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1) dialetologia: estudo das diferenças regionais de uma língua; sua aplicação, mediante método particular para cada uma, se faz com duas subdisciplinas: geografia linguística e paleontologia linguística. 2) sociolinguística: estudo da variedade e variação da linguagem em relação com a estrutura social das comunidades. 3) etnolinguística: estudo da variedade e variação da linguagem em relação com a civilização e a cultura [ECs.15, 29]. 4) psicolinguística: estuda o aspecto psíquico da atividade linguística. Até aqui, as gramáticas e disciplinas que investigam os fatos de uma língua ou de línguas particulares são disciplinas que se aplicam ao plano idiomático da linguagem. Por fim, cabe aludir à linguística do texto, campo recente de estudo, que visa a examinar o sentido do texto considerado como entidade autônoma da linguagem. Investiga o plano individual da linguagem. É o estudo da hermenêutica do sentido. Para Coseriu, enquanto as disciplinas que estudam a língua se aplicam ao exame da estrutura do significante e à descrição da estrutura do significado, a pura linguística do texto se aplica à interpretação do significante e do significado da língua como expressão do sentido [ECs.3]. 1 E. Coseriu [ECs.15, 22; ECs.4, 172]. I – Fonética e Fonologia I – Fonética e Fonologia A) Produção dos sons e classificação dos fonemas 1 – Fonética Descritiva Fonemas Fonemas – Chamam-se fonemas os sons elementares e distintivos que o homem produz quando, pela voz, exprime seus pensamentos e emoções. Fonemas não são letras Fonemas não são letras – Desde logo uma distinção se impõe: não se há de confundir fonema com letra. Fonema é uma realidade acústica, realidade que nosso ouvido registra; enquanto letra é o sinal empregado para representar na escrita o sistema sonoro de uma língua. Não há identidade perfeita, muitas vezes, entre os fonemas e a maneira de representá- los na escrita, o que nos leva facilmente a perceber a impossibilidade de uma ortografia ideal. Temos, como veremos mais adiante, sete vogais orais tônicas, mas apenas cinco símbolos gráficos (letras): a, e, i, o, u. Quando queremos distinguir um e tônico aberto de um e tônico fechado – pois são dois fonemas distintos – geralmente utilizamos sinais subsidiários: o acento agudo (fé) ou o circunflexo (vê). Há letras que se escrevem por várias razões, mas que não se pronunciam, e portanto não representam a vestimenta gráfica do fonema; é o caso do h em homem ou oh! Por outro lado, há fonemas que se ouvem e que não se acham registrados na escrita; assim, no final de cantavam, ouvimos um ditongo em -am cuja semivogal não vem assinalada /amávãw/. A escrita, graças ao seu convencionalismo tradicional, nem sempre espelha a evolução fonética. Neste livro, diferençamos a letra do fonema, pondo este entre barras; dessarte, indicaremos o e aberto e e fechado da seguinte maneira: /é/, /ê/. Fonética e Fonologia Fonética e Fonologia – Na atividade linguística, o importante para os falantes é o fonema, e não a série de movimentos articulatórios que o determina. Assim sendo, enquanto a análise fonética se preocupa tão-somente com a articulação, a fonêmica atenta apenas para o fonema que, reunindo um feixe de traços que o distingue de outro fonema, permite a comunicação linguística. A fonética pode reconhecer, e realmente o faz, diversas realizações para o / t/ da série ta-te-ti-to-tu; a fonêmica não leva em conta as variações (que se chamam alofones), porque delas não tomam conhecimento os falantes de língua portuguesa. Um fonema admite uma gama variada de realizações fonéticas que vai até a conservação da integridade do vocábulo: quando isto não ocorre, diz-se que houve mudança de fonema. O /l/ admite várias realizações no Brasil, de norte a sul (e estas variantes não interessam à análise fonêmica, análise que deveria ter primazia em nosso estudo de língua); mas haverá mudança de fonemas quando se não puder fazer a oposição mal / mau. Como bem ensina Mattoso Câmara, “o fonema, entendido como um feixe de traços distintivos, individualiza-se e ganha realidade gramatical pelo seu contraste com outros feixes