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Remo do outro. As moedas não foram excepcionais na zona do antigo Mediterrâneo, e foi claramente onde apareceram primeiro. Foi somente em 221 a.C. que uma moeda padronizada de bronze foi introduzida na China pelo “primeiro imperador”, Qin Shihuangdi. Em todos os casos, moedas feitas de metal precioso eram associadas a soberanos poderosos que monopolizaram a cunhagem do dinheiro, em parte para utilizá-lo como uma fonte de receita. O sistema romano de cunhagem sobreviveu ao próprio Império Romano. Os preços ainda estavam sendo cotados em termos dos denarii de prata na época de Carlos Magno, rei dos francos de 768 a 814. A dificuldade foi que, na época da coroação de Carlos Magno como Imperator Augustus, em 800, havia uma escassez crônica de prata na Europa ocidental. A demanda por dinheiro era maior nos centros comerciais muito mais desenvolvidos do Império islâmico, que dominava o sul do Mediterrâneo e o Oriente Próximo, de modo que o metal precioso era drenado da Europa atrasada. Tão raro era o denarius na época de Carlos Magno, que bastavam apenas 24 deles para comprar uma vaca carolíngia. Em algumas partes da Europa, as pimentas e as peles de esquilo serviam como substitutas para a moeda; em outras, pecunia chegou a significar a terra, em vez do dinheiro. Esse foi um problema que os europeus tentaram superar de uma entre duas maneiras. Exportariam mão de obra e bens, trocando por escravos e madeira em Bagdá, ou por ouro africano em Córdoba e no Cairo. Ou poderiam saquear metais preciosos declarando guerra ao mundo muçulmano. Do mesmo modo que as conquistas subsequentes, as cruzadas serviram tanto para resolver a escassez monetária da Europa quanto para converter pagãos ao cristianismo.14 Organizar cruzadas era um empreendimento caro, e o rendimento líquido era modesto. Para complicar ainda mais as suas dificuldades monetárias, os governos medievais e do começo da era moderna fracassaram, e não conseguiram encontrar uma solução para o que os economistas chamam de “o grande problema do troco miúdo”: a dificuldade de estabelecer relações estáveis entre moedas feitas de diferentes tipos de metais, o que significava que as moedas de denominação menor sofriam carências recorrentes, e também depreciações e degradações.15 Por esse motivo, parece que em Potosí e nos outros lugares do Novo Mundo, onde encontraram grandes quantidades de prata (notadamente em Zacatecas, no México), os conquistadores espanhóis conseguiram quebrar essa limitação secular. A beneficiária inicial foi, naturalmente, a monarquia castelhana, que patrocinara as conquistas. Os comboios de navios – mais de cem na época – que transportaram 170 toneladas de prata anualmente através do Atlântico, atracavam em Sevilha. Um quinto de tudo que foi produzido era reservado para a coroa, e respondeu por 44% de todas as despesas reais no auge do final do século XVI.16 Mas a maneira pela qual o dinheiro foi gasto garantiu que a nova riqueza descoberta da Espanha provesse o continente inteiro com um estímulo monetário. O “duro”, a moeda espanhola de prata, que foi baseada no thaler alemão (por conseguinte, mais tarde, o dólar), se tornou a primeira moeda verdadeiramente global do mundo, e financiou não somente as prolongadas guerras que a Espanha lutou na Europa, mas também a rápida expansão do comércio da Europa com a Ásia.