabolismo celular se realiza em meio aquoso. Além disso, temos a necessidade de ingestão de água para repor o que se perde na transpiração, na respiração e na urina. Vejamos algumas das principais funções da água no metabolismo: • é considerada o dissolvente (ou solvente) universal, isto é, ela dissolve muitas substâncias orgânicas, por exemplo, os açúcares e sais minerais; • mantém o equilíbrio da temperatura no interior da célula, impedindo mudanças bruscas, que poderiam comprometer o metabolismo e a própria vida; • funciona como um meio de transporte de substâncias entre o interior da célula e o meio externo; • participa das reações de degradação (desmontagem) e síntese (montagem) das substâncias necessárias à manutenção da vida. As reações bioquímicas envolvendo a água podem ser classificadas em: frutose (monossacarídeo) sacarose (dissacarídeo) glicose (monossacarídeo) H2O monossacarídeomonossacarídeo dissacarídeo reação de síntese por desidratação (a água como produto na reação química) B + C A + H2O reação de hidrólise (a água como reagente na reação química) A + H2O B + C C C O H C OHH2 OH OH HO OHH H HH CC C CH2 HO O C H H OH H HO CC C CH2OH O H C C O H C OHH2 OH HO OHH H HH CC C CH2 HO O C O H OH H HO CC C CH2OH O A água participando das reações químicas de montagem e desmontagem de moléculas. biologia B • aula 3 CURSINHO DA POLI 17 2 2 2 -1 Como os seres vivos obtêm água? Inclua os vegetais e os organismos que vivem na água do mar, por exemplo, as baleias e os golfinhos. A água nos seres vivos A quantidade relativa de água nos organismos depen- de da espécie, da atividade metabóli- ca e da idade: a) medusa 98% b) bebê 85% c) idoso 65%. ca b Quando comparamos a quantidade de água na Terra e na maioria das células dos organismos, é interessante notar que a porcentagem é basicamente a mesma: 70%. É sabido que a quantidade de água varia de acor- do com a atividade da célula, a idade e a espécie. Por exemplo, as células musculares têm mais água do que as células ósseas; o bebê tem mais água do que um idoso; a medusa, ou água-viva, é praticamente só água! Por aí se vê que a discussão sobre a água – ou a falta dela – é mesmo vital. Será a falta de água para muitos um problema de distribuição? Você já parou para pensar sobre as motivações comerciais e financeiras no controle da água? Os sais minerais Os sais minerais, nas células, podem apresentar-se sob a forma não-solúvel, como o cálcio nos ossos e dentes, ou dissolvidos, originando os chamados íons. Por exemplo, o íon ferro (Fe++), o íon magnésio (Mg++), o íon cloro (Cl –) etc. Você já deve ter ouvido falar que as pessoas anêmi- cas precisam de alimentos ricos em ferro. O íon ferro é importante na formação das hemoglobinas – proteínas – das hemácias do sangue. Os indivíduos anêmicos têm falta do íon, ou seja, têm deficiências nessas células. Os sais minerais são substâncias que participam de muitas reações químicas do metabolismo, tanto dentro das células quanto fora delas. O sódio e o potássio, por exemplo, são responsáveis pela formação e a condução do impulso elétrico nas células nervosas. Abaixo, listamos os principais sais minerais e a sua importância para os seres humanos. Componente importante dos ossos e dos dentes. Essencial à coagulação do sangue; necessário para o funcionamento normal de nervos e músculos. funções cálcio mineral fósforo enxofre potássio cloro sódio cobre iodo cobalto manganês magnésio ferro flúor zinco vegetais verdes, leite e laticínios fontes leite e laticínios, carnes e cereais carnes e legumes carnes, leite e muitos tipos de fruta sal de cozinha e muitos tipos de alimento sal de cozinha e muitos tipos de alimento fígado, ovos, peixe, trigo integral e feijão frutos do mar, sal de cozinha iodado e laticínios carnes e laticínios cereais integrais, gema de ovo e vegetais verdes cereais integrais, vegetais verdes fígado, carnes, gema de ovo, legumes e vegetais verdes água fluorada diversos alimentos Componente importante dos ossos e dos dentes. Essencial para o armazenamento e a transferência de energia no interior das células (componente do ATP); componente do DNA e do RNA. Componente de muitas proteínas. Essencial para a atividade metabólica normal. Principal íon positivo no interior das células. Influencia a contração muscular e a atividade dos nervos. Principal íon negativo no líquido extracelular. Importante no balanço de líquidos do corpo e na manutenção do pH. Principal íon