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A ascensao do dinheiro - Niall Ferguson-48

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o empreendedorismo, para facilitar a criação de novos negócios. E isso significa dar um
tempo às pessoas quando seus planos fracassam, mesmo numa segunda vez, e desse modo
permitir que os que nasceram para se arriscar aprendam através de tentativas e de erros, até
que finalmente aprendam como ganhar aquele primeiro milhão. Afinal de contas, o falido de
hoje pode muito bem ser o empresário de sucesso de amanhã.
À primeira vista, a teoria parece funcionar. Muitos dos mais bem-sucedidos homens de
negócios da América fracassaram nas suas primeiras empreitadas, incluindo o rei do ketchup,
John Henry Heinz, o supremo empresário do circo, Phineas Barnum, e o magnata do
automóvel, Henry Ford. Todos esses homens acabaram ficando imensamente ricos, muito pelo
fato de lhes ter sido dada a chance de tentar, fracassar e de começar novamente. Ainda assim,
numa análise mais acurada, o que acontece no Tennessee é bastante diferente. Os indivíduos na
Corte de Falências de Memphis não são empresários que tentaram e fracassaram. São apenas
pessoas comuns que não podem pagar suas contas – frequentemente as grandes contas médicas
que os americanos de repente precisam enfrentar se não tiverem a cobertura de um seguro
privado de saúde. A falência talvez tenha sido pensada e estruturada para ajudar empresários
e os seus negócios; mas, nos nossos dias, 98% dos pedidos de falência são classificados como
não comerciais. O principal motor da falência acaba sendo, não o empreendedorismo, mas a
insolvência. Em 2007, a dívida do consumidor nos Estados Unidos atingiu um recorde de US$
2,5 trilhões. Em 1959, essa dívida do consumidor era equivalente a 16% da renda pessoal
disponível. Agora é 24%.******* Atualmente, um dos desafios para qualquer historiador
financeiro é compreender as causas dessa explosão de insolvência doméstica e calcular as
suas prováveis consequências se, como parece inevitável, existir um aumento do índice de
falências em estados como o Tennessee.
Antes que possamos responder apropriadamente a essas questões, precisamos introduzir
outros componentes fundamentais do sistema financeiro: o mercado de títulos, o mercado de
ações (bolsa de valores), o mercado de seguros, o mercado imobiliário e a extraordinária
globalização de todos esses mercados que aconteceu nos últimos vinte anos. A causa original,
entretanto, deve repousar na evolução do dinheiro e dos bancos, que têm os riscos como seus
componentes-chave. A realidade inescapável parece ser que quebrar o elo entre a criação do
dinheiro e sua âncora metálica levou a uma expansão monetária sem precedente – e, com ela, a
um boom do crédito como o mundo jamais havia visto. Medindo a liquidez como o
índice********, ou coeficiente, do dinheiro irrestrito em relação à produção nos últimos cem
anos, fica muito claro que a tendência, desde os anos 1970, tem sido para aquele índice
crescer – no caso do dinheiro irrestrito das economias desenvolvidas mais importantes, de
cerca de 70% antes do fechamento da janela do ouro, para mais de 100% em 2005.44 Na zona
do euro, o crescimento tem sido especialmente exorbitante, de pouco mais de 60%, ainda nos
anos 1990, para pouco menos de 90% nos nossos dias. Ao mesmo tempo, a adequação do
capital dos bancos no mundo desenvolvido tem declinado lenta, mas constantemente. Na
Europa, o capital bancário agora é equivalente a menos de 10% dos ativos, comparado com

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