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mesas colocadas na rua. O banco Medici original (banca seria uma descrição melhor) se localizava perto do Palazzo Cavalcanti, na esquina da atual Via dia Porta Rossa e a Via dell’Arte della Lana, a uma curta caminhada do principal mercado florentino de lã. Antes dos anos 1390, poderíamos sugerir legitimamente, os Medici eram mais bandidos do que banqueiros: um clã pequeno e arrivista, mais notado pela baixa violência do que pelas altas finanças. Entre 1343 e 1360, não menos do que cinco Medici foram condenados à morte por crimes capitais.31 Então apareceu Giovanni di Bicci de’ Medici. Seu objetivo era legitimar os Medici. E, através de um trabalho duro, vida sóbria e cálculo cuidadoso, ele conseguiu realizar o que almejara. Em 1385, Giovanni se tornou administrador da filial romana de um banco dirigido por um dos seus parentes, Vieri di Cambio de’ Medici, um prestamista em Florença. Em Roma, Giovanni construiu sua reputação como negociante de moedas estrangeiras. De muitas maneiras, o papado era o cliente ideal, graças ao número de moedas diferentes que entravam e saíam dos cofres do Vaticano. Como já vimos, essa foi uma era de múltiplos sistemas de cunhagem, alguns em ouro, outros em prata, alguns em metal básico, de tal modo que qualquer transação comercial realizada entre longas distâncias, ou qualquer pagamento de impostos, era complicada pela necessidade da conversão de uma moeda para outra. Mas Giovanni enxergou claramente oportunidades ainda maiores na sua Florença natal, para onde voltou em 1397. Na época que passou o negócio da família para seu filho mais velho, Cosimo, em 1420, ele tinha estabelecido uma filial do banco em Veneza e outra em Roma; mais tarde foram abertas filiais em Genebra, Pisa, Londres e Avignon. E Giovanni também tinha adquirido participação em duas fábricas de lã em Florença. De importância específica nos primeiros negócios dos Medici foram as notas de câmbio (cambium per literas), que haviam sido desenvolvidas ao longo da Idade Média como um meio para financiar o comércio.32 Se um mercador devia uma determinada soma a outro mercador, e ela não pudesse ser paga em espécie até a conclusão da transação alguns meses à frente, o credor podia emitir uma nota sobre a dívida e usá-la como meio de pagamento do que lhe era devido ou para obter moeda, mediante um desconto, de um banqueiro disposto a atuar como agente intermediário. Enquanto a imposição de juros era condenada como usura pela Igreja, não havia nada que impedisse um negociante hábil de lucrar nessas transações. Essa foi a essência do negócio dos Medici. Não havia cheques; as instruções eram dadas oralmente e registradas nos livros contáveis do banco. Não havia juros; os depositantes recebiam discrezione (em proporção aos ganhos anuais da firma) para compensá-los por arriscar seu dinheiro.33