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de títulos tinha caído pesadamente sobre o mercado de Londres. Desde fevereiro de 1792, o preço de um consol típico de 100 libras a 3% tinha caído de 96 libras para menos de 60 libras na véspera de Waterloo, e uma vez (em 1797) despencando abaixo de 50 libras. Aqueles foram tempos desesperadores para as pessoas como a sra. Anna Hawes. De acordo com uma lenda de longa duração, a família Rotschild deveu os primeiros milhões da sua fortuna à especulação bem-sucedida de Nathan sobre o efeito do resultado da batalha sobre o preço dos títulos britânicos. Em algumas versões da história, Nathan testemunhou a batalha pessoalmente, e se arriscou numa tempestade do canal para chegar a Londres antes das notícias oficiais da vitória de Wellington e, pela da compra de títulos antes de uma imensa subida de preços, embolsou entre 20 a 135 milhões de libras. É uma lenda que mais tarde os alemães fizeram o melhor que puderam para enfeitar e exagerar. Em 1940, Joseph Goebbels aprovou a publicação do livro Die Rothschilds, que descreve um untuoso Nathan subornando um general francês para garantir a vitória do duque de Wellington, e depois dando deliberadamente uma informação falsa sobre o resultado em Londres para precipitar o pânico e a venda precipitada dos títulos, que depois arrecadou na bacia das almas. Mas a realidade é totalmente diferente.20 Longe de ganhar dinheiro com a vitória de Wellington, os Rothschild quase ficaram arruinados por causa dela. Sua fortuna foi feita não por causa de Waterloo, mas a despeito dela. Depois de uma série de intervenções enganosas, as tropas britânicas vinham lutando contra Napoleão no continente europeu desde agosto de 1808, quando o futuro duque de Wellington, Sir Arthur Wellesley, então general de divisão, comandou uma força expedicionária a Portugal, reino invadido pelos franceses no ano anterior. Durante a maior parte dos seis anos subsequentes, houve uma necessidade recorrente de conseguir homens e matériel para a península Ibérica. Vender títulos ao público tinha certamente levantado bastante dinheiro para o governo britânico, mas as notas bancárias tinham pouco uso em campos de batalhas distantes. Para provisionar as tropas e pagar os aliados britânicos contra a França, Wellington precisava de uma moeda que fosse universalmente aceitável. O desafio era transformar o dinheiro levantado no mercado de títulos em moedas de ouro e levá-las aonde eram necessárias. Enviar guinéus de ouro de Londres a Lisboa era caro e arriscado em tempos de guerra. Mas, quando os mercadores portugueses não mais aceitaram as notas de troca que Wellington oferecia, pareceu haver poucas alternativas, senão enviar as moedas de navio. Filho de um antiquário e corretor de sucesso moderado de Frankfurt, Nathan Rothschild chegara à Londres somente em 1799, e passara a maior parte dos dez anos seguintes no norte da Inglaterra, recentemente industrializado, comprando têxteis e despachando-os para a Alemanha. Ele só entraria nos negócios bancários em Londres em 1811. Por que, então, o governo britânico o procurou na sua hora de necessidade financeira? A resposta é que Nathan tinha adquirido uma valiosa experiência como contrabandista de ouro para o continente, quebrando o bloqueio que Napoleão impusera no comércio entre a Inglaterra e a Europa. (Confessadamente, era uma infração para a qual as autoridades francesas faziam vista grossa,