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TÓPICO 3 | GERAÇÃO DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX: BOURDIEU, HABERMAS E GIDDENS 125 Como entender o papel da Sociologia para Pierre Bourdieu? Que relação o conjunto de sua obra mantém com a educação? Apesar da dificuldade de responder à primeira questão, procuramos nas próximas páginas destacar algumas das principais reflexões bourdiesianas e os conceitos por ele elaborados. Já com relação à segunda pergunta, foco deste material, podemos indicar que a trajetória de Pierre Bourdieu começou justamente com dois estudos clássicos sobre a educação e o sistema de ensino da França: primeiro, em 1964, publicou ‘Os herdeiros’, em parceria com Jean-Claude Passeron; esta dupla também publicou um clássico da Sociologia da Educação em 1970, intitulado ‘A reprodução’. Pierre Bourdieu pensava a sociedade em torno da ideia de campos. O que é um campo? Novamente, a utilização deste recurso se apresentou como uma alternativa analítica para a oposição ao subjetivismo e o objetivismo no interior das disputas teóricas nas ciências sociais, que ou ampliam em demasia o papel do agente ou reduzem a mero reflexo da sociedade (BOURDIEU, 1989). Os indivíduos estão fortemente vinculados aos universos sociais que partilham. E o que são esses universos senão os campos sociais? Bourdieu (2011) nomeou-os como espaços de relações que têm o poder de construir realidades relacionais de sentido acerca do mundo. É um instrumento analítico de pesquisa visando delimitar esses territórios relativamente autônomos por onde circulam agentes, instituições, regras, normas, poderes determinados. No seu interior, os agentes disputam o monopólio de saberes específicos, acionando estratégias de assimilação, legitimação e de exclusão desferidas em lutas simbólicas pela produção das crenças e das regras. Assim, cada campo possui suas próprias instâncias de consagração. Elas são, portanto, variadas e sempre relacionadas diretamente com o que põe em movimento no jogo jogado. O que é um campo social? Podemos percebê-lo como um espaço não necessariamente material, mas de relações sociais entre agentes e instituições diversas. A partir de Bourdieu, um campo social é uma rede de relações objetivas construindo um espaço estruturado a partir de posições de poder e disputas simbólicas (BOURDIEU, 2003; 2004). Em outras palavras, um campo social pode ser observado pela sua singularidade e autonomia em relação a outros campos, como econômico, ou o político, existindo e fazendo sentido senão “relacionalmente, por meio do jogo de oposições e distinções”, diz Bourdieu (2003, p. 27). Esse microcosmo é dotado de suas próprias leis (BOURDIEU, 2004), sendo relativamente autônomo porque ainda supõe que obedeça a leis sociais do macrocosmo, isto é, do mundo social. Porém, o grau de sua autonomia depende do volume e estrutura de capital acumulado pelos agentes e, portanto, pelo próprio campo. Quanto mais dependente dos outros campos, menor sua capacidade de “refração”. Neste sentido, a autonomia indica a capacidade de refratar essas externalidades em maior ou menor grau, a ponto de mitigar essas interferências (BOURDIEU, 2004). No interior de “campo de forças”, existe uma luta concorrencial pelo monopólio e domínio sobre o próprio campo, aquilo que faz parte ou não. Em