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império de Castela”**, como “governador do Peru”, Pizarro reuniu uma expedição com 3 navios, 27 cavalos e 180 homens equipados com o armamento mais moderno da Europa: revólveres e bestas mecânicas.5 Essa terceira expedição saiu do Panamá no dia 27 de dezembro de 1530. Demoraria pouco menos de dois anos para os conquistadores realizarem seu objetivo: um confronto com Atahualpa, um dos dois filhos do imperador inca Huayna Capac, havia pouco falecido. Depois de recusar a proposta do frei Vicente Valverd, de que se submetesse ao domínio cristão, jogando desrespeitosamente a Bíblia ao chão, Atahualpa apenas conseguiu ficar olhando enquanto os espanhóis, confiantes sobretudo no terror inspirado por seus cavalos (animais desconhecidos dos incas), aniquilaram seu exército. Considerando que eram em número tão menor em relação aos incas, foi realmente um feito assombroso.6 Atahualpa logo compreendeu o que Pizarro queria, e tentou comprar sua liberdade oferecendo encher o cômodo onde estava detido com ouro (uma vez) e prata (duas vezes). No total, nos meses subsequentes, os incas juntaram 13.420 libras [cerca de 6.080 quilos] de ouro de 22 quilates, e 26.000 libras [cerca de 11.800 quilos] de prata pura.7 Apesar disso, Pizarro ordenou a execução do seu prisioneiro, que foi garroteado em público em agosto de 1533.8 Com a queda da cidade de Cuzco, o Império inca foi estraçalhado pela orgia do saque espanhol. A despeito de uma revolta liderada pelo inca supostamente títere, Manco Capac, em 1536, o domínio espanhol foi estavelmente estabelecido e simbolizado pela construção de uma nova capital, Lima. O Império foi formalmente dissolvido em 1572. O próprio Pizarro morreu de maneira tão violenta quanto viveu, apunhalado mortalmente em Lima, em 1541, depois de uma desavença com um dos seus parceiros colonizadores. Mas seu legado à coroa espanhola, em última análise, ultrapassou até mesmo os seus próprios sonhos. Os conquistadores foram inspirados pela lenda do El Dorado, um rei nativo que se acreditava ter o corpo coberto por poeira de ouro em todas as ocasiões festivas. No lugar que os homens de Pizarro chamaram de Alto Peru, uma terra desolada de montanhas e neblina, onde aqueles desacostumados a grandes altitudes tiveram que lutar para respirar, eles encontraram algo igualmente valioso. Com um pico de 4.824 metros acima do nível do mar, o estranhamente simétrico Cerro Rico – literalmente a “montanha rica” – foi a suprema materialização da mais potente de todas as ideias sobre dinheiro: uma montanha de sólido minério de prata. Quando um nativo chamado Diego Gualpa descobriu seus cinco grandes veios em 1545, ele mudou a história econômica do mundo.9 Os incas não conseguiam compreender o desejo insaciável por ouro e prata que parecia dominar os europeus. “Mesmo se toda a neve nos Andes se transformasse em ouro, ainda assim eles não estariam satisfeitos”, reclamou Manco Capac.10 Os incas não podiam avaliar que, para Pizarro e seus homens, a prata era mais do que um metal brilhante, decorativo. Que ela podia ser transformada em dinheiro: uma unidade de valor, um recipiente de valor – poder portátil.