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A ascensao do dinheiro - Niall Ferguson-91

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processo tem sido acompanhado por trapaças, quando insiders inescrupulosos tentam lucrar à
custa de neófitos ingênuos. Tão familiar é esse padrão que é possível destilá-lo em cinco
estágios:
 
1. Deslocamento: alguma mudança nas circunstâncias econômicas cria oportunidades
novas e lucrativas para determinadas companhias.
2. Euforia ou excesso de transações: um processo de retroalimentação se manifesta, por
meio do qual os lucros crescentes já esperados provocam um rápido aumento no preço
das ações.
3. Mania ou bolha: a perspectiva de ganhos fáceis de capital atrai investidores de
primeira viagem, os neófitos, e mais os escroques e os vigaristas ansiosos para esbulhá-
los e despojá-los do seu dinheiro.
4. Aflição: os insiders percebem que os lucros esperados não podem absolutamente
justificar os preços das ações, então exorbitantes, e começam a lucrar vendendo antes do
resto dos investidores.
5. Reviravolta ou descrédito: na medida em que os preços das ações caem, todos os
outsiders correm em debandada para as saídas, provocando a explosão simultânea da
bolha.3
 
As bolhas das bolsas de valores possuem três outros tipos de características recorrentes.
A primeira é o papel do que às vezes é referido como a informação assimétrica. Insiders –
aqueles preocupados com a administração das companhias bolhas – sabem muito mais do que
os outsiders, com cujo dinheiro os insiders querem ficar. Essas assimetrias sempre existem no
ramo dos negócios, naturalmente, mas numa bolha os insiders as exploram fraudulentamente.4
O segundo tema é o papel do fluxo do capital que cruza fronteiras. As bolhas ocorrem com
maior probabilidade quando o capital flui livremente de um país para outro. O especulador
experiente, baseado num centro financeiro importante, pode não ter o conhecimento das
entranhas do negócio que um verdadeiro insider possui. Mas é mais provável que ele consiga
acertar na mosca no momento oportuno – comprando mais cedo e vendendo antes do estouro
da bolha – do que o ingênuo investidor de primeira viagem. Em outras palavras, numa bolha,
nem todo o mundo é irracional; ou, pelo menos, alguns dos exuberantes são menos irracionais
do que os outros. Finalmente, e muito mais importante, uma bolha verdadeira não pode ocorrer
sem a criação do crédito fácil. E é por isso que muitas bolhas têm sua origem nos pecados da
omissão ou da comissão dos bancos centrais.
Nada ilustra mais claramente como os seres humanos acham difícil aprender da história
do que a história repetida das bolhas da bolsa de valores. Considere como os leitores da
revista Business Week viam o mundo em dois momentos no tempo, separados apenas por vinte
anos. No dia 13 de agosto de 1979, a capa da revista apresentava um certificado amassado de
ações na forma de uma flecha de papel espatifada sob a seguinte manchete: “A morte das

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