em idênticos ambientes fonéticos. Não é, pois, a diferença articulatória e acústica que distingue primariamente dois fonemas, senão a possibilidade de determinarem significações distintas numa mesma situação fonética. Compreende-se assim que um mesmo fonema possa variar amplamente na sua realização, conforme o ambiente fonético ou as peculiaridades do sujeito falante” [MC.7, 44-45]. Fonologia não se opõe a fonética: a primeira estuda o número de oposições utilizadas e suas relações mútuas, enquanto a fonética experimental determina a natureza física e fisiológica das distinções observadas [BM.1, 116]. Ambas disciplinas pertencem ao nível biológico do falar condicionado psicofisicamente. Aparelho Fonador Aparelho Fonador Aparelho fonador – Nós não temos um aparelho especial para a fala; produzimos os fonemas servindo-nos de órgão do aparelho respiratório e da parte superior do aparelho digestivo, que só secundariamente se adaptaram às exigências da comunicação, numa aquisição lenta do homem. A esses órgãos da fala, constitutivos do aparelho fonador, pertencem, além de músculos e nervos: os brônquios, a traqueia, a laringe (com as cordas vocais), a faringe, as fossas nasais e a boca com a língua (dividida em ápice, dorso e raiz), as bochechas, o palato duro (ou céu da boca), o palato mole (ou véu palatino) com a úvula ou campainha, os dentes (mormente os anteriores) com os alvéolos, e os lábios. Em português, como na maioria dos idiomas, os fonemas são produzidos graças à modificação que esses órgãos da fala impõem à corrente de ar que sai dos pulmões. Línguas há, entretanto, que se servem da corrente inspiratória (entrando o ar nos pulmões) para produzir fonemas, que são conhecidos pelo nome de cliques. Produzimos cliques quando fazemos os movimentos bucais, acompanhados da sucção de ar na boca, para o beijo, o muxoxo e certos estalidos como o que serve para animar a caminhada dos cavalos, mas não os utilizamos como sons da fala em português. Como se produzem os fonemas Como se produzem os fonemas – A corrente de ar que vem dos pulmões passa pela traqueia e chega à sua parte superior que se chama laringe, conhecida vulgarmente como pomo de adão. Na laringe, a parte mais valiosa e mais complexa do aparelho fonador, se acham, horizontalmente, duas membranas mucosas elásticas, à maneira de lábios: as cordas vocais, por cujo estreito intervalo, denominado glote, a corrente de ar tem de passar para ganhar a faringe, e daí, ou totalmente pela boca (fonemas orais), ou parte pela boca e parte pelas fossas nasais (fonemas nasais), chegar à atmosfera. É esta corrente expiratória que, modificada pelos órgãos da fala, é responsável pela produção dos fonemas. As diferenças que se notam entre vozes diversas dos sexos, das idades e das pessoas, baseiam-se em geral nas dimensões da laringe. Fonemas surdos e sonoros Fonemas surdos e sonoros – Quando a corrente de ar se dirige à glote, esta pode encontrar-se aberta, fechada ou quase fechada. No primeiro caso, a corrente de ar passa livremente, sem provocar a vibração das cordas vocais. O fonema que, nestas circunstâncias, se produz é chamado surdo: /s/, /f/, /x/, /t/, /k/, etc. Se a glote está fechada ou quase fechada, a corrente de ar, ao forçar a passagem, provoca a vibração das cordas vocais, produzindo os fonemas sonoros. São sonoras todas as vogais e certas consoantes como /z/, /v/, /j/, /d/, /g/, etc. Em muitos casos, podemos perceber a vibração das cordas vocais, pondo de leve a ponta do dedo no pomo de adão e proferindo um fonema sonoro, como /z/, /v/, /j/, tendo o cuidado de não acompanhá-lo de vogal. Sentimos nitidamente um tremular que denota a vibração das cordas vocais. Se proferimos um fonema surdo, como /s/, /f/, /x/, com o cuidado apontado acima, não sentimos o tremular. Podemos ainda repetir a experiência tapando os ouvidos. Só com os fonemas sonoros ouvimos um zumbidocaracterístico da vibração das cordas vocais. Vogais e consoantes Vogais e consoantes – A voz humana se compõe de tons (sons musicais) e ruídos, que o nosso ouvido distingue com perfeição. Caracterizam-se os tons, quanto às condições acústicas, por suas vibrações