positivo extracelular. Importante no balanço de líquidos no corpo; essencial para a condução dos impulsos nervosos. Componente de muitas enzimas. Essencial para a síntese da hemoglobina. Componente dos hormônios da tireoide, que estimulam o metabolismo. Componente da vitamina B12. Essencial para a produção de hemácias. Necessário para a ativação de diversas enzimas. Necessário para o funcionamento normal de nervos e músculos. Componente da hemoglobina, da mioglobina e das enzimas respiratórias. Fundamental para a respiração celular. Componente dos ossos e dos dentes. Protege os dentes contra cáries. Componente de dezenas de enzimas, como as envolvidas na digestão. biologia B • aula 3 18 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -1 As substâncias orgânicas Ao longo da história, as substâncias orgânicas foram consideradas características dos seres vivos, sendo im- possível se formarem fora deles. Era o que argumenta- vam o naturalista inglês John Needham (1713-1781) e o químico sueco Jöns Jakob Berzelius (1779-1848), que apoiavam a chamada Teoria da Força Vital, ou vitalismo: só os seres vivos teriam uma “força”, uma “essência” imaterial para a fabricação dessas substâncias. Mas, num laboratório, um experimento do químico alemão Friedrich Wöhler (1800-1882) fez declinar o vitalismo. Wöhler produziu ureia, uma substância presente nos organismos, a partir do cianato de amônia, uma combi- nação de elementos da crosta terrestre. Atualmente, a expressão substâncias orgânicas é usada como categoria genérica que inclui substâncias formadas pelo carbono, mais precisamente ligações entre o carbono, o hidrogênio e o oxigênio. Vamos a elas. os carboidratos As principais substâncias químicas utilizadas pelas células dos seres vivos para movimentar todos os pro- cessos metabólicos são os carboidratos – popularmente açúcares (mas atenção: nem todo carboidrato têm o sabor adocicado). Eles também desempenham outras importantes funções como reserva energética e como elementos estruturais, ou seja, constroem a matéria viva e fornecem carbono para a síntese de outras substâncias. A fórmula química simplificada dos carboidratos pode ser escrita da seguinte maneira: C(H2O)n onde n é o número de carbonos, que pode variar. Os carboidratos de cinco até sete carbonos são os esqueletos estruturais de todos os outros tipos de molé- culas de carboidratos maiores. Por exemplo, a glicose tem seis carbonos (C 6 H 12 O 6 ) e é chamada de açúcar simples ou monossacarídeo. Representação química de dois monossacarídeos importantes dos seres vivos. Dois monossacarídeos reunidos, por exemplo, glicose e glicose ou glicose e frutose, são denominados de dissacarídeos. Dois monossacarídeos podem se unir por uma ligação denomi- nada glicosídica para formar um dissacarídeo, por exemplo, a sacarose. Os polissacarídeos são formados pela união de dezenas, centenas ou milhares de monossacarídeos. Os polissacarídeos são estruturas moleculares muito grandes1, que desempenham as principais funções vitais: depósito de energia, caso do amido nos vegetais e do glicogênio nos animais; e revestimento celular, caso da celulose na parede das células vegetais e da quitina na carapaça dos artrópodes. Representações ilustradas de dois polissacarídeos: o amido, dos vegetais, e o glicogênio, dos animais, importantes carboidratos que atuam como reserva energética. C or el S to ck P h ot o As algas, os vegetais e alguns procariotos são capazes de pro- duzir glicose pela fotossíntese. Nos vegetais, o excedente pode ser armazenado nas raízes e nas sementes como amido, que a cultura humana aprendeu a extrair para a fabricação de diversos tipos de alimentos, por exemplo, o pão, mostrado na fotografia. 3. O termo macromolécula designa genericamente qualquer tipo de molécula grande formada pela união de unidades que se repetem. biologia B • aula 3 CURSINHO DA POLI 19 2 2 2 -1 as proteínas Depois da água, são as substâncias mais abundan- tes nas células. As proteínas desempenham inúmeras funções: atuam na composição da membrana celular; facilitam os encontros moleculares (sendo, por isso, chamadas de biocatalisadoras ou enzimas); combatem proteínas estranhas; constroem a matéria viva etc. As proteínas são macromoléculas formadas pela polimera- lização4 de uma sequência de moléculas menores de- nominadas aminoácidos. Todos os sistemas vivos usam uma combinação dos 20 diferentes tipos de aminoácidos para construir a enorme