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forte que guardava a boca do rio Pearl, o canal navegável entre Hong Kong e Guangzhou. Sob a Convenção de Chuenpi, assinada em janeiro de 1841 (mas depois repudiada pelo imperador), Hong Kong se tornou uma possessão britânica. O Tratado de Nanquim, assinado um ano depois de outra insurgência unilateral, confirmou essa concessão, e também liberou o comércio de ópio em cinco chamados “portos do tratado”: Cantão, Amoy (Xiamen), Foochow (Fuzhou), Ningbo e Xangai. De acordo com o princípio da extraterritorialidade, os cidadãos britânicos poderiam operar nesses portos sem reponder à lei chinesa. Para a China, a primeira Guerra do Ópio deslanchou uma era de humilhação. O vício da droga explodiu. Missionários cristãos desestabilizaram as tradicionais crenças de Confúcio. E, no caos da Rebelião Taiping – uma revolta camponesa contra a desacreditada dinastia liderada pelo autoproclamado irmão mais moço de Cristo –, entre 20 e 40 milhões de pessoas perderam suas vidas. Mas, para Jardine e Matheson, que correram para comprar terras em Hong Kong, e logo mudaram sua matriz para a East Point da ilha, tinham chegado os dias de glória da globalização vitoriana. O Mirante de Jardine, um dos pontos mais elevados da ilha, foi onde a companhia costumava manter um vigia permanentemente estacionado, para avistar os barcos veleiros da empresa quando chegavam de Bombaim, Calcutá ou Londres. Enquanto Hong Kong florescia como um entreposto, logo o ópio deixou de ser a única linha de comércio da companhia. No começo dos anos 1900, a Jardine & Matheson tinha suas próprias cervejarias, suas próprias manufaturas têxteis, sua própria companhia de seguros, sua própria empresa de barcas, e até mesmo sua própria ferrovia, incluindo a linha de Kowloon a Cantão, construída entre 1907 e 1911. De volta a Londres, um investidor tinha uma miríade de oportunidades de investimento estrangeiro abertas para ele. Nada ilustra isso melhor do que os livros contábeis de N. M. Rothschild & Sons, que revelam a mais extraordinária série de ações que os sócios Rothschild possuíam em seu portfolio multimilionário em libras. Uma única página lista não menos de vinte diferentes títulos, incluindo bônus emitidos pelos governos do Chile, Egito, Alemanha, Hungria, Itália, Japão, Noruega, Espanha, e Turquia, e também ações emitidas por onze diferentes ferrovias, entre as quais quatro na Argentina, duas no Canadá, e uma na China.18 Nem eles foram os únicos membros dessa rarefeita elite financeira que se envolveram nesse tipo de diversificação internacional. Já em 1909, pelo modesto desembolso de 2 xelins e 6 centavos, os investidores britânicos podiam comprar o livro de Henry Lowenfeld, Investment: An Exact Science [Investimento: uma ciência exata], que recomendava um “sistema sólido de médias, baseadas na Distribuição Geográfica do Capital”, como um meio de “reduzir ao mínimo a mácula da especulação do ato do investimento”.19 Como Keynes mais tarde relembraria, numa passagem merecidamente famosa em seu Consequências econômicas da paz, quase não exigia qualquer esforço para um londrino de posses moderadas “aventurar sua riqueza nos recursos naturais e novos empreendimentos em qualquer região do mundo, e compartilhar, sem exceção nem problemas, os seus prospectivos frutos e vantagens”.20 Naquela época, havia cerca de quarenta bolsas de valores estrangeiras espalhadas pelo