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1494, em meio ao caos da invasão francesa, a família foi expulsa e todas as suas propriedades foram confiscadas ou liquidadas. Culpando os Medici pelos infortúnios da cidade, o pregador dominicano Girolamo Savonarola convocou uma catártica “Fogueira das Vaidades”, um chamado respondido quando uma multidão invadiu o Palácio Medici e queimou a maior parte dos registros do banco. (Marcas escuras ainda são visíveis nos papéis que sobreviveram.) Como o próprio Lorenzo colocara na letra de uma canção que compôs nos anos 1470: “Se você puder ser feliz, seja./ Não existe certeza sobre o amanhã”. Ainda assim, quando os membros da elite rica de Florença contemplaram o agitador Savonarola e a multidão plebeia como alternativas ao domínio dos Medici, logo começaram sentir saudades da magnífica família. Em 1537, com dezessete anos, Cosimo de’ Médici (o Jovem) foi convocado de volta a Florença, e em 1569 foi feito grão-duque da Toscana. A linha ducal perdurou por mais de duzentos anos, até 1743. A espécie de moeda palle (pílulas) do brasão dos Medici serviu como um lembrete duradouro das origens da família. Embora outros tivessem tentado antes deles, os Medici foram os primeiros banqueiros que fizeram a transição do sucesso financeiro para o status hereditário e o poder. Eles realizaram isso aprendendo uma lição crucial: em finanças, raramente o pequeno é bonito. Ao tornarem seu banco maior e mais diversificado do que qualquer outra instituição financeira anterior, eles acharam uma maneira de distribuir seus riscos. E, ao se envolverem no comércio de moedas, além dos empréstimos, eles reduziram sua vulnerabilidade aos atrasos ou às faltas de pagamento. O sistema bancário italiano se tornou modelo para aquelas nações do norte europeu, que conseguiriam o maior sucesso comercial nos séculos subsequentes, notadamente a Holanda, a Inglaterra e a Suécia. Foi em Amsterdã, Londres e Estocolmo que ocorreu a nova onda decisiva de inovação financeira, quando os precursores dos bancos centrais apareceram pela primeira vez. O século XVII assistiu à fundação de três instituições distintamente singulares que, em suas maneiras diferentes, pretenderam ter função financeira tanto pública quanto privada. O Wisselbank [Banco de Câmbio], de Amsterdã, foi instituído em 1609, para resolver os problemas práticos criados para os mercadores por causa da circulação de moedas múltiplas nas Províncias Unidas, onde havia não menos do que quatorze moedas locais diferentes e copiosas quantidades de moedas estrangeiras. Ao permitir que os mercadores abrissem contas denominadas numa moeda padronizada, o Banco de Câmbio foi pioneiro no sistema de cheques e de débitos diretos, ou transferências, cuja importância atualmente sequer entra nas nossas cogitações. Isso permitiu que um número progressivamente maior de transações comerciais ocorresse, sem a necessidade de materializar os montantes envolvidos em moedas reais. Um mercador podia fazer um pagamento a outro simplesmente ordenando que sua conta fosse debitada, e a conta da sua correspondente fosse creditada, na mesma importância.39 A limitação desse sistema era simplesmente que o Banco de Câmbio mantinha algo perto de um coeficiente de 100% entre seus depósitos e suas reservas de metais