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Inteligência Artificial: Avanços e Tendências
flexão, Roland Barthes insistiu que não é o homem que fala a lin-
guagem, é a linguagem que fala o homem – a linguagem sendo, ela 
mesma, um hábito, talvez o mais forte deles. Hábito é um segun-
do nome para Cultura – mas não para a arte que, na modernida-
de ocidental, rechaçou definitivamente (por enquanto) a ideia de 
hábito: pelo contrário, para a arte moderna o que está em jogo é 
a desconstrução permanente do hábito. O mesmo William James 
estimava que 99%, “ou possivelmente 99,9%”, do comportamen-
to e pensamento humanos é algo “apenas automático e habitual”. 
O termo “automático” é dele – e se for assim, a inteligência artifi-
cial está no bom caminho... Uma psicóloga social contemporânea, 
Wendy Wood (2019), cedendo à tendência invasiva e alarmante 
da dosimetria, chegou à conclusão, após medidas e investigações 
pragmáticas, de que as ações humanas são habituais em 43% do 
tempo. Wendy Wood (2019) é, como se vê, otimista. Certamente 
não deve ter levado em conta os números das línguas ocidentais 
que dependem do hábito num índice entre 53% e 56%. Mas se na 
fala e na escrita os números fornecidos pela Teoria da Informação 
são esses últimos, em relação ao pensamento e à reflexão é bem 
possível que os dados de William James expressem com mais per-
tinência a realidade dos fatos. Pelo menos a realidade do homem 
comum. Cientistas e artistas, os primeiros fornecendo as soluções 
e os segundos apontando os problemas e vislumbrando as saídas 
que eles mesmos não têm condições de concretizar, rebaixam 
os números de James a algo menor do que os da própria Wendy 
Wood (2019), bem menor. Um bom artista não pode ir acima do 
índice dos 20%-25% de hábitos em suas propostas – pelo menos 
no instante do rompimento, como no caso de Picasso com sua De-
moiselles d’Avignon;3 se esse artista em seguida contentar-se com 
3 Esses 20%-25% de hábito distribuem-se entre o recurso a uma tela de 
pano, que Picasso ainda usa e que é código tradicional para a pintura (portanto, 
hábito); o uso de pincéis, espátulas e tinta a óleo, outros tantos marcadores ha-
bituais da pintura; e a adoção da figura humana, traço imemorial da arte a que

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