diversidade proteica. Os aminoácidos têm a mesma estrutura química básica: uma amina (NH 2 ), uma carboxila (COOH) e um átomo de hidrogênio. O que define a identidade do aminoácido é o chamado grupo R (radical), que pode ser um átomo ou um conjunto deles ligado ao átomo central de carbono. C or el S to ck P h ot o Alguns organismos foram domesticados pelo homem com a finalidade de provê-lo de proteínas. As aves podem ser criadas em condições que permitam a construção das proteínas muito rapidamente e em grande quantidade. os ácidos nucleicos São substâncias orgânicas que orientam e coorde- nam toda a produção das proteínas e, assim, controlam e especificam a capacidade de cada célula. Também transmitem essas informações de célula a célula, de geração a geração – constituem o material hereditário. Os ácidos nucleicos são formados por longas sequências de “blocos de construção” chamadas nu- cleotídios. Um nucleotídio é uma molécula complexa, formada pelas seguintes subunidades: um grupo fos- fato (PO 4 ): um açúcar com cinco carbonos e uma base nitrogenada (porque contém nitrogênio, além do carbo- no). Há dois tipos de bases nitrogenadas: as pirimidinas, com um anel carbônico, e as purinas, com dois. As piri- midinas dos ácidos nucleicos são a timina, a citosina e a uracila; as purinas são a adenina e a guanina. NH2 C C CC C C O O PO C C C C N NN N H H H H HH H H H OH OH OH fosfatodesoxirriboseadenina Representação de um nucleotídio: acima, a estrutura química; abaixo, o modelo esquemático. Os nucleotídios são os blocos constituintes dos ácidos nucleicos. fosfato pentose base nitrogenada C C C O O HN CH CH3 H timina (T) N C CH C O O HN CH H uracila (U) N C CH C NH2 O N CH H citosina (C) N NH2 C C CHC CH H adenina (A) N NN N O C C CC CH H guanina (G) N NN HN H2N bases púricas bases pirimídicas A estrutura química das bases nitrogenadas.4. Estudaremos melhor os polímeros na química orgânica. Polímeros são macromoléculas formadas por moléculas menores que apresentam a mesma estrutura química. biologia B • aula 3 20 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -1 Existem dois tipos de ácido nucleico: o ácido deso- xirribose, ou o DNA, e o ácido ribonucleico, ou o RNA. Quimicamente eles diferem pelo tipo de açúcar: no DNA, a desoxirribose; no RNA, a ribose. No DNA, as bases nitro- genadas são a adenina, a guanina, a timina e a citosina; as bases do RNA são a adenina, a guanina, a citosina e a uracila. Quanto à estrutura, o modelo proposto para o DNA são duas fitas paralelas e torcidas, unidas por liga- ções de hidrogênio entre as bases nitrogenadas; para o RNA, propõe-se uma fita simples. As respectivas funções biológicas também são di- ferentes: o DNA é o ácido nucleico constituinte dos cromossomos, portadores da informação genética; o RNA cumpre a tarefa de transcre- ver a informação genética do DNA e traduzi-la em pro- teínas. os lipídios São substâncias orgânicas que se caracterizam pela insolubilidade em água como as gorduras e os óleos que aparecem nos tecidos dos seres vivos. Uma molé- cula lipídica é formada pela união entre o carbono, o hidrogênio e o oxigênio, mas, diferentemente do que ocorre nos carboidratos, a proporção de hidrogênio para oxigênio é muito maior; no carboidrato, a relação é sempre de 2:1. Compare-se, por exemplo, a com- posição da glicose (C 6 H 12 O 6 ) à da gordura (C 57 H 110 O 6 ). Quimicamente, a gordura tem duas partes: um glicerol e um grupo de ácidos graxos. Os lipídios exercem funções importantes nos seres vivos. Atuam como moléculas armazenadoras de ener- gia e também estruturais, participando, por exemplo, da impermeabilização das folhas nos vegetais e do isolamento térmico sob a pele das baleias e dos ursos polares. Th e N ex t Alguns vegetais armazenam energia alimentícia sob a forma de óleo, sobretudo nas sementes e nos frutos. A extração comercial do óleo e da gordura serve principalmente para as atividades da culinária humana. as vitaminas São substâncias que ativam muitas enzimas e reações do metabolismo, sendo importantes para o crescimento e a reprodução. Ao contrário das outras substâncias que vimos, as vitaminas são necessárias em pequenas quantidades. A falta delas, porém, causa deficiências no organismo, tais como a má-formação dos ossos. A composição química das vitaminas é bastante variada, mas predominam átomos de C, H, O, P e N. C or el S to ck P h ot o Os frutos contêm vitaminas e sais minerais, essenciais