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É fácil condenar agiotas como imorais e, de fato, criminosos. Gerard Law foi condenado a dez meses de prisão por seu comportamento. Mas nós precisamos entender o fundamento lógico e econômico do motivo que o impulsionava. Primeiro, ele conseguiu tirar vantagem do fato de que nenhuma instituição financeira tradicional daria crédito aos desempregados de Shettleston. Segundo, Law tinha que ser ganancioso e impiedoso, porque era mais do que provável que, de fato, os membros da sua pequena clientela não honrariam seus compromissos financeiros. A dificuldade fundamental de ser um agiota é que o negócio tem uma escala muito pequena, e é muito arriscado para permitir taxas baixas de juros. Mas as altas taxas de juros fazem com que o não pagamento seja tão mais provável que somente a intimidação garante que as pessoas continuem pagando. Então, como os prestamistas e agiotas aprenderam a ultrapassar o conflito fundamental: se fossem muito generosos, não ganhariam dinheiro; se fossem muito exigentes, como Gerard Law, as pessoas acabariam eventualmente chamando a polícia? A resposta é crescer e ficar grande – e crescer poderosamente. O Nascimento dos Negócios Bancários Shylock estava longe de ser o único agiota a descobrir a fraqueza inerente do credor, especialmente quando o credor é um estrangeiro. No começo do século XIV, as finanças da Itália vinham sendo dominadas por três casas florentinas, dos Bardi, Peruzzi e Acciaiuoli. Todas as três faliram nos anos 1340, como resultado do não pagamento das dívidas de dois dos seus principais clientes, o rei Eduardo III, da Inglaterra, e o rei Roberto, de Nápoles. Mas se esse fato ilustra a fraqueza potencial dos prestamistas ou agiotas, o surgimento dos Medici ilustra o exato oposto: seu poder potencial. Talvez nenhuma outra família tenha deixado uma marca numa era como os Medici deixaram no Renascimento. Dois Medici se tornaram papas (Leão X e Clemente VII); duas se tornaram rainhas da França (Catarina e Maria); três se tornaram duques (de Florença, de Nemours, da Toscana). Apropriadamente, foi aquele supremo teórico do poder político, Niccolò Machiavelli, quem escreveu sua história. Seu patronato das artes e das ciências percorreu uma escala de gênios, de Michelangelo a Galileo. E seu deslumbrante legado arquitetônico ainda cerca o visitante contemporâneo de Florença. Apenas olhe para a Villa de Cafaggiolo, o Mosteiro de San Marco, a Basílica de San Lorenzo e os espetaculares palácios ocupados pelo duque Cosimo de’ Medici em meados do século XVI: o antigo Palazzo Pitti, o restaurado Palazzo Vecchio e os novos escritórios da cidade (Uffizi), com seus átrios ao longo do rio Arno.30 Mas quais são as origens de todo esse esplendor? De onde veio o dinheiro que pagou obras-primas como o radiante Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli? A resposta simples é que os Medici eram negociantes de moedas estrangeiras: membros da Arte de Cambio (a guilda dos Cambistas). Eles se tornaram conhecidos como banqueiros (banchieri) por que, como os judeus de Veneza, negociavam literalmente sentados em bancos atrás de