Prévia do material em texto
muito perigoso para que os mercados do seguro privado possam sobreviver. Mesmo nos Estados Unidos, o governo federal assumiu mais de 90% dos riscos dos danos da guerra, através da War Damage Corporation [Corporação dos Danos da Guerra], uma das mais lucrativas entidades do setor público na história, pela óbvia razão de que nenhum dano da guerra aconteceu no território americano.38 Com a maior e a melhor vontade do mundo, os indivíduos não poderiam esperar fazer seguro de vida contra a Força Aérea dos Estados Unidos. A resposta adotada mais ou menos no mundo inteiro foi que os governos assumiram, com efeito, nacionalizar os riscos. Quando os japoneses se organizaram para arquitetar um sistema de bem-estar social universal em 1949, seu Conselho Consultivo para a Previdência Social reconheceu uma dívida ao exemplo britânico. Na opinião de Bunji Kondo, um crente convencido na cobertura universal do seguro social, já era hora de ter bebariji no nihonhan: Beveridge para os japoneses.39 Mas eles levaram a ideia ainda mais longe do que Beveridge tinha pretendido. O objetivo, como o relatório do Conselho Consultivo deixou claro, era criar um sistema no qual fossem tomadas medidas para a segurança econômica para a doença, o dano, a injúria, o nascimento, a invalidez, a morte, a velhice, o desemprego, as famílias grandes e outras causas de empobrecimento, através... do pagamento pelos governos... [e] no qual o mínimo padrão de vida será garantido aos necessitados pela assistência nacional.40 Daquele momento da história japonesa em diante, a previdência social protegeria as pessoas contra todos os caprichos da vida moderna. Se nascessem doentes, o Estado pagaria. Se não pudessem pagar pela educação, o estado pagaria. Se não pudessem encontrar trabalho, o Estado pagaria. Quando se aposentassem, o Estado pagaria. E, quando finalmente morressem, o Estado pagaria aos seus dependentes. Isso certamente condizia com os objetivos da ocupação americana do pós-guerra: “Substituir uma economia feudal por uma economia do bem estar-social”.41 Mas teria sido errado assumir (como fez um bom número de analistas do pós-guerra) que o sistema da previdência social do Japão tivesse “sido imposto no atacado por um poder estrangeiro”.42 Na realidade, os japoneses instituíram seu próprio sistema de bem estar-social – e começaram a fazê-lo muito antes do final da II Guerra Mundial. O verdadeiro propulsor foi o apetite insaciável do Estado por jovens soldados e trabalhadores capacitados, em meados do século XX, não o altruísmo social. Como o cientista político americano Harold D. Lasswell observou, o Japão nos anos 1930 se tornou um Estado militarizado, uma guarnição.43 Mas foi um dos Estados que levou adiante a promessa de um “Estado do bem-estar social”, oferecendo segurança social em troca do sacrifício militar. Existiu algum tipo de seguro social básico no Japão antes dos anos 1930; seguro contra acidentes nas fábricas e seguro de saúde (introduzido para operários em 1927). Mas isso cobria menos do que dois terços da força de trabalho industrial.44 Significativamente, o plano para o Ministério do Bem-Estar Social do Japão (Koseisho) foi aprovado pelo governo imperial do Japão no dia 9 de julho de 1937, apenas dois meses depois do início da guerra com a China.45 Sua primeira iniciativa foi introduzir um novo sistema universal de seguro de