numa dieta balanceada, que favorece importantes processos químicos no plano celular. Nos seres humanos, por exemplo, a vitamina C (ácido ascórbico) estimula a absorção de ferro no intestino. Representação do modelo da estrutura do DNA. A polimeralização dos nucleotídios forma duas fitas paralelas e torcidas, ligadas por pontes de hidrogênio entre as bases nitrogenadas, da seguinte maneira: para a adenina (A), prende-se uma timina (T) e, a cada guanina (G), uma citosina (C). Assim, A-T, G-C. biologia B • aula 3 CURSINHO DA POLI 21 2 2 2 -1 O metabolismo celular O conjunto das inúmeras reações químicas (ou bioquímicas) que ocorre no interior da célula mantendo e sustentando a vida é chamado metabolismo celular. O metabolismo celular envolve reações químicas de degradação e de síntese de substâncias, e essas reações demandam energia para ser ativadas. As reações de de- gradação, principalmente dos açúcares, liberam a energia que é consumida na síntese de novas substâncias – na construção das proteínas e noutros processos celulares. As reações químicas que liberam energia são cha- madas reações exergônicas; as que absorvem energia Acesso em: 16 maio 2016. pesquisar e ler A adaptação biológica é a capacidade do organismo em se ajustar, dentro de certos limites, a determinada condição ambiental – a temperatura, a falta de água, a pressão etc. –, em busca da sobrevivência. O livro Genéti- ca e adaptação, de E. B. Ford (São Paulo: Editora Pedagógi- ca e Universitária e EDUSP, 1980), fundamenta o aspecto essencial da adaptação: as taxas de alteração genética. Se a evolução dos animais e dos vegetais é produto da seleção natural sobre a variabilidade genética, exige-se tanto uma variabilidade herdável imensa como uma estabilidade hereditária, que possa manter as qualidades que lhe sejam úteis. Como qualidades opostas – varia- bilidade e estabilidade genética – se mantêm, podendo dirigir a evolução? A obra mostra que isso é possível se entendermos que a unidade transmitida dos genitores aos descendentes encontra-se nos cromossomos, que podem ser recombinados de infinitas maneiras, graças à segregação. O autor faz emergir inúmeros trabalhos científicos analisando-os cuidadosamente, embora de forma resumida. Também dedica um capítulo à adapta- ção genética do homem, apresentando aspectos funda- mentais da evolução humana, por exemplo, a produção de apenas um embrião em cada concepção, para livrá-lo da competição intrauterina e, assim, permitir um tempo mais longo de desenvolvimento. O controle genético sobre esse fato é a velocidade de crescimento do corpo e da quantidade de óvulo liberada num certo intervalo de tempo pelo ovário. ver e ouvir Mendel e a Genética Série de documentários da Didak Vídeos (São Paulo, 1999). Mostra gravações no “jardim de Mendel”, em Brno, Tchecoslováquia, repetindo as experiências com ervilhas, que se tornaram a base da genética: dominância e recessividade, disjunção dos caracteres e segregação. Também estão relacionadas pesquisas posteriores de geneticistas como Correns, De Vries, Morgan e Muller. navegar Museu Gregor Mendel: www.mendel-museum.org. aula 16 CURSINHO DA POLI 7 2 2 2 -5 Gregor J. Mendel evidenciou a des- continuidade das características ao longo das gerações, o que suplantou a teoria da herança por mistura. Disponível em: biologiaviva.xpg.com.br/ mendelismo.htm. Acesso em : 23 jan. 2016. As bases do estudo de Genética: os princípios mendelianos Gregor Johann Mendel (1822-1884) formou-se em História Natural entre os anos de 1851 e 1853, na Universidade de Viena; e retornou à cidade de Brno ( Tchecoslováquia), onde era padre. Além de ser na- turalista, adquiriu ótima formação matemática, ini- ciando nessa época seus experimentos com ervilhas. Os cruzamentos experimentais de Mendel no estudo da transmissão de uma característica Mendel realizou experimentos com cruzamentos de ervilhas, Pisum sativum, analisando os pais e os descen- dentes quanto a uma determinada característica. Por exemplo, a textura da casca da semente, lisa ou rugosa. caráter das sementes Diagrama ilustrado de um dos cruzamentos experimentais de Mendel. a) Mendel denominou geração parental ou pais (P) as plantas de ervilhas cruzantes – método da fecunda- ção cruzada – que produziam sementes lisas e sementes As bases do estudo da Genética: os princípios mendelianos rugosas. Mendel conhecia a ascendência dessas plantas, considerando que elas eram puras. b) Os descendentes