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A ascensao do dinheiro - 1

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dos gênios financeiros, dos banqueiros e dos seus bônus bilionários? Desconcertados pelo
abismo escancarado entre os que têm tudo e os que nada têm – e os que têm iates? Não estão
sozinhos. Através da história da civilização ocidental, tem havido uma hostilidade recorrente
em relação às finanças e aos financistas, enraizada na ideia de que aqueles que ganham a vida
emprestando dinheiro são, de alguma maneira, parasitas das verdadeiras atividades
econômicas da agricultura e da indústria. Essa hostilidade tem três causas. Em parte é porque
os devedores tendem a ser mais numerosos do que os credores, e os primeiros raramente se
sentem bem-dispostos a respeito dos segundos. Por outro lado, é porque as crises e os
escândalos financeiros ocorrem com frequência suficiente para fazer com que as finanças
pareçam ser mais a causa da pobreza do que da prosperidade, mais a causa da volatilidade do
que da estabilidade. E em parte é porque, durante séculos, os serviços financeiros em todo o
mundo foram desproporcionalmente providos por membros de minorias étnicas ou religiosas,
que foram excluídos da posse da terra e do serviço público, mas tiveram sucesso no ramo
financeiro por causa das suas próprias redes firmemente entrelaçadas de parentescos,
relacionamentos e confiança.
Entretanto, a despeito dos nossos preconceitos profundamente enraizados contra o “lucro
imundo”, o dinheiro é a raiz da maior parte do progresso. Para adaptar uma frase de Jacob
Bronowski (a cuja maravilhosa história do progresso científico eu assisti avidamente na
televisão quando era garoto), a ascensão do dinheiro tem sido essencial para a ascensão do
homem. Longe de ser o trabalho de meros exploradores cuja intenção é sugar o sangue da vida
das famílias endividadas ou jogar e especular com as poupanças de viúvas e órfãos, a
inovação financeira tem sido um fator indispensável no avanço do homem, a partir da
subsistência miserável aos picos vertiginosos da prosperidade material que tantas pessoas
conhecem atualmente. A evolução do crédito e do débito foi tão importante quanto qualquer
inovação tecnológica na escalada da civilização, da antiga Babilônia até a Hong Kong dos
dias de hoje. Os bancos e o mercado de ações proveram a base material para os esplendores
do Renascimento italiano. A finança corporativa foi o alicerce indispensável do Império
britânico e do Império holandês, exatamente como o triunfo dos Estados Unidos no século XX
foi inseparável dos avanços na indústria dos seguros, no financiamento de hipotecas e no
crédito ao consumidor. Talvez seja, também, uma crise financeira o que sinalizará o
crepúsculo da supremacia global norte-americana.
Atrás de cada fenômeno histórico grandioso existe um segredo financeiro, e este livro
destina-se a iluminar os mais importantes. Por exemplo, o Renascimento criou um espantoso
desenvolvimento no mercado da arte e da arquitetura porque banqueiros italianos, como os
Médici, fizeram fortunas aplicando a matemática oriental ao dinheiro. A república holandesa
prevaleceu sobre o Império Habsburgo porque possuir o primeiro mercado moderno de ações
era financeiramente preferível a possuir a maior mina de prata do mundo. Os problemas da
monarquia francesa não poderiam ser resolvidos sem uma revolução, porque um assassino
escocês condenado havia arrasado o sistema financeiro francês ao desencadear a primeira

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