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BECHARA_ModernaGramaticaPortuguesa-38

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Os que expressam concessão vêm introduzidos por malgrado, pela locução prepositiva
apesar de:
Malgrado a chuva, fomos ao passeio.
Diva ganhou o concurso, apesar da resistência da colega.
 
Ainda uma vez os determinantes nominais
Adjunto adnominal
1) Adjunto adnominal – Depois de conhecidas as funções sintáticas até aqui enumeradas,
estamos em condições de prosseguir no aprofundamento dos determinantes nominais, também
chamados adjuntos adnominais que começamos a ver quando falamos da expansão do núcleo
do sujeito em Conhecendo melhor o sujeito: núcleo e determinantes.
Toda expressão nominal, qualquer que seja a função exercida pelo seu núcleo, pode ser
expandida por determinantes que têm por missão acrescer ideia acidental complementar ao
significado desse substantivo nuclear. O resultado dessa expansão é um grupo unitário
sintagmático nominal. Estas expansões não alteram a relação gramatical do núcleo, mas tão
somente aludem a aspectos diferentes da realidade do conteúdo significativo do substantivo ou
da expressão nominal a ele equivalente. Daí o resultado de a expansão exercer na oração a
mesma função do núcleo despojado do(s) seu(s) determinante(s):
 
 
O grupo sintagmático nominal pode constituir-se de vários tipos:
1– Os que podem ocorrer à esquerda ou à direita do subtantivo + adjetivo
Passei belos dias em cidades agradáveis.
Os determinantes estão, em geral, representados pelas seguintes classes de palavras:
adjetivo, artigo e pronome demonstrativo ou equivalentes de adjetivos (estes veremos
adiante):
Noites claras prenunciam bom tempo.
O livro está esgotado.
Esta manhã prometia chuva.
Na sequência de determinantes, aparecem como pré-determinantes, à esquerda do
determinante, as palavras que podem receber globalmente o nome de Quantificador (algum,
certo, vários, todo, todos, qualquer, alguns (de), vários (de), etc.):
Alguns bons momentos são inesquecíveis.
Todos os alunos saíram.
Alguns de nós não foram à festa.
Aparecem como pós-determinantes, isto é, as palavras que ocorrem à direita do
determinante, e do pré-determinante, o pronome possessivo e o numeral:
Os seus livros não estavam na estante.
Aqueles dois erros eram graves.
Vários de meus sobrinhos são engenheiros.
Aqueles dois seus vizinhos trabalham no comércio.
2 – Os que normalmente só ocorrem à esquerda do substantivo + determinantes, que incluem
as seguintes classes de palavras:
a) artigo e os pronomes demonstrativos
Os bons filmes entrarão em cartaz esta semana.
b) substantivo + pré-determinantes (que incluem as seguintes classes de palavras: pronome
possessivo e o numeral):
Os seus livros não estavam na estante.
Aqueles dois erros eram graves.
c) substantivo + pós-determinantes (que incluem os quantificadores, representados pelos
pronomes indefinidos)
Todos os três meus bons amigos chegam hoje.
Os do tipo 1 (substantivo + adjetivo) podem ter estruturas diferentes:
a) um adjetivo:
belos dias em cidades agradáveis
b) um grupo preposicionado equivalente a adjetivo, que pode ou não ter um correspondente
signo léxico na língua. Neste caso, quando o substantivo entra num grupo adjetivado, não
concorda em gênero e número com o substantivo núcleo, e, se aparece no plural, não o faz
pelo fenômeno da concordância, mas em atenção à realidade comunicada: copo com
defeito / copos com defeito; mas copo com defeito / copo com defeitos (por se querer
referir a mais de um defeito existente no copo).
homem de coragem (corajoso)
pão com manteiga (amanteigado)
copo com defeito (defeituoso)
casa de Pedro
cama de solteiro
c) uma oração transposta à função adjetiva:
O homem que tem coragem (corajoso)
A casa que Pedro possui
 
