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A ascensao do dinheiro - 13

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Ainda assim, nem toda a prata do Novo Mundo conseguiu colocar a rebelde República
Holandesa de joelhos, nem garantiu o domínio da Inglaterra pela coroa espanhola, ou pôde
salvar a Espanha de um inexorável declínio econômico e imperial. Como o rei Midas, os
monarcas espanhóis do século XVI, Carlos V e Filipe II, descobriram que uma abundância do
metal precioso podia ser tanto uma maldição quanto uma bênção. A razão? Eles cavaram tanta
prata para financiar suas guerras de conquista que o valor do próprio metal declinou
dramaticamente – ou seja, o seu poder de compra em relação aos outros bens. Durante a
chamada “revolução do preço”, que afetou toda a Europa dos anos 1540 até os anos 1640, o
custo da comida – que não mostrara uma tendência de aumento sustentado durante trezentos
anos – subiu acentuadamente. Na Inglaterra (o país do qual temos os melhores dados sobre os
preços), o custo de vida subiu por um fator de sete no mesmo período; não um alto índice de
inflação atualmente (média em torno de 2% ao ano), mas um aumento revolucionário no preço
do pão, pelos padrões medievais. Na Espanha, a abundância da prata também agiu como uma
“maldição do recurso”, como o petróleo abundante da Arábia, da Nigéria, da Pérsia, da
Rússia e da Venezuela na nossa época, removendo os incentivos para uma atividade
econômica mais produtiva, enquanto ao mesmo tempo fortalecia os autocratas exploradores de
aluguéis, à custa das assembleias representativas (as Cortes, no caso da Espanha).17
O que os espanhóis não conseguiram compreender foi que o valor do metal precioso não
é absoluto. O dinheiro somente tem valor quando alguém está disposto a dar-lhe algo por ele.
Um crescimento no seu abastecimento não tornará a sociedade mais rica, embora possa
enriquecer o governo que monopoliza a produção do dinheiro. As outras coisas permanecendo
iguais, a expansão monetária meramente elevará os preços.
De fato, não existe qualquer razão além do acaso histórico que justifique o fato de o
dinheiro ter sido durante tanto tempo equacionado na mente do Ocidente com o metal. Na
antiga Mesopotâmia, começando há cerca de cinco mil anos, as pessoas usavam “fichas” de
argila para registrar transações que envolvessem produtos agrícolas, como a cevada ou a lã,
ou metais como a prata. Anéis, blocos ou placas feitas de prata serviam certamente como
dinheiro, do mesmo modo que os grãos, mas as tábuas de argila eram igualmente importantes,
e com toda probabilidade mais ainda. Muitas delas sobreviveram, lembranças de que, quando
os seres humanos começaram a produzir registros escritos das suas atividades, eles o fizeram
não para escrever história, poesia ou filosofia, mas para fazer negócios.18 É impossível tocar
nesses antigos instrumentos financeiros sem um sentimento de assombro. Embora feitos de
argila básica, eles duraram muito mais do que os dólares de prata do manancial de Potosí.
Uma “ficha” especialmente bem preservada, da cidade de Sippar (atualmente Tell Abu
Habbah, no Iraque), data do reinado de Ammi-ditana (1683-1647 a.C.), e declara que seu
portador deve receber uma quantia específica de cevada na época da colheita. Outra dessas
“fichas”, inscrita no reinado do seu sucessor, o rei Ammi-saduqa, ordena que o portador
deveria receber uma quantidade de prata no final de uma jornada.19
Se o conceito básico nos parece familiar, é parcialmente porque uma nota bancária faz

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