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o empreendedorismo, para facilitar a criação de novos negócios. E isso significa dar um tempo às pessoas quando seus planos fracassam, mesmo numa segunda vez, e desse modo permitir que os que nasceram para se arriscar aprendam através de tentativas e de erros, até que finalmente aprendam como ganhar aquele primeiro milhão. Afinal de contas, o falido de hoje pode muito bem ser o empresário de sucesso de amanhã. À primeira vista, a teoria parece funcionar. Muitos dos mais bem-sucedidos homens de negócios da América fracassaram nas suas primeiras empreitadas, incluindo o rei do ketchup, John Henry Heinz, o supremo empresário do circo, Phineas Barnum, e o magnata do automóvel, Henry Ford. Todos esses homens acabaram ficando imensamente ricos, muito pelo fato de lhes ter sido dada a chance de tentar, fracassar e de começar novamente. Ainda assim, numa análise mais acurada, o que acontece no Tennessee é bastante diferente. Os indivíduos na Corte de Falências de Memphis não são empresários que tentaram e fracassaram. São apenas pessoas comuns que não podem pagar suas contas – frequentemente as grandes contas médicas que os americanos de repente precisam enfrentar se não tiverem a cobertura de um seguro privado de saúde. A falência talvez tenha sido pensada e estruturada para ajudar empresários e os seus negócios; mas, nos nossos dias, 98% dos pedidos de falência são classificados como não comerciais. O principal motor da falência acaba sendo, não o empreendedorismo, mas a insolvência. Em 2007, a dívida do consumidor nos Estados Unidos atingiu um recorde de US$ 2,5 trilhões. Em 1959, essa dívida do consumidor era equivalente a 16% da renda pessoal disponível. Agora é 24%.******* Atualmente, um dos desafios para qualquer historiador financeiro é compreender as causas dessa explosão de insolvência doméstica e calcular as suas prováveis consequências se, como parece inevitável, existir um aumento do índice de falências em estados como o Tennessee. Antes que possamos responder apropriadamente a essas questões, precisamos introduzir outros componentes fundamentais do sistema financeiro: o mercado de títulos, o mercado de ações (bolsa de valores), o mercado de seguros, o mercado imobiliário e a extraordinária globalização de todos esses mercados que aconteceu nos últimos vinte anos. A causa original, entretanto, deve repousar na evolução do dinheiro e dos bancos, que têm os riscos como seus componentes-chave. A realidade inescapável parece ser que quebrar o elo entre a criação do dinheiro e sua âncora metálica levou a uma expansão monetária sem precedente – e, com ela, a um boom do crédito como o mundo jamais havia visto. Medindo a liquidez como o índice********, ou coeficiente, do dinheiro irrestrito em relação à produção nos últimos cem anos, fica muito claro que a tendência, desde os anos 1970, tem sido para aquele índice crescer – no caso do dinheiro irrestrito das economias desenvolvidas mais importantes, de cerca de 70% antes do fechamento da janela do ouro, para mais de 100% em 2005.44 Na zona do euro, o crescimento tem sido especialmente exorbitante, de pouco mais de 60%, ainda nos anos 1990, para pouco menos de 90% nos nossos dias. Ao mesmo tempo, a adequação do capital dos bancos no mundo desenvolvido tem declinado lenta, mas constantemente. Na Europa, o capital bancário agora é equivalente a menos de 10% dos ativos, comparado com