do cruzamento P (liso x rugoso) foram chamados de 1a geração ou F 1 . Nesse caso, o resultado obtido foram plantas que pro- duziam apenas sementes lisas (100%). Mendel permitiu que as plantas F 1 se reproduzissem sem sua interferência, através da autofecundação. c) Mendel analisou os descendentes de F 1 , contando-os e verificando os fenótipos, concluindo que para cada três sementes lisas uma era rugosa – a proporção era de 3:1. Mendel repetiu esse cruzamento várias vezes, obtendo sempre o mesmo resultado – 3:1. A explicação • cada caráter (nesse caso, liso ou rugoso) é determinado por um par de fatores; • na formação dos gametas, os fatores separam-se; • no encontro dos gametas (fecundação), os fatores unem-se de novo, ao acaso. A explicação de Mendel pode ser considerada como um exemplo de modelo de hipótese partindo da obser- vação de experimentos controlados. Esquematicamente, temos: caráter das sementes a) (fecundação cruzada) geração parental (P) RR x rr (linhagem pura) (liso) (rugoso) (linhagem pura) b) (autofecundação) gametas R r encontro gamético (F 1 ) Rr x Rr (híbrido) (100% liso) c) gametas R ou r R ou r RR ou Rr ou Rr ou rr encontros gaméticos possíveis (F 2 ) (proporção 25% [RR] + 50% [Rr] = 75% [R_] ; 25% [rr]) Diagrama ilustrado da interpretação de Mendel para o cruza- mento descrito acima. a) Mendel designou letras para os fatores (genes) envolvidos no estudo. Em minúsculo, a letra inicial da característica dita “recessiva”; em maiúsculo, a “dominante”. Cada característica é determinada por um par de fatores, no esquema temos: RR (liso) x rr (rugoso). b) Como o caráter “semente rugosa” não apareceu, foi dito recessivo, em oposição à semente lisa, dominante. Sem conhecer a meiose, Mendel supôs que os fatores (genes) se separam (segregam) na formação dos gametas. Assim, a planta RR só produz gametas com o fator R e a planta rr pro- duz gametas com o fator r; quando cruzadas, os descendentes herdam o R e o r dos pais; as plantas não são mais “puras” para o caráter e foram chamadas de híbridas, Rr (hoje heterozigotas). c) Mendel permitiu que as plantas que produziam sementes lisas Rr se autofecundassem. Elas eram capazes de formar gametas com o fator R (50%) e r (50%). Os encontros gaméticos previstos por Mendel – 1/4 RR, 1/2 Rr e 1/4 rr – coincidiram com os resulta- dos obtidos nos cruzamentos experimentais, isto é, 3:1. Re p ro d uç ão /A E Gregor Mendel, considera- do o fundador da Genética. biologia B • aula 16 8 CURSINHO DA POLI 2 2 2 -5 Mendel chamou de fatores o que hoje denomina- mos genes. O enunciado da 1a lei de Mendel: lei da segregação As análises dos cruzamentos experimentais de Gregor Mendel no estudo de uma característica concluíram que: os fatores (genes) segregam-se (separam-se) entre si na formação dos gametas. Essa afirmação ficou conhecida como lei da segregação dos fatores ou primeira lei de Mendel. Atualmente, os estudos da herança biológica envol- vendo apenas um par de alelos são classificados como herança monogênica ou monoibridismo. Outros exemplos de herança monogênica Muito antes dos cruzamentos experimentais de Mendel, a ideia mais corrente sobre a herança biológica era a da fusão das características dos pais. Um dos fatos que representava considerável apoio a essa tese era o casamento entre negros e brancos, que produzia des- cendentes mulatos. Daí o impacto e a mudança de con- cepção sobre a hereditariedade, e a enorme importância dos princípios mendelianos, que podem ser estendidos para qualquer organismo, vegetal ou animal. Contudo, cabe a ressalva de que nem todas as carac- terísticas são herdadas de modo simples, e nem sempre uma característica é completamente dominante sobre a outra (o que não foi previsto por Mendel), como veremos mais adiante. Por ora, seguem outros exemplos nos quais está envolvido apenas um par de genes. • herança do tipo da asa em mosca-da-fruta Em certa espécie de mosca, pequena, conhecida como mosca-da-fruta, a Drosophila melanogaster, os indivíduos têm asas alongadas, que os pesquisadores chamam de selvagens. As moscas criadas em laboratório podem apresentar asas que diferem da selvagem. Em geral, essas asas são rudimentos conhecidos como asa vestigial, uma característica mutante. Cruzando-se moscas homozigotas de asas selva- gens com moscas homozigotas de asas vestigiais, todos os descendentes têm asas do tipo selvagem. Cruzando-se esses descendentes entre si, surgem descendentes de