Complemento nominal
2) 5Complemento nominal – Uma tradição gramatical mais recente, atentando para o aspecto
da realidade comunicada, e de certas relações gramaticais nela existentes, tem procurado
distinguir os diversos sentidos em que se interpretam as expansões de substantivo como as
seguintes, sem esgotar a exemplificação:
a resolução do diretor
a prisão do criminoso pela polícia
a remessa dos livros
a resposta ao crítico
o assalto pelo batalhão
a ida a Petrópolis
Assim é que essa tradição, partindo do conteúdo de resolução do diretor equivalente a o
diretor resolveu , classifica do diretor como “complemento (e não adjunto) nominal
subjetivo”. Já em prisão do criminoso, equivalente a o criminoso foi preso, teremos um
“complemento nominal subjetivo passivo”. Em a remessa dos livros , equivalente a alguém
remeteu os livros , dos livros se classificará como “complemento nominal objetivo”. Como
“complemento nominal objetivo indireto ou terminativo” será ao crítico do grupo sintagmático
nominal a resposta ao crítico. Em o assalto pelo batalhão, a expressão preposicionada será
classificada como “complemento de agente ou de causa eficiente”. Já em ida a Petrópolis,
teremos um “complemento nominal circunstancial” [JO.1, 223-227].
À primeira vista, em relação aos termos primários da relação predicativa (sujeito-
predicado), não há razão para um tratamento sintático diferente do adjunto adnominal, tendo
em vista que também com o complemento nominal a expansão do grupo sintagmático não
modifica a relação gramatical do núcleo:
Sujeito Predicado
A casa de Pedro é espaçosa
A resolução do diretor surpreendeu a todos
A prisão do criminoso pela polícia mereceu elogio da imprensa
Assim também qualquer variação tanto no núcleo do adjunto adnominal quanto no do
complemento nominal não alterará a relação com o núcleo verbal:
 
