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favor dos mercados de capital livre).64 Também em Londres, o governo de Margaret Thatcher empurrou vigorosamente a liberalização da conta de capital, de forma unilateral, sem qualquer respaldo dos Estados Unidos. Ao contrário, foi a administração Reagan que seguiu atrás da liderança de Thatcher. A maior reclamação de Stiglitz contra o FMI é que ele reagiu errado à crise financeira asiática de 1997, emprestando um total de US$ 95 bilhões a países em dificuldade, mas com a imposição de condições no estilo do Consenso de Washington (altas taxas de juros, menores deficits governamentais), que verdadeiramente serviram para piorar a crise. Essa é uma opinião compartilhada parcialmente por, entre outros, o economista e colunista Paul Krugman.65 Não existe qualquer dúvida sobre a gravidade da crise dos anos 1997 e 1998. Em países como a Indonésia, a Malásia, a Coreia do Sul e a Tailândia houve uma recessão severa em 1998. Mas nem Stiglitz nem Krugman oferecem uma análise convincente de como a crise do Leste Asiático poderia ter sido mais bem administrada sob o padrão de linhas keynesianas, com as moedas flutuando livremente e o aumento dos deficits dos governos – com a permissão do FMI. Nas palavras ásperas de uma carta aberta para Stiglitz, de Kenneth Rogoff, que se tornou o economista chefe do FMI depois da crise asiática: Os governos, em geral, chegam ao FMI para pedir ajuda financeira quando estão tendo dificuldades de encontrar compradores para sua dívida e o valor da sua moeda nacional está caindo. A prescrição stiglitziana é a de aumentar... os deficits fiscais, ou seja, emitir mais papéis da dívida e imprimir mais dinheiro. Você parece acreditar que, se um governo em apuros emitir mais dinheiro, seus cidadãos repentinamente vão achá-lo mais valioso. Você parece acreditar que, quando os investidores não querem mais absorver a dívida de um governo, tudo que se precisa fazer é aumentar a oferta, e ela venderá que nem pão fresco. Nós, no – não, leia nós, sobre o planeta Terra – temos considerável experiência sugerindo fazer o contrário. Nós – os habitantes da Terra – descobrimos que, quando um país em dificuldade fiscal tenta escapar imprimindo mais dinheiro, a inflação sobe, com frequência descontroladamente... As leis da economia podem ser diferentes no seu pedaço do quadrante gama, mas por aqui descobrimos que, quando um governo quase falido deixa de restringir, de modo verossímil, o perfil do tempo dos seus deficits fiscais, as coisas geralmente ficam piores, e não o contrário.66 Nem ficou claro se a imposição temporária dos controles do capital da Malásia, em 1997, fez uma diferença significativa para o desempenho da economia durante a crise. Krugman, pelo menos, reconhece que as instituições fiscais do Leste Asiático, que tomaram empréstimos de curto prazo em dólares, mas emprestaram a moeda local a longo prazo (com frequência para companheiros políticos), tiveram grande parte da responsabilidade pela crise. Mas sua conversa sobre a volta da economia da Grande Depressão agora parece exagerada. Nunca houve uma depressão no Leste Asiático (exceto talvez no Japão, que dificilmente poderia ser descrito como uma vítima das malfeitorias do FMI). Depois do choque de 1998, todas as economias afetadas voltaram rapidamente para um crescimento econômico – de fato, um crescimento tão rápido que, em 2004, alguns analistas estavam se perguntando se as “duas irmãs” de Bretton Woods ainda tinham um papel para desempenhar como credoras internacionais.67 Na verdade, os anos 1980 assistiram ao aparecimento de um tipo completamente diferente