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A ascensao do dinheiro - Niall Ferguson-99

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acordado que os Nove Homens teriam o direito de comparecer (mas não o direito de votar)
nas reuniões dos Dezessete Senhores e de examinar minuciosamente as contas das compras
anuais. Os principais participantes também passaram a ter o direito de indicar auditores
(rekeningopnemers), para analisar os balanços apresentados aos Estados Gerais.25 Os
acionistas foram ainda mais apaziguados pela decisão, em 1632, de estabelecer um padrão de
12,5% de dividendos, duas vezes o índice pelo qual a Companhia podia fazer empréstimos.***
O resultado dessa política foi que, dali em diante, virtualmente todos os lucros líquidos da
Companhia foram distribuídos para os acionistas.26 Os acionistas também receberam garantias
efetivas contra a diluição da sua participação acionária. Surpreendentemente, o capital básico
permaneceu quase inalterado ao longo da existência da VOC.27 Quando os dispêndios do
capital eram exigidos, a VOC levantava dinheiro não emitindo novas ações, mas emitindo
dívida na forma de títulos. De fato, tão bom era o crédito da Companhia que ela conseguiu,
nos anos 1670, agir como intermediária para um empréstimo de dois milhões de florins
holandeses para os estados da Holanda e da Zelândia.
Nenhum desses arranjos teria sido sustentável, naturalmente, se a VOC não tivesse se
tornado lucrativa, em meados do século XVII. Numa medida substancial, essa foi a realização
de Jan Pieterszoon Coen, um jovem belicoso que não tinha ilusões sobre a relação entre
comércio e coerção. Como o próprio Coen deixava claro: “Não podemos fazer guerras sem
comércio, nem comércio sem guerras”.28 Ele era impiedoso no seu tratamento aos
competidores, executou os funcionários da Companhia das Índias Orientais da Grã-Bretanha
em Amboyna e efetivamente dizimou os nativos bandaneses. Um construtor de império nato,
Coen tomou o controle do pequeno porto javanês de Jacarta em maio de 1619, renomeou-o de
Batávia e, apenas com trinta anos, convenientemente se tornou o primeiro governador-geral
das Índias Orientais Holandesas. Ele e seu sucessor, Antoine van Diemen, expandiram
sistematicamente o poder holandês na região, expulsando os britânicos das ilhas Banda, os
espanhóis de Ternate e Tidore, e os portugueses de Malaca. Em 1657, os holandeses
controlavam a maior parte do Ceilão (Sri Lanka); a década seguinte assistiu a uma expansão
ainda maior pela costa Malabar no subcontinente, e nas ilhas Célebes (Sulawesi). Também
havia bases holandesas na costa Coromandel.29 O poder de fogo e o comércio navegavam lado
a lado em navios como o Batavia – uma esplêndida réplica do qual pode ser vista hoje em
Leysland, na costa da Holanda.
Os desenlaces comerciais dessa estratégia agressiva foram substanciais. Nos anos 1650,
a VOC havia estabelecido um monopólio efetivo e altamente lucrativo sobre a exportação de
cravos-da-índia, macis e noz-moscada (a produção de pimenta estava muito amplamente
dispersa para ser monopolizada), e estava se tornando um importante distribuidor para as
exportações têxteis de Coromandel.30 E estava também atuando como um eixo para o comércio
intra-asiático, trocando prata e cobre japoneses por têxteis indianos e ouro e seda da China.
Por sua vez, os têxteis indianos podiam ser comercializados por pimenta e especiarias das
ilhas do Pacífico, que podiam ser usadas para comprar metais preciosos do Oriente Médio.31

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