 
Poderíamos apontar outros aspectos gramaticais em que os dois termos apresentam traços
comuns, como: a) a posição à direita do núcleo; b) a inexistência de pausa; c) a introdução por
preposição, obrigatória no complemento nominal e muito frequente no adjunto.
Todavia, o complemento nominal está semanticamente mais coeso ao núcleo, por
representar uma construção derivada mediante a nominalização, fenômeno que não ocorre no
adjunto adnominal:
O diretor resolveu → A resolução do diretor
A polícia prendeu o criminoso → A prisão do criminoso pela polícia
Esta relação semântico-sintática provoca a impossibilidade – se não estiver já assinalado
ou conhecido no contexto – de apagamento do complemento nominal, sem que isto estabeleça
a razão primordial para distinguir o complemento do adjunto, uma vez que há adjuntos
imprescindíveis:
*A resolução surpreendeu a todos
*A prisão pela polícia mereceu elogio
Estando a nominalização presente quer no complemento nominal de função primária
subjetiva (a resolução do diretor ← o diretor resolveu), quer no de função primária objetiva
(a descoberta da imprensa ← Gutenberg descobriu a imprensa ), não cabe classificar no
exemplo a resolução do diretor , do diretor como adjunto adnominal, enquanto no exemplo a
descoberta da imprensa, da imprensa como complemento nominal [VK.4].
Ambos os termos participam das mesmas características próprias ao complemento nominal;
além da nominalização, não admitem apagamento:
a resolução do diretor → *a resolução
a descoberta da imprensa → *a descoberta
Impõe-se, desta maneira, incluir o complemento nominal como termo argumental.
Observação: Cabe não confundir casos de impossibilidade de apagamento com outros em que o nosso saber sobre as coisas
do mundo impede, por incoerentes, construções do tipo Conheci um homem de pernas, João tem uma voz, uma vez que a
nossa experiência concebe todo homem com pernas, ou com voz. Todavia, anula-se a incoerência se tais substantivos vêm
acompanhados de adjetivos: Conheci um homem de pernas longuíssimas, João tem uma voz roufenha , já que nem todos os
homens têm pernas longuíssimas nem voz fanhosa. Portanto, nestes casos não se trata de um saber idiomático, mas de um
saber elocutivo.
Há evidente paralelismo entre a estrutura interna do complemento nominal e das orações.
Este tratamento especial do complemento nominal serve para explicar fatos gramaticais queficam mais evidentes à luz desta distinção.
Por exemplo, o termo nominalizado (substantivo, adjetivo ou advérbio de base nominal)
pode contrair as mesmas relações sintáticas da construção básica; se o núcleo verbal é
complexo e se acompanha de complementos, a construção derivada apresenta estes termos:
A mãe ama o filho → O amor de mãe ao filho
A polícia prendeu o ladrão → A prisão do ladrão pela polícia
Jesus ama as criancinhas → o amor de Jesus às criancinhas
O carteiro entregou a carta de José ao Mário → A entrega da carta de José ao Mário pelo carteiro
A seleção da preposição que introduz o complemento nominal quase sempre está
determinada pela preposição que acompanha o complemento verbal:
Foi à cidade → A ida à cidade
Penetrou na floresta → A penetração na floresta
Inclinou-se à música → A inclinação à música
De modo geral, a gramática tradicional tem apontado complementos nominais restritos a
processos de nominalizações que envolvem substantivos (desejo de vitória ↔ desejar a
vitória), a adjetivos (desejoso de vitória ↔ desejar a vitória), ou a advérbios
(referentemente ao assunto ↔ referente [adjetivo] ao assunto ↔ referência [substantivo]
ao assunto). Mas há outros que devem sua presença a traços semânticos do núcleo nominal,
independentes de nominalizações. Vejamos alguns desses tipos.
Como núcleo do sintagma nominal, teremos, de início, substantivos formalmente
relacionados a verbos que assumem relações muito semelhantes às que ocorrem nas orações,
conforme já vimos nos exemplos:
a saída do trem / o trem saiu
a entrega da carta / (alguém) entregou a carta ou a carta foi entregue
O substantivo formado de adjetivo também goza da estrutura argumental que lhe é própria:
a cultura do professor / o professor culto
Todavia, como a estrutura argumental depende do significado léxico de cada palavra,
substantivos há que, não se relacionando morfológica ou materialmente a verbos e adjetivos,
selecionam termos argumentais, inerentes ao conteúdo de pensamento designado. Tais termos
atendem às duas condições básicas do estatuto dos argumentos: a) o núcleo os seleciona
semântica e categorialmente; b) o núcleo lhes impõe uma interpretação determinada [EV.1,
32].
Estão neste caso de argumentos inerentes:
a) Os substantivos relacionais, isto é, aqueles que não fazem referência a indivíduos, mas
expressam relações entre indivíduos. É o caso dos termos de parentesco, do tipo de pai, mãe,
filho, irmão:
o pai de Eduardo
a tia do Daniel
o irmão da Bebel
Incluem-se neste rol, naturalmente, substantivos como amigo, colega, companheiro:
o amigo de Cleto
a colega de Georgete
Cabe lembrar que substantivos referidos à mesma entidade podem incluir-se ou não no
grupo dos relacionais. Por exemplo, pátria e país; o primeiro é relacional, se significa o lugar
de nascimento, porque é pátria sempre relacionado a alguém, enquanto país (‘nação’,
‘região’) não faz necessariamente referência a um indivíduo. O exemplo apresentado por
Escandell Vidal mascote e cão é mais evidente, porque a mascote pressupõe sê-lo de alguém,
o que não se dá com o substantivo cão.
Os nomes de partes do corpo e aqueles que aludem a partes constitutivas de uma entidade,
física ou abstratamente considerada:
os braços da dançarina
o rosto da criança
a face do problema
o galho da árvore
o cérebro da equipe
o x da questão
b) Os substantivos icônicos, isto é, que designam representação, tais como retrato, quadro,
fotografia, filme, película, quando referidos a entidades retratadas, pintadas, fotografadas,
etc.
Note-se a diferença entre:
(1) O retrato de Machado de Assis
(2) O retrato da galeria
Em (1), o significado de retrato seleciona o termo argumental Machado de Assis,
interpretado o sintagma nominal como ‘o retrato em que aparece M. de Assis’.
Em (2), já retrato se acha acompanhado de um adjunto adnominal, sendo ‘o retrato da
galeria’ interpretado como ‘o retrato exposto na galeria’.
Também pode, no caso (1), o termo argumental referir-se não à entidade retratada, mas ao
próprio autor do retrato ou quadro:
O quadro de Vitor Meireles
As referências à entidade retratada e ao seu autor podem concorrer no sintagma nominal
mediante os dois termos argumentais:
O quadro da Proclamação da Independência de Vitor Meireles (i. é, o quadro que retrata a Proclamação da
Independência de autoria de Vitor Meireles).
Pode até juntar-se a esses dois termos argumentais o adjunto adnominal:
O quadro do Grito do Ipiranga de Vitor Meireles do Museu de Belas Artes
Incluem-se entre os substantivos que designam representação os que se aplicam a produtos
da atividade intelectual, como livro, artigo, etc.:
O livro de Graciliano Ramos intitula-se Vidas Secas
Assim como o adjunto adnominal pode ser representado por uma expansão mais complexa
do núcleo nominal, isto é, por uma oração subordinada adjetiva:
A casa comprada está perto da cidade
A casa que comprei está perto da cidade,
assim também o complemento nominal pode ser representado por uma oração subordinada
(originalmente substantiva) completiva nominal:
O desejo de tua vitória é constante
O desejo de que venças é constante
 
