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domínio da lei (especificamente, os direitos à propriedade, estilo britânico) e uma
administração relativamente não corrupta – entre os mais importantes “bens públicos” do
imperialismo liberal do final do século XIX. Era mais provável que os contratos das dívidas
dos empréstimos coloniais fossem, muito simplesmente, mais executáveis do que aqueles em
estados independentes. Isso era porque, como Keynes observou depois, “A Rodésia do Sul –
um lugar no meio da África, com uns poucos milhares de habitantes brancos e menos de um
milhão de negros – pode fazer um empréstimo não garantido em termos não muito diferentes
do nosso próprio [British] War Loan – Empréstimo de Guerra [Britânico]”, enquanto
investidores poderiam preferir “ações da Nigéria (que não tem garantia do governo britânico)
... às debêntures da Ferrovia Londres e Norte-Leste”.28 A imposição da lei britânica (como no
Egito, em 1882) praticamente se resumia à garantia da “não contumácia”; a única incerteza que
os investidores tinham que enfrentar se referia à esperada duração do domínio britânico. Antes
de 1914, a despeito do crescimento de movimentos nacionalistas em possessões tão diferentes
quanto a Irlanda e a Índia, a independência política ainda parecia uma perspectiva claramente
remota para a maioria dos seus povos. Nesse ponto, mesmo as colônias importantes de
colonização branca tinham recebido apenas uma autonomia política limitada. E nenhuma
colônia parecia mais distante de se tornar independente do que Hong Kong.
Entre 1865 e 1914, investidores britânicos colocaram pelo menos 74 milhões de libras
em ações chinesas, uma pequenina proporção do total de 4 bilhões que eles mantinham fora
em 1914, mas uma soma significativa para a empobrecida China.29 Sem dúvida, serviu de
garantia para os investidores o fato de que, a partir de 1854, a Grã-Bretanha não apenas
administrava Hong Kong como a joia da coroa, mas também controlava o sistema chinês
inteiro através da Imperial Maritime Customs [Alfândega Marítima Imperial], assegurando
que pelo menos uma parte dos impostos cobrados nos portos chineses fosse usada para pagar
os juros sobre os títulos possuídos pelos britânicos. Mas, mesmo nos alojamentos europeus
dos chamados portos do tratado, onde a Union Jack, o pavilhão britânico, adejava, e o taipan
bebericava seu gim e tônica, havia perigos. Não importa o quão firmemente os britânicos
controlassem Hong Kong, eles não puderam fazer nada para impedir a China de se meter em
guerras, primeiro contra o Japão em 1894-1895, depois na Revolução Boxer, em 1900, e,
finalmente, na revolução que derrubou a dinastia Qin em 1911 – uma revolução parcialmente
inflamada pelo desagrado disseminado dos chineses diante do domínio estrangeiro da sua
economia. Cada uma dessas sublevações atingiu os investidores estrangeiros onde lhes dói
mais: nas suas carteiras. Muito pelo que aconteceu em crises posteriores – a invasão japonesa
em 1941 ou, pelo que interessa, a retomada de Hong Kong pela China, em 1997 –, os
investidores em Hong Kong viram quedas profundas no valor das suas ações e seus títulos
chineses.30 Essa vulnerabilidade do começo da globalização a guerras e revoluções não era
peculiar à China. Aconteceu de acabar sendo verdadeiro para todo o sistema financeiro do
mundo.

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