periódicas. Esta divisão corresponde, em suas linhas gerais, às vogais (= tons) e às consoantes (= ruídos). As consoantes podem ser ruídos puros, isto é, sem vibrações regulares (correspondem às consoantes surdas), ou ruídos combinados com um tom laríngeo (consoantes sonoras) [BM.1, 20]. Quanto às condições fisiológicas de produção, as vogais são fonemas durante cuja articulação a cavidade bucal se acha completamente livre para a passagem do ar. As consoantes são fonemas durante cuja produção a cavidade bucal está total ou parcialmente fechada, constituindo, assim, num ponto qualquer, um obstáculo à saída da corrente expiratória. Observação: Só por suas condições acústicas e fisiológicas de produção é que se distinguem as vogais das consoantes. Por imitação dos gregos, os antigos gramáticos definiam a vogal pela sua função na sílaba: elemento necessário e suficiente para formar uma sílaba. E daí chegavam à conceituação deficiente de consoante: fonema sem existência independente, que só se profere com uma vogal. Sabemos de idiomas em que há sílabas constituídas apenas de consoantes e em que uma consoante pode fazer as vezes de vogal [LR.1, 75-75]. Na língua portuguesa a base da sílaba ou o elemento silábico é a vogal; os elementos assilábicos são a consoante e a semivogal, que estudaremos mais adiante. Classificação das vogais Classificação das vogais – Classificam-se as vogais, segundo a Nomenclatura Gramatical Brasileira, de acordo com quatro critérios: a) quanto à zona de articulação; b) quanto à intensidade; c) quanto ao timbre; d) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal. a) Quanto à zona de articulação, as vogais podem ser média, anteriores e posteriores. Com a boca ligeiramente aberta e a língua na posição quase de repouso, proferimos o fonema /a/, que é o que exige menor esforço e constitui a vogal média. Se daí passarmos à série /é/ – /ê/ – /i/, notaremos que a ponta da língua se eleva, avançando em direção ao palato duro, o que determina uma diminuição da abertura bucal e um aumento da abertura da faringe. A série /é/ – /ê/ – /i/ constitui as vogais anteriores. Se passarmos da vogal média /a/ para a série /ó/ – /ô/ – /u/, notaremos que o dorso da língua se eleva, recuando em direção ao véu do paladar, o que provoca uma diminuição da abertura bucal e um arredondamento progressivo dos lábios. A série /ó/ – /ô/ – /u/ forma as vogais posteriores. Vogais Anteriores 2 Vogais Posteriores 3 Zonas de Articulação b) Quanto à intensidade, as vogais podem ser tônicas ou átonas. Vogal tônica é aquela em que recai o acento tônico da palavra: avó, paga, tímido. Vogal átona é a inacentuada: avó, paga, tímido. As vogais átonas podem estar antes da tônica (pretônicas): avó, pagar, ou depois (postônicas): tímido. Nos vocábulos de maior extensão fonética, mormente nos derivados e nos verbos seguidos de pronome átono, pode aparecer, além da tônica, uma vogal de grande intensidade, a qual recebe o nome de vogal subtônica: polidamente, cegamente, louvar-te-ei. c) quanto ao timbre, as vogais podem ser abertas, fechadas e reduzidas. Timbre é o efeito acústico resultante da distância entre o dorso da língua e o véu do paladar, funcionando a cavidade bucal como caixa de ressonância. O timbre é o traço distintivo das vogais. Na vogal de timbre aberto, a língua se acha baixa: /a/, /é/, /ó/. Na vogal de timbre fechado, a língua se eleva: /ê/, /ô/, /i/, /u. A vogal de timbre reduzido é proferida debilitada, anulando-se a oposição entre aberta e fechada. A distinção entre abertas e fechadas só se dá nas vogais tônicas e subtônicas; nas átonas desaparece a diferença entre /ó/ e /ô/, /é/ e /ê/, e o /a/ reduzido é proferido com menos nitidez, como se pode depreender comparando-se os dois tipos em casa, em que o primeiro é aberto e o segundo, reduzido. A gravura mostra a posição das vogais /a/, /u/ e /i/. Note-se o fechamento do canal bucal na articulação do /u/ e do /i/ com movimento da epiglote e elevação da língua em direção ao palato [ER.1, 15]. Quase sempre no fim das palavras, as vogais átonas e e o se enfraquecem e soam, respectivamente, /i/ e /u/ 4. Assim temos sete vogais tônicas orais (/a/, /é/, /ê/, /i/, /ó/, /ô/, /u/), cinco vogais átonas orais (/a/, /e/, /i/, /o/, /u/) e três vogais reduzidas orais (/a/, /i/, /u/). Também são reduzidas as vogais átonas nasais: antigo, sentar, limpeza, combate, fundar.5 Observações: 1.