O aposto
3) O aposto – Outro componente do grupo sintagmático nominal é o chamado aposto, cujo
limite de distinção com o adjunto adnominal propriamente dito é muitas vezes difícil de traçar.
Aparece em construções do tipo:
O rio Amazonas deságua no Atlântico.
O professor Machado honrou o magistério.
Sousa cabeleireiro me conhece bem.
Meu primo José morou na Itália.
“E com ele [programa] tem vindo pela vida, satisfazendo a portugueses e brasileiros, que o consideramos uns e outros,
soldado do seu grupo.” [MC.2, 206]
Clarice, a primeira neta da família, cursa Direito.
Sousa, nosso cabeleireiro, não trabalha hoje.
Pedro II, imperador do Brasil, protegia jovens talentosos.
Eu Anibal peço a paz [MMa].
Amanhã, sábado, não sairei [AK].
Chama-se aposto a um substantivo ou expressão equivalente que modifica um núcleo
nominal (ou pronominal ou palavra de natureza substantiva como amanhã, hoje, etc.), também
conhecido pela denominação fundamental, sem precisar de outro instrumento gramatical que
marque esta função adnominal.
Há diferença de conteúdo semântico entre uma construção do tipo O rio Amazonas e Pedro
II, imperador do Brasil; na primeira, o substantivo que funciona como aposto se aplica
diretamente ao nome núcleo e restringe seu conteúdo semântico de valor genérico, tal como
faz um adjetivo, enquanto na segunda a sua missão é tão somente explicar o conceito do termo
fundamental, razão pela qual é em geral marcado por pausa, indicada por vírgula ou por sinal
equivalente (travessão e parêntese). Daí a aposição do primeiro tipo se chamar específica ou
especificativa e a do segundo, explicativa.
O aposto explicativo pode apresentar valores secundários que merecem descrição especial,
como ocorre com os seguintes:
a) Enumerativo, quando a explicação consiste em desdobrar o fundamental representado
por um dos pronomes (ou locução) tudo, nada, ninguém, cada um, um e outro, etc., ou por
substantivo:
Tudo – alegrias, tristezas, preocupações – ficava estampado logo no seu rosto.
Duas coisas o encorajavam, a fé na religião e a confiança em si.
“Duas cousas se não perdoam entre os partidos políticos: a neutralidade e a apostasia” [MM].
Às vezes esse tipo de aposto precede o fundamental:
A matemática, a história, a língua portuguesa, nada tinha segredos para ele.
Em todos estes exemplos, o fundamental (tudo, duas coisas, nada) funciona como sujeito
das orações e, por isso, se estabelece a concordância entre ele e o verbo.
Este aposto pode vir precedido das locuções explicativas isto é, por exemplo, a saber,
verbi gratia (abreviatura [v. g.]):
Duas coisas o incomodavam, a saber, o barulho da rua e o frio intenso.
 
