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desagravo.** Como ele me disse quando nos encontramos na terra devastada onde antes se erguia a sua casa: “Esta cidade foi meu lar durante cinquenta anos; onde eu criei minha família; do que tenho muito orgulho. E, de alguma maneira, fico emocionado quando vejo isso”. Naquela altura, a State Farm já tinha resolvido 640 casos levados por Scruggs em nome dos seus clientes, cujas reivindicações tinham sido inicialmente recusadas, num total de US$ 80 milhões; e tinha concordado em rever 36.000 outros casos.4 Pareceu que as seguradoras estavam se retratando. A campanha de Scruggs contra elas entrou em colapso em novembro de 2007, quando ele, seu filho Zachary e três associados foram indiciados com acusações de tentar subornar um juiz da corte estadual, num caso de uma disputa sobre honorários legais relacionados com o Katrina.*** Scruggs agora enfrenta uma sentença de prisão de mais de cinco anos.5 Essa pode soar como apenas mais uma história da lassidão moral sulista – ou como prova de que aqueles que vivem pelo agravo, morrem pelo agravo. Ainda assim, independente do descenso de Scruggs, de bom sujeito para bandido, o fato que permanece é que ambas as seguradoras, State Farm e All State, agora declararam que uma grande parte da costa do golfo do México é uma zona “não assegurável”. Por que arriscar renovar as apólices daqui, quando os desastres naturais acontecem muito frequentemente e onde, depois do desastre, as companhias têm que enfrentar tipos como Dickie Scruggs? A forte implicação pareceria ser que prover cobertura de seguro para os habitantes de lugares como Pascagoula e Saint Bernard não é mais algo que o setor privado está preparado para fazer. Ainda assim, está longe de ficar claro se os legisladores americanos estão prontos para assumir os riscos subentendidos por uma extensão adicional do seguro público. Os danos totais não assegurados que resultaram de furacões em 2005 provavelmente vão acabar custando ao governo federal pelo menos US$ 109 bilhões na assistência pós-desastre e US$ 8 bilhões de isenção de impostos, quase três vezes as perdas estimadas e cobertas por seguro.6 De acordo com Naomi Klein, isso é sintomático de um “Disaster Capitalism Complex” [Complexo do Capitalismo de Desastre] disfuncional, que gera lucros privados para alguns, mas deixa o pagamento dos verdadeiros custos da catástrofe para os contribuintes.7 Diante dessas contas ruinosas, qual é a maneira correta de proceder? Quando o seguro falha, a única alternativa é, com efeito, nacionalizar todos os desastres naturais – criando um imenso risco sem fundo para os governos? Naturalmente, a vida sempre foi perigosa. Sempre houve furacões, exatamente como sempre houve guerras, pragas, pestes e fome. E os desastres podem ser pequenos negócios privados, como também grandes e públicos. Todos os dias, homens e mulheres ficam doentes, ou são feridos ou acidentados e não podem mais trabalhar. Todos nós envelhecemos e perdemos a força para ganhar o pão nosso de cada dia. E uns poucos desafortunados já nascem incapazes de se manter. E mais cedo ou mais tarde todos nós morreremos, frequentemente deixando um ou mais dependentes atrás de nós. O ponto-chave é que poucas dessas calamidades são