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crise dos Savings and Loans (bancos de poupança, ver Capítulo 5), que o número de bancos nacionais caiu abaixo de 3.600 pela primeira vez, em quase um século. Em 1924, John Maynard Keynes descartou, em episódio que ficou célebre, o padrão ouro como uma “relíquia bárbara”. Mas a libertação do dinheiro criado pelos bancos de sua base de metal precioso aconteceu lentamente. Sem dúvida, o padrão ouro tinha suas vantagens. A estabilidade da taxa de câmbio definia o apreçamento assertivo no comércio e reduzia os custos das transações, ao mesmo tempo em que a estabilidade de longo prazo dos preços agia como uma âncora para as expectativas da inflação. Manter o padrão ouro pode também ter reduzido o custo dos empréstimos, ao forçar os governos a seguirem políticas fiscais e monetárias prudentes. A dificuldade em formatar as moedas a um único padrão baseado numa commodity ou, de fato, numa outra, é que forçou os definidores das políticas a, então, escolher entre os movimentos livres do capital e uma política monetária nacional independente. Eles não podem ter os dois. Uma moeda “congelada”, amarrada pelo ouro, por exemplo, pode significar maior volatilidade nas taxas de juros de curto prazo, enquanto o banco central busca manter o preço do seu dinheiro inalterado. Pode significar deflação, se o suprimento da moeda “congelada” for restringido (quando o suprimento de ouro era relativo à demanda, nos anos 1870 e 1880). E pode transmitir crises financeiras (como aconteceu durante o período de restauração do padrão ouro depois de 1929). Em contraste, um sistema de dinheiro baseado primariamente sobre os depósitos bancários e sobre os índices de câmbio flutuante fica livre dessas restrições. O padrão ouro agonizou durante longo tempo, mas houve umas poucas carpideiras quando o último vestígio significativo dele foi removido no dia 15 de agosto de 1971, o dia em que o presidente Richard Nixon fechou a chamada “janela” dourada através da qual, sob determinadas circunstâncias restritas, os dólares ainda podiam ser trocados por ouro. Daquele dia em diante, o elo secular entre o dinheiro e o metal precioso foi quebrado. Nação Falida A cidade de Memphis, no Tennessee, é famosa pelos sapatos de camurça azul, pelos churrascos e pelas falências. Se quiser compreender como os banqueiros de hoje – os sucessores dos Medici – lidam com o problema do risco do crédito, criado por tomadores de empréstimos irresponsáveis ou faltosos, Memphis é certamente o lugar para tanto. Na média, existem entre um e dois milhões de casos de falências a cada ano nos Estados Unidos, quase todas elas envolvendo indivíduos que escolhem quebrar em vez de enfrentar obrigações inadministráveis. Uma proporção assombrosamente grande delas acontece no Tennessee. A coisa extraordinária é o quão relativamente indolor parece ser esse processo – comparado com o que acontecia na Veneza do século XVI ou, para o que interessa, em algumas partes de Glasgow, ainda nos dias de hoje. A maioria dos que pedem empréstimos e dos que tiveram dificuldades em Memphis pode escapar, ou pelo menos reduzir suas dívidas,