b) Distributivo:
Machado de Assis e Gonçalves Dias são os meus escritores preferidos, aquele na prosa e este na poesia.
Um no automobilismo, outro no futebol, Senna e Pelé marcaram um período deouro no esporte brasileiro.
 
c) Circunstancial (comparação, tempo, causa, etc., precedido ou não de palavra que marca
esta relação a mais, já que o aposto explicativo acrescenta um dado a mais acerca do
fundamental):
“As estrelas, grandes olhos curiosos, espreitavam através da folhagem”. [EQ.2, 8 apud AK.1].
“Artista – corta o mármor de Carrara;
Poetisa – tange os hinos de Ferrara” [CAv.1, II: 142]
Este tipo de aposto pode ser introduzido por como, na qualidade de:
As estrelas, como grandes olhos curiosos, espreitavam através da folhagem.
A ti, como general, compete o comandar.
D. João de Castro, vice-rei da Índia, empenhou os cabelos da barba.
Este tipo de aposto pode ser introduzido por quando:
D. João de Castro, quando vice-rei da Índia, empenhou os cabelos da barba [Epifânio Dias].
Paulinho, amigo, tirou-o da dificuldade.
Paulinho, porque amigo, tirou-o da dificuldade.
 
Aposição com de x Adjunto adnominal
4) Aposição com de x Adjunto adnominal – Algumas vezes, o aposto especificativo vem
introduzido pela preposição de, especialmente se se trata de denominações de instituições, de
logradouros, de acidentes geográficos:
Colégio de Santa Rita
Praça da República
Ilha de Marajó
Cidade do Recife
Tal construção, materialmente falando, aproxima o aposto do adjunto adnominal
preposicionado, que vimos antes; todavia, do ponto de vista semântico, há diferença entre Ilha
de Marajó e casa de Pedro. Em casa de Pedro, casa e Pedro são duas realidades distintas,
enquanto em ilha e Marajó se trata de uma só realidade, já que ambos querem referir-se a um
só conteúdo de pensamento designado112 . Quanto ao emprego da preposição de nas
construções deste último tipo, como bem ensina Epifânio Dias, “da arbitrariedade do uso é
que depende o empregar-se em uns casos de definitivo, em outros a aposição. Diz-se, por
exemplo: o nome de Augusto, mas a palavra Augusto; a cidade de Lisboa, mas o rio Tejo”.
Às vezes podem as construções com de provocar casos de sincretismo sintático, com
consequente efeito de ambiguidade, não diferençando o título da ideia de posse ou pertença.
Por isso, para os títulos, no desejo de evitar a ambiguidade, vai-se generalizando o não
emprego da preposição de: Rua Santa Teresa , Praça Paris, etc. Esta construção é antiga na
língua e paralela ao uso latino (Urbs Roma, Garumna flumen). Mas a presença da
justaposição no francês e inglês tem feito que tal prática seja condenada sem sucesso por
estrangeirismo. A justaposição vai-se impondo em bomba relógio, mandato tampão, homem
bala, traje passeio, em que o procedimento morfológico de formação de compostos se
sobrepõe ao processo sintático. A prática, nestes casos, vacila entre o emprego ou não do
hífen.
De qualquer maneira, o aposto e o adjunto adnominal são ambos expansões sintáticas do
núcleo nominal.
 
