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A ascensao do dinheiro - Niall Ferguson-131

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1,75 milhão de pedidos de pagamento de seguro, com perdas estimadas em mais de US$ 41
bilhões, fazendo do Katrina a catástrofe mais cara na história moderna americana.1 Mas o
Katrina não submergiu apenas Nova Orleans. O furacão também deixou claro os defeitos de
um sistema de seguro que dividia as responsabilidades entre companhias privadas de seguros,
que ofereciam proteção contra danos, e o governo federal, que oferecia proteção contra
inundações, sob um esquema que tinha sido introduzido depois do furacão Betsy em 1965. No
restolho do desastre de 2005, milhares de assessores de companhias de seguro se
desdobraram ao longo da costa da Louisiana e do Mississippi. De acordo com muitos
residentes, seu trabalho não foi ajudar os donos de apólices desalojados pelo furacão, mas,
sim, evitar pagá-los, asseverando que os danos que as suas propriedades tinham sofrido eram
devidos à inundação, e não ao vento do furacão.* As companhias de seguro não contavam com
um dos seus assegurados, o antigo piloto da Marinha dos Estados Unidos, e advogado célebre,
Richard F. Scruggs, o homem outrora conhecido como o Rei dos Agravos (delitos de natureza
civil).
“Dickie” Scruggs apareceu inicialmente nas manchetes nos anos 1980, quando
representou trabalhadores de estaleiros cujos pulmões tinham sido fatalmente danificados pela
exposição ao amianto, ganhando um acordo de US$ 50 milhões. Mas aquilo foi troco miúdo
comparado com o que mais tarde ele faria as companhias de tabaco pagarem: mais de US$
200 bilhões para o Mississippi e outros 45 estados, como uma compensação para os custos de
Medicaid, elevados pelas doenças relacionadas com o fumo. O caso (imortalizado no filme O
informante) fez de Scruggs um homem rico. Dizem que sua remuneração na ação foi de US$
1,4 bilhão, ou US$ 22.500 por cada hora que seu escritório trabalhou. Ele usou parte desse
dinheiro para adquirir uma casa de frente para o mar no Beach Boulevard, em Pascagoula,
uma viagem curta (de jato privado, naturalmente) até seu escritório em Oxford, no
Mississippi. Tudo que restou da sua casa depois do Katrina foi uma base de concreto, mais
umas poucas paredes tão terrivelmente danificadas que tiveram de ser demolidas. Embora a
sua companhia seguradora tivesse (sabiamente) pago o valor do seu seguro, Scruggs ficou
assombrado quando soube do tratamento conferido a outros donos de apólices. Entre aqueles
para quem ele se ofereceu para representar estava seu cunhado, Trent Lott, o antigo líder da
maioria republicana no Senado, e seu amigo, o deputado estadual no Mississippi, Gene Taylor.
Ambos haviam perdido suas casas no Katrina, e foram despachados sumariamente pelas suas
seguradoras.2 Numa série de casos na defesa de donos de apólices de seguro, Scruggs alegou
que as seguradoras (principalmente a State Farm e a All State) estavam tentando renegar suas
obrigações legais.3 Ele e seu “Grupo Scruggs Katrina” realizaram uma detalhada pesquisa
meteorológica para mostrar que quase todos os danos em Pascagoula tinham sido causados
pelos ventos, horas antes da inundação. Scruggs também foi abordado por dois inspetores de
seguros, que afirmaram que a companhia para a qual trabalhavam tinha alterado seus
relatórios para atribuir o dano à inundação e não aos ventos. Os lucros recordes das
companhias de seguro em 2005 e 2006 apenas estimularam o apetite de Scruggs para o

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