ª) Não temos no Brasil o a fechado oral tônico dos portugueses como em cada, para, mas. 2.ª) Na pronúncia normal brasileira, as vogais nasais são fechadas ou reduzidas (estas quando átonas). d) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, as vogais podem ser orais e nasais. São orais aquelas cuja ressonância se produz na boca. Há sete vogais orais tônicas (/á/, /é/, /ê/, /i/, /ó/, /ô/, /u/), cinco orais átonas, por não haver aqui distinção entre /é/ e /ê/, /ó/ e /ô/ (/a/, /e/, /i/, /o/, /u/) e três reduzidas (/a/, /i/, /u/). São nasais as vogais que, em sua produção, ressoam nas fossas nasais. Há cinco vogais nasais (/ã/, /ẽ/, /ĩ/, /õ/, /ũ/): lã, canto, campina, vento, ventania, límpido, vizinhança, conde, condessa, tunda, pronunciamos. É o fenômeno da ressonância, e não da saída do ar, o que opõe os fonemas orais aos nasais. Quanto ao timbre, as nasais tônicas e subtônicas são fechadas e as átonas, reduzidas. Observação: Na pronúncia normal brasileira soam quase sempre como nasais as vogais seguidas de m, n e principalmente nh: cama, cana, banha, cena, fina, homem, Antônio, úmido, unha. Assim não distinguimos as formas verbais terminadas em -amos e -emos do presente e do pretérito do indicativo: agora cantamos, ontem cantamos; agora lemos, ontem lemos. Elevação da língua: quinto critério para classificação das vogais Elevação da língua: quinto critério para classificação das vogais – A Nomenclatura Gramatical Brasileira não levou em conta a elevação gradual da língua, o que distingue as vogais em: 1 – vogal baixa: /a/; 2 – vogais médias com dois graus de elevação: /é/, /ó/ e /ê/, /ô/; 3 – vogais altas: /i/, /u/. Entre as nasais desaparecem os dois graus de elevação das vogais médias. orais 6 / i / / u / Altas / ê / / ô / Médias / é / / ó / Médias / a / Baixa nasais / ĩ / / ũ/ Altas / ẽ / / õ / Médias / ã / Baixa Se não estabelecermos este quinto critério para a classificação das vogais, teremos de pôr num mesmo plano fonemas diferentes, como /õ/ e /ũ/, /ẽ/ e /ĩ/, o que não é correto. quadro da classificação das vogais Semivogais. Encontros vocálicos: ditongos, tritongos e hiatos Semivogais. Encontros vocálicos: ditongos, tritongos e hiatos – Chamam-se semivogais as vogais i e u (orais ou nasais)7 quando assilábicas, as quais acompanham a vogal numa mesma sílaba. Os encontros vocálicos dão origem aos ditongos, tritongos e hiatos. Representamos as semivogais i (e) por /y/ e u (o) por /w/. Ditongo é o encontro de uma vogal e de uma semivogal, ou vice-versa, na mesma silaba: pai, mãe, água, cárie, mágoa, rei. Sendo a vogal a base da sílaba ou o elemento silábico, é ela o som vocálico que, no ditongo, se ouve mais distintamente. Nos exemplos dados são vogais: pAi, mÃe, águA, cáriE, mágoA, rEi. Observação: Os ditongos, como os demais encontros vocálicos, podem ocorrer no interior da palavra (dizem-se intraverbais: pai, vaidade) ou pela aproximação, por fonética sintática, de duas ou mais palavras (dizem-se interverbais: certa idade, inculta e bela). Os ditongos podem ser: a) crescentes e decrescentes b) orais e nasais Crescente é o ditongo em que a semivogal vem antes da vogal: água, cárie, mágoa. Decrescente é o ditongo em que a vogal vem antes da semivogal: pai, mãe, rei. Como as vogais, os ditongos são orais (pai, água, cárie, mágoa, rei) ou nasais(mãe). Os ditongos nasais são sempre fechados, enquanto os orais podem ser abertos (pai, céu, rói, ideia) ou fechados (meu, doido, veia). Nos ditongos nasais, são nasais a vogal e a semivogal, mas só se coloca o til sobre a vogal: mãe. Principais ditongos crescentes: I – Fonética e Fonologia A� 1 – Fonética Descritiva Fonemas Fonemas não são letras Fonética e Fonologia Aparelho Fonador Como se produzem os fonemas Fonemas surdos e sonoros Vogais e consoantes Classificação das vogais Elevação da língua: quinto critério para classificação das vogais Semivogais. Encontros vocálicos: ditongos, tritongos e hiatos