As construções uma joia de pessoa e o pobre do rapaz
5) As construções uma joia de pessoa e o pobre do rapaz – Em vez de uma pessoa joia e o
pobre rapaz, em que o núcleo nominal (pessoa, rapaz) se acha acompanhado de um adjunto
adnominal (joia, pobre), aparecem, numa forma carregada de afetividade, as expressões uma
joia de pessoa e o pobre do rapaz, em que o primitivo adjunto passa formalmente a núcleo e o
antigo núcleo passa a adjunto, mediante a presença da preposição de. Tem-se muito discutido
como se formaram estas expressões derivadas, sem que tenhamos uma solução cabal; mas se
pode filiá-las a frases exclamativas sem verbo do tipo de ai de mim!, pobre de mim!, etc.
[FDz.1, III:131].
Ao lado da carga afetiva positiva em construções do tipo o bom do pároco pode ocorrer a
carga negativa o burro do cliente, a droga do cliente; neste último caso cria-se uma
ambiguidade entre as equivalências “o cliente é uma droga” e “o cliente tem uma droga”.
Substantivo + adjetivo = Adjetivo + substantivo
 
Pode ocorrer sincretismo sintático em grupos nominais do tipo sábio alemão, em que se
pode corretamente entender, de um lado, a existência de um sábio (substantivo) de
nacionalidade alemã (adjetivo), ou, de outro, um alemão (substantivo) que é sábio (adjetivo).
Há aqui, portanto, uma coincidência material de combinação de formas linguísticas, mediante
a qual substantivo + adjetivo = adjetivo + substantivo [ECs.4, 246].
A interpretação mais natural ou, pelo menos, mais imediata, é considerar o segundo termo
como adjetivo, isto é, como adjunto adnominal. É a lição de M. Barreto, em grupos nominais
do tipo menino rei / rei menino, filósofo rei / rei filósofo [MBa.7, 326]. Assim entendeu
Machado de Assis ao definir que as Memórias Póstumas de Brás Cubas eram as de um
defunto autor (= que escreve) e não de um autor defunto (= que morreu).
 
Graus de coesão nos grupos nominais
6) Graus de coesão nos grupos nominais – Às vezes, o núcleo nominal já expandido por um
adjunto adnominal constituído por adjetivo vem acrescido de outro adjetivo, como
os competentes atletas mineiros,
em que ao grupo inicial os competentes atletas se junta o adjunto adnominal mineiros, que
não se refere tão somente ao substantivo atletas, mas ao conjunto competentes atletas. Assim,
competentes guarda maior grau de coesão em relação a atletas do que o adjetivo mineiros.
Temos aqui um exemplo de hipotaxe estudada em, em que o grupo de palavras competentes
atletas passa a funcionar no estrato de palavra e, assim, pode receber o adjunto adnominal
mineiros.
Podem estar juntos os dois adjetivos, sem que se altere o grau de coesão:
a situação política atual [VK.1, 161]
O adjetivo menos coeso (atual) em relação ao nome (situação) pode mudar de posição,
diferentemente do mais coeso (política):
a atual situação política
mas não:
*a política situação atual
Também o menos coeso não pode intercalar-se entre o núcleo e o mais coeso:
* a situação atual política
 
O aposto com expressões do tipo pôr nome
7) O aposto com expressões do tipo pôr nome – Depois do substantivo das expressões pôr
nome, ter nome e equivalentes, com o significado de “chamar(-se)”, “dar nome”, pode
aparecer um aposto:
Quem o seu cão quer matar, raiva lhe põe nome [MBa.4, 64].
 
