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1929. Essa queda de preços tornou ainda mais difícil para os países com grandes dívidas externas (incluindo a Alemanha, sobrecarregada com as reparações da guerra) consiguirem a moeda estável de que precisavam para o pagamento dos juros aos seus credores estrangeiros. A guerra também tinha aumentado o poder da força do trabalho organizado na maioria dos países combatentes, tornando mais difícil para os empregadores cortar salários por causa da queda dos preços. Como as margens de lucro ficaram apertadas pelo aumento real dos salários, as empresas foram forçadas a demitir trabalhadores ou arriscar ir à falência. Todavia, o fato que permanece foi que os Estados Unidos, que estavam no epicentro da crise, estavam, em muitos aspectos, num bom estado econômico quando a Depressão eclodiu. Não havia escassez de produtividade, intensificada pela inovação tecnológica no período entre as duas guerras, em companhias como a Dupont (náilon), Procter & Gamble (sabão em pó), Revlon (cosméticos), RCA (rádio) e IBM (máquinas contábeis). “Uma razão fundamental para esperar por maiores ganhos futuros”, argumentou Irving Fisher, de Yale, “foi que nós, na América, estávamos utilizando a ciência e a invenção na indústria como jamais o fizéramos anteriormente.”81 As práticas administrativas e gerenciais também estavam sendo revolucionadas por homens como Alfred Sloan, na General Motors. Mas precisamente essas forças podem ter causado o deslocamento inicial que colocou em movimento uma clássica bolha da bolsa de valores. Para observadores como Fisher, realmente parecia como se o céu fosse o limite, na medida em que mais e mais famílias americanas aspiravam equipar seus lares com automóveis e bens duráveis – produtos que a venda a prestações colocava ao seu alcance. As ações da RCA subiram estonteantes 939% entre 1925 e 1929; seu coeficiente de ganhos nesse preço no pico do mercado foi de 73.82 A euforia encorajou uma corrida nas novas ofertas iniciais públicas (IPOs); ações que valiam 6 bilhões de dólares foram emitidas em 1929, um sexto desse valor durante o mês de setembro. Houve uma proliferação de novas instituições financeiras conhecidas como consórcios de investimento, desenhadas para capitalizar sobre o boom da bolsa de valores. (Goldman Sachs escolheu o dia 8 de agosto de 1929 para anunciar seu próprio plano de expansão, na forma da Goldman Sachs Trading Corporation; se essa corporação não tivesse sido uma entidade independente, seu subsequente colapso poderia muito bem ter acabado com o próprio Goldman Sachs.) Ao mesmo tempo, muitos pequenos investidores (como o próprio Irving Fisher) confiaram na alavancagem para aumentar seu portfolio de ações e sua exposição na bolsa de valores, usando empréstimos de corretores (que frequentemente eram providos por corporações, e não por bancos) para comprar ações na margem, e desse modo pagando apenas uma fração do preço de compra com seu próprio dinheiro. Como em 1719, também em 1929 houve insiders inescrupulosos, como Charles E. Mitchell, do National City Bank, ou William Crapo Durant, da GM, e leigos ingênuos, como Groucho Marx.83 Como em 1719, fluxos de dinheiro recente entre os mercados financeiros serviram para magnificar e transmitir choques. E, como em 1719, foi a ação das autoridades monetárias que determinaram a magnitude da bolha, e das consequências quando ela explodiu.