Aposto referido a uma oração
8) Aposto referido a uma oração – O aposto não só se refere a qualquer núcleo nominal em
qualquer função da oração; pode referir-se ao conteúdo de pensamento expresso numa oração
inteira:
Depois da prova, Filipe estava radiante, sinal de seu sucesso.
Como aposto de uma oração inteira costuma aparecer um substantivo como coisa, razão,
motivo, fato e equivalente, sempre acompanhado de um adjunto adnominal, ou de uma oração
subordinada adjetiva substantivada pelo artigo o:
O desastre provocou muitas vítimas, coisa lastimável.
Os convidados não foram à festa, o que deixou o aniversariante frustrado.
Observação: A tradição gramatical entre nós tem considerado neste último caso como pronome demonstrativo (= aquele,
aquilo, isto) usado neutralmente, o o que precede o que, modificado por uma oração adjetiva, em vez de considerar essa mesma
oração adjetiva substantivada pelo artigo o, como fizemos aqui. Discutimos o assunto mais adiante.
 
Vocativo: uma unidade à parte
9) Vocativo: uma unidade à parte – Desligado da estrutura argumental da oração e desta
separado por curva de entoação exclamativa, o vocativo cumpre uma função apelativa de 2.ª
pessoa, pois, por seu intermédio, chamamos ou pomos em evidência a pessoa ou coisa a que
nos dirigimos:
José, vem cá!
Tu, meu irmão, precisas estudar!
Felicidade, onde te escondes?
Algumas vezes vem precedido de ó, que a tradição gramatical inclui entre as interjeições,
pela sua correspondência material, mas que, na realidade, pode ser considerado um morfema
de vocativo, dada a característica entonacional que a diferencia das interjeições propriamente
ditas [HCv.2, 197 n.47].
“Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?” [CAv.1, 141]
Estes exemplos nos põem diante de algumas particularidades que envolvem o vocativo.
Pelo desligamento da estrutura argumental da oração, constitui, por si só, a rigor, uma frase
exclamativa à parte ou um fragmento de oração,à semelhança das interjeições. Por outro lado,
como no caso de Tu, meu irmão, precisas estudar!, às vezes, se aproxima do aposto
explicativo, pela razão que vai constituir a particularidade seguinte. Por fim, o vocativo, na
função apelativa, está ligado ao imperativo ou conteúdo volitivo da forma verbal, já que, em
se tratando de ordem ou manifestação de desejo endereçada à pessoa com quem falamos ou a
quem nos dirigimos, presente quase sempre, não há necessidade de marcar gramaticalmente o
sujeito. Quando surge a necessidade de explicitá-lo, por algum motivo, aludimos a esse sujeito
em forma de vocativo [RLz.1, 66].
Assim é que em:
“Deixa-me! Deixa-me a vagar perdida...
Tu! - parte! volve para os lares teus”. [CAv.1, 191],
tu não é o sujeito de parte, e sim vocativo, “espécie de aposição à ideia do sujeito, contida no
imperativo” [HCv.2, 197 n.47]. Ocorre o mesmo com o substantivo poeta em:
Vai, Poeta... (Id., ibid.: 116)
Pelos exemplos aduzidos até aqui, vê-se que o vocativo pode ser representado por
substantivo ou pronome, podendo admitir a presença de expansões (p. ex., de adjuntos
adnominais, de orações adjetivas):
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
“Senhor Deus, que após a noite
Mandas a luz do arrebol,
Que vestes a esfarrapada
Com o manto rico do sol”. [CAv.1, 88]
Na correspondência epistolar, o vocativo vem separado do resto do enunciado por vírgula,
enquanto em textos de outra natureza costuma aparecer o emprego dos dois pontos (:) ou do
ponto de exclamação (!).
	As Unidades no Enunciado
	C�
	1 – A Oração e as Funções Oracionais
	Adjunto adnominal
	Complemento nominal
	O aposto
	Aposição com de x Adjunto adnominal
	As construções uma joia de pessoa e o pobre do rapaz
	Graus de coesão nos grupos nominais
	O aposto com expressões do tipo pôr nome
	Aposto referido a uma oração
	Vocativo: uma unidade à parte

Mais conteúdos dessa disciplina